• Nenhum resultado encontrado

VARIABILIDADE CERÂMICA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN, PORTO VELHO, RONDÔNIA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "VARIABILIDADE CERÂMICA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN, PORTO VELHO, RONDÔNIA"

Copied!
107
0
0

Texto

(1)

CURSO DE ARQUEOLOGIA

VARIABILIDADE CERÂMICA NO SÍTIO

ARQUEOLÓGICO GARBIN, PORTO VELHO,

RONDÔNIA

MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO

Viviane de Brito Romano

(2)

Viviane de Brito Romano

Monografia apresentada ao Departamento de Arqueologia da Fundação

Universidade Federal de Rondônia como requisito parcial para obtenção do

título de Bacharel em Arqueologia

Orientadora: Profa. Dr

a

.Silvana Zuse

Porto Velho, Rondônia

2016

(3)
(4)

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia

VARIABILIDADE CERÂMICA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN, PORTO VELHO, RONDÔNIA

Elaborada por

Viviane de Brito Romano

Como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arqueologia

Comissão Examinadora

________________________________________________ Silvana Zuse

(Presidente/Orientadora)

_________________________________________________

(Professor da Universidade Federal de Rondônia)

__________________________________________________

(Mestre em Arqueologia pelo Museu Nacional - UFRJ)

(5)

Dedico este trabalho a todos os membros da minha família, em especial aos meus pais, Vera Lúcia Anhes de Brito e Valmem Francisco Gomes Romano (In memoriam), pois sem eles este trabalho e muitos dos meus sonhos não se realizariam.

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por cada momento desta jornada renovar minha força e disposição.

Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica – PIBIC pelo apoio na pesquisa, bem como ao Departamento de Arqueologia – DARQ da Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR.

Agradeço a todos os professores do curso de Arqueologia que desempenharam com dedicação as aulas ministradas, pela convivência, pelas trocas de conhecimento e experiência.

Sou muito grata a minha orientadora Dra. Silvana Zuse, por compartilhar seus conhecimentos, pela dedicação, paciência, dedicando seu tempo a me orientar. Muito Obrigada!!

Aos meus colegas de classes que com certeza serão futuros excelentes profissionais, em especial agradeço pelas amizades: Isaías Andrade, Carina Campos, Sandro de Jesus, Simone Cândido, Desimar Prestes e ao Tony Los Franzin.

Agradeço a Gegliane Silva (Gygy) pela ajudar na triagem do material do sítio Garbin, bem como também ao Odair Vassoler no Corel Draw.

Ao Francisco Freitas, quem sempre esteve ao meu lado, pelo incentivo e companheirismo imprescindível ao longo deste trabalho. Que divide comigo os planos e sonhos para o futuro.

(7)

RESUMO

Variabilidade cerâmica no Sítio Arqueológico Garbin, Porto Velho, Rondônia

O presente trabalho aborda o estudo da variabilidade cerâmica no sítio arqueológico Garbin, localizado em um terraço fluvial na margem esquerda do rio Madeira, próximo à cachoeira de Santo Antônio, no município de Porto Velho, Rondônia. Este sítio foi escavado no âmbito do Projeto de Arqueologia Preventiva nas áreas de intervenção da UHE Santo Antônio pela Scientia Consultoria Científica. Nesse sítio foram evidenciadas duas camadas de terra preta arqueológica, uma delas com material lítico nos níveis mais profundos e outra lito-cerâmica nos níveis superiores. Analisamos a cerâmica de quatro unidades do sítio Garbin, com datas radiocarbônicas entre 1710±40 AP e 480±40AP, a fim de entendermos as escolhas tecnológicas na cadeia operatória de confecção dos artefatos cerâmicos. Analisamos atributos que caracterizam as escolhas das ceramistas em relação à pasta, técnicas de confecção, acabamentos de superfície, queima, forma e uso, comparando a distribuição dos atributos nos diferentes níveis da camada arqueológica e áreas do sítio, a fim de entender as permanências e mudanças tecnológicas. Identificamos uma diversidade de escolhas que refletem a dinâmica na ocupação da região, e contribuindo dessa forma para a construção da história indígena no Alto rio Madeira.

(8)

ABSTRACT

Ceramic variability in archaeological site Garbin, Porto Velho, Rondônia

This paper describes the study of ceramic variability in the archaeological site Garbin, located on a river terrace on the left bank of the Madeira River, near Santo Antonio waterfall in the city of Porto Velho, Rondônia. This site was excavated under the Project of Preventive Archaeology in the areas of intervention of the Santo Antônio hydroelectric plant by Scientia Scientific Consulting. On this site we were shown two layers of archaeological black earth, one with lithic material at the deepest levels and other litho-ceramic at higher levels. We have analyzed the ceramic four units of Garbin site with radiocarbon dates between 1710 ± 40 and 480 ± AP 40AP in order to understand the technological choices in the operational chain of production of ceramic artifacts. We analyzed attributes that characterize the choices the pottery in relation to the slurry preparation techniques, surface finishes, burns, shape and usage, comparing the distribution of attributes at different levels of archaeological layer and areas of the site, in order to understand the permanence and technological changes. We identified a range of choices that reflect the dynamics in the occupation of the region, and thus contributing to the construction of indigenous history in the Upper Madeira River.

(9)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Bacias hidrográficas de Rondônia. Fonte: CPRM 2010 ... 31

Figura 2: Modelo de evolução da planície do rio Madeira- Tizuka, 2013, p.85. ... 33

Figura 3: Localização dos sítios arqueológicos próximos à cachoeira de Santo Antônio. (Fonte: Google Earth). ... 34

Figura 4: Croqui indicando os furos-testes em uma malha regular de 20x20 m. Círculos azuis representam furos negativos. Círculos vermelhos representam furos com material arqueológico cerâmico, e círculos verdes representam furos com material arqueológico lítico. Círculos concêntricos vermelhos e verdes indicam ocorrências de material arqueológico lítico e cerâmico no mesmo furo (SCIENTIA, 2012). ... 35

Figura 5: Mapa de densidade dos materiais cerâmicos e líticos do sítio Garbin, respectivamente. (Scientia, 2012). ... 36

Figura 6: Representação das unidades escavadas (resgate arqueológico em 2008). ... 37

Figura 7: Perfil sul da unidade N981 E941 (SCIENTIA, 2012). ... 39

Figura 8: Croqui - desenho do perfil norte da unidade N981 E941 (SCIENTIA, 2012)... 40

Figura 9: Croqui - desenho do perfil norte da unidade N981 E987-988 (SCIENTIA, 2012). . 41

Figura 10: Croqui - desenho do perfil sul da unidade N960 E981 (Scientia, 2010). ... 42

Figura 11: Croqui da estrutura de combustão da unidade N900 E1017 (Scientia, 2010). ... 43

Figura 12: Fotografias das pastas: Mineral e carvão; somente mineral; e mineral, caraipé A e carvão, respectivamente... 53

Figura 13: Barbotina N981 E941... 57

Figura 14: Inflexão com inciso e ponteado ... 57

Figura 15: Borda com inciso ponteado na face externa... 57

Figura 16: Fotografia das partes das vasilhas: A: bordas; B: base; C: bojo; e D: NI (Não identificado). ... 59

Figura 17: Fotografia das pastas: A: mineral; B: cauixí; C: carvão; D: argila; e E: cariapé B. 60 Figura 18: Barbotina - unidade N981 E988 ... 62

Figura 19: Borda com inciso na face externa - unidade N981 E988 ... 63

Figura 20: Fotografia da parte das vasilhas: A: borda; e B: inflexões ... 66

Figura 21: Barbotina - unidade N960 E982 ... 69

Figura 22: Borda - unidade N960 E982 ... 69

Figura 23: Fotografia das partes das vasilhas: A: bordas; e B: inflexões ... 72

Figura 24: Fotografia das pastas: A: cariapé B; B: cauixí; e C: mineral+cauixí+cariapé A+carvão - unidade N900 E1017 ... 73

Figura 25: Borda - unidade N900 E1017 ... 75

Figura 26: Vestígio de pintura vermelha sobre engobo branco - unidade N900 E1017 ... 75

Figura 27: Vestígio de utilização - unidade N900 E1017 ... 77

Figura 28: Bordas selecionadas – Sítio Garbin (foto: Gegliane Silva)... 86

Figura 29: Desenho das bordas – Sítio Garbin (Desenho: Silvana Zuse) ... 87

Figura 30: Borda direta inclinada externamente - (Desenhos: Silvana Zuse) ... 87

(10)

Figura 32: Bases selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva) ... 88

Figura 33: Desenho base em pedestal (Desenho: Silvana Zuse) ... 89

Figura 34: Peças selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva)... 89

Figura 35: Peças selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva)... 90

