LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DAS PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO SÍTIO DOIS IRMÃOS -
NOVA OLÍMPIA-MT
SILVA JUNIOR, Marcos Antônio da
1; NASCIMENTO, Valdemir Lino do
2; FERNANDES, Thiago
3e FRANÇA, Rozineide Pereira Alves de
4.
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, o homem vem construindo com a natureza uma relação de dependência, seja cultural ou econômica. A produção de ciências e tecnologias são as grandes armas que o Brasil dispõe hoje para enfrentar a competitividade da globalização econômica que se descortina no próximo milênio. Ao atentar para esse olhar, é imprescindível não notar a importância dos saberes tradicionais, principalmente nas pequenas regiões colonizadas por imigrantes.
Na busca em resgatar essa tradição, nota-se que um dos assuntos mais discutido informalmente por esse público são os saberes e experiências com uso de plantas medicinais. Para a área da biologia, este conhecimento é de domínio da etnobotânica.
Para Lacerda (2008), o termo etnobotânica vem sendo utilizado a pouco mais de um século, para designar os povos aborígenes e primitivos. No Brasil, antes mesmo de seu descobrimento, os índios já faziam o uso de plantas para acura de doenças e rituais religiosos.
Segundo o pressuposto Simões et al. (1988, p. 173), todas as relações sociais que se conjugue como uma formação de indivíduos, já fizeram uso direto ou indireto de plantas como recurso terapêutico e, sendo utilizadas como forma alternativa ou complementar à medicina oficial. De acordo com Organização Mundial da Saúde, 80%
da população mundial apelam às medicinas tradicionais para atender suas necessidades primárias de assistência médica (OMS; 1993).
O saber tradicional, que se designa em ser passado de gerações a gerações, enaltece ainda mais quando solidificado. Muitas dessas fontes de conhecimentos estão localizados no que chamamos de “quintais e/ou jardins medicinais”. No Brasil, esse termo indica terreno, local situado ao redor das casas, onde o acesso é fácil e cômodo, na qual se mantêm múltiplas espécies que fornecem parte das necessidades
1Biólogo; UNEMAT; Tangará da Serra-MT; e-mail: marcosjuniorbio@gmail.com.
2Cientista Contábil; UNEMAT; Tangará da Serra-MT; e-mail: lino1202@hotmail.com.
3Engenheiro de Produção Agroindustrial; UNEMAT; Barra do Bugres-MT; e-mail:
thyago_2fernandes@hotmail.com.
4Bióloga; UNEMAT; Tangará da Serra-MT; e-mail: rose-eafc@hotmail.com.
nutricionais da família, além de outros produtos, tais como, lenhas e plantas medicinais e aromáticas.
OBJETIVO
O objetivo desse trabalho foi realizar um levantamento etnobotânico das principais plantas medicinais encontradas em uma residência familiar na zona rural, no município de Nova Olímpia, Mato Grosso.
METODOLOGIA
O método utilizado para coleta de dados se persistiu em realizar entrevistas formais e conversas semiestruturadas. O local escolhido para a pesquisa foi uma residência familiar da zona rural, localizada a aproximadamente mil metros do perímetro urbano do município de Nova Olímpia-MT.
As coletas de informações etnobotânicas foram realizadas com 10 pessoas, dos dois gêneros, uma vez que, as perguntas eram direcionadas com ênfase a respostas que abordassem os conhecimentos que foram adquiridos com as gerações passadas, estimulando “falas” e opiniões sobre o uso de plantas medicinais para fins fitoterapêuticos.
O processo metodológico foi totalmente abordado pela pesquisa qualitativa.
Para Marconi e Lakatos (2008), essa metodologia se preocupa em analisar e interpretar aspectos mais profundos onde por meio dela descreve a complexidade do comportamento humano. As coletas de informações foram realizadas no período vespertino, no mês de novembro de 2012, sendo tabulado com o auxílio da planilha Excel. Destaque neste contexto para a participação da pesquisa de campo e análise hermenêutica das reflexões pós-falas.
RESULTADOS
Após coleta e tabulação dos dados, propôs-se então discuti-los. Menciona-se que ao total foram registradas 17 etnoespécies, distribuídas em 15 gêneros, dentro de 13 famílias, conforme explícito na (tabela 01). A família Lamiaceae se destacou sobre as outras espécies, aparecendo com mais de 04 espécies no quintal. Esse resultado foi parecido ao encontrado por Justo et al. (2010) e Magalhães (2006).
As plantas medicinais mais citadas foram o boldo (Peumus boldus Molina) com
06 citações, seguindo da hortelã (Mentha viridis (L.) com 04 citações e o poejo
(Mentha pulegium L.) com 04 citações. O barbatimão (Stryphnodendron obovatum
Benth.) e picão (Bidens pilosa L.) foram citadas apenas uma única vez, conforme demonstrado na Tabela 01 e exemplificado com maior clareza e detalhes pelo Quadro 01.
Tabela 01: Espécies vegetais citadas pelos entrevistados.
Nome Popular Parte usada Modo de preparo Usos populares
Alfavaca Folhas Infusão Gripe
Algodão Folhas Banho Lavagem íntima
Anador Folhas Infusão Dor de cabeça
Barbatimão Casca Banho de assento Cicatrizante e para lavagem íntima
Babosa Folhas Extração do sumo Cicatrização
Boldo Folhas Sumo/ Infusão Dor no estomago
Camomila Flores Infusão Dor no estomago/gripe
Canela Folhas Infusão Gripe/garganta inflamada
Carqueja Folhas Infusão Dor no estomago
Erva cidreira Folhas Infusão Gripe
Eucalipto Folhas/casca Infusão Gripe
Hortelã Planta toda Sumo Gripe
Mastruz Folhas Extração do sumo Queda/vermes
Picão Folhas Banho de assento Tiriça
Poejo Planta toda Infusão Gripe
Romã Casca De molho Garganta inflamada
Trançagem Folhas Infusão Garganta inflamada
Quadro 01: Os usos medicinais indicados pelos entrevistados para as espécies citadas, partes utilizadas e seu modo de preparo.
Família Nome Científico Nome popular
Lamiaceae Ocimum basilicum L. Alfavaca Acanthaceae Justicia pectoralis Jacq. Anador
Malvaceae Gossypium hirsutum L. Algodão
Fabaceae Stryphnodendron obovatum Benth. Barbatimão
Liliaceae Aloe succotrina Lam. Babosa
Monimiaceae Peumus boldus Molina Boldo
Asteraceae Matricaria recutita L. Camomila
Lauraceae Cinnamomum zeylanicum Blume Canela
Asteraceae Baccharis trimera (Less.) DC. Carqueja
Poaceae Andropogon schoenanthus L. Erva-cidreira
Myrtaceae Eucalyptus spp. L’Hér. Eucalipto
Lamiaceae Mentha viridis (L.) L. Hortelã
Chenopodiaceae Chenopodium ambrosioides L. Mentruz
Asteraceae Bidens pilosa L. Picão
Lamiaceae Mentha pulegium L. Poejo
Punicaceae Punica granatum L. Romã
Plantaginaceae Plantago major L. Tanchagem