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Urban Landscape Educates for Diversity

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Academic year: 2021

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Taciane Jaluska**, Sérgio Rogéro Azevedo Junqueira***

Resumo: este texto é o resultado de uma pesquisa qualitativa exploratória e documental visando compreender os espaços religiosos como instrumentos educativos para o respeito a diversidade cultural brasileira, a partir dos roteiros de turismo urbano voltados para o patrimônio cultural religioso produzidos pelo Instituto de Turismo de Curitiba e Fundação Cultural de Curitiba. Para tal propomos a discussão a partir da compreensão do turismo como espaço de educação para a pluralidade cultural por meio da construção de roteiros com concepções e proposições pedagógicas. Os resultados apontam que a prática do turismo edu-cacional para promover estudos do meio auxilia a desenvolver no indivíduo não só aspectos cognitivos, mas também emocionais, afetivos, sociais e culturais, favorecem encontros que estimulam a reflexão dos alunos e promovem o co-nhecimento do meio sociocultural onde vivem e da enorme diversidade cultural brasileira, descontruindo o etnocentrismo.

Palavras-chave: Turismo. Turismo Religioso. Educação Religiosa.

E

ste artigo é o resultado da terceira etapa da pesquisa “Espaço Sagrado” que pos-sui um caráter fenomenológico de abordagem qualitativa, realizada por meio de estudos bibliográficos e do mapeamento de documentos sobre os referidos espa-ços, observação e descrição da constituição destes, sob a proposta de compreen-der o fenômeno alisado, desvendando-o, não aos fatos em si mesmo, mas sim aos

PAISAGEM URBANA

EDUCA

PARA

A DIVERSIDADE*

–––––––––––––––––

* Recebido em: 14.08.2017. Aprovado em: 27.10.2017.

** Doutoranda em Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2013). Graduado em Turismo (2010).E-mail: taci_pl@hotmail.com.

*** Livre Docente e Pós-Doutor em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Graduado em Ciências Religiosas (1987) e em Pedagogia (1990). E-mail: srjunq@gmail.com. Lattes:

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seus significados (FORGHIERI, 1993, 54). Este projeto iniciado em 2006 com o mapeamento dos diferentes espaços das tradições religiosas presentes no Estado do Paraná, esta primeira etapa foi concluída em 2008 e como resultado a publi-cação do livro “O Sagrado: fundamentos e conteúdos do ensino religioso” (2009, Intersaberes) e “Espaço sagrado: estudos em geografia da religião (2009, Inter-saberes). Sendo a segunda etapa realizada entre os anos de 2012 a 2014 com a organização de um roteiro virtual aplicando a leitura urbana do espaço religioso como resultado foi produzido um vídeo para fulldome “Espaço Sagrado” (2014) e a publicação do caderno de orientação de atividades “Espaços sagrados: ses-são do professor: sugestões de atividades pedagógicas multidisciplinares” (FTD/ PUC PR, 2015).

Esta terceira etapa realizada no período de 2015 a 2016 visa aprofundar a utilização efetiva dos espaços religiosos urbanos a partir dos roteiros da Instituto Muni-cipal de Turismo e da Fundação Cultural de Curitiba. Nesse sentido, o presen-te artigo prepresen-tende realizar uma breve análise dos ropresen-teiros turísticos, culturais religiosos, criados pelo Instituto de Turismo de Curitiba e Fundação Cultural de Curitiba e suas potencialidades como instrumento de educação para a di-versidade cultural.

TURISMO COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO PARA A PLURALIDADE CULTURAL Cultura também é compreendida como arte em geral e sua produção (pinturas em tela,

gravuras, exposições daí demandadas, a música, os festivais de música, a lite-ratura, por exemplo), bem como as manifestações folclóricas de maneira geral. Essas diferentes acepções trazem para esse termo a dificuldade de lidar com esse assunto. Por isso, torna-se importante aqui que demarquemos o nosso ambiente, ou seja, o posicionamento que adotaremos no decorrer deste traba-lho a fim de que possamos tornar nossa proposição de abordagem mais bem circunstanciada.

Entende-se que a cultura encontra sua explicação mais singular nessa perspectiva. Suas particularidades só podem ser vistas, embora possa parecer redundante, a par-tir e dentro dela mesma. São os seus próprios sinais que a explicitam. Razão pela qual, para fins deste trabalho será adotada a definição de Geertz (1989), na sua apreensão semiótica para quem o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu (p. 40) e que, segundo ele, precisa ser analisada. Assim, sua interpretação permite desvendá-la em termos dos com-ponentes desses significados.

Tudo aquilo que criamos a partir do que nos é dado, quando tomamos as coisas da natu-reza e as ressignificamos como os objetos e os utensílios da vida social repre-senta uma das múltiplas dimensões daquilo que, em outra, chamamos cultura.

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Com Geertz, admite-se que a cultura não significa poder, mas que por outro lado tem o poder de conter, simbolizar e traduzir formas de viver socialmente construídas e valorizadas. A cultura tem o poder de enraizamento do sujeito em modos de vida, em modos de ser que o sujeita às práticas, comportamen-tos: a tipos de alimentos, modos de vestir. Gafanhotos e cobras são iguarias alimentares na China. No Brasil pensar em comê-los causa repulsa. A carne de vaca é proibida aos hindus, da mesma forma que a de porco é interditada aos mulçumanos (LARAIA, 2007, p.15).

A importância do que cada aspecto da cultura tem para o grupo social e sujeitos nele inserido acha-se estritamente vinculado ao significado que a cultura tem para eles, eis o seu sentido mais profundo: a pizza tem um sentido, e por isso, um significado peculiar para os italianos e somente para eles, do mesmo modo que o churrasco para os gaúchos. Ainda que se afirme estar imersos em uma cultura que não a de sua origem, mesmo assim não se faz parte dela, e, mesmo que tenha aprendido a língua nela falada, não se nasce nela.

