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Processo histórico-evolutivo do poder nas sociedades

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MARCELO ANDREI PETERS ROCKENBACH

PROCESSO HISTÓRICO-EVOLUTIVO DO PODER NAS SOCIEDADES

Santa Rosa (RS) 2013

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MARCELO ANDREI PETERS ROCKENBACH

PROCESSO HISTÓRICO-EVOLUTIVO DO PODER NAS SOCIEDADES

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador: MSc. Luiz Paulo Zeifert

Santa Rosa (RS) 2013

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Dedico este trabalho a minha família que foi o pilar para que eu pudesse realizar esse estudo.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, pela vida, força e coragem.

A meu orientador MSc. Luiz Paulo Zeifert que entendeu meu desejo em escrever algo sobre este fascinante tema.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, meu muito obrigado!

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“Quase todos os homens conseguem enfrentar a adversidade; mas se quiserdes testar a capacidade de alguém, dai-lhe poder.”

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise de como se deu o processo histórico-evolutivo do poder nas sociedades antigas até sua posterior evolução aos dias atuais. Discute o que é o poder, buscando compreender as sociedades desde a época na qual imperava o simples instinto de sobrevivência, período que ainda prevalecia o poder do mais forte. Nos principais períodos históricos da humanidade, o poder tomou formas que mostravam a vontade de determinado indivíduo ser líder do grupo, buscando dessa forma tomar o poder seja de que forma for. Nessa perspectiva, tece algumas considerações desse fenômeno inquietante, analisando o seu surgimento, a sua evolução e, por fim, o atual estágio em que se encontra.

Palavras-Chave: Histórico-Evolutivo. Poder. Líder. Evolução.

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ABSTRACT

The present research monograph is an analysis of how was the historical-evolutionary power in ancient societies until their subsequent evolution to the present day. Discusses what is power seeking to understand societies since the time in which reigned simple survival instinct, a period that still prevailed the power of the strongest. In the major historical periods of mankind, the power took forms that showed the will of a particular individual to be a leader of the group, thus seeking to take power in any form whatsoever. In this perspective, it offers some of this troubling trend by analyzing its emergence, its evolution and, finally, the current stage where it is.

Keywords: Historical-Evolutionary. Power. Leader. Evolution.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...9

1 APONTAMENTOS PRELIMINARES SOBRE O PODER...10

1.1 O que é o poder...10

1.2 Principais tipos de poder...13

2 O EXERCÍCIO DO PODER NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA E SUAS FORMAS BÁSICAS DE SUSTENTAÇÃO...15

2.1 Grécia...15

2.1.1 O poder do rei...16

2.1.2 O poder na Grécia antiga após o desaparecimento da monarquia homérica...16

2.1.3 O poder na Grécia antiga, ao tempo da oligarquia...17

2.1.4 O poder discricionário...18

2.1.5 Oligarquia e poder...18

2.1.6 As assembleias da democracia ateniense...19

2.2 Roma...20

2.2.1 O senso jurídico dos romanos...22

2.2.2 A passagem da monarquia a república e o surgimento da ditadura...23

2.2.3 Principado e império...25

2.2.4 Pretorianismo e decadência...27

3 O EXERCÍCIO DO PODER NA IDADE MÉDIA E SUAS FORMAS BÁSICAS DE SUSTENTAÇÃO...29

3.1 O poder religioso...29

3.2 O poder temporal...30

3.2.1 A formação do sacro império...33

4 O EXERCÍCIO DO PODER NO PÓS-MEDIEVAL E SUAS FORMAS BÁSICAS DE SUSTENTAÇÃO...35 4.1 Idade moderna...35 4.1.1 Mecanismos de centralização...36 4.1.2 O absolutismo...37 4.1.3 O apogeu do absolutismo...38 4.1.4 O despotismo iluminado...39

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4.2 Idade contemporânea...41 4.2.1 A revolução francesa...41 4.2.2 O estado contemporâneo...42 4.2.3 O estado e o poder...44 CONCLUSÃO...46 REFERÊNCIAS...48

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa pretende abordar os diferentes tipos de poder desde a antiguidade até os dias atuais. Iniciará com uma abordagem sobre os tipos de poder e em seguida uma análise das formas de poder na Grécia antiga, em Roma, o poder religioso, o poder temporal, na Idade Moderna e após a Contemporânea.

O poder está ligado ao desenvolvimento da humanidade e através das lutas, o povo tenta chegar a um modelo ideal. O presente trabalho abordará um breve relato desses episódios ocorridos desde os primórdios até hoje.

Seguiremos para uma análise e posteriormente para a demonstração de como foi utilizado o poder em cada fase do presente estudo.

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1 APONTAMENTOS PRELIMINARES SOBRE O PODER

O poder instiga no homem desde os tempos primórdios uma inquietante busca para se manter na frente dos outros, uma vez que este poder se revela como uma forma de se garantir com conforto em um patamar que os permite novos domínios e com uma maior segurança.

1.1 O que é o poder?

Em referência ao poder, Martins (2009, p. 9) diz que a busca pelo poder tem seu fundamento no instinto de sobrevivência. O estudo das sociedades primitivas já demonstrava que o seu líder, mais que o poder em si, buscava a própria sobrevivência. Ou seja,

O líder primitivo era reconhecido por seus próprios méritos, razão pela qual seu mais acentuado instinto de sobrevivência repercutia facilmente sobre o instinto de sobrevivência da tribo, que nele reconhecia a capacidade de liderança. Desde o início das primitivas comunidades, todavia, o objetivo primeiro do líder foi ter o poder para sua sobrevivência. (MARTINS, 2009, p. 10).

Giles (1985, p. 2) mostra que o poder é uma espécie de comprometimento do grupo que reforça a ideia de ordem social desejável. Esse foco coletivo é destinado a garantir a perenidade do grupo, orientando-o na procura que considera seu bem, impondo em caso de necessidade aos seus membros, a atitude que esse ideal procura, pondo em evidência os dois elementos essenciais do poder: ideia ideal e força.

Segundo esse mesmo autor,

A individualização do poder aparece como a forma mais simples e mais natural do mesmo. Ela se fundamenta numa realidade concreta e se expressa por um relacionamento de indivíduo a indivíduo, sistema de relacionamento susceptível de uma infinidade de modalidades. O traço fundamental a todas essas modalidades ou formas de poder é que, na pessoa daquele que comanda, confunde-se o exercício e a posse do poder. (GILES, 1985, p. 4).

Entende-se assim que toda a sorte do grupo estava nas mãos do seu líder que através da sua influência, do seu poder perante os outros grupos de pessoas, determinava o sucesso ou não da continuidade daquela tribo no futuro. Ao seguir seu líder, ao dar sua contribuição para

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qualquer trabalho, os integrantes de determinado grupo podiam notar que os benefícios de tal atitude eram não somente para o líder, mas também para eles mesmos.

Martins (2009, p. 11) escreve que nessas primeiras sociedades apenas permitia a sobrevivência dos mais fortes e entre estes sobreviventes, os mais diretamente ligados ao líder o sucediam. O respeito que esses liderados tinham pelo seu mestre, só poderia ser entendido, numa transferência de poder, na medida em que os novos líderes dispusessem da mesma habilidade, inteligência, força e conhecimento de seus maiores.

Uma autêntica teoria do poder parte do princípio de quem o pretende, deseja-o pdeseja-or um instintdeseja-o de sdeseja-obrevivência que repercute numa ambiçãdeseja-o sem limites pelo comando e pelo exercício do domínio, que se encontra em todas as esferas da vida humana. Encontramos tal busca do poder desde as funções mais humildes.

Apenas alguns sábios e aqueles que nutrem convicção na existência de uma vida eterna podem, pela fé e inteligência, verem-se livres da conjugação do poder, alicerçado na sobrevivência, com a ambição do homem no mundo. Em outras palavras, o poder se justifica pelo poder e não pelo dever de servir. (MARTINS, 2009, p. 12-13).

Olsson (2007, p. 52) aponta que o conceito de poder desempenha papel muito importante porque, de um lado, integra mesmo de forma implícita a base de conceitos que forma o conjunto de teorias e práticas de uma determinada sociedade, e, de outro, constitui em si mesmo um discurso que reflete e legitima as práticas sociais.

