• Nenhum resultado encontrado

PROCESSO Nº TST-RR

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PROCESSO Nº TST-RR"

Copied!
22
0
0

Texto

(1)

A C Ó R D Ã O 7ª Turma

CMB/brq

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. CPC/1973. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESCUMPRIMENTO DE

OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS. NÃO

RECOLHIMENTO DO FGTS. ÔNUS DA PROVA. COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO DE PARCELAS SALARIAIS “POR FORA”. DETERMINAÇÃO DA OBSERVÂNCIA DA FORMA E PRAZO PREVISTOS NA NORMA LEGAL. TUTELA INIBITÓRIA. POSSIBILIDADE. Agravo de instrumento a que se dá provimento para determinar o processamento do recurso de revista, em face de haver sido demonstrada possível afronta ao artigo 7º, III, da Constituição Federal.

RECURSO DE REVISTA. CPC/1973. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. Quanto aos temas da observância do limite legal para prestação de horas extras e necessidade de disponibilização de banheiros, o exame dos autos revela que a Corte a quo proferiu decisão completa, válida e devidamente fundamentada, razão pela qual não prospera a alegada negativa de prestação jurisdicional. Recurso de revista conhecido e não provido. Já no que se refere à questão do recolhimento do FGTS, deixa-se de apreciar a nulidade arguida, com esteio no artigo 282, § 2º, do CPC/2015. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESCUMPRIMENTO DE

OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS. NÃO

RECOLHIMENTO DO FGTS. ÔNUS DA PROVA. COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO DE PARCELAS SALARIAIS “POR FORA”. DETERMINAÇÃO DA OBSERVÂNCIA DA FORMA E PRAZO PREVISTOS NA NORMA LEGAL. TUTELA INIBITÓRIA. POSSIBILIDADE. Consoante dispõe o § 5º do artigo 461 do CPC de 1973 (artigos 497 e 536, § 1º, do CPC/2015), para a efetivação da tutela específica, poderá

(2)

o juiz determinar as medidas necessárias, inclusive o uso da multa como meio de coerção capaz de convencer o réu a cumprir a obrigação. Trata-se da chamada tutela inibitória, que tem por objetivo prevenir a ocorrência do ilícito (ato contrário ao direito), impedindo que este continue a ser praticado. Observe-se que apenas o ilícito - e não o dano - é pressuposto

para o deferimento do referido

provimento jurisdicional. No caso, a discussão se refere ao descumprimento de normas relativas ao FGTS, previstas no artigo 7º, III, da Constituição Federal e demais dispositivos da Lei nº 8.036/1990, que dispõem sobre a regulamentação de tal direito. A pretensão específica que aqui se busca é a observância do modo e prazo de recolhimento da parcela, delineados no artigo 15 da referida lei. Dito isso, depreende-se do acórdão regional que houve o reconhecimento do pagamento de parcelas salariais “por fora” durante o contrato de trabalho, sobre as quais, por óbvio, não havia o devido

recolhimento de FGTS. Ora, o

dispositivo legal supracitado é claro

ao determinar a incidência do

percentual de oito por cento sobre a remuneração paga ou devida, incluídas nesta as parcelas elencadas nos artigos 457 e 458 da CLT, além da gratificação de Natal. Nesse contexto, sem descurar do debate acerca das regras de distribuição do ônus da prova do regular

recolhimento da parcela - cujo

entendimento está alicerçado na Súmula nº 461 do TST -, tem-se que restou demonstrado nos autos o efetivo descumprimento da norma insculpida no artigo 7º, III, da Constituição Federal, o que faz cair por terra o fundamento adotado pelo Tribunal Regional. Assim, configurado o ato

(3)

ilícito, torna-se devido o deferimento da tutela jurisdicional preventiva de

natureza inibitória, que visa,

justamente, coibir a reiteração da conduta da empresa, em desrespeito à

garantia disposta no comando

constitucional. Recurso de revista conhecido e não provido

TUTELA INIBITÓRIA. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER. ABSTENÇÃO DA PRÁTICA DE HORAS EXTRAS ACIMA DO LIMITE LEGAL. O Tribunal Regional concluiu que “não restou demonstrado que tal conduta tenha alcançando a integralidade dos motoristas da ré, não podendo, assim, ser objeto de ação pública, que trata de direito coletivo, mas, sim, de direito individual de cada empregado decorrente de situações singulares”. Nesse contexto, não é possível constatar violação ao artigo 59 da CLT, que, na verdade, se mostra impertinente ao caso. Recurso de revista conhecido e não provido.

TUTELA INIBITÓRIA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. INSTALAÇÃO DE BANHEIROS NO PONTO FINAL

DA LINHA DE ÔNIBUS. NORMA

REGULAMENTADORA Nº 24 DO MINISTÉRIO DO TRABALHO. Inviável o conhecimento do recurso de revista em que a parte não indica violação de dispositivo de lei ou da Constituição Federal, tampouco

aponta dissenso pretoriano ou

contrariedade a verbete de

jurisprudência desta Corte,

desatendendo, assim, a disciplina do artigo 896 da CLT. Recurso de revista conhecido e não provido.