A cultura expressa diferentes linguagens daí a importância de fazer sua leitura desde a perspectiva semiótica. Estas podem estar ou não explicitas. Elas incorporam as diferenças de vestir, de comer, de acreditar, de morar, de rezar e de simbolizar essas diferenças.

Neste contexto visando a compreensão da diversidade cultural de uma comunidade para que os indivíduos possam respeitar a pluralidade e superar preconceitos é que se propõe como estratégia a educação realizada por meio do turismo educacional. Metodologicamente, a proposta já foi estabelecida desde o sé-culo XVI, e, mais tarde com Celéstin Freinet, reiterando suas possibilidades pedagógicas, porém, é somente a partir do século XXI que o turismo começa a ser explorado de maneira plena em escolas que utilizam-se dos benefícios do denominado turismo educacional ou turismo pedagógico. Esse tipo de ati-vidade, realizada com agências especializadas no ramo, visa aproximar os conteúdos teóricos aprendidos em sala de aula da realidade concreta gerando maior significação para os alunos, que passam a aprender de maneira espontâ-nea, lúdica e sociável e a interagir com o objeto de estudo.

De acordo com Pacheco (2002, p.4) o turismo educacional, religioso e cultural, não pode ser considerado uma mera excursão, uma vez que envolve aprendizado e apresenta horizontes bem mais amplos já que busca integrar ações desenvolvi-das dentro da sala de aula ao currículo, visando assim, auxiliar nas propostas atuais de ensino democrático, inclusivo e voltado para a diversidade cultural brasileira.

Diante das discussões atuais visando um ensino mais democrático, principalmente no campo do ensino religioso, que deve manter-se livre de proselitismos buscan-do a compreensão buscan-do fenômeno religioso e suas manifestações nas mais

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varia-das religiões existentes, o turismo educacional pode tornar-se uma ferramenta eficaz no auxílio educativo, uma vez que apresenta os conteúdos vistos na teoria da sala de aula no local sagrado.

O principal elemento motivador do turismo educacional, religioso e cultural, em espaços sagrados é que o aprendizado ocorra de maneira espontânea e permita que o aluno obtenha novas situações de aprendizado mediante a interação com o objeto de es-tudo através de uma educação não formal, possibilitando não só o aprendizado em si, mas também a construção de um cidadão mais consciente do meio onde vive. O turismo pode ser compreendido como um fenômeno social que consiste no deslocamento

voluntário e temporários de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamental-mente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem de sue local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada gerando múltiplas inter relações de importância social, econômi-ca e cultural (TORRE, 1998, p.24). Especifieconômi-camente neste cenário, o turismo cul-tural engloba todos os aspectos das viagens pelos quais o turista conhece a vida e o pensamento da comunidade receptora. Nesse sentido o turismo se apresenta como uma ferramenta importante para promover as relações com o deslocamento de pessoas interessadas na cultura de um determinado destino e que buscam conhecer seus monumentos, suas obras, seus museus e seus hábitos culturais preservados no patrimônio do lugar e nos hábitos e costumes dos autóctones.

O turismo cultural segmenta-se em vários tipos de turismos específicos, sendo o mais conhecido o turismo religioso que é motivado pela fé ou pela curiosidade de conhecer outra cultura religiosa, onde o turista promove visitas a igrejas, san-tuários e qualquer outro lugar que tenha algo ligado ao sagrado. Os turistas religiosos geralmente realizam outras atividades nos locais de destino como compras e lazer, já os turistas peregrinos, costumam dedicar-se integralmente à atividade religiosa na viagem. Há também o turismo místico ou esotérico, motivados pela busca do equilíbrio, contato com a natureza e outras atividades ligadas ao bem-estar do corpo, da mente e da alma.

Portanto, entende-se como turismo religioso a busca pelo conhecimento de comunidades com identidades próprias religiosas ou como busca de experiência de conhecer espaços de fé. Assim, estabelecer roteiros que favoreçam a visita a espaços espe-cíficos para conhecer e compreender a pluralidade permitirá além da ampliação de informações a oportunidade de estabelecer novos contatos para superar pre-conceitos, por meio de roteiros articulados, por isso sua importância.

TURISMO PEDAGÓGICO ATRAVÉS DA METODOLOGIA DO ESTUDO DO MEIO A denominada aula passeio foi proposta pelo pedagogo Caléstin Freinet, nascido em

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de sua própria prática observadora, anotava os aspectos positivos das crianças. Freinet dispensava teorias complexas, mas acreditava que as crianças apren-diam por suas próprias hipóteses. Era crítico da escola tradicional, era contra o autoritarismo, pois para ele as crianças deveriam fazer descobertas interes-santes a partir de suas próprias vivências. Diante do fato da escola tradicional da época, Freinet percebeu a necessidade de mudança, levando as crianças a lugares onde elas se sentiam felizes, ter o contato com o ambiente era muito importante. Os alunos tinham uma sensação de afeto com a própria natureza o que contribuía para que o ensino-aprendizagem ocorresse com significados. Ao retornar para sala de aula ele percebia uma maior interação sobre o conhecimento

que obtiveram por meio do ambiente. Essa aula passeio tinha como objetivo que os alunos conhecessem a vida fora de sala de aula, Freinet gostava de levar os discentes para essas aulas após o almoço para distrair o sono que dava nes-ses momentos. Sentia que o interesse dos alunos estava muito mais envolvido lá fora, com o contato direto com o ambiente.

A escola era concebida para Freinet, como elemento ativo de mudança, pois acreditava que as atividades manuais não eram tão importantes quanto as intelectuais, à disciplina resultava da organização do próprio ensino aprendizado. O trabalho não pode se limitar ao manual, mas sim em compreender o homem como um todo.

Vale ainda ressaltar que as ações educativas são fundamentais na vida dos educandos, nesse sentido os pedagogos devem refletir na maneira de ensino que está sendo utilizado e aplicado. A educação sem dúvida é base de qualquer sociedade, por isso deve ser inserida com significados que poderão ser acarretados por toda a vida.

