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Comentários à Lei Maria da Penha

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Academic year: 2021

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

MATHEUS LUIS DIETTRICH

COMENTÁRIOS À LEI MARIA DA PENHA

Ijuí (RS) 2017

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MATHEUS LUIS DIETTRICH

COMENTÁRIOS À LEI MARIA DA PENHA

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia. UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientadora:MSc. Márcia Cristina de Oliveira

Ijuí(RS) 2017

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Dedico este trabalho aqueles que estiveram ao meu lado e que de alguma forma me auxiliaram nesta jornada!!!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente а Deus, poissеm ele еunãо teria forças pаrа essa longa jornada.

À professora Marcia Cristina de Oliveira pela paciência, dedicação e incentivo nа orientação, quе tornaram possível а conclusão desta monografia.

Аоs meus pais e irmão, е a toda minha família que, cоm muito carinho е apoio, nãо mediram esforços para quееu chegasse аté esta etapa dе minha vida.

Аоs amigos е colegas e colegas de profissão pelo incentivo е pelos apoios constantes prestados.

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“O Guerreiro não pode ter a certeza da vitória, mas pode garantir força máxima na batalha”.

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz comentários pontuais referentes à Lei Maria da Penha. Visa discutir a temática acerca da proteção da mulher vítima de violência doméstica, os casos de reincidências, medidas alternativas nas soluções dos conflitos no âmbito doméstico. A incidência da lei e a penalização do agressor para que não volte a reincidir.

Palavras-Chave: Jurisprudências, Lei Maria da Penha, Medidas Alternativas, Reincidência.

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ABSTRACT

The present work of monographic research makes specific comments regarding the Maria da Penha Law. It aims to discuss the theme of protection of women victims of domestic violence, cases of recidivism, alternative measures in the solution of domestic conflicts. The incidence of the law and the penalty of the aggressor so that it does not recur again.

Keywords: Maria da Penha Law, AlternativeMeasures, Jurisprudence, Recidivism.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........09

1.DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER.............11

1.1Das Formas de Violência Doméstica e Familiar.........12

1.2Da assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar..........16

1.3Das medidas cautelares no Processo Penal (art.319 cpp )............17

1.4Da Equipe de Atendimento Multidisciplinar.........21

1.5A reincidência do agressor nos crimes de violência doméstica.........23

1.5.1Resultados do Observatório da Violência contra mulheres...26

2.DECISÕES DIVERGENTESENTRETRIBUNALDEMESMAINSTÂNCIAMEDIDAS ALTERNATIVAS, REINCIDÊNCIA........28

2.1A mediação como alternativa extrajudicial para solução de conflitos...30

2.2Programa MEDIAR RS nas delegacias de polícia do Estado do Rio Grande do Sul...32

2.2.1Justiça Restaurativa na Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul – Mediação.........33

2.3A aplicação da mediação e a indisponibilidade da ação penal em casos mais graves de violência doméstica...35

CONCLUSÃO...39

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo principal analisar aos artigos da Lei 11.340/06, comumente conhecida como Lei Maria da Penha.

A Lei Maria da Penha foi criada em 07 de agosto do ano de 2006, com o objeto de criar mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, após o episódio da professora universitária cearense Maria da Penha Maia que ficou paraplégica por conta do marido ter tentado assassiná-la.

Até a data da promulgação da Lei 11.340/06, o Brasil não possuía mecanismos efetivos de proteção à mulher vítima de violência doméstica, evidenciando a impunidade dos agressores, e o abandono das mulheres vítimas. A lei criou e oportunizou meios de atendimento humanizado às mulheres, agregando valores de direitos humanos à política pública e contribui para educar à sociedade em geral, sendo um meio de encorajamento e empoderamento das mulheres.

Com o avanço da aplicação da Lei Maria da Penha, novos entendimentos surgiram e dúvidas foram sendo esclarecidas, porém ainda existem inúmeras divergências com relação a sua interpretação.

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Em um primeiro momento o trabalho busca definir as formas de violência doméstica e familiar e assistência oferecida as vítimas desse delito na esfera civil e penal. E por conta disso esmiuçar as medidas cautelares previstas no código de processo penal e na Lei Maria da Penha passíveis de aplicação para proteção e prevenção do delito.

Buscando verificar a efetividade da Lei a pesquisa também engloba a consulta à jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, especialmente no tocante as divergências encontradas nas decisões de um mesmo tribunal.

Na sequência e finalizando o trabalho apresenta as alternativas para solução dos conflitos de violência doméstica no âmbito da mediação extrajudicial, especialmente a partir do Programa da Polícia Civil nomeado de MEDIAR RS, no tocante a redução dos índices de violência e reincidência.

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1.DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

A partir do artigo 2º da lei 11.340 e do artigo 5º da Constituição Federal, podemos perceber que o primeiro se faz específico para proteger aos interesses e garantias inerentes as necessidades e proteção da mulher. Por sua vez, o Artigo 5° da Constituição Federal abrange a todos os cidadãos brasileiros, não fazendo qualquer distinção, que no caso em específico, se refere ao gênero. Com isso, vejamos:

Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social (BRASIL, 2006).

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em dreitos e obrigações, nos termos desta Constituição (BRASIL, 1988).

Observa-se que o artigo 5º da Constituição Federal de 1988 tem como princípio fundamental a igualdade entre homens e mulheres e a partir deste objetivo o Brasil em 2006 promulgou a Lei Maria da Penha, após ser condenado pela Corte Internacional, por deixar de criar políticas públicas de proteção as mulheres1.

161.A Comissão Interamericana de Direitos Humanos reitera ao Estado Brasileiro as seguintes

recomendações:1.Completar rápida e efetivamente o processamento penal do responsável da agressão e tentativa de homicídio em prejuízo da Senhora Maria da Penha Fernandes Maia.2.Proceder a uma investigação séria, imparcial e exaustiva a fim de determinar a responsabilidade pelas irregularidades e atrasos injustificados que impediram o processamento rápido e efetivo do responsável, bem como tomar as medidas administrativas, legislativas e judiciárias correspondentes.3.Adotar, sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra o responsável civil da agressão, as medidas necessárias para que o Estado assegure à vítima adequada reparação simbólica e material pelas violações aqui estabelecidas, particularmente por sua falha em oferecer um recurso rápido e efetivo; por manter o caso na impunidade por mais de quinze anos; e por impedir com esse atraso a possibilidade oportuna de ação de reparação e indenização civil.4.Prosseguir e intensificar o processo de reforma que evite a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra mulheres no Brasil. A Comissão recomenda particularmente o seguinte:a)Medidas de capacitação e sensibilização dos funcionários judiciais e policiais especializados para que compreendam a importância de não tolerar a violência doméstica;b)Simplificar os procedimentos judiciais penais a fim de que possa ser reduzido o tempo processual, sem afetar os direitos e garantias de devido processo;c)O estabelecimento de formas alternativas às judiciais, rápidas e efetivas de solução de conflitos intrafamiliares, bem como de sensibilização com respeito à sua gravidade e às conseqüências penais que gera. d)Multiplicar o número de delegacias policiais especiais para a defesa dos direitos da mulher e dotá-las dos recursos especiais necessários à efetiva tramitação e investigação de todas as denúncias de violência doméstica, bem como prestar apoio ao Ministério Público na preparação de seus informes judiciais.e)Incluir em seus planos

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A Lei 11.340 em seu artigo 3° Caput e parágrafos se referem diretamente a responsabilidade da sociedade e do poder público na assistência e seguridade dos direitos do pleno exercício de cidadania das mulheres. Conforme segue:

Art. 3o Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, aotrabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.§ 1o O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.§ 2o Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos enunciados no caput (BRASIL, 2006).

