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Contratos de arrendamento e parceria rural e as suas problemáticas na atualidade

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Academic year: 2021

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CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE DIREITO

Felipe Milton Gomes dos Santos

CONTRATOS DE ARRENDAMENTO E PARCERIA RURAL E AS

SUAS PROBLEMÁTICAS NA ATUALIDADE

Santa Maria, RS

2018

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Felipe Milton Gomes dos Santos

CONTRATOS DE ARRENDAMENTO E PARCERIA RURAL E AS SUAS PROBLEMÁTICAS NA ATUALIDADE

Monografia apresentada à disciplina de Monografia II, do Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em

Direito.

Orientador: Prof. Me. José Fernando Lutz Coelho

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2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE DIREITO

A Comissão Avaliadora, abaixo assinada, aprova a Monografia

CONTRATOS DE ARRENDAMENTO E PARCERIA RURAL E AS

SUAS PROBLEMÁTICAS NA ATUALIDADE

Elaborada por

Felipe Milton Gomes dos Santos

como requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Direito

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Me. José Fernando Lutz Coelho (Presidente/Orientador)

Prof. Me. Paulo Ricardo Inhaquite da Costa (Universidade Federal de Santa

Maria)

Prof.ª Me. Maria Ester Toaldo Bopp (Universidade Federal de Santa Maria)

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2018

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter me permitido estar aqui, concretizando um sonho e me motivando a persistir.

Agradeço à Universidade, pela oportunidade de crescimento pessoal e profissional.

Agradeço а todos os professores, pelo conhecimento adquirido, pela dedicação e companheirismo.

Ao meu orientador, pelo suporte, pelas suas correções е incentivos.

Aоs amigos e colegas, qυе entenderam minha ausência, me deram o espaço necessário e me incentivaram a buscar meus objetivos.

E principalmente aos meus pais, por todo o apoio, e por serem os principais responsáveis por esta conquista.

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Quem ama, algumas vezes precisa ter a sabedoria de um agricultor, que sabe que nenhuma planta cresce e dá frutos da noite para o dia. É preciso muitos cuidados, dedicação e a crença de que após determinado período, caso pragas e intempéries não assolem a plantação, será feita uma boa colheita.

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RESUMO

CONTRATOS DE ARRENDAMENTO E PARCERIA RURAL E AS

SUAS PROBLEMÁTICAS NA ATUALIDADE

Autor: Felipe Milton Gomes dos Santos

Orientador: José Fernando Lutz Coelho

O presente estudo relata a trajetória histórica do Direito Agrário no Brasil, as suas espécies de contratos, especificamente nesse caso, os contratos típicos (arrendamento e parceria rural), além da legislação vigente que engloba o tema. Usando-se do método dedutivo, por meio de pesquisa bibliográfica e histórica, são delimitadas as principais similaridades e diferenças entre os contratos objeto de estudo, além de ser conceituada a chamada falsa parceria rural, prática comum, mas que acarreta muitos problemas na proteção jurídica do trabalhador rural. A problemática de pesquisa aqui abordada inclui a escolha do melhor contrato a celebrar, diante de suas grandes similaridades, além das consequências jurídicas (tributárias, econômicas e sociais) de cada contrato, que surgem desde a sua escolha. Busca-se entender os dois contratos, auxiliando o quanto possível na escolha de um deles, para o melhor planejamento negocial, esclarecendo seu uso e todas as suas consequências. Outrossim, aborda o instituto da falsa parceria e como ela tem sido utilizada por muitos produtores rurais, infringindo regras fiscais. Importante a abordagem da falsa parceria rural e das suas consequências, tendo em vista que é uma forma usual de burlar a lei e fugir das responsabilidades trabalhistas, previdenciárias e tributárias que decorrem de uma relação de emprego. Por fim, apresenta-se o direito de preferência e as suas características em cada tipo de contrato, considerando a sua importância como facilitador da concretização dos princípios do direito agrário, principalmente no que diz respeito a função social da terra.

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ABSTRACT

LEASE AGREEMENTS AND RURAL PARTNERSHIP AND ITS

PROBLEMS IN THE PRESENT

Author: Felipe Milton Gomes dos Santos

Adviser: José Fernando Lutz Coelho

The present study reports the historical trajectory of Agrarian Law in Brazil, its types of contracts, specifically in this case, the typical contracts (lease and rural partnership), in addition to the current legislation that encompasses the theme. Using the deductive method, through bibliographic and historical research, the main similarities and differences between the contracts will be delimited, in addition to being denominated the so-called rural partnership false, common practice, but that entails many problems in the legal protection of the rural worker. The research problem covered here includes the choice of the best contract to celebrate, given its great similarities, as well as the juridical (tax, economic and social) consequences of each contract, which have arisen since its choice. It was sought to understand the two contracts, helping as much as possible in choosing one of them, for the best negotiation planning, clarifying its use and all its consequences. Also, the institute of false partnership was approached and how it has been used by many farmers, violating tax rules. It is important to approach the false rural partnership and its consequences, since it is a common way of circumventing the law and avoiding labor, social security and tax liability arising from an employment relationship. Finally, the right of preference and its peculiarities were presented in each type of contract, considering its importance as facilitator of the realization of the principles of agrarian law, especially with regard to the social function of the land.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 8

2 HISTÓRICO DO DIREITO AGRÁRIO E CONTRATOS AGRÁRIOS NO BRASIL 11 2.1 HISTÓRICO DOS CONTRATOS DE PARCERIA E ARRENDAMENTO RURAL ... 18

3 CARACTERÍSTICAS GERAIS ... 24

3.1 O CONTRATO DE ARRENDAMENTO RURAL ... 28

3.2 A PARCERIA RURAL ... 31

3.3 PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE OS DOIS CONTRATOS ... 34

4 A “FALSA PARCERIA”: COMO OS PRODUTORES A TEM UTILIZADO ... 38

4.1 CONSEQUÊNCIAS TRABALHISTAS, PREVIDENCIÁRIAS E TRIBUTÁRIAS DA FALSA PARCERIA ... 42

5 O DIREITO DE PREFERÊNCIA NOS CONTRATOS DE ARRENDAMENTO E PARCERIA RURAL ... 46

6 CONCLUSÃO ... 52

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1 INTRODUÇÃO

A origem do Direito Agrário está conectada com a origem do próprio Direito, os quais remontam dos primórdios das civilizações. Tendo em vista que o homem precisou retirar da terra os alimentos necessários para a sua sobrevivência, organizando-se, posteriormente, em grupos que necessitavam da criação de normas de convivência para a sua devida organização.

A atividade agrícola é de suma importância para a nação, tendo em vista que o trabalho do homem com a terra é capaz de produzir os elementos fundamentais para a sobrevivência humana, além de fornecer os recursos necessários para as demais atividades econômicas, como a indústria e comércio.

O Direito Agrário é um ramo autônomo e tem por função normatizar as relações havidas no campo, ligadas ao uso e exploração da terra, possuindo regulamentação própria: Estatuto da Terra, Lei n. 4.504/1964 e Decreto n. 59.566/1966. O Direito Agrário tem natureza de direito privado, enquanto ligado aos negócios jurídicos havidos entre particulares, e também ao direito público, quando referir-se as relações jurídicas entre o Estado e os particulares.

Por estar relacionado a exploração da terra, é uma ciência bastante ampla, pois mantém contato com outras áreas, como a economia, agronomia, administração, veterinária, além, é claro, das várias áreas das ciências jurídicas (direito ambiental, civil, tributário, trabalhista, previdenciário...) e etc.

Em que pese suas manifestações remontem aos primórdios das civilizações, o Direito Agrário, reconhecido como disciplina jurídica, é bastante recente, estando em formação, a nível nacional, a partir de 1964, momento em que teve sua autonomia reconhecida por meio da Emenda Constitucional 10/641.

