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Proteção do conhecimento sensível no Brasil: medidas contra sabotagem, espionagem estrangeira e outras ameaças

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA VICTOR VIANA COUTO CARDOSO

PROTEÇÃO DO CONHECIMENTO SENSÍVEL NO BRASIL:

MEDIDAS CONTRA SABOTAGEM, ESPIONAGEM ESTRANGEIRA E OUTRAS AMEAÇAS.

BRASÍLIA 2017

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VICTOR VIANA COUTO CARDOSO

PROTEÇÃO DO CONHECIMENTO SENSÍVEL NO BRASIL:

MEDIDAS CONTRA SABOTAGEM, ESPIONAGEM ESTRANGEIRA E OUTRAS AMEAÇAS.

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato

Sensu em Inteligência de Segurança, da Universidade do

Sul de Santa Catarina, como requisito à obtenção do título de Especialista em Inteligência de Segurança.

Orientação: Prof. Luiz Otavio Botelho Lento, MSc.

BRASÍLIA 2017

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VICTOR VIANA COUTO CARDOSO

TÍTULO DA MONOGRAFIA

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Especialista em Inteligência de Segurança e aprovado em sua forma final pelo Curso de Pós-Graduação Lato

Sensu em Inteligência de Segurança, da Universidade do

Sul de Santa Catarina.

Brasília, 19 de Junho de 2017.

_____________________________________________________

Professor orientador Luis Otavio Botelho Lento, MSc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_____________________________________________________

Professor Giovani de Paula, MSc.

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Dedico esta monografia a Deus, minha família e ao futuro, que pode ser realizado através de muita fé, esforço pessoal e coletivo.

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AGRADECIMENTOS

A todo o corpo docente do curso e equipe EAD da Unisul Virtual por tornar este estudo possível. A todas as pessoas que me apoiaram durante esse período de estudo e evolução profissional. A Deus, toda honra e toda glória seja dada.

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RESUMO

O objetivo do presente trabalho consiste em analisar relações entre os fenômenos presentes na atual conjuntura nacional brasileira com o surgimento de ameaças ao conhecimento sensível brasileiro, através da coleta de dados sobre o atual cenário de inteligência de segurança. O foco deste trabalho concentra-se nas iniciativas estratégicas de de proteção ao conhecimento sensível geridas pela ABIN, sendo estas: o Programa Nacional de Conhecimento Sensível – PNPC, o PRONABENS, a UNINT e outras medidas que a Política Nacional de Inteligência procura administrar. Através de uma análise atualizada, visa oferecer novas propostas para a prevenção, proteção e enfrentamento do crescimento de ameaças às fontes de conhecimentos e bens sensíveis, como: as ameaças cibernéticas, hackitivismo, espionagem digital, corrupção, interferência externa, crime organizado, roubo e manipulação ilegal de bens sensíveis.

ABSTRACT:

The objective of the present work is to analyze the relations between the phenomenas present in the current Brazilian national scenario with the appearance of threats to sensitive Brazilian knowledge, through the collection of data on the current scenario of security intelligence. The focus of this work is on the strategic initiatives to protection of sensitive knowledge managed by ABIN, such as the National Program of Sensitive Knowledge - PNPC, PRONABENS, UNINT and other measures that the National Intelligence Policy seeks to manage. Through an updated analysis, it aims to offer new proposals for prevention, protection and coping the growth of threats to sensitive knowledge and goods sources, such as: cyber threats, hackitivism, digital espionage, corruption, external interferences, organized crime, theft and manipulation of sensitive goods.

PALAVRAS CHAVE:

Século XXI; Brasil; Cibersegurança; Ciberguerra; Big Data; Lava-Jato; espionagem; sabotagem; ABIN; conhecimento sensível; bens sensíveis; proteção; corrupção; interferência externa; KEYWORDS:

21st Century; Brazil; Cybersecurity; Cyberwar; Big Data; ABIN; Lava-Jato; Spying; Sensible knowledge; sensible goods; protection; corruption; sabotage; external interference

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SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO ... 8

1.1 INFORMAÇÕES DO CENÁRIO ATUAL DE INTELIGÊNCIA INTERNACIONAL ... 9

1.2 INFORMAÇÕES DO ATUAL CENÁRIO DA INTELIGÊNCIA BRASILEIRA – ABIN ... 11

1.2 ANÁLISE DO CENÁRIO SÓCIO-POLÍTICO BRASILEIRO ... 13

2.0 CENÁRIO DOS CONHECIMENTOS SENSÍVEIS BRASILEIROS ...14

2.1 MEDIDAS DE PROTEÇÃO DO CONHECIMENTO SENSÍVEL BRASILEIRO ... 18

3.0 ANÁLISE DE AMEAÇAS E OPORTUNIDADES PARA O CONHECIMENTO SENSÍVEL BRASILEIRO ...22

3.1 CONSEQUÊNCIAS DA CORRUPÇÃO SISTÊMICA PARA O CONHECIMENTO SENSÍVEL DE EMPRESAS BRASILEIRAS ... 25

3.1 CRIME ORGANIZADO, ARMAMENTOS E QUÍMICOS SENSÍVEIS ... 30

3.2 TENDÊNCIAS PARA AS AMEAÇAS CIBERNÉTICAS ... 33

4.0 DIAGRAMA DE ANÁLISE SWOT ...39

4.1 SUGESTÃO DE MEDIDAS ... 40

4.2 MEDIDAS PARA A PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO DA CORRUPÇÃO ... 40

4.3 MEDIDAS PARA A PROTEÇÃO CONTRA A ESPIONAGEM E CRIMES CIBERNÉTICOS ... 46

4.4 MEDIDAS PARA A PROTEÇÃO DO USO DE BENS SENSÍVEIS ... 48

5.0 CONCLUSÕES FINAIS ...50

6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...54

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1.0 INTRODUÇÃO

Proteger o conhecimento sensível exige uma análise de cenários prospectivos que possam nos dar uma visão de futuro para a inteligência brasileira agir com eficácia sobre as variações desses cenários. Schawrtz (2006, p. 15) cita que cenários prospectivos dizem respeito a fazer escolhas hoje, com uma compreensão sobre o que pode acontecer com elas no futuro. É preciso analisar os fatos e estudar as atualidades dessa conjuntura para levantar um diagnóstico com metodologia baseada em gestão de qualidade de uma organização. Entendendo que programas de proteção do conhecimento fazem parte do planejamento estratégico de inteligência de segurança, o estudo de proposições para a proteção do conhecimento sensível do brasil deve considerar os fenômenos relevantes da atual conjuntura nacional, visualizando a viabilização de oportunidades e ameaças, como a espionagem ilegal ou sabotagem. A coleta e análise de dados sobre o conhecimento sensível deve se basear em informações acadêmicas, fontes confiáveis de jornalismo, ciberespaço, fontes acadêmicas, jurídicas, legais e dados fornecidos pelos órgãos envolvidos. Considera-se importante avaliar todas as informações dentro da Política Nacional de Inteligência, o decreto nº 8.793/2009, sendo um documento o legal norteador das diretrizes para atuação em inteligência e proteção do conhecimento sensível. Opta-se por utilizar uma metodologia amplamente conhecida no mundo corporativo e nas organizações públicas como análise SWOT. Kotler (2000: pág.77) se refere à análise SWOT como ‘’uma avaliação global das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças dentro da organização, permitindo a identificação de onde devem ser alteradas as estratégias para melhorar os processos ou manter caso esteja tendo um resultado positivo’’. Entende-se que o objetivo deste estudo é propor medidas de proteção contra ameaças ao conhecimento sensível brasileiro, mas para isto é importante também estudar oportunidades que possam fortalecer tais programas.

