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o Menino que conheceu Jesus( ediçao brasileira)

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CAPÍTULO 1

A V O Z N A ESCURID ÁO

A principio, eu n ao conseguia ver abso lutam ente n ad a. Estava ciente apenas de que estava sozinha em urna escuridáo táo ab so lu ta que eu pensava que ia me sufocar. E n táo , com o se fosse um a co rd a de salvam ento chegando de algum lugar além da p ro fu n d a escuridáo da noite, um a voz fam iliar foi ao en co n tro dos m eus ouvidos - um a voz c o n fo rtad o ra , de alguém que eu havia am ad o e confiado em m inha infáncia. Era a voz de Segatashya, que, em R u ­ a n d a , m in ha térra n a ta l na Á frica, era conhecido com o “ o m enino que conheceu Je sú s” .

A voz suave de Segatashya dirigiu-se até m im através do escuro abism o, com o que flu tu an d o sobre um a brisa calm a. A quela voz, indecifrável num prim eiro m o m en to, lentam ente foi to m a n d o fo rm a em palavras, su ssu rran d o delicadam ente: “ O Paraíso está esp erando p o r todos nós q u a n d o chegar a nossa h o ra de p a rtir deste m u n d o , m as apenas se nossos coragóes estiverem lim pos e p u ro s ” .

R epentinam ente, eu me dei co n ta de que estava dor- m indo e no m eio de um sonho, p o rq u e Segatashya havia sido assassinado m uitos anos antes. Ele foi um a das m ais de um m ilháo de vítim as inocentes que fo ram m assacra- das d u ran te o horrível genocidio que o co rreu em R u a n d a em 1994. E aquela noite em que me deitei p a ra d o rm ir era em m eados de nov em b ro de 2 0 1 0 ... P o rta n to , perce- bi que estava sonh an d o . M as eu tam b ém percebi que, se aquilo era um sonho, ele era diferente de to d os os o u tro s que tive antes. O que eu estava sentindo era vivido, real e vital com o q u alq u er coisa que eu já tin h a ex p erim en tado ilurante m inhas h o ras de vigilia.

A voz se dirigiu a m im novam ente: “Jesús diz que de- vemos p re p a ra r nossos cora^óes p a ra o Fim dos D ias.

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

tem po nesta Terra chegará ao fim. O p róprio m undo irá acabar, e este dia está se ap ro x im an d o rápidam ente. N ós devem os nos arrep end er de todos os nossos pecados antes que seja tarde. N ó s tem os que pedir p erdáo p o r nossas transgressóes e e n co n trar m isericordia em nossos cora^óes p a ra p erd o ar aqueles que nos ofenderam . N ós devemos purificar nossos cora^óes com o am or de Deus e lim par nossos espíritos vivendo um a vida repleta de am o r e cari- dade. N ós devem os p rep a ra r nossas alm as para o D ia do Julgam ento. O reto rn o de C risto está p róxim o e os por- tóes do Céu seráo aberto s p a ra nós som ente se o Senhor nos considerar m erecedores de e n tra r em seu R ein o ” .

As p alav ras fo ram se to rn a n d o cada vez m ais e m ais fam iliares a m im e eu me dei conta de que nao som ente reconhecia aquela voz com o tam b ém reconhecia aquela m ensagem específica. Eu já tin h a ouvido Segatashya p ro ­ n u n ciar ex atam en te as m esm as adm oesta^óes q u a n d o era garota.

Em m eu sonho, eu estava flutuan do sobre o chao com o se m eu cora^áo m e puxasse em dire^áo á voz, a qual me tiro u da escuridáo e me levou p a ra um círculo de luz d o u rad a . Dezenas de pessoas estavam reu nid as no cen tro daquele ag ru p am en to de luz, to das ouvindo a te n ­ tam en te a um adolescente que estava d iscursand o p ara elas com intensidade e urgencia. O jovem estava sen ta­ do em um longo banco de m ad eira, com sua audiencia am o n to an d o -se ao red o r dele. Ele estava virado de costas p a ra m im e, p o r isso, eu náo podia ver seu ro sto , m as eu estava certa de que ele era Segatashya.

A prim eira vez em que o ouvi falar eu tin h a 12 anos de idade e n ad a no m undo irá ap a g ar de m inha m em oria o rico tom de sua voz ou o c o n teú d o m iraculoso de suas m ensagens. Em verdade, ten ho certeza, sem a m enor dú- vida, de que q u alq uer pessoa que já ten h a ouvido Sega­ tashya falar sente-se da m esm a form a - um a vez que suas palavras ten h am to cad o o seu cora^áo, elas faráo p arte dele p a ra sem pre.

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A VOZ NA ESCURIDAO

P ara aqueles que n ao estao fam iliarizados com o m eu m ais recente livro, O u r L a d y o f K ibeho: M ary Speaks to the W orld fro m the H eart o f A frica ,r eu devo explicar que Segatashya era um m em b ro de um g rupo de jovens visionários que viram apari^óes da Virgem M aria - e, no caso de Segatashya, de Jesús C risto - na d istante aldeia de Kibeho, em R u a n d a , d u ran te a década de 1980.

N aq u ela época, havia dezenas de visionários que afir- m avam ter visto apari^óes divinas, m as em O u r L ad y o f K ibeho eu foquei naqueles oito que fo ram considerados os mais confiáveis pela Igreja C atólica, bem com o pelos m ilhares de peregrinos que aco rreram a K ibeho em busca de in s p ir a d o espiritual.

E ssencialm ente, os visionários tra n sm itiram m ensa- gens de am or, in stru in d o -n o s sobre com o viver vidas me- Ihores fazendo a v o n tad e de Deus. Eles disseram que se seguíssem os os inspirado res avisos daq u elas m ensagens o nosso m u n d o se to rn a ria um lugar m ais pacífico e nos- sas alm as p o d e ria m estar m ais bem p re p a ra d a s p a ra o dia em que, no fim de nossas vidas, en c o n trare m o s Jesús e serem os cham ad o s a p re sta r co n tas pelo nosso tem po na Terra.

As m ensagens vindas do Céu entregues em K ibeho eram , com o M a ria e Jesús d eix aram claro, de grande e ¡m ediato interesse para to d as as pessoas n o m u nd o intei- ro. Elas c o n tin h am avisos p a ra R u an da, p a ra o nosso p la ­ neta e para nossas alm as individuáis - avisos sobre coisas terríveis que podem o c o rre r conosco, co m o individuos e com o espécie, se nao abrag arm o s o p u ro e am o ro so esti­ lo de vida que M aria e Jesús nos oferecem . C om o Jesús falou p a ra Segatashya, o m u n d o está em péssim as condi- góes e dias terríveis nos ag u a rd a m - m as se nós rezarm os de cora^áo e sinceram ente fizermos bons atos, nós enco n ­ trarem os paz neste m u n d o e no p ró x im o , n a o im p o rta o q u a n to as coisas fiquem desesperadoras.

' “N ossa Senhora de Kibeho: M aria fala ao m undo a p artir do coragao da África”; ainda sem p u b lic a d o no Brasil.

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Eu tin h a 11 anos de idade q u a n d o com e^aram a surgir as aparigóes em K ibeho. Os m aravilhosos e m ísticos en- c o n tro s experim en tad o s pelos visionários e as m ensagens m ilagrosas que eles receberam do Céu e tra n sm itiram a nós m o ld aram m inha vida de ta n ta s form as que eu nao saberia dizer. E n en h u m visionàrio foi m ais influente p a ra a m in h a jovem m ente, p a ra a m in ha florescente fé e m eu crescim ento espiritual a longo prazo, d o que Segatashya. Sua histo ria pessoal única e sua incrível interagao com Jesus m e cativ aram q u a n d o era crianza e me m antiveram alegrem ente fascinada desde entáo. T enho certeza de que se voce o conhecesse com o eu o conheci, vocé se sentiría ex atam ente da m esm a form a.

E m b ora as aparigóes de K ibeho ain d a sejam b astan te desconhecidas em m u itas partes do m u nd o (mas eu estou tra b a lh a n d o d u ro p a ra m u d ar isso), os eventos m ilag ro­ sos que oco rreram lá irra d ia ra m pelas fazendas, florestas e selvas de R u an d a, eletrizando m eu país n a ta l com ta n to p o d e r e intensidade que os padres, bispos e arcebispos de lá fo ram fo rja d o s a se levantar e ficar a p a r do que ocor- ria. E com o po d eriam n ao notar? Incontáveis ruandeses v iajaram a pé p o r centenas de q uilóm etros, m uitas vezes sem com ida e d esabrigados, apenas p a ra ter um vislum ­ bre dos visionários de K ibeho e to m a r p a rte dos m ilagres que aconteciam lá.

A uto rid ad es da Igreja C atólica iniciaram urna rigorosa in v e s tig a d o a respeito da origem e da n atu reza das apa- rigòes, urna in v e s tig a d o que iria analisar e dissecar to ­ dos os aspectos das vidas dos visionários. Urna C om issáo de In q u érito foi estabelecida e o V aticano to m o u p arte da in v e s tig a d o sobre os surpreendentes acontecim entos so b ren atu rais que oco rreram em urna das m ais obscuras regiòes da m ais p ro fu n d a Africa.