O poder concentra na sua pessoa não somente todos os instrumentos do poder, mas ainda toda a justificação da autoridade, levando em si, a título de comando, todo o poder. Esse poder normalmente está em qualidades que lhe são pessoais como sua genialidade, sua habilidade ou sua coragem, sua sorte ou a sua riqueza e constituem a base de sua dominação. “O poder é sempre reflexo e força de uma ideia ideal, mas, no caso, essa ideia ideal se simboliza em determinado indivíduo e é a vontade desse indivíduo que a realiza, a concretiza. (GILES, 1985, p. 3). Além disso,

A identificação do poder como uma categoria a ensejar uma conceituação é uma necessidade fundamental preliminar para qualquer tentativa de sua compreensão, considerando especialmente o papel desse conceito como parte de um discurso que envolve a dominação em sentido amplo na sociedade. (OLSSON, 2007, p. 44).

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Poder permanece algo indeterminado, difícil de ser definido com precisão. Quando se fala em poder, não se tem uma imagem acurada do que a palavra designa. Seu significado não se estabelece com exatidão, e vem, sempre, auxiliado por outros termos, como dominação, força, superioridade, autoridade, influência, soberania, império. (CHALITA, 2005, p. 17).

Pode-se definir o poder como uma forma de subjugar as outras pessoas. Esse domínio acarreta a submissão de pessoas perante outras e assim mantê-las controladas para interesses próprios ou para interesses de pessoas ligadas a estes.

Além disso, ainda, em referência ao poder, tem-se a seguinte observação:

O primeiro desafio que se impõe à abordagem da questão do poder é defini-lo com precisão. Delimitar seu sentido apontar-lhe as características fundamentais, demarcar precisamente o que é poder, e o que não deve ser considerado como tal. Para que se perceba a necessidade de assim proceder, basta levar em consideração a infinidade de situações do cotidiano a que aplicamos a palavra poder. (CHALITA, 2005, p. 21).

O poder, isto é, a possibilidade de encontrar obediência a uma ordem determinada, pode assentar em diferentes motivos de acatamento: pode ser condicionado apenas pela situação de interesses, portanto, por considerações teleológico-racionais das vantagens e desvantagens por parte de quem obedece. Ou, além disso, mediante o simples costume, pela habituação monótona à ação tornada familiar; ou pode ser justificado pela tendência puramente afetiva, simplesmente pessoal do governado (WEBER, 2011).

De uma forma mais simples, pode-se ter a vontade de conhecer o poder dos outros para que, dessa forma, se possa estar precavido e não correr o risco de ser surpreendido com algo desagradável ou ter esse poder para usar em benefício próprio.

Segundo Duso (2005, p. 29), o significado que embasou o uso do poder, foi a formação de diretrizes para a ação de todos os componentes de uma sociedade que se manifesta em forma de comando eficaz garantido pelo uso da força e por outro lado, pela obediência por parte de todos os que se encontram na área desse poder.

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a questão do poder [...] algo diferente da dominação, que é sempre condenável, uma força exercida sobre os outros de forma legítima. Podemos resumir assim: dominação é força ilegítima, poder é força legítima sobre os outros.

Além disso,

O uso comum do conceito de poder, em nível historiográfico, baseia-se num significado formulado na Época Moderna e que é utilizado, projetando-o no passado, para entender de forma homogênea a história do pensamento político. Ou seja, o poder é entendido como uma dimensão real que é necessária encontrar na realidade histórica, identificando as formas em que andou se determinando. (DUSO, 2005, p. 29).

Continuando as tratativas da temática, em sequência, será realizada uma abordagem referente aos tipos de poder.

1.2 Principais tipos de poder

Entre os tipos de poder tem três principais que se destacam dos demais, segundo Weber (1922). Dentre eles está o poder legal, em que a ideia principal está na criação de um estatuto imposto formalmente, no qual se poderia criar qualquer direito e da mesma forma alterá-lo.

Esse poder faz com que as pessoas obedeçam não em virtude desta, mas legitimado por um ordenamento objetivo, segundo regras pré-estabelecidas. No tipo de poder legal inclui-se, naturalmente, não só a estrutura moderna do Estado e da comunidade, mas também a relação de domínio na empresa capitalista privada, numa associação de fins ou união de qualquer espécie, que dispõe de um numeroso corpo administrativo e hierarquicamente articulado.

Esta evolução da importância da lei, como fator de geração do poder e dele inibidor, à evidência, não poucas vezes é desmentida pela prática, pois, como o poder não admite vácuo, sempre que alguns, com força suficiente, conquistam-no e verificam que podem ultrapassar os limites da lei posta, objetivando mais ação e domínio, fazem-no. (MARTINS, 2009, p. 28).

Escreve Duso (2005) que o Estado é a forma institucional de que a vontade se utiliza para limitar a escolha da multidão fazendo-a obedecer obrigatoriamente a instância da liberdade. Isso mostra uma relação de comando e obediência em que a totalidade do povo se

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institui como poder coercitivo para os membros individuais que a compõe, buscando salvaguardar a unidade e a invisibilidade da vontade, mesmo na assimetria indispensável para o funcionamento de uma relação de poder.

Ainda conforme Weber (1922), há o poder tradicional, que em virtude da fé na santidade e nos ordenamentos e dos poderes senhoriais desde sempre presentes, o tipo mais puro que é a dominação patriarcal e que segundo ele se fundamenta da seguinte maneira:

A associação de poder é a agremiação, o tipo de quem manda é o “senhor”, o corpo administrativo são “servidores”, os que obedecem são os “súditos”. Obedece-se à pessoa por força da sua dignidade própria, santificada pela tradição: por piedade. O conteúdo das ordens é vinculado pela tradição, cuja violação inconsiderada por parte do senhor poria em perigo a legitimidade do seu próprio poder que assenta apenas na sua santidade. (WEBER, 1922, p. 4).

Por fim, tem-se, conforme Weber (1922), o poder carismático, no qual as pessoas agem puramente por dedicação afetiva à pessoa do senhor e aos seus dons gratuitos (carisma), e em especial ao poder de espírito e do discurso e que ele observa da seguinte forma:

Obedece-se, com toda a exclusão, de modo puramente pessoal ao chefe por mor das suas qualidades pessoais, fora do habitual, não por causa da posição estatutária ou da dignidade tradicional. Portanto, também só enquanto estas qualidades lhe são atribuídas: o seu carisma preserva-se mediante sua demonstração. Quando ele é abandonado por seu deus, ou despojado da sua força heroica e da fé das massas na qualidade de chefia, desvanece-se seu poder. (WEBER, 1922, p. 9).

Por outro lado, Martins (2009, p. 114) diz que o poder é uma necessidade inerente ao homem que vive em sociedade, inerente a sua vocação gregária, inerente à necessidade de organização social, que evolui através dos tempos e abre espaços para regras de convívio, somente ameaçadas quando alguém do grupo tenta coercitivamente impor uma ditadura, uma vez que, muitas vezes, “O homem no poder não é confiável. Mas o homem sem poder vive pior, pois o caos é o preço de sua inexistência.” (MARTINS, 2009, p. 114).

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2 O EXERCÍCIO DO PODER NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA E SUAS FORMAS BÁSICAS DE SUSTENTAÇÃO

No início do estudo do poder, temos que nos deter nas mais variadas formas de transmissão da religiosidade, uma vez que foram as primeiras formas de se obter autoridade no seio familiar. Através do medo, retirado dos cultos religiosos os pais, e principalmente o

homem da casa, consegue o respeito necessário para se impor no seu dia a dia com segurança.

2.1 Grécia

Lima Filho (1999, p. 6), aponta que esse poder antigo teve a sua origem na família, derivando das crenças religiosas admitidas ainda na “idade primitiva”, desses povos.

“No grupo familiar a autoridade principal não pertence ao pai, mas sim à religião doméstica, a um deus que os gregos chamavam “senhor do lar”, e que entre os latinos recebe o nome de “Lar familiae pater.” (LIMA FILHO, 1999, p. 19).