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1.1 INFORMAÇÕES DO CENÁRIO ATUAL DE INTELIGÊNCIA INTERNACIONAL

Marcos Cepik (2014a) cita que a acessibilidade ilimitada à informação oferecida pelo ciberespaço e convergência digital, proporcionaram novos desafios para os serviços de inteligência. A rápida massificação das tecnologias, o acesso contínuo à internet e redes sociais amplificaram a interatividade entre indivíduos, organizações e dispositivos, gerando lapsos de vulnerabilidade da informação. No Brasil, tal convergência gerou um aumento exponencial de armazenamento, transferências de dados e interatividade entre informações, indivíduos, dispositivos e sistemas. Inevitavelmente crescem as vulnerabilidades e ameaças em nível digital para as organizações brasileiras que precisam lidar com episódios de vazamento de dados, espionagem e sabotagem virtual. São novos desafios de inteligência competitiva e gerenciamento de riscos na segurança cibernética, com reflexo em propostas legais e incidentes cibernéticos cotidianos. Um estudo da agência UNCTAD – Conferência da ONU sobre comércio e desenvolvimento, calcula que as perdas por fraudes online cheguem a US$ 3,5 bilhões, cerca de R$ 11,2 bilhões. Incluem-se ações não-monetárias, como distribuição de vírus em redes de computador ou roubo de informações comerciais confidenciais ou de identidade. Dos países mais atingidos por crimes cibernéticos, o Brasil é o quinto, atrás de E.U.A, Rússia, China e Vietnã. (EBC: 2015, publicado em 24/03/2015)

Mais de 80 países agora têm leis de privacidade. A União Europeia define sete "princípios de privacidade básicos" para a proteção dos dados pessoais dos cidadãos da UE. Em Cingapura, a lei de proteção de dados pessoais entrou em vigor em janeiro de 2013. Nos Estados Unidos, a lei Sarbanes-Oxley coloca todas as empresas de capital aberto sob aviso e a lei HIPAA (Lei da Portabilidade e Prestação de Contas em Seguro-Saúde) define padrões nacionais de privacidade na área de saúde. (JEWETT:2017, pag.8). Marcos Cepik (2014b) estuda como incidentes cibernéticos miram organizações públicas e privadas, revelando episódios de vazamento, sabotagem e espionagem internacional como o Wikileaks, Struxtnet, acrescentando-se episódios como o Panama Paper´s e as suspeitas de interferência russa nas eleições americanas, o Dossiê Trump. Boa parte desses vazamentos são alimentados por plataformas independentes, hackiting ou pela colaboração anônima, ainda que clandestina.

O Brasil foi inevitavelmente incluído neste aspecto: relatórios de inteligência norte-americanos revelaram espionagem cibernética da NSA e agências associadas, visando

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informação de relevante sensibilidade nas trocas de dados entre brasileiros, como já foi noticiado. Empresas brasileiras, comunicações telemáticas ou dados estavam na mira de operações de inteligência clandestinas durante um longo período:

‘’No domingo, O GLOBO mostrou que, na última década, a NSA espionou telefonemas

e correspondência eletrônica de pessoas residentes ou em trânsito no Brasil, assim como empresas instaladas no país. ‘’ 1 (KAZ, Roberto; CASADO, José: 2013, on-line)

Documentos sigilosos com classificação ultrassecreta pela NSA também vazaram via Wikileaks revelando a espionagem ilegal da Presidência da República e do alto escalão governamental brasileiro. Tal fato se revela preocupante, uma vez que todos os relatórios de inteligência são disponibilizados ao chefe do poder executivo para auxílio em processos decisórios, podendo fornecer fontes de informação sobre conhecimentos sensíveis.2

Ainda dentro do enfoque cibernético, o desafiador cenário da convergência digital também se reflete no planejamento de combate à principal ameaça internacional: o terrorismo. As pressões internacionais aumentam para que o Brasil tenha posicionamento ativo no combate ao terrorismo internacional, indo de encontro aos interesses do País por maior presença no cenário mundial, inclusive no proselitismo pelo assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Concomitantemente, o terrorismo adquire perfil cibernético e inicia o recrutamento de grupos independentes e lobos solitários, através das redes sociais e linhas de comunicação via deep web. A ascensão do Estado Islâmico – ISIS se difere do restante dos movimentos fundamentalistas islâmicos por investir e recrutar membros de forma atuante através da propaganda virtual. Sabemos que a ABIN e Polícia Federal têm efetuados operações em segredo, monitorando suspeitos e até efetuando prisões. Dentro deste

1 KAZ, Roberto e CASADO, José - NSA e CIA mantiveram em Brasília equipe para coleta de dados filtrados de satélite – 07/07/2013 <https://goo.gl/IDfCnb>

2 ‘’O site WikiLeaks, que vem revelando nos últimos anos documentos sigilosos da diplomacia norte-americana, divulgou neste

sábado (4) uma lista classificada pela Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos como "ultrassecreta", a qual revela que, além da própria presidente Dilma Rousseff, 29 telefones do governo petista – incluindo o de ministros, diplomatas e assessores – foram espionados pela agência de inteligência. O telefone via satélite Inmarsat instalado no avião presidencial, com o qual Dilma se comunica com o mundo quando está a bordo da aeronave, é um dos 29 números grampeados pela NSA. Os números telefônicos foram monitorados no início da gestão Dilma - Globo.com - 04/07/2015’’ < https://goo.gl/lZbPR6>

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cenário, para praticar a inteligência em alto nível é altamente relevante para a proteção do conhecimento sensível em nível informacional, através de políticas de Estado que minimizem os riscos de acesso a esses conhecimentos.

1.2 INFORMAÇÕES DO ATUAL CENÁRIO DA INTELIGÊNCIA BRASILEIRA – ABIN

Ao falarmos da inteligência brasileira, devemos estudar junto o contexto político e econômico. O Brasil passa por um período de crise econômica recessiva, atingindo especialmente a iniciativa privada, a dívida pública e a máquina de Estado. Reflexos que atingem o orçamento da inteligência brasileira. Órgãos participantes do SISBIN e da ABIN, ainda que possuam orçamentos ínfimos em relação aos correspondentes internacionais, sofreram procrastinação da presidência da República nos últimos anos. Durante a era Lula, Protásio (2015a) cita mudanças na política de investimentos e reestruturação para melhorar o nível de qualidade do serviço de inteligência brasileiro, devido à demanda trazida pelos grandes eventos esportivos e seu perfil atuante na política externa. Visou reduzir a instabilidade política no órgão e aumentar sua eficiência, nomeando Paulo Lacerda como diretor-geral da ABIN e realizando concurso público para suprir lacunas institucionais. Aonde já se haviam programado recursos, a ABIN obteve extremo êxito na sua participação, destacando-se na realização segura das Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de Verão em 2016. Com o apoio de novos Centros de Tecnologia da Informação para monitoramento em tempo real, centros de inteligência operaram em intercâmbio com as principais agências globais, produzindo mais de 60 relatórios e otimizou as atividades de segurança pública afim de monitorar ameaças terroristas e criminosas, proporcionando a realização segura dos eventos e do trânsito de turistas estrangeiros no país. Mas a sucessão de Dilma Rousseff não refletiu tal perfil, ainda que em período simultâneo. A presidente adotou um perfil mais doméstico e interno. Wilson Trezza assumiu a pasta da ABIN, e o General José Elito Siqueira coordenou o GSI - Gabinete de Segurança Institucional.

Tal período ficou marcado pela perpetuação de lapsos na comunicação entre a ABIN, o GSI e a Presidência. A elaboração da Política Nacional de Inteligência esbarrou na pouca vontade política, tendo a sua decretação ignorada por seis anos. A ABIN recebeu consecutivas negativas de orçamento para realizar concurso público no mesmo período. O descompasso

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político permitiu o surgimento de fenômenos atípicos: as jornadas de junho em 2013, a deflagração da operação Lava-Jato pela Polícia Federal em 2014, a desestabilização econômica e fiscal do país, o subsequente processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e os vazamentos das delações premiadas no processo que corre na Justiça Federal de Curitiba. Ainda que a ABIN tenha produzido centenas de relatórios sobre os variados fenômenos deste período, lançou-se uma luz sobre a eficiência e integração do sistema informacional. Tais episódios balançaram a agenda governamental.

