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Processo nº p. 1

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Academic year: 2021

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DECISÃO

Processo nº: 0273059-82.2005.8.26.0577

Classe - Assunto Reintegração / Manutenção de Posse - Posse

Requerente: SELECTA COMERCIO E INDUSTRIA S/A - MASSA FALIDA

Requerido: ESBULHADORES

Juiz(a) de Direito: Dr(a). MÁRCIA FARIA MATHEY LOUREIRO

Vistos.

Fls. 577/580 (oposição de pré-executividade): O Terceiro Interveniente João Nivaldo, alegando matéria de ordem pública, pediu a designação de audiência de tentativa de conciliação e o cancelamento da ordem de reintegração na posse. Alega que a decisão liminar foi proferida pelo juízo da falência, considerado absolutamente incompetente, prevalecendo, pois, a ordem do juízo da situação do imóvel (esta 6ª Vara Cível) que havia suspendido o cumprimento da liminar. Além disso, juntou recorte de jornal com matéria que discorre sobre a visita no local, do Secretário Estadual de Habitação, do representante da CDHU e de representante da administração pública municipal, tudo com vistas à regularização da área para moradia popular dos ocupantes. Por fim, entende que o magistrado deve ser o crítico da lei e do fato social e deve atuar como agente político de pacificação social, acolhendo o pedido.

Fls. 583/584: José Nivaldo reiterou os argumentos acima e afirmou que a autora pretendia o prosseguimento do feito com realização de audiência de instrução e julgamento, dando a entender que teria desistido do cumprimento da liminar e assim, pediu o cancelamento da ordem.

Fls. 586/587: Mais uma petição de José Nivaldo, com a juntada de documento da lavra do Secretário Estadual de Habitação com o qual pretende provar as iniciativas tomadas para

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regularização da área em questão, reafirmando as alegações anteriores.

Fls. 593: A Massa Falida (autora), atendendo determinação judicial que acolheu solicitação do Ten Cel da Polícia Militar (fls. 590), juntou documentos que identificam plenamente a área objeto da reintegração, visando o cumprimento da liminar.

Fls. 601/602: Nova petição de José Nivaldo, subscrita por seu advogado, Dr. Aristeu César Pinto Neto, na qual evoca o art. 133, II do CPC e pede a apreciação dos pedidos acima, sob pena de gerar “dano moral coletivo” à comunidade dos moradores do bairro, insistindo, uma vez mais, no recolhimento do mandado de reintegração.

É a síntese do necessário.

Preliminarmente, apenas para que fique constando, esta Vara conta com mais de 6.000 (seis mil feitos) em andamento e apenas esta magistrada para julgá-los. Nesta data, existem mais de 1.000 (mil) processos conclusos para despacho/decisão/sentença, de modo que esta decisão é proferida apenas hoje, devido ao acúmulo invencível de serviço a que não dei causa.

No entanto, assiste razão ao peticionário de fls. 602, quando se refere ao dever do magistrado de não retardar decisões sem justo motivo, assim como há o dever da parte de não opor resistência injustificada ao andamento do processo, sob pena de reputar-se litigante de má-fé, nos termos do art. 17, IV, do Código de Processo Civil, sendo o advogado solidariamente responsável com seu cliente, nos termos do artigo 32 e parágrafo único do Estatuto dos Advogados. Entretanto, acredita-se, nem um, nem outro, enquadra-se na hipótese dos autos.

A celeuma sobre a nulidade da decisão que determinou a reintegração da Massa Falida na posse da área que lhe pertence e que fora proferida pelo juízo da 18ª Vara Cível da Capital, juízo universal da falência, está, de há muito, superada.

Aquele juízo foi declarado pelo Egrégio Tribunal, absolutamente incompetente e este juízo da Sexta Vara Cível de São José dos Campos (da situação do imóvel) competente para processar e julgar a possessória ajuizada pela Massa Falida Selecta contra os esbulhadores e José Nivaldo. Nesse diapasão, as

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manifestações de cunho decisório, como a que inicialmente reintegrou a massa falida na posse, são absolutamente nulas.

Porém, uma vez superada esta questão e já estando o feito a tramitar por esta Vara (fls. 152), manifestou-se o ilustre representante do Ministério Público pelo cumprimento da liminar (fls. 168 e verso), reiterando a cota às fls. 191.

