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Patrimônio X Identidade: A Relação entre a População e o Museu Histórico de Acari/RN

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Academic year: 2021

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Patrimônio X Identidade: A Relação entre a População e o Museu Histórico de Acari/RN

Marília Medeiros Soares

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Pricylla Wanna Lopes

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Resumo

O presente artigo científico trata da relação de uma instituição museológica, Museu Histórico de Acari, localizado no sertão nordestino, com a comunidade da cidade onde este está inserido. Para a realização da pesquisa foi observado o acervo da instituição, para que se percebesse a relação deste com a cultura local; e aplicados questionários junto à população da cidade, com o interesse de observar se esta comunidade reconhece a instituição como representante de sua cultura. No que diz respeito ao referencial teórico procurou-se abordar a importância do patrimônio para uma comunidade, discutindo sua definição e sua relação com a identidade de uma população. São contemplados ainda no trabalho questões referentes à instituição museológica, um breve histórico sobre a difusão desse tipo de estabelecimento no mundo e a apresentação de aspectos da cultura regional nordestina que possuem relevância como representantes da economia, dos hábitos, costumes e história da região Seridó. Esse tipo de abordagem é utilizada por perceber-se a estreita relação entre patrimônio, identidade, e atratividade turística.

Palavras-chave: Patrimônio, Museu, Identidade

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UERN - Universidade Estadual do RN no curso de Turismo;

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Faculdade Câmara Cascudo

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Introdução

Após anos de exploração no Nordeste brasileiro de um turismo voltado para o binômio sol e mar está sendo iniciado um trabalho que visa a interiorização da atividade. No estado do Rio Grande do Norte essa idéia surgiu com maior força a partir do Programa de Regionalização do Turismo, proposto pelo governo federal, sendo escolhido como primeiro pólo o Seridó.

Essa iniciativa foi ocasionada pela grande riqueza natural e principalmente cultural que essa região possui, pois por sofrer grandes influencias do regime de chuvas o homem sertanejo precisa encontrar as mais diversas alternativas de sobrevivência e trabalho, fazendo assim com que a luta diária construa uma cultura específica e muito rica.

Para analisar a importância do reconhecimento dessa cultura em uma comunidade e observar a relação que pode existir entre uma instituição cultural e a população da cidade onde esta está inserida foi escolhido como objeto de estudo o Museu Histórico de Acari. Para a realização da pesquisa foi feita uma observação do acervo da instituição, com o objetivo de analisar a sua ligação com a cultura local, e uma pesquisa junto à população local, com a intenção de perceber qual a relação existente entre ela e a instituição. Essa metodologia foi escolhida por acreditar-se na estreita ligação entre patrimônio e identidade e na percepção de que com a identificação de uma cultura pela população envolvida esta terá sua importância reconhecida pelo visitante.

Patrimônio X Identidade

Até a Segunda Guerra Mundial a ideia de patrimônio se restringia a obras de arte de grande valor ou a monumentos ligados às classes dominantes de uma sociedade. Entretanto, após esse importante momento histórico surgiu o conceito da nouvelle histoire, que passou a propor o estudo, pelas diversas áreas do conhecimento, não só dos grandes acontecimentos políticos, mas também do cotidiano das pessoas. Assim, passou-se a não valorizar apenas a

“história oficial”, obtendo cada vez mais espaço a “história social”. (BARRETO, 2000) Com essa nova tendência foi cada vez mais valorizada a petite histoire, ou história

das minorias. Assim o patrimônio, que antes era considerado como os prédios e utensílios

utilizados pelos nobres, passou a ser definido como “o conjunto de todos os utensílios,

hábitos, usos e costumes, crenças e forma de vida cotidiana de todos os segmentos que

compuseram e compõem a sociedade.” (BARRETO, 2000, P.11)

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No Brasil a relação do conceito de patrimônio com o de reconhecimento e pertencimento ainda está em um processo de formação de uma realidade, pois é evidente a distância entre o patrimônio cultural e a maior parte da população do país. Esse fato se deve à história, que retratou até a década de 1980 as classes menos favorecidas como trabalhadores, mas não como construtores de cultura.