Dessa forma, o poder em uma acepção genérica foi bastante associado à religião e sempre transmitido pelo homem. Assim sendo, como as normas religiosas precederam as normas jurídicas, as leis gregas permitiram ao pai o poder ilimitado que anteriormente a religião o permitia.

Segundo Coulanges (1961), citado por Lima Filho (1999, p. 26), “sacerdote no culto domestico, o pai, sacerdote do lar, não reconhece nesse culto nenhum superior hierárquico.”

Esse poder era de certa forma tão forte que sendo o pai o único liberado para ensiná-lo e exclusivamente para sua prole, era englobado por cânticos, palavras, rituais, não sendo permitido a outros deles participar.

Esta religião não podia propagar-se senão pela geração. O pai, ao dar vida ao filho, dava-lhe ao mesmo tempo sua fé, seu culto, o direito de manter o fogo sagrado, de oferecer o banquete fúnebre, de pronunciar fórmulas de orações. A geração estabelecia misterioso vínculo entre a criança que nascia para a vida e todos os deuses da família. (COULANGES, 1961, p. 53).

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Cabe salientar que essa perpetuação dos mais variados tipos de vínculos somente era admitida ser passada de pai para filho e jamais a mulher entrava nesses mistérios. Uma vez que o marido morria a esposa não poderia tomar seu lugar nessas tarefas e tampouco seu lugar nas cerimônias fúnebres.

2.1.1 O poder do rei

Conforme ensina Glotz, citado por Lima Filho (1999, p. 29),

os nobres pertencem às famílias que descendem dos deuses: são os filhos, os rebentos de Zeus. Cada um deles conserva cuidadosamente a genealogia que é causa do seu orgulho; a qualquer ensejo, desfia em tom glorioso a lista dos ascendentes que o levam até o ancestral divino.

Naqueles tempos ainda não tinham uma independência religiosa e a forma básica de governo é a monarquia. Tinham a ideia de que eram porta vozes das divindades e se baseavam na tradição do poder religioso. Porém não tinha um rei opulento e suas ações se baseavam na cooperação e eram muito pequenas as diferenças entre suas posses. Suas diferenças eram resolvidas entre eles sem ter um exército que os obrigasse a algo e eram assim inseridos em decisões politicas importantes. Para Lima Filho (1999, p. 31), “em campanha, o rei supremo reúne seus demais reis que lhe estão subordinados, da mesma forma como, em tempo de paz, os reunia em seu palácio.” Ouvia suas opiniões, mas a decisão final era tomada por ele. Porém, nem todos eram possuidores de tomar decisão.

Existia uma elite que formava a classe política e participava ativamente nas decisões do Estado a respeito dos assuntos de caráter público. O poder político era conferido apenas aos ditos cidadãos, categoria na qual se excluía mulheres, escravos, estrangeiros, menores de idade e até, numa pólis como Esparta, pessoas que não fossem membros de famílias mais ricas. (CHALITA, 2005, p. 36).

Dessa forma, ainda existia o medo que as divindades representadas pelos reis fossem causar alguma espécie de mal para suas famílias.

2.1.2 O poder na Grécia antiga, após o desaparecimento da monarquia homérica

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O estudo das instituições jurídicas e do pensamento político gregos merece mais atenção ainda que o das sociedades orientais. O pensamento grego, com efeito, exerceu uma influência inegável sobre as doutrinas jurídicas e políticas de Roma, e, para além disto, sobre as da Europa inteira.

Ainda Gaudmet (apud LIMA FILHO, 1999, p. 34) afirma que,

após o perecimento da monarquia homérica, o regime da polis não foi adotado em toda a Grécia. No norte e no oeste, manteve-se uma organização tribal (Ethnos), com vilas isoladas e locais de refúgio. Na Trácia, no Épiro e na Macedônia, o rei não era o representante da comunidade, mas titular de um poder que lhe é próprio. Terras e homens lhe pertencem.

Nessa época existiam assembleias e juízes que limitavam o poder do rei. Dessa forma, após o desaparecimento da monarquia homérica, o poder não se alastrou igualmente por todas as partes da Hélade.

“Seja como for, é possível afirmar que a forma de governo que sucedeu a monarquia homérica, foi a Oligarquia.” (LIMA FILHO, 1999, p. 35).

2.1.3 O poder na Grécia antiga, ao tempo da oligarquia

Nessa época, pode-se ter um caminho já delineado uma vez que a monarquia homérica deixara de existir.

“O que houve foi a redução da realeza à situação de magistratura. Deixou ela de ser hereditária, e foi retirada às famílias que antes tinham a investidura real. Passou a ser uma realeza anual e acessível a todas as famílias da classe dominante.” (GLOTZ apud LIMA FILHO, 1999, p. 36).

Podemos perceber dessa forma que o apego dos antigos a tradição, à religiosidade, foi o fator marcante que ainda mantinha atuante a monarquia homérica. O poder exercido pelos reis passa para os poderosos chefes dos génê. Assim, apesar de passar para essa fase, a oligarquia, ainda temos a ascendência dos mais ricos, bem nascidos, com ascendência a algum deus com a pretensão de governar. Tendo dessa forma levando um golpe em sua situação financeira e econômica, a nobreza conseguia manter o direito e o poder de ser respeitada.

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2.1.4 O poder discricionário

Os aristocratas, que tinham agora o poder de mando, era uma classe agrária, uma vez que estavam ligados à posse de terras. Sua designação de cavaleiros provinha de sua superioridade política e estava fortemente ligada a criação de cavalos, animais caros e que na época só podiam ter aqueles que eram abastados financeiramente. Ter um animal desses demonstrava poder e contava com uma superioridade psicológica muito grande frente aos que andavam a pé. Os abastados na guerra possuíam um cavalo enquanto que os mais humildes eram obrigados a lutar a pé.

Porém, nesse mesmo século, os gregos estabelecem colônias por todo o mediterrâneo florescendo a indústria e o comércio, surgindo o regime monetário e apoderando ainda mais os proprietários de rurais.

Em muitas “Poleis”, esses abastados aos poucos deixaram de ver nas terras seu principal motivo e acabaram por desviar seus interesses nos bens imobiliários.

Segundo Lima Filho (1999, p. 38), “a partir do século VII a.C., já não era somente a terra a base do poder dos nobres: era também o dinheiro. Isto permitiu uma nova classe, de uma nova categoria de ricos.”

2.1.5 Oligarquia e poder

Segundo Glotz (1988), citado por Lima Filho (1999, p. 40),

era a seguinte a diferença essencial entre a democracia e a oligarquia: numa, todos os indivíduos que compõe a nação eram cidadãos legítimos; na outra, os cidadãos legítimos, com plena capacidade jurídica, distinguiam-se dos que eram cidadãos por natureza.

Nessa época, a oligarquia compreendia um numero maior ou menor de direitos. Os privilégios, contidos nessa classe, poderia estar ligados ao nascimento, à propriedade, à riqueza e em cada cidade se manifestavam de uma maneira diferente.

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Segundo Glotz (1988), citado por Lima Filho (1999, p. 42),

nada prova que sempre tenha sido assim pelo menos na origem. Nas cidades rurais, esse gênero de oligarquia parece ter tido um caráter puramente tradicional: encontramos aí vestígios do tempo que existiam reis “mais reis” uns que outros, com a ressalva de que, desta vez, nenhum deles pode proclamar-se o mais rei de todo.

Na democracia os cidadãos tinham seus direitos legitimados, distinguindo-os dos outros que não possuíam voz para opinar.

2.1.6 As assembleias da democracia ateniense

Temos dessa forma o areópago, que consistia em um conselho dos anciãos que assessoravam o rei sendo estes considerados o mais elevado poder do governo. Somente mais tarde é que o poder desses homens foi bruscamente diminuído por obra de Efialtes, político grego que conjuntamente com Péricles comandou o movimento da democracia ateniense. O areópago teve seu poder limitado à questão relativa a homicídio voluntário.

Lima Filho (1999, p. 89) aponta que a origem do nome do “Conselho do Areópago” está ligada ao elemento religioso, uma vez que este tirou seu nome das deusas da execração.