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RÉ. CPC/1973. TUTELA INIBITÓRIA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO FORMAL PARA REALIZAÇÃO DOS DESCONTOS POR AVARIAS NOS VEÍCULOS. ARTIGO 462 DA CLT. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. DOBRAS DE TURNO. CONTRADITA DE TESTEMUNHA. COMPENSAÇÃO DE JORNADA. DANOS MORAIS COLETIVOS. VALOR ARBITRADO. MULTAS.

(4)

APELO DESFUNDAMENTADO. Em atenção ao Princípio da Dialeticidade ou a discursividade dos recursos, cabe à

parte agravante questionar os

fundamentos específicos declinados na decisão recorrida. Se não o faz, como na hipótese dos autos, considera-se desfundamentado o apelo, nos termos dos artigos 514, II, e 524, II, do CPC/1973. Agravo de instrumento não conhecido. ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. NÃO CONFIGURAÇÃO. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e a desta Corte Superior firmou-se no sentido de que o Ministério Público do Trabalho detém legitimidade para ajuizar ação civil pública para tutela de interesses difusos, coletivos

e individuais indisponíveis ou

homogêneos socialmente relevantes. No caso destes autos, o órgão ministerial pede a observância das normas de saúde e segurança do trabalho e de proteção salarial, tratando-se de defesa de interesses coletivos. Assim, patente a legitimidade ativa do Ministério

Público do Trabalho. Agravo de

instrumento conhecido e não provido. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO.

Considera-se pedido juridicamente

impossível aquele vedado pelo nosso ordenamento jurídico, razão pela qual não prospera o apelo. Ora, no caso dos autos, os pedidos de provimento inibitório encontram respaldo na legislação pátria, como revelam os artigos 461 do CPC/73, 84 do CDC e 3º da Lei 7.347/85. Registre-se, ainda, que a impossibilidade jurídica do pedido não pode ser confundida com o direito material pretendido, o qual demanda análise de mérito. Desse modo, tal como posta a pretensão do autor, verifica-se que não há qualquer vedação em nosso ordenamento jurídico, a justificar a extinção do processo sem resolução do

(5)

mérito. Agravo de instrumento conhecido e não provido.

TUTELA INIBITÓRIA. OBRIGAÇÃO DE NÃO

FAZER. DESCONTOS SALARIAIS EM

DECORRÊNCIA DE ASSALTOS SOFRIDOS PELOS

MOTORISTAS/COBRADORES. CONDUTA

ABUSIVA. TRANSFERÊNCIA DOS RISCOS DO NEGÓCIO. O artigo 462, caput, da CLT, prescreve que "ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo". Em seu § 1º, o referido artigo dispõe sobre as hipóteses de descontos salariais decorrentes de dano causado pelo empregado e determina que apenas será possível a adoção de tal medida quando acordado entre as partes ou comprovado

o dolo do trabalhador. Cumpre

esclarecer que não basta a existência de ajuste entre empregador e empregado, sendo necessária a prova da existência de culpa deste para que o procedimento tenha validade (ônus que incumbe à reclamada), pois pensamento contrário implicaria transferência indevida dos riscos da atividade, o que não se coaduna com os princípios protetivos almejados pelo Direito do Trabalho. Precedentes. Acontece que o fato ensejador dos descontos salariais, qual

seja, assalto sofrido pelo

motorista/cobrador, constitui risco

inerente às atividades por ele

desenvolvidas, caracterizando-se como

fortuito interno imprevisível e

inevitável. Ou seja, não há como atribuir ao empregado culpa pelo evento decorrente de ato de terceiro, sob pena de malferir o princípio da alteridade.

Registre-se que a alegação da

configuração de negligência dos

empregados, por descumprirem norma interna que determina a guarda de valores que ultrapassem 20 vezes o valor da passagem modal no cofre do veículo,

(6)

a fim de dar validade aos descontos efetuados, não merece prosperar. A uma, porque é cediço que tal procedimento não possui o condão de evitar/repelir as ações de tais criminosos que, ante a ineficiência da segurança pública, atuam com ampla liberdade e violência para consecução dos seus objetivos. A duas, em razão de ser possível extrair do acórdão regional que, não obstante a exigência de medida especial para guarda de valores, a empregadora não

fornecia montante suficiente de

dinheiro trocado a seus empregados, impossibilitando, assim, o efetivo

cumprimento da referida norma

contratual. Nesse contexto, os

descontos salariais realizados pela ré, decorrentes de valores furtados em assaltos, sob o argumento de culpa dos empregados na modalidade negligência (inobservância de norma interna),

configura conduta abusiva, em

descompasso com a razoabilidade, o que possibilita o deferimento da tutela que visa coibir a prática e reiteração do

ilícito. Agravo de instrumento

conhecido e não provido.

