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ALUGUER DE AUTOMÓVEL SEM CONDUTOR PRESCRIÇÃO

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0436995

Relator: TELES DE MENEZES Sessão: 20 Janeiro 2005

Número: RP200501200436995 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO.

Decisão: REVOGADA A DECISÃO.

ALUGUER DE LONGA DURAÇÃO

ALUGUER DE AUTOMÓVEL SEM CONDUTOR PRESCRIÇÃO

Sumário

Não existe oposição entre o conceito de aluguer de longa duração e aluguer de veículo sem condutor pois que o primeiro é um aluguer de veículo sem condutor que se prolonga no tempo.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação do Porto:

I.

B..., S.A. intentou a presente acção declarativa de condenação na forma ordinária contra C... e mulher D..., pedindo a condenação destes a pagar-lhe a quantia de 3.073.855$00, acrescida de juros de mora até efectivo pagamento, liquidando os vencidos em 2.765.587$00.

Alegou, resumidamente, que se dedica à actividade comercial de aluguer de veículos sem condutor, no exercício da qual celebrou com E..., Lda, em 13.12.1991, um contrato de aluguer de um veículo por si adquirido,

obrigando-se a locatária a pagar 48 alugueres mensais no montante de 81.880

$00 cada. No entanto, a locatária deixou de pagar os alugueres vencidos a partir de 15.6.1993, pelo que a A. resolveu o contrato em 8.11.1993, tendo a locatária restituído o veículo em 25.11.94.

Encontram-se em dívida 670.467$00, correspondentes aos alugueres vencidos e não pagos até à data da resolução – 17.11.93; 20.680$00 correspondentes aos juros calculados à taxa de 20%; 1.965.120$00 de indemnização devida

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pela mora; 417.588$00 de juros à taxa de 15% ao ano a incidirem sobre o montante indemnizatório atrás referido, no total de 3.073.855$00.

Como a E..., Lda não pagou, a A. obteve a sua condenação em acção que correu termos pela .. secção da .. Vara Cível do ..., onde, por sentença de 28.2.1997, aquela foi condenada a pagar à A. a quantia de 3.073.855$00, acrescida de juros de mora à taxa contratual de 20%, sobre 670.467$00, contados de 8.11.93 até efectivo pagamento, e à taxa de 15% sobre 1.965.120

$00, contados desde 24.4.96 até efectivo e integral pagamento.

Acontece que por termo de fiança de 13.12.1991, os RR. constituíram-se

fiadores e principais pagadores perante a A. de todas as obrigações assumidas pela E..., Lda emergentes do contrato de aluguer em causa,

comprometendo-se a pagar à A., no prazo de 15 dias após notificação para o efeito, todas as obrigações não cumpridas pela locatária, declarando renunciar ao benefício da excussão prévia ou a qualquer outro ou direito que, de

qualquer modo, possa limitar, restringir ou anular as obrigações assumidas pelo termo de fiança.

Na sequência da resolução do contrato de locação financeira, a A. notificou os RR. para liquidarem a quantia em dívida, por meio de cartas registadas com a/

r, o que eles não fizeram.

Os RR. contestaram, dizendo que nunca foram, na qualidade de fiadores, interpelados para o pagamento de quaisquer montantes em dívida pela E..., Lda, só o tendo sido através da presente acção.

Por isso, invocaram a prescrição extintiva de cinco anos estabelecida no art.

310.º-b) e d) do CC, relativa às rendas e juros convencionais e legais.

Disseram, ainda, desconhecer quais as rendas efectivamente vencidas e pagas, bem como as não pagas, mas saber que a E..., Lda entregou o veículo no prazo de 24 h após a resolução.

Afirmam, também, que não há prova dos juros convencionais invocados pela A.

e que a cláusula penal pretendida ou é nula ou manifestamente excessiva.

A A. replicou, alegando que os RR. à data da celebração do contrato, eram os únicos sócios gerentes da E..., Lda, tendo sido para a respectiva sede que foi enviada toda a correspondência, nomeadamente a carta de resolução, que acabou por ser recebida pela Ré, que assinou o a/r. Tendo sido também para essa morada, dada pelos RR. no termo de fiança, que foi remetida a

notificação dos mesmos, ainda se tendo tentado noutro local, mas sem êxito, dado que mudaram de domicílio sem o terem comunicado à A.