Juntamente ao surgimento do Direito Agrário, enquanto disciplina autônoma, houve o surgimento dos contratos agrários, que mantém relação íntima com o uso e exploração da terra. No âmbito rural, a maioria dos contratos ainda é realizada de forma verbal, e por essa razão, é comum que os contratos não fiquem especificamente na forma com que exige a lei. Atualmente, os contratos são regidos

1 Essa emenda introduziu o Direito Agrário, ao lado do Direito Civil, Direito Penal e entre outros ramos

já autônomos, a competência da União legislar. Por essa razão, a emenda é considerada como a certidão de nascimento do Direito Agrário Nacional (ZIBETTI, 2014, p. 2).

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pelo Estatuto da Terra e, subsidiariamente, quando houver lacunas neste estatuto, é usada a legislação civil.

Considerando essas manifestações iniciais, justifica-se a importância da presente pesquisa para o Direito. O tema desse Trabalho de Conclusão de Curso diz respeito aos contratos de arrendamento e parceria rural, contratos típicos do Direito Agrário, que relacionam-se ao uso e exploração de imóvel rural. Buscou-se explorar as principais similaridades e diferenças entre essas espécies de contratos, finalizando com a prática usual e comum denominada de “falsa parceria”. A falsa parceria esconde-se por detrás das normas da parceria rural, mas possui viés diferente, servindo como uma forma do proprietário/empregador burlar a lei para fugir de obrigações trabalhistas e previdenciárias.

O problema que pretende ser respondido nessa pesquisa é quais são as dificuldades e impasses encontrados nos contratos de arrendamento e parceria rural e quais as consequências da falsa parceria rural. Além disso, buscou-se delimitar sobre a garantia do direito de preferência nos contratos agrários, questão que envolve discrepâncias doutrinárias e jurisprudenciais, tendo em vista a sua (in)aplicabilidade nos contratos de parceria rural.

O objetivo geral do trabalho é entender os dois contratos, auxiliando o possível leitor na escolha de um deles para o seu planejamento negocial, além de esclarecer o uso de cada um deles, com as consequências que deles decorrem. Buscou-se, também, estudar a chamada “falsa parceria”, como tem sido utilizada por muitos produtores rurais, e seus reflexos, principalmente no plano trabalhista, previdenciário e tributário.

Para atender os objetivos propostos, a monografia foi dividida em quatro capítulos. No primeiro capítulo, buscou-se delimitar o histórico do Direito Agrário e dos Contratos Agrários no âmbito nacional, desde as primeiras manifestações surgidas na antiguidade, até a conjuntura atual e contemporânea. Nesse contexto, também foi abordada a história dos contratos específicos de parceria e arrendamento rural no Brasil, que foram normatizados, principalmente, em decorrência da promulgação do Estatuto da Terra.

No segundo capítulo, foram abordadas as características gerais dos contratos agrários, principalmente no que diz respeito a sua forma e regramento. O Direito Agrário possui contratos típicos e atípicos, porém, neste trabalho, estudou-se somente os contratos típicos, que são o arrendamento e a parceria rural,

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conceituando cada um, falando de suas características e especificidades.

No terceiro capítulo foram relatadas as principais diferenças entre os dois contratos que, mesmo possuindo muitas similaridades, possuem objetivos distintos. Por este viés, foram relatadas as principais vantagens de ambos os contratos, para explicar ao leitor, qual contrato se adapta mais a situação fática, onde a escolha irá depender, também, da viabilidade econômica das partes e dos objetivos a serem alcançados com a relação contratual.

No quarto capítulo, explicou-se o que significa a denominada “falsa parceria” rural, que consiste no uso do contrato de parceria, pelo proprietário, que também acaba sendo empregador, para esconder vínculo empregatício com trabalhador rural. Na falsa parceira, o proprietário/empregador é beneficiado com as isenções tributárias inerentes a parceria rural e, ainda, esquiva-se das obrigações de uma relação de emprego, que incluem o pagamento de obrigações trabalhistas e previdenciárias. Adentrou-se também nas consequências trabalhistas, previdenciárias e tributárias do uso da falsa parceria rural, e delimitou-se como ela vem sendo usada, por meio da jurisprudência pátria.

Por fim, foi apresentada a aplicação do direito de preferência nos contratos agrários de arrendamento e parceria rural, que trata-se da possibilidade do arrendatário ou parceiro ter preferência na aquisição do imóvel sob sua posse, em igualdade de preço e condições, nos casos de alienação. O estudo do direito de preferência é de suma importância, tendo em vista que ainda pairam dúvidas a respeito da sua aplicabilidade nestas espécies de contratos, principalmente no que se refere a parceria rural.

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2 HISTÓRICO DO DIREITO AGRÁRIO E CONTRATOS AGRÁRIOS NO BRASIL

As primeiras manifestações do Direito Agrário surgem ainda na antiguidade, originadas do anseio do homem em tirar da terra o necessário para sua subsistência. Sendo o direito, uma norma reguladora das regras em sociedade, ele surgiu como instrumento para normatizar as relações entre os homens, que passaram a vier em grupos, e também em relação a terra. Nesse sentido:

Remontam aos primórdios da civilização as origens do Direito Agrário. E não poderia ser outra a constatação, pois que o primeiro impulso do homem foi retirar da terra os alimentos necessários à sua sobrevivência. Depois, quando os homens se organizaram em tribos, tornou-se imprescindível criação de normas reguladoras das relações entre eles, tendo por objeto

o ”agro”. Nascia, ali, com tais normas, o ordenamento jurídico agrário

(MARQUES; MARQUES, 2017, p. 1).

As “regras de conduta que regem o homem em sua relação com a terra evoluíram do decálogo de Moisés para as codificações e leis subsequentes, até atingir um grau de tipicidade que justifica o direito agrário como ramo autônomo [...]”. O Direito Agrário foi sendo construído ao longo do tempo, como uma ciência autônoma2, pois atingiu maiores níveis de complexidade, exigindo que fosse tratado de forma específica (MARQUES E MARQUES, 2017, p. 1 apud ALVARENGA 1985, p. 1).

Diz-se que o Direito Agrário só alcançou autonomia recentemente,pois foi o advento da Emenda Constitucional n. 10, do ano de 1964, que alterou a constituição e inseriu a competência da União para legislar sobre o Direito Agrário. O regramento dos institutos dessa área, no Brasil, foi possível após o advento do Estatuto da Terra (Lei n. 4504/64), que foi disposto em dois planos: Reforma Agrária e Política Agrícola ou de Desenvolvimento Rural (COSTA, 1993, p. xii).

Porém, as manifestações de um direito agrário remontam desde os primórdios das civilizações. O Código de Hammurabi do povo babilônico, datado do século XVII a.C., pode ser considerado o primeiro código agrário da humanidade, tendo em vista que continha cerca de 65 (sessenta e cinco) temas específicos de conteúdo agrário. Também menciona-se a Lei das XII Tábuas, datada de 450 a.C., que trazia em seu bojo conteúdo agrarista, mais especificamente nas tábuas segunda, sexta e décima

2 Já é entendimento pacífico entre os doutrinadores que o Direito Agrário goza de autonomia sob os

seguintes aspectos: legislativo, científico, didático e jurisdicional. No Brasil, essa autonomia se apresenta apenas sob os aspectos legislativo, científico e didático, porquanto ainda não temos a Justiça Agrária, que representaria a autonomia jurisdicional (MARQUES; MARQUES, 2017, p. 10).

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segunda (MARQUES; MARQUES, 2017, p. 3). Complementando o tema:

Como se observa, o Direito Agrário tem suas raízes em institutos jurídicos criados na mais longínqua antiguidade. Explicam-se, assim, a sua sedimentação e o prestígio que desfruta até hoje, não obstante a sua autonomia, como ramo jurídico, ter sido reconhecida há bem pouco tempo (MARQUES; MARQUES, 2017, p. 3).

Antes mesmo de ser descoberto o Brasil, houve a partilha desse novo mundo, demonstrando as primeiras raízes do Direito Agrário, no ano de 1494, após a assinatura do Tratado de Tordesilhas, assinado pelos reis da Espanha e de Portugal. Esse tratado previa que as terras que fossem descobertas, passariam ao domínio de quem as descobriu (ZIBETTI, 2017, p. 2).

