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POLINEUROPATIA SIMÉTRICA DISTAL NO PACIENTE DIABÉTICO: ESTUDO DE PREVALÊNCIA E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO EM UM AMBULATÓRIO MÉDICO DE PALHOÇA, SC

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POLINEUROPATIA SIMÉTRICA DISTAL NO PACIENTE DIABÉTICO: ESTUDO DE PREVALÊNCIA E PERFIL EPIDEMIOLÓGICO EM UM AMBULATÓRIO MÉDICO

DE PALHOÇA, SC

SYMMETRICAL DISTAL POLYNEUROPATHY IN DIABETIC PATIENT: STUDY OF PREVALENCE AND EPIDEMIOLOGICAL PROFILE IN A MEDICAL CLINIC IN

PALHOÇA, SC

Julia Gabriela Zapelini1 Amely Pereira Silva Balthazar2 Guilheme Asmar Alencar3 Franciele Cascaes da Silva4 Felipe de Marco Bernardes5

1Acadêmica de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: juliazapelini2@gmail.com

2 Professora da disciplina de Endocrinologia da Universidade do Sul de Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina,

Brasil. E-mail: amelyps@hotmail.com

3 Professor da disciplina de Endocrinologia da Universidade do Sul de Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina,

Brasil. E-mail: guilherme. alencar.endocrino@gmail.com

4 Professora da disciplina de Atenção Primária a Saúde I e II, Trabalho de Conclusão de Curso I, II e III da

Universidade do Sul de Santa Catarina. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: francascaes@gmail.com

5 Acadêmico de Medicina da Universidade do Sul de Santa Catarina. Florianopolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail:

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RESUMO

Objetivo: identificar a prevalência de polineuropatia distal simétrica em pacientes diabéticos e o seu perfil epidemiológico em um ambulatório de especialidades médicas. Métodos: foram incluídos na pesquisa 137 pacientes, de ambos os sexos, com 18 anos ou mais, cujo diagnóstico de diabetes constava em prontuário. A esses pacientes foi aplicado o Instrumento de Classificação de Neuropatia de Michigan (MNSI) e, em conjunto, houve a visitação aos seus prontuários para preenchimento de dados clínicos e epidemiológicos. Os dados foram tabulados no Ex cel e analisados no SPSS (Software Statistical Package for Social Sciences 18.0). Resultados: a prevalência de polineuropatia distal simétrica foi de 38% (52 pessoas). Entre essas, 35 eram mulheres (37,3%); 3, tabagistas (5,8%); 46 hipertensos (88,5%); 51 com diabetes tipo 2 (98,1%); 14 com diagnóstico prévio de neuropatia (26,9%) e 14 com hipotireoidismo (26,9%). Em relação ao tratamento, 39 utilizavam antidiabéticos orais (75%), 39, metformina (75%), 11, glibenclamida (21,2%), 6, outro antidiabético oral ou injetável (11,5%) e 26, insulina (50%). A média de idade foi de 66,3 anos; a média de tempo de diagnóstico, 14 anos, e a média de hemoglobina glicada foi de 7,8%. Conclusão: os resultados apresentados mostraram uma prevalência de polineuropatia distal simétrica de 38% através do Instrumento de Classificação de Neuropatia de Michigan, sendo que muitos deles desconheciam esse diagnóstico. A maioria era diabético tipo 2, hipertenso, obeso, e com mais de 10 anos de doença.

Palavras-chave: neuropatia periférica, polineuropatia distal simétrica, Instrumento de Classificação de Neuropatia de Michigan (MNSI), complicações microvasculares.

ABSTRACT

Objective Identify the prevalence of symmetrical distal polyneuroneuropathy in diabetic patients

and epidemiological profile, in an outpatient clinic of medical specialties Methods The study included 137 patients, of both genders, aged 18 years or older, patients with diabetes in medical records. In these patients was applied the Michigan Neuropathy Classification Instrument (MNSI) and along that a visit to medical records to fill out clinical and epidemiological data on patients was made. The data were tabulated in Excel and analyzed in Software Statistical Package for the Social Sciences 18.0 (SPSS) Results The prevalence of symmetrical distal polyneuropathy was 38% (52 people). Among these 35 women (37.3%), 3 smokers (5,8%), 46 with high blood pressure (88.5%), 51 with type 2 diabetes (98.1%), 14 with a previous diagnosis of neuropathy (26.9% ), 14 with hypothyroidism (26.9%). Regarding the treatment in use: 39 oral antidiabetics (75%), 39 metformin (75%), 11 glibenclamide (21.2%), 6 other oral or injectable antidiabetics (11.5%) and 26 insulin (50% ). The mean age was 66.3 years, the mean time of diabetes was 14