É possível perceber que a responsabilidade de proteção à mulher não cabe apenas ao poder público. Em um primeiro momento o Estado desenvolve mecanismos que coíbam e evitem a prática da violência doméstica. No entanto para que os mecanismos que o Estado proporciona tenham uma boa eficácia a participação da família e sociedade se faz de fundamental importância, através de informações, denúncias e auxílio às mulheres vítimas de violência doméstica.

1.1Das Formas de Violência Doméstica e Familiar

É possível observar que não só a ação, propriamente na forma de agressão física ou psicológica, causada pelo companheiro da vítima de violência doméstica, que é tipificado no ordenamento jurídico atual como crime. A omissão também se configura como Violência doméstica e familiar contra a mulher.

Por omissão se define o deixar de fazer ou dizer alguma coisa. Também pode ser entendido como deixar de lado, desprezar ou esquecer algo ou alguém. Ainda, no Direito Penal entende-se por omissão algo que deixa de ser feito quando a pessoa estaria obrigada a fazê-lo por norma jurídica, destaca-se que o crime pode ter tanto uma

pedagógicos unidades curriculares destinadas à compreensão da importância do respeito à mulher e a seus direitos reconhecidos na Convenção de Belém do Pará, bem como ao manejo dos conflitos intrafamiliares. 5. Apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, dentro do prazo de 60 dias a partir da transmissão deste relatório ao Estado, um relatório sobre o cumprimento destas recomendações para os efeitos previstos no artigo 51(1) da Convenção Americana. (COMISSÃO, 2001).

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conduta criminosa comissiva como uma conduta criminosa omissiva, à luz da interpretação dos arts. 4° e 13, caput e §2° do Código Penal que diz:

Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado (BRASIL, 1940).

Percebe-se que a omissão tem a mesma força e relevância de que uma ação para o ordenamento jurídico brasileiro. Tamanha a importância de se punir a omissão, que o legislador fez questão de mencionar no artigo 5° da Lei 11.340 de 2006:

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual (BRASIL, 2006).

Destaca-se que a violência doméstica, muitas vezes, é presenciada por familiares, vizinhos, e amigos, estes que através do medo e da indiferença omitem-se perante a necessidade de ajuda que tem a vítima de violência doméstica.

Para Nucci (2006, p. 653), a violência doméstica e familiar é a ação ou omissão baseada no gênero que cause à mulher morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial, entretanto afirma ser a relação íntima de afeto o relacionamento estreito entre duas pessoas, que pode estar alicerçado em amizade, amor, simpatia, dentre outros sentimentos de aproximação, sendo necessária a coabitação entre agressor e ofendido.

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É possível perceber a ideia do autor na responsabilização da violência doméstica ou familiar, da ação ou omissão, quando se trata do gênero mulher. Deve, ainda, que estar presente a relação íntima de afeto, sendo necessária que ambos coabitem.

Com a assinatura e ratificação pelo Brasil dos tratados específicos sobre a promoção e defesa dos direitos da mulher: a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher - CEDAW (1979); e a Convenção Interamericana para Prevenir e Erradicar a Violência Contra a Mulher - “Convenção de Belém do Pará” (1994)2, são geradas obrigações para o país no âmbito internacional como também no nacional, com isso se faz menção, especificamente, no artigo 6°da Lei 11.340/06 que diz: “A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos” (BRASIL,2006).

Apesar de ter se registrado um avanço na consolidação dos direitos da mulher no mundo, no início do século XXI ainda não se pode dizer que as mulheres desfrutem dos mesmos direitos que os homens. As mulheres ainda continuam a ser subjugadas e ainda têm maior dificuldade de acesso à educação, á saúde e a melhores empregos. A questão da violência física e psicológica contra a mulher continua a fazer parte da vida cotidiana da mulher. No entanto, são inegáveis os avanços políticos e sociais nas conquistas obtidas pelo segmento feminino, especialmente no cenário nacional (MELLO, 2009, p. 43).

Percebe-se o destaque na referida lei, mencionando em seu Artigo 6° uma das várias formas de violação aos Direitos Humanos, que no caso em questão trata da violência contra a mulher no âmbito familiar. Uma conquista que foi possível pelo esforço e incansáveis tentativas de mudar a triste situação de violência sofrida pelas mulheres brasileiras, através, do caso da senhora Maria da Penha Maia Fernandes3.

2A convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher ocorreu em

Belém do Pará em 1994 e foi um grande avanço na proteção internacional dos direitos das mulheres. O depósito da ratificação ocorreu em 27 de novembro de 1995, passando a vigorar no País em 27 de dezembro de 1995. O Decreto n° 1973, de 01 de agosto de 1996, promulgou esta Convenção que foi publicado no D.O.U. de 1° de agosto de 1996 (PIOVASAN apud MELLO, 2009, p. 42).

3 Em 1983, a biofarmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, sofreu dupla tentativa de homicídio por

parte de seu então marido dentro de sua casa, em Fortaleza, Ceará. O agressor, Marco AntonioHeredia Viveiros, colombiano naturalizado brasileiro, economista e professor universitário, atirou contra suas costas enquanto ela dormia, causando-lhe paraplegia irreversível. Posteriormente, tentou eletrocutá-la no banho.

Passados mais de 15 anos do crime, apesar de haver duas condenações pelo Tribunal do Júri do Ceará (1991 e 1996), ainda não havia uma decisão definitiva no processo e o agressor permanecia em liberdade, razão pela qual Maria da Penha, o CEJIL-Brasil (Centro para a Justiça e o Direito Internacional) e o CLADEM-Brasil (Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos

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Apesar de o Brasil ter se comprometido muito antes da Lei 11.340/06 ser promulgada, o país se mostrava silenciado e indiferente aos apelos de várias mulheres vítimas de violência doméstica. A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu Artigo 226, §8º que “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado; § 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.”. Uma importante conquista, contudo, não se travava em específico na proteção da mulher, o que só foi possível com a criação da Lei especial, dezoito anos após a Constituição de 1988(BRASIL, 1988)

A violência contra a mulher não se configura apenas na agressão física propriamente dita. Várias outras formas são tipificadas pelo ordenamento jurídico brasileiro, em especial, a Lei 11.340/06. São caracterizadas como violência doméstica, a violência física, psicológica, sexual, patrimonial e a violência moral, todas essas especificadas no artigo 7° da referia Lei, como se pode observar:

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de da Mulher) enviaram o caso à CIDH/OEA (Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos).Em 2001, a CIDH responsabilizou o Estado brasileiro por omissão, negligência e tolerância. Considerou que neste caso se davam as condições de violência doméstica e de tolerância pelo Estado definidas na Convenção de Belém do Pará (O CASO..., 2012).