TUTELA INIBITÓRIA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. ADIANTAMENTO SALARIAL. DEPÓSITO EM

CONTA CORRENTE. Impertinente a

indicação de afronta ao artigo 463 da CLT, uma vez que tal preceito não guarda relação direta com a matéria em debate. Outrossim, não se verifica afronta direta e literal ao artigo 5º, II, da

Constituição Federal, segundo

disciplina a alínea “c” do artigo 896 do

Texto Consolidado. A apontada

infringência implica prévia análise da legislação infraconstitucional que rege a matéria a fim de que se possa, em momento posterior, apurar eventual

violação ao seu comando.

Caracteriza-se, no máximo, a violação reflexa. Por sua vez, os arestos

(7)

colacionados desservem à comprovação de dissenso pretoriano, nos termos da Súmula nº 296, I, do TST, por não refletirem as premissas fáticas das quais partiu o acórdão recorrido. Agravo de instrumento conhecido e não provido.

TUTELA INIBITÓRIA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. ANOTAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. A análise do acórdão recorrido revela que a Corte a quo não se manifestou expressamente acerca da existência e aplicação da cláusula 12 da CCT de 2008/2009, à luz do que prescrevem os artigos 7º, XXVI, e 8º, III, da Constituição Federal, não obstante a oposição dos embargos de declaração. Assim, caberia à parte ter suscitado negativa de prestação jurisdicional no que se refere ao tema em questão, a fim de viabilizar o conhecimento da controvérsia, o que não ocorreu. Nesse ponto, portanto, o recurso de revista

encontra óbice na ausência do

prequestionamento a que se refere a Súmula nº 297 do TST. Agravo de instrumento conhecido e não provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-675-41.2010.5.01.0007, em que é Recorrente PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO e Recorrida VIAÇÃO VERDUN S.A.

As partes, não se conformando com a decisão do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, que negou seguimento aos recursos de revista, interpõem os presentes agravos de instrumento. Sustentam que foram preenchidos todos os pressupostos legais para o regular processamento daqueles recursos.

Contraminuta e contrarrazões presentes.

(8)

Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho, nos termos do artigo 95, § 2º, I, do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho.

É o relatório. V O T O

MARCOS PROCESSUAIS E NORMAS GERAIS APLICÁVEIS

Considerando que o acórdão regional foi publicado em 25/10/2013 e que a decisão de admissibilidade foi publicada em 15/10/2014, incide o CPC/1973, exceto quanto às normas procedimentais, que serão aquelas do Diploma atual (Lei nº 13.105/2015), por terem aplicação imediata, inclusive aos processos em curso (artigo 1046).

AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

CONHECIMENTO

Conheço do agravo de instrumento, visto que presentes os pressupostos legais de admissibilidade.

MÉRITO

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS – NÃO RECOLHIMENTO DO FGTS – ÔNUS DA PROVA – COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO DE PARCELAS SALARIAIS “POR FORA” - DETERMINAÇÃO DA OBSERVÂNCIA DA FORMA E PRAZO PREVISTOS NA NORMA LEGAL - TUTELA INIBITÓRIA – POSSIBILIDADE

O Parquet sustenta ser devido o deferimento da tutela inibitória, consistente na condenação da ré na obrigação “de recolher os depósitos do FGTS na forma e prazo legal, sob pena de multa diária equivalente a R$1.00000 (mil reais) por empregado que não tiver o seu

(9)

FGTS depositado na forma e/ou prazo legal, reversível ao Fundo de Amparo ao Trabalhador”. Aponta violação aos artigos 7º, III, da Constituição Federal e 818 da CLT.

O Tribunal Regional indeferiu a pretensão, sob o argumento de que não houve prova acerca da irregularidade de recolhimento do FGTS, ônus que cabia ao autor (fl. 1218).

Ao exame.

Consoante dispõe o § 5º do artigo 461 do CPC de 1973 (artigos 497 e 536, § 1º, do CPC/2015), para a efetivação da tutela específica, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, inclusive o uso da multa como meio de coerção capaz de convencer o réu a cumprir a obrigação.

Trata-se da chamada tutela inibitória, que tem por objetivo prevenir a ocorrência do ilícito (ato contrário ao direito), impedindo que este continue a ser praticado.

Observe-se que apenas o ilícito - e não o dano - é pressuposto para o deferimento do referido provimento jurisdicional.

No caso, a discussão se refere ao descumprimento de normas relativas ao FGTS, previstas no artigo 7º, III, da Constituição Federal e demais dispositivos da Lei nº 8.036/1990, que dispõem sobre a regulamentação de tal direito.

A pretensão específica que aqui se busca é a observância do modo e prazo de recolhimento da parcela, delineados no artigo 15 da referida lei, cujo teor segue transcrito:

Art. 15. Para os fins previstos nesta lei, todos os empregadores ficam obrigados a depositar, até o dia 7 (sete) de cada mês, em conta bancária vinculada, a importância correspondente a 8 (oito) por cento da remuneração paga ou devida, no mês anterior, a cada trabalhador, incluídas na remuneração as parcelas de que tratam os arts. 457 e 458 da CLT e a gratificação de Natal a que se refere a Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962, com as modificações da Lei nº 4.749, de 12 de agosto de 1965. (Destaquei). Pois bem.