A aula passeio é uma organização coletiva, uma atividade que proporciona aos alu-nos a capacidade de realizar uma pesquisa a partir de sua própria reflexão. O professor nesse processo era um estimulador, mas a criação deveria partir da criança, a partir desse fato Freinet trabalhava textos livres, que surgiam desses processos de grandes construções. Assim, os trabalhos com as aulas passeio eram mais atraentes já que os alunos estavam ativos no processo de construção do conhecimento.

Deve-se ressaltar que a primeira etapa para que a aula passeio aconteça, deve ser o planejamento, integrando e articulando outras áreas do conhecimento e a se-gunda etapa seja o envolvimento com as demais disciplinas o que será mais interessante aos alunos. Podendo ser um grande estimulador aos alunos por trabalhar com a autonomia e com a responsabilidade, tornando o campo de investigação cada vez mais significativo. Sendo assim, o estudo do meio po-derá ser um fator bem relevante para que o homem possa explorar o espaço de maneira adequada.

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A ideia proposta por Freinet é bem interessante para que os envolvidos na área de educação percebam a real finalidade de se explorar o espaço integrado ao con-teúdo, existindo um elo entre indivíduo e ambiente, englobando a necessidade dos seres humanos utilizarem o ambiente como conhecimento, mas ao mesmo tempo respeitando-o. Dessa maneira podemos contribuir para um mundo me-lhor, no qual a percepção do estudo sensibilize a importância e existência do ambiente para própria sobrevivência dos indivíduos.

A aula-passeio consistia em atividades extraclasse, organizadas coletivamente pelos alunos, onde o essencial era valorizar as necessidades vitais do ser huma-no – criar, se expressar, se comunicar, viver em grupo, ter sucesso, agir-desco-brir, se organizar – tornando-os cidadãos autônomos e cooperativos (RAYKIL, E.; RAYKIL, C., 2006, p. 7).

Essas atividades extraclasse contribuem para que os indivíduos tenham o contato di-reto com o ambiente valorizando não só um trabalho voltado ao coletivo, mas também a uma formação autônoma, sendo que os próprios envolvidos nesse processo estarão contribuindo para um conhecimento diferenciado.

Nesse sentido, os Espaços Sagrados são palcos privilegiados para o estudo da diver-sidade cultural religiosa, por apresentarem a iconografia religiosa, que pode ser explorada com finalidade educativa por representar um guia para fé de um determinado povo.

Além disso, mais que oferecer apenas informações de cunho religioso, uma visita em Espaços Sagrados oferece uma gama de possibilidades multidisciplinares, pois reúne uma estrutura complexa de crenças, de imagens, de símbolos e sig-nificações religiosas e, por meio destas, é possível compreender várias formas de tradições culturais, lingüísticas, historiográficas, iconográficas e musicais, tornando o turismo educacional um instrumento para a complementação pe-dagógica em deferentes disciplinas, uma vez que o aluno tem a possibilidade de estabelecer relações entre a organização espacial e a construção do espaço geográfico, a história e as políticas de conservação do patrimônio material e imaterial, as artes, a cultura religiosa.

Desta forma os roteiros turísticos culturais são significativos exatamente por propor-cionar a interação com o objeto de estudo, favorecer a educação patrimonial e estimular o sentimento de pertença dos participantes com seu entorno. Assim, a ferramenta do turismo educacional, ajuda a suprir as antigas falhas na educa-ção escolar, que por muito tempo, manteve os alunos fechados na sala de aula e afastou o aprendizado, da vida prática em sociedade.

Portanto, se a escola visa atingir um ensino mais democrático, deverá estimular os alu-nos a explorar o seu entorno, e, mais que um simples passeio, converter o olhar

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do aluno em um olhar turístico, fornecendo-lhe informações, possibilitando novas experiências e contribuindo para o fortalecimento do espírito crítico e ciente do ambiente onde vive, para que no futuro, o aluno possa contribuir para o desenvolvimento local e tenha um maior comprometimento com a so-ciedade.

Se no passado o turismo não representava um aspecto relevante da dinâmica social brasileira, hoje não pode mais ser posto à margem do processo educativo, visto que os estudantes têm a necessidade e o direito de analisá-lo, criticá-lo, pesquisá-lo e principalmente praticá-lo e, ou, com ele conviver de forma mais consciente e produtiva. Para tanto, propomos a inclusão dessas discussões nos livros didáticos e paradidáticos veiculados no Brasil, a exemplo do que já ocorre em algumas publicações européias destinadas ao mesmo fim, bem como adotar, o quanto possível, o excursionismo como um recurso didático. (PORTUGUEZ, 2001, p. 188).

Para este processo é possível explorar em cada roteiro ações como: debate e planeja-mento da investigação em grupo sobre Religiões; explorar a expressão plás-tica, musical, dança das comunidades religiosas; apresentações de textos e temas que façam pontes com os programas das outras disciplinas; a oportuni-dade de filmes documentários e animações adequados; acolher na escola e dia-logar com representantes de comunidades religiosas; assim como outras ações de releitura social da presença do espaço cultural religiosa das comunidades. ROTEIROS: CONCEPÇÃO E PROPOSIÇÃO

Os roteiros turísticos em sua concepção são na realidade a descrição pormenorizada de seu itinerário ou de uma viagem, indica uma seqüência de atrativos de uma localidade merecedores de serem visitados. É possível encontrar alguns tipos de roteiro qual pode ser nacional, internacional, local, central periférico, in-termunicipais, estaduais regionais. Sendo que para a criação de cada um deles é fundamental conhecer seu público alvo, adequar os transportes existentes, determinar a viabilidade econômica e social, estabelecer o calendário anual, para que este roteiro seja aplicado da maneira e datas certas, para que não haja frustrações nas visitas realizadas e o impacto da atividade seja positivo tanto para o praticante quanto para o autóctone.

Apesar do próprio nome já expressar seu intuito, a definição de roteiro turístico não se aplica apenas a um conceito, mas basicamente “roteiros turísticos são itinerários de visitação organizados”. Os roteiros turísticos são uma das principais formas de contextualizar os atrativos existentes em uma localidade e, conseqüentemen-te, de potencializar seu poder de atratividade”, fazendo com que assim a oferta local seja divulgada, podendo aumentar o fluxo da demanda ao local.