Referido tratado estipulava que traçando uma linha imaginária do Polo Ártico ao Antártico, as terras que se encontrassem à direita da linha seriam de Portugal, enquanto às da esquerda, pertenceriam à Espanha. Esse documento deve ser visto com força jurídica, devido a sua característica de delimitar o direito de propriedade. Com o descobrimento do Brasil pelos portugueses, em 1500, as terras brasileiras passaram a ser colonizadas pela Coroa Portuguesa (MARQUES; MARQUES, 2017, p. 22-23). Na mesma trilha:

O Brasil por ter nascido como uma colônia portuguesa sofreu ao longo do tempo grande influência do país colonizador, e isso não foi diferente no que tange sobre a divisão de terras no período de seu descobrimento, o sistema de sesmarias adotado por Portugal (onde deu certo, pois havia pouca terra produtiva para muitas pessoas que necessitavam trabalhar) foi implantado no Brasil, e a coroa portuguesa "homenageava" seus colonizadores distribuindo terras em sua colónia como forma de agradecimento pelos serviços prestados a coroa portuguesa (RODRIGUES; RODRIGUES, 2013). Devido às dimensões de terras da colónia, ao adotar o sistema das sesmarias faltou gente pra explorar tanta terra produtiva, pois era difícil transportar para sua nova colônia todos que desejavam uma nova oportunidade. Desta forma o Estado Português decidiu utilizar o sistema sesmarial3 no além-mar, com algumas adaptações (CERVO, 2013, p.9-10).

Por muito tempo o Brasil passou sem uma legislação que disciplinasse a aquisição de terras, nem a primeira Constituição (1824), trouxe normas sobre esse contexto. Isso ocasionou, no território nacional, uma ocupação desenfreada, pois não haviam limites a serem observados. A primeira lei sobre terras data de 1850,

3 A Lei de Sesmarias foi criada em 1375 por D. Fernando, como uma medida para combater a crise

do século XIV, sendo que sua principal, porém não única intenção, era solucionar o problema de abastecimento existente no reino oriundo, em parte, pelo êxodo rural que se verificou em Portugal nessa época. Muitas pessoas detentoras de terras não as cultivavam, e aí que a lei incidia, pois pretendia obrigar o cultivo nessas áreas condicionando a propriedade ao cultivo efetivo da mesma. Embora criado para resolver um problema conjuntural, a legislação de sesmarias acabou durando quase 500 anos em Portugal e pouco mais de 300 no Brasil (ALVEAL, 2010, p. 1).

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instituída sob o nº 601, sendo considerada um marco histórico para o contexto legislativo agrário no país (MARQUES; MARQUES, 2017, p. 25-26). Sobre a Lei de Terras:

[...] como tal consagrada e ainda hoje assim apelidada, foi votada pela Assembleia Geral e sancionada pelo Imperador e teve por objetivos básicos: (1) proibir a investidura de qualquer súdito, ou estrangeiro, no domínio de terras devolutivas, excetuando-se os casos de compra e venda;

(2) outorgar títulos de domínio aos detentores de sesmarias4 não

confirmadas; (3) outorgar títulos de domínio aos portadores de quaisquer outros tipos de concessões de terras feitas na forma da lei então vigorante, uma vez comprovado o cumprimento das obrigações assumidas nos respectivos instrumentos; e (4) assegurar a aquisição do domínio de terras devolutivas através da legitimação de posse, desde que fosse mansa e pacífica, anterior e até a vigência da lei (MARQUES; MARQUES, 2017, p. 26).

Os eventos mais importantes que marcaram a instituição do Direito Agrário, contudo, começaram a se manifestar após a Proclamação da República (1889), principalmente a nível constitucional. A primeira constituição republicana (1891), em seu art. 64, transferiu para “os Estados as terras devolutas, ficando reservadas à União apenas áreas destinadas à defesa de fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro, além dos terrenos de marinha”. O primeiro projeto de Código Rural foi elaborado em 1912, ficando restrito ao estado do Rio Grande do Sul. O Código Civil de 1916, trouxe inovações ao tratar da propriedade e posse sobre imóveis, inclusive rurais e direitos reais, tratando, ainda, de contratos que atualmente são definidos como agrários. A Constituição de 1934 sedimentou ideias agraristas ao preconizar a formulação de normas fundamentais de Direito Rural, criar o usucapião e ao abrigar normas relacionadas com a colonização (MARQUES; MARQUES, 2017, p. 27-28).

Junto a constituição, também foram criadas leis esparsas, que também disciplinavam as relações de campo, como exemplo, as questões decorrentes ao regime das águas e proteção da fauna e da flora. Contudo,

A Constituição Federal de 1946, entretanto, pode ser considerada a que impregnou avanços mais significativos, tendentes a institucionalização do

4 A coroa portuguesa transferiu para o Brasil, em 1534, o mesmo regime jurídico da repartição

fundiária em sesmarias, instituído em 1375 no reinado de D. Fernando I. Seu objetivo era promover o cultivo e o povoamento das terras incultas ou retomadas dos árabes que ocuparam a península por séculos (Neves, 1998; Garcez, 2001). Em Portugal, a intenção do regime de sesmarias era o de repartir terras. No Brasil, o seu efeito foi inverso: concentrou terras e poder. No Brasil, os capitães donatários recebiam gratuitamente 50 léguas de costa, obrigando-se apenas ao pagamento de um dízimo à Ordem de Cristo. O período de sesmarias criou a figura dos sesmeiros, senhores e proprietários de terras (FERRARO JÚNIOR; BURSZTYN, 2010, p. 387).

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nascente ramo jurídico. Em primeiro lugar, porque manteve as normas de conteúdo agraristas inserida na constituição anterior. Em segundo lugar, porque ampliou o raio de abrangência de situações ligadas diretamente ao setor rural, podendo-se destacar a criação da desapropriação por interesse social que, mais tarde, viria a ser adaptada para fins de reforma agrária. O fato histórico de maior significado, todavia, foi a emenda constitucional n. 10 de 9.11.1964, publicada no dia 10.11.64, que conferiu autonomia legislativa ao Direito Agrário. Inseriu-se o Direito Agrário no rol das matérias cuja competência para legislar é exclusiva da União. Esta competência atualmente está prevista no art. 22, inc. I, da Constituição Federal (MARQUES; MARQUES, 2017, p. 27-28).

No Brasil, o Direito Agrário teve seu nascimento quando houve a formulação e capitulação da Emenda Constitucional nº 10, de 10 de novembro de 1946, a qual outorgou competência à União para legislar sobre o tema, ao acrescentar ao artigo 5º, inciso XV, alínea a, da Constituição de 1946, a palavra “agrário” (BARROS, 2002, p. 15).

O Estatuto da Terra (Lei n. 4.504)5, proclamado no ano de 1964, veio a fortalecer a legislação agrária:

O marco legal da política fundiária do novo regime, o Estatuto da Terra (Lei n. 4.504) promulgado ainda em 1964, reconhecia o direito de propriedade daqueles que demonstrassem a posse da terra, os direitos daqueles que a arrendavam e também daqueles que trabalhavam em terra alheia. Além disso, sancionava a ideia de “função social da propriedade”, que serviria de critério para desapropriações de terras visando a reforma agrária no país. O texto era, sob vários aspectos, bastante avançado; na prática, não funcionou muito bem. Poucas desapropriações foram realizadas pelo governo. A força política dos fazendeiros, somada à importância da agricultura na estratégia de desenvolvimento brasileira, conduziu a ação do governo para a modernização da produção rural. Esta, além da diminuição do uso de mão de

obra em praticamente todas as regiões do país – gerando um contingente significativo de trabalhadores rurais sem-terra, ou, ainda que com terra, sem recursos para garantir condições mínimas de subsistência –, produziu uma concentração de terras ainda maior (REIS, 2012, p. 91).

