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Validade/invalidade do ato
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Estrutura do ato administrativo
Correspondência entre a estrutura do ato administrativo e uma
teoria dos vícios do mesmo
Os elementos da estrutura do ato administrativo:
» sujeito (quem pratica o ato)
» objeto (o ente que sofre as transformações jurídicas visadas pelo ato e que pode ser uma coisa, uma pessoa ou outro ato administrativo)
» estatuição (a declaração que corresponde ao ato propriamente dito) » fim » conteúdo » procedimento » forma 3
Requisitos de validade do ato administrativo: elementos que têm de
estar verificados para que o ato seja válido. Caso falhe algum desses requisitos, isto é, se eles não estiverem presentes, surge um vício que gera invalidade do ato administrativo
Incumprimento do requisitos de validade = vícios
→
invalidade
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1. O sujeito
Elemento da estrutura Requisito de validade Sujeito
» Pessoa coletiva pública » Ministério
Atribuições
Órgão Competências
Legitimação
Titular do órgão Legitimação
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Situações de que depende a legitimação
Investidura do titular do órgão
Quórum nos órgãos colegiais
Autorização para a prática do ato
Ausência de impedimentos do agente ou do titular do órgão
Decurso de um período de tempo dentro do qual o ato deve ser praticado ou passado o qual o ato deve ser praticado
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2. O objecto
Elemento da estrutura
Condição de validade
Objeto Existência: possibilidade física e possibilidade
jurídica do objeto
Determinação: o objeto tem de estar determinado
(identificado e delimitado)
Idoneidade: relação do objeto e do conteúdo do
ato: um objeto que é juridicamente possível, mas que a lei não permite que ele sofra aquele tipo de transformação jurídica (v.g. alienação de bens do domínio público)
Legitimação: qualificação do objeto para receber
em concreto os efeitos do ato administrativo (determinação do concorrente num concurso público)
Estatuição
7 Aspetos substanciais
Fim
conteúdo
Aspetos formais
Procedimento
forma
83. Estatuição
3.1. o fim: as necessidades que o ato visa pacificar, que é obrigatoriamente um fim público tipificado na lei
A lei identifica o fim através dos pressupostos que são as circunstâncias histórico ambientais definidas pelo legislador na hipótese da norma (pressupostos abstratos ou hipotéticos) que, uma vez verificados em concreto (pressupostos reais ou concretos), mostram ao agente a ocorrência de um interesse público que ele deve servir (isto nas normas de estrutura condicional)
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Elemento da
estrutura
Condição de validade
fim
Verificação
dos
pressupostos
abstratos ou hipotéticos
Verificação dos pressupostos reais ou
concretos
Dificuldade
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Quando os pressupostos estão identificados através de
conceitos indeterminados
O fim pode ter influência no conteúdo quando há
discricionariedade
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3.2. Conteúdo: transformações jurídicas que o ato visa produzir. É o
comando ou a estatuição jurídica propriamente dita
Conteúdo discricionário Conteúdo vinculado
Situações em que o agente tem a possibilidade de construir o conteúdo do ato administrativo através das chamadas cláusulas particulares
O conteúdo a dar ao ato está fixado com precisão na lei: uma vez verificados os pressupostos, a Administração terá de praticar o ato com o conteúdo especificado na lei
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Elemento da
estrutura
Condição de validade
Conteúdo
(discricionário)
possibilidade
compreensabilidade (não pode ser
contraditório, vago ou incompreensível)
licitude
Legitimidade (cumprimento dos
princípios ou normas que regem a
atividade administrativa)
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O conteúdo principal do ato administrativo e o conteúdo acessório
» O conteúdo principal do ato administrativo: aquele que abrange as suas determinações essenciais , que tanto pode decorrer de determinação legal (conteúdo típico) como introduzidas pela Administração em relação ao momento constitutivo do ato (cláusulas particulares no caso de haver discricionariedade)
»
O conteúdo acessório: baseiam-se numa faculdade discricionária doagente, introduzindo uma qualificação acessória face ao conteúdo principal do ato
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Cláusulas acessórias: dizem respeito à eficácia do ato administrativo
(condição, termo e reserva de revogação) ou a uma alteração da posição relativa entre a Administração e os destinatários do ato (o modo e a reserva de modo): cfr. artigos 121º e 56º do CPA
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a) Condição: cláusula acessória que faz depender a eficácia do ato
administrativo de um evento futuro e incerto
a1) Suspensiva: o ato só produzirá efeitos se e quando o
evento se verificar
a2) Resolutiva: a verificação do evento determinará a cessação
dos efeitos do ato
Condição (suspensiva ou resolutiva) potestativa ou impura: quando
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b) Termo: cláusula acessória que faz depender a eficácia do ato
administrativo de um evento futuro e certo (data, período de tempo, acontecimento de verificação segura, mas cuja data exata não se conhece ainda)
b1) Inicial: o ato só produzirá efeitos quando o evento se
verifica
b2) Final: a verificação do evento determina a cessação da
eficácia do ato
O termo aposto a um ato administrativo pode ser simultaneamente inicial e final
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c) Modo: cláusula acessória aposta a um ato administrativo produtor de vantagens para o seu destinatário, implicando a imposição de um dever de fazer, não fazer ou suportar dirigido ao seu destinatário
O seu incumprimento não afeta a eficácia do ato, permitindo à Administração desencadear a execução (coativa ou judicial) tendente a obter o seu cumprimento
Nos casos em que não seja possível a execução coativa o incumprimento da cláusula modal não confere ao órgão administrativo o poder de revogar o ato administrativo favorável, a não ser que tenha previamente incluído um reserva de revogação por incumprimento do modo. Caso tal não se tenha verificado, a Administração apenas poderá ressarcir-se dos prejuízos que o incumprimento do modo tenha acarretado para o interesse público
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A dificuldade da distinção entre o modo e a condição potestativa. O modo é mais vantajoso para o destinatário do ato, devendo, por isso, em caso de dúvida, concluir-se pela condição apenas se não se entender razoável a produção de efeitos do ato sem que a cláusula se tenha verificado.