A Eclésia, por sua vez, que não era uma instituição e sim uma reunião do povo ateniense que não tinha apenas o direito, mas o dever de comparecer nas reuniões. Era aberta a todos os membros do sexo masculino, com mais de dezoito anos e que tivessem prestado serviço militar. Criada por Sólon com o intuito de nomear e votar magistrados, contava com um presidente e secretários.

Por fim, havia outro órgão responsável por preparar os assuntos para a Eclésia. Este corpo por ser vasto necessitava de uma comissão que preparasse os assuntos que seriam deliberados no dia. Esse órgão chamava-se boulé conselho dos quinhentos.

Para a boulé eram designados 50 (cinquenta) representantes por tribo, o que perfazia 500 (quinhentos) representantes do conselho. Inicialmente, os representantes de cada uma das 10 tribos eram escolhidos mediante um sistema misto de sorteio e de eleição. Com o tempo, desapareceu a eleição, ficando o sorteio como único critério. Aliás, à medida que se consolidava a democracia, o sorteio foi se firmando como o único critério de preenchimento dos cargos públicos. (LIMA FILHO, 1999, p. 100).

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Nesse conselho eram deliberados os mais diversos tipos de assuntos que poderiam fazer parte da vida das tribos.

2.2 Roma

O mundo romano caracterizou-se pelo desenvolvimento de sua personalidade. Personalidade esta que se demonstrou pelo sacrifício pessoal em prol de um todo. A fundação da cidade de Roma, (753 a.C.), pode se dizer que foi o marco para o desenvolvimento do direito. O direito romano privado precedeu ao direito romano público onde junto com a família deu às leis à cidade.

Todo cidadão, no período inicial, era incentivado à carreira militar, com o objetivo de fortalecer o Estado, visando à conquista de outros povos por meio da luta armada. Com o mundo romano tem-se a terceira forma de realização do espírito, pois o pensamento e a reflexão elevam-se ao nível universal. Há, no mundo romano, uma submissão do indivíduo à constituição do Estado: aqui o Estado se destaca sobre os indivíduos e constitui um fim abstrato em si ao qual os indivíduos devem servir. O universal sobrepõe-se ao individuo [...] não existe aqui alegria e brincadeira, senão duro e amargo labor. (FLOREZ, 1983, p. 266).

Assim, o homem romano vê-se subjugado ao poder do império, e ao contrário do povo grego que podia se dar o direito de filosofar, aquele deveria ser prático e seguro.

Lima Filho (1999, p. 146) aponta que ao passo que o gênio grego encontrou sua manifestação maior na Filosofia, o gênio romano a encontrou no direito.

Dessa forma, no estudo das instituições romanas, iremos perceber a presença do sagrado. A propósito desse assunto, segundo Ulhoa Cintra (1970), citado por Lima Filho (1999, p. 144),

as antigas instituições romanas convergem na sacralidade e assim a imanência do sagrado-religioso e magico – no mais antigo Direito Romano, subsistindo em todas as suas instituições, como que informando-as filosoficamente, já que são matéria, - tem sido reconhecida pelos mais abalizados mestres.

Na Roma antiga, o pontífice de Roma era encarregado de verificar se o pai das famílias estava cumprindo com suas obrigações.

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Cada família tinha suas cerimônias, que lhe eram próprias, suas festas particulares, suas fórmulas de oração e seus hinos. O pai, único intérprete e pontífice dessa religião, era o único que tinha o poder de ensiná-la, e não podia fazer senão a seu filho. (COULANGES, 1961, p. 52).

Na época de Augusto e no começo da Era que nos colocamos, a vida cotidiana refletia subconscientemente essas três etapas. O chefe da casa ou “pater família” era uma espécie de rei em sua casa, tanto que, até a época de Otavio Augusto, ele tinha, embora mais nominalmente do que de fato, o poder da vida e de morte sobre toda a sua família carnal. (LIVRAGA, 2013, p. 10).

A praticidade dos romanos baseava-se em três pilares: a legislação social e individual que apontava para os direitos e deveres dos cidadãos para com o Estado, o modelo de organização política e o poder militar, responsável pela proteção dos cidadãos contra agressões externas.

Cremonese (2008, p. 90) relata que a partir destes fundamentos, o homem romano teve uma visão imperialista do mundo, tendo a cidade de Roma como centro do império, obtendo assim importância decisiva para a manutenção do seu poder, uma vez que perdurou vários séculos.

Orientados mais para a vida prática, os romanos não se favoreciam com a reflexão filosófica, mas sim, com a ideia de estrutura de governo e estrutura jurídica.

Para os romanos, o Estado é um organismo necessário e vital à vida social; portanto, não anula o indivíduo, segundo o entendimento da teoria platônica. No Estado não se reconhece o direito à rebelião aos poderes públicos, porque a relação dos indivíduos com o Estado está fundada num “contrato” em que a delegação dirige o governo do Estado. Os romanos entendem a lei como um pacto dos órgãos constitutivos do Estado. (CREMONESE, 2008, p. 91).

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Mapa do Império Romano no tempo de Cristo (disponível em www.pilb.t5.com.br/mapas)

2.2.1 O senso jurídico dos romanos

O magnífico senso jurídico dos romanos, voltado para sua própria existência, foi usado para sua habilidade política e dessa forma sendo a responsável pela unificação da Itália e também pelo seu império mundial.

Mas após as Guerras Púnicas, este quadro mudou, uma vez que o cosmopolitismo e o individualismo passaram a se destacar tirando a republica de sua evidencia. Devido às expansões de Roma e os diferentes povos que entraram em contato com os romanos fez com que houvesse uma mudança na política. Nos 12 séculos de existência do Direito Romano, ele não permaneceu imutável, pelo contrário, sofreu contínuas e sucessivas modificações em função do tempo e dos interesses da “classe dominante”, que se revezava no poder. O Direito Romano também não era o mesmo das diferentes regiões do Império. Sem contar também que as lutas sociais contribuíram para as modificações profundas no Direito privado. Em função dessas modificações políticas, o Direito Romano pode ser dividido nos seguintes períodos: Realeza (754 a.C. a 510 a.C.); República no Alto Império (510 a.C. a 27 a.C.); Principado no Baixo Império (27 a.C. a 284 d.C.) e Dominato (284 a.C. a 564 d.C.). O Direito Romano formado nesses 12 séculos pode ser dividido em: Jus publicum (público) e privatum (privado). O Jus privado divide-se em jus civile (Direito Civil), jus naturale

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(Direito Natural) e jus gentium (Direito dos Povos). (CREMONESE, 2008, p. 92).

Ainda, Cremonese (2008, p. 92) diz que os exércitos formados por tropas mercenárias ou próprios, eram os mais bem treinados e preparados. Do poder do exército romano emergiu o grande Império Romano. Mais tarde, no entanto, as tropas mercenárias acabaram se rebelando contra o próprio Império.

2.2.2 A passagem da Monarquia a Republica e o surgimento da Ditadura

Tudo indica que a monarquia não foi retirada de repente. Conjuntamente com o rei teriam sido criadas algumas magistraturas que aos poucos foram absorvendo os poderes do monarca. Funções políticas e militares retiradas do rei o reduziram a uma simples posição figurativa, inócua, mas ainda respeitável.

Segundo Bessa e Pinto (2009, p. 34), o senado, constituído por cerca de 300 elementos recrutados entre os antigos magistrados, era a sede do poder político.

Os primórdios de Roma dão a imagem de uma sociedade hierarquizada e integrada, cujas instituições funcionam sem grandes bloqueios internos ou crises, escoradas nos valores da religião e do direito, que são as pedras basilares da organização estatal. (BESSA; PINTO, 2009, p. 35).

Dessa forma, o direito, a soberania das leis, representa na construção do sistema jurídico o equilíbrio entre as forças sociais e as lutas assumem caráter de luta pelos direitos ligados a acontecimentos da vida politica.

Mas a crise na República veio com o abandono dos pequenos e médios produtores que provocaram uma profunda sangria na população que abandonou a propriedade agrícola para fazer frente ao exército na conquista de novos territórios.