Consoante se verifica às fls. 1100/1102, o Tribunal Regional reconheceu existir o pagamento de parcelas salariais “por fora”

(10)

durante o contrato de trabalho, sobre as quais, por óbvio, não havia o devido recolhimento de FGTS.

Ora, o dispositivo supracitado é claro ao determinar a incidência do percentual de oito por cento sobre a remuneração paga ou devida, incluídas nesta as parcelas elencadas nos artigos 457 e 458 da CLT, além da gratificação de Natal.

Nesse contexto, sem descurar do debate acerca das regras de distribuição do ônus da prova do regular recolhimento da parcela - cujo entendimento está alicerçado na Súmula nº 461 do TST -, tem-se que restou demonstrado nos autos o efetivo descumprimento da norma insculpida no artigo 7º, III, da Constituição Federal, o que faz cair por terra o fundamento adotado pelo Tribunal Regional.

Assim, configurado o ato ilícito, torna-se devido o deferimento da tutela jurisdicional preventiva de natureza inibitória, que visa, justamente, coibir a reiteração da conduta da empresa, em desrespeito à garantia disposta no comando constitucional.

Nesse passo, verifico possível ofensa ao artigo 7º, III, da Constituição Federal, o que torna plausível a revisão da decisão denegatória.

Do exposto, dou provimento ao agravo de instrumento para determinar o processamento do recurso de revista.

RECURSO DE REVISTA

Satisfeitos os pressupostos extrínsecos de

admissibilidade, passo à análise dos pressupostos recursais intrínsecos. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - TUTELA INIBITÓRIA – OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER – ABSTENÇÃO DA PRÁTICA DE HORAS EXTRAS ACIMA DO LIMITE LEGAL - OBRIGAÇÃO DE FAZER – INSTALAÇÃO DE BANHEIROS NO PONTO FINAL DA LINHA DE ÔNIBUS – NORMA REGULAMENTADORA Nº 24 DO MINISTÉRIO DO TRABALHO

CONHECIMENTO

(11)

O recorrente se insurge contra os temas em questão. Pois bem.

Quanto aos temas da observância do limite legal para prestação de horas extras e necessidade de disponibilização de banheiros, o exame dos autos revela que a Corte a quo proferiu decisão completa, válida e devidamente fundamentada, razão pela qual não prospera a alegada negativa de prestação jurisdicional.

Isso porque, foram expostos, expressamente, os motivos pelos quais foram indeferidas as pretensões: na matéria das horas extras, o argumento utilizado foi a natureza individual do direito postulado, que não se coaduna com os objetivos da ação civil pública (fl. 1100); e, sobre a disponibilização de instalações sanitárias, o Tribunal Regional entendeu ser do Poder Público a responsabilidade de tal fornecimento.

Por outro lado, a argumentação exposta nos embargos de declaração evidencia que a real pretensão da parte era obter o reexame do conjunto probatório e a alteração do registro fático feito pelo Tribunal Regional, objetivos que não se coadunam com as disposições do artigo 897-A da CLT.

Já no que se refere à questão do recolhimento do FGTS, deixo de apreciar a nulidade arguida, com esteio no artigo 282, § 2º, do CPC/2015.

Acerca do mérito do pedido referente à obrigação de a ré se abster de exigir labor extraordinário além do limite legal, melhor sorte não assiste ao recorrente. Vejamos.

O Tribunal Regional concluiu que “não restou demonstrado que tal conduta tenha alcançando a integralidade dos motoristas da ré, não podendo, assim, ser objeto de ação pública, que trata de direito coletivo, mas, sim, de direito individual de cada empregado decorrente de situações singulares” (fl. 1100).

Nesse contexto, não é possível constatar violação ao artigo 59 da CLT, que, na verdade, se mostra impertinente ao caso.

Finalmente, não se mostra viável, também, o conhecimento do recurso de revista sobre o tema da obrigação de fornecimento de instalações sanitárias, pois, no mérito (1322/1324), não

(12)

houve indicação de violação de dispositivo de lei ou da Constituição Federal, tampouco de dissenso pretoriano ou contrariedade a verbete de jurisprudência desta Corte, tendo sido desatendida, assim, a disciplina do artigo 896 da CLT.

Não conheço.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS – NÃO RECOLHIMENTO DO FGTS – ÔNUS DA PROVA – COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO DE PARCELAS SALARIAIS “POR FORA” - DETERMINAÇÃO DA OBSERVÂNCIA DA FORMA E PRAZO PREVISTOS NA NORMA LEGAL - TUTELA INIBITÓRIA – POSSIBILIDADE

CONHECIMENTO

Nos termos da fundamentação expendida na decisão do agravo de instrumento, considero que houve afronta ao artigo 7º, III, da Constituição Federal, razão pela qual conheço.