A condenação da E..., Lda não integra somente rendas e juros, mas

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também indemnização emergente do não cumprimento do contrato de aluguer.

Os RR. afiançaram a E..., Lda tendo declarado que a garantia era

irrevogável, sem o consentimento expresso e dado por escrito da A. e que era prestada ‘on first demand’, sem possibilidade de os garantes oporem qualquer excepção.

Defende, no entanto, que por via da comunicação da resolução, propositura da acção declarativa de condenação contra a E..., Lda, condenação desta, instauração da execução e interpelação dos RR. para se substituírem à

E..., Lda no pagamento da dívida emergente do contrato em 22.2.2000, a dívida se não encontra prescrita.

Entendem, também, ser inteiramente válida a cláusula que prevê a indemnização em resultado da resolução do contrato.

II.

No saneador julgou-se improcedente a excepção da prescrição das rendas e relegou-se para final, por depender da produção de prova, o conhecimento da prescrição dos juros.

O argumento utilizado relativamente às rendas foi que, atenta a natureza do contrato de aluguer de longa duração, misto de aluguer e de venda a

prestações com reserva de propriedade, ou de locação acoplada de uma promessa unilateral, de uma proposta irrevogável de venda, a obrigação decorrente do contrato de ALD consiste, para o locatário, numa única

prestação fraccionada, como sucede no preço pago a prestações na compra e venda, isto é, existe uma só obrigação, embora possa ser paga em parcelas.

E por isso, a natureza deste ‘aluguer’ distingue-se manifestamente da ‘renda’

resultante de um contrato de locação previsto no art. 1022.º do CC. A esta é aplicável o prazo prescrional do art. 310.º-b), mas já o não será ao aluguer no contrato de ALD, cujo prazo será o de 20 anos, fixado no art. 309.º do CC.

Elaborou-se a condensação.

Os RR. recorreram, tendo sido o recurso admitido como apelação (os recorrentes qualificaram-no como agravo) e com subida a final.

Os recorrentes ofereceram a sua alegação, que concluíram como segue:

1.º. O Tribunal a quo, no saneador de 17.2.1002 julgou improcedente a

excepção peremptória da prescrição dos alugueres peticionados pela A., tendo os RR. sustentado a sua pretensão no disposto no art. 310.º -a) e d) do CC.

2.º. Entendeu-se assim, por, supostamente, dos autos resultar que a A. e a E..., Lda celebraram um contrato de aluguer documentado nos autos, pelo

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qual os RR. se constituíram fiadores de todas as obrigações dele decorrentes para a locatária, contrato esse que se pode qualificar como de ALD.

3.º. Com base nessa premissa, o tribunal entendeu que ‘tal contrato congrega em si elementos pertencentes a vários tipos de contratos legalmente

tipificados, designadamente ao contrato de locação [...] e ao contrato de compra e venda’.

4.º. Sendo assim, haveria um contrato atípico, em que ‘a fusão de elementos pertencentes àqueles tipos legais num só contrato, razão que justifica a qualificação do contrato de ALD como contrato misto ao qual, em virtude de inexistência de disposições legais especiais relativas ao mesmo devem ser aplicadas, por analogia, disposições legais gerais previstas para o contrato de locação e para o contrato de compra e venda’.

5.º. Com base nessa qualificação jurídica, considerou que o preceito invocado, o art. 310.º do CC, terá plena aplicação na prestação reiterada, repetida, periódica.

6.º. Enquanto que, existindo uma única prestação a realizar pelas partes (prestação fraccionada), como seria eventualmente o caso dos contratos de ALD, o preceito a aplicar será o art. 309.º do CC, que estabelece um prazo prescricional de 20 anos.

Contudo, não é esta questão mais subtil que queremos discutir.

7.º. Da leitura do referido contrato, junto aos autos como doc. n.º 1 com a p.i., não conseguimos descortinar como podemos qualificá-lo como contrato de ALD, ou mesmo como contrato de locação financeira (leasing).

8.º. Aliás, esta sempre nos pareceu uma questão perfeitamente clara.

9.º. A própria A. no seu art. 1.º da p.i. diz: ‘A A. é uma sociedade comercial que tem por objecto o aluguer de veículos sem condutor, constituída ao abrigo do DL n.º 354/86, de 23.10, com as alterações introduzidas pelo DL n.º 373/90, de 27.11’.