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years and the mean glycated hemoglobin was 7.8%. Conclusion The results presented show a prevalence of PNDS of 38% through the Michigan neuropathy classification instrument, most of which are unknown in this diagnosis. The majority were type 2 diabetics, hypertensive, obese and with more than 10 years of illness.

Keywords: peripheral neuropathy, symmetrical distal polyneuropathy, Michigan Neuropathy Screening Instrument (MNSI), microvascular complications.

INTRODUÇÃO

A neuropatia diabética se configura como uma das complicações associadas ao diabetes melito com maior prevalência, podendo acometer até 50% da população diabética(1). A fisiopatologia dessa enfermidade parece envolver o stress oxidativo e metabólitos intermediários da glicose, que, acumulados, levam à lesão nervosa(2,3). Anormalidades nas células de Schwann(4) e danos em outras vias metabólicasestão também envolvidos(5); entretanto; a verdadeira etiologia ainda permanece desconhecida(6). O acometimento dos nervos no diabetes se caracteriza por diversas manifestações, que vão desde a neuropatia autonômica, poliradiculopatias torácica e lombar, mononeuropatias (acometendo principalmente nervos mediano e o culomotor) até a polineuropatia distal simétrica – PNDS (a mais comum)(1).

A PNDS indica o comprometimento de fibras nervosas grossas e finas em um padrão chamado bota-luva, pois acomete as extremidades(7). A manifestação inicial é dor e parestesia, geralmente em membros inferiores(8). Cabe ressaltar que até 50% dos pacientes com PNDS são assintomáticos e que o rastreamento dessa complicação em todos os diabéticos permite o diagnóstico precoce e uma intervenção adequada(1). O diagnóstico também nos permite estar mais atentos a esses pacientes, evitando as complicações da neuropatia, como as úlceras e a necessidade de amputações(9,10).

De acordo com a Diretriz da Sociedade Americana de Diabetes (ADA, 2017), o screening deve ser feito em todos os pacientes com diabetes tipo 2 no momento do diagnóstico; nos pacientes com diabetes tipo 1 é sugerido que o procedimento seja feito cinco anos após o diagnóstico, e nos pacientes com pré-diabetes, somente mediante a presença de sintomas. O diagnóstico de PNDS é principalmente clínico. Uma combinação de sintomatologia típica e perda sensitiva distal na presença de diabetes é altamente sugestiva de PNDS e, na grande maioria das vezes, dispensa a realização de exames complementares, como a eletroneuromiografia ou a

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biopsia neural(1). Uma das formas de protocolar esses pacientes como tendo ou não neuropatia é por meio do Instrumento de Classificação de Neuropatia de Michigan (MNSI), utilizado em grandes estudos, como o DCCT/EDIC. O instrumento se constitui de duas partes: um questionário respondido pelo paciente e o exame físico dos pés(11,12,13).

Considerando que os custos relacionados ao atendimento do paciente diabético não residem somente na manutenção do bom controle glicêmico, mas também no screening e tratamento das complicações, destaca-se a importância de se saber a prevalência e o perfil epidemiológico dos pacientes com PNDS. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo identificar a prevalência de PNDS e o perfil epidemiológico desses pacientes em um ambulatório de especialidades médicas.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo observacional transversal descritivo a partir de dados primários e secundários. O estudo foi realizado no ambulatório médico de especialidades da cidade de Palhoça, SC. Esse ambulatório é um serviço de referência para consultas de média complexidade nas diversas especialidades. O ambulatório é uma parceria da prefeitura de Palhoça, SC, com a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). O cálculo do tamanho de amostra foi realizado considerando os seguintes parâmetros: estimar a prevalência de 20-50% de neuropatia diabética com erro tolerado de ±5%, intervalo de confiança de 95% e poder de 80%. Dessa forma, o tamanho necessário de amostra foi igual a 150. Para obtê-la utilizou-se uma amostragem por conveniência e foram incluídos 137 pacientes maiores de 18 anos, de ambos os sexos, que apresentavam diabetes melito, cuja taxa de resposta foi correspondente a 91,33%.