Embora já houvessem manifestações do Direito Agrário, antes da década de 1946, essa ciência autônoma ganhou maior visibilidade no período republicano. A pressão política, social e econômica daquela época, forçou o surgimento desse sistema jurídico diferenciado, com a eclosão de movimentos armados que tinham como objetivo eliminar a propriedade individual no universo fundiário brasileiro (BARROS, 2002, p. 15).

Para conter esses movimentos, esse novo sistema tem características

5 O Estatuto da Terra representou “uma das primeiras manifestações de ruptura do privatismo

individualista no sistema positivo nacional” que refletiu na elaboração da Constituição de 1988, além disso, representou “uma das primeiras manifestações concretas do solidarismo jurídico” (VIEIRA, 2018, p. 2 apud COELHO, 2008).

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nitidamente sociais, protegendo o trabalhador rural em detrimento do proprietário rural, pela percepção de que a desigualdade entre as duas partes promovia graves injustiças em todo país. Antes de sua concepção, os conflitos agrários eram englobados pelo direito civil, que tem como base a igualdade de vontade das partes, que não é o caso do meio rural, que enseja normas específicas.

A competência de legislar sobre as normas agrárias foi mantida pela Constituição de 1967, emenda de 1969 e Constituição de 1988, que no seu artigo 22, inciso I, estabelece que compete privativamente à União legislar sobre o Direito Agrário (COELHO, 2016, p. 23).

O Direito Agrário pode ser considerado um novo ramo do direito, existindo mais de um conceito, diferente dependendo do doutrinador. Para entender melhor essa ciência, imperioso apresentar algumas de suas definições, considerando as obras de diferentes doutrinadores.

Inicialmente, entende-se que o Direito agrário pode ser definido como um “conjunto de normas reguladoras dos direitos e obrigações concernentes às pessoas e aos bens rurais” (COELHO, 2016, p. 23 apud OSÓRIO,1948, p. 9).

O Direito Agrário é a normativa autônoma criada para resolver os conflitos jurídicos derivados das relações agrárias (ZELEDÓN, 2000, p. 62).

Outro conceito define o Direito Agrário como “o conjunto de normas jurídicas que visam disciplinar as relações do homem com a terra, tendo em vista o progresso social e econômico do rurícola e o enriquecimento da comunidade” (COELHO,2016, p. 23 apud BORGES 1994, p.17).

Em consonância a essas doutrinas, o Direito Agrário pode ser definido, também, como sendo o “conjunto de princípios e normas de direito público e de direito privado visando disciplinar as relações emergentes do campo, com base na função social da terra” (COELHO, 2016, p. 24 apud LIMA, 1994, p. 32).

Por último, define-se: “Direito Agrário é o conjunto de normas jurídicas concernentes ao aproveitamento do imóvel rural” (COELHO, 2016, p. 24 apud OPITZ, 2010, p. 58). Haja vista a existência de tantas definições, o direito agrário pode ser conceituado como o conjunto de regras jurídicas e princípios que tem por objetivo viabilizar a função social da propriedade rural, com efetivação da justiça social (COELHO, 2016, p. 24).

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[...] o Direito Agrário adquire perfis diferenciados, porque, em sua essência, traz, conforme Ballestero Hernandez (1990, p.31), características que constituem o elemento típico do moderno Direito Agrário: a defesa dos economicamente mais débeis, a salvaguarda dos interesses gerais, o respeito às tradições e aos costumes, e, por último, a proteção da empresa agrária. Em consequência, o Direito Agrário adquire um caráter econômico, porque sua finalidade consiste em regular e ordenar a produção agrária, sistematicamente, seguindo as determinações do mercado e da justiça social, incrementando o constante nível de vida do meio rural. Percebe-se que o centro de preocupações se firma na técnica, no ofício e na arte de cultivar a terra, incluindo-se, aqui, todas as formas de atividade agrária, como agricultura, a pecuária, o reflorestamento, o extrativismo, a agroindústria, a hortifruticultura, em todas as suas modalidades e, ainda, quem sabe, o turismo rural. Acresce-se a esse lado de responsabilidade social o sentido nacional do Direito Agrário, em que todo um país deve se unir, em princípios comuns, por meio de órgãos nacionais com políticas uniformes, considerando a atividade agrária como um serviço público. A melhoria das condições devem se filiar à produção agrária, à atividade

industrial agrícola e à relação comércio-consumo (MANIGLIA, 2009, p. 28).

O Direito Agrário contemporâneo encontra-se representado por um processo evolutivo recente, mas já possui um sistema jurídico completo, com seu próprio sistema de fontes (formais e materiais), no âmbito nacional e internacional. O Direito agrário, embora seja uma ciência autônoma, não é um fenômeno independente dos outros ramos jurídicos, tendo a interdisciplinaridade como característica. Ele é a consequência da necessidade de regras dos seres humanos, relacionadas a algumas atividades, em um mundo que evolui rapidamente. O Direito Agrário, nesse sentido, deve cumprir uma função dentro do mundo econômico, social e cultural (ZELEDÓN, 2009, p. 18-19).

O Direito Agrário é composto de características do direito público e privado. Quando se analisa pelo viés do direito constitucional (função social), administrativo (administração pública, desapropriação), ou do trabalho, tem características de direito público. Já quando analisado quanto aos contratos (arrendamento, parceria, entre outros), há um direito claramente privado (COELHO, 2016, p. 24-25).

Em que pese lhe sejam atribuídas características de direito público e privado, prevalece a natureza pública, pois a quantidade de normas do direito público é muito maior que do direito privado, e que o direito agrário tem uma característica evidentemente sociológica/socialista (SILVA, 2011, p. 2).

Sobre o caráter e natureza dessa ciência:

A maioria dos doutrinadores prefere lhe dar um caráter misto. Dentre esses, há os que apontam a prevalência de normas de Direito privado, como Zulueta; outros que ressaltam a prevalência das normas de Direito público, como Palermo e Marcial. Finalmente, há aqueles que lhe dão uma bivalência de suas regras como característica; aqui se encontram

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Temístocles Cavalcanti e LARANJEIRA (1975:125s). LARANJEIRA (1975:129ss), concordando com a natureza mista das normas do Direito Agrário, discorda da bivalência nos termos propostos por Cavalcanti. Para ele, apoiado nas teorias sobre a natureza do Direito do Trabalho, as normas públicas e privadas no Direito Agrário são inter-relacionadas e interdependentes, constituindo um conjunto univalente de miscigenação (ALBUQUERQUE, 2002, p. 141).

Por outro lado, deve ser afastada essa dicotomia do público e do privado quando tratar-se da discussão sobre a natureza do direito agrário, chegando em uma classificação intermediária. O Direito Agrário deve ser classificado como direito social, ou como um somatório dos princípios das normas de direito público e privado, com entrosamento perfeito entre público e privado (COELHO, 2016, p. 25 apud Araújo Junior, 2002).

O direito agrário tem duas características essenciais: a imperatividade de suas regras, e que suas regras são sociais. Com imperatividade se quer dizer que existe uma forte intervenção do Estado nas relações agrárias. As partes dessas relações ficam com pouco espaço para dispor de seus direitos, porque tudo já está previsto em lei, com aplicação obrigatória. Isso vem pelo entendimento de que as relações nesse campo são naturalmente desiguais, em favor daquele que detém a terra. A cogência desse direito vem então pois suas normas são protetivas ao trabalhador rural (BARROS, 2002, p. 16-17).

A segunda característica, de que as regras são sociais, refere-se ao fato de que, diferentemente do direito civil, que busca manter o equilíbrio entre as partes, com o predomínio da autonomia das vontades, o Direito Agrário, constitui-se de forte preocupação social, porque quase a universalidade daqueles em que se aplicam as regras agrárias são trabalhadores, enquanto os proprietários são menos numerosos (BARROS, 2002, p. 17).