10.º. Por seu turno, os RR. nunca contestaram tal facto.

11.º. Por fim, o próprio tribunal especificou tal facto.

12.º. Da leitura de tal contrato, da p.i. e da contestação, nunca resultou qualquer facto que pudesse determinar algum indício que permitisse a qualificação de tal negócio como contrato de ALD, como seja, v.g., a transmissão da propriedade do veículo no final do contrato.

13.º. O DL 354/86, de 23.10, com as alterações introduzidas pelo DL 373/90, de 27.11, é bem claro quanto à qualificação deste contrato como um contrato de aluguer de veículos sem condutor.

14.º. Entendemos que o tribunal a quo, com tal interpretação, violou os art.s 8.º, 9.º e 10.º do CC e 661.º do CPC.

Pedem que se qualifique o contrato como de aluguer de veículos sem condutor

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e se determine a apreciação da excepção peremptória da prescrição à luz do art. 310.º do CC.

A A. contra-alegou, pronunciando-se pela confirmação do despacho.

III.

Procedeu-se ao julgamento e veio a ser proferida sentença que julgou a acção parcialmente procedente e parcialmente procedente a excepção de prescrição dos juros e de redução da cláusula penal constante da cláusula 11.ª/2 do

contrato, e condenou os RR. a pagarem à A. a quantia de € 8.245,26 (670.467

$00 de alugueres vencidos + 982.560$00 correspondentes a 50% de

1.965.120$00 que correspondem ao dobro dos alugueres), acrescida de juros de mora à taxa contratual de 20% desde 22.2.1995 até integral pagamento.

A sentença não foi objecto de recurso.

Cumpre, agora, após os autos terem ido aos vistos, apreciar a questão da prescrição dos alugueres não pagos até à resolução do contrato, já que a decisão proferida em sede de saneador foi atempadamente impugnada.

IV.

Os factos considerados provados são os seguintes:

1.º. A A. tem por objecto o aluguer de veículos sem condutor (A).

2.º. No exercício da sua actividade celebrou com E..., Lda, em 13.12.91, o contrato n.º ..., junto a fls. 8 e 9, cujos termos aqui se dão por reproduzidos, que tinha por objecto o veículo Toyota ... de matrícula SQ-..-.. (B).

3.º. No âmbito desse contrato a A. adquiriu o veículo à F..., S.A. e

entregou-o à E..., Lda na data da outorga do contrato, acompanhado dos respectivos documentos, para que dele pudesse usar na sua actividade

comercial (B’).

4.º. O prazo de duração do contrato foi fixado em 48 meses, com início em 13.12.91, e a locatária obrigou-se ao pagamento de 48 alugueres, no montante unitário de 81.880$00, acrescidos dos impostos em vigor, vencendo-se cada um dos alugueres no dia 15 do mês anterior a que respeitasse (C).

5.º. Através do contrato a locatária obrigou-se ainda a celebrar e custear um contrato de seguro abrangendo os riscos constantes da cl. VII das condições gerias e a suportar todos os impostos, taxas e acessórios que incidissem sobre o veículo (D).

6.º. A A. enviou à locatária e para sede constante do contrato a carta registada com a.r. junta a fls. 13 a 15, datada de 8.11.93 e recebida pela Ré Elisa no dia

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10 do mesmo mês (E).

7.º. Por termo de fiança de 13.12.91 e do qual consta como sua residência a Rua ..., .., ..., os RR. constituíram-se fiadores e principais pagadores perante a A. de todas as obrigações decorrentes para a locatária do contrato dos autos, como consta de fls. 28 e 29 (F).

8.º. A A. enviou aos RR. em 22.2.00 e para a morada constante do termo de fiança, as cartas registadas com a.r. juntas a fls. 30 a 33, que foram devolvidas com a indicação de ‘não reclamadas’ (G).

9.º. A A. instaurou contra a locatária E..., Lda, em 8.5.96, na .. Vara Cível do ..., acção ordinária, que correu sob o n.º 468/96, na qual a Ré foi citada editalmente e em que foi proferida em 28.2.97 a sentença de fls. 140 a 146, que transitou em julgado (H).

10.º. A E..., Lda não pagou as rendas que se venceram a partir de 15.6.93 (1.º).

11.º. O veículo objecto do contrato só foi devolvido à A. em Novembro de 1994 (2.º).

