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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 2704/08-2

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 2704/08-2

Relator: NAZARÉ SARAIVA Sessão: 09 Fevereiro 2009 Número: RG

Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: RECURSO PENAL Decisão: CONCEDIDO PROVIMENTO

RECURSO SUSPENSÃO PROVISÓRIA DO PROCESSO

Sumário

I – A decisão de discordância do juiz de instrução com a decisão do MP de suspensão provisória do processo é passível de recurso;

II – A pena acessória de proibição de conduzir veículos com motor prevista no art. 69 do Cod. Penal é insusceptível de integrar o conceito de “outro

comportamento especialmente exigido pelo caso” a que alude o art. 281 nº 2 al. m) do CPP, porque as injunções ou regras de conduta não têm a natureza de penas criminais, ao contrário do que sucede com a proibição de conduzir veículos com motor.

Texto Integral

Acordam, em conferência os Juízes da Relação de Guimarães.

No Inquérito nº 342/08.7GTBRG, dos Serviços do Ministério Público da

comarca de Vila Verde, em que figura como arguido António A..., o Ministério Público, ordenou a remessa dos autos, nos termos do artº 281º, nº 1 do

CPPenal, ao Mmº Juiz de Instrução, com vista à obtenção da concordância da suspensão provisória do processo pelo período de doze meses, mediante a subordinação do arguido às seguintes injunções e regra de conduta:

“- frequência de um curso sobre condução segura dinamizado pela Prevenção Rodoviária, suportando os respectivos custos – aproximadamente 220 euros (duzentos e vinte euros), em data e hora e local a indicar ao arguido pelo Instituto de Reinserção Social (IRS), equipa da área da sua residência;

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- frequência de um curso sobre comportamento criminal e estratégias de prevenção de reincidência dinamizado pelo IRS a realizar em data e hora e local a indicar ao arguido por aquele instituto;

- realização de entrevistas com o Técnico de Reinserção social, com a periodicidade por este definida;

- realização de consulta de avaliação alcoológica e em serviço a indicar pelo IRS e, ainda, submissão a tratamento se este for considerado necessário em resultado da referida avaliação.

- o arguido abster-se de praticar no mesmo prazo de um ano ilícitos criminais da mesma natureza ao agora em causa.”

***

Por despacho proferido em 03/09/2008, a Mmª Juíza de Instrução Criminal não deu a sua concordância à suspensão provisória do processo.

***

Inconformado, recorre o Ministério Público, onde, em síntese, defende que:

- “ As injunções e regra de conduta a impor ao arguido acautelam de forma suficiente e adequada – ainda mais do que qualquer reacção criminal que surgisse de um julgamento. as exigências de prevenção, geral e especial, que se fazem sentir», pelo que «deveria a Mmª Juíza de Instrução Criminal ter dado o seu acordo à proposta de suspensão apresentada pelo Ministério Público»;

- “Ao invés, “não obstante não discordar totalmente” da aplicação do instituto da suspensão provisória do processo, a Mmª Juíza opinou, sem que, contudo, o fundamentasse, que as injunções propostas não acautelam cabalmente as necessidades de prevenção geral e especial que no caso se fazem sentir, e assim exarando, ou melhor, opinando, sem que especificasse os motivos de facto e de direito da sua decisão, violou o dever de fundamentação imposto pela Constituição da República Portuguesa e pelo artigo 97º, nº 4 do Código de Processo Penal»;

- «Acresce que ao subordinar a suspensão provisória do processo à aplicação da sanção acessória prevista no artigo 68º do Código Penal, violou a Mmº Juíza de Instrução criminal a norma do artigo 281º do Código de processo Penal, posto tratar-se aquela sanção acessória não de uma injunção ou regra de conduta, mas de uma típica sanção de natureza penal e, portanto, não compatível, por falta de previsão legal, em nenhuma das alíneas do nº 2, do citado artigo 281º do Código de processo Penal … ou seja, violou o principio elementar nulla poena sine lege.»

