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Um caso de sub-leucemia mieloide esplenomegálica

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(1)

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JOAQUIM DA SILVEIRA

236

Un\ caso dg

suMeucenyrQ n\îeloidg

€spl€non\egaliCQ

(MONOGRAFIA CLINICA) Tese de doutoramento apresentada à

Faculdade de Medicina do Porto no ano de 1926

Imp. Portuguesa. R. Formosa, 11,6. Porto, 1926

(2)

Um caso dg

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(3)

JOAQUIM DA SILVEIRA

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(MONOGRAFIA CLÍNICA) Tese de doutoramento apresentada à

Faculdade de Medicina do Porto no ano de 1926

(4)

Faculdade de Medicina do Porto

DIRECTOR

Dr. José Alfredo Mendes de Magalhães

SECRETÁRIO

Dr. Hernâni Basíos ffioníeiro

CORPO DOCENTE Professores ordinários

Higiene Dr. João Lopes da Silva Martins Júnior Patologia geral Dr. Alberto Pereira Pinto de Aguiar Patologia cirúrgica Dr. Carlos Alberto de Lima Dermatologia e sifiligrafia . . . . Dr. Luis de Freitas Viegas

"Serapéutica geral Dr. José Alfredo Mendes de Magalhães Anatomia patológica Dr. António Joaquim de Sousa Júnior Clínica médica Dr. Tiago Augusto de Almeida Anatomia descritiva Dr. Joaquim Alberto Pires de Lima Clfnica cirúrgica Dr. Álvaro Teixeira Bastos

Psiquiatria Dr. António de Sousa Magalhães Lemos Medicina'legal Dr. Manuel Lourenço Qomes Histologia e embriologia . . . . Dr. Abel de 1 ima Salazar Pediatria Dr. António de Almeida Garrett Patologia médica Dr. Alfredo da Rocha Pereira Bacteriologia e doenças infecciosas . Dr. Carlos Faria Moreira Ramalhão Anatomia cirúrgica Dr. Hernâni Bastos Monteiro Clfnica obstétrica Dr. Manuel António de Morais Frias Fisiologia geral e especial . . . . Vaga

Farmacologia Vaga Parasitologia e doenças parasitárias . Vaga

Professores jubilados

Dr. Pedro Augusto Dias

(5)

A Faculdade não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação. (Art. 15.° § 2.o do Regulamento Privativo da Faculdade de Medicina do Porto, de 3 de Janeiro de 192U).

(6)
(7)

A meu Pai

Só para vós este modesto trabalho terá valor.

E a vossa aspiração satisfeita na realização do sonho mais ar-dente, que tantos sacrifícios vos custou.

A miiQja «anta-Mãe

Pequeno tributo do meu amor imenso e eterna gratidão.

(8)
(9)

A M I N H A S IRMÃS

Adelina: e Etelvina

Com um grande abraço de reco-nhecimento pela vossa bondade e carinho.

d/E'meu cunhado ^osé DlZota

Um grande abraço de fraternal afecto.

(10)

A MEUS T I O S

tSVmélia e tdaaaaim <ie %JT<IIÍ<Í

Á expressão sincera da minha amizade e profundo reconhe-cimento.

A MEUS P R I M O S

KjTeíicidade,

mas J5

e AuaA ecc. (Cwadad

(11)

A minha madrinha e meu tio Teixeira

Esquecê-los neste momento seria uma falta no cumprimento do meu dever.

A minha tia Etelvina e filhos

Abraço-vos com muita amizade.

M M f l f l l

A todos os meus

(12)

fl meus sogpos e eqnhados

Amizade de filho e irmão.

À EX."* SR.A

Û. Eselavitud de la Gandara Itymia JVIeyef

A minha amizade e dedicação sin­

cera, pela educação e desvelado carinho que à minha esposa soubésteis dar.

(13)

AO MEU AMIGO E COMPANHEIRO DE ESTUDO

Dr. José Pinheiro de Campos

As canceiras do 7iosso estudo

tece-ram entre nós a mais forte e {morredoura amizade. Jamais

esqueças que sou sempre por ti.

A todos os meus amigos

O mais fraternal dos abraços.

Aos meus condiscípulos

Um abraço de despedida.

(14)

AO EX.M0 SR.