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trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria (BRASIL, 2006).

Deve-se salientar que todas as referidas formas de violência têm como fato gerador no seu ambiente familiar, domésticos e contra o gênero mulher em específico, que cause a essa lesão e sofrimento. A referida Lei, ainda consegue proteger não apenas as relações que a mulher tenha em definitivo, ou seja, enquanto casada ou com um relacionamento estável, é possível penalizar aquela simples relação de afeto, como por exemplo, aos que convivam ou não debaixo do mesmo teto.

1.2Da assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar

Após a criação da Lei 11.340/06,visando não apenas reparar um dano já ocorrido, mas principalmente, buscando coibir e prevenir a pratica da violência doméstica e familiar foi adotado medidas de políticas públicas na intenção de informar e integrar os órgãos de Segurança Pública, Judiciário, Ministério Público e de ações nãogovernamentais, como se pode observar no Art. 8°, I, da referida Lei, vejamos:

Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais, tendo por diretrizes:I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação (BRASIL, 2006)

Nesse sentido, Mello (2009, p. 49) se refere à União que deve existir entre os Órgãos do Estado:

Esta integração operacional entre os entes públicos e as instituições de Polícia, Poder Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública no combate à criminalidade é fundamental e deve ser estimulada porque, na prática, observa-se uma separação entre estas esferas, embora a justiça dependa do bom trabalho da Polícia e Ministério Público para Professar os autores do Crime. O legislador pretendeu romper este obstáculo para que as instituições se relacionem articuladamente de modo a coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher (MELLO, 2009, p. 49).

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É notória a importância de uma integração entre os entes do Estado, conforme o autor se refere, com isso é possível desenvolver políticas sócias eficazes e articuladas a fim de prevenir, e principalmente evitar a violência doméstica contra a mulher.

Destarte, enfatiza-se a importância de uma Lei específica e eficaz, com a finalidade de proteção às mulheres vítimas de violência doméstica.

Além disso, percebe-se que a referida Lei, não se mostra como um privilégio, mas sim, uma forma de proteção as mulheres, as quais necessitam de uma maior atenção do Estado e da comunidade, que devem criar mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher.

1.3 Das medidas cautelares no Processo Penal - Artigo 319 do Código de Processo Penal

As medidas cautelares são caracterizadas, como alternativas diversas à prisão de fato. Essas referidas medidas têm em seu propósito, de restringir alguns direitos e garantias dos indivíduos que possuem esse benefício. As medidas de natureza cautelar, diversas da prisão, são aplicadas em estrita observância do binômio adequação-proporcionalidade, para que não se utilize de medida extrema, no caso a prisão no sentido estrito da palavra, ou seja, o cárcere. Mas para que também não se deixe de acautelar situações que merecem algum tipo de restrição cautelar com o único fim de proteger o próprio processo, suas testemunhas, e em casos como o previsto na Lei Maria da Penha, onde se prevê em seu artigo 22, nas medias Protetivas de Urgência, salvaguardar a vítima de seu agressor(BRASIL, 2006).

Lima (2016, p. 1108) refere-se essas medidas como sendo:

c) medidas cautelares de natureza pessoal: são aquelas medidas restritivas ou privativas da liberdade de locomoção adotadas contra o imputado durante as investigações ou no curso do processo, com o objetivo de assegurar a eficácia do processo, importando algum grau de sacrifício da liberdade do sujeito passivo da cautela, ora em maior grau de intensidade (v.g., prisão preventiva, temporária), ora com menor lesividade (v.g., medidas cautelares diversas da prisão do art. 319 do CPP).

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Conforme o autor, estas medidas se caracterizam como sendo de menor grau de lesividade, medidas diversas da prisão, e podem serem utilizadas nos casos onde houver violência ou grave ameaça contra a mulher.

Ainda, Conforme nos traz Lima:

Seguindo a orientação do direito comparado, e com o objetivo de por fim a esta bipolaridade cautelar do sistema do Código de Processo Penal, a Lei nº 12.403/11 ampliou de maneira significativa o rol de medidas cautelares pessoais diversas da prisão cautelar, proporcionando ao juiz a escolha da providência mais ajustada ao caso concreto, dentro de critérios de legalidade e de proporcionalidade. De acordo com a nova redação do art. 319 do CPP, são previstas 9 (nove) medidas cautelares diversas da prisão, todas aplicáveis pelo juiz, de forma isolada ou cumulativa, como vínculos da liberdade provisória (CPP, art. 321), ou, ainda, de forma autônoma à prisão, sendo que o art. 320 do CPP também passou a prever a possibilidade de retenção do passaporte quando for imposta ao acusado a proibição de se ausentar do país. Daí o motivo da mudança da designação do Título IX do Livro I do CPP: antes relativo à prisão e à liberdade provisória, a nova denominação do Título IX é: “Da prisão, das medidas cautelares e da liberdade provisória”. A rigor, o título em questão deveria ser chamado de medidas cautelares de natureza pessoal, já que a prisão em flagrante, a prisão preventiva e a liberdade provisória nele previstas são espécies de medidas cautelares (LIMA, 2016, p. 1.109).

O código de Processo Penal, em seu art.319, se refere às medidas cautelares, que são diversas da prisão. Estas medidas têm em sua essência, evitar a prisão de fato do acusado, substituindo-as por algumas restrições à sua total liberdade.

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver

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risco de reiteração;VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; IX - monitoração eletrônica (BRASIL, 2011).

Com relação às medidas cautelares mencionadas, estas são destinadas à todos os tipos de acusados que tenham cometidos crimes que se enquadrem nesse tipo de “prisão”. E nesse diapasão Lima (2016, p. 1111) faz o seguinte comentário:

[...]É verdade que tanto a adoção das medidas cautelares diversas da prisão quanto a decretação da prisão preventiva pressupõem a presença do fumus comissi delicti e do periculum libertatis. Porém, enquanto a prisão preventiva só pode ser decretada nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos, se o agente for reincidente em crime doloso, ou se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência (CPP, art. 313, I, II e III, com redação determinada pela Lei nº 12.403/11), a decretação das medidas cautelares diversas da prisão exige apenas que à infração penal seja cominada pena privativa de liberdade, isolada, cumulativa ou alternativamente cominada[...]