Bessa e Pinto (2009, p. 36) apontam o fornecimento de guerra, as conquistas de novos espaços, o desenvolvimento econômico, o abastecimento das cidades, fatores que criam uma classe de plebeus enriquecidos cuja importância politica não acompanhou o poder econômico.

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a passagem da Monarquia para a República, se caracteriza pelo fato de que, no lugar do “Rex”, há dois cônsules. Entretanto [...] o fato de que, no início, o magistrado que substituiu o Rei fosse chamado, não de Consul, mas de Pretor (o que vai à frente), indica a função militar, com tudo aquilo que o

comando do exército implica, ligada ao “imperium” ilimitado, que já era

próprio do Rex, e ao poder de vida e de morte, simbolizado pelos machados e fáscios, carregados pelos litores.

Além disso,

Também entre a nobreza senatorial, o surto de riqueza e a passagem de classe dirigente de uma sociedade patriarcal a agrícola a classe dirigente de um império político-militar e econômico provoca transformações nos costumes, com a perda da sobriedade e austeridade tradicionais e a substituição do espírito de serviço pelo espírito de lucro. Ao mesmo tempo, os valores religiosos sofreram alterações: entre os grandes desenvolve-se o cepticismo; entre o povo introduzem-se divindades estranhas de origem asiática, cultos bem distintos dos arquétipos e heróis que tinham feito a grandeza de Roma. (BESSA; PINTO, 2009, p. 36).

Nesse quadro, temos o aparecimento de violentas lutas sociais, com a perda do equilíbrio que antes se tinha na sociedade romana. Os senadores já defendem seus interesses, sem olhar a forma de conseguir os resultados esperados. Os combatentes desmobilizados, que antes eram os orgulhosos agricultores-soldados defendem Roma, não passando agora de meros proletários.

Bessa e Pinto (2009) mostra que destruída assim a classe média, o choque dá-se entre uma minoria de patrícios e grandes proprietários fundiários, gente que não tem nada a perder e são também selecionados pela nova classe dos cavaleiros e elementos patrícios que intentam conquistar e reformar o Estado.

Um exemplo disso foi a aliança formada por Gracos, Tibério e Caio, que em certo momento se uniram para obter um poder maior perante o Senado, impondo através de reforma agrária a reestruturação do sistema econômico e com isso a sua participação no poder político.

Pode-se ver assim que a estrutura primeira de Roma, assentada na representação do povo estava ligada à organização militar. Os detentores do poder militar em Roma (imperium), conquistaram, assim, o topo da hierarquia das magistraturas, revelando uma forma de poder que as conquistas seguintes iriam demonstrar.

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Bessa e Pinto (2009) aponta que o senado, ao chamar o cônsul Opimius para salvar a república, restabelecendo a lei e a ordem dentro da cidade, em 121 a.C., ou os oligarcas da finança ao promoverem um soldado profissional das guerras da Europa e de África, Mário (157-86 a.C.), a candidato popular, abrem as portas ao Golpe de Estado permanente, à incerteza que representava para a república, na ausência de respeito pela religião e pelas leis, de poder arbitral, a existência de chefes militares audaciosos, que se assenhoreiam do poder pela ultima ratio das legiões 1. (1 Mário (Gaius Marius, 157-86 a.C.) transformou o exército de cidadãos em exercito profissional de voluntários contratados por longa duração, incluindo proletários, ficando estes militares dependentes, em ultima instancia, do sucesso político dos seus chefes.)

É este o caso de Sila – Lucius Cornelius Sulla (138-78 a.C.) -, companheiro e depois rival de Mário. Sila é um general da velha aristocracia, que liderando os optimates aparece para restabelecer a ordem depois das guerras sociais de que triunfou, esmagando os partidários de Mário e as etnias italianas que se lhe opuseram na península Itálica, o que o constituiu como o único senhor de Itália. Nomeou-se ditador, legislou e distribuiu terras dos inimigos aos seus veteranos, mas na sua ação política procurou restaurar e reforçar a autoridade do Senado, retirando-se depois para a vida privada, não sem deixar estabelecidos, na lex de império de 82 a.C., os princípios do poder arbitral da ditadura, que une o imperium militar à auctoritas civil e que será poucos decénios depois a base do principado. (BESSA; PINTO, 2009, p. 38, grifo do autor).

Agora as guerras não eram mais eventos esporádicos que os soldados poderiam concomitantemente compartilhar com suas atividades agrícolas. Era necessário que o exército se profissionalizasse para poder pagar e tornar esses homens exclusivos da organização militar. Foi decretada dessa forma o fim da república.

2.2.3 Principado e Império

Talvez o mais ardente defensor e também o mais atacado proposto a transformar Roma em um império foi Júlio César. Caio Júlio César, que até mesmo pelos imperadores da Alemanha foi chamado de kaiser e da Rússia de czar, e que assim lhe assegura a mais de dois mil anos. Pessoa que pertence tanto à História quanto à lenda, ao mito e à realidade.

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Neves (2013) mostra que Júlio César através de suas origens podia invocar os costumes e a virtude dos antepassados sobre os quais repousava a estabilidade do poder romano e de seu senado, e aspirar a exercer os cargos de honra para culminar no supremo poder de cônsul.

Mas em 49 a.C., usando sua intuição política e a vontade de por fim a um sistema de governo que já não mais servia aos anseios sociais, Júlio César usa da força de sua espada contra as leis de Roma e deste modo a conquista.

Bessa e Pinto (2009) mostra que o grande erro dos traidores republicanos de 44 a.C., que assassinaram o “tirano” foi não perceber esta situação. César fizera escola e os seus lugares-tenentes não deixariam escapar a oportunidade.

O seu sobrinho-neto, Octávio (63 a.C. – 14 d.C.), filho de um senador e pretor, casado com uma sobrinha de Júlio César e adotado por ele no seu testamento, acabará por levar a cabo a transformação-chave da História de Roma, que consiste na instituição do principado. (BESSA; PINTO, 2009, p. 38, grifo do autor).

Partindo do poder armado das legiões, vencendo militarmente os ultras da república e depois os seus rivais no triunvirato, Marco António e Lépido, Octávio “não se limita a gerir um estado de exceção, mas cria uma nova concepção institucional que impõe e dota de suportes jurídico-administrativos.” (BESSA; PINTO, 2009, p. 39).

Octávio faz isso de maneira sutil, sem romper com a legalidade antiga. Em 27 a.C., Octávio tenta devolver ao senado seus poderes o que não é aceito. Dessa forma acaba ganhando cada vez mais poderes chegando a pontifex maximus, isto é, supremo chefe religioso.

Nestes poderes que lhe foram dados ao longo do tempo, estão contidas as faculdades políticas essenciais, soberanas – o direito de paz e da guerra, cunhagem de moedas, a administração da justiça em última instância, a marcação e indicação para os altos cargos administrativos (BESSA;PINTO, 2009).

Apesar de ainda existirem formalmente as instituições republicanas como o Senado e os comícios populares, cuja importância vai diminuindo ao longo dos tempos, são mantidos nos períodos de crise do poder imperial sendo ainda reivindicados pelos senadores.

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A natureza do principado é hibrida e complexa. Não é uma monarquia [...] não é também uma tirania – Augusto assume seus poderes dentro da legalidade anteriormente vigente. Nem convinha o conceito de ditadura, quer no sentido clássico – a ditadura em Roma é uma magistratura extraordinária prevista na lei, sendo o ditador nomeado pelos cônsules a pedido do Senado, com o fim exclusivo de eliminar uma situação interna ou externa de grave perigo para a República – quer em sentido moderno, pois o poder de Augusto constitui-se legalmente e o imperium ou poder militar não é único sustentáculo da sua auctoritas, se bem que historicamente lhe possa estar na base. (BESSA; PINTO, 2009, p. 40, grifo do autor).

Todo o problema da institucionalização de um poder novo passa pela sucessão, ou seja, pela transmissão do poder de uma pessoa para outra, e os poderes de Augusto eram pessoais e intransmissíveis a não ser por golpe de estado. (BESSA; PINTO, 2009).