Após aprovação do CEP e autorização do guardião legal dos prontuários, os pacientes, nos quais nos prontuários constava o diagnóstico de diabetes, eram convidados a participar da pesquisa. Pacientes que aceitassem participar, preenchiam e assinavam o TCLE.

Após o preenchimento e assentimento do TCLE, o pesquisador estava apto a preencher as informações adicionais contidas no prontuário. O instrumento de coleta de dados do prontuário contemplava as variáveis: sexo (masculino e feminino); idade (em anos); valor da hemoglobina glicada (em porcentagem); presença de hipertensão arterial sistêmica (sim ou não); tabagismo (sim ou não); hipotireoidismo (sim ou não); tipo de diabetes (tipo 1, tipo 2 ou outro); medicações em uso (metformina, glibenclamida, insulina e outros); índice de massa corporal (kg/m2) e diagnóstico prévio de PNDS. Após a compilação das informações, o pesquisador dava início à aplicação do Instrumento de Classificação de Neuropatia de Michigan (MNSI), que visava a diagnosticar ou não a PNDS. O MNSI é validado e adaptado para o português do Brasil (Oliveira et al., 2016)(13).

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O instrumento divide-se em 2 partes; uma delas contém 15 perguntas dicotômicas (sim ou não) que são respondidas pelo paciente, e a outra compreende uma avaliação física dos pés. Para obtenção do escore, realiza-se a soma das pontuações entre as respostas positivas (sim) nas questões 1-3, 5-6, 8-9, 11-12, 14-15, e negativas nos itens 7 e 13, atribuindo um ponto a cada uma. Itens 4 e 10 são perguntas de avaliação do sistema circulatório e da medida de astenia geral e não pontuam, pois são consideradas neutras. O exame físico dos pés corresponde a cinco itens a serem observados: inspeção dos pés; presença de ulceração; reflexos do tornozelo; percepção de vibração no hálux e monofilamento. Todos os itens, exceto a presença ou não de ulceração, pontuam 0, 0;5, ou 1, de acordo com a intensidade das ocorrências pesquisadas (presente, diminuído ou ausente). A presença de ulceração pontua para sim ou não (1 ou 0). A somatória dos achados do exame físico com as perguntas dicotômicas direcionadas ao paciente resultavam em um escore que, quando maior que 8, sugere fortemente o diagnóstico de PNDS. Após a coleta, os dados foram tabulados no software Windows Excel, e sua análise foi feita no software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 18.0. Os dados qualitativos foram apresentados na forma de frequência simples e relativa, e os dados quantitativos, demonstrados em medidas de tendência central (média e desvio padrão).

A pesquisa foi realizada de acordo com as normas do Conselho Nacional de Saúde (Resolução número 466/12, de 12 de dezembro de 2012), que incorpora referenciais da bioética como beneficência, não maleficência, justiça, equidade e autonomia. O trabalho foi submetido ao comitê de ética da instituição (Unisul), e, somente após sua aprovação, foi iniciado o processo de coleta de dados.

RESULTADOS

As características demográficas dos participantes do estudo encontram-se na Tabela 1. Verificou-se maior proporção de participantes do sexo feminino (70,8%); não tabagistas (91,2%); portadores de hipertensão arterial sistêmica (83,9%); portadores de diabetes tipo 2 (98,5%); sem diagnóstico prévio de neuropatia (89,8%); não diagnosticados com hipotireoidismo (76,6%); usuários de anti-diabéticos orais (86,1%); usuários de meformina (85,4%); não usuários de glibenclamida (77,4%); não usuários de outro antidiabético oral/injetável (86,1%) e não usuários de insulina (67,2%). A média de idade foi de 64,8 anos; a do IMC foi 31,0 kg/m2; a do tempo de diagnóstico de diabetes melito foi de 134 meses (± 11 anos) e a média de hemoglobina glicada foi de 7,56% (Tabela 1).