Este juízo, competente para tanto, em 14/11/2006, determinou a expedição de mandado liminar de reintegração na posse, que deveria ser cumprido em conjunto com o mandado expedido em ação demolitória da mesma área (processo em trâmite junto à Fazenda Pública), a fim de se acrescentar aos meios providenciados pela Massa, os aparatos que estavam sendo disponibilizados pela Prefeitura local (fls. 437). Aquela ordem foi suspensa e providências próprias foram tomadas por este juízo para o cumprimento da ordem (fls. 446).

Este juízo reiterou a determinação de cumprimento da reintegração na posse (fls. 466 e fls. 501) que foi suspensa por ordem do Egrégio Tribunal (fls. 506 e fls. 508).

Foi julgado o Recurso Especial nº 927.823 ao qual foi dado provimento para inadmissibilidade do agravo de instrumento interposto pelo recorrido (Massa Falida) que pretendia o cumprimento da medida liminar de reintegração de posse concedida em desfavor do recorrente e interessados (esbulhadores e José Nivaldo) liminar obstada pelo magistrado que antecedeu a esta e enquanto atuava com competência de juízo deprecado e não juízo do feito- e o Egrégio Tribunal, por conseqüência da inadmissibilidade do agravo, julgou prejudicada a apreciação das demais questões postas no recurso especial.

Por fim, após todas essas decisões proferidas pela Instância Superior, este juízo determinou o cumprimento da liminar em 01.7.2011, talvez com impropriedade terminológica ao ditar que o processo deveria retomar seu curso normal “com o cumprimento da liminar deferida pelo juízo da causa à época” (fls. 567), quando na verdade, melhor seria ter dito que pelos mesmos motivos que ensejaram o deferimento da liminar em 10 de setembro de 2004, pelo então juiz da 18ª Vara Cível por onde tramitava a falência e incompetente para o processamento e

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julgamento da presente possessória e que persistiam, deferia a liminar (fls. 41). Aliás, este Juízo já houvera determinado, por si, em outras oportunidades anteriores supra mencionadas, o cumprimento da ordem, portanto, a liminar que se pretende cumprir agora, não é aquela referente à ordem dada pelo juízo da falência, mas dada por este mesmo juízo, entretanto, pelos mesmos fundamentos.

Está satisfatoriamente demonstrado nos autos que as seguidas e continuadas invasões ocorreram, sendo as mais antigas em fevereiro e março de 2004, há menos de ano e dia do ajuizamento da ação (agosto de 2004). Tratando-se de posse nova e demonstrado o esbulho, conclusão antiga, obtida após uma análise, ainda que perfunctória das provas acostadas com a inicial, é de rigor o deferimento da liminar para imitir a Massa Falida na posse do bem.

Aliás, o entendimento desta magistrada é idêntico ao do Eminente Relator Desembargador Cândido Alem, que houvera sido proferido em acórdão, cujo mérito não foi analisado pela Instância Superior, vez que não conhecido o agravo e, por isso, prejudicada a análise das demais questões postas, mas que traduz o sentir deste juízo consoante se lê do terceiro parágrafo de fls. 422, in verbis:

“não obstante a discussão a respeito da competência absoluta ou relativa, o certo é que o DD. Juízo de Direito da E. 6ª Vara de São José dos Campos recusou-se a cumprir r. decisão do DD. Juízo de Direito da 18ª Vara Cível Central da Capital. Tal orientação veio a ser convalidada, de certa forma, por V. Acórdão que estabeleceu a competência daquela Vara do interior para o processamento da ação. Como o pedido havia sido feito e concedido pelo DD. Juízo de Direito da Capital e recusado o cumprimento pelo da situação do imóvel e prosseguindo o feito, perfeitamente entendível o pedido de revigoramento dele e daquela decisão, como também entendeu o Dr. Promotor de Justiça, o que foi indeferido pelo MM. Juiz de Direito da Ex. Sexta Vara da Comarca de São José dos Campos (fls. 178). Não se pretende

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convalidar, na realidade, r. despacho do Juízo de Direito tido como incompetente para decidir. Houve uma reiteração do pedido, agora ao DD. Juízo de Direito competente, para que adotasse aquela mesma orientação antes repelida, entendendo a massa falida que assim deveria fazer (reiterar) e não novamente iniciar sua pretensão, ante o estado adiantado do processo. Assim, também entendeu o Ministério Público que, em sua manifestação de fls. 179, manteve o seu entendimento de fls. 52, “não obstante o deslocamento de competência”, ressalta.

A medida se justifica e grita cumprimento, até mesmo porque a invasão ocorreu já em período em que a administração da massa já era feita pelo Poder Judiciário que nomeou síndico, sendo que a afronta foi a este também e não só a possuidora, pelo que, tendo-se a irreversibilidade da situação, apenas extremamente ocorreria o contrário.