Sobre a importância do estudo do Direito Agrário e seus contratos:

A análise do direito agrário e de seus contratos típicos e atípicos, se faz no contexto atual de grande importância, pois embora as normas do Estatuto da Terra e o regulamento decorram da década de 60, são na verdade regras que transparecem grande avanço, em prol de que a propriedade atinja sua função social, originando uma perfeita relação do homem com a terra, e por efeito em relação a própria comunidade, para a racionalização e adequação qualitativa e quantitativa da utilização da propriedade rural (COELHO, 2016, p.18).

Nessa senda, a seguir, será abordado o contexto histórico em que surgiram os contratos de parceria e arrendamento rural, bem como algumas delimitações, referentes aos seus conceitos e aplicações enquanto pertencentes ao Direito

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Agrário.

2.1 HISTÓRICO DOS CONTRATOS DE PARCERIA E ARRENDAMENTO RURAL

O estudo da temática dos arrendamentos rurais, diante de sua natureza e historicidade, acaba sendo objeto de estudo multidisciplinar, pois transcende o espaço agropecuário, revelando muitas discussões a respeito do “acesso à terra, reprodução social das categorias sociais, formas de agir em relação à terra e, especialmente, os desafios da desigualdade de recursos, poder e terra entre sujeitos políticos” (CASTRO, 2016, p. 198).

A estrutura colonial brasileira se originou fora da área urbana, sendo a matriz social (econômica e política), baseada em uma civilização com suas raízes no campo. Essa situação permaneceu, essencialmente, até a abolição da escravatura. Por este viés, a trajetória histórica e jurídica dos arrendamentos rurais no Brasil é caracterizada pelo contexto de uma “civilização agrária marcada por um poder local exercido por uma elite” (CASTRO, 2016, p. 199), a qual esteve vinculada à concentração de propriedade de terra que desqualificava quem não era proprietário. Nesse ambiente, a elite, por vezes, se sentia acima da lei, detendo o poder local e os instrumentos jurídicos da época, destinados aos contratos de arrendamento rural. Acabavam tendo um perfil “político, econômico e social decorrente do sistema mercantilista português” (CASTRO, 2016, p. 199), o que fazia com que aqueles que não tivessem terras sob sua propriedade fossem ignorados como sujeito de direitos, e as políticas para o meio rural não levavam em consideração as necessidades de melhoria das condições de vida dos trabalhadores. Sobre o ordenamento jurídico vigente na época,

Em termos de ordenamento jurídico, não havia uma previsão legal mais pormenorizada no Brasil sobre no que consistia uma relação de arrendamento. Como muitas áreas do Direito pós-Independência, as

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relações de propriedade ainda eram reguladas pelas Ordenações Filipinas6.

Todavia, as referências ao arrendamento são muito esparsas nesse código. Na comparação com outras formas de contratos sobre bens imóveis, como o aforamento, embora as fronteiras fossem tênues, parece haver diferenças quanto à transferência de domínio útil, aspecto aparentemente ausente no arrendamento. Sabemos também que o arrendamento estava incluído nos contratos que demandavam escritura pública.

Confrontando os preceitos ditados nas Ordenações com as características verificadas em nossas fontes, o que podemos afirmar com certeza é que o arrendamento integrava uma variedade mais geral de contratos celebrados nos tabelionatos (LEIPNITZ, 2010, p. 17).

Além disso, havia uma “preocupação com a exploração de bens naturais, sem um plano efetivo para o aproveitamento econômico com base na realidade local da colônia” (CASTRO, 2016, p. 199). Por este viés,

Nesse período, e soba égide da Lei de Terras (1850), os contratos agrários representaram uma conciliação precária de interesses entre proprietários e grupos excluídos do acesso à terra, como negros, indígenas e imigrantes. Assim, o arrendamento rural serviu como uma forma de conservação da grande propriedade sem a necessidade de venda das terras que se buscavam manter como reserva especulativa e de valor. Também funcionou como mecanismo de ajuste à carência de alimentos erguida pela monocultora e, finalmente, representou a única via de substituição do trabalho escravo, visto que parecia quase impossível a existência do trabalho assalariado naquele tempo na sociedade brasileira (CASTRO, 2016, p. 203 apud PETTERSEN; MARQUES, 1977).

Nessa conjuntura econômica, social e política, a terra passou a ser vista como mercado e objeto de lucro, um produto negociado sem restrições, “a liberdade do sujeito do direito autorizava a acumulação de quanta terra quisesse ou pudesse ter, da mesma forma que o ouro, a prata e o dinheiro” (MARÉS, 2003, p. 185). Assim, começou a ser explorada essa especulação de capital.

Ainda sob o regime da Lei de Terras, datado de 1850, identifica-se as primeiras manifestações dos contratos agrários:

Nesse período, e sob a égide da Lei de Terras (1850), os contratos agrários

6 O sistema jurídico que vigorou durante todo o período do Brasil-Colônia foi o mesmo que existia em

Portugal, ou seja, as Ordenações Reais, compostas pelas Ordenações Afonsinas (1446), Ordenações Manuelinas (1521) e, por último, fruto da união das Ordenações Manuelinas com as leis extravagantes em vigência, as Ordenações Filipinas, que surgiram como resultado do domínio castelhano. Ficaram prontas ainda durante o reinado de Filipe I, em 1595, mas entraram efetivamente em vigor em 1603, no período de governo de Filipe II. Não houve inovação legislativa por ocasião da promulgação da Ordenação Filipina, apenas a consolidação das leis então em vigor. O foco eram casos concretos reduzidos a escrito, isto é, essa legislação estava muito distante do tipo de consolidação que se deu na França no início do século XIX, como consequência da Revolução Francesa, na qual se baseiam os nossos atuais códigos, que buscam sanar as contradições, repetições e lacunas - as consolidações da época mal tinham uma parte geral, com regras abstratas. Além disso, como não era intenção de Filipe I e Filipe II, castelhanos que circunstancialmente governavam Portugal, impor novas leis a esse povo, aproveitaram-se das normas já existentes, optando por não corrigir as contradições e lacunas anteriormente existentes (MACIEL, 2006, p. 1).

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representaram uma conciliação precária de interesses entre proprietários e grupos excluídos do acesso à terra, como negros, indígenas e imigrantes. Assim, o arrendamento rural serviu como uma forma de conservação da grande propriedade sem a necessidade de venda das terras que se buscavam manter como reserva especulativa e de valor. Também funcionou como mecanismo de ajuste à carência de alimentos erguida pela monocultora e, finalmente, representou a única via de substituição do trabalho escravo, visto que parecia quase impossível a existência do trabalho assalariado naquele tempo na sociedade brasileira (CASTRO, 2013, p. 24).

No início do século XX, porém, as ordenações portuguesas perderam sua força, após a promulgação do Código Civil de 1916, trazendo inovação jurídica que, mesmo possuindo um caráter formal distinto, ainda eram falhas no tratamento de alguns conflitos agrários. O sistema trazido pelo ordenamento civil da época foi inspirado pelas normas francesas, e foi profundamente voltado para o paradigma de estado liberal.

Assim sendo, entende-se que o código Frances estipulou a autonomia de vontade das partes como um dos pressupostos do contrato. Outras legislações, como a italiana, a portuguesa, a espanhola e a alemã seguiram o mesmo entendimento, influenciando o ocidente, nas questões alusivas ao contrato. Tendência que foi acompanhada no Brasil, pelo Código Civil de 1916. O contrato vem sendo aprimorado, passando do “formalismo ao pacto sunt servanda, princípio basilar do direito contratual no Brasil” (OLIVEIRA; PAIDA, 2012, p. 3).

