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Editorial. Dançando na chuva. Por Fabio da Silva Barbosa. - Você me daria trabalho? Respondeu atrevido.

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Academic year: 2021

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Pag 1 REBOCO CAÍDO- 31 Contatos Reboco Caído: fsb1975@yahoo.com.br www.twitter.com/RebocoCaido www.rebococaido.tumblr.com www.facebook.com/RebocoCaido www.rebococaidozine.blogspot. com.br Caixa postal: 21819 Porto Alegre, RS cep.: 90050-970 www.fabiodasilvabarbosa.tumblr.com

Editorial

Por Fabio da Silva Barbosa

O ponto de ônibus estava cheio de gente aglomerada. Queriam evitar a forte chuva que caía. Os carros passavam jogando água nos pedestres que corriam tentando atra-vessar as ruas ou chegar até as marquises. Fechou o sinal para os carros. Nesse mo-mento ele vem pulando na água e virando cambalhotas. Passa entre os carros e dá socos nas laterais dos ônibus.

- Arruma um troco aí, madame? - Pergunta ao se apertar entre as pessoas do ponto de ônibus.

Algumas senhoras se limitam a segurar as bolsas com maior força, outras olham para o lado oposto fingindo não ouvir. Um magrão estalou a língua aborrecido. - Por que não vai arrumar trabalho? –

Ques-tionou um baixinho.

- Você me daria trabalho? – Respondeu atre-vido.

Depois de percorrer todo o ponto sem con-seguir uma moeda sequer, voltou para a chuva e fez um sinal de agradecimento ao inclinar o corpo.

- Muito agradecido pela ajuda de todos e vão se foder.

Voltou a se meter entre os carros que a essa altura estavam em movimento, pois o sinal já estava aberto de novo. Entre saltos e danças estranhas ele chegou ao outro lado. O trajeto foi acompanhado por buzinas e xingamentos dos motoristas. Seguiu a cal-çada, bailando sob a água que caída. Sua face demonstrava uma alegria marota. Do-brou a esquina deixando os rostos carran-cudos para trás.

São Sempre poucas as páginas e sempre ficam coisas de fora, mas consegui por muito do que queria neste novo número do Rebo-co. O mano Panda Reis, desta vez nos brin-da com um texto escrito em junho deste a-no. Embora o zine já tenha saído um mês depois, o escrito continua servindo a refle-xão. Como a maioria dos trabalhos expos-tos aqui, não tem data de validade. Infe-lizmente as mudanças são lentas demais e o caos continua a imperar. Exemplo disso também é o texto de minha autoria, “O pre-sente sem futuro”. Escrevi ano passado

quando a discussão sobre a diminuição da maior idade penal estava em pauta. Agora ela volta a ser debatida enquanto escrevo essas linhas. Lamentável. Temos também entrevistas, um escrito mais que poético do mano Jonatan O. Borges e um quadri-nho que o grande companheiro João da Sil-va fez enquanto lia o e-book que lancei no início deste ano. Boa leitura e mantenham a mente aberta e atenta, pois antes de me-lhorar ainda vai piorar. E vai meme-lhorar? Não sei. Vou fazendo a minha e me diver-tindo enquanto luto. A capa é de Rael Brian Dançando na chuva

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Por Amanda Paz Duarte

Buracos suburbanos, onde SÓzinha en-contro pensamentos, pelas ruas da cidade variantes, mulheres compartilhando seus corpos a cada via, chove, segue a noite gelada na Farrapos POA/RS, pixadores tomando os topos dos prédios, Estado não reconhecendo a problemática que é a falta de moradia, garotinhos zumbis por todos os lados... que seria sem a música, sem a tinta, sem a brisa…

UM CASO DE ASAS Por Jonatan O. Borges

” Um breve conto de uma experiência pes-soal que me fez acreditar na poesia para sempre."