Figura 36: Peças selecionadas - Sitío Garbin (Foto: Gegliane Silva)... 91

Figura 37: Peças selecionadas – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva) ... 92

Figura 38: Peças selecionadas – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva) ... 92

Figura 39: Desenhos dos tratamentos plásticos (Francisco Freitas, Gegliane Silva, Silvana Zuse e Viviane Romano) ... 93

Figura 40: Bordas – Trincheira – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva) ... 93

Figura 41: Desenho das bordas (Silvana Zuse) ... 94

Figura 42: Desenho das bordas – Trincheira (Silvana Zuse)... 94

Figura 43: Bases selecionadas – Sítio Garbin – Trincheira (Foto: Gegliane Silva) ... 95

Figura 44: Desenho de base – Sítio Garbin – Trincheira (Silvana Zuse) ... 95

Figura 45: Peças selecionadas – Trincheira - Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva) ... 95

Figura 46: Peças selecionadas – Trincheira – Sítio Garbin (Foto: Gegliane Silva) ... 96

Figura 47: Desenho tratamento plástico – Trincheira – Sítio Garbin (Gegliane Silva, Silvana Zuse e Viviane Romano) ... 96

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: quantidade de fragmentos por nível – unidade N981 E941 ... 52

Gráfico 2: tipo de antiplástico – unidade N981 E941 ... 53

Gráfico 3: tipo de minerais – unidade N981 E941 ... 53

Gráfico 4: formas dos grãos de quartzo – unidade N981 E941 ... 54

Gráfico 5: Inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N981 E941 ... 54

Gráfico 6: técnica de confecção – unidade N981 E941... 55

Gráfico 7: cor da superfície FE e FI – unidade N981 E941 ... 55

Gráfico 8: queima – unidade N981 E941 ... 56

Gráfico 9: acabamento de superfície (FE e FI) – unidade N981 E941... 56

Gráfico 10: espessura dos fragmentos – unidade N981 E941 ... 58

Gráfico 11: conservação – unidade N981 E941 ... 58

Gráfico 12: técnica de confecção/parte da vasilha por nível – unidade N981 E988 ... 59

Gráfico 13: tipo de antiplástico – unidade N981 E988 ... 60

Gráfico 14: tipo de minerais – unidade N981 E988 ... 61

Gráfico 15: formas dos grãos de quartzo – unidade N981 E988 ... 61

Gráfico 16: Inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N981 E988 ... 61

Gráfico 17: acabamento de superfície – unidade N981 E988 ... 62

Gráfico 18: cor da superfície - unidade N981 E988 ... 64

Gráfico 19: queima – unidade N981 E988 ... 65

Gráfico 20: conservação – unidade N981 E988 ... 65

(11)

Gráfico 22: tipo de antiplástico – unidade N960 E982 ... 67

Gráfico 23: tipo de minerais – unidade N960 E982 ... 67

Gráfico 24: inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N960 E982 ... 67

Gráfico 25: forma dos grãos de quartzo – unidade N960 E982 ... 68

Gráfico 26: acabamento de superfície (FE e FI) – unidade N960 E982... 68

Gráfico 27: cor da superfície – unidade N960 E982 ... 70

Gráfico 28: queima – unidade N960 E982 ... 70

Gráfico 29: espessura – unidade N960 E982... 71

Gráfico 30: conservação – unidade N960 E982 ... 71

Gráfico 31: parte da vasilha-técnica de confecção por nível – unidade N900 E1017 ... 72

Gráfico 32: tipo de antiplástico – unidade N900 E1017 ... 73

Gráfico 33: tipos de minerais – unidade N900 E1017... 74

Gráfico 34: formas dos grãos de quartzo – unidade N900 E1017 ... 74

Gráfico 35: inclusão/tamanho dos grãos de quartzo – unidade N900 E1017 ... 74

Gráfico 36: acabamento de superfície – unidade N900 E1017 ... 75

Gráfico 37: cor da superfície – unidade N900 E1017 ... 76

Gráfico 38: queima – unidade N900 E1017 ... 77

Gráfico 39: espessura – unidade N900 E1017... 78

Gráfico 40: conservação – unidade N900 E1017 ... 78

LISTA DE TABELA Tabela 1: Datações do sítio Garbin fornecidas pela Scientia Consultoria Científica (Fonte: Zuse, 2014, p. 179). ... 38

(12)

Sumário

RESUMO ... 7

1.1. Panorama dos Principais Modelos de ocupações pré - coloniais da Região Amazônica . ...14

1.2. Arqueologia do alto rio Madeira ... 21

CAPÍTULO 2. CARACTERIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN. ... 31

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE CERÂMICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN: ABORDAGEM TEÓRICA, MÉTODOS E TÉCNICAS ... 45

3.1. Conceitos sobre o estudo da tecnologia ... 45

3.2. Descrição dos atributos analisados ... 48

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DA CERÂMICA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN ... 52

4.1. Análise da cerâmica da Unidade N981 E941 ... 52

4.2. Análise da cerâmica da unidade N981 E988 ... 58

4.3. Análise da cerâmica da Unidade N960 E982 ... 65

4.4. Análise da cerâmica da Unidade N900 E1017 ... 71

4.5. Comparação das análises do sítio Garbin...78

4.6. Triagem da cerâmica do Sítio Garbin ... 85

Triagem das cerâmicas das trincheiras ... 93

CONCLUSÃO...97

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...100

(13)

INTRODUÇÃO

No Estado de Rondônia as pesquisas arqueológicas vêm corroborando para um dos maiores potenciais arqueológicos do país, apresentando uma grande diversidade cultural existente nesta região. O sítio arqueológico Garbin foi identificado durante as pesquisas desenvolvidas pela Scientia Consultoria Cientifica no Projeto de Arqueologia Preventiva da UHE de Santo Antônio, no rio Madeira, no ano de 2008. Está localizado em um terraço fluvial, próximo á antiga cachoeira de Santo Antônio, na margem esquerda do rio Madeira. Foram encontrados materiais cerâmicos e líticos.

Temos como objetivo analisar a cerâmica do sítio Garbin para entender a cadeia operatória de confecção dos artefatos cerâmicos de modo a perceber as continuidades e as mudanças na tecnologia cerâmica em diferentes áreas e períodos de ocupação.

A análise dos materiais cerâmicos teve início no âmbito da minha pesquisa de iniciação científica no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC, na Universidade Federal de Rondônia – UNIR, e teve continuidade nesta Monografia.

No capítulo 1 apresentamos um breve panorama dos principais modelos de ocupações pré-coloniais da região Amazônica, bem como das pesquisas realizadas no alto rio Madeira.

No capítulo 2, caracterizamos e localizamos a área de estudo, com sua vegetação, clima, delimitação do sítio, distribuição espacial dos vestígios arqueológicos, densidade de materiais no sítio, escavações e datações.

No capítulo 3 serão apresentados os conceitos sobre o estudo da tecnologia e a descrição dos atributos analisados.

No 4 capítulo apresentamos os resultados da análise do material cerâmico bem com da triagem do material estudado nesta pesquisa.

(14)

CAPÍTULO 1. ARQUEOLOGIA NA AMAZÔNIA E NO ALTO RIO MADEIRA

1.1. Panorama dos Principais Modelos de ocupações pré-coloniais da Região Amazônica

Desde a década dos anos 40, arqueologia foi sendo rotulada ou contextualizada por conceitos evolucionistas e deterministas que persistiram por um bom tempo na arqueologia amazônica. Com publicação do Handbook of South American Indians, por Julian Steward (1948), que propôs organizar a diversidade culturais da América do Sul, classificando em quatros tipos culturais: Tribos Marginais, Povos Floresta Tropical, Povos do Circun-Caribe e Povos Andinos. Esta classificação foi guiada sob uma forte influência da Ecologia Cultural norte-americana e do determinismo ecológico, na qual as culturas eram classificadas de acordo com níveis de complexidade, modos de produção, organização sociopolítica e ecologia (FAUSTO, 2005).

Para a região da floresta Amazônica foi estabelecida Cultura da Floresta Tropical. Este conceito foi definido a partir de alguns elementos que inclui o cultivo de tubérculos (Mandioca), navegações fluviais, usos de redes, cerâmicas e pelas ausências de alguns traços arquitetônicos e metalúrgicos (NEVES, 1999-2000). De acordo com Neves (1999-2000), Steward tinha uma visão do desenvolvimento dos grupos indígenas que habitavam a floresta tropical a partir de combinações de fatores adaptativos locais com influência externa do Circum-Caribe. Influenciado pelas ideias de Irving Rouse, Betty Meggers e Clifford Evans, passou a considerou os Andes como matriz cultural, que ao entrar na floresta a cultura teria regredido para Cultura de Floresta Tropical, devido ao baixo potencial agrícola da floresta tropical, situando assim a Amazônia em um contexto periférico na história pré-colonial da América do Sul.