De acordo com o histórico retratado a ideia original de patrimônio é a de representação do passado das nações e sociedades, mas essa função tem a cada momento se expandido. Para o poder público seu papel atual é o de mercadoria cultural, enquanto para parte da sociedade é considerado um fator relevante para a manutenção da qualidade de vida.

(RODRIGUES, 2003)

Mas o patrimônio, reconhecido como legado cultural de uma sociedade, tem uma função maior, ele tem o poder de trazer o conceito de identidade, o qual implica, segundo Barreto (2000, p.46) “o sentimento de pertença a uma comunidade imaginada, cujos membros não se conhecem, mas partilham importantes referencias comuns: uma mesma história, uma mesma tradição.” Essa identidade, mesmo que algumas vezes passe despercebida, tem a responsabilidade essencial de trazer segurança às pessoas. Elas se tornam unidas por laços como os antepassados, um lugar, um costume, ou hábitos. Esses referenciais são fundamentais para que os diversos tipos e estilos de mudanças e informações oferecidas a todo momento não façam com que as pessoas esqueçam quem são e de onde vêm.

O patrimônio significa a materialidade dos diversos aspectos que representam uma sociedade, estando estes ligados a formas peculiares de vida. Por estar ligado a essa peculiaridade o patrimônio possui uma grande importância para a comunidade que o detém, o que está evidente na definição de patrimônio realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) apud Vinhas (2006, p. 54) , para quem o patrimônio significa “o legado que recebemos do passado, vivemos no presente e transmitimos às futuras gerações. Nosso patrimônio cultural e natural é fonte insubstituível de vida e inspiração, nossa pedra de toque, nosso ponto de referência, nossa identidade”.

Tendo o patrimônio tal importância para a preservação da identidade de um povo sua

manutenção tem o poder de garantir a sobrevivência da memória social de uma localidade,

servindo assim como sua estrutura (Vinhas, 2005). Além do papel de testemunho do passado

e de remanescente concreto da memória, o patrimônio permite ainda ao homem a

oportunidade de partilhar uma cultura e perceber o sentimento de grupo e de identidade

coletiva. (RODRIGUES, 2003)

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Dada a sua função, a preservação do legado de um povo se torna um fator de fundamental importância, já que a recuperação da memória coletiva ocasiona o reencontro com os símbolos e com o amor ao local, podendo ocasionar assim um ciclo onde esse sentimento seja sempre realimentado e leve ao conhecimento e à valorização de uma cultura.

Essa relação do homem com o patrimônio está explicitada em um documento divulgado pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) quando se afirma:

Todo homem tem direito ao respeito aos testemunhos autênticos que expressam sua identidade cultural no conjunto da grande família humana; tem direito a conhecer seu patrimônio e o dos outros; tem direito a uma boa utilização do patrimônio; tem direito de participar das decisões que afetam o patrimônio e a valores culturais nele representados; e tem direito de se associar para a defesa e pela valorização do patrimônio. (RODRIGUES, 2003, P. 23)

Para que esses direitos sejam respeitados podem ser utilizadas as mais diversas alternativas. Uma das formas mais comuns de conservação de um legado cultural é a manutenção deste em instituições como o museu, que de acordo com o ICOM

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(apud BARRETTO, 2007, p. 144) é “ uma instituição sem finalidade lucrativa, permanente, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, pesquisa, comunica e expõe, para fins de estudo, educação e fruição, a evidência material do homem e de seu ambiente”

O Museu como Representante da Cultura Local

Os museus são por excelência instituições detentoras do patrimônio cultural. Seu papel fundamental é de conservação, preservação e respeito às gerações futuras. De acordo com Nora apud Oliveira (1995, p. 06) esse tipo de instituição tem como razão fundamental de ser a de “fixar o tempo, bloquear o trabalho do esquecimento, imortalizar a morte, materializar o imaterial, agregando múltiplos sentidos em poucos signos; e o que torna apaixonante é sua aptidão para a metamorfose – a incessante renovação de sua significações”.