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Para articulação do roteiro é importante que haja uma preocupação com esse público, que muitas vezes vem sozinhos ou até mesmo acompanhados, para conhecer a cidade de uma forma diferenciada, sem se preocupar se irá ser barrado por suas limitações ou não, tendo mais segurança naquilo que esta comprando da agência e já conhecendo os lugares que a cidade pode lhe oferecer como ofer-ta. Desta forma o produto final consumido pelo turista é composto por uma serie de informações relativas a sua viagem, que incluem lugares a serem visita-dos, permanência média e alimentação em cada lugar, dentre outros. O conjunto dessas informações compõe os roteiros turísticos. É importante que, dentro de uma estratégia de marketing, haja a preocupação de oferecer ao mercado sugestões de roteiros de acordo com a sua segmentação, prontos para a comer-cialização (BENI, 2001, p. 126).

Como experiência concreta do uso dos roteiros para a releitura da paisagem visando a formação para pluralidade, ou seja, compreendendo que a paisagem pode ser considerada elemento chave na atividade turística, pois é própria da dimen-são da percepção, tornando cada leitura única de acordo com a vidimen-são de cada observador, é possível afirmar que nenhuma paisagem irá transmitir a mesma sensação para todos os visitantes, pois sua observação não é somente a utili-zação bruta do sentido da visão, mas é impregnada também de elementos cul-turais próprios, por meio da experiência de vida de cada viajante, sua história e seus sentimentos.

As paisagens turísticas não são caracterizadas por um sistema de objetos que lhe seja particular, específico. As paisagens turísticas derivam da valorização cultural de determinados aspectos das paisagens, de modo geral e, nesse sentido, toda paisagem pode ser turística (CRUZ, 2000, p. 16-7).

Por isso a atividade turística apresenta uma dimensão material do ambiente, represen-tada pelo território e uma dimensão imaterial, represenrepresen-tada pelos sentimentos produzidos na captação da paisagem vivenciada. “O homem não vive somente numa Paisagem ‘material’, mas sim que de maneira consciente ou inconscien-te, ele inventa universos imaginários, compostos de fatos de representação e de sonhos”. (BARROS, 2002, p.6). Nesse sentido, o turismo promove uma valorização do espaço ou uma dinamização deste a fim de otimizar todos os seus recursos disponíveis para serem utilizados na atividade.

Devemos aprender a cidade através de sua estética característica original ou transfor-mada por novas lógicas do capital, conjuntamente com a sociedade em pro-cesso de transformação, o que a torna um lugar que representa o mundo, uma parte organizada e que interage com o todo, sobretudo, através da atividade turística, enquanto produto moderno do capitalismo (COSTA, 2010, p. 35). Por isso, o turismo é um importante instrumento, pois aproxima a comunidade de seu

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ideal, o turismo educacional busca a promoção do entendimento, conscienti-zação e valoriconscienti-zação da identidade local partindo de propostas amplas e diver-sificas.

É importante salientar o interesse da população por seu patrimônio, pois, é somente com o comprometimento dos cidadãos que esses bens são preservados e even-tualmente usufruídos por turistas, se não há o interesse e o comprometimento da população, a atividade turística também fracassa por meio do descaso pú-blico. O lazer então é a grande ferramenta para estimular o consumo dos bens culturais pela população que passa a valorizar o espaço tornando-o ainda mais atrativo aos olhos do turista atual.

LEITURA DAS EXPRESSÕES RELIGIOSAS EM ROTEIROS NA CIDADE DE CURITIBA

O conhecimento sobre o chamado Fenômeno Religioso é essencial para que os indiví-duos tenham capacidade para corretamente apreenderem a realidade nas suas múltiplas dimensões e complexidade, com esta perspectiva não apenas de uma História das Religiões, mas das suas dinâmicas e implicações na atualidade, afirmam-se como potenciadoras de uma participação cívica mais consciente e mais pronta para a tomada de opção. Tal processo é materializado segundo Gil Filho (2012, p.63) no espaço como algo singular na intuição mítico-religiosa, pois ocupa uma posição intermediaria entre o espaço concreto material e o abstrato, geométrico de conhecimento puro.

Efetivamente a criação e elaboração de um roteiro turístico-religioso favorecerá ao público novas orientações e integração com o espaço religioso. A realização de um roteiro pode tornar-se uma ferramenta eficaz para facilitar o aprendi-zado das questões inter-religiosas. Neste mister, poderá, também favorecer o desenvolvimento do relacionamento interpessoal, visto que o participante terá diferentes visões, influenciando em seus aspectos cognitivos, emocionais, afetivos, sociais e culturais. Um roteiro turístico pode servir de transformação do sujeito e visar a formação de uma de um cidadão mais consciente dos espa-ços religiosos permitindo a compreensão da simbologia dos espaespa-ços sagrados, assim como o levantamento dos aspectos históricos e religiosos das manifes-tações religiosas locais e ainda o mapeamento dos espaços sagrados e suas significações.

Percebe-se na sociedade pós-moderna que o pluralismo religioso vem se consolidando, com a característica da compreensão dos vários fenômenos religiosos, que-brando paradigmas e fragmentando conhecimentos acerca da religiosidade. No plano do discurso religioso é possível perceber que o meta-discurso que procura legitimar o papel da religião não tem sido aceito como em outros

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mo-mentos da ‘incitação’ religiosa, e hoje já começa a ser visto com desconfiança colocando nossas certezas em cheque. O que se percebe atualmente é que as manifestações religiosas se perpetuam através do acesso a informação, da mí-dia e do poder de operacionalizar a sua atuação, a percepção atual demonstra que o excesso de informação acaba mais por confundir do que esclarecer, e através disso vê-se que é um fenômeno complexo, multifacetado e de difícil definição.