Sendo assim, após 1916, os contratos de arrendamento rural norteavam-se por uma lógica garantista em favor do proprietário. Nesse contexto, “o uso é apenas um direito do proprietário, que pode exercê-lo ou não, mas ainda que não o exerça, não o perde” (CASTRO, 2016, p. 203). O propósito inicial do arrendamento rural foi conservar a propriedade sem a necessidade de venda. Após a promulgação do Código Civil de 1916, pelo fato das raízes das leis portuguesas deixarem de se manifestar no direito pátrio, surgiram essas novas disposições para tratar do arrendamento rural e da parceria rural (agrícola e pecuária). Em que pese essa legislação tenha se mostrado superficial, ela serviu para regulamentar aspectos formais da norma. Sobre o tema,

Somente no início do século XX, com a promulgação do primeiro Código Civil Brasileiro (1916), as Ordenações Portuguesas perderam vigência entre nós. Assim, as disposições especiais do novo códex trataram dos prédios rústicos (arrendamento rural), com os arts. 1.211 a 1.215, e da parceria rural (agrícola e pecuária) nos arts. 1.410 a 1.423. Não obstante representassem uma inovação jurídica, seus impactos não ultrapassaram aspectos meramente formais, pois se tratava de uma regulação superficial e falha

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para disciplinar os conflitos agrários (CASTRO, 2013, p. 25).

O Código Civil de 1916 possuía princípios voltados para a autonomia da vontade, o que ocasionava, para ambas as partes envolvidas em um contrato, como proprietário e arrendatário, tratamento igual na forma da lei. O Estado não deveria interferir no contrato, o que, de certa forma, “implicava em contratos de arrendamento rural firmados sob a livre convenção das partes (pacta sunt servanda), com uma excessiva carga de liberalidade na contratação” (CASTRO, 2013, p. 25). Por este viés,

Assim, o Código Civil de Brasileiro de 1916 era profundamente voltado para o paradigma de estado liberal e, consequentemente, os contratos de arrendamento estavam orientados por uma lógica garantista em favor do proprietário (arrendador). Os juristas liberais do século XVIII e XIX entendiam que a intromissão do Estado no regime de propriedade da terra e em seus contratos era nefasto e que cada proprietário haveria de usar a terra porque era de seu interesse e não de sua obrigação. Este fundamento liberal, defendendo e criando o direito absoluto sobre a terra, a tornava uma simples mercadoria. Para o direito liberal, que influenciou grandemente o Código Civil de 1916, o uso é apenas um direito do proprietário, que pode exercê-lo ou não, mas ainda que não o exerça, não o perde (CASTRO, 2013, p. 25).

Como visto, até o advento do Código Civil de 1916, o ordenamento jurídico pátrio era totalmente omisso em relação as atividades da terra, e consequentemente, em relação ao arrendamento rural. Em que pese a Lei da Terra seja datada do ano de 1950, anteriormente as leis civis em questão, nada tratou sobre os contratos de arrendamento. O Código Civil de 1916 trouxe disposições especiais aplicáveis aos prédios rústicos (nos artigos 1.211 a 1215), e regras relacionadas às parcerias agrícolas (nos artigos 1.410 a 1.423), porém, apenas com a entrada em vigor do Estatuto da Terra (1964), foi que os contratos agrários passaram a ter regulamentação própria. O Código Civil de 2002, não fez qualquer menção às locações de prédios rústicos ou parcerias rurais, os quais já eram tratados por lei específica, ou seja, pelo Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964). Porém, fez menção ao comodato, largamente usado no meio rural. Em que pese não tenham sido trazidas disposições específicas na lei civilista atualmente vigente, o contrato agrário está sujeito às condições gerais estabelecidas no Código Civil de 2002 (OLIVEIRA; PAIDA, 2012, p. 4).

O arrendamento rural e as parcerias foram surgindo com o próprio Direito Agrário, simultaneamente, no momento em que foram se delineando suas especificidades. Nessa trilha,

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À trajetória histórica do arrendamento rural, que tinha uma conotação eminentemente mercantil e comercial desde o período colonial [...] somou-se a concepção jurídica de que somou-seria um instrumento para ganhos de eficiência econômica. Sua legalidade estaria vinculada à eficiência defendida por diversos pensadores, no sentido de possibilitar a produtividade da terra, privilegiando o crescimento propugnado no modelo da revolução verde (CASTRO, 2013, p. 30).

O arrendamento rural é uma espécie de contrato. Os contratos são uma espécie do gênero negócio jurídico. A diferença entre o contrato e um negócio jurídico consiste no fato de que o aperfeiçoamento do contrato depende “da conjunção da vontade de duas ou mais partes [...] o contrato é o acordo de vontades para o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos” (VENOSA, 2011, p. 372). Dessa feita, o arrendamento rural,

[...] é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder a outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou partes dele, incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, como objetivo de nele ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou aluguel observados os limites percentuais da Lei, sendo esta a definição legal. Portanto, o preço é certo, devendo ser ajustado em dinheiro, mas o pagamento poderá ser em produtos, em que o proprietário ou possuidor (arrendador) não participa dos riscos do negócio (COELHO, 2016, p. 83).

O Decreto n. 59.566, de 14 de novembro de 1966, que regulamenta algumas seções do Estatuto da Terra, define o arrendamento rural em seu art. 3º, o qual dispõe, in verbis:

Art 3º Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, com o objetivo de nêle [sic] ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agro-industrial, [sic] extrativa ou mista, mediante, certa retribuição ou aluguel, observados os limites percentuais da Lei.

§ 1º Subarrendamento é o contrato pelo qual o Arrendatário transfere a outrem, no todo ou em parte, os direitos e obrigações do seu contrato de arrendamento.

§ 2º Chama-se Arrendador o que cede o imóvel rural ou o aluga; e Arrendatário a pessoa ou conjunto familiar, representado pelo seu chefe que o recebe ou toma por aluguel.

§ 3º O Arrendatário outorgante de subarrendamento será, para todos os efeitos, classificado como arrendador.

Referido diploma legal, também conceitua a parceria rural, em seu quarto artigo, a qual pode ser agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, assim definida:

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ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso especifico de imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, benfeitorias, outros bens e ou facilidades, com o objetivo de nêle [sic] ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agro-industrial, [sic] extrativa vegetal ou mista; e ou lhe entrega animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de matérias primas de origem animal, mediante partilha de riscos do caso fortuito e da força [sic] maior do empreendimento rural, e dos frutos, produtos ou lucros havidos nas proporções que estipularem, observados os limites percentuais da lei (artigo 96, VI do Estatuto da Terra).

Parágrafo único. Para os fins deste [sic] Regulamento denomina-se parceiro outorgante, o cedente, proprietário ou não, que entrega os bens; e parceiro-outorgado, a pessoa ou o conjunto familiar, representado pelo seu chefe, que os recebe para os fins próprios das modalidades de parcerias definidas no art. 5º.

Depreende-se que no contrato de parceria rural, os riscos, lucros e a percepção dos frutos e da produção serão, compartilhados entre as partes, nas proporções estipuladas em contrato e em observância aos limites estipulados pela lei.

Em que pese o contrato de arrendamento rural e o contrato de parceria tenham semelhanças entre si, possuem muitas distinções e características específicas, as quais serão descritas no capítulo subsequente.

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3 CARACTERÍSTICAS GERAIS

O Direito Agrário é um conjunto de princípios e normas que busca estampar a função social da terra, regular as relações de propriedade e uso, além de impor uma disciplina as atividades de exploração da terra. É um sistema de normas, tanto de direito privado, quanto de direito público, pois além de regular as relações particulares de pertença da terra, também explora sua função social. Por fim, cabe mencionar que o Direito Agrário é uma ciência jurídica que regula “relações emergentes da atividade agrária, a fim de que a terra seja objeto de uma eficiente exploração, alcançando uma maior e melhor produção”. Busca-se promover, da melhor forma, uma distribuição justa da riqueza, para beneficiar a sociedade e também, os trabalhadores do meio rural (MANIGLIA, 2009, p. 38)7.