Conclui no sentido da revogação da decisão recorrida e a sua substituição por

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outra no sentido da concordância com a suspensão provisória do processo proposta pelo Mº Pº .

***

O arguido não foi notificado do teor do recurso, tendo sido apenas notificada a respectiva defensora do despacho que admitiu o recurso e ordenou a remessa dos autos a este Tribunal, sem que nada dissesse.

***

Nesta Relação, o Exmº Procurador-Geral Adjunto emitiu parecer no sentido de que o recurso «deve ser rejeitado porquanto a decisão do Mmo JIC

discordante da posição do MºPº de suspender provisoriamente o processo de inquérito – art 281 do CPPenal – não é passível de recurso tendo em vista o disposto nº 5 do predito normativo».

***

Foi cumprido o artº 417º, nº 2 do CPP, não tendo sido apresentada resposta.

***

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

Antes do mais importa que nos debrucemos sobre a questão prévia suscitada pelo Exmº Procurador-Geral Adjunto no seu douto parecer, e que é a de saber se a decisão de discordância do Mmº JIC com a decisão (opção) do Mº Pº de suspensão provisória do processo é ou não passível de recurso.

Vejamos…

De acordo com o disposto no artigo 399º do Cód. Proc. Penal «É permitido recorrer dos acórdãos, das sentenças e dos despachos cuja irrecorribilidade não estiver prevista na lei».

Assim, para se saber se em determinado caso pode haver ou não recurso, ter- se-á de ver se o caso se encontra exceptuado no artigo 400º do CPP ou ainda nalguma disposição dispersa pelo mesmo Código.

Ora, é precisamente numa disposição dispersa, a saber, o nº 5 do artigo 281º do CPP, que o Exmº Procurador-Geral Adjunto fundamenta a irrecorribilidade da decisão de discordância do Mmº JIC com a suspensão provisória do

processo.

Porém, e com o devido respeito, não sufragamos tal entendimento, uma vez que, no referido normativo, apenas está estabelecida a não susceptibilidade de impugnação da «decisão de suspensão, em conformidade com o nº 1», ou seja, quando a decisão de suspensão provisória do processo resulta,

verificados os restantes pressupostos enumerados no nº 1 do citado artigo

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281º, da concorrência de duas decisões concordantes, a do Ministério Público e a do Juiz de Instrução Criminal. De resto, a não susceptibilidade de

impugnação mostra-se perfeitamente justificada, uma vez que a decisão de suspensão, em conformidade com o nº 1 do artigo 281º, para além da

existência das decisões concordantes do MP e do JIC, pressupõe também a aceitação do arguido e do assistente (quando o houver). O que significa que estes sujeitos processuais e o MºPº passam a carecer de interesse em agir para recorrer.

Por outro lado, a irrecorribilidade da decisão de discordância do Mmº JIC com a suspensão do processo também não se encontra prevista no artigo 400º do CPP, maxime nas al. a) e b) do seu nº 1.

Tal decisão não é um acto de mero expediente, na medida em que não se destina a disciplinar a tramitação processual ou a regular os seus termos, e também não depende da livre resolução do tribunal, porquanto não decorre do uso legal de um poder discricionário. Pelo contrário, a lei faz depender o

recurso à suspensão provisória do processo de apertados pressupostos

materiais e formais, não deixando margem à discricionariedade. E, por isso, a decisão de discordância do JIC, porque não consubstancia um despacho de mero expediente nem depende da livre resolução do tribunal, deve conter a especificação dos motivos de facto e de direito que a enformam (arts artigos 97º, nº 4, do CPP e 206º da CRP) e é passível de recurso nos termos do artº 399º e 400º, nº 1 als a) e b)(a contrario), do CPP.

Posto isto.

Defende o Digno Magistrado do Ministério Público recorrente que «a Mmª Juíza opinou, sem que, contudo, o fundamentasse, que as injunções propostas não acautelam cabalmente as necessidades de prevenção geral e especial que no caso se fazem sentir», violando consequentemente o disposto no artº 94º, nº 7, do CPP e o artigo 205º, nº 1º, da CRP.