‘’Durante o seminário “Brasil no mundo: deveres e responsabilidades” promovido pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, ao se discutir as irregularidades na Petrobras e a eficiência do sistema informacional, o ex-analista da Secretaria de Assuntos Estratégicos, André Woloszyn, enfatizou que “o processo decisório nacional depende da vontade do demandante”. Segundo o mesmo, o conhecimento é produzido e disseminado, cabe ao decisor utilizá-lo ou ignorá-lo, lançando luz sobre as falhas do circuito informacional da tomada de decisão presidencial.’’ (PROTÁSIO

Novamente, Protásio (2015b) analisa que houve pouco posicionamento da agência perante o público mediante os fatos, gerando discussões abertas sobre haver ao menos a leitura de relatórios de conhecimento pelo alto escalão governamental.²Após a ruptura no poder, Michel Temer assumiu e anunciou mudanças no alto escalão da inteligência, com Janér Tesch assumindo a diretoria-geral da ABIN e o General Sérgio Etchegoyen assumindo a pasta do GSI. O aparecimento mais recente da ABIN na imprensa foi de repercussão negativa em matéria da Revista VEJA sobre espionagem ilegal em favor do presidente Michel Temer, para bisbilhotar o Ministro do Supremo Edson Fachin, relator da Lava-Jato.3 Tais acusações foram

negadas por Sérgio Etchegoyen. No entanto, é importante destacar que foi oportunamente publicado o decreto nº8.793 de 29/07/2016 – Política Nacional de Inteligência, importante documento que deve nortear nos próximos anos as políticas de proteção ao conhecimento sensível. Tal documento terá importante fator analítico para a inteligência brasileira em longo prazo. Porém, o atual período sugere um desafio institucional para a valorização da inteligência brasileira. ‘’Os entraves normativo-estruturais não foram superados. A carência quantitativa de pessoal, as restrições orçamentárias, a ambiguidade das leis e as lacunas programáticas existentes têm limitado e constrangido a elevação da operacionalidade institucional.’’ (PROTÁSIO, 2015. Pg. 16)

3 VEJA.com – Agora é guerra: Temer aciona a ABIN para bisbilhotar Fachin -

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1.2 ANÁLISE DO CENÁRIO SÓCIO-POLÍTICO BRASILEIRO

Com o surgimento da operação Lava-Jato, ação conjunta entre a Polícia Federal, Poder Judiciário Federal e Ministério Público, amplia-se a visibilidade de brechas para o vazamento do conhecimento sensível nos níveis governamental e privado. A descoberta de uma profunda disseminação da corrupção nas políticas estatais permitiu o tráfico de influência, advocacia administrativa e interferência de empresas privadas em medidas provisórias, licitações e contratos públicos, sendo uma moeda de troca por propinas e favores políticos. A atual crise econômica foi potencializada pela eclosão da crise política, acarretando em uma mudança de percepção social em relação à redução da tolerância à corrupção, que está sendo vista como ameaça ao futuro do país. Porém, o nível de envolvimento das figuras estatais e os recorrentes desdobramentos da operação permitiram a generalização da desconfiança em um período ainda mais longo e crítico de instabilidade institucional, que está refletindo na recuperação econômica. Enquanto isso, cresce a confiabilidade nas instituições repressivas partícipes do processo da Lava-Jato, muito citadas na imprensa por seu empenho, como o Ministério Público Federal - MPF, a Justiça Federal de Primeiro Grau e a Polícia Federal. Ora também, são criticadas por medidas aparentemente persecutórias, devido aos desdobramentos subsequentes da operação. Eduardo Costa Pinto (2015) cita como a atual crise brasileira refletiu-se em um cenário social imprevisível, contextualizando diversas classes disputando visibilidade e poder: representantes da cena política, classe média, órgãos de classe trabalhadora organizados e não organizados. Analisando imparcialmente, é visível que tal situação está gerando rupturas temporárias entre relações de poder político e institucional. Tais rupturas são percebidas também na relação conflitante entre os poderes de Estado disputando com a vontade da população.4

Apesar do cenário de crise, o documento da PNI desenha os traços de potência global para o Brasil. A economia brasileira assume crescente relevância no mercado internacional. No

4 Tal conflito se exemplifica em decisões noticiadas como a do Ministro do STF Luiz Fux, de suspender a tramitação do Projeto

de Lei da Câmara dos Deputados (PL) 4.850/16 (Dez Medidas de Combate à Corrupção, projeto popular incentivado pelo Ministério Público Federal). Entre as alegações, cita a dilapidação feita pelas comissões da câmara, que não poderiam discutir e votar projetos de lei de iniciativa popular. (EBC: 2016) <https://goo.gl/VnaQO8>

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campo econômico, integra um bloco de países com considerável potencial de crescimento e atração de investimentos produtivos. Participa tratados comerciais e grupos políticos relevantes como os BRIC´s, MERCOSUL e Doha. O PNI (2016) cita o Brasil como um país emergente na economia mundial, sólido na exportação de commodities e produtos de valor agregado, possuindo em diversas áreas a vanguarda em pesquisa científica como fonte relevante conhecimento sensível. No campo político-militar, contribui para estabilidade regional, constrói consensos e interesses de integração com os Estados Sul-americanos e se dispõe a assumir responsabilidades em órgãos globais e missões humanitárias. Sua posição é contrária à proliferação de armas nucleares, ao terrorismo e à violação de convenções e tratados pacifistas e ambientais. É promissor no campo energético limpo, com a maior malha solar e hidroelétrica do planeta. Não somente por isso, é um alvo em potencial para a mineração de conhecimento sensível relevante e produtivo. Como toda nação com eminência política e econômica, o Brasil está sendo analisado nesse momento pelos principais órgãos de inteligência mundiais. Assim precisa estar com suas estratégias definidas para realizar um trabalho eficiente de proteção de seu valioso conhecimento.

2.0 CENÁRIO DOS CONHECIMENTOS SENSÍVEIS BRASILEIROS

Nesse ínterim, existem programas como o Programa Nacional de Conhecimento Sensível – PNPC, o subprograma Universidade de Inteligência – UNINT e o PRONABENS - Programa Nacional de Proteção de Bens Sensíveis. A ABIN se delimita a revelar poucas informações a respeito, sendo resumida na sua divulgação se autorizada ao público. Também há pouca matéria acadêmica a respeito. Mas portal da ABIN oferece dados da sua definição e aplicação:

‘’No âmbito da ABIN, o Programa Nacional de Proteção do Conhecimento Sensível (PNPC) é instituído por meio da Portaria nº 42/GSIPR, de 19 de agosto de 2009. A publicação regulamentou o art. 4º da Lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999, que estabelece, entre as atribuições da ABIN, a missão de “planejar e executar a proteção de conhecimentos sensíveis, relativos aos interesses e à segurança do Estado e da sociedade”. ‘’

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Os conhecimentos sensíveis não se confundem com conhecimentos sigilosos. Os conhecimentos sensíveis são aqueles cuja proteção preserva benefícios científicos, tecnológicos e econômicos à instituição detentora – pública ou privada – e, consequentemente, ao Estado e à sociedade brasileira. Já conhecimentos sigilosos são assim classificados quando a sua divulgação ou acesso acarretam riscos à segurança da sociedade e do Estado. Recebem graduação sigilosa que varia conforme a legislação. Santos e Barbosa (2015, pág.4) citaram uma definição eficiente do que abrange o conhecimento sensível:

‘’A pesquisa, o desenvolvimento e inovação científica e tecnológica, o conhecimento dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, o agronegócio, os minerais são conhecimentos sensíveis por gerar interesses internacionais em um mercado competitivo. Esses conhecimentos são ativos, ou seja, patrimônio na nação brasileira. Nesse sentido, consideramos esse patrimônio como patrimônio cultural.’’ (XV ENANCIB: 2015, pg. 4)

Tais conhecimentos deverão fomentar o desenvolvimento econômico, a infraestrutura nacional e estratégia política do Brasil para os próximos anos, e por isso estarão constantemente sobre risco. Seguindo premissas de relevância econômica, estratégica e potencial de exploração, podemos elencar os conhecimentos sensíveis que estão em maior destaque no cenário brasileiro. Ignorar a sua proteção poderia custar caro ao país. A descoberta, organização, concessão, aplicação tecnológica e exploração das reservas petrolíferas do pré-sal tornou-se uma das fontes dos principais conhecimentos sensíveis da empresa brasileira Petrobrás, visto o seu vasto valor estratégico, econômico e potencial para a geração de lucro, renda e empregabilidade. Marcos Cepik (2014:, pág.21) elaborou relevante comentário a respeito:

No caso do Brasil, a descoberta das extraordinárias reservas de petróleo do Pré-Sal reforça a necessidade de modernizar e completar a consolidação do Centro de Decisão Energético brasileiro. Implica, ainda, em uma urgente necessidade de aumentar as capacidades de dissuasão do Brasil para defender sua soberania sobre os recursos encontrados em suas águas jurisdicionais, principalmente, as citadas gigantescas reservas petrolíferas. Para isso, o Brasil precisa repensar estruturalmente sua estratégia de defesa e o planejamento do desenvolvimento de suas capacidades dissuasórias. (CEPIK:2014, pg.21)