A tática usada por Augusto e seus seguidores era de ainda em vida, associá-los ao poder para que com isso fizessem parte logo do seu governo. Dessa forma Augusto poderia constitucionalmente eleger seu sucessor.

Contudo, fundamentando a diarquia formal, no início de cada novo principado um senatus consultus (lei proposta e aprovada pelo Senado) fazia uma atribuição de poderes descriminados ao princeps. Esta autêntica lei fundamental, conhecida como lex de império, salvaguardava a continuidade republicana, pelo menos quanto a origem do poder. (BESSA; PINTO, 2009).

2.2.4 Pretorianismo e decadência

O principado se prolonga por quase três séculos dentro do sistema de transmissão do poder. O final do século II marca o prenúncio de grande crise politico-militar que acabará com o império. Em 193, os pretorianos, guarda do palácio e do imperador, constituída por legionários da província da Itália, aquartelados em Roma e gozando de grandes vantagens assassinam Pertinax, que procurava reestabelecer a disciplina nas fileiras e reduzir o soldo dos militares (BESSA; PINTO, 2009).

Assim os pretorianos se revoltam e acabam dando o poder a quem mais pagasse, sendo que o vencedor foi Dídio Juliano. Nesta época, o império entra numa época de convulsão interna acompanhada de ameaças externas. O poder vai estar à mercê da força de cada

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candidato, baseados nos golpes apoiados pelos pretorianos, ou nos poderosos exércitos das fronteiras (BESSA; PINTO, 2009).

Após Diocleciano I, os imperadores passaram a dividir o império tanto no Oriente/Ocidente como na divisão Norte/Sul. Cada imperador, (Augusto), tem consigo um lugar-tenente que ostenta o título de César e compartilha com ele a dignidade e o poder imperial. Assim é instituída a tetrarquia imperial. (BESSA; PINTO, 2009).

Depois da grande crise e da restauração constantiniana, que temporariamente reconstituiu a unidade imperial e fixou a capital em Bizâncio, o império romano afunda-se na anarquia. Foi um tempo de imperadores fracos, dominados por prefeitos do palácio ou favoritos – de que só os chamados imperadores ilírios, militares de alta craveira profissional e administrativa constituem exceção – e influenciados por intrigas de corte e de eunucos e revoluções palacianas. (BESSA; PINTO, 2009, p. 43).

Oficialmente costuma-se datar o fim do império romano do Ocidente e o surgimento da Idade Média de 476, mas na verdade o império já havia acabado muito tempo antes. O exército era formado por pessoas não profissionais e depois de passado o tempo de guerra voltava para seus afazeres normais.

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3 O EXERCÍCIO DO PODER NA IDADE MÉDIA E SUAS FORMAS BÁSICAS DE SUSTENTAÇÃO

Com o Édito de Milão (313), abrindo uma nova fase para o cristianismo, dando liberdade para os cristãos abrir uma nova etapa e outra já em via de extinção, o império romano, cria-se uma aliança entre o poder espiritual e o poder temporal.

3.1 O poder religioso

Antigamente o culto aos mortos, o respeito que lhes era devido, fez surgir um sentimento de medo, esse que por sua vez fez surgir o sentimento religioso. Dessa forma o homem passou a cultuar um único deus e passaram a temer essa divindade.

O homem primitivo dependia basicamente da natureza: da chuva, no tempo certo, para o plantio, do calor do sol para o inverno mais rigoroso, e no seu entendimento, esses fenômenos deveriam acontecer através de determinados ritos que eram concedidos por divindades por eles cultuadas (SOUZA NETTO, 2008).

O temor de que o esperado pudesse não acontecer determinou o medo que o divino incitava sobre os antigos. Tudo que era estranho ou desconhecido e passava insegurança ao primitivo estava ligado a um poder maligno que deveria ser acalmado através de rituais.

E com essa finalidade surgiu a primeira categoria dos detentores do poder: os feiticeiros, bruxos, exorcistas, adivinhos e magos, criadores de sortilégios e encantamentos destinados a aplacar os espíritos maléficos; suas ordens deveriam ser cumpridas se o bem fosse para ser obtido ou o mal para ser evitado. (SOUZA NETTO, 2008, p. 25).

Durante o período medieval, a Igreja Cristã tornou-se a maior instituição feudal do Ocidente Europeu. Sua incalculável riqueza, organização hierárquica permitiram obter uma hegemonia ideológica e cultural na época (VICENTINO, 1997).

Atuando em todos os níveis da vida social, a Igreja estabeleceu normas, orientou comportamentos e incutiu no homem medieval a cultura religiosa, forjando a mentalidade da

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época e justificando os privilégios oferecidos em troca do paraíso celestial (VICENTINO, 1997).

Diante desse poder, a Igreja encontrou justificativas para várias ações realizadas, como as cruzadas, que não se tratavam somente de luta religiosa e sim de interesses políticos e materiais (VICENTINO, 1997).

Mas nem sempre foi assim, uma vez que o império romano intolerante frente à religiosidade dos povos por ele subjugado acabava impondo sua forma de ver essas divindades dando lugar em seus altares de uma nova forma.

3.2 O poder temporal

Após Jesus Cristo mudar o nome do pescador Simão para Pedro e simbolicamente lhe deu as chaves do reino de Deus, a religião passou a exercer um poder que mudaria o rumo da história. Considerados perigosos pelos imperadores romanos, os seguidores do cristianismo foram obrigados a se esconder, reunindo-se em lugares secretos para poder manter viva essa tradição.

A ruralização da economia medieval levou a Igreja ao campo. Bispos e abades se transformaram em senhores feudais. A Igreja também tinha o monopólio da cultura, pois saber ler e escrever era privilégio de bispos, padres, abades, monges. Os membros do clero passaram a participar da administração pública, e a Igreja ocupou lugar de grande importância na sociedade. (ARRUDA; PILETTI, 1995, p. 94).

As perseguições contra os cristãos foram essencialmente por motivos político-sociais: considerados inimigos do Estado, os seguidores da religião de Cristo eram sujeitos ao rigor da lei, devido à sua relutância em venerar a divindade imperial, integrar-se nos usos e costumes vigentes e de aceitar plenamente as instituições (BESSA; PINTO, 2009).

“É de notar que os imperadores do século II, como Trajano e Marco Aurélio, tidos como homens equilibrados e de bom governo, também perseguiram ativamente a nova fé cristã.” (BESSA; PINTO, 2009, p. 47).

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Entretanto, o corpus da primitiva doutrina cristã – Evangelhos, Atos dos

Apóstolos, Epístolas e Apocalipse de São João – não parecia inclinar-se para

a contestação do poder civil. Na célebre passagem em que, respondendo a uma pergunta que o procurava comprometer politicamente, Cristo, definindo o princípio, “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, instituía uma regra de não interferência nos negócios temporais a que não menos celebre afirmação “o meu Reino não é deste mundo” podia servir de complemento. (BESSA; PINTO, 2009, p. 48, grifo do autor).

O próprio São Paulo, em suas epístolas já advertia seus seguidores sobre o poder dos magistrados da época e recomendava que fossem seguidos e obedecidos, afinal a autoridade deles era autorizada por Deus e dessa forma quem os contrariasse poderia sofrer as consequências disso, chamando a condenação para si. Esses textos sobre obediência e bondade da ordem estabelecida são a chave da edificação cristã sobre o poder.

Tertuliano (importante autor cristão nascido em 155 d.C. e autor de Apologias) encarna esta corrente. Apesar de aconselhar, na linha de São Paulo, <<respeitemos nos imperadores o juízo de Deus, que os estabeleceu para governar os povos>>, marca um antagonismo original entre o reino de um César não cristão (que pode, até como instrumento de punição, ser obra de Deus) e o reino de Deus. Na luta entre o bem e o mal, a luz e as trevas, o império aproxima-se mais das segundas, e como <<ninguém pode servir ao mesmo tempo a dois senhores>>, o cristão deve optar. Como corolário deste princípio, Tertuliano, que aconselhava o pagamento do tributo fiscal, manifestar-se-ia contrário à prestação do serviço militar e ao exercício de cargos públicos pelos cristãos no Império. (BESSA; PINTO, 2009, p. 49).