Segundo Cassirer (1994; 2000; 2001), cada vez mais o homem afasta-se do universo dos fatos e aproxima-se do universo simbólico e assim passa a reconhecer o mundo pelos seus significados, ainda segundo o mesmo autor, tempo e espa-ço não são homogêneos, não há uma uniformidade, e depende dos contextos culturais e históricos e pelo modo como as religiões se desenvolveram. Desse modo o tempo não é apenas a seqüência dos acontecimentos, deve-se levar em consideração a singularidade de cada período. A vida transcorre sempre em algum tipo de espaço, seja, geográfico, cultural, empresarial, o espaço, denominado sagrado, localiza-se dentro dessa dinâmica, dos diferentes tipos de espaço.

O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos, e sistema de ações, não considerados isoladamente, mas com o quadro único no qual a historia se dá. Há então uma relação das ações com a base material, do real com a percepção do local, seja este sagrado ou não. Todavia podemos definir o espaço como relacional e dinâmico, capaz de estabelecer conexões, ou seja, a inter-relação entre objetos e ações, mate-rialidade e evento, o espaço se materializa e se transforma. Desta forma, para o ser humano religioso ou não, existem alguns espaços ou objetivos que ao lon-go de sua existência são dotados de uma significação diferenciada e especial. Isso pode significar sacralização ou não, entretanto, tais espaços são passíveis de transformação e de mudança no sentido da significação.

A partir deste contexto a cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná, uma dos três estados da federação que compõem a Região Sul do Brasil, sua fundação ofi-cialmente ocorreu em 29 de março de 1693 quando da criação de sua Câmara. No século XVII a principal atividade econômica foi à mineração juntamente com a agricultura de subsistência, ao longo dos séculos XVIII e XIX encon-trou na atividade tropeira derivada da pecuária sua sustentação comercial. Os Tropeiros eram condutores de gado que circulavam entre Viamão, no Rio Grande do Sul, e a Feira de Sorocaba, em São Paulo, conduzindo gado. O longo caminho faziam com que os tropeiros fizessem invernadas, à espera do fim dos invernos rigorosos, em fazendas como as localizadas aos aredores de Curitiba. Poste-riormente ao final do século XIX, com o ciclo da erva-mate e da madeira em expansão, dois acontecimentos foram bem marcantes: a chegada em massa de

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imigrantes europeus e a construção da Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba, ligando o Litoral ao Primeiro Planalto paranaense.

Ao longo do século XX com a chegada dos imigrantes europeus e de outros conti-nentes, com os seus modos de ser e de fazer se incorporaram de tal maneira à cidade que hoje são bem curitibanas festas cívicas e religiosas de diversas etnias, dança, música, culinária, que expressão a memória dos antepassados. Esta é representada nos diversos memoriais da imigração, em espaços públi-cos como parques e bosques municipais.

Neste cenário do município a educação gerenciada pela Secretaria Municipal de Edu-cação vem ao longo das últimas décadas registrando índices de alta qualidade, pois entre as capitais do Brasil, é a que possui a menor taxa de analfabetismo. Curitiba encontrou um modo de homenagear todas as etnias formadoras da cultura da cidade com praças, parques, bosques e museus e assim sendo, cada um destes pontos se tornou um importante atrativo turístico da capital. A grande maioria desses pontos são atrativos naturais da cidade, e os melhores exemplos são: Bosque Alemão, Bosque Italiano, Bosque do Papa, Bosque de Portugal, Jar-dim Botânico, Parque Barigui, Parque Bacacheri, Parque Tanguá, Praça do Japão, Passeio Público de Curitiba, Praça Osvaldo Cruz, Praça da Espanha, Praça da Ucrânia, Memorial Árabe, entre tantos outros pontos conhecidos da cidade pela sua beleza natural e cultural.

Outros atrativos muito importantes da cidade e quem apresentam grande relevância ao turismo e a cultura da cidade são: o Largo da Ordem, o Centro Cívico na Ave-nida Cândido de Abreu, Rua 24 horas, a Torre Panorâmica da Oi, ou Telepar para os mais antigos, Ópera de Arame e Pedreira Paulo Leminski, Rua das Flo-res/ Calçadão da XV, Boca Maldita, Museu Oscar Niemayer, Museu Ferroviá-rio no Shopping Estação, Mercado Municipal, Prédio histórico da Universida-de FeUniversida-deral do Paraná na Praça Santos AndraUniversida-de, Teatro Guaira e muitos outros. A cidade conta ainda com diversos postos de informações turísticas nos pontos de

maior movimentação da cidade, como por exemplo: Aeroporto Afonso Pena, Rodoferroviária, Rua 24 Horas, Torre Panorâmica, Shopping Crystal, Praça Garibaldi, também conhecido como o Largo da Ordem.

A cidade possui diversos exemplos de salas de espetáculo de inquestionável gabarito técnico-acústico. Dentre todos esses, o mais importantes são: Teatro Positi-vo, localizado na Universidade PositiPositi-vo, com 2.400 lugares é o maior teatro do Paraná, Teatro Guaíra possui três auditórios, o maior com 2.173 luga-res, Teatro Paiol, antigo Paiol de Pólvora de Curitiba, construído em 1906, transformado em um charmoso teatro de arena, com capacidade para 225 pessoas, Teatro “Ópera de Arame” cuja estrutura é de ferro tubular e teto de policarbonato transparente tem um palco de 400m² e capacidade para 1.640 espectadores.

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Curitiba também conta com diversos museus, destacando-se o Museu Oscar Niemeyer, Museu de Arte Sacra, Museu Paranaense, Museu de Arte Contemporânea, Mu-seu da Imagem e do Som, MuMu-seu Alfredo Andersen, MuMu-seu Metropolitano de Arte de Curitiba, Museu de História Natural, Museu Botânico Municipal e podemos destacar também o Museu Egípcio, no bairro Bacacheri, que entre outras obras, conta com uma múmia em seu inventário. Enfim, Curitiba conta com cerca de 260 espaços culturais capacitados para a realização de atrações de diferentes proporções na área de música, teatro, cinema e artes visuais. Visando orientar os Curitibanos e turistas foram elaborados pelo Instituto Municipal

de Turismo com apoio do jornalista Eduardo Fenianos oito novas rotas ligadas à cultura, história, religião, gastronomia e aventura. Com eles, é possível, por exemplo, conhecer a Curitiba de Poty Lazarotto e Paulo Leminski, percorrer a cidade a pé ou de bicicleta, observar a fauna e a flora da região, seguir uma rota gastronômica ou fazer um passeio com sabor de aventura pela região me-tropolitana.