DP. Fernão Couceiro da Cosia

Como prova de verdadeira ami­ zade.

(15)

I

À EX.MA S R /

O maior respeito e a mais alta

consideração.

AO EX.M0 SR.

Qlysses Sá ^Ferreira

Sois dos bons amigos que nunca se esquecem.

(16)

AO MEU EX.M0 AMIQO

Dr. José Carlos fcopes

e sua ex.

ma

esposa e filho

O preito de verdadeira estima e profundo reconhecimento por todas as atenções que me teem dispensado.

AO EX.M0 SR.

Albino Joaquim Peixoto

Jamais esquecerei que sois um dos maiores credores da mi-nha amizade.

(17)

JÍO CORPO DOCENTE

DA

Faculdade de Medicina do Porto

\

(18)

AO MEU EX.«o PROFESSOR e ilustre presidente de tese

^Ût. (Staao de (St/meida

Homenagem de consideração e respeito.

(19)

33;

(20)

PREFACIO

O Dever e a S^ecessidade são duas forças que actuam sobremaneira no meu espirito e julgo que desnecessárias se tornam as explicações.

Terminado o y.' ano do curso médico, não podia ficar inactivo à espera de ocasião oportuna para dar cumprimento à Lei que me obriga a apre-sentar um trabalho de tese, para livremente poder exercer a profissão médica.

Sendo-me marcado um prazo deveras curto para seguir para uma das nossas colónias africanas, fiquei inhibido de poder dar seguimento a um assunto

que, com carinho, tinha abraçado evi-me, portanto, obrigado a dissertar acerca dum caso clínico que pudesse o mais honestamente possível desenvolver

rapidamente. Com muito boa vontadeprestaram-me valioso auxilio e assim apresento meu humilde e obscuro trabalho, que devido à precipitação com que é feito, e à restrita bagagem scientifica que

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possuo, vai eivado de imperfeições e cheio de lacu-nas. Por isso êle tem muito a esperar da benevo-lência do Ex.mo Júri que me julgar.

Foi para o campo das esplenomegalias que me conduzi. Este assunto, bastante interessante piara mim, visto pensar ir a breve trecho tratar com a Patologia dos Trópicos, è imensamente escabroso, não só pelas inúmeras dificuldades que encontra quem como eu principia, mas também pelo pouco que conhece acerca de tal assunto, principalmente sob os pontos de vista etiológico e terapêutico.

Finalizando, não podia deixar de exarar aqui o meu mais profundo reconhecimento pela forma bondosa como o Il.mo e Ex.ma Sr. Professor

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Dr. Tiago de Almeida me acolheu e se prestou a guiar este muito humilde trabalho e também pela * honra que se dignou conjerir-me, presidindo à sua defesa.

Aos Ex.nos Srs. Drs. Albino dos Santos e

Aitreliano Pessegueiro também, muito penhorado, agradeço o seu muito valioso auxilio.

Ao Álvaro Aguiar, um afectuoso abraço pela sua cooperação.

(23)

V

Entre as glândulas endocrinicas, uma ha, a glândula esplénica, cuja fisiologia é ainda muito mal conhecida.

Daqui derivam, consequentemente, as falhas enormes que se encontram na sua semeiologia e semeiótica, e que muito embaraçam o clínico no estudo das doenças do baço.

Este órgão, batido por vezes por diversos pro-cessos mórbidos, reage, directa ou indirectamente, hipertrofiando-se, sendo necessário ir buscar fora dele outros dados, pelos quais possamos fazer luz sobre o assunto e assim estabelecer a sua noso-logia.

Porém, nem sempre assim sucede e também por vezes as lesões esplénicas são concomitantes com lesões de outros órgãos, principalmente do fígado e gânglios, tornando a possibilidade de confusão ainda maior ou, pelo contrário, auxiliando o nosso diagnóstico.

(24)

No baço, entre cujas funções melhor conhecidas se colocam as funções hemalopoiética e dupla fun-ção hemolítica e leucolitica, a patogenia das suas hipertrofias, isto é, a patogenia das esplenomega-lias, explica-se pela retenção na sua polpa dos retos celulares que provêem deste duplo papel destruidor, acrescentado do estado congestivo de que se faz acompanhar, da hiperformação de elementos celu-lares mononucleados e da reacção linfática do tecido conjuntivo.