A in v e s tig a d o , liderada p o r especialistas da Igreja - in- cluindo teólogos de renom e, cientistas, m édicos e p siq u ia­ tras - , d u ro u um to ta l de duas décadas. E, ta o m arcantes q u a n to as apari^òes da Virgem M a ria e de Jesús em si

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A VOZ NA ESCURÏDÂO

m esm as, as conclusòes da C om issâo de In q uérito apôs 20 anos de análise fo ram quase igualm ente m ilagrosas.

Em novem bro de 2 0 0 1 , o V aticano, em um decreto ex­ trem am ente ra ro , ap rov o u as apariçôes da Virgem M a ria presenciadas p o r très visionárias de K ibeho entre 1981 e 1989. Essas très visionárias - A lphonsine, A nathalie e M arie-C laire - eram estu d antes adolescentes do Colégio de K ibeho e foram as prim eiras a ver as apariçôes na re- giâo.2 A Igreja a p o io u oficialm ente o culto no “ S antuàrio de N ossa Senhora das D o res” , to rn a n d o K ibeho o único local de apariçôes a p ro v a d o em to d a a África. O pequeño san tu àrio da escola da aldeia está lenta m as g rad u alm en ­ te se tra n sfo rm an d o em um destino de peregrinaçâo fav o ­ rito dos fiéis de to d as as partes do m u n d o.

Eu estava m ais que anim ad a com os veredictos da Igreja. O fato de que as m ensagens de M aria e seu Filho estavam chegando ao m undo, apesar de terem sido entregues em um país táo rem oto - e em um lugar ferido e corro ído pela m ais m aligna form a de assassinatos em m assa - , p ro v aram a m im que n ao existem fronteiras p a ra o po der de Deus e que o seu am o r irá p assar p o r todos os obstáculos.

O endosso do V aticano ao S an tu àrio de N ossa Senho­ ra me inspirou ta n to que eu sentei e escrevi O u r L a d y o f K ibeho, que foi pu b licad o em 2 0 0 8 . Eu queria que to d o o m u nd o conhecesse os visionários de K ibeho e suas m en­ sagens de am or, esperança e paz. Eu queria co m p a rtilh a r

2A lphonsine M um ureke, atualm ente religiosa da O rdem de Santa C lara; A nathalie M ukam azim paka, vive atualm ente junto ao Santuàrio de Kibeho; M arie-Claire M ukangango (1961-1994), assassinada durante o genocidio. Existiam outros visionários que ganharam destaque durante este período, mas cujas visoes nao foram aprovadas pelo Decreto Diocesano: Agnes K am agaju, Stephanie M ukam urenzi, Em m anuel Segatashya e Vestine Saiima. O D ecreto de 29 de junho de 2001 da diocese do G ikongoro, em itido após Consulta da Santa Sé e da Conferencia Episcopal dos Bispos de R uanda, aprovou apenas as apari^òes da Santissima Virgem e nao as de N osso Senhor Jesús C risto em Kibeho. Estas estavam principalm ente ligadas a Em m anuel Segatashya, que, segundo o docum ento da diocese de G ikongoro, pouco antes de sua m orte, em 1994, chegou a sofrer de doencjas m entáis (cf. http://kibeho-sanctuary.com / index.php/en/apparitions/approval).

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

com to d o o m u n d o o m eu a m o r pela Virgem M aria. E quería que to d o o m un d o viajasse p a ra R u an d a e visitas­ se o inesquecível sa n tu à rio de N ossa Senhora, p a ra que to d o s pudessem ex p erim entar po r si p ró p rio s, naquele lugar santo , o p o d er e a pureza do am o r da M ae de Jesús.

M eus desejos se to rn a ra m realidade de m uitas form as. Até agora o m eu livro já foi tra d u z id o para m ais de dez idiom as e, se D eus quiser, um dia será lido no m u ndo to d o . C entenas de pessoas que o leram fizeram a tra n s­ fo rm a d o ra jo rn ad a p a ra o S antuàrio de K ibeho. M u itos deles obtiveram curas m ilagrosas - com o a de um garo- tin h o que eu conhe^o que foi cu rad o de cáncer nos ossos após sua avó ter recitado o R osàrio das Sete D ores na ca- pela em que a Virgem M aria apareceu algum as vezes para os v isionários.’ Eu acom p an hei pessoalm ente dezenas de am igos em p e re g r in a d o dos E stados U nidos em d i r e d o a R u a n d a e vi em prim eira m áo m uitas tr a n s f o r m a r e s de c o r a d o e alm a o co rren d o no aben^oado solo onde a Virgem M aria e Jesús ap areceram aos jovens visionários.

A pesar disso, m istu rad o á m inha g rande alegria de ter d a d o ao m undo um vislum bre de K ibeho, urna intro du - d o aos visionários e urna am ostra das m uitas m ensagens que fo ram reveladas p o r eles, havia um sentim ento de que eu nao tinha feito justi^a to ta l a urna h isto ria p articu lar de K ibeho que, p o r variado s m otivos, era a que eu mais queria ter co n tad o: a histo ria de Segatashya.

3 A O rdem dos Servos de M aria apresenta urna especial devogào às Dores de M aria Santissima. Esta oraijào tradicional é especialmente vinculada ao S antuàrio de Kibeho. T rata-se de urna C oroa, ou Rosàrio, de sete mistérios p ara cada D or de M aria Santissima, cada um com sete Ave M arias. As Dores de M aria Santissima, conform e antiqiiissim o costume, sào: 1. A d o r que sentiu o seu C o rafào Virginal com a profecia de Simeào; 2. A angùstia que sentiu ao ter que fugir com Sao José e seu M enino-Deus para o Egito; 3. A aflifào que Eia sentiu quando perdeu p o r très dias o seu Tesouro: Jesus; 4. A tristeza m ortal que Eia sofreu ao ver seu Filho carregando a Cruz p o r nossos pecados; 5. O m artirio do seu C ora^ào generoso, assistindo à crucifixào do Salvador; 6. A ferida que sofreu seu C o r a n o , ao ver seu Filho deposto da Cruz; 7. O desconsolo e desam paro que Eia sofreu no sepultam ento do Redentor.

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A VOZ NA ESCURIDÀO

E m b ora eu tenha m encionado e descrito cada um dos oito principáis visionários de Kibeho (incluindo Segatashya) em O u r Lady o f Kibeho, m eu foco principal nesse livro estava quase que totalm ente voltado para as tres visionárias reco- nhecidas pela Igreja e p ara as aparigòes da Virgem M aria vistas p o r elas. Eu ten ho m uito, m uito respeito pela Igreja Católica e o Vaticano e nao queria causar problem as ou aborrecer os seus representantes em R uanda, nem os seus representantes em Rom a, entrando em detalhes a respeito das visòes e mensagens que a Igreja ainda nao aprovou ofi­ cialm ente. O Vaticano é m uito cauteloso q uan do se trata de reconhecer qualquer evento que é tido por alguns com o m ilagroso. Q ualquer tipo de evento rem otam ente conside­ rad o sobrenatural é m etodicam ente analisado por especia­ listas da Igreja antes que um veredicto seja pronunciado a respeito de sua validade ou falsidade.

E ntre as principáis p r e o c u p a r e s e apreensóes do Va­ tican o envolvendo o tem a dos m ilagres e apari^óes, está o altam en te justificável receio de que fenóm enos deste tipo possam ser o b ra de dem onios ou do p rò p rio diab o - o que á prim eira vista poderia parecer um m ilagre santo seria, na verdade, um ardil satàn ico p a ra levar pessoas ingenuas á escuridáo, ao pecado e á d an a ^á o .4

N a verdade, com o as visòes de Segatashya nao ti- nh am sido im ediatam ente incluidas no reconhecim ento oficial das apari^óes de K ibeho p o r p a rte da Igreja, em um p rim eiro m om ento eu fiquei receosa de que alguém no V aticano ou na hierarquia da Igreja ruandesa tivesse sus- peitas com relagáo a Segatashya e suas m ensagens. M as, louvado seja Deus, foi-me assegurado de que o com pleto op o sto era verdadeiro. De fato, to d o m em bro da Igreja que era fam iliarizado com as aparigóes de K ibeho tinha Segatashya na m ais alta estim a, ta n to com o pessoa q u an to com o visionàrio. Várias das au to ridad es do alto escaláo da Igreja em R uan d a me g aran tiram pessoalm ente que to ­ das as visòes e m ensagens recebidas p o r Segatashya foram

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

m inuciosam ente investigadas e reinvestigadas. Ao firn, nin- guém tinha a m enor dúvida a respeito tan to da sinceridade do g aroto quanto da autenticidade dos seus encontros com Jesus ou M aria.