Entre estes temos as Rotas religiosas – Fé e Misticismo em que são sugeridos três ro-teiros que percorrem os locais sagrados existentes em Curitiba. Representando a diversidade cultural e religiosa da história de Curitiba, os três roteiros ofe-recidos percorrem santuários, igrejas, templos, capelas, museus e memoriais étnicos, sítios históricos e arqueológicos. A proposta oferecida pelo Instituto de Turismo permite ao cidadão curitibano ou aos visitantes fazer uma releitura da cidade com uma perspectiva religiosa diferenciada.

O Roteiro Legados de Fé abrange treze espaços sagrados no Setor Histórico da cidade num misto de cultura, história e religiosidade. O centro de Curitiba, especifi-camente onde fica localizado o Setor Histórico, guarda importantes vestígios dos primeiros colonizadores e, portanto, é carregado de elementos religiosos, já que a religião sempre foi base para a construção de qualquer sociedade. Em Curitiba, podemos visualizar nesse roteiro, com apenas poucos passos, a fun-dação da cidade e sua Igreja Matriz de referência Católica, onde foram e ainda são realizadas missas responsáveis por reunir grande parte da população. Logo atrás da Basílica, ficam localizadas a Igreja do Rosário, construída para os ne-gros que não podiam frequentar a matriz; a Igreja da Ordem, a primeira igreja católica da cidade e que abriga o Museu de Arte Sacra em anexo, e a Igreja Presbiteriana Independente.

Esse roteiro não é feito apenas de espaços sagrados, contendo também, centros cultu-rais, ruínas e os primeiros cemitérios construídos na cidade. Além das verten-tes cristãs, no roteiro, há espaço sagrado pertencente a comunidade islâmica de Curitiba, a Mesquita Imam Ali Ibn Abi Tálib, referência nacional que apresen-ta imporapresen-tantes elementos arquitetônicos pertencentes a essa religião. O roteiro também apresenta o Templo Hare Krishna, religião derivada do Hinduísmo e

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que marca presença na cidade com muitos adeptos. O roteiro é rico em ele-mentos culturais e religiosos e pode ser realizado em uma caminhada pelo centro da cidade.

O Roteiro Inter-religioso indica nove locais sagrados e propõe o conhecimento através do encontro com as mais diversificadas formas de espiritualidade, com alguns destaques arquitetônicos. Promove encontros de diálogo inter-religioso e di-vulga a arte e a espiritualidade das culturas religiosas. Participam do roteiro, espaços sagrados da religião Católica, Ortodoxa, Espírita, Batista, Budista, Messiânica e Umbandista. No roteiro também há sugestão para visita ao Mu-seu Egípicio de Curitiba, pertencente a Ordem Mística Rosa Cruz, instituição mística, filosófica e cultural que contribui trazendo elementos da cultura e dos hábitos dos egípcios antigos para quem visita o espaço.

Há também o Roteiro Devocional realizado nos santuários católicos, sendo seis gran-des pólos de difusão da fé cristã, que atraem grande número de fiéis e traz elementos da fé católica de diferentes etnias europeias, que trouxeram com a imigração elementos culturais e religiosos para a cidade de Curitiba.

Quadro 1: Lista de Atrativos das Rotas Religiosas - Fé e Misticismo

Roteiro LEGADOS DE FÉ - Centro Histórico

Roteiro INTER-RELIGIOSO - plu-ralidade cultural e religiosa

Roteiro DEVOCIONAL - Santuários católicos de grande visitação Mesquita Imam Ali Ibn Abi

Tálib

Arquidiocese de Curitiba Igreja São Vicente de Paulo Igreja do Rosário

Templo Hare Krishna

Igreja Luterana – Comunidade Redentor

Primeira Igreja Presbiteriana Igreja do Ordem

Praça Tiradentes e Basílica Me-nor Metropolitana Nossa Senho-ra da Luz dos Pinhais

Cemitério Municipal São Fran-cisco de Paula

Cemitério Evangélico Luterano e Capela

Memorial de Curitiba Ruínas de São Francisco

Igreja das Mercês - Freis Capuchi-nhos

Igreja Messiânica Mundial CEBB – Centro de Estudos Budis-tas Bodisatva

Terreiro de Umbanda do Pai Ma-neco

Federação Espírita do Paraná - FEP Museu Egípcio – Ordem Rosa Cruz Primeira Igreja Batista

Igreja Ortodoxa São Jorge de Curi-tiba – Rito Árabe

Igreja São Pedro

Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Santuário Nossa Senhora do Carmo Santuário Nossa Senhora do Guadalupe Santuário da Divina Misericórdia Santuário Nossa Senhora de Lourdes Santuário Tabor Magnificat – Schoens-tatt

Fonte: Jaluska e Junqueira (2016).

Também foram disponibilizadas informações sobre festas religiosas que ocorrem na ci-dade. As festas são de grande oportunidade para conhecer elementos culturais de várias etnias de imigrantes de Curitiba, que trazem seus hábitos religiosos/ culturais para conhecimento do público participante. As imigrações polonesa e alemã, muito presentes na cidade, são marcadas pela forte religiosidade de

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seu povo, que busca, por meio da realização dessas festas, reviver e alimentar o espírito de seus antepassados, mantendo sua memória e identidade. Outra et-nia que procura por meio das festas a manutenção da cultura, é a japonesa, que promove várias festas ao longo do ano e atrai a comunidade jovem de Curitiba, interessada na cultura asiática.