A prevalência de PNDS, de acordo com o Instrumento de Michigan, escore maior ou igual a 8, revelou ser de 38% (52 pessoas) na nossa população de 137 pacientes diabéticos. Nessa população, sob forte índice de suspeição para polineuropatia distal simétrica, 67,3% dos pacientes eram do sexo feminino, 6% eram tabagistas, 88,5%, hipertensos, 98,1% possuíam diabetes tipo

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2, 26,9% tinham hipotireoidismo, 26,9% possuíam diagnóstico prévio de neuropatia periférica, 75% faziam uso de antidiabéticos (75% com metformina; 21,2% com glibenclamida; 11,5% com outro antidiabético oral ou injetável) e 50% utilizavam insulina. Esses pacientes também apresentaram média de idade de 66,3 anos, tempo médio de diagnóstico de diabetes de 167,6 meses (±14 anos), IMC médio de 32,2 kg/m2 e hemoglobina glicada média de 7,8% (Tabela 2).

DISCUSSÃO

O objetivo principal deste estudo foi identificar a prevalência de neuropatia periférica e o perfil epidemiológico dos pacientes em um ambulatório de especialidades médicas. Foi possível demonstrar através de uma ferramenta validada que 38% dos participantes apresentaram PNDS. Diferentes estudos revelaram que a prevalência da mesma varia entre 20% e 50%(1,7,). O estudo de Toscano et al. demonstrou que, em 2014, no Brasil, foram gastos aproximadamente R$ 630 milhões com cuidados referentes a complicações do pé diabético e da PNDS(14). Segundo o posicionamento da ADA 2017 sobre neuropatia diabética, até 50% dos pacientes com PNDS são assintomáticos(1), daí a importância de uma busca ativa em todos os pacientes diabéticos.

Outra questão significativa referente à neuropatia diabética é que, diferentemente de outras complicações, como a nefropatia e a retinopatia, o comprometimento dos nervos é pouco investigado(15). Parte disso se deve ao fato de que não existem exames laboratoriais ou de imagem que facilitem o diagnóstico de doença neuropática. Logo, o diagnóstico é essencialmente clínico, dependente da disponibilidade do examinador em observar adequadamente os pés do paciente. É uma atitude rápida e eficiente para que esses pacientes possam ser triados e recebam orientação adequada. Como este estudo demonstrou, 10,2% dos pacientes afirmaram já ter recebido o diagnóstico de neuropatia; entretanto, após a aplicação do MNSI, foi constatada uma prevalência de 38% de PNDS, ou seja, havia um subdiagnóstico dessa condição nesses pacientes, fazendo com que muitos deles não recebessem orientação para prevenção de sérios agravos, como a amputação de membros inferiores. Em 2019, estimou-se que 4,2 milhões de mortes ocorreram em decorrência do diabetes e suas complicações, e a neuropatia diabética se con stitui uma dessas complicações, juntamente com a amputação de membros(16).

Sobre o perfil epidemiológico, a maioria dos pacientes era portador de diabetes tipo 2, sabidamente o tipo de maior prevalência na população mundial. Como bem mostrou a Federação Internacional de Diabetes, em sua publicação de 2019, os diabéticos do tipo 2 representavam cerca de 90% de um total de 463 milhões de diabéticos no mundo(16).

De maneira geral, observou-se que os participantes apresentavam altas taxas de hipertensão e índice de massa corporal elevado. Segundo a Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes 2019/2020, cerca de 60% dos pacientes com diabetes tipo 2 possuem hipertensão arterial associada ao diabetes melito tipo 2(17). Outro estudo, de 2013, publicado por Rzewuska et al. também ressaltou que entre os indivíduos que possuem diabetes, 26,6% apresentavam uma

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comorbidade associada; 23,2%, duas, e 32,%, três ou mais comorbidades associadas(18). Selvajarah et al., em um estudo de revisão de 2019, salientou que fatores de risco adicionais, como excesso de peso e hipertensão, podem contribuir para o aparecimento de PNDS em pacientes com diabetes tipo 2(19). Os nossos achados se equivalem aos da literatura quando constatada a elevada prevalência de hipertensão e excesso de peso, que podem ter contribuído para a expressiva ocorrência de PNDS.