Os museus são provenientes do fenômeno social do colecionismo, que surgiu a partir da necessidade do homem de constituir coleções e protegê-las, atribuindo valores à realidade natural e cultural. As primeiras instituições surgiram no século III A.C., em Alexandria, destinadas às classes dominantes e preocupando-se, segundo Lopes (1998), em reunir todo o saber da época em todos os domínios do conhecimento.

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ICOM: International Council of Museuns ou Conselho Internacional de Museus, órgão ligado à

UNESCO que tem como função discutir os rumos da museologia mundial.

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A proliferação e diversificação desse tipo de instituição ocorreram no período do renascimento, quando houve a expansão do mundo ocidental e o grande desenvolvimento das artes, da história e do estudo da natureza. Mas os museus não foram criadas para abrigar todos os públicos, sendo essa visão modificada a partir da Revolução Francesa. Nesse período, com o surgimento dos pensamentos democráticos essas instituições aos poucos foram sendo abertas para o público em geral. Um exemplo dessa mudança de pensamento foi a reformulação do estatuto do Museu Britânico, em 1810, que passou a permitir a entrada de

“qualquer pessoa de aspecto decente”

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no museu.

A partir do século XIX surgiu a preocupação de que os museus assumissem um caráter educativo, então houve uma profunda modificação na configuração desses estabelecimentos, tornando-se assim instituições com caráter científico.

Nesse contexto os museus continuaram sua proliferação e diversificação por todo o mundo, sendo criadas assim as primeiras intituições latino-americanas. Como tudo na época, e principalmente em relação à cultura, o Brasil seguia os passos dos países mais desenvolvidos. Como afirma Lopes (1998, p. 21)

Reflexos da situação pela qual passavam os museus europeus, os latino- americanos foram criados pelos poderes públicos como instituições de pesquisa, como recintos abertos à população culta da época, incentivando por vezes os cursos de nível superior e contituindo-se, com algum atraso, nos primeiros guardiões dos restos da espoliação

No início do séc. XX esse tipo de instituição sofreu com a falta de incentivo, pois as modificações ocasionadas pelas duas guerras mundiais, as transformações sócio-econômicas e a disseminação dos meios de comunicação de massa ocasionaram o esquecimento dessas instituições na Europa.

Na América Latina os museus acompanhavam ao europeus, sobrevivendo com poucas visitações e sem o incentivo necessário da iniciativa privada ou estatal. Essa situação só mudou a partir das décadas de 1940 e 1950, quando sob a influencia de instituições americanas tiveram um período de remodelação e modernização.

Nos anos de 1960 Europa, Estados Unidos e alguns países do terceiro mundo colocaram em discussão questões referentes ao papel desse tipo de instituição na conjuntura da época, o que acarretou em uma reestruturação de políticas culturais que atingiram as áreas de educação e cultura, e consequentemente os museus.

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Herreman apud Lopes, 1998, p. 19

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A partir de 1970 “educação popular”, “desenvolvimento global” e “democracia cultural” tornaram-se palavras comuns no campo da museologia, o que acarretou no lançamento de novas bases e novos movimentos nessa área.