MÉRITO

Como consequência lógica do conhecimento do apelo, por violação ao artigo 7º, III, da Constituição Federal, dou-lhe provimento para condenar a ré na obrigação de recolher os depósitos do FGTS na forma e prazo previstos em lei, sob pena de multa diária, nos moldes elencados no item 4 (fl. 26) da petição inicial.

AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO PELA RÉ CONHECIMENTO

TUTELA INIBITÓRIA – OBRIGAÇÃO DE FAZER – INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO FORMAL PARA REALIZAÇÃO DOS DESCONTOS POR AVARIAS NOS VEÍCULOS – ARTIGO 462 DA CLT – AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL – DOBRAS DE TURNO – CONTRADITA DE TESTEMUNHA - COMPENSAÇÃO DE JORNADA – DANOS MORAIS COLETIVOS – VALOR ARBITRADO – MULTAS - APELO DESFUNDAMENTADO

(13)

A Vice-Presidência do Tribunal Regional negou seguimento ao recurso de revista por entender que, quanto aos temas em epígrafe, a tese recursal encontra óbice na Súmula nº 126 do TST, por demandar o revolvimento de fatos e provas (fl. 1334).

Pois bem.

Da leitura do agravo de instrumento, infere-se que a parte, sem tecer uma linha acerca dos fundamentos insertos na decisão denegatória, meramente renova os argumentos atinentes às matérias de fundo (fls. 1346/1348 e 1355/1360).

Conforme as disposições contidas nos artigos 897, "b", da CLT e 524, II, do CPC/1973, a simples renovação das razões do recurso de revista não atende a finalidade do agravo de instrumento, qual seja desconstituir a decisão que denegou seguimento ao apelo.

Dessa forma, a fim de demonstrar que ele merecia ser processado, deveria, efetivamente, refutar todos os fundamentos da Corte Regional, consoante acima relatado.

Em assim procedendo, atenderia ao Princípio da Dialeticidade, segundo o qual cabe ao agravante questioná-los e permitir a impugnação da parte contrária, o que nada mais é do que a aplicação do Princípio do Contraditório e da impugnação especificada em matéria recursal.

Convém registrar também a diretriz da Súmula n° 283 do Supremo Tribunal Federal:

"É INADMISSÍVEL O RECURSO EXTRAORDINÁRIO, QUANDO A DECISÃO RECORRIDA ASSENTA EM MAIS DE UM FUNDAMENTO SUFICIENTE E O RECURSO NÃO ABRANGE TODOS ELES." Logo, a toda evidência, está desfundmentado o agravo de instrumento, nos termos dos artigos 514, II, e 524, II, do CPC/1973, no particular.

Com relação às matérias remanescentes, o apelo preencheu adequadamente o requisito da dialeticidade. Preenchidos os demais pressupostos, passo ao exame.

(14)

MÉRITO

ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO – NÃO CONFIGURAÇÃO – IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO - TUTELA INIBITÓRIA – OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER – DESCONTOS SALARIAIS EM DECORRÊNCIA DE ASSALTOS SOFRIDOS PELOS MOTORISTAS/COBRADORES – CONDUTA ABUSIVA – TRANSFERÊNCIA DOS RISCOS DO NEGÓCIO – ADIANTAMENTO SALARIAL – DEPÓSITO EM CONTA CORRENTE – ANOTAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO – AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO

A decisão regional que denegou seguimento ao recurso de revista da parte merece ser mantida, ainda que por fundamento diverso. Vejamos.

Pois bem.

Quanto à alegação de ilegitimidade ativa é preciso salientar, de início, que o artigo 127, caput, da Constituição Federal qualifica o Ministério Público como instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, dando-lhe como incumbência a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Nessa linha, o artigo 83, III, da Lei Complementar nº 75/93, ao tratar do Ministério Público do Trabalho, dispôs ser da competência desse órgão “promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos” (grifei).

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e a desta Corte Superior já se manifestou no sentido de que o Ministério Público do Trabalho detém legitimidade para ajuizar ação civil pública para tutela de interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis ou homogêneos socialmente relevantes.

No caso destes autos, o órgão ministerial ajuizou ação civil pública que visa coibir o desrespeito à legislação trabalhista, mormente no que se refere às normas de segurança e saúde do trabalho e de proteção ao salário.

(15)

É o que se extrai dos pedidos constantes às fls. 26/27 da petição inicial. Além disso, foi postulada a respectiva reparação pelos eventuais danos coletivos ocasionados.

Das pretensões formuladas, observa-se que o Parquet atua em defesa dos direitos fundamentais, de caráter coletivo, assegurados expressamente na Constituição Federal (a exemplo do artigo 7º, III), a atrair o seu interesse e legitimidade, nos moldes dos dispositivos acima mencionados e dos artigos 127, caput, e 129, III, da Constituição Federal; 5º, I, da Lei nº 7.347/85; 1º, 6º, VII, e 83, I e III, da Lei Complementar nº 75/93.

Incólumes os dispositivos tidos por violados.