As festas trazem, além dos elementos religiosos, danças, culinária, folclore e artesana-tos típicos, proporcionando uma imersão cultural com grandes ganhos peda-gógicos para os participantes.

Quadro 2: Festas Religiosas de Curitiba

ABRIL JULHO AGOSTO DEZEMBRO Semana Santa e Encenação

da Paixão de Cristo Swieconka - Bênção dos Alimentos

Hana Matsuri

Ratha-Yatra de Curitiba

Festa do Beato

João Paulo II Festa de Nossa Senhora de Monte Claro Czestochova

Jaselka – Auto de Natal Comemoração de São Nicolau e Natal das Etnias

Festa da Luz

Fonte: Jaluska e Junqueira (2016).

Por fim, há o roteiro denominado Linha Preta. O projeto desse roteiro, segundo a Fun-dação Cultural de Curitiba (CURITIBA, 2016), “foi concebido durante o II Congresso de Pesquisadores/as Negros/as da Região Sul – COPENE SUL, organizado pelo NEAB – Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná”.

O desenvolvimento do projeto foi pensado de modo a explorar diferentes localidades de Curitiba que fazem referência à cultura negra ou recordem a história e a in-fluência dos afrodescendentes na cidade. O roteiro proposto conta a princípio com treze destinos, porém, está em estudo e passa por constantes avaliações e, no futuro, poderá agregar muitos outros locais.

Apesar do roteiro contar com atrações de diversos locais em Curitiba, há um núcleo central que fica ambientado no centro e no Setor Histórico da cidade e concen-tra os primeiros vestígios da ocupação de Curitiba e carrega tanto a história da colonização portuguesa quanto dos afrodescendentes que, na época, eram escravos. Esse núcleo pode ser percorrido a pé ou de bicicleta e apresenta um importante recorte histórico da cidade.

É importante ressaltar que, apesar de ser desenvolvido pensando nos turistas que viajam à capital, qualquer pessoa que tenha interesse pode realizá-lo, sendo muito recomendado para estudantes com a finalidade de conhecer um capítulo da história de Curitiba que não tem muita ênfase nos livros oficiais.

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O núcleo central do roteiro que compreende o centro e o Setor Histórico de Curitiba começa com as Ruínas de São Francisco, ruínas da construção de uma Igre-ja que não foi concluída e que seria feita em homenagem a São Francisco de Paula pelos portugueses que colonizavam a cidade no início do século XX. A construção teve intensa participação de trabalhadores negros espe-cializados em técnicas de alvenaria e pedra. Descendo o Setor Histórico, apresenta-se a Igreja do Rosário, inicialmente chamada Igreja do Rosário dos Pretos de São Benedito, foi não só patrocinada, bem como projetada e construída por pessoas negras, no estilo barroco colonial. Como os gros não podiam entrar na Igreja Matriz, foi feita por negros e para ne-gros sendo utilizada até a abolição da escravatura. Depois, a Igreja passou um período como Matriz, durante as construções da Catedral da Cidade e hoje, é importante lugar de memória negra de Curitiba. Outro atrativo é a Arquitetura do Largo da Ordem que apresenta, dentro de muitas técnicas distintas, adobe (barro com areia) e taipa de mão, também conhecida como pau-a-pique, que é conhecida como uma das grandes contribuições de raiz africana no Brasil.

Ainda no Setor Histórico, o Memorial de Curitiba é um projeto arquitetônico inaugu-rado em 1996, inspiinaugu-rado no Pinheiro do Paraná. É, na atualidade, importante centro cultural abrigando obras de artistas locais e nacionais. No memorial, a cultura negra é apresentada esteriotipada, gerando severas críticas pela ma-nutenção de uma memória que deveria ser modificada, porém, torna-se um lugar para realizar análises e construir discursos para relembrar tempos pas-sados da população negra de Curitiba bem como visualizar alternativas para a transformação do esteriótipo antigo. O Bebedouro, construído em meados do século XVIII era muito utilizado por tropeiros que passavam pela região e utilizavam a fonte para saciar a sede de seus animais. Muitos tropeiros eram de origem africana e transitavam por Curitiba.

Saindo do Setor Histórico, a Praça Tiradentes, no centro de Curitiba, apresenta um caminho feito de pedras datado do início da colonização da cidade e que demonstra a importância da mão-de-obra africana para a construção de Curitiba. Hoje a Praça foi ressignificada pela comunidade negra, espe-cialmente aquela praticante da Umbanda e do Candomblé. Na praça, há um série de Gameleiras Sagradas para os praticantes dessas religiões. Os mo-vimentos sociais negros também costumam realizar encontros nessa praça. Do lado da Praça Tiradentes fica localizada a Praça José Borges de Macedo que abriga as Arcadas do Pelourinho, levantado em 1668, marcando a fundação da Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. O pelourinho era o

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lugar onde muitos escravizados eram castigados em frente ao público. Ape-sar de hoje trazer lembranças de um período sombrio da história municipal também é representado como palco da resistência dos primeiros negros a habitarem a cidade.

Na Praça Genoroso Marques, ainda no centro da cidade, há o monumento denomi-nado Água pro Morro, criação do artista curitibano Erbo Stenzel, de 1944. A obra, que originariamente foi realizada em gesso e hoje, fundida em bron-ze, retrata Anita, namorada e modelo do artista. Trata-se de uma jovem negra com uma lata d’água sobre a cabeça, com o vestido molhado, delineando seu corpo, caminhando para um plano elevado. A imagem coloca em discussão a figura da negra, sua sensualidade constantemente exposta e seu lugar na so-ciedade da época. A Praça Zacarias, homenagem para o primeiro presidente da província do Paraná, Zacarias Góes e Vasconcelos, preserva um elemento da presença negra no Paraná, o chafariz que relembra o primeiro sistema de água encanada da cidade que permitia aos habitantes terem acesso a água potável.

