São Paulo, cidade-mundo
“São Paulo é hoje uma das cidades-mundo do planeta. Cidade com infinita variação
de povos/tribos/padrões/formas e tempos históricos, ligada nos circuitos internacionais
e, ainda, capital do capital e da sociedade civil do país. No entanto, é cidade partida,
cravada de muros visíveis e invisíveis que a esgarçam em guetos e fortalezas.
Estrutura urbana centrada no automóvel, na concentração excludente das
oportunidades de consumo e emprego e na expansão ilimitada de uma periferia
selvagem destinada para os pobres, a cidade está cada vez mais perto do limite da
perda total de qualidade, competitividade e, sobretudo, generosidade (essa incrível
qualidade do espaço público que só as cidades governadas de forma democrática
podem ter).”
Raquel Rolnik
Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Folha de S.Paulo, 15/11/1996, pág. 3
Caderno de Campo – Estudante
15 de Novembro de 2008
Anto
nio Milena (De
doc
/ Ed. A
Introdução
Nesta visita ao centro antigo de São Paulo, vamos conhecer lugares de grande
significação histórica, geográfica, cultural, social e econômica para a cidade. Nosso
roteiro incluirá a Praça da Sé, a Catedral da Sé e seu entorno. Para chegar ao Pateo
do Collegio, passaremos pelo Solar da Marquesa de Santos e, no Pateo, poderemos
ver a várzea do Rio Tamanduateí. No Prédio do Banco Santander (antigo
“Banespão”), teremos uma ampla visão da cidade. O Viaduto do Chá, outro ponto de
referência na cidade, encontra-se sobre o Vale do Anhangabaú e próximo ao Teatro
Municipal, junto à Praça Ramos de Azevedo e ao Shopping Light. Esses serão os
locais onde nos deteremos para realizar observações. As ruas do trajeto também
serão motivo de atenção em nossa caminhada.
As observações constituirão importante fonte de informações para o conhecimento
sobre os locais visitados e devem compor parte fundamental de reflexões e
interpretações posteriores.
O que observar? Os diversos usos do espaço (comercial, residencial, lazer,
transporte, administrativo, institucional, cultural, educacional e via de passagem)
e a ocupação por diferentes grupos sociais. A diversidade é característica do centro
da cidade. Não só social mas também espacial, demográfica, na demanda e no
Carl os Namba (Dedoc / Ed. Abri l)
1. Praça da Sé / Catedral da Sé
A Catedral começou a ser erguida em 1913. Ela foi inaugurada em 1954, como é possível ver na imagem abaixo. Quando as obras foram concluídas, em 1999, respeitando o projeto original, tornou-se um dos principais templos do mundo. A atual Praça é resultado de um projeto paisagístico realizado durante a construção da estação do metrô, na década de 1970. Dois quarteirões foram demolidos, alterando profundamente a paisagem do local. Um dos principais símbolos da cidade, nela se localiza o Marco Zero. O pequeno monumento de mármore em forma hexagonal, feito em 1934, apresenta mapa das estradas que partem de São Paulo com destino a outras regiões do país. Tanto a Catedral quanto a Praça mantêm a tradição de palco de eventos políticos e atos populares relacionados a diferentes momentos da história recente do país, como as manifestações de resistência à ditadura militar, comícios da campanha pelas Diretas-Já e em períodos eleitorais.
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2. Pateo do Collegio / Solar da Marquesa / Várzea do Tamanduateí
Berço da cidade, o Pateo do Collegio nasceu da construção de uma pequena cabana de pau-a-pique, em 25 de janeiro de 1554, onde se reuniam jesuítas, entre eles José de Anchieta e Manoel da
Nóbrega, com o intuito de catequizar os nativos. Após a expulsão dos jesuítas, em 1759, novo uso foi dado ao lugar: tornou-se o Palácio dos Governadores até 1908 (veja a imagem). Nesse período, grande parte do acervo da igreja se perdeu em razão de um desmoronamento.
O local só voltou à sua vocação original entre 1932 e 1953, quando foi transformado em Secretaria da Educação. Em 1954, a Companhia de Jesus iniciou o projeto de reconstrução do colégio, terminado em 1979 com a fundação do Museu Padre Anchieta e da Igreja Beato Anchieta. Com fachada em estilo arquitetônico colonial, ou seiscentista, a nova obra preservou apenas uma parte de parede original feita de taipa de pilão. Constitui, com a fachada neoclássica do Solar da Marquesa de Santos, reformado presumivelmente na segunda metade do século XIX, parte importante do patrimônio histórico do centro.
Com quase 450 anos de muita história para contar, hoje o Pateo é sede de diversos eventos, casamentos, além de abrigar o museu, a cripta de José de Anchieta, a igreja no local onde foi
realizada a primeira missa da cidade, a biblioteca temática e um mirante de onde pode ser observada a várzea do Tamanduateí. Abriga ainda diversos projetos sociais, como o projeto OCA e o projeto EMBU. No terceiro domingo de cada mês há a promoção de atividades culturais gratuitas.
Ao visitar o museu, merece especial atenção a maquete de São Paulo no século XVI. É possível comparar e notar a profunda mudança na ocupação do núcleo histórico original da cidade.