Meggers e Evans (1987), a fim de testar a hipótese de Steward, iniciaram suas pesquisas na região da Amazônia, onde formularam o primeiro modelo de desenvolvimento cultural na região, considerando a relação entre a cultura e o meio ambiente em termos de subsistência (GOMES, 2002). Meggers tinha uma visão da Amazônia como “Inferno Verde”, cuja pobreza em recursos naturais, limitaria o desenvolvimento dos grupos existentes, devido à baixa fertilidade do solo teria inibido o crescimento e o adensamento populacional (FAUSTO, 2005).

De acordo com Meggers (1987, p. 30), a cultura sem um fornecimento concentrado e produtivo de alimento, não poderia atingir um nível mínimo de complexidade. Sendo assim a

(15)

floresta tropical teria sido ocupada por sociedades simples, igualitárias e de pequenos portes (FAUSTO, 2005).

Na década de 1950, Betty Meggers e Clifford Evans escavaram em Marajó e evidenciaram no registro arqueológico indicativo de complexidade social, interpretando este correlato como oriundo de grupos vindos de fora, que apresentavam um padrão do tipo cacicado, mas devido à incapacidade do meio ambiente lhe imposto limites, este grupo teriam então decaído culturalmente, se transformado em padrão do tipo de Floresta Tropical (FAUSTO, 2005; GOMES, 2002).

Meggers (1987) salienta as diferenças entre a terra firme e a várzea. Segundo a autora, na terra firme se encontraria em menor quantidade de suprimento alimentar. Essa deficiência e devido aos fatores: como infertilidade do solo (idade do solo), altas temperaturas, a umidade e a baixa concentração de alimentos vegetais e animais que dificultaria a adaptação dos grupos humanos; e a várzea seria um ambiente complexo e heterogêneo, devido ao fato que suas águas carregam grandes quantidades de nutrientes importantes oriundos dos Andes, que espalhar-se de forma irregular pela várzea ocasionada pela cheia do rio, além de oferecer uma grande quantidade de recursos alimentícios, bem como também o uso da terra para agricultura sem danificar o solo, já que a fertilidade do solo é renovada anualmente. Entretanto a susceptibilidade da cheia do rio poderia ocasionar uma diminuição dos recursos alimentares, criando uma condição desfavorável aos grupos que dependem destes recursos para sua subsistência. Segundo Meggers a adaptação a este ambiente está ligada a estabilidade de armazenar os recursos em quantidade muito baixa de modo que esta situação limitou o tamanho da população.

Em contrapartida a esta visão determinista ambiental estudos realizados pela corrente da Ecologia Histórica vêm demonstrando que a região amazônica possui condições necessárias para sustentar grandes grupos por longos períodos em uma mesma área, manejando, domesticando e transformando o ambiente em que vivem, originando nas terras pretas evidenciadas nos sítios arqueológicos (SMITH, 1980; BALÉE, 2008). De acordo com Neves (1999-2000) esta corrente mostra que Amazônia não oferece limites contra o crescimento demográfico ou a emergência da complexidade social, mas que ela é um produto da ação humana e não uma variável externa totalmente independente.

Donald Lathrap, não partilhava o mesmo ponto de vista dos pesquisadores evolucionista e determinista ambiental, para este autor o conceito de Floresta Tropical deveria ser definido a partir de elementos culturais comuns e não como um estágio de evolução cultural. Para o autor este conceito caracterizar-se pelo cultivo intensivo de tubérculos,

(16)

principalmente a mandioca, com o aproveitamento máximo dos recursos alimentícios aquáticos e da caça terrestre como secundário (LATHRAP, 1970).

Para Lathrap, a Floresta Amazônica não teria elementos que limitaria o desenvolvimento cultural, pelo contrário, nela teria surgido grandes eventos importantes como a emergência da agricultura e o aparecimento da cerâmica nas Américas (GOMES, 2002). O autor acreditava que a Amazônia Central era um grande polo de desenvolvimento cultural, e elaborou um modelo denominado de “Modelo Cardíaco”, que se baseava na combinação de um ambiente rico e ao mesmo tempo restrito, bombeando populações e cultura para outras áreas. Para o autor a várzea era um lugar fértil e criativo que devido ao grande aumento populacional ocorrido pela abundância de recurso teria provocado competição e guerra, obrigando parte das populações a migrar para outras áreas (FAUSTO, 2005). Além da Amazônia Central ter sido uma região de grande dinâmica populacional, seria também o centro de origem de duas famílias linguísticas importantes: Aruak e Tupi. De acordo com Lathrap (1970, p. 75) a bacia do Alto Amazonas apresenta maior diversidade linguística da América do Sul, caracterizada pela variedade de línguas distintas.

O centro de origem e dispersão do Tronco Tupi vem sendo debatido desde 1838 até o presente. Diversos pesquisadores das áreas de arqueologia, etnologia e linguística propuseram os possíveis locais de origens e difusões destes grupos. Hipóteses anteriores à publicação de Handbook of South American Indians (1950), eram baseadas em dados etnográficos e históricos que não davam subsídios consistentes para determinar a origem e a expansão da língua Tupi, como os dados arqueológicos e linguísticos. As suposições eram fundamentadas teoricamente a partir do degeneracionismo, determinismos raciais e geográficos e até evolucionista (NOELLI, 1996).

A partir da publicação de Handbook of South American Indians os dados arqueológicos passaram a ser interpretados a partir do determinismo ecológico e do difusionismo introduzindo métodos da linguista histórica (NOELLI, 1996), que eram o pensamento da antropologia na época.

Segundo Lathrap (1970), o centro de dispersão da língua Tupi seria na Amazônia Central, que devido à pressão demográfica de tais grupos, eles foram forçados a migrar, subindo os rios: Madeira, Guaporé e Xingu. Instalaram-se contra as escarpas dos chapadões do planalto central brasileiro. Entretanto, estudos de glotocronologia sugeriram que a separação da família Tupi Guarani teria começado há 2.500 anos, isto é 500 a.C e não recentemente como sugeriu Lathrap (BROCHADO,1989). José Brochado, quando participava do PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas), concordava com Meggers

(17)

de uma origem extra-continental e andina como o centro de dispersão deste grupo, mas após iniciar seu doutorado ele mudou seu aporte teórico compartilhando as ideias de Lathrap (1970). Neste período Brochado propõe um novo modelo de dispersão da língua Tupi tendo como o centro de origem o sudoeste da Amazônia. Este modelo foi baseado em dados arqueológicos e linguísticos consistentes, diferentemente do modelo de Meggers que não possuía nenhum dado empírico demonstrável apenas se baseava em opiniões de pesquisadores que lhe seguia (NOELLI, 2008). Para Brochado (1989) a dispersão foi resultado de extensas migrações dos grupos falantes da língua Tupi, visto que alguns destes grupos ainda se mantiveram em movimentos, como os Tupinambás e o Guarani Mybiá.

De acordo com Brochado (1989), os Tupinambás e os Guaranis não vieram das mesmas ondas migratórias, mas sim por caminhos distintos:

“Os tupinambás teriam descido ao longo à costa atlântica, a partir da desembocadura do Amazonas enquanto os Guarani teria ocupado sistema fluvial Paraná-Paraguai-Uruguai descendo ao médio Amazonas ao longo do Madeira e do Guaporé”.

Segundo Rodrigues (1964) o centro de difusão do Proto-Tupi estaria na área entre os rios Guaporé e Ji-Paraná no estado de Rondônia, devido ao fato de que das dez famílias linguísticas, seis se concentram nesta região. Esta hipótese é a mais aceita pelos linguístas.

Pensando em cultura material, Brochado (1989) aponta que a subtradição Guarita teria se formado a partir das cerâmicas Barrancóides, e a subtradição Miracanguera seria pertencente aos Tupinambás cujo apogeu se deu na Ilha do Marajó com a cerâmica denominada Marajoara. Na qual a cerâmica Guarita seria muito mais simples do que a cerâmica Miracanguera.

Tanto Lathrap como Brochado acreditavam que a cerâmica da Tradição Polícroma da Amazônia (TPA) era mais antiga na Amazônia Central e que este correlato estaria associado ao grupo falante da língua Tupi.

Entretanto, estudo realizado no baixo e médio rio Negro aponta que a cerâmica da Tradição Polícroma da Amazônia (Guarita) encontrada nesta região não e muito mais antiga que na Amazônia Central e não menos sofisticada ou diversificada que a Subtradição Miracanguera, apresentando urnas antropomorfas e formas sofisticadas, não havendo evidências histórica e etnográfica da associação desta subtradição aos grupos da língua Tupi (HECKENBERGER et al, 1998).