Os contratos, por trazerem o viés de posse e propriedade, realizada de forma autônoma entre particulares, enquadram-se no direito privado, no entanto, possuem viés de direito público, no momento em que pretendem cumprir a função social da propriedade. Ou seja, “os contratos agrários são instrumentos jurídicos a serviço do cumprimento da função social da propriedade, as noções de função social da propriedade rural e função social dos contratos agrários se completam” (DE-MATTIA, 2004, p. 87)8. Nesse sentido,

Os contratos agrários, conforme se depreende do art. 92, caput, do Estatuto da Terra, ao estabelecer que a posse e o uso temporário da terra serão exercidos em virtude de contrato expresso ou tácito, estabelecido entre o proprietário e os que nela exercem atividade agrícola ou pecuária, tem como objeto o uso ou posse temporária da terra, para exercerem atividade agrícola e pecuária. Ao estatuir o referido artigo acima, sobre posse e uso temporário da terra, “deve-se entender como uso e gozo da terra, sempre temporários, tal como se define do art. 3º do Regulamento (Dec. nº 50566), bem como no art. 565 do CC” (Opits, 2011). A posse temporária da terra, conforme o art. 1197 do Código Civil, é uma “posse direta, exercida

7 Como observado, a atividade agrária constitui-se no cerne do Direito Agrário. Não são a propriedade

rural, a reforma agrária ou os contratos o seu objeto de estudo. Estes últimos são estudados pelo Direito Agrário, porque contemplam a atividade agrária de uma forma direta ou indireta. Outros autores apontam a importância da atividade agrária para o funcionamento da empresa agrária, devendo, apenas nesse contexto, ser considerada. Como a atividade agrária é exercida ou onde ela tem criação é elemento importante para o Direito Agrário, assim como a política agrícola que permite o sucesso dessa atividade e toda a infraestrutura que lhe dá condição. Esse é conteúdo pleno do Direito Agrário, e a atividade agrária orienta seu estudo (MANIGLIA, 2009, p. 40).

8 Com a finalidade de regulamentar as relações de uso ou posse temporária do imóvel rural para

implementação de atividade agrícola surgiram os denominados contratos agrários. Conforme Edson Ferreira de Carvalho (2010, p. 394) os contratos Agrários podem ser definidos, grosso modo, como acordos de vontade, firmados segundo as leis 4.504/1964 (arts. 92 a 96) e 4.947/1966 (arts. 13 a 15) e Decreto 59.566/1966, com a finalidade de resguardar, modificar ou extinguir direitos relativos à exploração do imóvel agrário ou parte dele (SENN, 2018, p. 3).

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temporariamente pelo arrendatário, por força de obrigação” (Opits, 2011), ou seja, o que garante a posse do arrendatário ou parceiro-outorgado é o contrato de arrendamento ou parceria, nascendo “dele, o poder fático sobre o prédio, que lhe dá direito a ser mantido na posse, em caso de turbação e restituído, no caso de esbulho, art. 1210 do Código Civil (VIEIRA, 2018, p. 2).

O tema da contratação agrária é bastante abrangente, sendo que muitos autores sustentam a existência dos contratos agrários como uma categoria contratual diferenciada, “caracterizada como formas de realização da empresa agrária em terreno alheio, relação jurídica encaminhada ao aproveitamento racional do solo e de bens suscetíveis de frutificação” (DE-MATTIA, 2004, p. 88). Diz-se que há especialidade nos contratos agrários pois neles, existe um indivíduo que conduz uma exploração e assume seus riscos (arrendamento rural), ou divide os riscos com o proprietário que cedeu o uso da terra (parceria rural). O objeto desses contratos é o uso de um direito real por aquele que não é seu proprietário, com o intuito de se obter rendimentos ou retirar-lhe alguma utilidade (DE-MATTIA, 2004, p. 88). Sobre o tema,

[...] o estudo do tema contrato agrário, como de outros fundamentais para os agraristas, deve abranger o empenho e a responsabilidade de todos os cultores do Direito Agrário porque, sob um ponto de vista, os argumentos de fundo guardam relação com todos os ordenamentos jurídicos de qualquer latitude, porque subsistem manifestas as tendências do direito agrário (fala-se da parte geral) a apre(fala-sentar um núcleo de princípios e de instituições válidas universalmente (DE-MATTIA, 2004, p. 88).

Os princípios contratuais sofreram muitas mudanças com a passagem do Código Civil de 1916 para o atual Código Civil de 20029. Anteriormente, as relações sociais e contratuais eram pautadas por um certo individualismo, onde os contratos possuíam única e exclusivamente a vontade das partes. Com o decorrer do tempo, as relações sociais foram se modificando, a Constituição Federal de 1988 trouxe uma visão mais ampla e social dos contratos, até porque, foi o marco da transição do Estado Ditatorial para a Democracia (CERVO, 2013, p. 18). Situação que ensejou que as próprias leis fossem se adequando ao novo contexto vivido na era

pós-9 Os princípios do direito agrário sofreram gradativamente mudanças, mudanças que foram

condicionadas ao momento vivido, tanto que os primeiros princípios tinham um caráter mais particular aos interessados, não sendo visto de uma ótica social, ao longo do tempo o Estado começou a zelar }mais pelo direito agrário, interferindo na relação das partes para evitar prejuízo ou vantagens abusivas de uma parte em detrimento da outra, ou diante da sociedade, chegando ao ponto de muitas vezes influenciar em forma de pagamento, tempo contratual e outras formas (CERVO, 2013, p. 29).

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moderna10. Sobre o tema,

Os princípios contratuais sofreram drásticas mudanças com a passagem de um código para o outro (Código de 1916 e o atual de 2002). Não é de estranheza a ninguém que a legislação tem como uma das suas características a eficácia e para ter uma aceitação relativamente alta da sociedade é necessário ser aplicado conforme as tendências (a forma como o ser vive e enxerga o mundo naquele momento) dessa forma na época do Código Civil de 1916, o Brasil passava por um momento onde a sociedade via as relações contratuais de forma individualista, por tanto os contratos eram formados de acordo com as vontades das partes (exclusivamente), sem interferência do Estado, o princípio que imperava era o da autonomia da vontade, dando liberdade para as partes formularem seus contratos, mesmo que uma parte sofre-se grave onerosidade e a outra obtivesse larga vantagem com o acordo. Com o passar do tempo a concepção da sociedade e do Estado foi se alterando e com o advento da constituição de 1988, o Brasil vivia um momento de libertação, um momento democrático pós ditadura militar e o reflexo disso foi como a Constituição redigida, de maneira que visa-se o social e não o individual, com a Carta Magna voltada ao bem estar social o Código Civil precisava de uma reformulação, e esta veio com o advento do Código Civil de 2002, onde a onerosidade excessiva não tinha mais espaço.

Os princípios11 do Direito Agrário também são aplicados nos contratos de parceria e arrendamento rural e preocupam-se com a conservação da terra e com o máximo aproveitamento da produção natural, além de manter a devida estrutura e destinação da terra, em observância aos elementos naturais (fauna e flora) e promovendo o equilíbrio ecológico. Toda essa cautela em relação aos princípios do Direito Agrário resulta a preocupação da conservação da propriedade rural, pelo indivíduo e pelo Estado, por ser esta uma grande riqueza para o desenvolvimento econômico do país (COELHO, 2016, p. 67-68). Sobre os princípios norteadores do Direito Agrário,

Em função da importância alcançada à propriedade agropecuária, de maneira geral, desenvolveu-se uma Política Agrária que elege os seguintes princípios como norteadores do direito agrário: preservação dos recursos naturais renováveis; elevação da produção; bem-estar e condições de progresso socioeconômico; acesso à terra e à propriedade; permanência na terra daqueles que a tornem produtiva; função social; justiça social; extinção de propriedade antieconômicas; eficiência dos fundos agrários; e, proteção

10 A pós-modernidade, não sendo apenas um movimento intelectual ou, muito menos, um conjunto de

ideias críticas quanto à modernidade, vem sendo esculpida na realidade a partir da própria mudança dos valores, dos costumes, dos hábitos sociais, das instituições, sendo que algumas conquistas e desestruturações sociais atestam o estado em que se vive em meio a uma transição (BITTAR, 2008, p. 4).