O Museu Histórico de Acari em seu Contexto

Para analisar a ocorrência das funções devidas a uma organização com fins museológicos foi observado o Museu Histórico de Acari, conhecido como Museu do Sertanejo. Essa instituição funciona no município de Acari, na região Seridó do estado do Rio Grande do Norte. A região tem como vegetação predominante a caatinga, com cactos, arbustos e pouca vegetação de grande porte. O clima é quente, sendo a média pluviométrica de 550 mm/ano, com chuvas concentradas nos primeiros meses do ano e insolação média de 3.000 horas de luz solar ao ano. Pelas características descritas é possível perceber que o Seridó encontra-se no conhecido perímetro das secas do Nordeste brasileiro. No estado do RN é a região que sofre maior influência do processo de desertificação. (SEBRAE, 2006)

O Museu Histórico de Acari foi fundado no ano de 1990 com a finalidade de recolher, inventariar, expor e desenvolver estudos dos bens culturais e naturais do Município e de toda a região Seridó. A instituição segue uma temática bem definida, retratando a história do homem sertanejo, tendo como enfoque sua economia e seus costumes. Funciona em um prédio cuja construção data 1878 e que teve como primeira função a de abrigar a Intendência Municipal no pavimento superior e o Quartel de Polícia e cadeia no térreo. Por sua imponência e beleza é considerado monumento nacional, tombado pelo IPHAN

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, em 1964.

No pavimento térreo é retratada a história da fundação do município e a economia da região, sendo as temáticas divididas por salas. Os primeiros cômodos representam a origem e fundação da cidade de Acari, e as principais culturas representativas da economia da região, como o algodão, a pesca, a mineração e a pecuária, sendo esta última uma atividade de grande influência nos hábitos e costumes do homem sertanejo. Esta atividade tem grande importância histórica para a região, pois a sua colonização foi conseqüência da braveza daqueles que ousaram ocupar aquele espaço, sendo o primeiro objetivo do desbravamento dos sertões a criação do gado, para servir como fonte de alimentação e força motriz para os engenhos litorâneos.

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IPAHN: Instituto Histórico e Artístico Nacional

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No museu a importância do trabalho com o gado é retratada através de quadros onde é representado o vaqueiro em seu habitat natural, com sua característica roupa de couro e toda a indumentária. São apresentados ainda os instrumentos essenciais para trabalho do vaqueiro tradicional, como o banquinho de tirar leite, o balde de zinco, e o bizaco de farinha, rapadura e paçoca, levados para alimentação nas longas viagens realizadas quando do deslocamento dos rebanhos bovinos.

Outra importante cultura representada no museu é a da produção do queijo de coalho e de manteiga, queijos típicos da região. O queijo de manteiga é produzido através do cozimento do leite adicionado à manteiga e tem a característica de ser marcado ainda morno com o ferro que tem as iniciais da fábrica ou fazenda onde é produzido, o mesmo símbolo que marca o gado. Já o queijo de coalho é produzido a partir do leite coalhado e é bem menos gorduroso que o de manteiga.

No que diz respeito aos queijos da região são ainda mostradas no museu as técnicas utilizadas para a manutenção do alimento por um longo período, como a alternativa de engomar o queijo para que dure o ano todo, podendo ser fabricado no período de abundância do leite e consumido pela família durante todo o ano.

A cozinha do queijo era, e ainda o é, em trempe. Nela apenas o tacho de cobre era importado. Na fartura do inverno, fazia-se queijo e manteiga de garrafa para comer nos meses de seca. Os queijos eram arrumados em jiraus pendurados aos caibros por arames grossos que perfuravam cuias de cabaça para evitar a descida dos ratos.

(LAMARTINE, 1965, P. 25)

No museu é possível ainda encontrar um retrato dos costumes do homem da região, como o acervo de uma difusora e as formas de comunicação do homem do campo, como o chocalho, o berrante e o búzio. É apresentada ainda a religiosidade do sertanejo e a sua forma de moradia, estando exposta uma típica casa de taipa com os objetos característicos da vida naquela região.

São representados na instituição os principais cômodos de uma típica casa de fazenda.