Q u a n d o eu expus m inhas p r e o c u p a r e s a um dos p rin ­ cipáis investigadores das apari^óes m an d ad o s pela Igreja, ele me disse: “ Im m aculée, todo m u n d o na C om issáo de In q u érito que testem unhou as visóes de Segatashya, con- duziu testes m édicos nele o u exam inou seu estado m ental e m o ra l, estava absolutam ente convencido de que ele fa- lou ta n to com Jesus q u a n to com M aria e que suas m ensa- gens vinham diretam ente do C éu ” .

“M ais im p o rtan te” , ele continuou, “cada urna das m ensagens entregues p o r Segatashya e tu d o o m ais que ele disse durante sua m issào de pregar a p alavra de Deus ap oiava e com plem entava as doutrinas de nossa fé e nunca contradisse qualquer coisa da Biblia. Essas sao condi^òes críticas que devem ser cum pridas q uando a Igreja inves­ tiga acontecim entos so brenaturais e considera reconhecer um visionàrio ou urna aparigào... E Segatashya cum priu tais c o n d irò es com louvor.”5

“ Se eie cum priu to d o s os requisitos p ara o b ter reco- nhecim ento oficial da Igreja, entào p o r que eie n ào està e n tre os visionários ap ro v ad o s?” , perguntei.

“Voce deve ter paciencia, m inba jovem ” , respondeu eie. “ Geralm ente, leva séculos para a Igreja reconhecer um m ilagre. Os que estào no com ando da in v estig a rlo sobre K ibeho estào com e^ando a aprovar os prim eiros visioná­ rios que tiveram visòes da Virgem M aria... Isso dem orou ap en as 20 anos, o que é um pequeño m ilagre em si mes- m o! A Igreja está ai há 2 m il anos e sim plesm ente n ào se apressa em tirar conclusóes. Tenha paciencia, Im m aculée - to d a s as evidencias que eu vi me dáo a certeza de que a Igreja vai acabar apro v an do as visóes de Segatashya e as

'E ra verdade, alguns trechos contidos nos capítulos posteriores deixam m argem á dúvida, podendo levar a in te rp re ta re s inoportunas. Tais trechos estao acom panhados por notas de rodapé que se reportam diretam ente aos docum entos da Igreja referentes a cada um dos casos específicos.

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A VOZ NA ESCURIDÀO

mcnsagens de Jesus... E d en tro de n ào m uito tem po eie lumbém será oficialm ente reconhecido com o um verda- ilciro visionàrio pelo V aticano.”6

D ito tu d o isto, eu devo salientar, p orém , que até agora as m ensagens de Segatashya ain d a n ao fo ram ap rovadas pela Igreja. M as eu estou escrevendo sobre suas incrí- veis visóes com o u m a testem u n h a ocular, u m a verdadei- ra crente, e com um p ro fu n d o sentim ento de obriga^áo pessoal em c o m p a rtilh a r a h isto ria de Segatashya com a hum anidade.

Ter conversado com ta n to s rep resen tantes em inentes da Igreja m e d eixou m ais confortável p a ra passar adiante as m ensagens dele, a fim de que os leitores possam fo rm ar sua p rò p ria o p iniào a respeito do assunto. E stou confian­ te de que um dia a Igreja irà a p ro v a r as visòes de Sega­ tashya - e to d a a sua histo ria e o co n teú d o de suas m uitas m ensagens iráo a público em sua to talid ad e. Este livro é um p rim eiro passo nesta diregào, e saber que o u tra s pes- soas logo estaráo lendo a histo ria de Segatashya faz com que m eu coragào pule de alegria.

Em m inhas viagens eu encontrei m u itas pessoas que leram e fo ram to cad as p o r O u r L a d y o f K ibebo e fico tra n q ü ila em saber que fiz a m in h a p a rte em ap resentar ao m un do os m ilagres e m ensagens das aparigòes de Ki- beho. M as p arecia que Segatashya n a o estava tà o co n ­ tente q u a n to eu... E, dois anos após a p u b lic a d o do m eu livro, eie decidiu me visitar em sonho p a ra m e m o strar com o eX atam ente eie estava se sentindo.

N aquele sonho que tive há ta n to s meses, eu via, à distancia, que Segatashya con tin u av a a tra n sm itir m en­ sagens de Jesus p a ra um nù m ero crescente de especta­ dores que se ju n tav a ao seu redor. Sua voz b aixa e suave era robustecida p o r sua conhecida seriedade. Eie falava apressadam ente, com o se sua m ente estivesse a p o n to de explodir p o r ter m u ito a dizer em tà o po u co tem po.

6 Par a Diocese de G ikongoro, o Decreto de 29 de junho de 2001 é definitivo, nao estando em questáo iniciar outros procedim entos esperando obter uma

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Por um m o m en to , eu perm anecí n a b o rd a do círculo de luz e silenciosam ente fiquei ouvindo-o falar, com m eu cora^áo conten te p o r ouvir sua voz m ais um a vez. Em seguida cam inhei p a ra d en tro da luz e me m ovi em sua d ire m o , a b rin d o cam inho n a m u ltid ào até chegar ao seu banco e m e sen tar ao seu lado.

Eie ainda estava de costas p a ra m im , m as eu sentía que eie estava ciente da m inha p rese n ta. N ós havíam os nos e n c o n trad o m uitos anos antes e eu sabia que ele iria me reconhecer na hora em que percebesse que eu estava lá sentada. Eu tam bém sabia que, em b ora ele estivesse m o ­ ra n d o no Céu há m uitos anos, ele devia estar n a o só sa- bendo, m as tam b ém co n ten te po r eu ter escrito um livro sobre K ibeho. C o n tu d o , p o r algum a razáo Segatashya se m an tin h a v irado de costas p a ra m im e n à o fazia m en^áo de se v irar p a ra me cum prim entar. Tive um a desagradável im pressào de que ele n à o quería o lh ar p a ra m im .

Finalm ente, n ào consegui m ais ficar esperando. Co- loquei m inha m ào em seu o m b ro e suavem ente fiz com que ele se virasse. “ S egatashya!” , gritei. “ O que voce está fazendo aqui? Voce está m orto! Por que voce v o ltou p a ra esta vida? Voce n à o percebeu que n ao pode conversar com essas pessoas? Q u a n d o elas perceberem que voce está m o rto , elas ficaráo aterro rizad as. Elas co rrerào p a ra longe e ficaráo m u ito assustadas p a ra ouvir o que voce está fala n d o !”

M eu cora^ào gelou q u a n d o vi a expressáo em seu ro s­ to. Este g a ro to que eu ta n to am ei - e o qual, q u a n d o es­ tava vivo, parecía ter sem pre um sorriso nos lábios - nào parecía estar nem um pouco feliz em me ver.

“Voce quer saber p o r que estou a q u i? ” , p e rg u n to u ele, a b o rrecido . “A razáo é simples: se ninguém está disposto a esp alh ar m inhas m ensagens pelo m u n d o , eu devo ach ar um jeito de fazer isso eu m esm o.”

Engoli em seco. M eu estóm ago em b ru lh o u q u a n d o me dei co nta de que Segatashya estava, de fato, com p leta­ m ente ciente a respeito do livro que escrevi sobre K ibeho e que n ao estava nem um p o u co satisfeito com isso.

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A VOZ NA ESCURIDÁO

Em seguida, sem p ro n u n cia r urna única palav ra, ele olhou d en tro do m eu cora^áo e me perg u n tou : “ Im aculée, por que vocé esteve tá o p reo cu p ad a em saber se a Igreja vai d a r ou nao reconhecim ento oficial ás visóes que eu tive e n q u a n to estava n a Terra? Vocé sabe com o a h o ra já está tard e p a ra a h u m an id ad e. Vocé sabe que o fim está próxim o. C o n ta r a m inha histo ria nao é m ais im p o rtan te do que esperar que alguém na Terra dé ás m inhas pala- vras um selo de aprovagáo? Fazer com que as pessoas conhegam as m ensagens que Jesús deu a m im nao é a coisa mais im p o rta n te do m undo? O que pode ser m ais crucial do que c o m p a rtilh a r as m ensagens que Jesús quer com urgencia que as pessoas conhegam o q u a n to antes - m ensagens que F’le q u er que as pessoas conhe^am agora, antes que se ja ta rd e ? ”

Segatashya, en táo, so rriu e disse: “ Sabe, algum as m en ­ sagens sáo táo im p o rtan tes que elas devem ser co m u n i­ cadas im ediatam ente, náo im p o rta o que a c ó n te la . Al­ gum as coisas sáo tá o im p o rtan tes que sim plesm ente náo po d em esperar p a ra serem a p ro v a d a s!”

Ele estendeu a m áo e to co u em m eu bra^o. E eu acor- dei com um su sto .7

Assim que ab ri m eus olhos, entendí que este náo era um sonho com um . E ra urna visita do Céu. Segatashya saiu do Paraíso e veio até m im com urna tarefa: co n tar sua historia e c o m p a rtilh a r suas m ensagens com o m aior núm ero de pessoas que eu pudesse.