O modo não pode ser visto como um ato autónomo: a comprovação da sua acessoriedade em relação ao ato está no facto de a invalidade deste determinar automaticamente a invalidade daquela.
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d) reserva: a Administração admite a possibilidade de influir futuramente
sobre o conteúdo do ato, seja pela aposição superveniente de um ou vários modos (reserva de modo) seja por se reservar a possibilidade de o revogar (reserva de revogação)
O problema específico dos limites à reserva de
revogação
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o regime geral da revogação na parte em que estabelece excepções
ao regime da livre revogabilidade (artigo 140.º do CPA), não
exclui a possibilidade da reserva de revogação de atos favoráveis,
aplicando-se apenas aos atos de conteúdo irrevogável por
determinação legal e aos atos constitutivos de direitos e interesses
legalmente protegidos que tenham criado na esfera do particular
um efeito jurídico estável e consistente (que tenham gerado
confiança legítima digna de proteção) – a par dos atos provisórios e
precários, são revogáveis justamente os atos que tenham sido sujeitos
pelo autor a reserva de revogação (além, naturalmente, dos actos cuja
revogação esteja prevista
Os poderes e os limites da Administração
relativamente à aposição de cláusulas acessórias,
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a) a existência de capacidade discricionária do órgão competente
(não se admite, em regra, a aposição em atos vinculados: atos
sobre status, em atos verificativos, e, relativamente a atos devidos, só
vale para assegurar a verificação futura de pressupostos legais);
b) a proibição de descaraterização do fim conteúdo principal do
ato;
c) a relação com o conteúdo típico;
d) o respeito pelos princípios jurídicos aplicáveis (designadamente,
a proibição do arbítrio e da desproporção, nos casos de
desfavorabilidade da cláusula).
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A relação fim-conteúdo como relevante no caso dos atos
discricionários: nestas casos cabe à Administração encontrar a adequação entre estes dois elementos da estrutura do ato administrativo 23 3.3. procedimento
Elemento da
estrutura
Condição de validade
procedimento
nos procedimentos necessários, tem
de se cumprir com a tramitação
desenhada na lei
nos procedimentos facultativos é
necessário que a tramitação seguida pela
Administração seja racional
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3.4. Forma: modo como o o ato administrativo se exterioriza
» O artigo 122º do CPA e a exigência (como regra) da forma escrita para os atos administrativos. No caso dos atos colegiais, a forma normal é a oral, embora estes devam ser reduzidos a escrito (ato), mas apenas como condição de eficácia do ato
» O dever de fundamentação como requisito formal de validade dos acos administrativos
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» O dever de fundamentação abrange a grande maioria dos atos administrativos: cfr. artigos 124º CPA e 268º, n.º 3 CRP. Cfr. ainda as regras de fundamentação contidas no artigo 124º e 125º do CPA
» Fundamentação:
» justificação: indicação sobre o fim do ato, i.e., indicação dos pressupostos de facto (exigência em todos os atos administrativos)
» motivação: só tem lugar nos atos discricionários e consiste na indicação dos motivos, i.e., nos interesses que o agente considerou significativos para atribuir um determinado conteúdo ao ato 26 Vícios quanto ao sujeito Usurpação de poderes
Falta de atribuições (ou in-competência absoluta)
Incompetência (relativa)
Falta de legitimação Investidura do titular do órgão
Quorum nos órgãos colegiais
Falta de convocatória Falta de reunião Nulidade Nulidade Anulabilidade (exceto na incompetência territorial) Nulidade
As restantes geram anulabilidade
27 Vícios quanto ao objeto inexistência indeterminação de facto ou jurídica (revogação de um ato inexistente) inidoneidade falta de legitimação Nulidade Nulidade Anulabilidade Anulabilidade
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Vícios quanto ao fim
só tem relevo autónomo no domínio dos atos vinculados, pois no caso dos atos discricionários, qualquer vício relativo ao fim vai repercutir-se no conteúdo do ato (vícios na relação fim conteúdo)
falta de pressuposto abstrato (falta de base legal)