Um pouco mais distante, a Praça Santos Andrade abriga um monumento em homena-gem a Colônia Afro-Brasileira. É um pequeno pilar composto por um bloco de granito e uma placa de bronze. A Praça 19 de Dezembro é composta por um conjunto arquitetônico que conta com um painel de duas faces, um espelho d’água, um obelisco e a escultura de um homem nu. Essa escultura, que visa apresentar o Paraná dando um passo para o futuro, apresenta traços da escul-tura egípcia, tanto pelo desafio da frontalidade quanto pelos traços da figura masculina, que lembram afro-descendentes. A Sociedade Beneficente Treze de Maio foi fundada em 1888 situada em uma região que viviam muitos negros na cidade e tinha finalidade de defender seus direitos, sua cultura e memória, ajudar os necessitados e prestar auxílio para negros que não tinham condições. Reinaugurado em 1995, é importante lugar de memória da presença negra ativa em Curitiba.

Um pouco distante do Centro da Cidade, na região Sul de Curitiba, fica o Memorial Africano na Praça Zumbi dos Palmares, no bairro Pinheirinho. O memorial conta com pilares que representam todos os países do continente africano e é importante ponto de encontro da juventude negra da cidade bem como da co-munidade local. Já o Viaduto Cultural do Capanema, no bairro Cristo Rei, foi muito frequentado pela comunidade negra pelos ferroviários da cidade e sua proximidade com a Vila Tassi, foco da memória negra de Curitiba. Há in-tuito de construir no local um Centro de Referência da Cultura Negra, que no momento, encontra-se em um processo de viabilização da obra.

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Quadro 3: Atrativos – Roteiro Linha Preta

Roteiro LINHA PRETA: atrações Ruínas de São Francisco

Igreja do Rosário

Arquitetura do Largo da Ordem Memorial de Curitiba

Bebedouro Praça Tiradentes Arcadas do Pelourinho

Água pro morro – Praça Zacarias – Chafariz Praça Santos Andrade

Praça 19 de dezembro

Sociedade Beneficente Treze de Maio Memorial Africano

Viaduto Cultural Capanema

Fonte: Jaluska e Junqueira (2016).

Todos os espaços apresentados podem propiciar para os turistas, estudantes e admi-radores importantes momentos de resgate cultural, memória e aprendizado cultural e religioso em Curitiba, além de fornecer interações sociais e pro-porcionar uma melhor visão da diversidade brasileira, por meio do turismo educacional e o método do estudo do meio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil é um país multifacetado, resultado de uma colonização que marca presença de etnias de vários lugares do mundo. Com uma diversidade de povos tão gran-de, não é difícil imaginar que estes não tragam para o país elementos de sua cultura local e que, estando no Brasil, passam a fazer parte da herança cultural nacional. Nesse sentido, podemos perceber a beleza dos espaços sagrados e se encantar com as mais diversas manifestações culturais ao nosso redor por meio do turismo educacional, religioso e cultural.

Efetivamente o turismo educacional estimula o desenvolvimento do relacionamento interpessoal, tendo como principais características, desenvolver no indivíduo não só os aspectos cognitivos, mas também emocionais, afetivos, sociais e culturais. Além disso, o turismo educacional pode auxiliar na proposta de um ensino mais inclusivo, favorecendo encontros que estimulem a reflexão dos alunos e promovam o conhecimento do meio sociocultural onde vivem, algo significativo em termos pedagógicos, objetivando assim uma experiência que irá aproximar o aprendizado teórico, da vida por meio das aulas passeio. Pode-se tornar eficaz principalmente no ensino religioso nas escolas brasileiras, uma

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o professor, apresentar os hábitos, valores, tradições e costumes de diferentes religiões nos espaços sagrados, até mesmo porque este tipo de estudo pode facilmente tornar-se confuso para o aluno e acabar frustrando-o, pois pode não ver sentido no que é ensinado somente em sala de aula. Portanto, uma aula-passeio irá reduzir o distanciamento e ampliar a visão do aluno favorecendo a assimilação do conteúdo e o esclarecimento de dúvidas tão comuns em uma disciplina que enfoca tanto a cultura comum ao aluno quanto outra muito distante aos olhos do mesmo.

Assim, visando um ensino que apresente uma visão mais global da diversidade cultural brasileira, por meio das aulas-passeio, o professor passa não somente a informar, mas também a formar e transformar seus alunos em cidadãos plenos, conscientes de seu papel na sociedade e desprovidos de preconceitos com relação à cultura do outro, estimulando assim, a abertura de diálogos inter-religiosos sem discri-minações.

Assim, somente uma instituição que transmita, por meio da teoria e da prática, toda a diversidade cultural e as mais diversas concepções de mundo, pode ser consi-derada uma instituição autônoma, uma vez que autonomia não significa iso-lamento, mas sim abertura, possibilidade do estabelecimento de um diálogo intercultural, transformando o turismo educacional, em um instrumento para o acesso às informações in loco, utilizando-se dos mais variados locais de edu-cação não formal, principalmente, os espaços sagrados, disponíveis em nossa sociedade.

É importante ressaltar que as visitas a esses espaços permitem não apenas conhecer ou-tras realidades, mas perceber e valorizar a grande e rica diversidade cultural, pois a cidadania só se constrói com o reconhecimento e respeito pelas muitas formas de se viver e de se pensar o mundo.

URBAN LANDSCAPE EDUCATES FOR DIVERSITY

Abstract: this text is the result of a qualitative exploratory and documentary research aiming to understand the religious spaces as educational instruments for the respect of Brazilian cultural diversity, based on the urban tourism itinera-ries focused on the religious cultural heritage produced by the Curitiba Institute of Tourism and the Foundation Cultural of Curitiba. To this end, we propose the discussion based on the understanding of tourism as an educational space for cultural plurality through the construction of scripts with pedagogical conceptions and propositions. The results point out that the practice of educational tourism to promote environmental studies helps to develop not only cognitive aspects, but also emotional, affective, social and cultural aspects in the individual, favors encounters that stimulate student

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re-flection and promote knowledge of the socio-cultural environment where Live and the enormous Brazilian cultural diversity, disrupting ethnocentrism. Keywords: Tourism. Religious Tourism. Religious Education.

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Referências

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