No quarto de dormir do casal é encontrada uma cama estreita onde a senhora repousava. Seu

marido dormia na rede, pois dessa maneira seria mais fácil fugir à noite. No quarto da

fazenda são encontrados ainda uma foto da família, uma máquina de costura, um oratório

com o santo de devoção do casal, um baú, e um pequeno caixão com dinheiro e jóias (o

dinheiro poderia ser também guardado embaixo do colchão), e um penico de porcelana

importado da Europa para as necessidade noturnas. “de primeiro as ‘necessidades’ eram

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feitas no ‘mato’ e, no oitão das casas, um círculo de faxina de entrada em quebra-corpo, isto é, sinuosa, era reservada às mulheres: a secreta” (LAMARTINE, 1965, P. 25)

Na instituição estão representadas ainda as pessoas ilustres da cidade, além de uma pequena biblioteca, com acervo de autores que retratam a história e a cultura potiguar e sertaneja.

A Relação do Museu com a População

Para que uma localidade possua atratividade turística é importante que seja interessante para a população que ali vive, sendo assim o turismo uma conseqüência. Com uma instituição a ideia é a mesma, se uma organização é visitada pela população local e esta se percebe retratada ali, consequentemente o turista terá interesse em conhecê-la, pois o visitante procura no lugar uma relação de identidade, que é realizada através do contato com o patrimônio da localidade. Não o patrimônio como mercadoria cultural, mas como fator relevante para a qualidade de vida. (RODRIGUES, 2003)

De acordo com Pires (2002), em instituições como museus, aspectos como o volume de visitações é importante, mas mais relevante é saber o que esse espaço tem a oferecer, e principalmente, de que maneira. Então, nessa pesquisa, com o intuito de perceber qual a relação existente entre a população da cidade de Acari e o “seu museu” foi realizada, além da observação do acervo, a aplicação de questionários junto a 50 moradores da cidade, para que fosse possível a percepção da importância da instituição para a comunidade local.

Da população pesquisada, em relação ao nível de escolaridades, 47% das pessoas haviam concluído o nível fundamental, enquanto 50% possuia o ensino médio completo e 3% possuía nível superior completo. Quando questionadas sobre a existência do Museu Histórico de Acari 83% da população pesquisada afirmou ter conhecimento do funcionamento da instituição na cidade. Dessa amostra 92% afirmou já tê-la visitado. Das pessoas que já haviam visitado a instituição 48% já o havia feito 5 vezes ou mais, 43% de 2 a 4 vezes, e 9% apenas uma vez. Esses dados, unidos ao grau de escolaridade dos entrevistados, trazem uma importante conclusão. Apesar de não possuir um nível de escolaridade elevado a população da cidade de Acari possui o hábito de visitar o museu, e consequentemente conhece e valoriza sua história.

No que diz respeito aos motivos que levaram a população a realizar esse número de

visitas ao museu 35% dos entrevistados afirmaram realizá-la simplesmente porque gosta,

enquanto 22 % o fizeram por curiosidade e 22% por motivo de visita escolar. Esses dados

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também são surpreendentes, mas são explicados pelo fato de 96% da população pesquisada afirmar que acredita que o museu traduz a realidade da região onde está inserido, uma prova da relação entre patrimônio e identidade e da importância dessa identidade para a compreensão, apreciação e proteção da cultura local.

No Museu Histórico de Acari são utilizadas como alternativas para manter uma relação próxima com a população local o oferecimento periódico de oficinas de teatro e mamulengo, exposições temáticas, lançamentos de livros e apresentações culturais. Ainda é realizado o projeto o museu vai à escola, onde a coordenação pedagógica da instituição trabalha junto às escolas buscando alunos para desenvolver trabalhos como exposições e oficinas, tendo sempre como apoio fontes de pesquisa. Aos professores da cidade são oferecidos cursos relacionados à história e cultura de região, além de cursos como o de museologia. É possível perceber a importância e eficácia desse tipo de ação quando se observa que 50% da população da cidade que tinha conhecimento sobre a instituição já havia participado de eventos realizados ali.