É importante destacar, como evidencia o autor, que no caso de o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, admite-se também a prisão preventiva, caso houver descumprimento de alguma medida de urgência conforme preceituam as alíneas “a” e “c”, do inciso III, do art. 22 da Lei 11.340/2006(BRASIL, 2006)

O inciso II, do art. 319 do Código de Processo Penal4, por sua vez, traz como medida cautelar a “proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações”. Essa medida cautelar, também, tem previsão como condição para suspensão condicional do processo, no inciso II, §1º, do art. 89 da Lei 9.099/955, bem como na Lei Maria da Penha(BRASIL, 2011. BRASIL, 1995. BRASIL, 2006).

4Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: II - proibição de acesso ou frequência a

determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;

5 § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia,

poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:II - proibição de frequentar determinados lugares;

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Já no inciso III, do art. 319 do Código de Processo Penal, a medida cautelar prevista faz referência a “proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante”. Aqui, trata-se de medida cautelar advinda das medidas protetivas de urgência da Lei Maria da Penha que também obrigam o agressor de violência doméstica a manter-se afastado da vítima, bem como de frequentar locais propícios a reiteração do fato, conforme preceitua a alínea “a” e “c”, do inciso III, do art. 22 da Lei 11.340/2006 (BRASIL, 2011. BRASIL, 2006).

Importante ressaltar que, as duas medidas cautelares descritas no artigo 319 do CPP, são mais abrangentes do que aquelas previstas na Lei Maria da Penha como medidas protetivas, uma vez que, no sistema processual penal para a concessão das medidas não se observa somente a ocorrência de violência doméstica e nem tampouco se restringem ao sexo da vítima.

É notório destacar que essas medidas previstas no Art. 319 do Código de Processo Penal, abrangem o todo, porém são descritas também na Lei específica 11.340/2006 na seção II, onde se refere as medidas protetivas de urgência, conforme inciso III, alínea “a”, “c”, do art. 22 da Lei 11.340/2006, vejamos:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação(BRASIL, 2006).

Assim, as Medidas Cautelares previstas no Artigo 319 do Código de processo Penal, são medidas adotas com base em uma análise de proporcionalidade elencadas no Artigo 282, I e II, do Código de Processo Penal, são medidas diversas a prisão, e sendo assim se tornam a regra. Ao contrário do que se prevalece nas Medidas Protetivas de Urgência, onde não necessariamente as Medidas Cautelares poderão ser tomadas por regra, sendo que a referida lei possibilita a aplicação das medidas protetivas de urgência

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de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público.

1.4 Da Equipe de Atendimento Multidisciplinar

Em especial no artigo 8°, caput, da Lei 11.340/06, observa-se a previsão de políticas públicas que visam coibir e prevenir a violência contra a mulher tudo articulado por meio de ações conjuntas, multidisciplinares e alternativas. E quando se fala em prevenção percebe-se que a lei observou a necessidade de atendimento especializado, conforme o inciso IV, do artigo 8° da referida Lei prevê: “a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher” (BRASIL, 2006).

O principal objetivo da criação das novas estruturas policiais na sua essência é de oferecer àsmulheres em situação de violência um atendimento digno e respeitoso, evitando o tradicional atendimento prestado pelos policiais homens que poderiam ser caracterizados pelos mesmos traços sexistas que motivavam as queixas das mulheres (SOARES, 1999).

A primeira Delegacia Especializada para o Atendimento de Mulheres (DEAM) foicriada no ano de 1985 em São Paulo, configurando-se em uma experiência pioneira que, maistarde, passou a ser reproduzida em outros munícipios brasileiros Esta experiência logo foirecriada em outros municípios em todos os estados da federação, tendo a maior expansãodestas delegacias ocorrida entre os anos de 1986 e 1995, configurando os serviçosespecializados numa alternativa para melhorar o atendimento às mulheres vítimas deviolência doméstica e sexual e reduzir os níveis de impunidade aplicados a estes crimes, (BESTETTI, 2015; apud Pasinato e Santos, 2008; Debert, 2006; Pasinato, 2004; Soares, 1999; Gregori, 1993).

Ainda que estivessem inicialmente entusiasmados com a criação das delegacias da mulher, os grupos feministas verificavam a necessidade de capacitação e monitoramento das policiais que atuavam nestes espaços. Esta demanda, apontada desde a criação das primeiras unidades, encontrou muita resistência dos governos estaduais,

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gerando um desencantamento dos grupos com as delegacias na década de 1990 (BESTETTI, 2015; apud Pasinato e Santos, 2008, p. 12).

A ideia Central dessas delegacias era apenas o da confecção do Boletim de Ocorrência, sendo que nem a investigação era de fato realizada. O maior dos problemas enfrentados foi a falta de estrutura, e a real integração entre os Órgãos públicos, quais sejam, o da prevenção, o da educação, o acompanhamento por parte de psicólogos e assistentes sociais, e do acompanhamento de agentes da segurança pública e do judiciário (BESTETTI,2015).

No sentido de colocar em prática os objetivos de seu plano, a SPM lançou no ano de 2005 a Norma Técnica de Padronização das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, fazendo frente à diversidade de modelos de delegacias da mulher e buscando favorecer a integração entre os serviços que prestam o atendimento a mulheres em situação de violência. A partir da elaboração desta normatização, tais estruturas passaram a ser formalmente caracterizadas como parte de uma rede de serviços descentralizada, integradapor órgãos de saúde, educação, assistência social, justiça e segurança pública(BESTETTI, 2015; apud Pasinato e Santos, 2008).

Apesar da reestruturação e melhor capacitação dos órgãos de assistência às mulheres vítimas de violência doméstica, ainda se fazia necessário um acompanhamento preventivo, afim, de coibir que o agressor se aproximasse novamente da vítima(BESTETTI,2015).

A verificação da necessidade do acompanhamento/fiscalização do cumprimento das medidas protetivas de urgência solicitadas pelas mulheres em situação de violência doméstica no momento do registro formal das ocorrências nas unidades da Polícia Civil para a prevenção do acirramento das violências sofridas serviu como ponto de partida para a criação de um programa de proteção através do policiamento ostensivo, atividade de atribuição da Brigada Militar. Até a criação do programa, a instituição não contava com qualquer serviço voltado para o atendimento específico dos casos abarcados pela Lei Maria da Penha e a inexistência de dados organizados sobre os atendimentos prestados pela instituição a estes casos, somada a não utilização de um procedimento/protocolo qualificado de atendimento caracterizava-se como um entrave para a realização de um trabalho qualificado e capaz de prevenir novos casos por parte da Brigada Militar(BESTETTI,2015).

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Ainda, conforme nos trazFernandaBestetti de Vasconcellos (2015, p.95.),a criação da Patrulha Maria da Penha, o contato dos policiais militares com as partes envolvidas nos conflitos violentos domésticos e/ou familiares, ocorria apenas quando a atuação da corporação era demandada, através de sua central telefônica para atendimento de casos de emergência (190). O procedimento padrão utilizado para estes atendimentos era o de dirigir-se ao local do fato e encaminhar os envolvidos à uma delegacia de Polícia Civil, onde era realizado o registro formal da ocorrência policial. Neste sentido, a Brigada Militar não desempenhava qualquer atividade de prevenção e, é possível dizer que, sua atuação nestes casos estava ligada apenas à condução de vítimas e agressores às unidades da Polícia Civil.