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Embora as palavras de Cepik (2014c) tratem de estratégias hostis em nível militar, trazem à luz a sensibilidade deste conhecimento. Se imaginarmos os custos de uma interferência externa, da espionagem, sabotagem e da ação de grupos de interesse, certamente serão menores do que um cenário de escalada militar. Cepik (2014d) ainda cita, dentro deste contexto, que a distribuição geográfica das fontes de recursos energéticos como o petróleo traz decorrências de segurança internacional, tanto para os grandes consumidores de energia como para os países onde estão localizadas as grandes reservas petrolíferas. A análise comparada de regiões ricas em recursos petrolíferos, mas economicamente pobres e periféricas, indica que a mera disponibilidade de recursos energéticos não implica em riqueza, desenvolvimento ou poder. Possuir conhecimento sensível não viabilizará o desenvolvimento econômico, se não houver planejamento estratégico e sensibilização da sua proteção e desenvolvimento. A desproteção desse conhecimento iria refletir em um cenário econômico

aonde o Brasil seria o menor beneficiado na exploração comercial do Pré-Sal.5 Havendo

participação estrangeira na sua cessão, a Petrobrás se liga a disputas comerciais intensas e visibilidade político-militar.

No campo científico, a geração de conhecimentos científicos nas universidades nacionais tem permitido avanços em setores considerados estratégicos, desempenhando papel relevante no desenvolvimento econômico e tecnológico nacional. A proteção desses conhecimentos produzidos, no entanto, ainda é incipiente no Brasil frente à importância e sensibilidade das inovações alcançadas.6 Agregando tal pensamento ao cenário corporativo

brasileiro, temos a iniciativa privada brasileira como um dos expoentes nos commodities da produção agropecuária e recursos de mineração. As tecnologias de valor agregado possuem igual importância, devido à construção da independência tecnológica brasileira, como fator que pode elevar o país a nível de referência no mercado, produzindo uma nova geração de conhecimentos sensíveis aplicados a diversas áreas. O Brasil se esforça para se destacar na infraestrutura operacional de transportes, na tecnologia nuclear, tecnologia aeroespacial e militar. A exemplo, a Embraer expandiu a sua linha de aviação comercial e através da sua subsidiária - Segurança e Defesa - já iniciou o compartilhamento tecnológico com a sueca SAAB, inaugurando em dezembro de 2016 o GDNN – Centro de projetos e desenvolvimento

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do GRIPEN - para desenvolver em conjunto com diversas empresas nacionais um caça multifunção modernizado ao contexto de defesa sul-americano.7

Igualmente, empresas privadas produzem pesquisas e programas relevantes em tal contexto, como as escolas e universidades corporativas, que estão emergindo como ferramentas importantes no processo de gestão do conhecimento sensível. Balué (2006) cita como o investimento corporativo privado na pesquisa, formação profissional e gestão da qualidade simplifica custos e proporciona ideias para as organizações brasileiras se tornarem mais competitivas. Essa produtividade germina atualmente uma rede potencial e produtiva de conhecimento nas universidades e empresas. Em tal contexto, revela-se a interdependência entre as tecnologias da informação - TIC´S e a gestão do conhecimento – GC como uma necessidade para a proteção do conhecimento sensível no gerenciamento da informação. Marcos Cepik (2014e) cita que as TIC´s no Brasil, em nível governamental, apoiam os deveres da cidadania, fornecendo cases de serviços e sistemas estruturados, como a Receita Federal ou o SIAFI em bom nível de maturidade e governança.8 Enquanto isso, a

iniciativa privada trabalha para se contextualizar na computação em nuvem e no conceito de Big Data. O conceito do Big Data é a ampliação da capacidade de armazenamento de dados, com maior inteligência e velocidade no cruzamento e análise dos mesmos. Sêmola (2014) cita, que assim como o Big Data um meio de melhorar a capacidade dos sistemas de segurança na detecção de atividades maliciosas, torna-se uma ferramenta ilimitada de mineração de conhecimento sensível, quando departamentos como os de marketing, gestão de recursos humanos, inteligência competitiva e de mercado estão prevendo o aumento da sua capacidade analítica. A assimilação de informação pode alcançar o nível big brother de privacidade, gerando a necessidade de novos modelos de prevenção, educação e controle. A produção de conhecimentos sensíveis nesta escala de nível em informação revela-se um meio de se lidar com a explosão do acesso à internet, aplicativos móveis e redes sociais, sendo estas ferramentas fontes muito eficientes na produção de dados e conhecimentos sensíveis para decisões corporativas. Por último, Cruz (2012) nos recorda do potencial dos saberes tradicionais brasileiros, quando associados ao contexto geográfico, da biodiversidade e genética. Constitui patrimônio ambiental de aplicação ilimitada no campo econômico. Pesquisas científicas e industriais relacionadas ao ecossistema sul-americano sofrem assédio

7 Produção do Gripen é iniciada no Brasil - < http://airway.uol.com.br/producao-do-gripen-ng-e-iniciada-no-brasil/> 8 CEPIK, Marcos – Big Data >http://professor.ufrgs.br/marcocepik/presentations/big-data-ti-governo>

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relevante, e o incentivo à proteção dessas pesquisas é um dos focos da Abin. A proteção do conhecimento sensível de saberes tradicionais é exemplo relevante por países europeus como a Itália e a França, cujas produções artesanais são fontes de riqueza importantes para a sua economia, como o Champagne, queijos, vinhos e especiarias.

2.1 MEDIDAS DE PROTEÇÃO DO CONHECIMENTO SENSÍVEL BRASILEIRO

A proteção do conhecimento sensível consiste no estabelecimento de medidas preventivas ou mitigatórias através de ações estratégicas de gestão de Estado, visando a sua assimilação na iniciativa pública e privada. É uma normativa programática de inteligência, uma ação interativa, a ser desenvolvida através da sensibilização, conscientização e inserção de medidas de gestão nos níveis estratégico, tático e operacional, nos diversos departamentos, projetos e processos das organizações detentoras de tais conhecimentos. Sendo assim, a ABIN instituiu o Programa de Proteção do Conhecimento Sensível – PNPC, que realiza um trabalho preventivo de salvaguarda de conhecimentos sensíveis de interesse da sociedade e do povo brasileiro. Objetiva conscientizar os detentores de conhecimentos sensíveis sobre as ameaças a que estão sujeitos, fomentando o desenvolvimento de uma cultura de proteção dos conhecimentos sensíveis, implantando medidas de proteção, assessoramento e acompanhamento. Propõe-se a interagir com instituições nacionais e órgãos governamentais detentores de conhecimentos sensíveis.

Desde a sua introdução, a ABIN cita avanços, como criação do Programa Universidade & Inteligência – UNINT.9 As ações deste programa são relevantes, visando promover atividades

educativas para a formação da cultura de proteção nos meios acadêmicos e científicos, elaborando uma rede cooperativa de proteção do conhecimento, estimulando a produção de artigos sobre o tema da proteção do conhecimento sensível nas universidades, talentos multiplicadores e colaboradores para a promoção de ações de protetivas. Para isso, procura celebrar parcerias com as instituições, afim de assegurar o direito à propriedade intelectual e

a geração de patentes. Parcerias foram iniciadas com Universidades Federais10, empresas

públicas, centros de processamentos de dados, autarquias e serviços sociais como: o Instituto

9 O Programa UNINT destina-se à comunidade acadêmico-científica brasileira.

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Nacional da Propriedade Intelectual – INPI, Serviço Social da Indústria – SENAI, Embrapa, SERPRO, Codata-PB, Agência Espacial Brasileira, dentre outros noticiados no ciberespaço.