Um outro fator que chama atenção no Museu Histórico de Acari e que é uma das explicações para a relação existente entre a instituição e a população local é a interpretação do patrimônio ali realizada. É clara entre os guias a relação de identidade e pertencimento àquela realidade e àquela cultura, o que passa a quem realiza a visita uma compreensão sobre a história e cultura da região e um conseqüente respeito, valorização e preservação daquele patrimônio.

A interpretação do Patrimônio é, de acordo com Murta e Goodey (2005, p.13) “o processo de acrescentar valor à experiência do visitante, por meio do fornecimento de informações e representações que realcem e história e as características culturais e ambientais de um lugar”. O sucesso na utilização desse tipo de alternativa proporciona ao visitante a oportunidade de viver uma experiência de qualidade, em que significados sejam revelados, emoções sejam provocadas e a curiosidade seja estimulada a ponto de inspirar novas atitudes.

Conclusão

Ao estudar o Museu Histórico de Acari é possível perceber que para tornar uma

instituição atrativa à visitação não é necessário um grande investimento em tecnologias e

grandes estruturas. Essa instituição é a prova de que através da retratação genuína de uma

cultura e da procura em manter a qualidade da visitação uma instituição cultural consegue

manter uma relação de proximidade com a população interessada, o que é um importante

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fator para que essa instituição seja atrativa aos visitantes advindos das mais diversas localidades.

A importância da identidade local para o turismo está explicitada por Cammarata (2006) quando afirma que o conjunto de significados e símbolos da cultura local lhe dão sentido e são transferidos ao outro, forasteiro, que no destino procura imagens e representações de objetos que lhe satisfaçam a necessidade de ver, sentir e conhecer.

Dessa maneira percebe-se que o Museu Histórico de Acari, apesar de não possuir uma grande estrutura consegue através de alternativas simples se constituir em uma instituição presente na vida da cidade onde está inserido e, apesar de estar localizado em uma região onde o turismo está se desenvolvendo lentamente, devido a questões como infra-estrutura e divulgação, pode se tornar um importante atrativo turístico, pois um dos fatores mais importantes para que essa atratividade exista está sendo atendido, a estreita relação entre a instituição e a comunidade local.

Referências

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Campinas, SP: Papirus, 2000. – (Coleção Turismo)

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BRANDÃO, C. R. O que é Folclore. São Paulo: Brasiliense, 1983 – 3ª ed. (Coleção Primeiros Passos)

CAMMARATA. E. B. El Turismo como Práctica Social y su Papel en la Apropriación y Consolidación del Territorio. In LEMOS, A.M..G, ARROYO, M., SILVEIRA, M.L.

América Latina: cidade, campo e turismo. 1ª Ed. – Buenos Aires: Consejo latinoamericano de Ciências Sociales – CLACSO: São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006.

LAMARTINE, J. Velhos costumes do meu sertão – Natal: Fundação Jose Augusto, 1965

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LOPES, M. M. Museu: uma perspectiva de educação em geologia – dissertação de mestrado – Universidade Estadual de Campinas, 1998

MURTA, S. M.; GOODEY, B. Interpretação do Patrimônio para Visitantes: um quadro conceitual. In MURTA, S. M.; ALBANO, C. (org) Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. – Belo Horizonte, MG:Ed. UFMG. 2002

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PIRES, M. J. Lazer e Turismo Cultural. 2 Ed – Barueri, SP: Ed. Manole, 2002.

RODRIGUES, M. Preservar e Consumir: o patrimônio histórico e o turismo. In FUNARI, P.

P.; PINSKY, J. (org) Turismo e Patrimônio Cultural. – São Paulo: Contexto, 2003. 3ª ed – (Coleção Turismo Contexto)

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In Textos e Contextos/FIB - Centro Universitário da Bahia. Ano 3, n.4(Jul./Dez., 2005) - . –

Salvador: Editora FIB, 2006

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