Sem m e p reo c u p a r em ligar o a b a ju r ao lado da m inha cam a antes, peguei a cañeta e o cad ern o que g u ard o so ­ bre m inha m esa de cabeceira. N a fraca luz do am anhecer, comecei a to m a r n o tas a respeito das im agens da visita de

70 livro é principalm ente urna n arrativa afetiva da au to ra, p ara quem o dram a coletivo do genocidio em R uanda foi tangível. Por isso, ela com eta m os­ tran d o ao leitor um sonho, realidade subjetiva e turvada. Em caso de a p a re c e s ou revela?6es, a aprova?ao da autoridade eclesiástica com petente faz-se m uito im portante p ara averiguar, em prim eiro lugar, o conteúdo doutrinal das “m en­ sagens” , que náo podem contradizer a R e v e la d o pública; depois, para evitar enganos de origem natural ou preternatural.

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Segatashya que ainda estavam fervendo em m inha m en­ te... Urna visita que acab aria p or to m a r co n ta do m eu coragáo e que lentam ente d esabroch ou no livro que vocé está lendo ago ra. E, em b o ra as m ensagens sobre as quais escrevi aqui talvez soem com o novas p a ra m uitos de voces, elas, na verdade, existem desde a criagáo do universo. Sao m ensagens que estiveram pulu lan d o pelo m und o em alto e bom to m po r m ais de dois mil anos... M ensagens que eco aráo em nossas alm as po r to d a a eternidade se nós ab rirm o s nossos cora^óes para elas.

De fato , as m ensagens de Segatashya p odem ser en­ c o n tra d as ñas p alav ras de Jesús com o elas foram escri­ tas na Biblia. M as ouvi-las do p ró p rio Segatashya é, em vários sentidos, com o ouvir direto da boca de um dos discípulos do Senhor, um daqueles aben^oados A póstolos que an d a ra m com C risto pela Terra Santa d u ran te o seu m inistério. Eu digo isso p o rq ue sei que Segatashya, com o os discípulos de antigam ente, verdad eiram ente é alguém que conversou com Jesús - alguém que foi escolhido p o r Jesús p a ra conversar. E, da m esm a form a com o ocorreu com os discípulos, Segatashya tam bém nao tin h a a m e­ n o r idéia de quem era C risto q u a n d o Ele apareceu pela p rim eira vez em sua frente. Isso p o rque Segatashya era apenas um g a ro to cam ponés africano p o b re e iletrad o , que, além disso, tam b ém era p a g á o .8

Antes de Jesús aparecer para ele no veráo de 1982, o jovem Segatashya nunca tinha en trad o em urna igreja, tam po u co tinha q ualquer nogáo real de quem Jesús Cristo era. Em vários sentidos, a inocencia do g aro to o to rn o u um candidato ideal p a ra receber as m ensagens de N osso Senhor, pois ele fez as m esm as perguntas que eu ou vocé poderíam os ter feito caso repentinam ente nos encontrásse- m os face a face com Jesús. Perguntas com o: “Por que é táo im portante am ar a Deus, afinal?” e “ Entre Deus, o Espirito Santo, Jesús e M aria, quem eu deveria am ar mais? A Biblia diz que eu devo am ar vocé, Jesús, mais do que am o meus

“A pouca in s tr u y o cultural e doutrinal de Segatashya deve ser tida em conta ao avaliar a sua vida interior.

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A VOZ NA ESCURIDÂO

pais ou qualquer o u tra pessoa... C om o você pode estar fa- lando sèrio sobre isso, visto que acabei de conhecê-lo?”

Segatashya foi até o p o n to de p erg u n tar a Jesus “po r que eu deveria a m a r m eus inim igos, com o você diz p a ra en fazer, um a vez que D eus nâo am a seu inim igo, que é Satanás?”

A ingenuidade e a inocência quase infantil deste ga- io to ao fazer suas p erg u n tas p a ra Jesus sem pre to caram ineu coraçâo e freqüentem ente colocavam um sorriso em meus lábios. M as o m ais im p o rtan te é que as respostas ilo Senhor p a ra aquelas questôes se tra n sfo rm ara m em uin m apa espiritual p a ra m im , um m ap a p a ra o quai eu nie volto m uitas e m u itas vezes en q u a n to navego p o r este inundo tu rb u len to .

Sempre que eu enfrentava algum a dificuldade ou situa- çôes desafiadoras em m inha vida, situaçôes que pareciam com pletam ente sem esperança - com o, p o r exem plo, q u a n ­ do eu estava trancada em um banheiro ten tan d o salvar m i­ nha vida de assassinos com m achados em pu nh o, durante o genocidio de 1994 - , eu m uitas vezes encontrei consolo nas palavras dos visionários de Kibeho, especialm ente na- quelas proferidas p o r Segatashya. As m ensagens que Jésus com partilhou conosco na Biblia, as quais foram novam en- te com partilhadas com Segatashya, podem cu rar nossos corpos e anim ar nossas alm as. E elas podem nos fornecer coragem , conforto e força p ara superarm os até m esm o os nossos m ais negros períodos de tristeza e desespero.

C om o eu g o staria que aqueles que estào p ro fu n d a ­ m ente a to rm en ta d o s ou ab atid o s pela do r das dificulda- des diárias, em vez de desistirem da vida, a b a n d o n a n d o a fé em D eus, se v o ltan d o p a ra as d rogas e o àlcool ou m esm o p en sand o em d a r cabo da preciosa vida que Deus deu a eles, pudessem ouvir as palavras co n so lad o ras que Jesús c o m p artilh o u com Segatashya q u a n d o ele p rò p rio estava p assan d o p o r urna tragèd ia pessoal!

C om o disse o Senhor: M esm o que você esteja sofrendo assim agora, saiba que eu passei p o r so frim en to s m u ito

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

piores do que esse antes de vocé... A nim e-se e nao perca a esperanza. Agarre-se a m im , confie em m im , apoie-se em m im e eu irei conduzi-lo p o r suas trevas... Agarre-se a verdade e eu irei ajudá-lo... C lam e p o r m im e vocé nunca estará sozinh o ... Pega e eu irei ouvi-lo...

Todas as vezes que leio m ensagens com o essa m inha vida faz m ais sentido. E, ainda que eventualm ente eu me divertisse com o vai-e-volta das conversas de Segatashya com Jesús, ta n to as p erg u n tas q u a n to as respostas nunca falharam em me p ro p o rc io n a r um g rande sentim ento de paz, um a paz que vem de saber que D eus está sem pre á nossa disposigáo, que Ele nos am a sem m edida, que Ele irá nos socorrer a q u alq u er m om ento em que nós O cha- m arm os, e que Ele está esp eran do ansiosam ente p a ra nos e n c o n trar no Céu... D esde que nossos cora^óes estejam p ro n to s p a ra o en co n tro q u a n d o esse dia chegar.

E esta talvez seja a m ensagem m ais im p o rtan te que Se­ g atashya co m p artilh o u conosco: a de que Jesús u rg en te­ m ente deseja que nós nos p reparem o s p a ra a o u tra vida e que ten ham o s certeza de que nossas alm as estáo p ro n ta s p a ra e n tra r no C éu.9

Ñ a s próxim as páginas, vocé vai enco n trar avisos so­ bre tem pos perigosos que am ea^am a hum anid ade, sobre eventos calam itosos e terríveis que aguardam o m un do nos dias que viráo. E um tem po conhecido com o “Fim dos T em pos” - ou, com o está escrito no livro da Revela^áo, o A pocalipse.10 M as to m a r conhecim ento disto nao significa

’Para ir ao céu é preciso em preender o cam inho da s a lv a d o , e este nao é ou tro senáo o cam inho m esmo da santidade: no céu só haverá santos, seja que estes tenham lá entrado ¡m ediatam ente depois da sua m orte, ou que havia tido antes a necessidade de serem purificados no purgatorio. Ninguém entra no céu se nao possuir aquela santidade que consiste em estar p u ro e limpo de toda fal­ ta [ ...]” (Fr. G arrigou-Lagrange, O. P.; Las Tres Edades de la Vida Interior, p. 3, 3* edi^áo - Ediciones Desclées, Buenos Aires, 1944).

“ “ Senhor do cosmos e da historia, C abera da sua Igreja, Cristo glorificado perm anece m isteriosam ente sobre a térra, onde o seu Reino já está presente com o germe e inicio na Igreja. Ele um dia voltará em gloria, mas nao sabem os

quando. Por isso, vivemos vigilantes, rezando: ‘Vem, Senhor’ (Ap 2 2 ,2 0 )”

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A VOZ NA ESCURIDÀO

que terem os que viver com m edo e desespero ou desenco­ rajados frente ao futuro. Jesus disse a Segatashya que nós nao devemos tem er o firn do m undo, m as, sim, estarm os preocupados sobre a form a com o vivemos nossas vidas diárias, pois elas podem acab ar a qualq u er m om ento.