Certa vez uma libélula voava na altura dos olhos das crianças na saída da escola. Ha-via certa magia na ignorância de sua con-dição natural de inseto que desconhece a maldade, pois sua vida é tão frágil e breve que nada mais resta a uma libélula do que voar descuidada de si na urgência de vi-ver e vivi-ver-se. Não sabendo do perigo, ela voava em meio a infância que explodia na rua. Que explodia como num reino fantás-tico. Um menino tentava acertá-la com uma pequeno galho seco… Um menino tenta-va acertá-la! O menino tal como a libélula, ignorante que era de sua condição huma-na, nem sabia o motivo daquela súbita vontade de destruir a beleza daquele serzinho em pleno voo: O caçador, o dominador desperto. Tudo é muito incons-tante quando criança, a vontade de se fa-zer algo passa, e dá vontade de fafa-zer um outro algo. Sua atenção voltou-se para outra cena. Ele não conseguiu destruir nem destruir-se. E que alívio sentiu um outro menino que contemplativo observava toda a cena. Um alívio de poder ver… ver que

em tudo aquilo havia uma beleza que trans-cendia eras, e saber meio ainda ignorante-mente, pois ainda era só um menino, que não se tratava da vida da libélula ou da ação destrutiva do outro menino: Ali havia um encontro das forças que regem o firmamento: Vida e morte numa eterna valsa de tão linda dança, e com qualquer coisa de tango de tão trágicos que são os bailarinos. Até hoje não sabe se (o que testemunhou após a ação inútil do menino ) foi um prêmio-graça-benção ou castigo-penitência-carma que seus olhos e alma receberam no instante seguinte: A libé-lula voou ainda vacilante e meio indecisa em sua direção e tinha muito sol e era inverno e tinha um vento gelado e tinha também uma infância solta e muitas possibilidades encan-tadas em toda parte e um inseto que por um breve momento em seu voo arriscado e tão natural fez como faz o beija-flor: Ficou para-lisado em pleno voo, suspenso no ar… em frente aos olhos da criança e se foi só por causa da luz do sol ou um delírio infantil, ele nunca soube ou saberá, mas as asas da libé-lula emitiram-refletiram uma luz de um doura-do tão intenso e forte e bonito, e ele ainda não sabia o termo correto pra contar pra mãe quando chegou em casa, ofegante, suaren-to, mas falava sem parar, ininterruptamente daquela coisa redonda que brilha na cabeça dos bebês no quadro da sala junto com aque-le homem barbudo na cruz, e que eram assas enormes e sentiu certa sagrada paz e… e… e… Que ele achava quê.

O presente sem futuro?

Por Fabio da Silva Barbosa

Bebês, crianças, pré e adolescentes... Todos os dias menores de idade sentem o sabor amargo dos frutos do abandono, da violência e de abusos mil. São casos dos mais diversos, a maioria beirando o inacreditável, chegando aos extremos do bizarro e do inaceitável. Enquanto isso, os tais cidadãos de bem se preocupam com a segurança de seus

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celulares e ipods, argumentando que não têm nada com isso e que nada podem fazer. Esses seres ignorados pelos que desejam apenas se enquadrar, consumir e se acomodar, vão se acumulando pelos cantos mais sombrios e deteriorados das cidades. São os restos, os que não são úteis para a podre sociedade, os que não servem. Alguns são recolhidos e postos em abrigos, em instituições. Existem os que nunca souberam o que é ter uma casa, alguém que se preocupe, os que nunca se sentiram protegidos e amados. Aprendem no meio da barbárie dos ditos civilizados a se virar e a sobreviver dia após dia, fazendo o que for preciso. Forças da natureza que desconhecem palavras como respeito ou afeto. Alguns conseguirão crescer e serão cobrados, exigido consciência social, entre outras palavras e expressões que não possuem o menor sentido de onde vieram. I., aos 5 anos, nunca tinha visto vaso sanitário ou chuveiro. Até entender que aquelas coisas não lhe fariam mal, chorava desesperadamente cada vez que tinha de usá-las. I. nasceu em uma capital, cidade grande, mas nunca teve banheiro em casa. T., 15 anos, não conheceu o pai e a mãe morreu na prisão. Ainda bem pequena passou por alguns parentes que não souberam entender sua dor. Sem ter ninguém que a quisesse, foi abandonada a própria sorte.