Segundo Moraes e Neves (2012), a fase Guarita e complexos semelhantes tem uma ampla distribuição pela Amazônia ocidental, são encontradas desde o médio rio Madeira e baixo rio Amazonas, entre os estados do Amazonas e Pará até o rio Napo no Equador, sendo

(18)

que as datas mais antigas para esta fase é de 900 D.C no sítio Açutuba, na margem direita do rio Negro em Iranduba/AM. De acordo com estes autores, a expansão deste grupo se deu muito rápido devido fato que os estratos destas ocupações estarem sempre na superfície e que após a ocupação este grupo ainda mantiveram contatos, pois os padrões formais e decorativos da cerâmica tinham códigos impressos na forma de decoração que era compartilhado por grupos que habitavam o médio do rio Madeira até a região do rio Napo e no Equador.

Entretanto, como vem demonstrando os dados arqueológicos obtidos nesta área do alto rio Madeira os Tupi não estavam sozinhos, estariam presentes também os grupos Aruak associados á cerâmica Barrancóide. Os trabalhos feitos na região do rio Madeira vêm identificando características e contextos associados aos grupos Aruak (ALMEIDA, 2013, ZUSE, 2014).

Assim como os grupos falantes da língua Tupi, Lathrap apontou seus estudos para a região da Amazônia Central como a “terra natal” dos povos Aruak, especificamente no baixo rio Negro, correlacionado á Tradição Borda Incisa ou Barrancóide. Seu aluno de doutorado José Oliver se dedicou a estudar os grupos Aruak na década 80, onde propôs que os proto-aruak teriam ocupado a Amazônia Central por volta de 6.000 anos a.P (NEVES, 2000).

No entanto não há um consenso sobre a origem de dispersão do grupo linguístico Aruak/Maipure (URBAN, 1992). De acordo com autor a diáspora Aruak teria ocorrido por volta de 3 mil anos a.P ou mais, na qual o principal curso do rio Amazonas não teria sido a rota principal, mas provavelmente as periferias das bacias Amazônica, partindo da área peruana e mais tarde a região das terras baixas Amazônica.

Para Heckenberger (2001) umas das áreas para as quais se expandiram estaria localizado no noroeste amazônico, a partir de uma antiga migração ou de umas séries de migrações para região do alto Madeira espalhando-se para oeste (Acre e Peru), para sul (terras baixas bolivianas) e para leste (Alto Xingu).

A Tradição Barrancóide teria uma ampla distribuição na América do sul e Caribe. Sendo definida por Cruxente e Rouse (1958); Osgood e Howard (1943); Sanoja e Vargas (1969, 1978) a partir dos estudos realizados no Baixo Orenoco na Venezuela, nos sítios Barrancas e Saladero. Esta tradição abrange outras partes da América do Sul, como nas bacias do Amazonas, na Guiana francesa e na Amazônia boliviana (OLIVER, 2013).

Esta Tradição cerâmica apresenta características como bordas largas, com topo achatado, sendo que a superfície das bordas apresentam decorações com incisões e em alguns casos pinturas ou engobo vermelho na face interna e externa de alguns vasos. Na Amazônia Central a tradição Barrancóide é representada pelas fases Manacapuru, Paredão e Açutuba

(19)

(LIMA; NEVES, 2011). Foi identificada pela primeira por volta de 700 a 800 A.C na planície alagada do Baixo Orenoco (PORTOCARRERO, 2006).

Alguns dos fatores culturais que caracterizam esse tronco linguístico seriam os assentamentos com grandes aldeias circulares com caminhos interligados; Sedentarismo e a presença de uma agricultura intensiva baseada no cultivo de mandioca e possivelmente de milho e também dos recursos aquáticos; Regionalidade, interação sociopolítica apoiada em ideologias e culturas comum, através de uma rede de trocas rituais, da interdependência cerimonial e de padrões difusos de sociabilidade e a interação entre as comunidades. Eram grupos que tinham uma ideologia não ofensiva, pelo contrário, eram acolhedores, absorvendo tanto traços como pessoas de outros grupos. Outra característica presente neste grupo seria a hierarquia baseada no poder centralizado, que se-dá com base em diferenças de idade e de gênero (HECKENBERG, 2001).

A expansão dos povos Aruak não ocorreu de forma amigável pelo contrário houve períodos de conflitos quem podem ser observados no registro arqueológico através da construção de valetas e paliçadas. Segundo Heckenberg (2001), estas estruturas tinham como função defensiva. Estas estruturas são encontradas no baixo rio Madeira, nos sítios arqueológicos Borba e Vila Gomes (MORAES, 2013) e no Amazonas no sítio arqueológico Açutuba (NEVES, 2008). Entretanto outras estruturas foram associadas a este grupo, como a construção de montículos que poderiam ser tanto para habitação no caso do sítio arqueológico Antônio Galo, na Amazônia Central, no qual os montículos se encontram disposto em formato anelar (MORAES, 2013) ou em contexto funerário, como no sítio arqueológico Hatahara, na Amazônia Central associada à fase Paredão (PY-DANIEL, 2010).

Ao longo das margens do Amazonas e dos baixos cursos de seus tributários foi denominada a Tradição Pocó-Açutuba, tem uma ampla distribuição pela Amazônia, se espalhando de oeste para leste, desde a foz do Japurá até Santarém, e, de norte a sul, o baixo rio Branco até a região de Manaus. Esta tradição e caracterizado por uma cerâmica por uma pasta diversificada com antiplástico caraipé e cauixí ou combinado no mesmo vaso. As formas são complexas: vasilhames carenados, vasos com gargalos, as flanges labiais e mesiais sendo esta ultima com pinturas, expansões e apliques modelados zoomorfo que geralmente eram aplicados nas flanges labiais ou diretamente nas paredes do vasos. Destaca-se as representações mais naturalistas como onças, morcegos, jabutis, sapos e figuras duais. Em relação às características decorativas destaca-se a policromia com uso dos tons do preto, amarelo, laranja, vermelho, cor-de-vinho e o branco que geralmente usado como engobo, bem como a presença frequente do engobo vermelho. Os motivos eram geométricos como

(20)

retângulos, quadrados, círculos, faixas e linhas com a formação de padrões gráficos complexos. A decoração plástica destaca as incisões (em linhas retas e curvas como as volutas), modelados, excisões, ponteado e escovados, assim como o uso de outras técnicas menos usadas como a raspagem, tracejado e o corrugado (NEVES et al, 2014).

De acordo com Neves et al (2014) as cerâmicas Pocó-Açutuba não tem semelhança formal ou estilística com complexos mais antigos da Amazônia, ou anterior a data de 1200 BC o que pode indicar que as ocupações Pocó-Açutuba tiveram uma origem externa que começou a se estabelecer em diferentes partes da bacia Amazônia na transição do segundo para o primeiro milênio AC, possuindo um repertório amplo decorativo; Estas ocupações representaria os primeiros sinais de ocupações humana após longos hiatos no Holoceno médio, ocupando áreas ao longo dos grandes rios ou lagos; presença de feições com concentrações de cerâmicas; associação com a formação inicial de terras pretas, como indicador de modos de vida sedentários. Por possuir amplitude geográfica e de tais características citada permitiu que as ocupações Pocó-Açutuba, sejam tratadas como uma Tradição distinta, diferente da Tradição Borda Incisa;

Segundo o autor os produtores da cerâmica Pocó-Açutuba eram grupos que exploravam e manejavam a Amazônia com uma tecnologia (modelado) ao que parece nova para a época. Essa tecnologia espalhou-se por uma grande área, ocupando locais anteriormente vazios ou habitados por grupos distintos, que até o momento não se tem evidencias de conflitos com as ocupações Pocó-Açutuba, o que sugeri um tipo de relação horizontal nos casos de grupos que já habitavam anteriormente essas áreas, permitindo a incorporação desses povos por relações de comércio ou casamentos como e possível vê atualmente em áreas com presença de grupos Arawak. Esta inovação conceitual e tecnológica trazida por esses antigos grupos colonizadores, certamente deu um novo significado em alguns dos complexos cerâmicos.

(21)

1.2. Arqueologia do alto rio Madeira

As primeiras pesquisas arqueológicas realizada no estado de Rondônia iniciaram na década de 70 e 80, no contexto do PRONAPABA (Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica), pelo arqueólogo Eurico Miller. Suas interpretações para o registro arqueológico eram feitas a partir de uma perspectiva histórico-culturalista (MONGELÓ, 2015), criando diversas fases e tradições e formulando as primeiras hipóteses de ocupação na região (ZUSE, 2014).