C om o o jovem visionàrio nos pro vo u através do exem - plo, os tem pos em que vivem os sao tem pos de enorm e opor- tu n idad e espiritual p a ra cada um de nós. P or interm èdio das m ensagens c o m p artilh ad as p o r ele, nós descobrim os com o viver nossas vidas em p r e p a r a d o p a ra o dia em que irem os nos e n c o n trar com nosso C riador. E, se aprovei- tarm o s bem a gloriosa o p o rtu n id a d e que nos está sendo ap resen tad a, nós irem os d esfru tar da etern idad e no Pa­ raíso. M as nao podem os d eix ar a o p o rtu n id a d e escapar. C om o Segatashya me disse n o sonho, “ algum as coisas sao táo im p o rtan tes que sim plesm ente náo p o dem e sp era r!”

A h isto ria de Segatashya é urna h istoria de júbilo, e as m ensagens que ele co m p artilh a conosco curam e re- dim em . Eu sei que elas tra n sfo rm a ra m o m eu coragào e adicionaran! g ran de dose de beleza á form a com o eu vejo esta vida e a vida que virá. Eu espero, com a ajuda e o am o r de D eus, que as m ensagens que se en co n tram ñas páginas a seguir fa^am o m esm o p o r voce.

Deixe-m e com egar c o n tan d o -lh e quem eu sou e falar um pouco a respeito das prim eiras aparigóes da Virgem M aria e seu Filho em K ibeho. E depois será com g ra n ­ de h o n ra e p razer que irei ap resentá-los a Segatashya, o m enino que conheceu Jesús. Estou certa de que voces se to rn a rá o am igos p o r to d a a vida.

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CAPÍTULO 2

D E SC O B R IN D O SEGATASHYA

A prim eira vez que ouvi falar em Segatashya foi quando eu era urna jovem m enina crescendo na pequ en in a aldeia rural de M a ta b a , n a m inha terra n atal, R u anda.

A m aio r p a rte das pessoas fora da África n u nca tin h am ouvido falar em R u a n d a - ou, se tin h a m , elas conheciam nosso país com o o lugar onde oco rreu , em m eados dos anos 90, um a das m ais selvagens o ndas de assassinato do m undo.

O genocidio ruan dès foi um b an h o de sangue e de bru- talidade sem precedentes que arra so u m inha terra n atal na prim avera de 1994. M ais de um m ilháo de hom ens inocentes, m ulheres e crianzas (incluindo a m aior parte de m inha fam ilia e m uitos dos m eus amigos) fo ram b ru ­ talm ente assassinados em m enos de 100 dias. Eu escrevi exaustivam ente sobre as causas, o h o rro r e os resultados do genocidio - incluindo a edificante historia de com o Deus m ilagrosam ente p o u p o u a m in h a vida e salvou m i­ nha alm a através do am o r e da m isericordia naqueles m o­ m entos negros - em m eus dois prim eiros livros, L e ft to Tell: D iscovering G o d A m id s t the R w a n d a n H o lo c a u st11 e L e d B y Faith: R ising fro m the Ashes o f the R w andan G enocide,u

Nestes dois livros eu relatei as m ais queridas lem bran- gas de m in ha infancia aben^oada. Eu cresci em um lar m uito feliz, d en tro do qual fui criad a p o r pais am orosos, L eonard e R ose, e a m ad a enorm em ente p o r tres carinho- sos irm àos, A im able (o m ais velho), D am ascene (mais ve­ lilo que eu, com diferencia de alguns anos) e V ianney (o bebe q u eridin h o da fam ilia).

"V ersâo brasileira: Ilibagiza, Immaculée. Sobreviví para contar - O poder

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

M eus pais eram católicos devotos e cristáos de co- ragáo ab erto que viveram segundo a R egra de O u ro de fazer aos o u tro s som ente aquilo que voce g o staria que fizessem com voce. A m bos eram professores e líderes da com unidade, e eram bem conhecidos e respeitados p o r to d a a regiáo, grabas aos seus bons conselhos, generosi- dade e bons atos. N ós vivíam os d efronte a um lago em urna área ru ral que, com o na m aio r p a rte de R u a n d a , era exub erante, agradável e de tira r o fólego de táo bonita. N o ssa aldeia ficava a m uitas ho ras da cidade g ran de e nossos vizinhos eram sim ples e atenciosos, cuidavam uns dos ou tro s e eram sem pre gentis e am igáveis.

Eu sem pre me senti segura, pro teg id a e cuid ad a, seja q u a n d o estava sozinha em casa, seja q u a n d o estava cam i- n h a n d o ao longo de quase 13 quilóm etros pelas estradas da floresta em diregáo á escola. Q u a n d o era crianza, eu pensava que m eu lar e m inha terra n atal eram os lugares m ais pacíficos e am áveis de to d o o m un do . Eu náo fa- zia a m enor idéia de que as efervescentes tensóes étnicas que estavam ferm en tan do em m eu país iriam explodir nos horríveis acontecim entos de 1994, nos quais vizinhos se virariam c o n tra vizinhos e a m aioria tribal da nagáo (os H u tu s), estim ulados po r um governo m au e co rru p to , m ataria quase to d a a m inoria tribal (os Tútsis, aos quais p ertencia m inha fam ilia) u san d o facóes e porretes.

De fato, eu me sentia tá o segura e feliz q u a n d o era crianza que urna das m inhas m aiores p r e o c u p a r e s era me certificar de que tin h a feito ora^óes diárias o bastante e com p arecido á missa com regularidade o suficiente p a ra g a ra n tir que eu estaría ap ta a m e to rn a r freirá q u a n d o crescesse. Por algum a razáo , q u a n d o era crianza (e, p ara falar a verdade, até hoje!) eu era obcecada com tu d o que era relacio n ad o a Deus. A vida de Jesus, os Santos, a San­ tissim a Virgem M a ria e to d a e q u alq u er coisa que tivesse a ver com o Céu era urna p r e o c u p a d o co n stan te para m im . M eu pequ enin o q u a rto era d o m in ad o p o r m eu p rò ­ prio san tu àrio im prov isado, o qual consistía em urna p e­ q ueñ a táb u a lo tad a com estátuas da Virgem M a ria , velas

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DESCOBRINDO SAGATASHYA

votivas e livros de figuras dos A póstolos e Santos. M eu passatem po predileto era rezar com m inha m elhor am i­ ga, Jan et, ou ouvir histo rias religiosas - especialm ente à noite, q u a n d o a m in ha li^ào de casa jà estava feita, m eus afazeres estavam finalizados e as lou^as do ja n ta r jà es- tavam lavadas e g u ardadas. Era q u a n d o m inha fam ilia se juntava na sala de estar p a ra o que eu cham ava de “ ho ra das h isto ria s” .

A c o n ta d o de histo rias é urna g rande parte de nos- sa cu ltu ra e urna das atividades m ais im p o rtan tes da m i­ nha juventude. C om o na m aior p arte de R u a n d a , que é urna n a^ào em sua m aio ria ru ral e extrem am en te pobre, M a ta b a era to talm en te prim itiva q u a n d o as facilidades m odernas chegaram . N ó s estávam os conectados ao resto do país p o r urna so litària estrad a de terra e um em ara- n h ad o de trilhas de gado. N ó s n ào tín h am o s água cor­ rente e a energia elétrica era p raticam en te desconhecida. Por conta disso, obviam ente n à o havia nenh um cinem a ou shopping nos q uais as crianzas pudessem p assear e se divertir - m eus irm àos e eu n ào tín h am o s sequer visto urna televisào, a n ào ser em fotos de revistas. C onsequen- tem ente, havia pouquíssim as form as de nos entreterm os após o p o r do sol. Era tào escuro fo ra de casa q u a n d o o sol se p u n h a que raram en te nos av en tu rávam os a sair ao a r livre à noite.

Em verdade, só havia realm ente duas fontes de diver- sào p a ra a fam ilia depois que p apai fechava a casa após o crepúsculo. A p rim eira form a de en treten im ento era o a rtiq u issim o costum e do Igitaram o. lgitaram o é o antigo ritu al ru andès de se juntar, em fam ilia ou trib o , após o jan tar p a ra falar sobre os acontecim entos do dia, c o n ta r noticias sobre p arentes que m oram longe ou sim plesm en- te c o n ta r boas e velhas histo rias a respeito de qu alq u er assunto, dos m itos locáis ao que está n a Biblia.

D ad a a m inha p ro p en sào para historias relacionadas a Deus, sem pre que nos ju n táv am o s na sala de estar p a ra mais urna sessào de Igitaram o m eu tem a favorito de discus- sáo estava inevitavelm ente ligado ao Céu ou, pelo m enos,

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

à r e p e tid o de historias p o p u lares da Biblia. Porém , m eus irm áos - pelo m enos A im able e D am ascene, que eram m ais velhos que eu e n ao tin ham urna c ab era táo religio­ sa q u a n to a m inha - apelavam a m eu pai p a ra que nao m e desse ouvidos q u a n d o eu im plorava para ouvir (pela m ilionèsim a vez) sobre com o o pequeñ o D avi d erru b o u o grande G olias pelas costas usan d o apenas um estilin- gue e algum as pedras. Freqüentem ente, m eu pai ficava do lado dos g aro to s e a b ru p ta m e n te m ud av a o assunto da discussào para acontecim entos recentes, com o os me- lhores m om en to s de urna p a rtid a de futebol na q ual m eus irm áos haviam jo g ad o ou sobre com o estava p ro g red in d o um dos seus m uitos projetos de caridade.