M. tem 14 anos. Todo dia de manhã era acordada pelo padrasto sob uma chuva de pancadas e depois estuprada pelo mesmo. Quando resolveu contar o que estava acontecendo para a mãe, essa lhe bateu de pau, pedra e garrafa. Disse que a culpa era dela.

A., 12 anos, era obrigada pela mãe, dependente química, a roubar e trazer dinheiro para casa. Um dia A. disse que não queria mais roubar. A mãe lhe deu uma surra brutal, tentou afogá-la e a pôs para fora de

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casa.

Enquanto os corruptos pedem pela diminuição da maior idade penal, entre outras loucuras, existem pessoas cuidando de I., T., M., A. e muitas outras crianças e adolescentes para que não virem mais um número contribuindo para a lotação das cadeias ou para as estatísticas de mortes de menores de idade. Sempre atuei de alguma forma na área social e esses são apenas alguns exemplos de histórias verídicas com que tive contato. Conheço várias do tipo, observadas em diferentes partes, em diversos períodos. O que posso dizer com esse acúmulo de experiências é que mudar é preciso. Não é questão de querer, mas de necessidade. Essas experiências continuam se acumulando devido a minha insistência nesse caminho. Não posso dizer que o contato diário com tudo isso tenha me proporcionado noites de sono tranquilas, mas também não acredito que fingir a inexistência de tudo isso me fizesse dormir melhor. Se alienar e entregar a vida a hipocrisia nunca foi uma opção que tenha levado em conta. Desde que tomei consciência do inferno social a minha volta, mergulhei profundamente no universo dos marginalizados, querendo ir cada vez mais fundo. Alguns dirão que tô sendo bonzinho, mas a questão é outra. A questão é ver que assim não dá e que para mudar só levantando a bunda do sofá e indo fazer a parte que cabe a cada um de nós. Viver a mudança desejada, participar desse novo mundo. Constantemente tentam nos fazer acreditar que o mundo sempre foi assim e sempre será, mas o mundo já foi de várias formas e a mudança continua independente do que os bundas moles queiram que acreditemos. A diferença é se vamos ajudar para que ele vá para um rumo melhor ou piore de vez.

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Por Fabio da Silva Barbosa

Quando montei a última TARDE MULTI-CULTURAL SEM FRONTEIRAS, estava aguardando algumas fotos que meu amigo fotógrafo Mauricio Porão iria enviar para expor durante o evento. Nesse meio tempo ele me falou de um cara chamado Flavio Dario Pettinichi que também gostaria de participar. Fiz contato com ele e gostei do seu trabalho. Como havia tempo e ainda estava montando a programação, não pensei duas vezes e o incluí. As fotos chegaram, participaram do evento ao lado das fotos do Porão e no fim ainda foram doadas para o espaço cultural que recebeu o evento. O contato com Flavio continuou e pensamos essa pequena entrevista.

Flavio Dario Pettinichi

A multiplicidade do seu trabalho: Nasci dentro de um âmbito de artes. Meu pai era artista plástico e diretor de teatro (tipo mambembe, só que na argentina). Ele