Noutro giro, considera-se pedido juridicamente impossível aquele vedado pelo nosso ordenamento jurídico, razão pela qual não prospera o apelo. Ora, no caso dos autos, os pedidos de provimento inibitório encontram respaldo na legislação pátria, como revelam os artigos 461 do CPC/73, 84 do CDC e 3º da Lei 7.347/85.

Registre-se, ainda, que a impossibilidade jurídica do pedido não pode ser confundida com o direito material pretendido, o qual demanda análise de mérito.

Desse modo, tal como posta a pretensão do autor, verifica-se que não há qualquer vedação em nosso ordenamento jurídico, a justificar a extinção do processo sem resolução do mérito.

Ilesos, pois, os artigos indicados.

No que tange à condenação para que a empresa se abstenha de realizar descontos salarias decorrentes de assaltos sofridos pelos motoristas/cobradores, salvo comprovada participação delitiva destes, melhor sorte não assiste à agravante. Vejamos.

O artigo 462, caput, da CLT, prescreve que "ao empregador é vedado efetuar qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de adiantamentos, de dispositivos de lei ou de contrato coletivo".

Em seu § 1º, o referido artigo dispõe sobre as hipóteses de descontos salariais decorrentes de dano causado pelo empregado e determina que apenas será possível a adoção de tal medida quando acordado entre as partes ou comprovado o dolo do trabalhador.

(16)

Cumpre esclarecer que não basta a existência de ajuste entre empregador e empregado, sendo necessária a prova da existência de culpa deste para que o procedimento tenha validade (ônus que incumbe à reclamada), pois pensamento contrário implicaria transferência indevida dos riscos da atividade, o que não se coaduna com os princípios protetivos almejados pelo Direito do Trabalho.

É o que se extrai dos seguintes precedentes desta Corte Superior:

"DEVOLUÇÃO. DESCONTOS INDEVIDOS. NÃO COMPROVAÇÃO DE QUE O AUTOR FOI O CAUSADOR DO DANO SOFRIDO PELA RECLAMADA. Estabelece o § 1º do artigo462 da CLT que, -em caso de dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta possibilidade tenha sido acordada...- (grifou-se). Segundo o referido dispositivo, a licitude do desconto não decorre apenas da previsão contratual, mas também do fato de o empregado ter causado o dano suportado pelo empregador. Dessa forma, mesmo na existência de previsão de ressarcimento no contrato de trabalho do reclamante, sem a comprovação de que esse tenha sido o causador do dano, não poderia a reclamada ter efetuado descontos salarias relativos ao numerário desaparecido. Portanto, o Regional, ao entender pela ilicitude do referido desconto, não afrontou o § 1º do artigo462 da CLT. Agravo de instrumento desprovido. (Processo: AIRR - 2645300-14.2008.5.09.0011 Data de Julgamento: 08/10/2014, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17/10/2014);

“5. DESCONTOS SALARIAIS. O art. 462 da CLT, que consagra o princípio da intangibilidade salarial, permite o desconto salarial somente quando de adiantamentos e de expressa previsão em dispositivo de lei, norma coletiva ou no contrato de trabalho. Segundo o § 1º do artigo consolidado, o empregador pode realizar descontos referentes aos danos causados pelo empregado, desde que haja prévio acordo ou dolo do empregado. Assim, diante da existência de autorização expressa e demonstrada a culpa do empregado, não se verifica ilegalidade nos descontos efetuados. Recurso

(17)

de revista não conhecido. (Processo: RR - 52500-09.2012.5.17.0007, Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 12/09/2014);

"DESCONTOS SALARIAIS. FURTO DE FERRAMENTAS DE TRABALHO. RESTITUIÇÃO DOS DESCONTOS. Conforme cediço, o § 1º do art. 462 da CLT, ao prever a possibilidade de o empregador efetuar descontos no salário do obreiro nos casos de dano causado pelo empregado, trata de uma exceção à intangibilidade dos salários (ressarcimento de prejuízos à empresa). Contudo, a licitude dos descontos no salário decorrentes de prejuízos causados ao patrimônio da empresa pelo empregado depende de prova inequívoca de o empregado ter agido dolosamente ou do prévio ajuste contratual prevendo tais descontos, mediante expressa anuência do empregado, e desde que comprovada a sua culpa pelo evento danoso, decorrente de negligência, imprudência ou imperícia. Nesse contexto, os riscos normais da atividade econômica da empresa não se enquadram na exceção do art. 462, § 1º, da CLT e não podem ser repassados ao empregado pela simples previsão no contrato de trabalho, especialmente quando sequer a culpa foi provada, caso dos autos. Diante de tais premissas, não há como alterar o quadro fático-probatório delineado no acórdão regional, sob pena de contrariedade à Súmula 126 do TST. Por conseguinte, não há como analisar a tese de eventual afronta aos dispositivos invocados nem

divergência jurisprudencial. Por derradeiro,

ressalte-se que a Súmula 342 do TST não aborda a hipótese de descontos realizados por culpa do empregado, nos termos do art. 462, § 1º, da CLT. Recurso de revista não conhecido." (Processo: RR - 1007-83.2012.5.15.0092, Relator Ministro: Augusto César Leite de Carvalho, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 24/10/2014).