Entende-se, porém, que, neste particular, não assiste razão ao recorrente, dado que o despacho recorrido enuncia, ainda que de forma sintética, os motivos de facto e de direito em que assenta a discordância. Na verdade, subjacente à decisão de discordância, está o entendimento da Mmª Juíza de que «o crime de condução sob a influência de bebidas alcoólicas, pela

perigosidade que lhe é inerente, apenas poderá ser suficientemente

dissuadido se a censura for efectivamente sentida por quem o pratica», sendo que «Essa censura só é verdadeiramente eficaz quando o agente se vê privado de conduzir», do mesmo passo que avança que «em termos de prevenção

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geral, se afigura, de todo, necessária, a aplicação da sanção acessória, dado o flagelo que representa a sinistralidade rodoviária, grande parte das vezes motivada por comportamentos idênticos aos dos autos», e que, por isso, as injunções propostas «apenas deverão ter lugar se a suspensão do processo for condicionada à proibição de conduzir veículos a motor pelo período de 3

meses, atenta a taxa de álcool registada, ao abrigo do disposto no artigo 69º, nº 1, al. a) do Cód. Penal».

De todo o modo, ainda que assim não fosse, também já estaria sanado o vício da irregularidade A violação ou inobservância das disposições da lei do

processo penal só determina a nulidade do acto quando esta for

expressamente cominada na lei; nos casos em que a lei não cominar a nulidade o acto ilegal é irregular (artº 118º, nºs 1 e 2 do CPP) da falta de fundamentação, por não ter sido arguido no prazo a que alude o artº 123º, nº 1, do CPP.

Aqui chegados é tempo de apreciar se as injunções propostas «acautelam de forma suficiente e adequada – ainda mais do que qualquer reacção criminal que surgisse de um julgamento - as exigências de prevenção, geral e especial, que se fazem sentir», conforme defendido pelo Digno Magistrado do

Ministério Público recorrente.

E a resposta só pode ser afirmativa.

O arguido, conforme indiciado, foi encontrado, pelas 3h25m, a conduzir, numa via pública, um veículo ligeiro de passageiros, com uma TAS de 1,42 g/l, valor que ainda se pode considerar próximo do limite mínimo da previsão legal.

O arguido tem a idade de 51 anos e não possui antecedentes criminais, o que inculca a ideia que se está perante um acto delituoso isolado.

Ouvido no inquérito, o arguido confessou voluntária e espontaneamente os factos indiciados, do mesmo passo que reconheceu o desvalor da conduta, declarando-se arrependido e envergonhado; manifestou também o propósito de não mais a repetir, além de aceitar as injunções propostas pelo MºPº – cfr fls 11

Perante todo este circunstancialismo, ligado ao facto e à personalidade do arguido, e tendo em conta que o bem protegido pela norma violada é a segurança rodoviária, entende-se que as injunções propostas, atenta a sua natureza, são de molde a acautelar suficientemente as necessidades de prevenção manifestadas no sentimento jurídico da comunidade (prevenção

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geral positiva), e, bem assim, as exigências de advertência do arguido (prevenção especial), que no caso se fazem sentir.

Por último, e a talho de foice, dir-se-á, que a pena acessória de proibição de conduzir veículos com motor, prevista no artigo 69º, nº 1, do CPenal, é

insusceptível de integrar o conceito de outro comportamento especialmente exigido pelo caso, a que alude o artigo 281º, nº 2, al. f) do CPP. É que as

injunções ou regras de conduta «não têm a natureza de penas criminais». Pelo contrário, são medidas legais alternativas, «de natureza processual». vd.

Germano Marques da Silva, in Curso de Processo Penal, Verbo, 1994, III, pág.

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Decisão:

Pelo exposto, os Juízes desta Relação, concedendo provimento ao recurso, substituem a decisão recorrida por outra com o efeito da concordância do juiz de instrução, a que alude o artigo 281º, nº 1, do CPP.

Sem tributação.

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