N ossa segunda opqáo de entreten im en to n o tu rn o era ouvir o nosso m a ltra ta d o ràd io de b atería. Se acontecía de escolherm os essa op^ào em urna noite em particular, n ào havia a m enor dúvida sobre qual p ro g ram a eu insis­ tiría para que to d o s ouvissem . Eu b radava e incom odava to d o m un d o até que o dial estivesse sin ton izado no p ro ­ gram a da R àdio R u an d a que trazia as m ensagens m ila­ grosas de um g ru po de jovens visionários de K ibeho, que era urna aldeia ain da m enor e m ais distan te que a nossa, localizada a m ais ou m enos 160 quilóm etros ao sul de onde m orávam os.

C om o eu já disse antes, e p o r m ais incrível que isso p a re ja , no c o m e to da década de 1980 a Virgem M aria e Jesús decidiram aparecer, em intervalos regulares, a um g ru p o de adolescentes do in terio r e os p resen tearam com m ensagens do Céu que deviam ser co m p artilh ad as com o m u n d o inteiro. As p rim eiras m ensagens foram to das da Virgem M a ria , e elas b ro ta ra m do seu a m o r pelas crianzas da Terra. O con teú d o de tais m ensagens era freq üen tem en ­ te educativo, a p resen tan d o in s tr u y e s e d an d o o r ie n ta d o p a ra hom ens e m ulheres sobre com o viver vidas m elhores e m ais pacíficas, que iriam afastá-los do pecado e levá-los p ara a luz de D eus e p a ra a vida eterna no Paraíso. As in s tr u y e s dela p ara a h um an id ad e incluíam exorta^óes p a ra que to d o m un d o rezasse o R osàrio diariam en te, a

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firn de repelir o m al; e p a ra que as pessoas de to do s os lu ­ gares abrissem seus cora^óes uns aos o u tro s, abragassem a fé no Senhor, desenvolvessem um p ro fu n d o relaciona- m ento com D eus através da oragào e de urna vida p u ra, se arrependessem dos pecados do p assado e evitassem tenta^óes futuras.

A lgum as das m ensagens de M a ria tam bém con tinh am assu stad o ras profecías sobre os dias negros que o m u n ­ do iría en fren tar nos p ró x im o s anos. Eia deu aos jovens visionários terríveis vislum bres de um fu tu ro no qual os cora^óes das pessoas estariam do m in ad o s pelo òdio em vez do am or, e o nde o planeta seria dilacerado p o r guer­ ras religiosas e desastres n atu rais.

A B em A venturada M ae predisse especificam ente -12 an os antes que isso devastasse o m eu país - o g e n o ­ cidio de 1 99 4, com o q u al, disse eia, um “ rio de sa n g u e ” b a n h a ria to d a R u a n d a a n a o ser que m eus c o m p a trio ta s p arassem de n u trir ò d io uns pelos o u tro s e enchessem seus coragóes com o a m o r re d e n to r de seu Filho, Jesús. C om esse am or, disse eia, o d esastre im inente e a m a ta n ­ za p o d e ria m ser evitad os. A través dos seus v isionários, a S antissim a M ae e x o rto u a to d o s os ru an d eses p ro c u ra - rem sua a ju d a p a ra receber o a m o r e o p e rd á o de C ris­ to ... E disse que o m elh o r jeito de o b te r isso era rezan d o o R o sà rio to d o s os dias. M a ria disse que o R o sàrio era urna das m ais p o d e ro sa s ferram e n ta s do m u n d o p a ra nos defen derm os da te n ta ^ à o e do m al. Eia im p lo ro u a to d a s as pessoas p a ra que rezassem o R o sàrio pelo m enos urna vez p o r dia, nao im p o rta n d o a qu a l religiào p ertencessem , e p ro m e teu g ran d es reco m p en sas espiritu- ais aos que assim fizessem .13

13“Pode haver tam bém quem tem a que o R osàrio possa revelar-se pouco ecumènico pelo seu caráter m arcadam ente m ariano. N a verdade, situa-se no mais claro horizonte de um culto à M ae de Deus tal como o Concilio delineou: um culto orientado ao centro cristológico da fé crista, de form a que, “ honrando a M ae, m elhor se conhe^a, ame e glorifique o F ilho” . Se adequadam ente com preendido, o Rosàrio é certam ente uma ajuda, nao um obstáculo, para o ecum enism o!” (Bem-aventurado Joáo Paulo U, R osarium Virginis Marite, n. 4).

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

Infelizm ente, poucos ruandeses o uviram o conselho de N o ssa Senhora, e nosso país degenerou em lo ucu ra, desordem e assassinatos, exatam ente da form a com o eia predisse. Se nós sim plesm ente tivéssem os ouvido os avi­ sos da Virgem M aria q u a n d o eia apareceu em K ibeho, o genocidio nun ca teria acontecido!

Q u a n d o era jovem , eu estava lam entavelm ente alheia as históricas tensòes trib ais e odios que envenenaram os cora^óes de tan to s ruandeses - um veneno que perm itiu a Satanás se a p o d e ra r de suas alm as e levá-los a com eter ato s selvagens de to rtu ra , estu p ro e assassinato. Q u a n d o crianza, eu escutava os visionários e tu d o que ouvia era eles tra n sm itin d o a paz, o am o r e o p erd áo de Deus. As m ensagens da Virgem M a ria que ouvi sendo transm itidas pelo ràd io á noite, d u ran te nossos en contro s fam iliares p a ra o Igitaram o, encheram -m e de alegria e nunca, ja- m ais m e assustaram .

Eu tin h a 11 anos de idade q u a n d o M aria apareceu pela p rim eira vez em K ibeho e rap id am en te fiquei fam i­ liarizada com os nom es e as historias das tres prim eiras visionárias: A lphonsine, A nathalie e M arie-C laire. Isso foi m uitos meses antes de eu ouvir q u alq u er m engáo so ­ bre a liga^áo de Segatashya com as apari^òes. Q u a n d o eu finalm ente ouvi seu nom e (e sua voz), o im p acto em m eu p equeño coragáo foi tá o p ro fu n d o que eu nu nca m ais se­ ria a m esm a.

C om o disse an terio rm en te, eu já escrevi m uito sobre a histo ria de K ibeho e das apari^óes as tres prim eiras vi­ sionárias em O u r L a d y o f K ibeho. M as, p a ra aqueles de voces que n a o conhecem a h istoria, perm itam -m e reca­ p itu la r brevem ente o que eu escrevi p a ra que voces pos- sam ter urna idéia m elho r a respeito do que aconteceu em R u an d a e em K ibeho nos meses an teriores á en trad a de Segatashya em cena.

A Virgem M a ria apareceu pela prim eira vez em Ki­ beho no dia 28 de n ovem bro de 1981. A prim eira visio­ n ària que foi visitada pela Santissim a M áe foi A lphonsine

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DESCOBRINDO SAGATASHYA

M um ereke, urna estu d an te de 16 anos h a b ita n te de urna aldeia que, com o disse, era tà o p equeña e fora de m ào que pouquissim os ruandeses sabiam onde ficava.

A lphonsine era nova no Colégio de K ibeho. Eia cres- ceu em urna isolada regiào de R u a n d a cham ada K ibungo, conhecida pela aguda pob reza e a dissem inada p ràtica da brux aria. Seu pai a b a n d o n o u a fam ilia antes de A lp h o n ­ sine nascer e eia foi criad a p o r sua m àe, que era m uito b a ta lh ad o ra e católica devota. E m b o ra nào fosse p a rti­ cularm ente religiosa, A lphonsine am ava a Virgem M aria e rezava p a ra eia sem pre que se sentia a m e d ro n ta d a ou d esanim ada.

A pesar de ter crescido no m eio da m ais abjeta p o ­ breza, A lphonsine m anteve sem pre um estado de espiri­ to alegre e receptivo. Q u a n d o eia g an h o u urna bolsa de estudos para um colégio católico só p a ra m eninas com m ais de 120 estu d antes, sua n atu reza gregària e anim ada a ajudou a fazer am igos rap id am en te. M esm o assim , eia m uitas vezes sentia saudades de casa e estava com dificul- dades para m an ter suas n o tas altas. C om o sem pre fazia em tem pos de dificuldades, eia rezou p a ra a Santissim a Virgem pedindo ajuda.

N o dia 28 de nov em b ro , um dia com u m corno qual- q uer o u tro em to d os os aspectos, A lphonsine caiu no chào na h o ra do a lin o lo e e n tro u em um p ro fu n d o tra n ­ se, d en tro do qual a única coisa que eia conseguía ver era urna nuvem b ranca e b rilhan te que se form ava na sua tren te de form a lenta e b ru x u lean te. M o m en to s depois, no m eio d aquela nuvem , a estu d an te, p erplex a, contem - p lou a m ais bela senh o ra que eia jà tin h a visto.