Relacionando-se intimamente com conhecimentos sensíveis, o PNPC atua em conjunto com o Programa Nacional de Integração Estado-Empresa na área de Bens Sensíveis - PRONABENS, visando prevenir a ação de salvaguarda e proteção da comercialização e produção de bens sensíveis ou de uso dual: civil e bélico.11 Esse programa é mais específico

para orientar empresários sobre os controles governamentais na transferência de bens e tecnologias sensíveis, fornecendo as listas de bens sensíveis. Trata da importância do trabalho estreito na atuação conjunta de entes públicos e privados para efetivação de negócios relacionados, visando cumprir tratados e compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. A Abin (2017) cita que é necessário ‘’detectar, antecipadamente, quaisquer iniciativas de transferência irregular de desses bens e aperfeiçoar os controles governamentais.’’ Também noticia em seu sítio oficial a realização de seminários sobre o controle de tecnologias sensíveis para ações em três frentes de trabalho. Primeiramente, a não proliferação de armas de destruição em massa e o controle de exportação de tecnologias sensíveis. A segunda é a prevenção ao uso de agentes QBRN por terroristas. A terceira foca na biotecnologia, evitando a introdução de patógenos que possam atingir a saúde da sociedade e produção agropecuária. Seminários são realizados regularmente capacitando profissionais de diversos órgãos do SISBIN. Igualmente, o PNPC realiza fóruns regulares de discussões sobre proteção do conhecimento sensível, visando sensibilização de empresas privadas, órgãos públicos e organizações do terceiro setor. Entre as áreas de que o PNPC se expandiu estão o setor nuclear e a proteção dos conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade, com avançado sucesso em inteligência competitiva nos últimos anos. Conforme dados do programa, as instituições públicas e sem fins lucrativos não necessitam de cobrir custas de implantação do programa, mas empresas privadas detentoras de conhecimento sensível e com preocupação estratégica devem solicitar à ABIN a implantação do programa, além de custear as despesas de hospedagem dos profissionais e para sua implantação.

11 Consideram-se bens de uso duplo os de aplicação generalizada, desde que relevantes para aplicação bélica como químicos

e biológicos, bens e equipamentos nucleares, além de serviços e tecnologias sensíveis relacionados ao emprego bélico, conforme artigos da Lei nº9.112 de 25/10/1995

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Seguindo metodologia própria da ABIN (2017), o PNPC é implantando em três etapas, sendo a inicial: 12 Sensibilização para ‘’desenvolver atividades destinadas à conscientização de

todo o corpo funcional, inclusive a alta direção, visando a adoção de medidas, procedimentos e comportamentos adequados, consideradas a natureza sensível dos assuntos aos quais têm acesso.’’ A sensibilização é realizada por encontros e palestras que abordam a importância dos conhecimentos sensíveis e que apresentem boas práticas para a sua proteção. A segunda é uma Avaliação de risco: ‘’Os profissionais da ABIN e da instituição parceira fazem avaliação conjunta dos conhecimentos que estão ameaçados e o nível da ameaça existentes, segmentados por fontes de ameaça como a Espionagem, sendo a obtenção de dados, informações ou conhecimentos de forma clandestina, proporcionando benefícios ao autor da ação. O Vazamento: difusão não autorizada de assuntos sensíveis ou sigilosos. A Sabotagem: ato provocado intencionalmente contra instalações, processos organizacionais, documentos, materiais, software ou hardware, buscando paralisar, contaminar, desestruturar e desorganizar atividades desenvolvidas pela instituição.’’ (ABIN:2017, on-line) Estuda também os Sinistros, que são ocorrência de danos, totais ou parciais, como consequência dos fatos anteriores, além de incêndios, desabamentos, alagamentos, acidentes ou outros fenômenos naturais.

Figura nº 01 do sítio do PNPC - ABIN

Assim é realizada uma Avaliação de riscos dos sistemas protetivos, identificando vulnerabilidades, apresentando novas recomendações, medidas corretivas, procedimentos e controles de segurança. Tal avaliação leva em consideração as características funcionais das

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instituições e a metodologia desenvolvida pela ABIN, fundamentada em normas técnicas e na legislação vigente. Dentre as metodologias que são utilizadas em conjunto com a ABIN, podem ser citadas a 5W2H, uma metodologia que objetiva facilitar a análise das principais questões que deverão ser contempladas na elaboração de um plano de ação: O que será feito (What), Quem é o responsável (Who), Quando será feito (When), Onde será feito (Where), Por que será feito (Why), Como será feito (How) e Qual o custo adicional para executá-la (How Much). A Matriz GUT (Gravidade, Urgência e Tendência) é citada também como uma ferramenta eficiente para a priorização das ações. 13 Tais medidas de proteção são divididas

em quatro segmentos.

a) ‘’Proteção Física: medidas destinadas à proteção dos locais onde de produção, tratamento, custódia e armazenamento de conhecimentos, informações, dados e materiais sigilosos.

b) Proteção na Gestão de Pessoas: medidas que buscam dificultar o ingresso de pessoas cujo perfil é inadequado para os padrões de segurança da instituição, bem como outras medidas que buscam assegurar padrões de comportamento profissional e ético recomendáveis para a salvaguarda dos conhecimentos sensíveis.

c) Proteção de Documentos: medidas destinadas a proteger a elaboração, o manuseio, o trânsito, a difusão, o armazenamento e o descarte de documentos sigilosos, bem como a sua adequação às leis e normas que regulamentam as atividades da instituição;

d) Proteção de Sistemas de Informação: medidas que visam a garantir o funcionamento da infraestrutura tecnológica de suporte ao acesso, armazenamento e comunicação dos dados, informações e conhecimentos sensíveis.’’ (ABIN:2017, on-line)

Todos os resultados são consolidados em um Relatório de Avaliação de Riscos, que aborda os níveis de risco identificados, as medidas corretivas e as recomendações, visando sanar as

vulnerabilidades observadas na instituição. 14 Posteriormente, entra-se na fase de

Acompanhamento, quando são ‘’estabelecidas ações conjuntas para o acompanhamento e a

13Utilizadas na Embrapa Soja e Feijão <www.cnpma.embrapa.br/boaspraticas/workshop/anais/arquivos/PT023.pdf>

14 A Embrapa Soja divulgou um relatório simplificado de avaliação de riscos na web após aplicar a metodologia do PNPC

realizado em conjunto com a ABIN, observando medidas corretivas como: a implantação de rotinas de segurança para todos os níveis, medidas proteção de hardware e software e ações de proteção de segurança física que podem ser vistas no link: <www.cnpma.embrapa.br/boaspraticas/workshop/anais/arquivos/PT023.pdf>

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avaliação da execução das melhorias. A ABIN oferece apoio e assessoramento na implementação de recomendações de segurança, entre as quais podem ser desejáveis a Normatização como forma de consultoria e assessoramento na elaboração de políticas e normas internas concernentes à proteção de conhecimentos sensíveis. E a Classificação visando orientar e aplicar critérios legais e institucionais para a classificação de documentos que contenham assuntos sensíveis. A implementação do PNPC é totalmente realizada por profissionais da ABIN, ainda assim, a mesma está aberta a opiniões e sugestões de aperfeiçoamento do labor. A atuação de oficiais e agentes não exatamente implica o acesso pela ABIN a dados, sistemas, informações e conhecimentos sensíveis das instituições envolvidas no programa, salvo aqueles estritamente relacionados aos processos de gestão da informação e dos conhecimentos sob enfoque do PNPC. ‘’ (ABIN:2017, on-line)

3.0 ANÁLISE DE AMEAÇAS E OPORTUNIDADES PARA O CONHECIMENTO SENSÍVEL BRASILEIRO

Sob a ótica do conhecimento sensível, a publicação da Política Nacional de Inteligência é um documento norteador para a atuação da ABIN, que define como o conhecimento sensível se associa ao valor estratégico, econômico, de potencial, sendo produto de entes brasileiros públicos e privados. Proteger esse tipo de conhecimento se revela uma necessidade regular do Estado, sendo devida a sua aplicação e ampliação:

É necessário, ainda, ampliar o desenvolvimento de ações de proteção dos conhecimentos sensíveis e da infraestrutura crítica nacional, bem como contrapor-se ao surgimento de ameaças representadas tanto por serviços de Inteligência, quanto por grupos de interesse, organizações ou indivíduos que atuem de forma adversa aos interesses estratégicos nacionais. (BRASIL, Decreto nº 8.793 de 29/06/2016)

É a Política Nacional de Inteligência que orientará a definição dos objetivos estratégicos do Programa Nacional de Proteção ao Conhecimento Sensível. Trata-se de um documento que define o que o país deseja nessa área. O PNI (2016) cita e reconhece as principais ameaças ao país para a atuação da inteligência, oferecendo importantes diretrizes ao SISBIN para o Programa Nacional de Proteção do Conhecimento Sensível, sendo a citadas principais