Bessa e Pinto (2009, p. 49) dizem que quando Santo Ambrósio afirma que “o imperador está na Igreja, mas não sobre a Igreja”, exprime precisamente esta concepção, este auxílio mútuo e colaboração entre os dois poderes que ao mesmo tempo estão em paridade e se complementando.

Mas não irá ser sempre assim, uma vez que a Igreja detendo o poder espiritual passará a “atacar” a política, visando o poder temporal. A Igreja em um primeiro momento tentou firmar sua supremacia eclesiástica para assegurar o cristianismo. Após se aproximou do poder politico para expandir sua atuação e poder de influência. Em uma terceira etapa se separou e passou a dirigir espiritualmente e também politicamente. Chamou-se isso de Teocracia.

É importante recordar que do ponto de vista histórico, foi em 315 d.C., na chamada “primeira Idade Média”, que o imperador romano Constantino I se converteu ao Cristianismo. Num primeiro momento, o imperador assegurou a liberdade religiosa aos cristãos. A seguir, em 385, o imperador Teodósio I privilegiou a religião cristã ao fazer do Cristianismo a religião oficial do

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Império e excluindo as outras religiões, muito numerosas no sincretista Império Romano. Ademais, é relevante observar que a Igreja foi a única instituição que se manteve coesa e, sobretudo, operou a aproximação entre a “civilização romana” e os povos germanos, que no V século haviam invadido, conquistado e dividido o Império; ou seja, a Igreja serviu como “ponto de entre os povos”. (HILÁRIO JR, 1986, p. 108).

A organização eclesiástica da Igreja torna-se cada vez mais clara e precisa, e no século IV foi determinado que somente os homens livres pudessem ingressar no clero e proibido o ingresso de homens laicos para o episcopado (HILÁRIO JR, 1986).

Com o pleno desenvolvimento e triunfo da Igreja, e com a fusão entre a Igreja e o Estado, o papado – sumo pontífice – tornou-se um poder teocrático total. Passou a defender a tese da plenitude do poder pontifício. Significando esse poder pleno – plenitudo potestatis – uma soberania total: na ordem espiritual e na ordem temporal (HILÁRIO JR, 1986).

“O papa, sendo a cabeça da Igreja, era representante de Deus na terra e tinha suficiente poder para desafiar reis e imperadores.” (BACAN, 2007, p. 7).

Skinner (1996, p. 40) afirma que os dirigentes eclesiásticos se equivocaram completamente quanto à natureza da Igreja, ao supor que fosse ela uma instituição capaz de exercer qualquer tipo de poder legal, político ou alguma outra espécie de jurisdição coercitiva.

Segundo Marsílio (1987), citado por Skinner (1996, p. 42), “qualquer tentativa de estabelecer um tipo de poder legal, político ou coercitivo, por parte dos dirigentes eclesiásticos, iria completamente contra os ensinamentos de Cristo.”

Esse poder vai de encontro com o cristianismo uma vez que os ensinamentos de Cristo são ensinamentos de liberdade e jamais de opressão. Cristo fundou a Igreja para o benefício dos súditos e não pela gloria do papa. O próprio Cristo não quis este poder e preferiu servir de que ser servido, mesmo tendo chance de se tornar muito poderoso.

“Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja [...]. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus, e tudo quanto [quodcunque] ligares na terra, será ligado nos Céus e tudo quanto desligares na terra, será desligado nos Céus” (Mat., 16,18-19).

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Nesta passagem do evangelista S.Mateus está contida a chave do poder papal, aquilo que permitirá aos sucessores de S.Pedro erigirem-se em poder arbitral acima da comunidade dos Estados cristãos, resolver litígios entre os soberanos, depor os reis e grandes senhores e investir outros nos seus domínios, criando uma construção jurídico-política de longa duração a

Respublica Christiana. (BESSA; PINTO, 2009, p. 55, grifo do autor). Ao se converterem ao cristianismo, os imperadores romanos abdicaram da sua condição de divindades reinantes para passarem a serem reis pela graça de Deus, entrando na alçada do poder papal, pois é o papa que representa Deus na Terra, aquele que possui o poder de ligar e desligar (BESSA; PINTO, 2009).

Por outro lado, a Igreja herdara de Roma a concepção eminentemente jurídica do poder e da sociedade. O poder- religioso ou político – traduz-se em leis, normas de comportamento impostas coactivamente e que constituem o Direito. O poder político é também o poder de ditar ou criar as leis que vão regular a vida pública e privada das coletividades e dos indivíduos. (BESSA; PINTO, 2009, p. 57).

Dessa forma, falando sobre o poder constata-se que:

a monarquia pontifical se fortalecia uma vez que eleitos pelo povo e pelo clero, bispos e arcebispos passaram a ter os seus nomes confirmados em Roma. A administração ficou complexa e o papado criou a Cúria Romana, onde os membros mais importantes eram os cardeais.

3.2.1 A formação do Sacro Império

A relação entre a Igreja e o Estado começa no fim do Império Romano. Dessa forma a Igreja tinha a proteção do Império e o imperador, a honra de eleger o papa.

Arruda e Piletti (1995, p. 95) apontam que o domínio político sobre a Igreja continuou durante o Reino Franco, cujos imperadores para obter vantagens mantinham a proteção.

Em 936, começou o reinado de Oton I. Sua vitória sobre os húngaros em 955 trouxe-lhe enorme prestígio, e o papa João XII, a quem ele protegia, deu-lhe a sagração imperial em 962. Nascia assim o Sacro Império Romano-Germânico, que duraria quase um milênio, até 1806. Oton I passou a intervir na Igreja, para controlar os grão-duques. Fundou bispados e abadias, e seus titulares recebiam dele tanto o poder religioso (anel e cruz) quanto o político

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[báculo, o instrumento que lembra o cajado de São Pedro e simboliza o poder temporal do bispo sobre os fiéis]. (ARRUDA; PILETTI, 1995, p. 95).

Entretanto, ao admitir essas condições, o rei deveria suportar todas as consequências. A graça tem sentido de concessão, de favor, de quem recebe. Logo qualquer coisa pode ser retirada pelo papa que tem o poder de Deus na Terra e o poder de ligar e desligar.

Por outro lado, a Igreja herdara de Roma a concepção eminentemente jurídica do poder e da sociedade. O poder – religioso ou político- traduz-se em leis, normas de comportamento impostas coercitivamente e que constituem o Direito. O poder político é também o poder de ditar ou criar as leis que vão regular a vida pública e privada das coletividades e dos indivíduos. (BESSA; PINTO, 2009, p. 57).

Segundo esse mesmo autor:

A concepção dominante na sociedade medieval a tal respeito era, a usar uma terminologia consagrada, a concepção descendente, segundo a qual a autoridade governamental e a competência para a criação jurídica provêm (ou descem) de um órgão supremo; o poder distribui-se de cima para baixo, como numa pirâmide em que o vértice constitui a fonte de irradiação para a base e qualquer poder ou competência inferiores são legitimados por delegação superior. (BESSA; PINTO, 2009, p. 57).

Ao contrário, na concepção ascendente, origem do poder localiza-se na comunidade ou conjunto ordenado de todos os cidadãos, o populus, que o transmitem, atribuem ou delegam aos governantes (BESSA; PINTO, 2009).

Assim na sociedade medieval impera até quase seu fim, a concepção descendente. A fonte maior é Deus, na Terra o Papa. Os reis tem assim seu poder transmitido na Terra por Deus, representado pelo Papa.

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4 O EXERCÍCIO DO PODER NO PÓS-MEDIEVAL E SUAS FORMAS BÁSICAS DE SUSTENTAÇÃO

Com o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna podemos notar uma dissolução do mundo medieval. Essa desunião progressiva é notada em diversas fases da realidade social. Notamos a falência da economia feudal e o renascimento do comércio que fará despertar as grandes navegações. No lado social podemos ver o declínio da nobreza feudal e o surgimento de uma casta de mercadores. Na política ocorre paulatinamente a centralização do poder nas mãos dos reis que aliados aos mercadores vão sujeitando a nobreza e a Igreja aos seus poderes. Na religião ocorre o declínio da Igreja e uma série de revoltas que acabarão na Reforma Protestante.