Não há que se argumentar que a responsabilidade pelo desabrigo dos ocupantes da área pertencente à Massa Falida e objeto desta ação, seja do Judiciário e especialmente deste juízo, como quer fazer crer o requerido.

Ao magistrado cumpre analisar a questão posta em juízo e o pedido de restabelecimento de direitos violados à luz da lei e dos princípios constitucionais processuais.

De um lado, figura a Massa Falida como proprietária, socorrendo-se do judiciário por ver violado um direito constitucional seu, qual seja, o direito de propriedade e os aspectos dele decorrentes como a posse, esbulhada pelos requeridos. De outro, os esbulhadores, ligados ao Movimento dos Sem Teto, que imploram pelo direito constitucional de moradia, porém, que querem ver declarado às custas da propriedade particular da autora.

É certo que o problema social que enfrentam os réus é motivo de preocupação nacional e merece ser visto com atenção, no entanto, não cabe ao Judiciário, ao arrepio da Lei e suprindo a obrigação e/ou omissão dos Poderes Executivos Federal, Estadual e Municipal, negar à Massa o direito de dispor de sua

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propriedade entregando-a aos sem teto, somente porque afirma o réu, que a área vem sendo estudada por vários entes e integraria o Programa social “minha casa minha vida” ou outro semelhante.

Igualmente não cabe ao Judiciário, nesta esfera de atuação e competência, analisar se haveria ou não a possibilidade da Municipalidade “receber em dação em pagamento” a área em questão, em razão de dívida de IPTU da Massa Falida.

É verdade, sim, que há cinco anos, no ano de 2006, foi apresentado um Projeto de Lei nº 70, para “Declarar de interesse social, para fins de desapropriação, a área denominada Fazenda Parreiras São José -Pinheirinho” (fls. 388/395), porém, até hoje nenhum ato foi aprovado para concretizar a idéia, não passando de “boa intenção” e, também por isso, todas as demais iniciativas informadas nos autos são insipientes, ineficazes, insuficientes para fundamentar a suspensão do feito, que há longos sete anos aguarda o cumprimento de uma liminar.

Oportuno consignar que na pirâmide dos direitos e garantias constitucionais, o Direito de Propriedade (reclamado pela autora) e o Direito à Moradia (reivindicado pelos requeridos), encontram-se no mesmo nível de hierarquia.

Vivemos em uma República Democrática de Direito, onde vigora a tripartição dos Poderes e independência e harmonia entre eles, não podendo o Judiciário, como querem os requeridos, interferir na esfera do Executivo e Legislativo, negar o direito da autora de usufruir da posse de seu imóvel, sob o fundamento de que “a área será objeto de desapropriação”.

Ora, se até hoje essa atitude não foi tomada por quem de direito, certamente foi porque não houve interesse.

Possivelmente foi analisada a conveniência e oportunidade e entenderam que não era apropriado destinar esta área invadida, objeto desta ação, para tal fim. Quem sabe não se chegou à conclusão de que seria mais eficiente destinar outro local com custos menores e melhor planejamento?

No mais, não há cogitar-se de desistência da autora do cumprimento da liminar, como alegou o requerido, tanto assim, que às fls. 593/598, a autora juntou documentos possibilitando melhor

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identificação da área “visando assim dar cumprimento à ordem judicial”.

Posto isso, determino que se cumpra a ordem de liminar de reintegração da autora na posse do imóvel, objeto desta ação, com urgência.

Oficie-se à Prefeitura Municipal local para que fique ciente desta decisão e disponibilize meios necessários para remoção e acomodação dos ocupantes da área, conforme já havia se disposto anteriormente.

Oficie-se ao Comando da Polícia Militar local, cientificando-o desta decisão, informando que a delimitação da área já está documentada nos autos, bem como para que providencie o efetivo necessário para cumprimento da ordem.

Oficie-se a todos os Juízes de São José dos Campos, solicitando a colaboração, disponibilizando dois oficiais de justiça para dar apoio ao oficial responsável pela desocupação da área, em data a ser designada e informada.

Dê-se vista dos autos ao Ilustre Representante do Ministério Público.

Desentranhe-se o mandado de citação de fls. 312, juntando-se aos autos da oposição, processo nº 1243/04, certificando-se naquele, a data da juntada aposta neste.

Por fim, intimem-se as partes.

Intime-se.

São José dos Campos, 17 de outubro de 2011.

Márcia Faria Mathey Loureiro Juíza de direito

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