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Recensões: BERGER, Peter L. — Perspectivas sociológicas . Um a visão humanística, Ed. Vozes, Petrópolis, 1972.

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Academic year: 2021

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Recensões

Este núm ero de Estudos Teológicos traz, pela prim eira vez, um a parte especial contendo recensões bibliográficas, a qual deverá, na medida das possibilidades, con tin u a r aparecendo com regularidade daqui para fren te. Tais recensões apresentam -se na fo rm a de ensaios ou de breves anúncios bibliográficos. Serão com entadas especialm ente obras criadas ou traduzidas no âm bito latino-am .ericano. A finalidade deste trabalho consiste ta n to em realizar um levanta m ento do m aterial existente com o em fo m e n ta r o debate cien tífico . Esperamos, desta m aneira, p roporcion a r estím ulos e in fo rm a ­ ções valiosas aos nossos leitores. (Nota. da Redação)

B ERG ER, P eter L. — Perspectivas sociológicas. Um a v i­ são humanística, Ed. Vozes, Petrópolis, 1972.

No mercado brasileiro de livros surgiu há alguns meses mais um livro sobre sociologia. O título que o livro recebeu na tradu­ ção portuguesa (a tradução mais exata e sugestiva deveria ser “ Um Convite à S ociologia” ), pode sugerir ao leigo que se trata de apenas mais um livro a disputar o núm ero reduzido de leitores brasileiros. Contudo, já no prim eiro p arágrafo do prefácio o autor com eça a despertar o interesse do leitor, criando expectativas “ sui generis” em torno do conteúdo: “ este livro fo i escrito para ser lido, e não para ser estudado. Não é obra didática, nem ten ta tiva de sistem atização teórica. Ao invés disso, é um convite a um mundo intelectual que pode ser considerado profundam ente interessante e im portante. Ao ser feito esse convite, torna-se necessário exp li­ car que m undo é esse para o que convidamos o leitor, mas que fique bem claro que, se o leitor resolver levar o convite a sério, terá que procurar um gu ia mais am plo que este liv ro ” .

Mesmo que a intenção do autor possa parecer um tanto des- pretenciosa, o “ con vite” reveste-se de profunda seriedade e se jus­ tifica plenam ente no m undo contem porâneo, visto a sociologia ter- se transform ado atualm ente, se não em “ rainha das ciências” , como o pretendia um de seus fundadores (A. C o m te), mas pelo menos em ciência au xiliar de todas as assim chamadas Ciências do Homem. Nesse sentido, a sociologia dispensaria qualquer tipo de “ propaganda” , em especial ao considerar-se que há alguns anos estava entre aqueles cursos universitários que registravam o m aior índice de crescimento.

Mas, é por outros m otivos que a sociologia necessita de divul­ gação no Brasil. A sociologia tem um “ status” extrem am ente con­ fuso na configuração sócio-política atual: não é incom um confudir- se sociologia com subversão. No Brasil, apesar de institucionalizada, a sociologia ainda não é reconhecida como profissão, por m otivos

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que variam desde a fa lta de definição do p erfil da carreira pro­ fissional do sociólogo, até m otivos de ordem político-ideológica

( “ sociologia é socialismo” , “ sociologia n ão é ciência, é ideologia” , “ sociologia conduz a áreas de pensam ento perigosas” ). É no sen­ tido de superar estes e outros preconceitos que considero im por­ tante esta obra, porque descreve em uma lin gu a gem simples, agra­ dável, mas profunda, certas características essenciais da sociologia, revelando o sentido e a im portância do “ que fa zer” sociológico. É evidente que P. Berger não consegue reduzir á com plexidade da ciência cham ada sociologia a um pequeno conjunto de capítulos. É todavia im portante frisar que há diferentes correntes dentro do pensamento sociológico, enquadrando-se o autor n a tradição da fenom enologia. É a p artir desse ângulo que P. B erger conduz o leitor ao mundo fascinante da sociologia.