(25)

CAPÍTULO I

ObservaçSo clínica

Doente n.° 584

T. V. S., de 49 anos de idade, natural do Marco de Canavezes e morador na rua 9 de abril, 721, desta cidade.

Entrou para este Hospital a 17-XI-925, sendo internado na sala da Escola da enfermaria 4, e tendo transitado para a sala de Nossa Senhora da Conceição, da mesma enfermaria, a 27 do mesmo mês, onde o conhecemos.

ESTADO ACTUAL Sintomas gerais:

Este doente, que se encontra apirético, apre-senfa-se bastante emaciado, com astenia, fadiga fácil e com uma acentuada palidez da pele e das mucosas. Os gânglios, principalmente os

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42

res e os inguinais acham-se um pouco tume-factos, móveis e indolores. Conserva o apetite, mas as mais pequenas refeições são seguidas de afrontamento e de suores profusos. Tem a lín-gua bastante saburrosa.

Sintomas abdominais:

Ventre muito abaulado.

Este abaulamento é mais notável no hipocôn-drio e no flanco do lado esquerdo. Nos planos de declive do flanco e da fossa ilíaca do lado direito, encontram-se sinais de ascite; estes sinais foram confirmados por uma punção, que nos deu uma pequena quantidade de líquido ascítico de aspecto citrino.

Queixa-se o doente duma obstipação que dura em média dois a três dias, ora com fezes duras, ora diarreicas.

O fígado encontra-se um pouco reduzido no seu volume, e o baço, pelo contrário, acha-se muitíssimo hipertrofiado .corno facilmente se nota no esquema junto.

Esta tumefacção enorme do baço ocupa todo o hipocôndrio, flanco e fossa ilíaca do lado es-querdo, onde encontramos pela palpação o polo inferior do órgão, dois dedos travessos, abaixo da linha bi-ilíaca.

(27)

43

DOENTE — T. V. S.

(28)

44

É móvel, liso e indolor, com uma chanfra-dura ao nível da cicatriz umbilical.

Sintomas cardio-vasculares:

Pulso pequeno, regular e hipotenso. (64 pul-sações por minuto).

T. M. 11,5 —T m —6,5.

Ouve-se o 2.° ruído aórtico duro e os ruí-dos da ponta bastante atenuaruí-dos. Não se ouvem sopros anémicos.

Sintomas pulmonares:

Tosse pouco acentuada e ligeira expectoração muco-purulenta.

A caixa toráxica deste doente é assimétrica, em virtude de ter uma escoliose dorsal de con-vexidade esquerda, formada pelas 4.*, 5." e 6." vértebras dorsais.

Pela percursão e auscultação nota-se o que mais ou menos se acha figurado no esquema junto, isto é: sub-macissez nas bases pulmo-nares (mais à direita), com um certo grau de rudeza respiratória e também alguns sarridos crepitantes.

(29)

Rt

DOENTE — T. V. S.

(30)

46

Sistema nervoso:

Nada de anormal.

Como diz" o Ilustre Professor Dr. Tiago de Almeida que «quando estamos em face duma esplenomegalia, qualquer que seja o juízo que dela formemos, devemos sempre pedir uma fór-mula hematológica e uma contagem de glóbulos que nos permita avaliar da função hematopoié-tica do baço», estas pesquisas foram feitas pela primeira vez para o nosso caso em 28 e 29 du

XI-925, no Laboratório Nobre, da Faculdade de

Medicina, dando os seguintes resultados :

Análise quantitativa . . . . Amostra 16.787 Hemoglobina 68 °/o

Hematias 3.680.000 por mm3 Glóbulos brancos 20.000 por ">m3

Fórmula leucocitária

Granulocitos neutrófilos 22,78 °/o Granulocitos eosinófilos 0,96 °/0

Mastleucocitos 5,40 % Linfocitos . . . : 12,74 % Monocitos 0,96 %

(31)

47

Promielocitos neutrófilos 0,38 °/0

Mielocitos neutrófilos , 30,27 °/o Mielocitos eosinófilos 0,57 °/0 Mastielocitos . 0,19 °/o Metamielocitos neutrófilos 10,61 % Metamielocitos eosinófilos 1,15 °/0 Linfoblastos (?) 3,08 % Megaloblastos linfoides 0,77 °/0

Megaloblastos policromatófilos . . . 1,92 °/o Eritroblastos basófilos 2,50 % Eritroblastos policromatófilos . . . . 1,93 °/o Eritroblastos com gran, basófilas. . . 0,57 °/o

Megacariocitos 0,37 °/0

Elementos de carácter mal definido . . 1,35 % Número, forma e disposição atípica das plaquetas de Bizzozero. Plaquetas gigantes atípicas e plaquctogénese atípica.