A Patrulha Maria da Penha foi criada com o intuito de aperfeiçoar o atendimento às mulheres em situação de violência a partir de uma maior articulação com outros órgãos de segurança pública e assistência social. Lançada em 20 de outubro de 2012, a Patrulha passou 96 a acompanhar o cumprimento de medidas protetivas de urgência encaminhadas ao Juizado deViolência Doméstica e Familiar contra a Mulher da cidade de Porto Alegre por mulheres residentes nos locais onde estão implementados os quatro Territórios de Paz na cidade(BESTETTI,2015).

Com isso, percebem-se algumas iniciativas dos órgãos públicos em melhorar e aperfeiçoar os trabalhos de prevenção, atendimento às mulheres, e capacitação de seus agentes. Referidas medidas visam resguardar a saúde física e psicológica da mulher vítima de violência doméstica.

1.5 A Reincidência do Agressor nos Crimes de Violência Doméstica

Conforme já referido, o Art. 1° da Lei 11.340/2006, cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, também nos termos da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil que dispôs e sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e estabeleceu

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medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar (BRASIL, 2006).

Percebe-se que apenas o simples gesto da mulher, vítima de violência doméstica, comunicar o fato as autoridades competentes, não é o suficiente. Além do conhecimento, as autoridades devem criar mecanismos para evitar que esses incidentes voltem a ocorrer, além de se fazer um acompanhamento constante às vítimas.

A partir desses fatores, o Estado, através de seus órgãos competentes, criou mecanismos de controle e acompanhamento das vítimas e de seus agressores, apesar de que os recursos humanos e materiais, em sua grande maioria ainda sejam escassos.

É evidente que a melhor solução sempre vai ser o da prevenção. Mas na grande maioria dos casos não é possível. Sendo assim os órgãos necessitam de meios para reeducar e evitar que as agressões ás mulheres, voltem a acontecer.

Conforme artigo da página do Senado Federal,

Os autores de agressões contra mulheres poderão ter a chance de rever seu comportamento e adotar novas formas de conduta, caso a Câmara dos Deputados confirme decisão do Senado, que, no dia 31 de março, aprovou uma proposta tida como uma das grandes inovações no enfrentamento à violência de gênero: os programas de reeducação dos homens que praticam atos ofensivos à integridade das mulheres(BRASIL, 2016)

Ainda como refere o Projeto (PLS 9/2016), da Comissão de Direitos Humanos (CDH), uma das recomendações da avaliação feita pelo próprio colegiado do Senado é de que o texto altera a Lei Maria da Penha e amplia as medidas protetivas da mulher previstas no artigo 23 (BRASIL, 2016).

“Cuidar de um agressor é proteger diversas futuras vítimas, não só a vítima em si, a família da vítima, a família do agressor, o próprio agressor, a sociedade como um todo”, explicou a psicóloga Luciana Beco, integrante do serviço prisional de saúde do Distrito Federal em debate na CDH em dezembro de 2015. Foi essa rodada de discussões que forneceu o conjunto de informações factuais, estatísticas e teóricas para a elaboração do referido projeto. “A prática puramente punitiva aplicada pelo Direito Penal brasileiro não tem impacto na diminuição da reincidência da violência e nem

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tampouco na mudança no comportamento sexual humano”, observou ainda Luciana (BRASIL, 2016).

O encaminhamento a esse tipo de programa, já recomendado por organizações internacionais e pelo Ministério Público do Brasil, está previsto no artigo 45 da Lei Maria da Penha, mas apenas para presos. A alteração feita pelo projeto aplica-se mesmo na fase de inquérito policial, que é anterior ao processo na Justiça, e facilita a prevenção de novas agressões (BRASIL, 2016).

Com o comprometimento dos órgãos competentes, e a colaboração das partes envolvidas no conflito, é possível a prevenção de novos casos de agressão à mulher. É através desses programas de prevenção efetiva, que os resultados se tornam satisfatórios e positivos, pois, é sabido que o encarceramento não é, na maioria ”esmagadora” dos casos, a melhor solução (BRASIL, 2016).

Baseando-se nesses fatores, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, através da secretaria de segurança Pública, por meio da Coordenadoria Penitenciária da Mulher, lançou um projeto para combater os casos de reincidência nos casos de violência contra a mulher, o projeto Metendo a Colher. A ideia é conscientizar os agressores enquadrados na Lei Maria da Penha de que a segurança pública irá monitorá-los, mesmo em liberdade, além de educá-los para que não voltem a agredir (RIO GRANDE DO SUL, 2013 A).

De acordo com o referido artigo, o trabalho começará dentro da penitenciária, com entrevistas traçando o perfil do agressor. A partir disso, serão feitos grupos em que uma equipe técnica irá educá-los e conscientizá-los sobre a gravidade de seu crime. “Normalmente, eles vêm de uma cultura familiar em que ninguém os alerta que bater em mulher é errado. Esse será o nosso papel”, explicou a psicóloga Maristela Mostardeiro, uma das idealizadoras do projeto (RIO GRANDE DO SUL, 2013 A).

Ao saírem da cadeia, os homens continuarão com o acompanhamento de uma rede externa – Patrulha Maria da Penha, Escuta Lilás, Poder Judiciário, Ministério Público, entre outros, que trocarão informações em tempo real. “Muitos saem da detenção já com a ideia de vingança contra a mulher que os denunciou. Porém, o que se quer é mostrar para os agressores que eles estão sob o olhar do Estado, mesmo livres. Antes mesmo de serem soltos, a Patrulha Maria da Penha é avisada e vai monitorá-los,

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explicou a coordenadora Penitenciária da Mulher, Maria José Diniz, também idealizadora do projeto (RIO GRANDE DO SUL, 2013 A).

A ação começou pelo Presídio Central, em Porto Alegre, onde há 45 detidos pela Lei Maria da Penha. A ideia é estender também às penitenciárias de Osório e de Arroio dos Ratos. O projeto é pioneiro no Brasil, existindo um nos mesmos moldes somente na Espanha(RIO GRANDE DO SUL, 2013 A).

O presente projeto ainda prevê que as mulheres vítimas de violência doméstica, as quais se encontram encarceradas, em sua grande maioria por tráfico, possam superar os vínculos que as mantém sob o domínio dos agressores. A proposta é que essas mulheres tenham autonomia e independência quando estiverem em liberdade. As mulheres vítimas de algum tipo de agressão, após sua liberdade, continuarão a serem monitoradas pela Secretaria de Segurança Pública, através de seus programas de acompanhamento.