fazia o Histori Board, a cenografia, a iluminação, os cartazes, os volantes e tudo o que tivesse a ver com a peça de teatro. Mas com cinco filhos, o teatro não dava pra sustentar, então a profissão dele era Pintor de letras, retratista e coisas ligadas a arte. Por outro lado, minha mãe tinha que cuidar de nós e apesar de não ser artista nos incentivava a fazer coisas relacionadas (construir brinquedos com sucata, bonecos de barro ou fazer chapéus de crochê com umas agulhas grandes de pau que ela tinha inventado). Tudo isto sempre acompa-nhado de muitos livros e amigos ‘’cabeças” que visitavam a família. Na minha casa tínhamos uma biblioteca que sempre foi mais importante que a TV. Eu adorava ler revistas em quadrinho, na argentina tinham muitas na época, então não tinha jeito. Lembro bem que num natal alguém perguntou o que eu ia fazer quando fosse grande, eu tinha 5 anos , e não tive dúvidas em responder ARTISTA. Aos 12 anos fiz a minha primeira exposição de esculturas em madeira, aos 16 anos copiava quadros de artistas famosos e os vendia, com essa idade também já era pintor de letras e com uma mochila nas costas e alguns pinceis fui conhecer o mundo. Conheci todo tipo de artistas e “realizadores de arte”, com os quais aprendi muito. Aprendi gravura em pedras, em madeira, borracha ou metais. Não gostei muito desse assunto de repetir a obra, mas foi bom. Aprendi joalheria, trabalhei nisso 3 ou 4 anos, fiz design de joias e artesanato fino um bom tempo. Conheci e trabalhei no processo de Cera Perdida para produção em série de joias. Um dia abandonei essa profissão por achar que era algo muito perigosa e anti ecológica por natureza. Parti para aprender cerâmica e modelado. Tive uma indústria de arte em cerâmica até os chineses invadirem a mérica latina com seus produtos importados a

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No próprio trabalho com fotos podem ser observadas mais de uma etapa. Além da etapa fotográfica, ainda temos a parte da arte digital. Como foi a decisão de integrar essas duas artes e com qual objetivo?

Quando comecei a me interessar pela imagem estática, não tinha nem ideia o que era uma câmera fotográfica e muito menos o seu processo, mas para eu entender o que era, precisava por as mãos na massa. Comecei a ver que se eu não era um bom “profissional técnico”, ao menos era um curioso criativo (nem câmera profissional tinha). Conheci dois grandes fotógrafos. Um deles era um gaúcho carioca, André Amaral, que tentava me explicar toda a questão técnica e o outro um Italiano alucinado, Sergio N, que mostrou a arte na fotografia. Então comecei a fotografar tudo, criar um banco de imagens e pensar em algum projeto. Como nesse meio tempo tinha que viver de alguma coisa, comecei a manipular imagens fotográficas de paisagens da cidade onde eu morava na época, Cabo frio, e fazer cartões postais. Desde colocar gaivotas onde não tinha até fazer surgir um arco-íris de den-tro de um bote. Quando dei por mim, tinha mi-nha primeira expo e estava vendendo essas fotos em cartões postais. Aprendi também, talvez o mais importante, que a máquina foto-gráfica era uma ferramenta fantástica para pro-duzir arte. Sempre falo que não sou fotógrafo, sou um artista que utiliza uma maquina-fer-ramenta que me dá a possibilidade de explorar outras formas de fazer arte. E também digo que não é a qualidade da câmera o que faz o artista. Seria o mesmo que perguntar a P. Pi-casso que tipo de pincel ou óleo ele utilizava pra ser ele o artista que era. (amiguinhos, não se enganem: Arte se faz de dentro e não de fo-ra). Resolvido o conhecimento básico de foto-grafia e edição digital, parti para uma pesquisa sobre o que fazer com este conhecimento. Dia desses você estava falando sobre o nu e a questão social. Poderíamos divagar um