falta de pressuposto concreto erro de facto: a situação concreta simplesmente não existe
Erro de direito: a situação concreta existe, mas não se subsume na hipótese legal (erro da qualificação dos factos ou erro de direito quanto aos factos)
Nulidade, se corresponder a uma falta de atribuições as restantes situações geram, em regra, a mera anulabilidade 29 Vícios quanto ao conteúdo
Atos vinculados: quando a Administração dá ao acto um conteúdo diferente do que decorre da lei
Nos atos discricionários: vícios na relação fim-conteúdo
desvio de poder
motivos inexistentes, falsos, errados, irrelevantes, contraditórios, deficientes, , desviados, incongruentes ou ilegítimos
violação de princípios jurídicos
mau uso ou não uso do poder discricionário
Vícios de vontade: erro, dolo ou coacção
anulabilidade
gera nulidade apenas nos caso em que se prossegue um fim privado
Anulabilidade
nulidade no caso de coacção
A eventual autonomização de vícios da
decisão
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quando se trate de vícios funcionais que não
produzam necessariamente um conteúdo ilegítimo
–
nas hipóteses de
“ não consideração de todas as
circunstâncias
relevantes” (violação do princípio da
imparcialidade)
e
de
“
não
uso
do
poder
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Vícios quanto ao procedimento
Não cumprimento de trâmites obrigatórios
Nos procedimentos facul-tativos: procedimento irracional
Violação de preceitos pro-cedimentais meramente indica-tivos
Um vício no procedimento pode determinar um vício no conteúdo (v.g. um parecer ilegal que serve de base ao conteúdo do ato)
regra da anulabilidade, exceto quando haja violação de direitos fundamentais procedimentais: v.g. falta de audiência dos interessados nos procedimentos disciplinares e sancionatórios (artigos 269º, n.º 3 e 32º, n.º 10 CRP) irregularidades 32 Vícios quanto à forma
Vício de forma, propriamente dito
Vício de forma por falta de fundamentação (a não veracidade desta tem relevo em matéria de conteúdo)
Carência absoluta de forma legal (despacho a que falta o cabeçalho, não permitindo identificar o autor do ato ou deliberação tomada por órgão colegial fora de reunião formal e oficialmente realizada)
regra da anulabilidade
nulidade
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A posição jurisprudencial tradicional de "degradação das
formalidades essenciais em não-essenciais", quando não
afetem a validade substancial do acto (por razões de
segurança jurídica e, sobretudo, de economia
processual),
a resposta crítica de parte da doutrina, baseada na
revalorização do "direito das formas".
Aceitam-se,
porém,
nos
casos
de
anulabilidade:
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i) a irrelevância do vício de procedimento ou de forma quando
da violação não tenha resultado no caso uma lesão efetiva dos
valores e interesses protegidos pelo preceito violado, por esses
valores ou interesses terem sido suficientemente protegidos
por outra via;
ii) o aproveitamento do ato, isto é, a sua não anulação pelo juiz,
apesar da invalidade, quando o conteúdo do acto não possa ser
outro e não haja interesse relevante na anulação
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Tende ainda a admitir-se a irrelevância ou o aproveitamento
quando se comprove sem margem para dúvidas que o vício
formal não teve qualquer influência na decisão
Menor relevância dos vícios formais no contexto de um
contencioso de base subjetivista, designadamente no âmbito
das acções com pedidos condenatórios – na medida em que
os preceitos formais infringidos visem assegurar interesses
públicos e não direitos e interesses dos particulares.
Mas:
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Valorização do direito das formas no quadro do direito
europeu (audiência prévia, fundamentação e informação
procedimental no quadro de um direito à boa Administração
consagrado na Carta de Direitos Fundamentais
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No caso de vícios de procedimento ou de forma pode concluir-se pela sua irrelevância quando, não obstante o vício, não tenha resultado no caso uma lesão efectiva dos valores e interesses protegidos pelo preceito violado, podendo fazer-se o aproveitamento do ato administrativo (quando o conteúdo do ato não possa ser outro, não havendo, por isso, um interesse relevante na anulação)