Como em todas as obras sociológicas traduzidas, tam bém esta sofre os condicionam entos do autor e da sociedade em que foi escrita. O leito r brasileiro avisado sabe que toda a produção cien­ tífica estrangeira, caso não se queira contribuir para a perm a­ nência de uma “ situação de dependência” , onde a criação cien­ tífica, tecnológica,, cultural, etc. seja fruto de transplantação mecânica, deve passar pelo crivo de um processo de assimilação crí­ tica. P or isso é im portante alertar o leitor que o conteúdo da obra não deve ser m eram ente consumido e, eventualm ente, aplicado in fru tiferam en te no contexto da realidade brasileira (m uitas vezes não atingindo o resultado previsto, devido à perda de fu n cion ali­ dade no novo c o n te x to ), mas submetido a um processo de reflexão crítica em termos de “ realidade brasileira” .

São muitos os aspectos relevantes do conteúdo da obra em epí­ grafe. A seguir serão destacados apenas alguns pontos.

Depois de descrever e analisar as im agens mais populares que os americanos têm do sociólogo e de caracterizar o objeto e o m é­ todo da sociologia, o autor conduz o leitor com m uita in teligência pelos labirintos do mundo da sociologia. No capítulo II, intitulado “ A Sociologia como form a de Consciência” , preocupa-se sobretudo em m ostrar que a sociologia é por excelência uma ciência/cons- ciência que “ olha por trás” dos fatos sociais. !É por essa razão que a sociologia é tam bém caracterizada como a “ arte da desconfiança” . A sociologia em seu afã cien tífico olha além da fachada das estruturas sociais, dos problemas políticos, das estruturas de po­ der. Assim, por exemplo, na análise das denominações protestan­ tes “ o investigador sociológico logo enxergará além da massa de confusa term in ologia que designa os titulares de cargos na buro­ cracia eclesiástica e id en tificará corretam ente os detentores do poder r e a l.. ” (44). Ou, o problem a sociológico é sempre a com ­ preensão em termos de interação social. P or isso, o problem a so­ ciológico consiste menos em determ inar porque algum as coisas ‘saem erradas’ do ponto de vista das autoridades do que conhecer como todo o sistema funciona, quais são os seus pressupostos e como ele se m antém coeso” (4 7). A lém de sua função de desmistifica- dora da realidade social, a sociologia caracteriza-se por seu posi­

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cionam ento de não-respeitabilidade. “ O quadro de referência so­ ciológico, com seu m étodo inerente de procurar outros níveis de realidade além dos definidos pelas interpretações oficiais da socie­ dade, traz consigo um im perativo lógico de desmascarar as sim u­ lações e a propaganda com que os homens ocu ltam suas ações recíprocas” (49).

A não-respeitabilidade da consciência sociológica não im plica necessariamente, segundo o autor, num a atitude revolucionária. “ Estamos dispostos a ir ainda mais lon ge e dizer que a percepção sociológica é refratá ria a ideologias revolucionárias, não porque traga consigo algum a espécie de preconceito conservador, e sim porque ela enxerga não só através das ilusões do “ status quo” atual como tam bém através das expectativas ilusórias concernen­ tes a possíveis fu tu ro s. . . ” (58).

Analisa P. B erger ainda duas outras dimensões da consciên­ cia sociológica, ou seja, a da relativização e a do m otivo cosmo­ polita, concluindo com a observação: “ a perspectiva sociológica constitui um panoram a amplo, aberto e em ancipado da vida hu­ mana. O bom sociólogo é um hom em interessado em outras ter­ ras, aberto in teriorm en te à riqueza incom ensurável das possibili­ dades humanas, sequioso de novos horizontes e novos mundos de significado hum ano” (64).

Nos próxim os três capítulos centrais da obra são examinadas e analisadas as três perspectivas sociológicas fundam entais: a) O Hom em na Sociedade, b ) A Sociedade no H om em e c) A Socie­ dade como Dram a. No prim eiro desses capítulos são analisados os problemas do condicionam ento societal do Homem, isto é, do con­ trole sccial. “ Se voltarm os à im agem de um indivíduo localizado no centro de um conjunto de círculos concêntricos, cada um dos quais representa um sistema de controle social, podemos com preen­ der um pouco m elhor que situar-se na sociedade sign ifica situar-se em relação a m uitas forças repressoras e coercitivas” (90).