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preço de capim bravo. Já casado e com dois filhos continuava pintando, desenhando e tentando ver aonde ia por a corporaleidade dos meus desenhos, ou seja fazer esculturas, mas com que material (O assunto era cuidar do meio ambiente ) Nesse tempo tinha escrito um tratado sobre Arte e Ecologia e vendido ele ao Gov. para ser ministrado aos professores do ensino médio. Um pedaço de corrente de ferro, achado no asfalto, mudaria meu destino para sempre. Decidi que iria fazer esculturas com sucata de ferro. Trabalhei fazendo esculturas durante 5 ou 6 anos e vendi todas elas na Argentina. Depois vim pro Brasil, lugar que eu já tinha morado antes, e continuei a realizar esculturas. Mais 5 anos de trabalho ininterrupto com ferro. Vendi mais de 60 esculturas para uma galeria de arte e comecei a pesquisar o mundo da fotografia e o áudio visual. Aprendi a editar vídeos e a ter algumas noções básicas de fotografia. Trabalhei com isso alguns anos, fiz alguns curtas experimentais, intervenções urbanas, criei, junto a outras pessoas, dois cine clubes (um para adultos e outro pra crianças), trabalhei como fotografo para várias entidades, tanto públicas como privadas, dei cursos de fotografia e arte etc e fiz mais de meia dúzia de exposições de fotografia com nus diversos e até ganhei dinheiro. Aliás, sempre vivi da minha arte. Hoje vivo de realizar escultura em madeira.

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pouco sobre?

Sim. Eu considero o nu ainda uma questão com muito campo para explorar, no bom sentido. Muito tem se fotografado sobre o tema, quase sempre mulheres, e pouco foi pesquisado realmente. Sempre se apostou na estética aristotélica e poucas vezes na questão do “Nu Absoluto”, onde a modelo não é preparada, não tem nenhuma relação de profissionalismo (como modelo) e geralmente é marginalizada pela sociedade, seja porque já passou dos 20 anos, seja porque mora numa favela (e não foi descoberta pela grande mídia), ou porque não responde aos padrões de uma estética que é manipulada dentro do campo das artes ou na questão comercial. Fiz exposições com mulheres idosas, mulheres com problemas judiciais, mulheres que tiveram ou tem câncer de mama e muitas mulheres anônimas que se sentiam abandonadas por uma sociedade que exige delas mil e uma utilidades, mas que vira as costas na questão íntima da mulher, seus desejos, seus medos, seu tempo sexual e sensual e acima de tudo a sua condição humana. É uma pergunta que para te dar uma resposta clara teríamos que escrever um ensaio.

Você chegou ao Brasil em uma época bem conturbada, passou maus pedaços nas mãos da ditadura e rodou bastante por aí. Cheguei ao Brasil nos anos 80, já no final da ditadura. Estava Figueiredo como presiden-te ditador. Fui trabalhar para um jornal de um

gaúcho que tinha sido preso político, Juvêncio Mazzarolo, do Jornal Nosso Tem-po. Eu era desenhista, fazia charges, ilus-trava editoriais, etc. O jornal era de oposi-ção, claro. Um dia a Polícia Civil me pegou na rua e me sequestrou porque ficaram sa-bendo que eu era o desenhista do jornal. Fui torturado, perseguido e só não passou a maiores porque o Jornal comprou a briga e abriram um processo contra a Polícia (que deu em nada, acho). Tempos depois, 4 ou 5 meses, não parei de desenhar, fui se-questrado novamente, desta vez pela poli-cia militar, e de novo fui torturado. Fizeram um simulacro de fuzilamento na beira do rio Paraná, chutes, coronhadas e até tiros, já que me intimaram a forjar uma fuga para assim me fuzilar com uma razão. Consegui escapar me jogando no mato e daí fui embo-ra pra uma praia deserta. Soube depois que o jornal novamente comprou a briga, mas eu, nessa altura, não queria me expor de novo. Uma coisa engraçada: parte do acer-vo desse jornal está digitalizado na Internet e pouca coisa aparece desses anos. Ainda guardo em papel parte desse material.

Existem projetos futuros?

Um artista nunca tem planos futuros. Ele é o seu plano constante, presente e ativo de si mesmo. Mas se quer uma resposta sim-ples: continuar a fazer arte e lutar por um mundo mais justo até o final dos meus dias! Estou atualmente fazendo entalhe em ma-deira, procurando uma parceria com o IBAMA para reutilizar parte do material se-questrado das derrubadas ilegais, quero dar aulas de entalhe (grátis) para a comuni-dade do lugar onde moro atualmente.