Acontece que o fato ensejador dos descontos salariais, qual seja, assalto sofrido pelo motorista/cobrador, constitui risco inerente às atividades por ele desenvolvidas, caracterizando-se como fortuito interno imprevisível e inevitável.

(18)

Ou seja, não há como atribuir ao empregado culpa pelo evento decorrente de ato de terceiro, sob pena de malferimento do princípio da alteridade.

Registre-se que a alegação da configuração de negligência dos empregados, por descumprirem norma interna que determina a guarda de valores que ultrapassem 20 vezes o valor da passagem modal no cofre do veículo, a fim de dar validade aos descontos efetuados, não merece prosperar.

A uma, porque é cediço que tal procedimento não possui o condão de evitar/repelir as ações de tais criminosos que, ante a ineficiência da segurança pública, atuam com ampla liberdade e violência para consecução dos seus objetivos.

A duas, em razão de ser possível extrair do acórdão regional que, não obstante a exigência de medida especial para guarda de valores, a empregadora não fornecia montante suficiente de dinheiro trocado a seus empregados, impossibilitando, assim, o efetivo cumprimento da referida norma contratual (fl. 1093).

Em caso análogo ao dos autos, esta Turma já decidiu pela invalidade dos descontos salariais, conforme se verifica na ementa do seguinte julgado:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA - NORMA EMPRESARIAL ABSTRATA QUE AUTORIZA DESCONTOS SALARIAIS PARA OS MOTORISTAS DE CAMINHÃO QUE DEIXAM DE GUARDAR VALORES RECEBIDOS EM RAZÃO DAS ENTREGAS NO COFRE DO VEÍCULO E QUE VENHAM A SOFRER ASSALTOS - ILICITUDE - TRANSFERÊNCIA DE RISCO DA ATIVIDADE ECONÔMICA AO EMPREGADO. É ilícita a norma empresarial que prescreve a possibilidade de desconto salarial caso os empregados não atendam de pronto à obrigação de guardar os valores no cofre e venham a ser assaltados. Na apuração da culpa que autorizaria a possibilidade contida na primeira parte do art. 462, § 1º, da CLT de descontos salariais previamente acordados, não se pode optar pela responsabilidade obreira em detrimento do risco empresarial perante o empreendimento, assegurado no caput do art. 2º da CLT. Embora seja o fortuito interno imprevisível e inevitável, como o externo, ele se diferencia desse

(19)

último porque não resulta de fatos estranhos ao

desempenho da atividade econômica. Assaltos

rotineiros em trajetos sabidamente perigosos, pela violência, são fortuitos internos, que ocorrem por falta de emprego de medidas de segurança mais eficazes. A instalação de cofres e orientação dos empregados sobre o depósito do dinheiro recebido não pode ser

considerada medida de segurança eficaz no

enfrentamento do risco. A empresa demonstra o seu critério em relação ao emprego do meio de segurança mais eficaz: adota a escolta armada sempre que o valor transportado é elevado, demonstrando que é a proteção do patrimônio e não da vida/segurança dos seus empregados que a leva a lançar mão das medidas de segurança mais eficientes. Com relação aos valores não tão elevados, a empresa transfere a responsabilidade pela segurança aos seus motoristas desarmados, embora exista profissão regulamentada, inclusive com autorização para terceirização, para zelar por tais atividades: os serviços de vigilância e de transporte de valores, nos termos da Lei nº 7.102/83. Portanto, o risco do assalto permeia toda a atividade empresarial e, assim sendo, antes de se aferir o descumprimento da medida de segurança pelo empregado, há de se considerar a inadequação da transferência desse risco empresarial ao trabalhador. A empresa, com a conduta anterior de dispensar a escolta armada e expor seus empregados ao transporte de valores já estaria a dividir riscos de sua atividade econômica com os empregados, e, o passo seguinte, que é a realização do desconto salarial, traduzir-se-ia em responsabilizar o empregado por não ter evitado um risco que foi anteriormente criado pelo próprio

empregador. Se a atividade empresarial

intrinsecamente implica risco, assumir que o descuido do empregado o torna responsável pelo dano causado por terceiro, porque não atendeu à medida de segurança já caracterizada como insuficiente, fere a razoabilidade Com a conduta anterior a empresa transferiu indevidamente o risco de sua atividade econômica para o empregado, não lhe sendo dado posteriormente cobrar por isso. Não, há, portanto, subsunção da hipótese dos autos ao permissivo contido na primeira parte do art.

(20)

462, § 1º, da CLT. Agravo que instrumento desprovido. (AIRR - 1694-65.2012.5.10.0006, Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 30/05/2014) (Destaquei).

Nesse contexto, os descontos salariais realizados pela ré, decorrentes de valores furtados em assaltos, sob o argumento de culpa dos empregados na modalidade negligência (inobservância de norma interna), configura conduta abusiva, em descompasso com a razoabilidade, o que possibilita o deferimento da tutela que visa coibir a prática e reiteração do ilícito.