Sendo assim, se mostra mais eficaz e satisfatório, prevenir casos de reincidência, através de medidas alternativas com projetos mais humanizados, que além do acompanhamento e tratamento à vítima, procuram monitorar o agressor, impedindo que por ventura, este possa confrontar novamente a agredida.

1.5.1 Resultados do Observatório da Violência contra mulheres

O Observatório da violência contra as mulheres e meninas, é um programa institucional da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul, ao qual, faz um monitoramento, e consequentemente, um comparativo dos indicadores de violência contra mulheres e meninas no referido Estado(RIO GRANDE DO SUL, 2017 A).

Comparando-se os períodos de janeiro a junho de 2016 e 2017, observa-se uma redução de 11,8% nos casos de ameaça contra mulher e meninas no Estado do Rio Grande do Sul, ou seja, no ano de 2016 foram registrados 20.966 casos enquanto que 18.486 vítimas efetivaram registro no ano de 2017 (RIO GRANDE DO SUL, 2017 A).

Ainda, em relação aos casos de lesões corporais, foi possível observar uma redução de 562 casos nos referidos períodos, o que representa cerca de 4,8% a menos de

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ocorrências desse gênero envolvendo mulheres e meninas (RIO GRANDE DO SUL, 2017 A).

Outros aspectos de diminuição foram os estupros e os feminicídios consumados. Nos mesmos períodos, entre 2016 e 2017, foram registrados 121 crimes de estupro a menos no Estado, o que resultou em uma diminuição de 15,5%. Com relação aos feminicídios consumados a redução foi de 18,4% dos casos ocorridos entre os mesmos períodos, ou seja, de 49 casos em 2016 à 40 casos no mesmo período de 2017(RIO GRANDE DO SUL, 2017 A).

Em um comparativo entre os respectivos períodos, percebe-se que ocorreu um aumento apenas nos casos dos feminicídios tentados. No ano de 2016 foram registrados 111 casos, enquanto que no mesmo período de 2017 152 Casos de feminicídio tentados foram registrados por mulheres e meninas, o que resultou em um aumento de 36,9%(RIO GRANDE DO SUL, 2017 A).

Com relação aos casos de femicídios tentados, assim como nas demais situações de violência doméstica,se deve muito em decorrências das ações de prevenção para coibir à violência contra as mulheres e meninas. Programas de incentivo para que as vítimas comuniquem e registrem as violências sofridas, a qualificação dos servidores nos atendimentos prestados, a inclusão do tema em cursos de formação e treinamentos, a atenção no atendimento as vítimas, a ampliação da rede de atendimento as mulheres, com a criação de novas DEAMs em todo o Estado, e a instalação de mais delegacias de homicídios na capital, aliadas à criação de serviços inovadores e reconhecidos internacionalmente, como as "Patrulhas Maria da Penha", as "Salas Lilás" e as ações dos programa "Metendo a Colher" da SUSEPE, acabaram por motivar enquadramentos mais rigorosos, como os casos de femicídio tentado, e aumentaram o empoderamento e encorajamento das mulheres, na busca por proteção e comunicação das referidas ocorrências(RIO GRANDE DO SUL, 2017 A).

O que se percebe através da implementação da Lei Maria da Penha é o aumento dos registros, muito se deve às várias medidas tomadas no âmbito dos poderes públicos o que, de certa forma, encorajou as mulheres e às empoderou diante de seus agressores,

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gradativamente ocorre uma redução drástica dos registros, o qual não se sabe ao certo se reduziu necessariamente a violência contra a mulher ou se acovardou o agressor mediante as medidas de proteção.

2. DECISÕES DIVERGENTES ENTRE TRIBUNALDE MESMA INSTÂNCIA, MEDIDAS ALTERNATIVAS, E REINCIDÊNCIA.

Far-se-á uma análise jurisprudencial com decisão de relatores divergentes, referente, a caso de violência doméstica contra a mulher no âmbito familiar:

APELAÇÃO CRIME. LESÃO CORPORAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. MATERIALIDADE COMPROVADA POR ATESTADO MÉDICO. POSSIBILIDADE. DISPENSABILIDADE DO EXAME DE CORPO DE DELITO. INTELIGÊNCIA DO ART. 12, § 3º, DA LEI MARIA DA PENHA. PALAVRA DA VÍTIMA. SUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. Nos crimes praticados em ambiente doméstico, onde há apenas a convivência familiar, dificilmente existe alguma testemunha ocular, afora as partes diretamente envolvidas no ocorrido. Assim, em se tratando de fatos relativos à lei Maria da Penha, a palavra da ofendida – até por ser a principal interessada na responsabilização do seu ofensor – assume especial relevância probatória, sendo suficiente, se coerente, para ensejar condenação, a menos que haja algum indicativo de que possui interesses escusos em eventual condenação do acusado. ATUAL ESTADO DE HARMONIA CONJUGAL. IRRELEVÂNCIA. O fato de o casal retomar o relacionamento não impede a condenação, uma vez que não é o relacionamento do casal que vai a julgamento, mas sim um crime expressamente tipificado em lei, cuja caracterização não depende de eterna desarmonia conjugal.SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. IMPOSSIBILIDADE. O art. 44 do CP, em seu inciso I, é expresso ao vedar a substituição da pena privativa de liberdade quando o delito é praticado com violência ou grave ameaça à pessoa; portanto, não dispondo a lei especial em sentido diverso, tal proibição aplica-se aos crimes de violência doméstica.APLICAÇÃO DE PENA DE MULTA. DESCABIMENTO EM SE TRATANDO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. O art. 17 da Lei n° 11.340/06 veda a aplicação de pagamento isolado da pena de multa em casos de violência doméstica. APELO DESPROVIDO. POR MAIORIA (RIO GRANDE DO SUL, 2017 B).

A referida Apelação Crime discutiu a possibilidade de uma substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, e a aplicação isolada de pena de multa. A defesa após denúncia do Ministério Público, e da condenação do acusado

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inconformada, apelou e em suas razões sustentou insuficiência probatória por ausência de materialidade delitiva, salientando que as supostas lesões não restaram comprovadas por laudo pericial. Alegou a desnecessidade de aplicação de pena, considerando que o fato ocorreu em razão da ingestão de bebida alcoólica pelo acusado, bem como porque o casal voltou a conviver. Requereu, por fim, a absolvição do réu, ou, subsidiariamente, a substituição da PPL por pena de multa. (RIO GRANDE DO SUL, 2017 B).

Inobstante, o Tribunal decidiu pelo desprovimento do recurso, decisão não unânime. Ao justificar o voto o desembargador Relator Luiz Mello Guimarães justificou seu voto, argumentando que “a materialidade de um crime nada mais é do que a própria existência da lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal.”Afirmou ainda que o direito admite outras formas de provas, quando estas, forem idôneas e estreme de dúvidas, e que no caso em comento, se trata de um atestado médico simples, e não um exame de corpo e delito.(RIO GRANDE DO SUL, 2017 B).