Miller (1992) identificou ocupações pré-ceramistas ao longo do alto rio Madeira, bem como no seu afluente da margem direita, o rio Jamari. No rio Jamari foram identificadas os complexos: Itapipoca, Pacatuba e Massangana. No alto rio Madeira caracterizado pelos complexos Periquitos e Girau. (Miller et al, 1992; Miller 1983)

No rio Jamari o Complexo Itapipoca é atribuído pelas datas entre 8.320 ± 100 a 6.970 ±60 A.P. Este complexo apresenta artefatos líticos dos tipos raspadores laterais e terminais, percutores com evidências de uso, lascas com ou sem retoque e núcleos esgotados. Sendo que os percutores e as lascas são trabalhados em quartzito e sílex (MILLER, 1992).

O complexo Pacatuba está acima do complexo Itapipoca, datado entre 6.090 ± 130 a 5.210 ± 70 A.P. Portadores de uma indústria lítica de lascas e micro lascas em quartzo, percutores e calhaus de quartzito e sílex, bigornas, núcleos sendo que no final da sequência ocorrem polidores e lâminas de machados lascados bifacialmente. Sobre estes complexos ocorrem o Complexo Massangana datado entre 4.780 ± 90 e 2.640 ± 60 a.P, caracterizado como a primeira etapa do período Formativo, com material lítico associado ao solo de terra preta antropogênica, dando início a prática de agricultura incipiente e a domesticação de plantas (Palmeira Urucurí) em pleno Óptimum Climático. São encontrados neste complexo artefato líticos como micro lascas e lascas em quartzo, nódulos de hematita, bolotas de argila sem tempero, pequenas mós, mãos de pilão e blocos de afiadores de machado, raros raspadores pequenos (MILLER, 1999, 1999a).

Já no alto rio Madeira ao longo da sua calha localiza-se o Complexo Cultural Periquito, datado em 11.940 anos a.P., e caracterizado por uma indústria lítica de percutores com evidências de uso, lascas e um biface lanceolado ou pré-forma em quartzo, sílex e outras rochas bastante alteradas. De acordo com Miller (1992) foram evidenciados neste complexo resto de esqueletos paleoindígenas (crâneos) e de mandíbulas, materiais estes que foram resgatados por mergulhadores de garimpos e pelas peneiras das balsas.

(22)

O Complexo Girau e evidenciado em cinco sítios arqueológico no rio Madeira (Teotônio, Pederneira 2, Paredão, Girau, Periquitos) e um sítio no rio Mamoré (Ribeirão). Apresenta material lítico lascado em solo não antropogênico (MONGELÓ, 2015). Este complexo é caracterizado por lascas, percutores, núcleos e possíveis raspadores em quartzo, sílex e rochas graníticas alteradas. Cronologicamente se situam no Holoceno Médio (MILLER, 1999a).

Mongeló (2015) buscou levantar novos dados do sítio Teotônio, de forma entender os processos de transformação socioeconômica a partir das mudanças tecnológicas dos artefatos dos grupos que ocuparam este sítio. O autor acredita que o sítio Teotônio teria dois conjuntos artefatuais que corresponderia ao período Formativo, a Fase Massangana e a Tradição Pocó/Açutuba. Estes dois conjuntos seriam representativos de um mesmo processo, com características mais complexas e com intensidades distintas: num primeiro momento teria formado a Terra Preta, no Holoceno Médio, posteriormente teria surgido à cerâmica como elemento agregador a este processo.

Segundo Mongeló (2015), é possível afirmar que o sítio Teotônio teria uma ocupação que vai desde 6.500 AP até os dias de hoje, englobando diferentes formas de relações sociais que deixaram registradas através da cultura material, e que o inicio destas ocupações seria durante no Holoceno Inicial pelos Complexos Girau e que a partir do Holoceno Médio estes grupos teriam iniciado o processo de formação da terra preta (Fase Massangana), utilizavam uma indústria expedita de lascas de quartzo, que priorizava os simples gumes retocados. Para Mongeló (2015) o surgimento da Fase Jamari e a Fase Jatuarana teriam aumentado as manchas de Terra Preta sobre o platô e que o sítio Teotônio apresenta um contexto diferenciado, caracterizado por populações pré-ceramistas e com umas das datações mais antigas (na base 6.500 AP e no topo 3.000 AP) para um sítio a céu aberto nas Terras Baixas da América do Sul.

Já em relação ao contexto ceramista nesta região do alto rio Madeira. Miller estabeleceu a subtradição Jatuarana por volta entre 2.730±75 a.P e 2.340±90 a.P. Esta cultura ceramista ocupou desde a confluência do rio Marmelos a jusante, até as primeiras cachoeiras e corredeiras a montante. Foram identificados mais de 32 sítios habitação, vários sítios oficinas e um sítio cemitério. Os sítios habitação apresentam terra preta em uma profundidade de até 210 cm, com formas elipsoides a retangulares e a presença dos pés de Attalea excelsa Mart.(urucurí) e Pyrenoglyphis marajá (marajá). Segundo o autor as terras pretas antropogênicas eram resultantes de constantes reocupações continuas (MILLER, 1992). De

(23)

acordo com ele, os sítios habitações maiores e mais complexos seriam RO-JP-01: Teotônio e RO-JP-03: Porto Seguro atualmente conhecido como Santa Paula, ambos os sítios situados na Cachoeira de Teotônio, e RO-PV-19: Igapó-1 localizado na margem direita e a jusante da Cachoeira de Santo Antônio, devido ao fato de estarem localizados em lugares estratégicos (cachoeiras), que criaria uma barreira intransponível para captura de recursos aquáticos (cardumes de peixes no período da piracema e de tartarugas nas estiagens).

De acordo com Miller (1992, p. 223) as vasilhas da subtradição Jatuarana apresentam:

Pasta pouco arenosa, com temperos de cariapé e carvão, cariapé, cariapé e cauixí, caiuxí e areia fina, com espessura de fina a mediana e regular, a pasta e compacta porosa e leve. O tratamento de superfície e bem elaborado e esmerado, variando desde o alisado, polido, brunido e envernizado (resina de jatobá).

Sobre a morfologia dos vasilhames Miller (1992, p. 223) afirmar que:

Variam de tigelas simples circular como até complexamente curvilíneas, rasas a profundas, com contornos simples a composto entre 10 e 36 cm de diâmetro, com bordas introvertidas, diretas, extrovertidas e dobradas tipo pratos, raros assadores de 30 a 45 cm de diâmetros e urnas funerárias antropomórficas de até 69 cm de altura, com pescoço leve e fortemente constrito, bordas expandidas e introvertidas vertical, diretas e extrovertidas; lábios arredondados, planos, apontados e mistos; base plana, arredondadas, anelar e em pedestal.

Segundo Miller (1992, p. 223) a decoração apresenta:

Técnicas de exciso raspado, inciso dupla linha e outros, ponteados, ponteados arrastados, ungulados, pinçados, serrungulados, acanalados finos, estampado, carimbado que pode estar isolados ou combinados entre si, com ou sem engobo, monocromia, policromia associados ou não a apliques zoomórficos, antropomórficos, flanges, alças, asas e outros artifícios, compreende monocrômias simples em positivo ou negativo sobre engobo vermelho, policromias sobre engobo branco ou não com cores que variam do preto, sépia escuro, marrom, magenta, vermelho, laranja, amarelo e creme podendo estar combinadas, misturadas ou associadas ou não com decoração plástica. Os motivos em linhas, faixas e campos curvilíneos, geométricos, zoo e antropomórficos. Sendo que os tipos retocados compreendem o inciso, exciso raspado e acanalado fino, retocados ou preenchidos com branco, amarelo, laranja e vermelho.

Miller (1992) detectou mudanças significativas que ocorreram ao longo do tempo como: maior popularidade das técnicas plásticas no início das sequências e maior popularidade das técnicas crômicas no final, bem como o aumento da popularidade das urnas funerárias antropomórficas, e a maior presença das flanges e do acanalado da subtradição Guarita na sequência inferior sendo substituído pelo acanalado fino na sequência mediana-superior (MILLER, 1992).

Atualmente existe outra definição da subtradição Jatuarana, realizada por Almeida (2013), Zuse (2014) e Pessoa (2015) que caracterizar a cerâmica da Tradição Polícroma no rio Madeira. A cerâmica da Associação Calderita apresentou predomínio do caraipé (90%).

(24)

Destaca a grande presença de engobo vermelho, bem como também de fuligem e poucos fragmentos com pinturas (15%), pintadas em vermelho, branco ou combinações de ambos. Em relação o tratamento plástico apenas 4 fragmentos identificaram incisões. A cerâmica do sítio Itapirema prevaleceu o cauixí (85%). Dentre os tratamentos de superfície destaca a presença de barbotina (10%) e o esfumarado (9%) na face externa. A cerâmica deste sítio seria a mais elaborada em relação à forma e a decoração, sendo que cerca de (30%) das bordas com reforço, presença de bordas extrovertida com ponto angular, raras bordas recortadas, o predomínio dos lábios arredondados (53%) e planos (32%). As bases destacam-se as planas e as côncavas; Os tratamentos plásticos predominaram incisões finas ou largas (acanalados), um digitado e um filete aplicado; A decoração pintada consistir do vermelho e branco com predomínio do vermelho; Evidenciou-se uma peça modelada de uma provável representação de uma cabeça zoomórfica com incisões e pintura branca e vermelha (ALMEIDA, 2013).