Os participantes deste estudo apresentaram uma média elevada de tempo de doença, de aproximadamente 11±9,4 anos na população geral, e 14±10 anos naqueles com forte suspeição para PNDS. No estudo italiano conduzido por Salvotelli et al. (The verona diabetic foot screening program), em que foi também utilizado o MNSI como instrumento de screening, o tempo de diagnóstico de diabetes melito ficou em 12±10 anos na população geral, e de 13±10 anos na população com neuropatia(20). O estudo Brazupa, composto por 1.455 pacientes de 19 diferentes centros, na sua população geral encontrou um tempo de doença de 13,2±9,4 anos; já nos pacientes com úlceras, o tempo de doença mostrou-se mais elevado, sendo de 17,2±9,9 anos(21). O tempo de doença é, sem dúvida, um importante fator de risco para complicações crônicas em geral, entre elas, a neuropatia e a formação de úlceras.

A média de hemoglobina glicada dos nossos pacientes foi de 7,56%, revelando um valor acima da meta desejada de 7%, segundo a SBD(17). Vários estudos falharam em demonstrar que o controle glicêmico intensivo seria eficaz na prevenção da PNDS em pacientes com diabetes tipo 2. Outros fatores como tabagismo, altura, obesidade e hipertensão parecem estar implicados no aparecimento dessa complicação. No estudo Accord, de 2010, com 10.251 pacientes, o grupo com controle glicêmico intensivo não apresentou redução de desfechos microvasculares (22). A revisão realizada por Callaghan et al., em 2012, também demonstra fraca influência do controle glicêmico para o surgimento de neuropatia no diabético tipo 2(23). O nosso estudo não tinha o objetivo de avaliar a relação do controle glicêmico no aparecimento de PNDS.

Em relação ao tratamento do diabetes, 32,8% da nossa população geral e 50% daqueles com diagnóstico de PNDS faziam uso de insulina. O estudo UKPDS mostrou que, com mais de 10 anos de doença, 90% dos diabéticos necessitaram de insulina(24). Sabemos que nos dias de hoje, diferentemente dos anos 1990, em que foi publicado o UKPDS, dispomos de um arsenal terapêutico maior que torna esta realidade diferente. Porém, os pacientes estudados são oriundos do SUS, que dispõe de poucos recursos e, portanto, a insulina se torna uma opção eficaz no controle glicêmico. O uso de insulina também coincide com o tempo elevado da doença, que aumenta a chance de falência pancreática.

O instrumento de screening deste estudo é um dos mais utilizados para fins de rastreio de neuropatia periférica. O Instrumento de Classificação de Neuropatia de Michigan (MNSI) foi traduzido e adaptado para o português brasileiro por Oliveira et al. em 2016(13). O MNSI possui duas partes; a primeira envolve sintomas clínicos a serem respondidos pelo próprio paciente, e a

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segunda, um exame neurológico dos pés a ser feito por um profissional treinado. Destaca-se como ponto forte do estudo a obtenção de dados assegurada através de uma ferramenta validada para screening de neuropatia diabética. Para confirmar a presença da PNDS, não basta a pesquisa dos sintomas e verificação dos sinais compatíveis com o diagnóstico; é necessário excluir outras causas de neuropatia. Esse é ponto fraco da nossa pesquisa; outras causas prováveis, como o alcoolismo, não foram contempladas.

Novas técnicas vêm sendo desenvolvidas para que a identificação de neuropatia diabética seja mais precisa. A microscopia confocal da córnea é uma técnica não invasiva que vem sendo estudada para se detectar alterações nervosas previamente às disfunções sensoriais e motoras(15). Entretanto, essa é uma realidade ainda muito distante e dispendiosa de screening, que necessita de mais estudos para aplicação em larga escala. Já o exame físico dos pés se mostra efetivo e de baixo custo.

Apesar de ser uma ferramenta disponível e acessível, o exame físico dos pés é muitas vezes negligenciado, impactando diretamente no cuidado desses pacientes e na incidência de complicações, como úlceras e amputações. O diagnóstico atual de PNDS é primariamente clínico e deve ser feito através de uma ferramenta com eficácia demonstrada e que possa ser adotada por todos os profissionais de uma mesma instituição. Somente com a padronização do método de diagnóstico poderemos saber a real prevalência dessa complicação.

CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo mostraram que a prevalência de PNDS na nossa população foi bastante superior àquela previamente notificada. Através de uma ferramenta validada, encontramos 38% de acometidos, diferentemente dos 10,2% registrados no prontuário e/ou questionário. Os pacientes com PNDS, em sua maioria, possuíam diabetes tipo 2, apresentavam hipertensão e possuíam IMC elevado. Esses achados confirmam a necessidade da busca ativa pela neuropatia, com objetivo de prevenir a evolução e suas complicações desastrosas. Esses achados devem ser noticiados aos profissionais envolvidos no atendimento dos pacientes diabéticos como forma de motivar o exame rotineiro dos pés.

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TABELAS

Tabela 1 – Características demográficas e clínicas dos participantes do estudo (n=137). Características

Idade em anos, média (DP) 64,8 (10,3 )

IMC em kg, média (DP) 31,0 (5,9 )

Tempo de diagnóstico de DM em meses, média (DP) 134,67 (113,4) HbA1C em %, média (DP) 7,56 (1,70 ) Sexo, n (%) Masculino 40 (29,2) Feminino 97 (70,8) Tabagismo, n (%) Sim 10 (7,3) Não 125 (91,2) Não consta 2 (1,5) Hipertensão, n (%) Sim Não 115 (83,9) 22 (16,1) Classificação da DM, n (%) Tipo 1 1 (0,7) Tipo 2 135 (98,5) Outra 1 (0,7) Diagnóstico prévio de PNDS, n (%) Sim 14 (10,2) Não 123 (89,8) Hipotireoidismo, n (%) Sim 32 (23,4) Não 105 (76,6)

Uso geral de antidiabéticos orais, n (%)

Sim 118 (86,1)

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Uso de metformina, n (%) Sim 117 (85,4) Não 20 (14,6) Uso de Glibenclamida, n (%) Sim 31 (22,6) Não 106 (77,4)

Uso de outro antidiabético oral ou injetável não insulínico, n (%)

Sim 19 (13,9)

Não 118 (86,1)

Uso de insulina, n (%)

Sim 45 (32,8)

Não 92 (67,2)

Legenda: DP: desvio padrão; IMC: índice de massa corporal; kg: kilograma; DM: diabetes melito; HbA1C: hemoglobina glicada; n: frequência absoluta; %: frequência relativa; PNDS: polineuropatia distal simétrica.

Fonte: elaborada pelos autores (2020).

Tabela 2 – Características demográficas e clínicas dos participantes com forte suspeição para polineuropatia distal simétrica (n=52)

Características

Idade em anos, média (DP) 66,3 (7,7)

IMC em kg, média (DP) 32,2 (7,1)

Tempo de diagnóstico de DM em meses, média (DP) 167,6(120,8)

HbA1C em %, média (DP) 7,89 (1,87) Sexo, n (%) Masculino 17 (32,7) Feminino 35 (67,3) Tabagismo, n (%) Sim 3 (5,8) Não 47 (90,4) Não consta 2 (3,8) Hipertensão, n (%) Sim Não 46 (88,5) 6 (11,5) Classificação da DM, n (%) Tipo 1 0 Tipo 2 51 (98,1) Outra 1 (1,9) Diagnóstico prévio de PNDS, n (%) Sim 14 (26,9) Não 38 (73,1) Hipotireoidismo, n (%) Sim 14 (26,9) Não 38 (73,1)

Uso geral de antidiabéticos orais, n (%)

Sim 39 (75%)

Não 13 (25%)

Uso de metformina, n (%)

Sim 39 (75%)

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Uso de Glibenclamida, n (%)

Sim 11 (21,2)

Não 41 (78,8)

Uso de outro antidiabético oral ou injetável não insulínico, n (%)

Sim 6 (11,5)

Não 46 (88,5)

Uso de insulina, n (%)

Sim 26 (50,0)

Não 26 (50,0)

Legenda: DP: desvio padrão; IM:, índice de massa corporal; kg: kilograma; DM: diabetes melito; HbA1C: hemoglobina glicada; n: frequência absoluta; %: frequência relativa; PNDS: polineuropatia distal simétrica.

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