C om o A lphonsine m ais tard e rec o rd a ria, a senhora p a ­ recía estar flutu ando no ar, e em seguida com egou a desli­ zar em dire^ào a eia, b a n h a d a em intensa lum inosidade e m iraculosam ente p a ira n d o sobre o chào. A quela m ulher m agnífica vestia um vestido b ran co sem co stura, e seu cábelo estava co b erto p o r um véu d o m ais pu ro branco. Sua pele era perfeita e b rilh an te co m o m arfim poi ido,

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O MENINO QUE CONHECEU JESUS

em b o ra A lphonsine nao conseguisse dizer exatam ente se era urna pele bran ca ou negra. A senhora parecía estar em plena c o m u n h áo com o Céu en q u a n to os delicados dedos de suas m áos esguias pressionavam -se juntos em um gesto de oragáo. O n d as de am o r em anav am déla e envolviam a p equeña estu d ante, cujo coragáo estava re- ben tan d o de alegría e felicidade en q u a n to aquela linda c ria tu ra flutuava p ró x im a a ela.

C om urna voz bela dem ais p ara ser descrita com preci- sáo, a m ulher revelou a A lphonsine que era a Virgem M a ­ ría, que no Céu ela tinh a ouvido as suas ora^óes e tinha viajado do R eino de D eus até K ibeho para consolá-la. Ela disse p a ra a g a ro ta dirigir-se a ela com o a “M ae do V erb o ” .

A ntes de ascender de volta aos céus em diregáo ao Paraíso, a Virgem pediu p a ra A lphonsine tra n sm itir urna m ensagem : “Eu q uero que seus am igos e colegas ten ham a m esm a fé que vocé. Eles n ao tém fé suficiente” .

Esta foi a prim eira m ensagem que a Santíssim a M ae entregou em K ibeho.

Q u a n d o A lphonsine reco b ro u a consciencia, ela esta­ va e sp arram ad a no chao do refeitório e o lh an d o p a ra os rostos perplexos e p reo cu p ad o s de seus colegas de tu rm a. Q u a n d o ela c o n to u a eles o que aconteceu, foi ridicula- rizada, déla zo m b aram e acu saram -na de ser m entirosa e to la. Alguns até disseram que, p o r A lphonsine ser de K ibungo, ela estava p ratica n d o b ru x aria ou possuída po r espíritos som bríos.

M as a Virgem M a ria c o n tin u o u a visitar A lphonsine, que caía em um tran se tá o p ro fu n d o sem pre que estava na p re se n ta da M ae de Jesús que ela ficava co m pleta­ m ente alheia ao que existia ao seu redor. Um sacerdote local ficou táo irrita d o com as a f i r m a r e s de A lphonsine a respeito dessas visitas que chegou a rec ru ta r o u tra es­ tu d an te do Colégio de K ibeho, M arie-C laire, p a ra que esta ato rm en tasse A lphonsine na esperanza de que ela se retratasse sob a pressáo intensa dos colegas.

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DESCOBRINDO SAGATASHYA

N a escola, M arie-C laire tin h a r e p u t a l o de ser e x tro ­ vertida e fran ca a p o n to de ser grosseira. Eia rezava para a V irgem M a ria (a quem am ava), m as n ào era grande fre- q iientad o ra da igreja ou de grupos de ora^ào. Talvez por causa de sua p ro fu n d a afeigào pela M ae de Jesus, M arie- C laire estava co m p ro m etid a e determ inada a ex p o r o que considerava a “ofensiva falsid ad e” de A lphonsine, e preparou-se com grande intensidade p a ra envergonhar e hum ilhar, em público, sua colega de tu rm a.

M arie-C laire ch am o u o u tra s estud an tes pa ra unirem -se a eia em sua c a m p an h a destinada a d en un ciar a “ falsa” visionària. Eia e sua gangue de colegas céticas planeja- ram ro d ea r A lphonsine sem pre que eia entrasse em um de seus transes estáticos. D epois, agrediriam fisicam ente a visionària d u ran te as apari^òes, p u x a n d o seus cábelos, e n to rta n d o seus dedos p a ra trás, beliscando sua pele o m ais forte que conseguissem , g rita n d o o m ais alto que pudessem e arrem essand o ro sário s em d ire m o a eia, de­ safiando A lphonsine a benzè-los. M as A lphonsine jam ais piscou um olho ou fez q ualq u er m ovim ento com o corpo, n ào im p o rta o que fizessem ou falassem p a ra eia.

D epois, em 12 de janeiro de 1982, a Virgem M aria apareceu p a ra urna segunda estudante do Colégio de Ki- beho: A nathalie M u k am azim p ak a, de 17 anos. Ao c o n trà ­ rio de A lphonsine, esta jovem era considerada um m odelo de estudante e urna das m ais devotas e piedosas garotas da escola. A nathalie vinha de um lar grande e firm em en­ te católico. Eia acordav a e rezava to d a m anhà o R osàrio antes da aula e depois rezava novam ente todas as noites antes de dorm ir. Eia lia a Biblia nos intervalos das aulas e fazia parte de vários grupos de jovens católicos. Eia era m odesta, bem c o m p o rtad a e altam ente respeitada ta n to pelos funcionários da escola q u a n to pelos estudantes. M as n ad a disso im pediu M arie-C laire de a tacar A nathalie tam - bém. M arie-C laire red o b ro u seus esforgos em desacreditar as “ alegad as” visitas da Virgem n a escola, ridicularizando publicam ente am bas as jovens visionárias sem pre que elas com egavam a ver apari^òes da Santissim a Virgem.

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O s ataques de M arie-C laire ás duas visionárias para- ram abru p tam en te no dia 1 de m argo de 1982, q u and o a Virgem apareceu tam bém para eia. A principio, M arie- Claire resistiu à visáo, certa de que estava sendo enganada de algum a form a pelas duas garotas que eia estava per- seguindo - e, se n ào fosse isso, entào eia estava ficando louca ou possuida p o r dem onios.

C o n tu d o , a tran q iiilizad o ra voz da Virgem logo acal- m ou e co n fo rto u M arie-C laire, que repentinam en te per- cebeu que a Santissim a M àe havia abengoado de fato a sua escola com sua divina p rese n ta. M arie-C laire ficou enorm em ente en v ergonhada p o r ter a to rm en ta d o Al­ p honsine e A nathalie e fez votos de se to rn a r a m ais h u ­ m ilde e d eterm in ad a serva de M a ria , e xatam en te com o as o u tra s duas alunas tin h am sido antes dela.

Para o esp anto dos funcionários da escola e dos alu- nos, to d as as très g aro tas que M a ria escolheu p a ra se tor- n arem visionárias logo estavam recebendo aparigóes da Bem -A venturada M áe na capela da escola. Todas as vezes que urna délas caía em tran se, ficava com pletam ente in­ consciente do am biente externo. O ro sto de cada garo ta se ¡lum inava com alegría sem pre que elas se en con trav am na p rese n ta de N o ssa Senhora. Elas falavam m uito a m o ­ rosam ente q u a n d o resp o n d iam a p erg u n tas da Virgem ou q u a n d o repetiam m ensagens que M aria estava lhes e n tre ­ gan d o para que fossem c o m p artilh ad as com os ou tro s. N en h u m a o u tra pessoa que estivesse naquela sala d u ra n ­ te as apari^òes poderia ver a Santissim a M áe ou ouvir o que eia estava dizendo p a ra as visionárias. M as aqueles que tiveram a sorte de testem u n h ar urna ap ari^ào sem ­ pre ouviam aten tam en te to d as as p alavras p ro n u n ciad as po r um a das alunas en q u a n to eia estava no m eio de um transe, dando-se co n ta de que sim plesm ente estavam bis- b ilh o tan d o um dos lados da conversa que urna visionària estava ten d o com o Céu n aquela hora.

C om entário s sobre as apari^óes rap id am en te se es- p a lh a ram p ara além dos confins do Colégio de K ibeho. D ezenas de m o rad o res com e^aram a viajar pela estrad a

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de térra - m ais urna trilh a de cabras to d a cheia de b u ­ racos do que urna estrad a, na verdade - que levava do interior em dire^ao á escola. Todos estavam esperanzosos de ter um vislum bre das c o m u n ic a r e s m ilagrosas que estavam oco rren d o d e n tro dos seus m uros. Logo cente­ nas de curiosos estavam se m ov im en tad o em to rn o da escola te n ta n d o ouvir algum a coisa sobre as apari^oes. Eles se p end urav am sobre a cerca de m etal e quebravam as janelas da capela, e n q u a n to subiam uns nos om bros dos o u tro s e se acotovelavam p a ra d a r urna espiada ñas m eninas que tin h am fam a de ter urna linha direta com a Virgem M aria. Por fim, visto que as centenas de curiosos se tra n sfo rm ara m em m ilhares de peregrinos, a escola e a Igreja C atólica local co n stru íram um palco de m adeira p ara que as visionarias pudessem receber suas apari^óes em público, na frente de todos.