Zuse (2014) identificou uma grande variabilidade nas formas e decorações das vasilhas da Tradição Polícroma, sendo que nos sítios Morros dos Macacos I e Boa Vista ocorrem pinturas pretas e brancas, nos sítios Ilha de Santo Antônio, Vista Alegre e Coração pinturas vermelhas e brancas; Já nos sítios a jusante e frequente os traços largos, sendo que no sítio Coração os traços são finos; Os tratamentos plásticos nos sítios (Morro dos Macacos I, Boa Vista, Vista Alegre) destaca o uso recorrente das incisões em motivos complexos sobre as pinturas brancas enquanto em outros sítios (Novo Engenho Velho) a presença dos acanalados e aplique. Em relação às formas predomina as infletidas nos sítios a jusante, e as compostas prevalecer no sítio Coração.

Pessoa (2014) mostrou que alguns atributos pertencentes ao sítio Ilha de Santo Antônio como o antiplástico de cariapé, queima oxidante e redutora, alisamento fino se mantiveram ao longo do tempo. Entretanto em relação aos acabamentos de superfícies por níveis foi possível perceber uma mudança ao longo do tempo, presença maior de engobo nos níveis superficiais e de tratamentos plásticos nos níveis profundos, sendo que os poucos que ocorre de tratamentos plásticos nos níveis superficiais são de roletados. De acordo com autor essa mudança se deu através da transição da cerâmica Barrancóide para a Polícroma, de forma gradativa mantendo alguns aspectos tecnológicos por volta do século X DC na Ilha de Santo Antônio.

Almeida (2013) em sua tese de doutorado pesquisou a região do alto rio Madeira, estudou cinco sítios arqueológicos (Associação Calderita datado em 980±40 e Itapirema 540±40 AP; Jacarezinho entre 980±40 e 660±40 AP; Nova Vida 1.790±60 AP; e o Teotônio

(25)

com duas datas entre 1.550±30 e 1.250±30 AP) localizados na região do baixo curso do rio Jamari e do alto rio Madeira. O autor chama atenção para a falta de sítios arqueológicos na área entre os rios Candeias e Jamari devido o baixo contingente populacional nesse trecho, na qual foi denominado de zona tampão entre os grupos do médio Jamari (Tradição Jamari) e os grupos do alto Madeira (Subtradição Jatuarana). Ele também evidenciou diferenças nos materiais entre o médio-baixo Jamari e o médio-alto Jamari que podem representar dois grupos da família Tupi-arikém (Arikém e os Karatiana).

A partir das análises da cerâmica foi possível inferir que o sítio Associação Calderita e Itapirema pertence á Tradição Policroma Amazônica e consequentemente a Subtradição Jatuarana, o sítio Jacarezinho a tradição Jamari, e o sítio Nova Vida que não foi possível associar a nenhuma tradição arqueológica. O sitio Teotônio foi caracterizado pelo autor a partir dos conceitos de lugar significativo e lugar persistente. Lugar significativo por se localizar uma área de “fronteira” ou divisor cultural, separando os grupos da Tradição Jamari e Jatuarana, na região do médio e baixo Jamari e um lugar persistente pela abundância de recursos aquáticos (pescas).

O sitio Teotônio foi identificada uma ocupação pré-cerâmica com sedimento escuro com presença de material lítico (unidade N10001 E 10003), com uma data de 700 d.C.. O autor sugere que data de 700 a.C realizada por Miller seria de uma camada pré-cerâmica em terra preta, e não a uma ocupação polícroma, como Miller havia definido. Também foi identificada uma outra cerâmica mais antiga sem decorações pintadas, com decorações plásticas “rústicas” com antiplástico mineral, datada em 400 d.C., o que aponta que no sítio Teotônio teve duas ocupações de grupos cerâmicos e não apenas uma subtradição.

Almeida (2013) vê semelhança desta cerâmica antiga do sítio Teotônio ao contexto do sítio Nova Vida em relação à decoração, espessura das paredes dos fragmentos e a ausência de formas, bem como nas datas que ambos os sítios são razoavelmente próximas (contexto antigo 400 d.C. e sítio Nova vida 200 d.C), se tratando de uma antiga ocupação do alto Madeira que foi substituída pela chegada dos grupos portadores da cerâmica polícroma, entretanto seria apenas uma hipótese a ser testada. Autor dialogar com os dados de Zuse (2011) onde a pesquisadora evidenciou contextos mais antigos no sitio Morros dos Macacos I, como também diversos elementos decorativos que estariam presentes em outros sítios da região (Veneza, Ilha de Santo Antônio e o Garbin).

De acordo com Almeida (2013) a região do alto rio Madeira e uma área–chave para a compreensão da história dos grupos indígenas do sudoeste da Amazônia, autor apresenta duas propostas interpretativas para a história pré-colonial dos grupos ceramistas do alto Madeira. A

(26)

primeira é que o sítio Teotônio, por estar em um lugar estratégico (cachoeira) seria um núcleo, ou um entroncamento, na rede de caminhos aquáticos e terrestres amazônicos, que era realizado trocas comerciais, rituais festivos de iniciação, trocas de mulheres, alianças políticas ou simples festanças com bebidas para facilitar futuras negociações. Neste, a presença de determinados elementos estilísticos “exógenos” seria explicado pelo contato e troca verbal entre as oleiras de grupos distintos durante alguns eventos no sítio (ALMEIDA, 2013, p. 298). De acordo com a segunda hipótese, a grande diversidade estilística do sítio seria devido à imensa variabilidade vinda de fora por parte de um dos grupos que ocuparam o sitio, do que pelas trocas em redes de comércio, onde estes elementos encontrados na cerâmica eram difundidos principalmente para fora do núcleo. De acordo com essa hipótese explicaria o aparecimento da Tradição Polícroma no alto Madeira: Grupos autóctones (Aruak) de estilo alóctone (Tradição Póco) teria subido o rio e estaria no principal entroncamento da rede de contatos do alto rio Madeira, os grupos falantes do tronco Tupi na qual teria encontrado este grupo disposto a explorar relações de trocas (simbólica e econômica) que teria originado a primeira cerâmica polícroma da Amazônia, este grupo teria descido o rio com uma relação mais predatória (ALMEIDA, 2013, p. 310).

Zuse (2014) pesquisou o alto curso do rio Madeira, entre a cachoeira de Santo Antônio e a foz do rio Jaciparaná, na qual a autora estudou a variabilidade cerâmica de quatorze sítios arqueológicos, com o intuito de caracterizar as ocupações indígenas da região a partir da análise comparativa, identificando cinco conjuntos tecnológicos, que de acordo com a autora, representam diferentes identidades sociais e culturais.

O primeiro conjunto tecnológico é caracterizado pelas ocupações ceramistas mais antigas, datada entre 3.000 e 1.500 anos atrás, podendo ser ainda mais antigas. Estas cerâmicas foram identificada nos sítios Vista Alegre, Foz do Jatuarana, Boa Vista, Santa Paula, Teotônio, Veneza e Garbin. Esta cerâmica é caracterizada pela uma pasta com baixa inclusão de quartzo, com antiplástico caraipé e carvão; queima reduzida; a superfície alisada com aplicação de barbotina e do engobo vermelho, laranja, vinho e branco, bem como pinturas feitas no lábio ou na face externa das vasilhas associada algumas vezes a incisões. Tratamentos plásticos apresentam uma grande diversidade, com predomínio das incisões, como também o escovado, acanalado, ungulado, exciso (associado ou não com inciso), raros modelados e apliques zoomorfos; ocorrem incisões duplas paralelas feitas no lábio, flange ou nas bordas expandidas. As morfologias das vasilhas variam de boca circular a não circular, presença de flange labial e mesial, com bordas de diferentes inclinações, espessamentos e formas dos lábios; ocorrem vasilhas com pescoço, rasas com a borda bastante inclinada

(27)

(pratos) e a presença de vasilhas com pontos angulares próximos a bordas. As bases predominam convexas côncavas, sendo que algumas vasilhas ocorrem plano-côncavas com reforço na junção com o corpo da vasilha. . Por apresentar características tecnológicas e contextuais semelhantes este conjunto está associado aos complexos cerâmico Pocó e Açutuba (ZUSE, 2014).