“ A sociedade, como fato objetivo e externo, m anifesta-se sobre­ tudo na form a de coerção. Suas instituições m oldam nossas ações e até mesmo nossas expectativas. Recompensam-nos na medida em que nos a tiverm os a nossos p a p éis. . . As sanções da sociedade, a todo m om ento da existência de nos isolar entre os outros homens, expor-nos ao ridículo, privar-nos de nosso sustento e de nossa li­ berdade e, em ú ltim o recurso, privar-nos da própria v id a . .. F i­ nalm ente, estamos localizados na sociedade não só no espaço, co­ mo tam bém no tempo. Nossa sociedade constitui um a entidade histórica que se estende tem porariam ente além de qualquer bio­ gra fia individual. A sociedade precedeu-nos e sobreviverá a nós. Nossas vidas não são mais que episódios em sua m archa majestosa pelo tempo. Em suma, a sociedade constitui as paredes de nosso encarceram ento na h istória” (105).

No capítulo seguinte, “ A Sociedade no H om em ” , o autor exa­ m ina de um a form a m uito inteligente, a p a rtir dos conceitos de “ papel social” , “ sociologia do conhecim ento” e “ grupo de referên ­ cia” , o problem a da internalização da sociedade no Homem. “ As

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estruturas da sociedade tornam -se as estruturas de nossa própria consciência. A sociedade não se detém na superfície de nossa pele. E la nos penetra, tanto quanto nos envolve. Nossa servidão para com a sociedade é estabelecida menos por conquista que por con­ luio. Às vezes, realm ente, somos esmagados e subjugados. Com freqüência m uito m aior caímos n a arm adilha engendrada por nossa própria natureza social. As paredes de nosso cárcere já exis­ tiam antes de entrarm os em cena, mas nós a reconstruímos eter­ namente. Somos aprisionados com nossa própria cooperação” (136). A p artir desta colocação o autor tra ta de um a terceira perspec­ tiva sociológica ( “ A Sociedade como D ram a” ) em que é analisado o problem a sociológico da liberdade. “ Só nos afastando das ro ti­ nas corriqueiras da sociedade é que nos é impossível con fron tar a condição hum ana sem m istificações consoladoras. Isso não signi­ fica que som ente o m a rgin al ou o rebelde possam ser autênticos; sign ifica que liberdade pressupõe uma certa liberação de consciên­ cia. Quaisquer que sejam nossas possibilidades de liberdade, elas não se poderão concretizar se continuarm os a pressupor que o ‘ mundo aprovado’ da sociedade seja o único que existe” (166).

Após discorrer sobre o problem a dos valores ( “ m aquiavelism o sociológico e ética” ), finalizando a sua obra, P eter Berger procura caracterizar a sociologia como disciplina hum anística. “ Seria de m aior conveniência que a sociologia não se fixasse numa atitude de cientificism o circunspecto, cego e surdo às palhaçadas do es­ petáculo social. Se a g ir assim, a sociologia poderá vir a adquirir um a m etodologia in falível, apenas para perder o mundo dos fe ­ nômenos que se dispusera a explorar — destino tão triste quanto o do m ágico que finalm ente descobriu a fórm u la que libertará o poderoso gênio da garrafa, mas que esqueceu o que lhe queria p ed ir” (183). Quanto ao ponto de vista m etodológico e à própria atividade cien tífica da sociologia, devem orientar-se pelo objeto principal das humanidades — a própria condição humana, o que im plica em largueza de espírito e universalidade de visão.