A

-Estes exames foram repetidos em 3 de'Janeiro de 1926 pelo aluno do 5.° ano Álvaro Aguiar e deram como resultado o seguinte:

Exame hemocitológico

Glóbulos rubros por mm3 . . . 2.256.000

Glóbulos brancos por mm3 18.000

R I - G B _ '

Relação ^ _ - ^

Hemoglobina 40 °/0

(32)

48 Fórmula leucocitária Polinucleares neutrófilos Mielocitos neutrófilos . Polinucleares eosinófilos Mielocitos eosinófilos Polinucleares basófilos . Mielocitos basófilos . . Mediomononucleares (monocitos] Linfocitos (grandes, pequenos e

39,50 °/0 7.110 25,25 % 4.345 2,75 495 4,00 720 45j 45) 3,75 — 675 90 anómalos) 24,25 — 4,865 100,00-18.000 Citologia em geral.

Anisocitose e poikilocitose das hcmatias. Alguns glóbu-los rubros corados metacromaticamente e outros com raras granulações azusófilas.

Raros normoblastos — (135 por """?).

Abundância de glóbulos brancos em estado embrioná-rio, mielocitos especialmente neutrófilos. Algumas células de Turck.

Além destes exames foram feitos ainda outros, como: uma análise completa de urinas, que nos fez conhecer que havia uma hipazotúria, urobi-linúria e indicanúria ao mesmo tempo que uma diminuição da relação cloro-ureica e elevação das relações úrica e fosfo-ureica.

Nenhuns vestígios de albumina nem de glu-cose.

(33)

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(34)

50

Uma prova da eliminação do azul de meti-leno, que como se vè neste gráfico junto, esta eliminação fez-se ciclicamente, atingiu o seu má-ximo 1 '/g depois da injecção e durou 53 horas.

Uma prova da gliconúria alimentar, pela qual vimos aparecer o açúcar nos tubos das 7.", 8.% 9." e 10.' horas.

Nos tubos das primeiras horas a redução do licor de Fheling foi tão ligeira que apenas se constatou no dia seguinte.

Também a prova da hemoclasia digestiva que realizamos neste doente" deu-nos os seguintes ensinamentos:

Antes do leite:

T M - 9 )

. [ I o — 4 — Glóbulos brancos — 19.800 t m — 5;

Vinte minutos depois do leite:

T M - 10

,. . , Io — 4,5 — Glóbulos brancos — 22.700 t m — 5,5 ;

Quarenta minutos depois:

Io — 4 — Glóbulos brancos — 16.600 T M - 10

t m — 6

Sessenta minutos depois:

» ~ z'A '° ~~ 4 — Glóbulos brancos — 16.900 t m — 5.51

(35)

;

51

Conclusão — Como se vê por estes resultados colhidos, a prova da hemoclasia digestiva é leve-mente positiva.

Por estes quatro últimos exames menciona-dos, concluímos a existência duma insuficiência hepática.

Foram feitas ainda duas reacções de Wasser-man, uma no sangue, outra no líquido ascítico, e duas reacções de Van Pirket, que resultaram negativas.

História da doença:

Este doente conta-nos que o seu sofrimento actual começou em Março do ano transacto, notando então que o seu ventre aumentava de volume cada vez mais, tendo chegado ao máximo este abaulamento 3 meses depois do seu início. Desde aí, esse máximo tem-se mantido até hoje sem ter apresentado quaisquer probabilida-des de diminuir.

O doente consultou um médico, cujo dia-gnóstico e terapêutica nos são por completo des-conhecidos. Em meiados de Setembro, o seu

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estado agravou-se por um estado febril que se prolongou durante um mês, com uma diaforese intensa, tendo-se-lhe edemaciado o escroto duma maneira tal que ainda hoje se notam vestígios.