O segundo conjunto foi localizado um pouco mais afastados das cachoeiras de Santo Antônio e Teotônio, sendo identificado nos sítios Morros dos Macacos I, Vista Alegre e Foz do Jatuarana. Esta cerâmica foi definida por uma pasta com alta inclusão de elementos minerais, com uma queima oxidante. As superfícies das vasilhas são polidas a bem alisadas, com ausência de engobo e pinturas. Entre os tratamentos plásticos, ocorrem incisos, modelados e ponteados, localizados na parte superior das vasilhas, sendo que as incisões são mais largas e com as sessões côncavas, diferente da cerâmica mais antiga. Os motivos apresentam menor variedade, com predomínio das linhas circulares e horizontais e com os modelados abstratos. Algumas vasilhas apresentam flanges labiais ou bordas expandidas; bordas diretas inclinadas externamente e ausência de ângulos nas paredes (ZUSE, 2014, p. 385-386).

O terceiro conjunto tecnológico está próximo às cachoeiras de Santo Antônio e Teotônio, nos níveis superiores dos sítios Ilha de Santo Antônio, Santa Paula e Brejo; bem como nos níveis inferior dos sítios a montante Ilhas São Francisco, do Japó e das Cobras, entre as cachoeiras do Teotônio e Morrinhos. Este conjunto é caracterizado por ocupações portadoras da cerâmica Barrancóide, datada entre 1.500 e 700 AP. Esta cerâmica apresenta uma pasta com baixa inclusão de elementos minerais e queima reduzida. As superfícies das vasilhas são bem alisadas, polidas e brunidas, presença de barbotina e engobo vermelho, raros fragmentos com pinturas. Os tratamentos plásticos são as incisões, algumas vezes junto ao modelados e apliques, inciso e ponteado, roletado (na borda) e modelado (lábio com bicos ou ondulações). A espessura das paredes á fina, variando entre 6 e 10 mm, ausência de carenas, mas são frequentes as inflexões (pescoço e bojo). Predomina as bordas contraídas e com bastantes lábios com acabamento irregular (partes planas e partes arredondadas). As bases prevalecem convexas-côncavas e as anelares; ocorre presença de asas e alças com também a reciclagem de fragmentos cerâmicos (possíveis adornos e fusos). Ocorrem bolotas de argilas, lâminas e adornos polidos. Todos esses materiais de ocorrem junto ao denso pacote de terra preta (ZUSE, 2014, p. 387-388).

O quarto conjunto tecnológico foi identificado nos níveis superiores dos sítios Ilha São Francisco, Ilha das Cobras, Ilha do Japó e Ilha Dionísio, não possuindo datação. Ocorre uma

(28)

cerâmica com a pasta com predomínio de cauixí, além do cariapé e do mineral ocorrem isolados, queima oxidante, baixa presença de decorações plásticas e pintadas; ocorrem fragmentos mais espessos, bordas com espessamento linear e expandida e a presença de trempes, gravuras rupestres, feições de polimentos e possível contexto funerário no sítio Ilha Dionísio (ZUSE, 2014). Segundo a autora, a cerâmica encontrada esporadicamente nos sítios a jusante seriam resultante de trocas com os grupos da montante. De acordo com a autora foi possível identificar semelhanças destes contextos a fase Paredão da Amazônia Central, Axinim do baixo Madeira e a tradição Descalvados no Pantanal de Cáceres, entretanto a falta de datação e o tamanho das amostras analisadas nos sítios do alto rio Madeira não é possível associar a nenhuma destas tradição.

O quinto conjunto tecnológico está associado aos portadores da Tradição Polícroma da Amazônia, identificado nos setor 3 do sítio Boa Vista, nos sítios Morros dos Macacos I e Coração e nos níveis superficiais dos sítios Vista Alegre, Ilha de Santo Antônio e Santa Paula. A cerâmica deste conjunto é caracterizada com adição de cariapé na pasta, superfície bem alisada e polida, ocorre pintura vermelha e branca ou preta e branca na face externa, presença incisões finas sobre a pintura branca em motivos complexos. Apresenta formas infletidas, compostas ou complexas; bases predominam convexas côncavas e lábios arredondados, planos ou biselados. Autora chama atenção para a difícil identificação das ocupações da Tradição Polícroma da Amazônia próxima às cachoeiras em razão da mistura dos fragmentos cerâmico com pinturas com os fragmentos da cerâmica Barrancóide (ZUSE, 2014).

Segundo Zuse (2014) as cerâmicas antigas dos sítios entre as cachoeiras (Santo Antônio e Teotônio) pode esta relacionada à presença dos povos de matriz cultural Arawak na região, em um período mais antigo (3.000-2.000 AP), sendo que as ocupações destes povos estariam bastante consolidadas em 1.000 AP., estabelecendo redes de trocas de objetos, conhecimentos e pessoas com os grupos das cachoeiras a montante (Ilhas Dionísio, do Japó, das Cobras e São Francisco), quando estas passaram a ser ocupadas por grupos distintos. A autora entende que essa grande variabilidade existente entre os sítios das cachoeiras a jusante e a montante estar relacionada à presença dos povos de matriz cultural Arawak, que seriam grupos com característica expansionistas, que adquiriam relações históricas com outros povos de línguas distintas, ocasionado em contextos multilinguísticos e culturais, absorvendo identidades étnicas e sociais que causariam mudanças na cultura material.

Vassoler (2014) estudou os motivos iconográficos presentes nas vasilhas cerâmicas da subtradição Jatuarana de cinco sítios arqueológicos na região do alto rio Madeira, sendo eles os sítios Morro dos Macacos I, Ilha de Santo Antônio, Coração, Brejo e Boa Vista. O autor

(29)

concluiu que existe uma variabilidade iconográfica nos artefatos e nas vasilhas desta subtradição, como também a repetição de motivos que formam padrões gráficos distintos. Por outro lado foi possível observar que motivos gráficos existentes da subtradição Jatuarana podem ser encontrados em cerâmicas de outras fases da Tradição Polícroma da Amazônia.

Pessoa (2014) pesquisou dois sítios arqueológicos (Ilha de Santo Antônio e Novo Engenho Velho) localizados próximos à cachoeira de Santo Antônio, propondo investigar as sociedades ceramistas que ocuparam essa região do alto rio Madeira no período pré-colonial tardio, através da cultura material. O autor corrobora com a ideia de Zuse (2014), de que grupos portadores de cerâmica Barrancóide ocuparam a Ilha de Santo Antônio por volta do século X, possuindo vasos cerâmicos com uma alta variedade de técnicas decorativa, resultado de contatos e intercâmbios no passado e que aos poucos esses grupos foram cedendo o trecho encachoeirado para os produtores da cerâmica da subtradição Jatuarana, identificada neste sitio pelo autor. Esta transição teria acontecido de forma lenta revestidas de interações ocorridas antes do segundo milênio. O autor aponta que o sítio Ilha de Santo Antônio além de ser um sítio habitacional e um lugar de cerimônias, encontros e intercâmbios, que alguns atributos da cerâmica analisada como o antiplásticos de caraipé, queima oxidante e redutora, alisamento fino e polimento se mantém ao longo do tempo, ao contrário quando se comparado os acabamentos de superfície com maior tendência de engobo nos níveis mais superficiais e dos tratamentos plásticos nos níveis profundos, apresentando uma mudança ao longo do tempo. Segundo o autor essa mudança está ligada a transição da cerâmica Barrancóide para a Polícroma que teria ocorrido de forma gradativa mantendo alguns aspectos tecnológicos.

Já no sítio Novo Engenho Velho as vasilhas são diferentes de outras ocupações da Tradição Polícroma do médio e baixo rio Solimões, havendo apenas semelhanças no reforço externo dos lábios das vasilhas e em algumas formas de gargalo. E visto que neste sitio há uma padronização da cerâmica Polícroma entende-se que este grupo não adotou a mesma rede de relações de trocas feitas nas cachoeiras.

As primeiras pesquisas arqueológicas na Amazônia tiveram forte influência da ecologia cultural norte-americana, do determinismo ecológico e do neo-evolucionismo onde análise do material cerâmicos priorizava a identificação de fases e tradição, levando em conta apenas elementos como o tipo de antiplástico e a decoração sem perceber as variações das escolhas na diferentes etapas da cadeia operatória como: pasta, queima, forma, acabamentos de superfície e marcas de uso. Na região do alto rio Madeira esta premissa se resumiu na identificação da Subtradição Jatuarana englobando tudo á esta subtradição, entretanto pesquisas recentes de Almeida (2013) e de Zuse (2014) mostram que a Subtradição Jatuarana

(30)

(TPA) ocorreu em um período mais recente, evidenciando uma grande variabilidade tecnológica e cultural nessa área, bem como contribuindo para a história indígena no Alto rio Madeira.