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ameaças para o conhecimento sensível como a espionagem via operações clandestinas de governos ou entes privados, para obtenção ilícita dos dados sigilosos de conhecimentos sensíveis. Alia-se à sabotagem, que é uma ação prejudicial de efeitos físicos, materiais ou psicológicos, que objetiva inutilizar e prejudicar, ainda que temporariamente, dados ou conhecimentos sensíveis como equipamentos, ferramentas e materiais, sobretudo aqueles necessários à capacidade de operação funcional e protetiva. Tais ações quando realizadas por órgãos de inteligência são chamadas de ‘’covert actions’’, notadamente ilegais, extremamente sigilosas, que podem causar longos atrasos em programas governamentais e privados, cujo conhecimento sensível tem potencial ameaçador ao concorrente. A inteferência externa está relacionada com a atuação deliberada de governos estrangeiros, grupos de interesse, pessoas físicas ou jurídicas, que possam influenciar os rumos políticos e econômicos do País, cujo objetivo seria o favorecimento próprio em detrimento ao nacional. Podem interferir na vontade econômica, gerando cartelização, compadrio e monopólio, ou na vontade política, minando o controle estatutário e desestabilizando as instituições. As ações contrárias à soberania nacional são atos que ‘’atentam contra a autodeterminação, a não-ingerência nos assuntos internos e o respeito incondicional à Constituição e às leis.’’ (PNI:2016, tóp. 6.4) Os ataques cibernéticos, íntimos da sabotagem e espionagem, vitimam o conhecimento sensível brasileiro. Emprega-se a tecnologia da informação e comunicações para penetrar, adulterar ou destruir comunicações e redes utilizadas por setores públicos e privados que armazenam dados e conhecimentos sensíveis. São a grande tendência para os próximos anos. Cepik (2014) cita como as políticas de defesa militares americanas e brasileiras tratam a web como um importante quinto domínio de atuação. O vazamento de dados e informações sigilosas também pode ser discutido como uma ameaça importante, visto que é consequência da penetração da espionagem e sabotagem: pode ocorrer involuntariamente, por descuido, possuindo histórico recente de sua prática voluntária por ativismos ideológicos, corrupção e cooptação. O terrorismo é a principal ameaça à paz e à segurança dos Estados na atualidade, desafiando a inteligência global, sendo o Brasil signatário dos instrumentos internacionais para colaboração com a Inteligência em âmbito mundial. A ação isolada de ‘’lobos solitários’’ ganhou relevante destaque nos últimos anos, desafiando o monitoramento desta ameaça cujo teor ideológico é altamente disseminado via internet. As atividades envolvendo bens de uso dual e tecnologias sensíveis envolvem-se com o terrorismo e o crime organizado como ameaças crescentes, em especial nas áreas química, biológica e nuclear. O conhecimento

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sensível está íntimo de tal contexto quando redes criminosas e terroristas buscam ter acesso, de forma dissimulada, a esses bens e tecnologias como armas de uso exclusivo, químicos explosivos, matérias-primas, burlando os controles executados por órgãos de Inteligência e de repressão legais. Relaciona-se com destaque as armas de destruição em massa. A tecnologia produtiva nuclear para fins pacíficos é suficiente para atrair o alerta dos órgãos de inteligência mundiais e coloca em atenção os perigos da espionagem e sabotagem de conhecimentos ou bens sensíveis do programa nuclear brasileiro, produtor e exportador de urânio enriquecido.15

A Criminalidade Organizada é um desafio transnacional que merece atenção especial dos órgãos de Inteligência brasileiros. A dificuldade de se combater tal fenômeno reforça a necessidade da cooperação tecnológica do SISBIN, refletindo-se no avanço de crimes interestaduais, contrabando, tráfico de drógas, no descontrole carcerário e outras vertentes endêmicas. Muitas rotas de tráfico de drogas internacionais agem em meio à extensão de fronteiras e transporte aéreo/aquaviário, favorecidas pelo conhecimento sensível local e pouca atuação do Estado. As criminalidade organizada multiplica nas cidades brasileiras crimes contra a vida como homicídios, roubos, sequestros, tráfico de pessoas e o uso de bens sensíveis. Abrange também a institucionalização dos crimes de colarinho branco, que facilitam a ação silenciosa das diversas ameaças. A corrupção aparece como uma ameaça correlata e fenômeno proeminente no atual cenário nacional, sendo que as ações corruptivas visam facilitar ou consolidar, no geral, as outras diversas ameaças. A corrupção traz um paralelo de manutenção de poder e desvirtuação da finalidade pública ou privada das organizações, sendo uma forma de maquiar o desempenho econômico, evadir recursos essenciais, produzir a erosão institucional e descrédito das entidades públicas e privadas.16 A morosidade do

Estado em diversas ações combativas de ameaças analisadas pela Política Nacional de Inteligência é reforçada pelo desvio de recursos e instabilidade de políticas de Estado. Tão perigosas quanto são as ações contrárias ao Estado Democrático de Direito, como aquelas que atentam contra o pacto federativo, direitos e garantias fundamentais, o bem-estar e a saúde da população, o pluralismo político, o meio ambiente e as infraestruturas críticas do País, quando ameaçam os preceitos constitucionais do Estado. Uma tendência mundial é a

15 Brasil irá exportar urânio enriquecido – EBC - http://tinyurl.com/yajejxgh

16 Brasil perderia cerca de R$200bi/ano com corrupção – ISTOÉ -

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tentação separatista, a criação de milícias armadas ou independentes em meio a crises políticas e econômicas. Algumas tendências em especial são monitoradas pela ABIN,

relacionadas às áreas de demarcação indígenas em Roraima17 e os movimentos de separação

de Estados do Sul do Brasil.18 Embora o Brasil seja uma exceção às tendências separatistas, as

suspeitas contrastam com a calma e histórica unidade, mas não se pode ignorar a importação ideológica, vista no Brexit, nas disputas ucraniana e síria.

O documento da PNI revela uma visão resumida de tais ameaças, sendo que o trabalho da inteligência da ABIN visa coletar e analisar informações mediante as variações políticas, sociais e econômicas do cenário nacional. E o Brasil está passando por um fenômeno que afeta todas estas variações. Proteger o conhecimento sensível exige um programa que imprima regularidade e melhoria contínua, visando o avanço de uma inteligência competitiva. Para isto, tais ameaças precisam ser delineadas constantemente de acordo com os fenômenos que o país está passando, visando amenizar os pontos fracos e fortalecer os pontos fortes ao contexto dos conhecimentos sensíveis. É o que será feito por este estudo com base nas informações coletadas.

3.1 CONSEQUÊNCIAS DA CORRUPÇÃO SISTÊMICA PARA O CONHECIMENTO SENSÍVEL DE EMPRESAS BRASILEIRAS

A corrupção é uma ameaça visivelmente disseminada na governança corporativa e pública brasileira, sendo também reconhecida como ameaça internacional pelas nações signatárias de acordos propostos pela ONU e entidades não-governamentais. ‘’A Lei Anticorrupção, sancionada e publicada logo após as manifestações populares ocorridas no País em meados do ano de 2013, pode ser vista como uma tentativa de combater a corrupção, instaurada no âmbito da Administração Pública, visto que seu projeto de lei já vinha tramitando no Congresso Nacional desde o fevereiro de 2010. E este pensamento toma forma na medida em que existiam já promulgadas diversas leis que visam à proteção da moralidade pública’’ (BREDA: 2016, pág.33).