Sendo assim, a prática do delito foi entendida como comprovada, através do atestado médico, e da confirmação da vítima da violência. Justifica ainda o relator:

[...] Isso porque, nos crimes praticados em ambiente doméstico, onde há apenas a convivência familiar, dificilmente existe alguma testemunha ocular, afora as partes diretamente envolvidas no ocorrido; consequentemente, tratando-se de delitos afetos à Lei Maria da Penha, a palavra da ofendida assume especial relevância probatória, sendo suficiente, se coerente, para ensejar condenação – a menos, é claro, que haja algum indicativo de que possui interesses escusos em eventual condenação do acusado, o que, no caso dos autos, não restou demonstrado. (RIO GRANDE DO SUL, 2017 B).

Por esses meios, o relator negou provimento à apelação. Em contrário, se posicionou o Desembargador revisor, Victor Luiz Barcellos Lima, sendo parcialmente divergente em alguns critérios, conforme segue:

Antes de mais nada, no tocante ao mérito da condenação, acompanho o e. Relator, no caso concreto, ressalvando meu entendimento de que a jurisprudência que confere relevante valor probatório à palavra da vítima, por se tratar de crimes (aqueles abrangidos pela Lei Maria da Penha) que ocorrem longe de testemunhas presenciais, não admite, em nem poderia à luz da legislação processual penal em vigor, que a versão da vítima, só ela, isolada, seja suficiente à condenação. A palavra da vítima apta a ser acolhida como prova segura é aquela que, sobre se mostrar verossímil, encontra respaldo no contexto da prova e

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à luz de outros elementos indicativos que lhe venham dar respaldo.No caso dos autos, a palavra firme e coerente da vítima veio amparada por atestado médico, que confirma as lesões sofridas e decorrentes da agressão. (RIO GRANDE DO SUL, 2017 B).

Assim, é entendido pelo referido Desembargador que além da palavra contundente da vítima, se faz necessário outros meios de provas para corroborar com a aplicação exata da norma. Ainda o referido revisor também divergiu com relação a substituição da pena:

Lado outro, no tocante ao apenamento, alterando entendimento anterior acerca da matéria, estou me posicionando pelo cabimento da substituição da pena nos casos análogos ao presente.Conforme doutrina de Julio Fabbrini Mirabete ao tratar das penas restritivas de direitos (in Manual de Direito Penal, 1º Vol., 31ª edição, pag. 271), “...Também é de se considerar que a expressão crime que não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa não exclui os delitos em que estas modalidades são, não meios, mas constitutivas do próprio ilícito, como os de lesão corporal (art. 129) e ameaça (art. 147), para os quais deve ser permitida a substituição, como já ocorria no dispositivo substituído pela Lei n° 9.714/98...”. No caso concreto, o réu foi condenado pela prática do crime de lesões corporais capitulado pelo art. 129, § 9°, do Código Penal, não se tratando de crime-meio, e não se ajustando, por via de conseqüência, ao impedimento da regra do art. 44, I, do CP.De outra parte, a regra do art. 17 da Lei Maria da Penha não veda a substituição pretendida (RIO GRANDE DO SUL B, 2017).

Com isso, o presente revisor, foi favorável em substituir a pena privativa de liberdade por uma restritiva de direitos, ao qual consiste em limitar os finais de semana do Apelante agressor.

2.1A mediação como alternativa extrajudicial para solução de conflitos

A Mediação é um método de resolução de conflitos em que duas ou mais interessados recorrem a uma terceira pessoa imparcial, o mediador, com o objetivo de se trabalhar o conflito de forma a atingir um acordo satisfatório para todos os envolvidos, segundo Morais e Spengler:

A mediação é um método alternativo que não há adversários, apenas consiste na intermediação de uma pessoa distinta das partes, que atuará na condição de mediador, favorecendo o diálogo direto e

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pessoal. O mediador facilita a comunicação sem induzir as partes ao acordo, e quando este existe, apresenta-se total satisfação dos mediados(MORAIS E SPENGLER, 2008).

A Mediação vem como forma de acelerar, e modificar o oneroso e lento judiciário brasileiro. Sua forma é simples, eficaz e ágil na solução dos conflitos onde ela se torna possível. As partes devem da melhor maneira possível, encontrar alternativas de desenvolver um diálogo de forma pacífica e espontânea, procurando um acordo que seja satisfatório à ambas as partes. Nesse contexto Morais e Spengler referem:

Em contrapartida aos processos judiciais que, lentos, mostram-se custosos, os litígios levados à discussão através do Instituto da Mediação tendem a ser resolvidos em tempo muito inferior ao que levariam se fossem debatidos em Corte tradicional, o que acaba por acarretar uma diminuição do custo indireto, eis que, quanto mais de alongar a pendência, maiores serão os gastos com a sua resolução(MORAIS E SPENGLER, 2008).

Assim, a mediação tem a capacidade de proporcionar uma rápida e efetiva solução aos conflitos, como alternativa extrajudicial. Sua agilidade e eficácia conseguem “desafogar” o nosso Poder Judiciário, ampliando o acesso à justiça, e facilitando o diálogo entre as partes envolvidas em um determinado conflito com os órgãos competentes, de forma harmoniosa e menos formal.

A Lei Maria da Penha tem como definição, a proteção da mulher vítima de violência doméstica. Esta deve criar mecanismos para coibir e principalmente prevenir que casos de agressões contra mulheres ocorram. Para isso órgãos públicos competentes e as mais variadas ONG´s e entidades, criam mecanismos e formas diferentes para garantir proteção e acompanhamento de mulheres, que de alguma forma, sofrem ou sofreram agressões de seus companheiros.

Apesar de a Lei 11.340/06 ter criado importantes mecanismos para proteção da mulher vítima de violência doméstica, é evidente a dificuldade em tornar efetiva a proteção dos Direitos Humanos das mulheres. Para isso deve-se, atravésdo legislador e dasociedade,criar mecanismos alternativos, por meio de Leis e políticas públicas amplas, voltadas às vítimas, ao agressor e àquelas pessoas que estão inseridas neste campo de violência.

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Em alguns casos de violência doméstica contra a mulher, a Mediação, como é o caso do programa MEDIAR RS da Polícia Civil do Rio Grande do Sul,se mostrou um importante método de solução de conflitos, baseado em atitudes e procedimentos de natureza conciliatória, a intervenção de uma terceira pessoa na solução dos conflitos, sem sombra de dúvidas, facilita o diálogo e promove um maior equilíbrio, com ajustes mais adequados na resolução de conflitos, segundo Leonardo Sica:

os requisitos para a mediação penal são a voluntariedade, confidencialidade, oralidade, informalidade, neutralidade do mediador, envolvimento comunitário ativo e autonomia em relação ao sistema de justiça e desenvolve-se em quatro fases: envio do caso para o ofício de mediação e este assume a responsabilidade pelo conflito; fase preparatória, em que os mediadores estabelecem contato com as partes e colhem o consentimento para a participação; as sessões de mediação; e, por último, o monitoramento do êxito da mediação e posterior reenvio do caso à autoridade inicial (SICA, 2007, p. 58).