12.º. Os RR. nunca comunicaram à A. qualquer domicílio diferente do indicado no termo de fiança (5.º).

V.

A questão colocada no recurso é a da qualificação do contrato e da sua repercussão na prescrição.

Como se vê, os apelantes defendem que se não trata de um contrato de aluguer de longa duração, mas de um aluguer de veículo sem condutor.

Cremos que não existe essa oposição entre os dois conceitos, já que o aluguer de longa duração é um aluguer de veículo sem condutor que se prolonga no tempo.

Precisamente o que sucedeu neste caso, pois como decorre do facto 4.º, o prazo de duração do contrato era por 48 meses.

Estamos perante um ‘contrato de adesão’, em que as cláusulas se encontram pré-estabelecidas pelo locador, duma forma geral e abstracta, com redução a escrito em impressos disponíveis aos eventuais ‘aderentes’ locatários,

concluindo-se o contrato em concreto com o ajuste e preenchimento das

cláusulas particulares, respeitantes à sua duração, ao montante das rendas, ao tempo dos pagamentos, às garantias a prestar pelo locatário, além da sua própria identificação – Ac. RC de 30.9.1997, CJ XXII, 4, 27.

O que sucede neste caso, conforme se verifica de fls. 8 e 9, correspondendo a primeira folha às condições particulares e a segunda, previamente impressa,

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às condições gerais.

Todavia, diversamente do que se refere no saneador, o aluguer de veículos automóveis de passageiros sem condutor, definido pelo DL 354/86, de 23.10, não encerra a consagração do direito potestativo de aquisição futura,

reconduzindo-se a sua disciplina a um típico aluguer de automóvel sem condutor, com a particularidade de a sua execução continuada se prolongar por um prazo dilatado – ibid.

O contrato de locação financeira – art. 1.º do DL 171/79, de 6.6 – é que contém a possibilidade de, ao fim do contrato o locatário ficar com o direito de

comprar o bem, mediante um preço pré-estabelecido em conformidade com as rendas ajustadas, de forma que esse preço tenha a ver com o valor residual da coisa locada - ibid.

Não quer dizer que no caso do ALD não possa o veículo ser adquirido pelo locatário no fim do contrato, ao abrigo da liberdade contratual – art. 405.º/1 do CC. Mas na situação em análise tal não foi objecto de negociação, não integrando nem as condições gerais nem as particulares do contrato. Além de que, o negócio indirecto consistente na venda, por vezes coberto por uma promessa unilateral do locador, pode ser ilegal, de acordo com os objectivos económicos do locador. Do facto 1.º consta que a A. tem por objecto o aluguer de veículos sem condutor, sendo no exercício dessa actividade que celebrou com a E..., Lda o correspondente contrato de ALD.

Dos autos não resulta que o contrato em discussão integre elementos do contrato de compra e venda, para efeitos de se poder defender que os

alugueres convencionados correspondem a uma única prestação e a uma só obrigação, embora dividida em parcelas, o que afastaria a prescrição prevista no art. 310.º-b) do CC.

João Calvão da Silva, Venda de Bens de Consumo (Almedina), 53-54, engloba na locação de bens de consumo o aluguer de longa duração, nomeadamente de automóveis, o leasing ou locação financeira e a locação-venda.

Os indicados conceitos não se confundem entre si.

Parece-nos, até ressaltar a diferença entre o ALD e a locação-venda dos próprios termos em que a questão foi colocada nos autos, nomeadamente na sentença proferida contra a E..., Lda.

Nunca se questionou a aplicação do regime do n.º 2 do art. 434.º do CC, isto é, a não retroactividade dos efeitos da resolução, visto que se entendeu que as rendas vencidas até à resolução eram devidas. Por isso que se considerou tratar-se de um contrato de execução continuada ou periódica.

Ora, na locação-venda – art. 936.º/2 do CC – as partes declaram estipular uma locação, mas convencionam que a propriedade passará para o locatário

automaticamente com o fim do pagamento de todas as rendas ou alugueres

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convencionados. O que implica que as prestações não correspondam a uma contrapartida do gozo temporário da coisa, mas ao pagamento da transmissão da propriedade sobre ela, apenas com a diferença de que o pagamento ocorre antes da transmissão. O contrato, apesar de qualificado pelas partes como locação, desempenha a mesma função económica da venda a prestações com reserva de propriedade, sendo sujeito pelo legislador ao mesmo regime.