17 Índios querem criar estado independente em Roraima, diz Abin – FOLHA -

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po2507201025.htm

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A Transparência Internacional - TI é uma organização não-governamental que tem como principal objetivo a luta contra a corrupção. É conhecida pela produção anual de um relatório no qual são medidos os índices de percepção de corrupção dos países do mundo. Em 2016, elegeu a Operação Lava Jato como a maior iniciativa de combate a corrupção no mundo, lidando a investigação com um dos maiores escândalos de corrupção a nível mundial. O Índice de Percepção da Corrupção é hoje a mais conhecida e utilizada medição da corrupção em pesquisas científicas. Para formar o índice, empresários e analistas de diversos países são convidados a dar sua opinião sobre o grau de corrupção em cada país. Desta forma, o índice não mede objetivamente a corrupção, mas sim como o conjunto da sociedade percebe subjetivamente a corrupção em cada país. (TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL: 2017, on-line) O Brasil caiu de 69º para 76º nos últimos três anos, estimulados pelo escândalo da Petrobrás,

aumento do desemprego e problemas da economia. 19

A instalação da corrupção propõe-se a erodir as melhores práticas de segurança nas organizações brasileiras, percebidas nos casos citados pelos desdobramentos da Lava-Jato, através de provas produzidas, depoimentos e delações que envolveram membros de diversas organizações públicas e privadas, supracitadas nas recorrentes denúncias: Os membros de partidos políticos de variadas tendências e siglas como PP, PMDB, PT, PTB, PSDB entre outros. Chefes de poder como no Estado do Rio de Janeiro e cinco ex-Presidentes da República. Empresas que mantinham negócios de Estado e financiavam campanhas eleitorais como a JBS, Grupo Odebrecht, Grupo OAS, Mendes Júnior, Setal, UTC, Camargo Corrêa, Techint, Promon, Andrade Gutierrez, Iesa, Engevix, GDK, MPE, Galvão Engenharia (MPF: 2016, pág. 10). E com destaque para a empresa de maior contexto internacional, o Grupo Petrobrás, sendo todas essas detentoras de conhecimentos sensíveis em ramos da indústria com aplicações na construção civil, petroquímica, ambiental, defesa, tecnologia, biodiversidade, recursos hídricos e TIC´s. Revelaram-se nessas organizações fraquezas nos sistemas de controles internos, na anuência de membros da alta gerência em operações ilegais - até mesmo por departamentos de compliance - em auditorias internas, nos departamentos jurídico e financeiro. As práticas ilegais eram atividade meio para fomentar operações lucrativas e garantir domínio econômico.

19 GLOBO.COM – Ranking de Corrupção coloca Brasil em 76º lugar entre 168 Países -

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A sequência de sinistros relacionados evidencia que o Programa de Proteção do Conhecimento Sensível pode estar carente de uma aplicação eficiente nas organizações mais relevantes brasileiras, como a Petrobrás. A consequente ação repressiva da justiça gerou visibilidade estrangeira em explorar os ativos das empresas relacionadas na operação. O intercâmbio de ações penais por acordos internacionais anticorrupção se fortaleceu, abrindo espaço para a justiça internacional elaborar processos penais e civis contra os entes envolvidos, que acumulam bloqueios financeiros e prejuízos. Tal queda na credibilidade institucional brasileira permite uma análise crítica de como a disseminação de práticas corruptas podem atingir o conhecimento sensível, especialmente das empresas envolvidas, como a Petrobras. Existe a possibilidade de disseminação de informações sensíveis via justiça20, depoimentos e obrigações legais. A desvalorização, o inevitável escoamento de

recursos, o corte de custos e trocas de liderança evidenciam que se ignorou a aplicação de uma política de Estado de contrainteligência a nível estratégico.

A estruturação de esquemas ilegais fomentou a interferência externa sobre monopólios e interesses de mercado, favorecendo a aquisição de empresas e recuando investimentos estatais. Exemplos são vistos em depoimentos da operação lava-jato, como quando o ex-presidente da Braskem, Carlos Fadigas, admitiu a relação da Braskem — braço petroquímico do Grupo Odebrecht — com o setor de ‘’operações estruturadas’’ da empresa. Segundo ele, a Braskem ajudava a alimentar o chamado "departamento de propina", com geração de caixa 2 na companhia e envio para esta área (VALOR: 2017, on-line). Também, em depoimento, Emilio Odebrecht disse que combinou com Lula que, em troca do apoio nas eleições de 2002, o então candidato se comprometeria, caso eleito, a garantir o recuo da Petrobras no setor petroquímico para que a Braskem dominasse o mercado. (GLOBO.COM: 2017, on-line).

Uma visão geral prejuízos decorrentes do esquema fraudulento de empresas praticadas contra a Petrobrás foram estimados em laudo emitido pelo Departamento Técnico da Polícia Federal na ordem de R$ 42 bilhões de reais. 21 Na operação Lava-Jato, uma série de fatos

revelam a existência de brechas que são abertas por negócios espúrios, em desconformidade com princípios de moralidade e interesse público citados em depoimentos. Ilegalidades na

20Pelo menos 12 países solicitaram ao Ministério Público Federal brasileiro o compartilhamento de informações e provas

obtidas nos mais de dois anos de investigações da Lava-Jato. A lista inclui desde vizinhos como Argentina, Peru e Uruguai a países mais distantes, sendo os 4 mais interativos: Suíça, E.U.A, Portugal e Mônaco. (O GLOBO:2016)

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licitação de complexos tecnológicos estão presentes nas ações judiciais propostas pelos acordos de leniência como Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello – CENPES e do Centro Integrado de Processamento de Dados da Tecnologia da Informação - CIPD, ambos localizados no Rio de Janeiro, e da Sede da Petrobras de Vitória - Espírito Santo. Com a deflagração de uma nova delação premiada, desta vez envolvendo o grupo agropecuário JBS, os últimos três presidentes da república – Temer, Lula e Dilma Rousseff – estão envolvidos em denúncias graves de corrupção relacionadas a tráfico de influência, pagamento de propinas, obstrução da justiça e ações de interferência ao livre mercado, através de medidas que permitiam até o favorecimento de decisões importantes em órgãos de controle e fomento

econômico como o CADE e o BNDES.22 As denúncias atingem diversos ocupantes de

relevantes cargos públicos e confirmam a problemática sistêmica causada por ações de corrupção, institucionalizadas em diversos órgãos de controle governamental, valendo citar que o CADE é um colaborador da operação Lava-Jato na investigação de cartéis e acordos de leniência. Revelou-se até o perigoso fato de um procurador da república utilizar o respaldo de seu cargo para realizar vazamentos de investigações, facilitar a obstrução da justiça e violar informações de sigilo funcional para os envolvidos, sendo este denunciado e preso a pedido da própria PGR 23

Observa-se um enfraquecimento institucional grave, abrindo espaço para a espionagem

industrial24 e alterando os planos estratégicos das empresas para um novo modelo de

negócios, visando a venda rápida de ativos para reduzir o endividamento e iniciar uma reestruturação. No caso da Petrobras, existem negociações em andamento para a venda de ativos da companhia em setores detentores de conhecimento sensível relacionados à biodiversidade e pesquisa científica nacional como: a produção de biocombustíveis (biodiesel e de etanol), a produção de fertilizantes, participações em petroquímicas, concessões de exploração do Pré-Sal, abrindo espaço maior para a exploração da concorrência estrangeira. Multinacionais estão

tirando proveito e tomando posicionamento do mercado.25 Como exemplo, a canadense

Brookfield adquiriu 70% da Odebrecht Ambiental, empresa com tecnologia de alta qualidade na plataforma de serviços de água e águas residuais em mercados emergentes no valor de

22Delação da JBS complicam ainda mais sucessão o CADE – EM.com.br - http://tinyurl.com/ya5l6bbv

23Procurador da República delatado pela JBS é denunciado – Valor Econômico - http://tinyurl.com/y8sz8c8d

24O CENPES – Centro de Pesquisas de Águas Profundas está envolvido nos recursos ilícitos desviados da operação Lava-Jato. É

necessário mensurar o quanto isso afetou o conhecimento sensível relevante que tal foco armazena.

25 Veja o que a Petrobrás já vendeu e quer vender até 2018

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R$787 milhões, com regras específicas de cumprimento de metas de desempenho. Negócios brasileiros estão se deteriorando e sofrendo restrições que se refletem no posicionamento econômico do Brasil em nível internacional. Parcerias financiadas com dinheiro público brasileiro em mercados como Angola, Cuba, Peru, Venezuela e Uruguai estão tendo suas operações negociadas para concorrentes canadenses, australianos, argentinos e norte-americanos, todos membros de países com interesses relevantes nas práticas de espionagem que visam conhecimentos sensíveis brasileiros. Pode haver uma correlação entre os casos de espionagem citados por Snowden (2013) como fonte de informação econômica para que esses concorrentes privados ganhem espaço comercial através de frentes estratégicas e aquisições de relevante conhecimento econômico, ainda impondo normas e metas para realizar tais formalizações.26 Certamente tais aquisições estão entregando a produção de

conhecimento sensível técnico, científico e dados econômicos, em um cenário político-econômico que deveria ser de liderança brasileira.