Incólumes os dispositivos tidos por violados.

Os arestos colacionados desservem à comprovação do dissenso pretoriano, pois inespecíficos, a luz do entendimento contido na Súmula nº 296, I, do TST.

No que toca à obrigação referente à concessão de adiantamento salarial por meio de depósito em conta corrente, tenho que é impertinente a indicação de afronta ao artigo 463 da CLT, uma vez que tal preceito não guarda relação direta com a matéria em debate.

Outrossim, não se verifica afronta direta e literal ao artigo 5º, II, da Constituição Federal, segundo disciplina a alínea “c” do artigo 896 do Texto Consolidado. A apontada infringência implica prévia análise da legislação infraconstitucional que rege a matéria a fim de que se possa, em momento posterior, apurar eventual violação ao seu comando. Caracteriza-se, no máximo, a violação reflexa.

No que diz respeito à questão, o Supremo Tribunal Federal já sedimentou seu entendimento, consubstanciado na Súmula nº 636: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO - CONTRARIEDADE AO

PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA LEGALIDADE -

INTERPRETAÇÃO DADA A NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS PELA DECISÃO RECORRIDA - NÃO CABIMENTO. Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida.”

(21)

Por sua vez, os arestos colacionados às fls. 1261/1265 desservem à comprovação de dissenso pretoriano, nos termos da Súmula nº 296, I, do TST, por não refletirem as premissas fáticas das quais partiu o acórdão recorrido.

Por fim, no tema da anotação da jornada de trabalho dos trabalhadores, a análise do acórdão recorrido revela que a Corte a

quo não se manifestou expressamente acerca da existência e aplicação da

cláusula 12 da CCT de 2008/2009, à luz do que prescrevem os artigos 7º, XXVI, e 8º, III, da Constituição Federal, não obstante a oposição dos embargos de declaração.

Assim, caberia à parte ter suscitado negativa de prestação jurisdicional no que se refere ao tema em questão, a fim de viabilizar o conhecimento da controvérsia, o que não ocorreu. Nesse ponto, portanto, o recurso de revista encontra óbice na ausência do prequestionamento a que se refere a Súmula nº 297 do TST.

Nego provimento. ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade: a) DAR PROVIMENTO ao agravo de instrumento do Ministério Público do Trabalho para determinar o processamento do recurso de revista. Também à unanimidade, conhecer do recurso de revista, apenas quanto ao tema “AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS – NÃO RECOLHIMENTO DO FGTS – ÔNUS DA PROVA – COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO DE PARCELAS SALARIAIS “POR FORA” - DETERMINAÇÃO DA OBSERVÂNCIA DA FORMA E PRAZO PREVISTOS NA NORMA LEGAL - TUTELA INIBITÓRIA – POSSIBILIDADE”, por violação ao artigo 7º, III, da Constituição Federal, e, no mérito, dar-lhe provimento para condenar a ré na obrigação de recolher os depósitos do FGTS na forma e prazo previstos em lei, sob pena de multa diária, nos moldes elencados no item 4 (fl. 26) da petição inicial; b) CONHECER PARCIALMENTE do agravo de instrumento da ré, e, no mérito, negar-lhe provimento. Fica mantido o valor da condenação, para fins processuais.

Brasília, 7 de outubro de 2020.

(22)

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

CLÁUDIO BRANDÃO

Ministro Relator

Referências

Documentos relacionados

Esta Subseção, em decisão proferida nos autos do Processo nº TST-E-ED-RR-9849840-70.2006.5.09.001, com ressalva do entendimento deste Relator, firmou o entendimento de que é inviável

O Regional assentou que o autor não se desincumbiu do ônus de comprovar que as horas in itinere eram superiores àquelas quitadas pela empresa ré, ônus que lhe competia por se tratar

Mais adiante, a referida testemunha declarou que ' acredita que na época em que o reclamante foi destituído do cargo de supervisor de canais, foi feito feedback com

Embora tenha o reclamado incorrido na hipótese do artigo 483, "d", da CLT, ao violar o princípio da boa-fé objetiva, consoante tópico transato, o pleito de indenização

Mário Cézar Machado Domingos, Decisão: à unanimidade, conhecer do recurso de revista quanto ao tema "NULIDADE DO ACÓRDÃO POR NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL, por afronta

"Diferenças Salariais" trazido no agravo de instrumento da reclamada Fumes. Por unanimidade, conhecer do recurso de revista da Famema, apenas quanto ao tema "Reajustes

Maria Cristina da Costa Fonseca patrona do(s) Recorrente(s).. Decisão: por unanimidade, não conhecer do recurso de revista. Decisão: por unanimidade, conhecer do recurso de

Renato Oliveira de Araújo, Recorrido(s): FLORA CARDOSO DA SILVA, Advogado: Dr. Marco Antônio Colenci, Decisão: por unanimidade, conhecer do recurso de revista apenas quanto ao