Pretende-se impedir que as partes derroguem o regime da venda a prestações, determinando-se que a resolução tem obrigatoriamente efeito retroactivo, afastando-se o regime do art. 434.º/2, e impondo-se ao vendedor, em caso de resolução por incumprimento, a devolução das prestações recebidas, apenas podendo exigir uma indemnização nos termos gerais, ou estipular uma

cláusula penal nos mesmos termos do art. 935.º - Teles de Menezes Leitão, Obrigações, III, 80-81.

O mesmo autor, a págs. 81-82, fala das posições doutrinárias sobre a natureza da locação-venda: 1. Uma considera-a uma união alternativa de contratos, uma vez que, se o locatário pagar todas as prestações, a situação será de compra e venda, enquanto que se devolver a coisa antes do pagamento integral, o

regime será o da locação; 2. Outra entende tratar-se de uma venda com reserva de propriedade. Prefere, no entanto, qualificá-la como uma

modalidade específica de venda em que, sendo diferida a transmissão da propriedade até ao pagamento do preço, o vendedor se obriga entretanto a proporcionar ao comprador o gozo da coisa, como locatário dela.

Estabelece, ainda, a diferença entre a locação-venda e a locação convertível em venda, que tem lugar quando se convencionar uma efectiva relação de locação, com a possibilidade futura e eventual de aquisição do bem por parte do locatário, mediante o pagamento de um preço suplementar. Hipótese em que haverá uma efectiva relação de locação, associada a uma opção de compra ou a uma promessa unilateral de venda.

Visto que o contrato de ALD não beneficia de um regime jurídico próprio, tratando-se de um contrato legalmente atípico, a sua disciplina, porque assente na autonomia privada, resulta do fixado pelos contraentes nas cláusulas estipuladas (ref.º art. 405.º/1), devendo atender-se, também, aos princípios gerais do direito dos contratos.

Há, pois, que considerar as regras dos contratos mais próximos, os que tenham um regime fixado na lei e possam aplicar-se-lhe analogicamente.

Ora, parece que devemos, face ao clausulado, considerar que o contrato de aluguer de longa duração em vista apresenta manifestas afinidades com a locação prevista no art. 1022.º do CC.

Na verdade, na cláusula 10.ª/1 estabelece-se a obrigação de restituição do veículo, no prazo máximo de 24 h, no termo da vigência do contrato de

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aluguer, quer ocorra no fim do prazo estabelecido, quer em consequência de resolução ou denúncia.

E a cláusula penal que se prevê na cl. 11.ª/2, reporta-se à mora na devolução do veículo, por cessação do aluguer, seja pelo decurso normal do prazo, seja por resolução.

Não se vislumbra, pois, o tal negócio acoplado de uma promessa unilateral de venda.

E, assim, como se refere no despacho em crise para a hipótese contrária à aí considerada, ser-lhe-á aplicável a disciplina consagrada no art. 310.º-b) do CC, devendo concluir-se que estão prescritas as rendas, porquanto vencidas há mais de cinco anos (o montante das rendas peticionadas reporta-se ao período entre 15.6.93 – começo do não pagamento – e 8.11.93 – data da resolução), isto é, antes de 22. 2.95, dado que em 22.2.00 a A. interpelou os RR. por meio de cartas registadas com a/r para procederem ao pagamento das quantias em dívida.

Com efeito, apesar do protesto dos fiadores pelo não recurso à invocação de excepções constante do termo de fiança, a renúncia da prescrição só é

admitida depois de haver decorrido o prazo prescricional, não sendo, pois, admissível antecipadamente – n.º 1 do art. 302.º do CC.

Face ao exposto, julga-se a apelação do saneador procedente e revogando-se o mesmo nessa parte, julga-se procedente a excepção peremptória da prescrição das rendas vencidas entre 15.6.93 e 8.11.93, no valor de 670.467$00 = €

3.344,27.

Este montante haverá que deduzir-se à quantia que integra a condenação proferida na sentença de 6.3.03 – fls. 206 a 216 –, já que a procedência do recurso tem reflexo no teor da mesma, que englobou a mencionada

importância, que se havia considerado não prescrita.

Custas pela apelada.

Porto, 20 de Janeiro de 2005

Trajano A. Seabra Teles de Menezes e Melo Mário Manuel Baptista Fernandes

Fernando Baptista Oliveira

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