Como um dos principais símbolos da história paulistana, o local ainda preserva a grafia original da língua portuguesa arcaica.
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3. Rua XV de Novembro / Largo de São Bento / Edifício Altino Arantes
Hoje, o centro financeiro da cidade situa-se na região da Avenida Paulista. Mas, no passado, o centro bancário e comercial do município era formado pelas ruas São Bento, XV de Novembro e Direita. A Rua XV de Novembro mantém características de lugar especializado. Nela estão atividades bancárias e administrativas, como a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Mais adiante estão o Largo de São Bento e, nele, o Mosteiro de São Bento, com arquitetura típica do século XVII, em estilo normando-bizantino. O Mosteiro abriga cerca de 40 monges enclausurados, que seguem a tradição beneditina do “ora et labora” (ora e trabalha), somado, no caso dos monges paulistanos, ao “et legere” (e leia), em especial as Sagradas Escrituras. Possui ainda o Colégio, a Faculdade de São Bento e a Basílica de Nossa Senhora da Assunção. Nela acontecem, todos os dias, missas tradicionais com canto gregoriano acompanhado pela sonoridade grandiosa de um órgão alemão.
Na década de 1980, o Prédio do Banespa (Banco do Estado de São Paulo), atual Banco Santander, recebeu o nome de Edifício Altino Arantes, nome do primeiro presidente do banco. Construído a partir de 1939, localizado em esquina da Rua XV de Novembro, tornou-se símbolo da era progressista que atraiu milhares de migrantes para a cidade. Seu projeto inicial foi alterado para fazê-lo à semelhança do Empire State Building, em Nova Iorque. Com 161,22 metros de altura, proporciona perspectivas impressionantes. Do alto do mirante o raio de visão é de 360 graus e atinge 40 quilômetros. É possível ver a Serra do Mar, o Pico do Jaraguá, os prédios da Avenida Paulista e as principais construções do centro.
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4. Viaduto do Chá / Vale do Anhangabaú / Teatro Municipal /
Shopping Light
O Viaduto do Chá é o primeiro viaduto de São Paulo. Tem esse nome porque havia no Vale do Anhangabaú uma extensa plantação de chá. Com estrutura metálica vinda da Alemanha, o viaduto foi inaugurado com uma grande festa em 1892. Ligava a Rua Direita (Centro Velho) à Rua do Chá, atual Barão de Itapetininga (Centro Novo). Demolido em 1938, deu lugar ao atual viaduto, construído com concreto armado e com o dobro da largura. Limita, de um lado, o Vale do Anhangabaú, que recebeu esse nome do rio que corre no fundo do vale, hoje canalizado. Anhangabaú, em tupi, significa rio ou água do mau espírito.
O centro tem sido foco de projetos da prefeitura, buscando reurbanizar e revitalizar a região. Nas décadas de 1980 e 1990, a prefeitura promoveu mudanças que resultaram no projeto atual, que trouxe uma nova paisagem, diferente do passado (veja imagem).
Com desenhos geométricos, tanto nos pisos como nos recantos, jardins, obras de arte e nos chafarizes, o Vale é hoje um cartão-postal do centro da cidade. Ampla área pública, limitada de outro lado pelo Viaduto Santa Ifigênia, o lugar é utilizado para eventos diversificados, incluindo atrações da Virada Cultural, maratona paulistana de 24 horas de cultura. É um ponto de lazer, esporte e entretenimento aberto a todos. Recebeu em 16 de abril de 1984 um dos maiores comícios da campanha pelas Diretas-Já, que reuniu cerca de 1,5 milhão de pessoas.
A Praça Ramos de Azevedo recebeu esse nome em homenagem ao arquiteto que participou de várias obras na cidade, feitas no início do século passado, entre elas o Teatro Municipal. A cidade ganhou o teatro em 1911, celebrizado como sede de espetáculos operísticos para entretenimento elegante da elite paulistana. No começo do século XX, a cidade concentrava a burguesia brasileira, da qual fazia parte um bom número de imigrantes italianos, admiradores de ópera. Grande parte dela construiu sua riqueza com as lavouras e a exportação de café. Essa elite pedia pela criação de um teatro com estrutura semelhante à dos melhores teatros da Europa, capaz de receber grandes espetáculos. Idealizado nos moldes do Teatro Ópera de Paris, em estilo arquitetônico onde se notam
traços renascentistas e barrocos do século XVII, tornou-se centro de referência cultural. Hoje, traz programação cultural variada, de apresentações de concertos de música clássica, óperas e dança a shows de música popular. Durante a Virada Cultural, abriga vários shows gratuitos. Junto à esquina com o Viaduto do Chá encontra-se o Edifício Alexandre Mackenzie (Shopping Light), construído entre 1925 e 1929 com características arquitetônicas do estilo renascentista francês. Originalmente foi sede da São Paulo Tramway Light and Power Company Limited, companhia que administrava serviços de eletricidade para São Paulo. Atualmente pertence à Eletropaulo, companhia distribuidora de energia elétrica para o estado de São Paulo. Foi tombado pelo Patrimônio Histórico, em 1984, e passou a ser utilizado como shopping center.