11 Em especial nos contratos agrários se evidencia, de acordo com Coelho (2011, p. 68) "[...] o

surgimento de questões sem previsão na lei agrária, ou quando há previsão essa não traduz uma solução justa e adequada à realidade social". Os contratos agrários são extremamente dependentes de princípios já que as leis não dão amparo total para as diversas formas de contratos de caráter rural, e 20 para saciar os anseios das pessoas que dependem do labor do campo surge a necessidade da utilização de alguns princípios (CERVO, 2013, p. 19-20),

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jurídica aos arrendatários e parceiros outorgados. Como é possível vislumbrar, procura-se com as normas de direito agrário proteger a propriedade como fonte de riqueza e poder para o Estado (COELHO, 2016, p. 70).

A destinação é o critério que determina se a relação contratual se insere ou não nos contratos agrários. O pacto agrário, portanto, é o acordo de vontades que permite o uso temporário da terra, de propriedade alheia, por agricultores e pecuaristas (COELHO, 2016, p. 69).

O Estatuto da Terra (Lei n. 4504/64), inscreve-se entre os diplomas legislativos que elegem a função social da propriedade agrária como postulado dominante nas relações contratuais. Esse estatuto disciplina o uso ou posse temporária da terra, e esse uso não tem característica de direito real, porque não concedido em homenagem às necessidades do indivíduo, mas deferido em favor dos interesses coletivos, que é tornar a propriedade agrária produtiva, a fim de reconhecer sua função social (COSTA, 1993, p. 26).

Devido a natureza dos contratos rurais, eles possuem algumas cláusulas obrigatórias, a saber: a obrigatoriedade em conservar os recursos naturais da terra, a proteção social e econômica do arrendatário ou parceiro, a proibição de costumes predatórios à economia agrícola. Essas normas existem para dar predominância ao direito público e ao interesse social, em detrimento do particular (COELHO, 2016, p. 80-81). Nesse sentido,

No próprio Estatuto da Terra, expressamente exara a compulsoriedade de constar nos contratos de arrendamento os limites dos preços de aluguel e formas de pagamento em dinheiro ou no seu equivalente em produtos colhidos; prazos mínimos de locação e limites de vigência para os vários tipos de atividades agrícolas; bases para renovações convencionadas; formas de extinção ou rescisão; e, direito e formas de indenização ajustadas quanto às benfeitorias realizadas (art. 95, XI) (COELHO, 2016, p. 81). Os contratos agrários escritos também devem obedecer uma forma, ou seja, devem conter algumas indicações, a saber: (i) lugar e data da assinatura; (ii) nome e endereço dos contratantes; (iii) características do arrendador ou do parceiro-outorgante; (iv) características do arrendatário ou parceiro-outorgado; (v) objeto do contrato e tipo de atividade de exploração e destinação do imóvel/bens; (vi) identificação do imóvel e número do registro no cadastro de imóveis rurais; (vii) descrição do terreno, numeração das benfeitorias, dos equipamentos, veículos, máquinas, implementos e animais de trabalho, além dos demais bens e facilidades; (viii) prazo de duração, valor, produtos ou lucros havidos, com delimitação dos

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modos e épocas de pagamento; (ix) cláusulas obrigatórias com as condições estipuladas nos arts. 13 do Decreto n.59.566/1966, 93 a 96 do Estatuto da Terra, e art.13 da Lei 4.947/1966; (x) foro do contrato e (xi) assinatura de seus contratantes e quatro testemunhas (COELHO, 2016, p. 81-83). Em relação a forma,

O art. 92, caput, e § 8º do Estatuto da Terra, estabelecem que os contratos agrários podem ser expressos ou tácitos, permitindo sua comprovação mediante prova testemunhal. Dessa redação, Vilson Ferreto (2009) entende que existem na verdade “contratos escritos ou verbais, ou tácitos”, já o Prof. Benedito Ferreira Marques entende que esse dispositivo “registra uma anomalia, ao se referir à forma do contrato, deixando ser expresso ou tácito, quando queria dizer de forma escrita ou verbal (VIEIRA, 2018, p. 3).

Os contratos também podem ser nominados (típicos) ou inominados (atípicos). São nominados os contratos que englobam o contrato de arrendamento e parceria. Por outro lado, são inominados, os contratos de comodato, empreitada, entre outros (OLIVEIRA; PAIDA, 2012, p. 6).

Por ser objeto de estudo desse trabalho, a parceria rural e o arrendamento, não será estudada a categoria inominada, mas sim, será dado ênfase aos contratos nominados, que serão vistos, em seguida, de forma mais específica, com o intuito de entender suas semelhanças, diferenças e particularidades.

3.1 O CONTRATO DE ARRENDAMENTO RURAL

O direito de propriedade, diante da evolução social, passou por várias mudanças, que decorrem principalmente das mutações sociais e da constitucionalização do direito de propriedade. O direito de propriedade confere os poderes de uso, gozo e disposição do bem. Esses poderes poderão ser exercidos pelo proprietário, ou poderá haver cessão onerosa ou gratuita de direitos (SOARES, 2006, p. 100).

O contrato de arrendamento caracteriza-se pela “exploração de imóvel rural alheio para fins agrários, regulado pelo Estatuto da Terra, e que obedece aos ditames da referida legislação e da Carta constitucional” (SOARES, 2006, p. 101). O proprietário da terra é denominado de arrendador, enquanto aquele a quem é transferido o uso e gozo é o arrendatário. O Arrendamento Rural, conforme disposto

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no art. 3 do Decreto 59.566/6612, caracteriza-se por ser um Contrato Agrário no qual

o proprietário do imóvel rural cede ao arrendatário o uso e gozo do imóvel (no todo ou em partes), podendo ceder, ainda, suas benfeitorias, bens e demais facilidades, por um período de tempo determinado ou não. A finalidade do uso da terra, pelo arrendatário, é o exercício de atividades de exploração agropecuária ou agroindustrial, mediante o pagamento de um determinado valor.

Em relação a valores, o preço deve ser certo, devendo ser ajustado em dinheiro. Porém, o pagamento poderá ocorrer em produtos, onde o arrendador não participa dos riscos do negócio. Nesse contrato, ocorre a cessão do uso e gozo do imóvel, ou seja, o arrendatário fica como direito de posse direta. Os valores serão pagos anualmente, observando as limitações impostas pela lei (COELHO, 2016, p. 83-84). Nesse sentido,

É obrigatória a fixação do preço do arrendamento em dinheiro, estabelecida conforme os parâmetros legais. A forma de pagamento, contudo, pode ser em dinheiro ou em quantidade equivalente de frutos. É interessante apontar que o legislador parece acomodar as normas à realidade agrária brasileira, em que, na maioria dos contratos, o preço do arrendamento é fixado a partir do valor do produto a ser cultivado e existe um grande número de contratos informais. Este fenômeno encontra-se tanto nas lavouras de grãos quanto nas agroindústrias canavieiras e cítricas (ALMEIDA; BUAINAIN, 2013, p. 12).

Também há a possibilidade do subarrendamento, por meio de contrato ajustado entre arrendatário e terceiro com pessoa alheia ao contrato, desde que previamente consentido pelo arrendador. Sobre o tema:

É possível a modalidade de subarrendamento, que se configura em contrato ajustado pelo arrendatário, que transfere a outrem, no todo ou em parte, os direitos e obrigações do contrato originário de arrendamento rural, de forma onerosa, ou ainda, cede ou empresta o imóvel rural, que poderá ser gratuitamente.

Em qualquer desses casos, o arrendatário deverá estar devidamente autorizado, com prévio e expresso consentimento do arrendador, sob pena, de caracterizar infração legal, viabilizando a ação despejatória, nos moldes do art. 32 do Dec. 59.566/1966, já que existe vedação expressa de ceder, subarrendar ou emprestar total ou parcialmente o imóvel rural (art. 31 do Dec., e art. 95, VI, do Estatuto da Terra) (COELHO, 2016, p. 84).

O art. 95 do Estatuto da Terra também trata do arrendamento rural, onde há a previsão de que os prazos de término do arrendamento são ao final da colheita.

12 Art 3º Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à outra, por

tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agroindustrial, extrativa ou mista, mediante, certa retribuição ou aluguel, observados os limites percentuais da Lei.

Referências

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