Felizmente, no ponto de vista repressivo, a atuante cooperação e troca de informações entre os órgãos de segurança pública participantes do SISBIN como o Ministério Público, a COAF – Receita Federal e a Polícia Federal servem de exemplo do uso da Inteligência como fator de sucesso na evolução da operação Lava-Jato. As consequências da operação estão modificando o cenário de segurança pública, com menor distopia em relação à corrupção e seus malefícios. Mas as práticas reveladas nas delações e denúncias desta operação demonstram que inexistia a aplicação de um modelo de conformidade/compliance nessas organizações. A complexidade na cadeia de licitações e fornecedores, na relação de negócios com o Estado e na conduta dos agentes públicos envolvidos exige uma gestão desafiadora de riscos, através de medidas de controle que protejam as finanças públicas, as transações financeiras e o compromisso com a legalidade. A definição de compliance ou conformidade seguem conceitos de prevenção e colaboração. Manzi (2008) define o termo compliance de acordo com a origem do verbo em inglês to comply, que significa cumprir, executar, satisfazer, realizar algo imposto. Não se pode confundir o Compliance com o mero cumprimento de regras formais e informais, sendo o seu alcance bem mais amplo, ou seja, é um conjunto de regras, padrões, procedimentos éticos e legais, que, uma vez definido e implantado, será a linha mestra que orientará o comportamento da instituição no mercado

26ESTADÃO – Brookfield compra 70% da Odebrecht Ambiental

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em que atua, bem como a atitude dos seus funcionários. (RIBEIRO;DINIZ:2015, pág. 88 apud CANDELORO; RIZZO;PINHO, 2012, p. 30). A aplicação de Compliance para Inteligência deve considerar que os seus altos custos evitariam os custos exorbitantes causados pelas ameaças corruptivas, jamais podendo desconsiderar tal fator para as medidas de segurança de conhecimentos sensíveis e sua relevância para a competitividade da organização. Entende-se que o Compliance pode dar solidez aos programas de segurança e proteção de conhecimentos sensíveis da empresa, inclusive produzindo expertise e gerando melhores práticas para o cenário de cada organização, visando coibir ilícitos como vazamentos de dados, fraudes e corrupção.

Santos e Barbosa (2008) citam que a visão estratégica do Gerenciamento da Informação e do Conhecimento deve também considerar a área de conhecimento relacionada aos Recursos Humanos e seus componentes, tais como: as competências, a cultura, compartilhamento e aprendizagem organizacional, sendo interfaces existentes entre a Ciência da Informação e a Inteligência de Estado, especialmente. Compreendemos que são pessoas quem formulam estratégias que, aplicadas no contexto Estatal, produzem Conhecimento de Inteligência, inerente ao processo decisório. Reconhece-se que o fator humano é um expoente altamente explicativo para os fenômenos que cerceiam o conhecimento sensível brasileiro, visto que tais sinistros refletem uma cultura de corrupção de personalidades públicas e privadas nas posições estratégicas. Nesse contexto, o processo de planejamento institucional de proteção do conhecimento sensível e da segurança das informações foi desconsiderado, erodindo a segurança dos procedimentos. A mudanças ambientais no contexto que envolvem empresas e a Petrobrás cobram agora uma profunda reimplantação e acompanhamento por parte do PNPC.

3.1 CRIME ORGANIZADO, ARMAMENTOS E QUÍMICOS SENSÍVEIS

O desafio de combater o crime organizado é fator preponderante no cenário nacional, sendo que as organizações criminosas brasileiras evoluíram mais rapidamente e estão equipadas de vultuosos lucros financeiros para a sua aplicação. De Paula (2013, pág.68) cita que a complexidade é característica das organizações de segurança pública, mas também é

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uma característica da violência e da criminalidade, que compreende uma “teia” de interações e “relações” conflitivas que estão em constante variação e transformação, razão pela qual se evidencia a necessidade de se aplicar metodologias competitivas que permitam a reunião de várias fontes em torno do objetivo comum da segurança pública. As ações de combate ao crime organizado brasileiro esbarram no enfraquecimento de políticas públicas para a cooperação sistemática, na defasagem orçamentária, humana das polícias estaduais e na corrupção dos agentes públicos, permitindo que os comandantes do crime se organizem com velocidade e se aprimorem. Tais reflexos agem sobre o SISBIN, dificultando e deformando o levantamento de informações em nível eficiente para o combate do crime organizado. Sobre tal fator, De Paula (2013, pág. 262) cita expressão relevante:

‘’A adoção de uma perspectiva de inteligência de segurança proativa e de caráter prospectivo perpassa por estratégias que rompam com o velho paradigma que tem pautado os serviços com base em burocracias especializadas e com estruturas arcaicas que tem monopolizado os processos de produção do conhecimento, havendo necessidade de análises diversas e plurais para fazer frente às ameaças plurais e latentes.’’ (DE PAULA:2013, pág.262)

Tal cenário é preocupante, pois a inércia governamental favoreceu uma escalada do uso irrestrito de bens químicos explosivos pelas organizações criminosas, atuando melhores equipadas do que as polícias, adquirindo itens de uso dual e armas melhores do que as de forças policiais, usando fuzis de grosso calibre e eventualmente armamentos que ultrapassam blindagens, visando facilitar a sua organização e operação. Especialmente, as cidades do interior dos Estados têm grande relevância econômica para o país, mas são as principais vítimas da onda de extravios de explosivos que estão sendo utilizados na explosão controlada de bancos e carros-fortes.27 Os bastões de dinamite e outros explosivos encarchurtados são

opções práticas de fácil manipulação para fins civis ou bélicos. ‘’A classificação de um produto como controlado pelo Exército tem por premissa básica a existência de poder de destruição ou outra propriedade de risco que indique a necessidade de que o uso seja restrito a pessoas físicas e jurídicas legalmente habilitadas, capacitadas técnica, moral e psicologicamente, de modo a garantir a segurança da sociedade e do país’’ (Brasil:2000, art 9º). Sendo assim, a

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função fiscalizatória é do Exército, responsável por conceder as autorizações necessárias e normatização do uso de materiais explosivos, aplicando multas ou sanções no caso de irregularidades. As forças policiais estaduais, federais e rodoviária agem quando há indícios de atividades ilícitas. O PRONABENS, no entanto, é a organização da Inteligência Civil brasileira que visa a atuação sensibilizadora para a correta disseminação desse bem econômico, elaborando ações programáticas para facilitar o monitoramento e adoção de práticas seguras para a sua manipulação. Mas as ações de tais entidades dão aparente relevância para o porte, comércio ilegal de armas ou dispositivos de tecnologia biológica ou nuclear, frutos de episódios mais catastróficos como a crise do Césio-137 em Goiânia, a campanha do desarmamento e a luta contra o tráfico de drogas.

No entanto, apresenta-se soluções incipientes quando se tratam dos extravios de explosivos químicos comercializáveis. Acusando tais entes de inércia, o legislativo brasileiro discute uma proposta visando inibir a proliferação de explosivos, debatendo a PL.484/2015, cujo teor proíbe a fabricação e comercialização de bananas de dinamite e altera a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 - Estatuto do Desarmamento - para determinar a identificação de explosivos fabricados ou comercializados no país. A pauta já foi discutida em plenário e está sendo reformulada, visando aumentar a rigidez com o controle do SINARM para o registro do comércio varejista e atacadista de tais bens. Sugere-se também o aumento de pena para a posse, comercialização e manipulação ilegal de armas e bens de uso restrito, a a sugestão de tecnologias de controle de uso e acionamento dos explosivos. 28

Em contrapartida, o Governo Brasileiro divulga números, citando que entre 2015 e 2016, foram verificadas uma redução de 30% nos crimes com uso de material explosivo no País. O Exército realizou uma média de 4 mil ações de fiscalização, de curta duração, percorrendo com 400 mil quilômetros rodados pelas equipes e autuando 500 empresas. As operações visaram 13 estados, sendo metade do número de entes da federação, através do Centro Centro de Operações de Produtos Controlados, no Forte Caxias, em Brasília. 29

28 Câmara Legislativa – CSP aprova controle mais rígido sobre explosivos

<http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SEGURANCA/514290-COMISSAO-DE-SEGURANCA-PUBLICA-APROVA-CONTROLE-MAIS-RIGIDO-SOBRE-EXPLOSIVOS.html>

29 Brasil.gov.br – Exército fiscaliza a produção de explosivos em 13 Estados <

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