N oticias a respeito das visionárias e do conteú d o de suas m ensagens se esp alh aram com o fogo, viajando por to d as as dire^óes de R u an da d en tro de algum as sem a­ nas. R epórteres em Kigali fo ram desp achad os da R ádio R u an d a e v iajaram até K ibeho p a ra fazer gravagóes das visionárias no m om ento em que elas estavam em com u- n h á o com a Santíssim a M ae - e, com o eu já m encionei, trechos dessas gravagóes se to rn a ra m atra^óes regulares na p r o g r a m a d o da rád io nacional.

Isso foi q u a n d o m eus irm áos e eu c o m etam o s a dis­ cu tir sobre o que deveríam os ouvir no rád io d u ran te o Igitarat.io. Eu insistia em ouvir to d as as palavras dos vi- sionários que foram tran sm itid as pelas ondas sonoras, m as m eus dois irm áos m ais velhos estavam a principio duvidosos e desdenhosos a respeito das apari^óes. Aim a- ble e D am ascene foram sem pre am o ro sos e carinhosos com igo, m as eles tam bém me p rovocavam incansavel- m ente p o r causa da m inha p aix áo crescente pelo que eu co ntin u am en te dizia ser “o m ilagre a b s o lu to ” que estava aco ntecendo em Kibeho.

“ Elas n áo passam de urnas alunas ridiculas que estáo te n ta n d o ch am ar aten^áo p o rq u e n á o há n en hu m g aro to

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por p erto ”, zom bava Aimable, enquanto im portunava nos- so pai para que este sintonizasse o rádio em urna partida de futebol.

Em R u an da, na época em que eu estava crescendo (e, gragas a D eus, os tem pos estáo realm ente m u d and o!), as m ulheres, em b o ra fossem reverenciadas e altam ente res­ p e ta d a s com o m áes, n ao eram m uito respeitadas com o seres hu m an o s independentes, inteligentes e sérios. Era urna sociedade b astan te ch auvinista, na qual direitos b á ­ sicos, tais com o de pro p ried ad e ou educa^áo superior, eram d o m in ad os pelos hom ens. Por sorte, m eu pai e mi- n h a m áe tinham po n to s de vista progressistas e me pres- sionaram p a ra ir tá o longe q u a n to eu pudesse na escola, o que, ao final, me levaría á universidade. M as o m achism o era um co m p o rtam e n to bem aceito e era algo que meus irm áos tinham grandes dificuldades p a ra aban d o n ar. Eles nunca p erdiam urna o p o rtu n id a d e de fazer p iadas sobre urna g a ro ta ou m ulher que fizesse q u alq u er coisa que um hom em náo podia fazer - o que, naqueles tem pos, incluía até ter visóes da Virgem M aria!

“Essas garotas em K ibeho estáo bébadas ou praticando v o d u ” , meu irm áo Dam ascene me provocava, com um risi- nho. “Vocé sabe o que é que acontece com essas garotas de escolas só p ara m eninas, náo sabe? Elas estáo preocupadas porque náo conseguiráo um m arid o após se form arem . Por isso, elas querem ap render urna m agia que as ajudem a conseguir um hom em antes que seja tarde dem ais!”

M eu pai sem pre m an d av a m eus irm áos baixarem o tom e m e deixava ouvir os relato s de K ibeho, m uito em ­ bora ele fosse um hom em in stru id o e cauteloso que a principio estava hesitante em acred itar que as visionárias estivessem vendo aparigóes reais. M as ele tin h a um p ro ­ fundo a m o r e respeito pela Virgem M a ria , e se qu alq u er pessoa dem onstrasse am o r e afeigáo p o r N ossa Senhora, com o eu certam ente d em on strav a, p ap ai ap o ia ria e enco­ rajaría plenam ente a sua devo^áo.

“ O tem po dirá se essas apari^óes sao reais ou n á o ”, p a ­ pai dizia aos meninos. “M as se essas garotas estáo ajudando

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a a u m en tar a fé das pessoas na Santissim a Virgem , nós vam os d eix ar sua irm à ouvir o que elas tèm a dizer... E vocès dois vào ouvir ju n to com eia. Os seus resultados de p a rtid as de futebol p odem esperar.”

M eus irm àos resm ungavam e viravam os olhos. Além disso, alegaram tam b ém que logo o pequeño sa n tu à rio em m eu q u a rto estaria carreg ad o com m ais estátuas a in ­ da da Virgem M a ria . M as as suas queixas tiveram firn em um en so larad o dia de verào em 1982, q u a n d o nós ouvim os sobre um nov o visionàrio que tin h a chegado a K ibeho... Um m enino ch am ad o Segatashya, que estava recebendo visitas do p rò p rio Jesus C risto.

Para m eus irm àos, o fato de um g a ro to ter se to rn a d o um visionàrio repentinam ente to rn o u to das as m ilagrosas apari^òes que haviam ocorrid o antes em K ibeho m uito m ais aceitáveis e criveis. Parecia tam bém que, p o r Sega­ tashya ter sido o prim eiro visionàrio a presenciar apari- gòes de Jesus C risto, m eus irm àos, que se gabavam de ser difíceis de im pressionar, foram conquistados. A judou ta m ­ bém o fato de Segatashya e D am ascene terem a m esm a idade. “ Bem, se é um m enino que está falando com Jesus... E ntào eu acho que pode haver algum a coisa reai nesse p ap o to d o de vision ário s” , concord o u A im able, após o u ­ vir Segatashya no ràdio.

Q u a n to a m im , eu jà tin h a o uvido a voz de Segatashya alguns dias antes em urna fita que o Padre A pollinaire R w agem a, nosso p á ro c o local, havia to ca d o p a ra as crianzas que tin h am ido à missa sem anal infantil.

O Padre R w agem a estava entre os prim eiros que acre- d itaram , e era um dos m ais ard o ro so s devotos das es- tu d an tes visionárias. Ele foi tam bém a prim eira pessoa em M a ta b a a fazer urna longa p e r e g r in a l o em d ir e d o a K ibeho p a ra ver os visionários com os p ró p rio s olhos. Ele fez grava^óes dos visionários d u ran te as apari^óes e deixou as fitas disponíveis p a ra q u a lq u e r pessoa da aldeia que quisesse ouvi-las.

Eu teria ouvido centenas de h o ras de gravagóes ao lon­ go dos anos seguintes, m as urna g r a v a d o de Segatashya

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m e m arcou p a ra sem pre desde a p rim eira vez que a ouvi. Em O u r L a d y o f K ibeho, contei com o um arrepio subiu por m inha espinha q u a n d o ouvi a voz suave do g aro to sair pelos alto-falantes esto u rad o s do velho to c a d o r de fitas do Padre R w agem a. A gravagáo era de urna conversa que Segatashya teve com Jesus em m eio a urna aparigào de urna sem ana antes. O Padre R w agem a nos disse que ele fez a g r a v a r lo em um dia e n s o b ra d o , sob um brilhan- te céu azul sem n en h u m a nuvem ... Em seguida, ele nos co nvidou a ouvir m ais de perto.

As m ais ou m enos 2 0 0 crianzas com quem eu tin h a me sen tado no chao da capela de um único còm odo do Padre R w agem a estavam tá o fascinadas com o que ouviam no to ca d o r de fitas q u a n to eu. P rim eiram ente nós ouvim os o can to de urna enorm e m u ltid ao - m ilhares de vozes su­ plicantes - que tin h a se reu n ido em K ibeho p a ra ouvir os visionários se co m u n ican d o com o Céu. A m ultid ao gritava p ara Segatashya, dirigindo-se a ele pelo nom e e pedind o p a ra que pedisse um m ilagre... Um m ilagre que lhes dessem fé no que estavam testem u n h an d o e que os ajudassem a crer v erdadeiram ente ñas aparigóes.

Eu nao sabia disto naquele m om ento, m as o que eu estava ouvind o era a única aparigáo na qual Jesús tinha p erm itido ao g a ro to p o d er ver e interagir com as pessoas que tin h am vindo p a ra vé-lo. D u ran te to d as as dem ais aparigòes, Segatashya ficava consciente apenas da presen­ t a do Senhor.

Por cim a do ruido e da b alb ú rd ia da m ultid ao, levan- tou-se a m acia voz de ten o r do jovem visionàrio enquan- to ele se dirigía a Jesús de fo rm a reverente: “ Sim, Senhor, eu disse a eles m u itas vezes”, p ro n u n cio u a voz. “N a o , Senhor, eles n ao ouvem ... Eles sem pre m e dizem que que- rem um m ilagre. Eles n ao querem acred itar que voce está falan d o com igo, Jesús - n ao sem antes verem um m ilagre ou um sinal.”

Eu lem bro com o m eu coragào se d ilato u q u a n d o ouvi Segatashya falar naquele dia e de com o fiquei to cad a pela sinceridade e pela te rn u ra que reverberavam em sua voz

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