(31)

CAPÍTULO 2. CARACTERIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO GARBIN.

O sítio arqueológico Garbin localizava-se no município de Porto Velho, estado de Rondônia, em um terraço fluvial, na margem direita do rio Madeira, próximo à antiga cachoeira de Santo Antônio. Foi encontrado e escavado no Projeto de Arqueologia Preventiva nas áreas de intervenção da UHE Santo Antônio/RO, realizado pela Scientia Consultoria Cientifica, e por se situar no canteiro de obras da usina, foi diretamente impactado na sua construção.

O rio Madeira é o ultimo tributário na margem direita do sistema Solimões-Amazonas, resultante da confluência dos rios Beni, Mamoré e Guaporé. É considerado um rio de águas brancas, mas invariavelmente turvas, pois carregam uma grande quantidade de sedimentos como silte, argila e areia que são transportados desde os Andes, pelo rio Beni e depositados em suas várzeas (RIMA, 2005; CPRM, 2010).

Figura 1: Bacias hidrográficas de Rondônia. Fonte: CPRM 2010

De acordo com Tizuka (2013), o rio Madeira apresenta um sistema de múltiplos canais, com desnível topográfico não muito acentuado, sistemas de ramificação que levam a formações das ilhas temporárias ou estáveis e canais abandonados. Seu traçado está condicionado principalmente aos falhamentos, mas seu regime e transporte ocorreram no final do Pleistoceno, junto com o fim do Último Máximo Glacial, entre 15.000 e 8.000 AP.

(32)

No trecho superior, entre Abunã e Porto velho, é chamado de alto rio Madeira, onde apresentava grande número de corredeiras, travessões, saltos e planícies de inundação. Os seus principais afluentes dentro do estado de Rondônia, pela margem direita são os rios Jaciparaná, Mutum-Paraná e Jamari e pela esquerda os rios Abunã e Caripunas. Já o baixo rio Madeira possui 341 km de extensão, desde a sua nascente até a cachoeira de Santo Antônio (CPRM, 2010; TIZUKA, 2013; ZUSE, 2014).

A vegetação da região onde se insere o sítio Garbin é caracterizada como de Floresta pluvial amazônica, composta por floresta muito densa (TIZUKA, 2013). O clima da região é o equatorial, com temperaturas altas aliadas a uma grande umidade, sendo que os meses mais secos são maio, junho e julho e os mais chuvosos outubro, novembro e dezembro, enquanto que a média anual da temperatura do ar e entre 24 a 26 °C (TIZUKA, 2013; ZUSE, 2014).

A região pertence ao Cráton Amazônico, entidade geotectônica que abrange a área de estudo na porção noroeste de Rondônia, e apresenta registros de uma evolução geológica policíclica, que resultou na formação de um substrato rochoso que teve a sua geração a partir de 1,78 Ga, formada devido aos sucessivos episódios de magmatismo, metamorfismo, sedimentação e deformação que culminaram na formação de diversos materiais rochosos e de depósitos minerais (CPRM, 2010). A Unidade Geomorfológica da região e caracterizada por três grandes categorias: de agradação, que são às planícies aluviais, terraços fluviais, depressões, lagos e congêneres; de degradação, com formas de relevo submetido a processos erosivos intensos como alinhamentos de morretes, superfícies de aplanamento, agrupamento de morros e colinas com e sem controle estruturais, superfícies tabulares e cuestas; e de intemperismo, abrangendo os areais brancos com escoamento impedido (CPRM, 2005). O relevo da região configura-se pelo predomínio de extensas superfícies aplainadas, com formas suaves e de baixa amplitude, e com maior ou menor grau por processos de dissecação (CPRM, 2005; TIZUKA, 2013).

Tizuka (2013) pesquisou a região do Alto rio Madeira, entre as cachoeiras do Teotônio e Santo Antônio, com objetivo de fazer um refinamento do mapa geomorfológico pré-existente na região associados aos dados dos sítios arqueológicos pré-coloniais localizados nas planícies aluviais. A autora identificou 139 sítios pré-coloniais, localizados em ambas as margens do rio Madeira, nas ilhas e em compartimentos topográficos variados, como planícies aluvionares de rios principais, terraços fluviais altos e baixos, superfícies de aplainamento e em platôs lateríticos. Estes sítios evidenciaram materiais cerâmicos e/ou líticos e/ou gravuras rupestres. De acordo com a autora os sítios encontrados representaram apenas uma amostra devido ao fato das atividades de prospecção arqueológica priorizar a área

(33)

de influência direta do reservatório dos empreendimentos hidrelétricos. Na figura 2 modelo de evolução da planície do rio Madeira.

Figura 2: Modelo de evolução da planície do rio Madeira- Tizuka, 2013, p.85.

O sítio arqueológico Garbin localiza-se em um terraço fluvial na margem direita do rio Madeira, próximo à antiga cachoeira de Santo Antônio. É um sítio multicomponencial, com ocupações pré-ceramistas e ceramistas. Quando foi identificado em 2008, a vegetação era composta por capoeira recente e vegetação rasteira, com uma variedade muito grande de plantas no entorno, como Myrtus (murtinhas), Psidium longipetiolatum (Goiaba-araçá), Pteridium aquilinum (samambaia brava), entre outras espécies (SCIENTIA, 2008).

Possui localização privilegiada na paisagem, por está próximo ao curso do rio Madeira e da cachoeira de Santo Antônio. As cachoeiras seria lugar significativo e persistente, que se destacam na paisagem local, em função da pesca abundante e do valor simbólico atribuído, e no passado estes locais foram intensamente transformados (ALMEIDA, 2013; ZUSE, 2014). De acordo com Almeida (2013, p. 98) a região da cachoeira de Santo Antônio e a chave para o entendimento das ocupações humanas na bacia do Madeira, tanto no período pré-colonial, colonial e recente.

No entorno do sítio arqueológico Garbin estão presentes outros sítios que foram localizados e escavados, como o Brejo, Campelo, Catitu, Novo Engenho Velho, Ilha de Santo Antônio, Igarapé do Engenho e o Veneza. Estes sítios foram estudados nas pesquisas de Costa (2013), Zuse (2014), Pessoa (2015) e Santos (2015).

(34)

Figura 3: Localização dos sítios arqueológicos próximos à cachoeira de Santo Antônio. (Fonte: Google Earth).

O Sítio arqueológico Garbin foi encontrado em um processo não sistemático de avaliação de um ramal transversal do acesso Monte Cristo, a partir da realização de um furo-teste na coordenada 20L 394704, 902808, executado com uma cavadeira tipo “boca de lobo” que atingiu mais de 100 cm de profundidade, encontrando-se uma camada de terra preta. Para confirmação da ocorrência arqueológica foram executados outros furos-testes, confirmando a presença de materiais arqueológicos em profundidade de cerca de 80 cm com presença de terra preta, constatando a existência de um sítio arqueológico (SCIENTIA, 2011).

Na sequência foi feita a delimitação do sítio, realizada através de furos-testes em uma malha regular de 20 em 20 m, em níveis artificiais de 20 cm (Figura 4), com peneiramento do sedimento separado de acordo com os níveis artificiais, com as descrições de suas características, assim como também dos materiais encontrados que receberam um número de proveniência (NP) em todos os níveis. Esta metodologia fornece informações para selecionar áreas a serem escavadas, além de verificar as dimensões do sítio horizontalmente e verticalmente (ZUSE, 2014, p. 94).

Referências

Documentos relacionados

Curso in Company na Instituição de Ensino – 7h Material físico para o Curso in Company “Guia Sphinx Rápido” (de acordo com o número de inscritos na Capacitação in

Em alguns sítios arqueológicos entre as cachoeiras de Santo Antônio e Teotônio, identificamos uma cerâmica com características tecnológicas específicas, nos níveis mais profundos

No alto rio Madeira, as decorações feitas predominantemente nas bordas das vasilhas, através de incisões, incisos e ponteados, apliques, modelados e entalhados

vento, ele necessita que a área da superfície da pipa vento, ele necessita que a área da superfície da pipa seja a maior possível. seja a

Immanuel Kant (1724-1808) com sua filosofia Crítica constituiu uma cisão entre fenômeno e coisa-em-si ao determinar os limites do conhecimento. Ao realizar tal cisão, abriu portas

 Surgem novas cerâmicas em sítios antigos (Castelo Velho de Freixo de  Numão, Castanheiro do Vento e  Castelo Velho da Meda).  Surgem novos sítios com cerâmicas

Apenas foi recolhido um fragmento de um copo de cerâmica campaniense B, Forma 3 de Nino Lamboglia, que podemos incluir na série 7551 de Morel (MOREL,.. © Manuel João do Maio

Case: One animal from a group of 292 sheep was diagnosed positive for scrapie in the 489.. municipality of Valparaíso, state of São