Este estado febril passou, mas o doente cada vez mais adinámico e com o volume do ven-tre no mesmo estado, resolveu internar-se neste Hospital, o que fez em 17 de Novembro de 1925.

Antecedentes pessoais:

Diz-nos este doente que tem sempre sofrido do estômago, traduzindo esse sofrimento por digestões difíceis e demoradas, com afrontamen-tos, água em fio pela boca, dores na região hepi-gástrica e vómitos frequentes, que muitas vezes o próprio doente provocava pela titilação da úvula.

Teve um ligeiro ataque de varíola aos 20 anos e não menciona absolutamente nenhum passado venéreo.

Todavia, um facto importante é necessário registar aqui e que é o seu passado alcoólico. Este doente bebia vinho, de que abusava por vezes, e ainda não deixava de beber meio quar-teirão de aguardente todos os dias e em jejum. Só há dois anos é que êle deixou este hábito, de que muitas vezes abusou também.

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Menciono assim estes factos com uma certa minuciosidade, pois julgo-os de uma importân-cia grande ou mesmo capital para o estado fun-cional do seu fígado e para a génese da sua esplenomegalia.

Antecedentes familiares e hereditários:

Este doente, que é casado, diz-nos que a mulher teve 10 filhos, dos quais morreram 3, 1 de 14 anos, com tifo exantemático e 2 em pe -quenos, não sabe porquê. Nunca teve abortos. Os pais são já falecidos, não sabendo com que doença vitimados.

(38)

CAPÍTULO II

Diagnóstico, evolução e prognóstico

Pelo que temos observado, frisam-se neste doente, além dos sintomas gerais, dois sinais, que são fundamentais e que estabelecem o dia-gnóstico.

Esses sinais são : a esplenomegalia e as alte-rações hemáticas.

Analisemos estas últimas.

No primeiro exame hemocitológico feito, vi-mos que o número das hematias estava dimi-nuído (3.680.000), ao passo que o número de gló-bulos brancos estava sensivelmente aumentado

C R

(20.000), o que fazia com que a relação TT-K fosse igual a jg^. Ao mesmo tempo havia oligocrome-nia (hemoglobina 68 % ) .

Que podemos concluir daqui? 1." Que há oligocitemia ;

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Isto leva-nos a crer na existência duma

leu-cemia.

Porém, como a hiperleucocitose que aqui se observa está longe ainda de assumir o grau ele-vado, que é característico das leucemias (50.000 a 200.000 e mais ainda), diremos bem, se cha-marmos ao nosso doente um sub-leucémico.

Examinando agora a fórmula leucocitária deste doente, nós vemos que a variedade celular sanguínea mais predominante é a variedade mie-locitária, assim distribuída:

Mielocitos neutrófilos 31,27% Mielocitos eosinófilos 0,57 %

Promielocitos neutrófilos 0,38 % Mastielocitos 0,19 °/o Metamielocitos neutrófilos . . . 10,51 % Metamielocitos eosinófilos 1,15 °/o 44,17 «/o

Por este resultado, que traduz claramente a acentuada reacção mieloide e pela hipertrofia notável do baço, que constitue o sintoma mais predominante, somos levados a denominar a afec-ção deste doente pelo nome de sub-leucemia

(40)

57

Além disto, observamos neste doente sinto-mas de outra ordem, que nos dizem do volume e do funcionamento do seu fígado.

Todos estes sinais já foram relatados e tam-bém já por eles concluímos a existência duma ligeira insuficiência hepática.

Haverá, porém, alguma relação entre esta insuficiência e a esplenomegalia?

Apesar de julgar a afecção hepática um pro-cesso puramente independente, sem lhe faltar até a etiologia que lhe é própria, quer-me pare-cer que ela não terá deixado de influir sobre o processo esplenomegálico.

Para evitar repetições, ao tratar da evolução, desenvolverei um pouco mais este ponto.

Evolução :

Entrando no estudo deste parágrafo, ocorre-nos logo fazer esta pregunta :

A esplenomegalia será primitiva ou secun-dária?

É este um dos pontos difíceis de resolver no nosso caso. Todavia, em virtude do grau muito pouco acentuado, que apresenta a sua insuficiên-cia hepática em relação com a enorme hipertro-fia do baço, somos levados a crer que a esple-nomegalia seja primitiva, tendo seguido uma

(41)

58

marcha insidiosa, que passara desapercebida ao doente e que só de há 1 ano a esta parte ela se tenha tornado bem palpável, depois da intoxi-cação alcoólica ter creado um estado de menor resistência, de modo a permitir o aumento rápido da megalosplenia que já preexistia.