Assim, a Mediação se mostra como sendo uma solução alternativa dos conflitos envolvendo casos de violência doméstica. Esta se mostra, além, de uma alternativa mais informal e célere, uma oportunidade de acompanhamento das partes, vítima e agressor, de uma forma restaurativa, e ainda, como alternativa de desafogar o sistema judiciário brasileiro.

2.2Programa MEDIAR RS nas delegacias de polícia do Estado do Rio Grande do Sul

Programa MEDIAR RS, é um programa de Mediação de Conflitos criado pela Policia Civil. O programa MEDIAR RS se Orienta da metodologia técnica operacional da Mediação Transformativa de Conflitos, prescrita através da Portaria 168/2014 e 169/2014 da Chefia de Polícia (RIO GRANDE DO SUL, 2013).

O Programa visa transformar o nível de comunicação entre as partes, de uma forma polarizada para uma forma transversal, tolerante, inclusiva, racional e pacífica, para que as partes encontrem a melhor solução para elas(RIO GRANDE DO SUL, 2013).

Os núcleos operam em diversas Delegacias do Estado do Rio Grande do Sul, sendo compostos por uma equipe interdisciplinar de policiais, com formação em

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diversas áreas de conhecimento, que atuam na condução dos atendimentos seguindo os métodos e princípios do MEDIAR (RIO GRANDE DO SUL, 2017 C)

O Programa MEDIAR fundamenta-se especialmente nasPortariasnº168/14 e 169/14 da Chefia de Polícia do Estado do Rio Grande do Sul e na Constituição Federal de 1988 quando em seu preâmbulo referencia:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988).

O programa MEDIAR RS, procura transformar a realidade das mulheres vítimas de violência doméstica, em uma experiência menos dolorida possível.Fundamenta-se nos princípios constitucionais da dignidade da mulher, visa acompanhar de forma qualificada e humanizada à ambas as partes envolvidas, buscando-se assim, a resolução pacífica e definitiva do conflito.

2.2.1 Justiça Restaurativa na Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul - Mediação

O presente modelo foi criado no ano de 2013, e teve por objetivos restaurar a relação entre as partes, focada no futuro das relações, na compreensão das condições desencadeadoras do conflito. Bem como buscava proporcionar oempoderamento das partes. Agregar e estabelecer a compreensão como meio de controle social, proporcionar a paz social, o diálogo e reflexão, e ainda,diminuiçãodo volume de processos judiciais (RIO GRANDE DO SUL, 2017 C).

O programa MEDIAR RS é composto por ciclos, os quais hoje são no total sete ciclos. No primeiro Ciclo da Mediação, a vítima procura a DP registrando o fato, formaliza e registra o conflito. Na sequência a Autoridade faz uma análise do aso, verificando se o caso é possível de Mediação à luz da Portaria 168/2014, caso positivo é

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encaminhado ao Núcleo. No referido Núcleo é feita uma pesquisa complementar, vida pregressa de ambas as partes, e históricos que possam desabonar os envolvidos de participarem do programa (RIO GRANDE DO SUL, 2017 C).

Em um segundo momento, a equipe de Mediação entra em contato com as partes convidando-as a comparecer na DP. Após esse comparecimento, e feita uma Pré-Mediação, audiência individual com as partes, iniciando pelo demandante, onde lhes é oportunizado falar sobre as razões desencadeadoras do conflito, seu sentimento sobre o ocorrido, o que lhes afetou, o que pode ser feito para restaurar a convivência, se tem interesse em participar do programa e se possuem sugestões para a paz. Havendo essa adesão ao Programa e interesse das partes em participar, segue audiência conjunta (RIO GRANDE DO SUL, 2017 C).

No ciclo 4 é a audiência conjunta, as partes tem oportunidade de exporem uma à outra, em um ambiente seguro, e dentro do respeito, seus posicionamentos. O mediador, utilizando as técnicas de Mediação busca facilitar o diálogo entre as partes. Já o ciclo 5 da Mediação é onde, as partes, chegando a um acordo de convivência assinam ata firmando compromisso (RIO GRANDE DO SUL, 2017 C).

Restaurada convivência, cumprindo-se o princípio da justiça restaurativa, juntada a ata ao procedimento, este é remetido ao Poder Judiciário. Como último ciclo da Mediação, a equipe efetua um monitoramento da relação das partes, pelo período de 60 dias, com contatos quinzenais, demonstrando interesse no apaziguamento e acompanhando os desdobramentos do processo de pacificação (RIO GRANDE DO SUL, 2017 C).

Através desse programa, é possível, diante das experiências, afirmar que a Mediação de Conflitos na Polícia Civil é uma forma alternativa simples e eficiente para a paz social, motivo pelo qual, é célere, econômica, satisfatória às partes e se tornou totalmente implementável.

Conforme dados apresentados pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul, nos primeiros meses do programa Mediar, foram analisados 131 casos, nesse contexto de resolução alternativa 50 casos mantiveram interesse em representar criminalmente,

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outros 25 não coube a mediação em razão de periculosidade, 33 as partes reconciliaram-se antes da audiência e 23 casos reconciliaram-reconciliaram-se na audiência de mediação. Ainda, conforme a Polícia Civil, não houve reincidências de conflitos entre as partes. Todos os feitos policiais pertinentes forma encaminhados ao Poder Judiciário, sendo homologados pela justiça (RIO GRANDE DO SUL, 2013 B)

Sendo assim, é conclusivo o total sucesso desses programas alternativos de solução de conflitos, caso esse, em específico, do Mediar RS. Sua eficácia, além de ser uma solução mais harmoniosa e menos desgastante, acaba por “livrar” o judiciário de um significativo número de processos, e principalmente da reincidência dos casos de violência contra a mulher, que é o objetivo principal.

2.3 A aplicação da mediação e a indisponibilidade da ação penal em casos mais graves de violência doméstica

Os programas de medidas alternativas, como as mediações, têm em sua fundamentação principal, o de prevenir e coibir novas práticas e reincidências nos casos de violência doméstica contra a mulher.

Contudo, é feito uma avaliação prévia dos casos em que essas medidas podem ser adotadas, como é o caso do programa MEDIAR RS, onde, as Autoridades fazem uma análise prévia do caso, verificando se é passível de Mediação à luz da Portaria 168/2014, caso positivo é encaminhado ao Núcleo(RIO GRANDE DO SUL, 2017 C).

Embora o programa mediar busque a solução de conflitos extrajudicial, o mesmo não isenta o agressor da responsabilização penal quando o crime for de ação pública incondicionada, muito embora a vítima retrate-se. Esse fundamento é corroborado pelo Artigo 16 da Lei 11.340/06 que mesmo se tratando de uma ação pública condicionada a representação, só é possível sua renúncia quando:

Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público(BRASIL, 2006)

Referências

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