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Por Panda Reis

São Paulo, Junho de 2016, o inverno nem começou oficialmente e já registra marcas históricas de frio, a mais fria das últimas duas décadas e meia. Novamente começa o calvário para aquela população que está abaixo da linha de pobreza, eu diria abaixo da linha de miséria, aquelas pessoas que não têm nem mesmo um barraco de madeirite sob o córrego podre e as ratazanas que disputam espaço nas vielas, aqueles que são invisíveis perante a grande maioria da sociedade. Não falo de indiferença, falo de cegueira coletiva, esquecimento social, nenhuma ação parlamentar e pouca ação coletiva, pois até para o mais pobre morador de favela, essas pessoas não existem. Se ouve falar, comentar, principalmente quando essa população “incomoda” os condomínios de luxo, rasgando lixos e perambulando por espaços que eles “não deveriam” circular. Aí eles aparecem, aparecem em discursos e falas carregadas de pré-conceitos e generalizações estúpidas que em nada ajudam essa população de moradores de rua que, além de serem privados de tudo que o Estado dispõe para a sociedade, além de serem invisíveis e vistos como parte da arquitetura da cidade (ou do lixo da cidade) vem sendo privados, nesse inverno paulistano, das calçadas e da proteção dos viadutos, pois já fazem alguns anos que, a prefeitura vem instalando piso “anti- mendigo” nos viadutos da cidade. Não bastasse isso, esse ano, os governantes dessa cidade, alcançaram o ápice na luta pelo extermínio dessa população. Não estou falando do aumento no índice de agressões a essa população, nem da repressão e humilhação que a polícia proporciona para eles, muito menos dos ataques orquestrados de neo- nazistas e de playboys nacionalistas de extrema direita, estou falando da institucionalização da tentativa de homicídio promovida pela prefeitura da cidade de São

Hipotermia Constitucional

Paulo. Não bastassem todos os problemas que um morador de rua atravessa, esse ano, nosso prefeito Haddad e sua guarda municipal (GCM) estão recolhendo cobertores, papelões e as barracas, que esses cidadãos utilizam para se protegerem do frio, justamente no ano em que as temperaturas baixas estão batendo recordes, chegando a quase zero aqui na capital. A Prefeitura iniciou uma ação que vem retirando tudo desse povo e existem relatos que até documentos e objetos pessoais estão sendo confiscados.

A desculpa do nosso prefeito é que essa população estaria privatizando o espaço público. As pessoas não podem se proteger do frio, espaço público deve ser limpo e sem obstáculos (como se gente , humano, fosse um objeto, um obstáculo), como se as calçadas da Paulista, dos Jardins ,de Pinheiros, já não fossem privatizadas há anos por mesas e cadeiras de bares lotados de jovens da classe média e burguesa, como se as ruas ao entorno das faculdades não fossem privatizadas por carros com som potentes que arrastam milhares de jovens para seus bailes a céu aberto, como se o espaço público já não fosse privatizado por logísticas extraordinárias, como ocorrido durante a copa do mundo, onde quartei-rões foram isolados para promover a tranqüilidade de delegações de países ricos, os mesmos que patrocinam a misé-ria que joga essa população na rua. A pri-vatização da área pública ocorre quando a tropa de choque fecha quarteirões porque não quer que a população proteste perto da casa de um parlamentar. Enquanto essa população é generalizada como crackeiros e viciados em álcool e não se perceberem como iguais a essa população que vem lutando pra sobrevier

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nas ruas, veremos ações de higienização cada dia mais sistemáticas, afinal de contas é preciso “limpar” o espaço, “limpar” o centro para uma reestruturação imobiliária. Pouco se importam que para isso ocorrer mais rápido se utilizem de métodos de ex-termínio como se vem usando aqui em São Paulo. Mais de cinco moradores morreram

nas ruas da cidade nos últimos dias e se-gundo a prefeitura a culpa é deles por esta-rem na rua atrapalhando o espaço público e a mercê do frio glacial da cidade. En-quanto isso, aqueles empresários do “pato amarelo” estão ocupando um espaço público muito maior em frente a FIESP e são tratados como heróis da resistência.