As alterações hemáticas são, sem dúvida, con-secutivas à esplenomegalia.

Pelas análises realizadas durante a nossa observação, notamos que ainda agora essas alte-rações se vão acentuando.

Assim, em 28-XI-925, o exame hemocitoló-gico, mostrava

3.680.000 glóbulos rubros por mm3

20.000 glóbulos brancos por ram3

68 % de hemoglobina

GB _ 1

G R ~~ 184

Em 3-1-926, o mesmo exame indicava-nos a existência de:

2.256.000 glóbulos rubros por mm3

18.000 glóbulos brancos por ram3

40 °/0 de hemoglobina e a relação

G B _ 1 G R — 125

(42)

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Prognóstico :

A despeito dos trabalhos esperançosos, que ultimamente teem sido realizados na terapêutica desta doença e que eu relatarei num dos capítu­ los ulteriores, eu estabeleço a este doente um prognostico muitíssimo reservado, para não dizer, mesmo terrível.

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C A P Í T U L O III

Etiologia :

Fazer o diagnóstico causal de uma leucemia é um problema deveras difícil e muitas vezes mesmo impossível.

Apesar de se citarem casos de leucemia, agrupados na mesma família ou na mesma loca-lidade, esta doença não parece ser nem heredi-tária, nem familial, nem contagiosa.

É uma doença própria do adulto.

As infecções crónicas, tais como a sífilis, a tuberculose, o paludismo e a leishmaniose, prin-cipalmente, teem sido incriminadas como supos-tos agentes etiológicos; alguns casos há mesmo, em que o bom resultado do tratamento das leu-cemias, feito pelos medicamentos específicos des-tas infecções, parecem comprovar esdes-tas diferentes etiologias, mas também muitos outros, em que se tem procedido identicamente e sem qualquer bom resultado, fazem com que o problema fique envolto ainda na mesma obscuridade.

(44)

62

Alguns factos experimentais teem sido reali-zados em animais, que levam os seus autores a dizer que diversas infecções e intoxicações são capazes de provocar a hipertrofia do baço e o aparecimento no sangue de hematias nucleadas e mielocitos granulosus.

Ao nosso doente não nos foi possível averi-guar qualquer infecção.

A hipótese d u m a infecção sifilítica foi contes-tada, não só pela negatividade das reacções de Wasserman feitas no sangue e no líquido ascí-tico, mas também pela improficuidade do trata-mento específico anti-sifilítico, a que o doente foi submetido, por meio de injecções de benzoato de mercúrio.

Foram feitas também duas reacções de Van Pirket, com o fim de despistar qualquer infec-ção tuberculosa e que resultaram do mesmo modo negativas.

Além disto, não se colheram sinais clínicos alguns suficientes, para podermos afirmar ou, pelo menos, suspeitar destas duas infecções atrás mencionadas.

Nos antecedentes pessoais do doente nada se averiguou também que nos encaminhasse para

(45)

63

a hipótese de qualquer infecção palustre ou leishmaniásica.

Tendo-se só conseguido conhecer a acentuada intoxicação alcoólica, que o doente vinha fazendo de há muito tempo e que muito bem explica a sua insuficiência hepática, sentimo-nos propen-sos a aceitar este mesmo alcoolismo crónico, se não como agente causal, pelo menos como factor predisponente da sua leucemia.

Terapêutica :

Como também já por duas vezes frisei, nada há mais precário que o tratamento das leucemias, apesar dos múltiplos e variados processos tera-pêuticos de que hoje se dispõe.

Ainda em primeiro lugar, deve ficar estabe-lecido, que em leucémicos, nos quais possam ser reconhecidas infecções, tais como o sezonismo ou a sífilis, os respectivos tratamentos específi-cos pela quinina ou pelos sais mercuriais e 914, devem ser tentados logo desde o início.

Na improfiquidade destes tratamentos ou nos casos em que nenhuma infecção possa ser incri-minada como suposto agente etiológico, como no caso que observamos, todos os tratamentos descritos até hoje podem e devem ser tentados. Casos há, e infelizmente muito frequentes,

(46)

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em que assim se procede, não obstante resulta-rem todos eles inúteis.