Justificando a presença da sociologia em todos os currículos das escolas modernas, afirm a o autor: “ Julgamos que o ensino da sociologia se ju stifica na m edida em que educação liberal tenha mais que uma m era ligação etim ológica com libertação intelectual. Onde não h aja essa idéia, onde a educação seja vista em termos puram ente técnicos ou profissionais, que a sociologia seja riscada do currículo. Ela só servirá para atrapalh ar o curso norm al deste currículo, desde, é claro, que a sociologia não tenha sido emascu- lada de acordo com o ‘ ethos’ educacional que prevalece em tais situações, e n tr e ta n to ... a sociologia é ju stificada pela convicção de que é m elhor estar consciente do que inconsciente e que a cons­ ciência é uma condição de liberdade” (193).

No m om ento da conscientização “ vemo-nos realm ente como fantoches. De repente, porém, percebemos uma diferença decisiva entre o teatro de bonecos e o nosso próprio drama. Ao contrário dos bonecos, temos a possibilidade de in terrom per nossos m ovi­ mentos, olhando para o alto e divisando o mecanismo que nos

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moveu. Este ato constitui o p rim eiro passo para a liberdade. E nesse mesmo ato encontram os a justificação d efin itiva da sociologia como um a disciplina hum anística” (194). Com essas p alavra de conteúdo profu ndam ente político o autor conclui a sua obra que, diga-se de passagem, provavelm ente convencerá a todos os leitores de que a sociologia é efetivam en te “ um mundo sério” e que exige de todos aqueles que a com preendem mais do que a m era p a rti­ cipação como fantoche, mas como ser humano transform ador p ar­ ticipante no dram a da sociedade. Lon ge dos debates acadêmicos e academicistas, preocupados com “ teoria pura” , com “ m etod ologia” e com aparentes “ problemas sociais” , o autor procura caracterizar o mundo da sociologia — o sociólogo e a sociologia — , como algo que está preocupado em, realm ente com preender o com portam ento humano, vendo-se a função da sociologia prim ordialm ente como hum anização do mundo. Trata-se efetivam en te de uma das m e­ lhores introduções à sociologia existentes na lín gu a pátria.

Dr. MANFREDO BERGER — P. Alegre

S C H W E IT Z E R , W o lfg a n g — Liberdade para Viver. Ques­ tões fundam entais da ética. E ditora Sinodal, 1973, 93000 São Leopoldo, RS, C. P. 14, — 191 pp., Cr$ 25,00.

O fenôm eno da teologia cristã acha-se em m etam orfose. Com ­ parada com a situação anterior, quando “ teologia cristã” era quase idêntica a “ teologia européia” , hoje ela está voltando a ser verda­ deiram ente ecumênica: as tradições teológicas introvertidas do assim chamado ocidente cristão abrem-se lentam ente ao pensa­ m ento teológico mais espontâneo e livre do ônus da tradição, pro­ veniente das igrejas “ joven s” . Em todo caso pode-se falar de uma teologia do T erceiro Mundo, um a vez que todos seus pronuncia­ mentos, por mais diferentes que sejam entre si, são caracterizados por um a nova autonom ia em relação a pais e irmãos teológicos no continente europeu.

Em tal situação é mais que justificada a pergu n ta se este pro­ cesso de indigenização não é prejudicado pela im portação teo ló gi­ ca da Europa como a representa tam bém a presente tradução. E esta questão se agrava ainda mais, justam ente no caso desta pu­ blicação, em vista do fato de se tra ta r de um esboço de um a ética teológica. Porque justam ente a ética é tão contextuai como ne­ nhum a outra disciplina. Recebe seus problemas da situação con­ creta no nosso caso: do Brasil da segunda m etade do século X X .

T am bém no livro de W o lfg a n g Schw eitzer (professor catedrá­ tico de teologia sistem ática da K irch lich e Hochschule Bethel, A le ­ manha, e ao mesmo tem po redator da renom ada R evista para É tica E vangélica — ZE E ) pode-se n otar constantem ente a in ter­ venção dos fatores nacionais, jurídicos, econômicos e sociais na problem ática da ética. Basta escolher alguns exemplos como: a posição da ig re ja para com o casamento de divorciados, o proble­ m a dos que se n egam a prestar serviço m ilitar, ou ainda a

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