Por Fabio da Silva Barbosa

Mais um papo com o mano Gustavo

De nossa entrevista anterior para essa, muita coisa aconteceu. Vários shows rolando por aí. Sempre estou conversando com um@ amig@ de algum estado diferente e el@ me diz que assistiu as apresentações e gostou muito. A que se deve essa apreciação do público e o que mais aconteceu de lá para cá?

Eu acho que as pessoas curtem mais a nossa sinceridade, falas, do que o som em si. Acho que quando conversamos estávamos a caminho do nordeste do Brasil. Depois fizemos uma turnê na Argentina e Uruguai, participamos de eventos em prol de tatuagem, em prol de presos políticos e Feiras de Livros.

O Blatta Knup se diferencia não só por sua formação (um dueto), mas também por sua sonoridade. Embora existam outras bandas com propostas parecidas, podemos captar algo diferente no som de vocês. O que é?

Eu não sei explicar. Não sou um músico. Apenas tento tocar o que sinto e consigo. Helo é quem escreve as melhores letras do Blatta Knup.

Vi que algumas apresentações aconteceram junto com o Dischaos, sua antiga banda. Você voltou para a formação da banda ou foi algo que aconteceu naquele momento?

Foi só uma reunião de 10 anos mesmo. Não temos a intenção de voltar. Pelo menos não neste momento.

“Que a resistência continue e se

espalhe.”

Tem uns manos e umas manas que volta e meia volto a enviar algumas perguntas. São pessoas que persistem na estrada, sempre estão envolvidas em alguma novidade... pessoas para quem a luta nunca termina. Se acomodar é incompatível com viver. Assim é Gustavo Merdinha Knup, que junto com a super Helo Lolx formam o Blatta Knup.

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Pag 9 REBOCO CAÍDO- 31 O que está por vir?

Esperamos viajar para Bolívia, Peru, Colômbia, Equador e Venezuela (ainda está em processo de organização) e no meio de 2017 uma turnê na Europa. Além disso, queremos gravar alguns SPLITs.

A extrema direita vem se mostrando cada vez menos tímida e expondo todo seu veneno sem nenhum recato nos meios de comunicação de massa, na política partidária e em outros terrenos onde antes tentavam permanecer mascarados. Isso se reflete também nas ruas. Tempos difíceis estão por vir? Digo: piores. Difíceis já estão faz tempo.

Acredito que sim e este é um cenário mundial. Direitos conquistados estão sendo retirados em todo o globo. Quando o capital entra em crise, a direita se fortalece muito com o medo e a insegurança gerados na sociedade. A direita tem promessas imediatas que conquistam multidões menos atentas a política (sem contar o apoio das mídias que facilita este processo).

E essa disputa partidária que tá rolando e que só serve para distrair a população dos problemas reais?

Ela faz parte do jogo político. O capital necessita de crises e guerras….As disputas partidárias não fazem diferença. Todos os partidos só querem o poder.

Mudando agora o foco para situações mais produtivas: Como definir a atuação dos estudantes nas ocupações das escolas e em outras ações que estão ocorrendo? Eu acho muito massa. A molecada tá vendo que existe política além do voto e que se eles não tentarem tomar controle da própria vida, alguém tomará por elxs. Que a resistência continue e se espalhe.

Outra atitude que merece ser destacada é o crescimento do interesse por veganismo e sustentabilidade. Modismo ou conscientização?

Eu acho que o interesse vem por parte de conscientização geral. O aquecimento global é algo visível, a falta de água, entre outros, porém o capitalismo se apropria e torna tudo mercadoria. Temos que tomar cuidado para não estarmos apenas consumindo por consumir e ainda achando que estamos fazendo algo diferente.

Pra concluir:

Agradeço mais uma vez pela oportunidade de poder nos expressar no Reboco Caído. Resistiremos até o final contra tudo aquilo que nos oprime. Punk é mais que visual e música.

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