Vou passar a mencionar alguns destes trata-mentos, que julgo dignos de nota.

l.o — A radioterapia:

Diz Beaujard que o prognóstico das leuce-mias mieloides tem sido completamente transfor-mado pelo emprego da radioterapia no trata-mento desta terrível afecção.

Ao lermos isto, parece que assim é, na ver-dade, mas ao julgarmos, mesmo pelo que o pró-prio Dr. Beaujard nos diz, vemos que não é tanto assim, infelizmente.

Primeiro relata os étimos resultados que se observam por este meio de tratamento : melho-ras no estado geral, melhomelho-ras na esplenomega-lia e melhoras nos sinais hemáticos.

Se estas melhoras fossem persistentes seria animador, mas logo em seguida, o mesmo autor confessa-nos que isto se dá somente durante pou-cos meses, voltando novamente tudo à primeira forma, com a agravante de alguns acidentes, sérios e graves, que podem ser provocados por este tratamento, até que o doente morre.

Assim, em vez de lhe chamar animador, chamo-lhe somente paliativo e continuo a

(47)

afir-65

mar que o prognóstico da leucemia mieloide é muito severo.

2.0 — A curieterapia :

Registam-se por este processo melhoras acen-tuadas ao princípio, mas o futuro, aliás muito próximo destes doentes, fica da mesma forma ensombrado e do mesmo modo terrível.

3.0 —O benzol:

A darmos crédito, que todavia é devido ao Dr. Charles Aubertin, devemos considerar o ben-zol como um bom agente terapêutico da leuce-mia mieloide, apesar dos seus efeitos serem tam-bém bastante incertos.

O benzol, ou benzeno, ou ainda a benzina cristalisável- do Codex, cuja fórmula é C6H6, foi

introduzido na terapêutica por Koranyi em 1912 e em França por Aubertin e Parvu (1913), Vaquez e Yacoël (1918).

Por consequência das experiências de Selling, demonstrou-se que este novo medicamento era dotado dum poder leucotóxico, que provoca a desaparição progressiva dos leucócitos sem actuar sobre as hematias. • .

Alguns bons resultados teem sido

(48)

66

dos com este novo produto, mas não vai sem dizer que esses resultados estão longe ainda de serem curativos.

Todavia, sempre são melhores que aqueles que se obteem pelos processos já mencionados, que são mais dispendiosos e de mais difícil apli-cação, ao passo que o benzol é um medicamento simples e facilmente manejável.

Aubertin e Parvu prescrevem-no às gotas, à razão de XXX por cada uma das duas refeições, em xarope, no leite ou no vinho.

Devem-se evitar, contudo, as doses elevadas, que podem provocar acidentes hemorrágicos.

Além destes tratamentos mencionados, deve-mos citar ainda os tratamentos sintomático e higiénico.

O tratamento sintomático:

Faz-se por meio dos arsenicais simplesmente, ou por estes associados ao ferro sob a forma de cacodilato de ferro.

Pelos arsenicais usa-se o Licor de Fowler, que se começa a administrar por doses pequenas (V a X gotas), aumentando-as progressivamente até XX ou XXX gotas por dia.

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O cacodilato de soda, em injecções hipodér-micas, substitue, com vantagem, o Licor de Fowler, por ser muito melhor tolerado.

O tratamento higiénico:

Este consiste em descanso, ar livre, alimen-tação suficiente e inalações de oxigénio, afim de remediar a hematose defeituosa.

Este tratamento pode e deve-se associar a qualquer dos outros já mencionados.

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CONCLUSÕES

1.* — A hipótese infecciosa, específica ou não específica, conhecida ou desconhecida, deve ocu-par sempre o l.f lugar na génese das leucemias esplenomegálicas.

2." — O papel etiológico, desempenhado pelas intoxicações, não pode ser posto de parte, se-gundo os conhecimentos médicos actuais.

3." — Só pela hiperleucocitose e pela oligo-citemia, observada no exame do sangue dum esplenomegálico, pode ser estabelecido o dia-gnóstico de leucemia.

Visto. Pode imprimir-se. Tiago d'Almeida, Alfredo de Magalhães,

(51)

BIBLIOGRAFIA

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Referências

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