4.1 Idade moderna

A condição básica para a formação das monarquias foi a crise do feudalismo que enfraqueceu o poder local, abrindo espaço para a ação dos reis.

Um aspecto importante foram as condições desfavoráveis do século XIV, por exemplo, quando a peste matou quase metade da população europeia, a opressão sobre os servos por falta de mão de obra, as revoltas camponesas e a nobreza se socorrendo nos reis contra as massas, contribuindo para a centralização do poder (ARRUDA; PILETTI, 1995).

O panorama anterior ao nascimento do Estado moderno refletia um período permeado por instabilidade política, lutas sociais, conflitos entre Sacro Império Romano-Germânico e a Igreja Católica, guerras internas e externas (estas ligadas às invasões bárbaras) que geravam dificuldade de desenvolver o comércio, sujeição e submissão da camada mais pobre da população aos senhores feudais, e múltiplos centros de poder. (DALLARI, 1998, p. 67). O poder do rei tornou-se nacional quando se estendeu sobre toda a nação, definida durante a Idade Média como unidade linguística, religiosa, cultural e histórica, com base num território. Para tanto, o poder real precisava superar poderes sobreviventes da Idade Média: o particularismo, o poder local, individual, exercido pelos senhores ou pelas cidades; e o universalismo, o poder do papado e do Sacro Império. (ARRUDA; PILETTI, 1995, p. 130).

O desenvolvimento comercial e urbano também favorecia a centralização. A nova classe social ligada ao comércio tinha interesses econômicos na

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moedas, leis, enfim, condições para a conquista do mercado internacional. Para a burguesia, centralização do poder era um meio de atingir a unificação. Mais razões teve a burguesia de abrir mão de seus privilégios em favor do rei quando, com a crise de retração do século XIV, a pequena burguesia dos artesãos passou a contestar o próprio poder burguês nas cidades. (ARRUDA; PILETTI, 1995, p. 130, grifo do autor).

Assim, o movimento político no Ocidente Europeu encaminha-se decididamente para a centralização do poder. A idade Média fora o apogeu da fragmentação administrativa, dos privilégios e das diferenças de estatuto. Uma complicada teia de legislações particulares, de direitos adquiridos, às vezes por práticas ou costumes imemoriais, suportava o poder de numerosas instituições menores frente ao poder real.

Eram os mosteiros, as aldeias, os feudos, as comunas e burgos, com foros e jurisdições variadas. O poder político-administrativo achava-se fragmentado, o que até poderia parecer um paradoxo numa sociedade tão hierarquizada e unitária do ponto de vista de concepções doutrinárias, religiosas e políticas. (BESSA; PINTO, 2009, p. 66).

“O quadro era de insegurança permanente, que só gerava prejuízo para a vida econômica e social.” (DALLARI, 1998, p. 70).

Arruda e Piletti (1995, p. 130) aponta como um aspecto importante a crise de crescimento do século XIV que só poderia ser resolvida com a incorporação de novos mercados e novas rotas; e somente o rei, reunindo recursos de toda a nação, poderia bancar empreendimentos grandiosos como a expansão comercial marítima, vital para uma obtenção maior do poder.

Outras condições complementares podem ser lembradas: a tradição de hereditariedade do poder real, consolidada na Idade Média; o movimento universitário, que criou um corpo de legistas capazes de legitimar o poder real; o desenvolvimento do individualismo com o Renascimento, que criou a imagem de um rei representante e protetor da nação: o rei encarnava o ideal nacional. (ARRUDA; PILETTI, 1995, p. 130).

Na verdade fora a própria Igreja que dera o exemplo de centralização do poder uma vez que passou por cima da democracia da época medieval, sem dar qualquer tipo de chance a direitos e cargos exercidos pelo Estado.

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4.1.1 Mecanismos de centralização

Eram necessário força, tributos e a justiça e administração para ter em mãos o monopólio do poder. Com o apoio dos habitantes dos domínios reais e da burguesia, foi possível organizar forças militares mercenárias formando assim um novo quadro militar.

Tendo a força o rei pode cobrar mais tributos, aumentando o número de contribuintes, especialmente camponeses e artesãos, que não tinham os mesmos interesses da burguesia na centralização. Nobreza, clero e altos funcionários estavam isentos de impostos (ARRUDA; PILETTI, 1995).

A força possibilitou a expansão dos domínios reais pela eliminação progressiva do poder dos nobres, especialmente da grande nobreza, ainda poderosa, resistente à centralização. Nas terras que dominava, o rei organizava a administração, da qual encarregava funcionários seus. Estes cobravam impostos e distribuíam justiça com base em códigos escritos, em substituição às leis feudais costumeiras.

Foi um notável avanço na racionalização do Estado, marcando o nascimento da moderna burocracia. A corte do rei transformou-se numa corte suprema de justiça da nação. (ARRUDA; PILETTI, 1995, p. 130, grifo do autor).

Com isso, toda a carga de impostos caiu sobre os ombros dos quem menos tinham, justamente para beneficiar os amigos do rei. Disso tudo muito pouco se revertia em benefício daqueles que justamente mais trabalhavam e sofriam com a desigualdade.

4.1.2 O Absolutismo

Com o desenvolvimento do comércio houve o choque das classes dos mercadores e dos artesãos contra as cidades localizadas no interior dos feudos. Na maioria das vezes estas cidades contaram com o apoio do rei.

Com isso ocorreu o absolutismo, que foi a concentração de poder nas mãos dos reis e segundo alguns teóricos da Idade Moderna, como Grotius e Hobbes, a teoria medieval do direito divino dos reis, como forma de legitimação do poder absolutista. Através dessa teoria, o rei recebe o poder de Deus e é apenas a ele que presta conta frente ao Estado.

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Segundo Hobbes, citado por Corrêa (2010, p. 295) esse poder absoluto de um monarca ou de uma assembleia deve ater-se à função que lhe foi confiada pela lei da natureza: cuidar da segurança do povo. No raciocínio hobbesiano o Estado, como ente artificial posto por cidadãos livres e iguais, surge como solução para a insegurança social, sendo que o excesso de poder é menos temido do que a escassez de poder.

O Leviatã contempla conceitos que até então não haviam entrado em cena: vislumbra o monopólio da força utilizada pelo Estado, a soberania centralizada, a supremacia dos territórios nacionais. Em sua teoria, Hobbes se opõe à visão aristotélica, afirmando que o homem está em estado de natureza, em que “o homem é lobo do homem”, que, por natureza, se encontra em estado de guerra, que a luta é de todos contra todos e que, por meio de um pacto ou contrato social, estrutura-se o Estado (artificial), um Estado com organização, regras, leis e que forma uma sociedade. (CREMONESE, 2008, p. 133).

Pertence à soberania todo o poder de prescrever as regras através das quais todo homem pode saber quais os bens de que pode gozar, e quais as ações que pode praticar, sem ser molestado por nenhum de seus cidadãos: é a isto que os homens chamam propriedade. Porque antes da constituição do poder soberano, todos os homens tinham direito a todas as coisas, o que necessariamente provocava a guerra. (HOBBES, 1997, p. 148).

O governo deveria ter pulso de ferro para segurar qualquer que fosse o tipo de insurgência contra o Estado e dessa forma controlar com autoritarismo todos seus cidadãos.

4.1.3 O apogeu do Absolutismo

Segundo BESSA e PINTO (2009) um poder tem sempre por concorrente outro poder; geralmente o mais próximo e forte no quadro da sociedade política. Passadas definitivamente as pretensões temporais da Igreja, com um terceiro estado obediente e uma burguesia comercial e letrada afeta à coroa, só a nobreza constituía o estrato capaz de contestar o poder do soberano.

“A lição parece ter sido clara. Um poder arbitral tem de velar para que nunca se dê a concentração nas mesmas pessoas ou grupos das diversas espécies de poder social – econômico, militar, ideológico, político.” (BESSA; PINTO, 2009, p. 86).

Referências

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