• Nenhum resultado encontrado

Edilberto de Oliveira Barbosa A IDEALIZAÇÃO DO HERÓI EM AS MINAS DE PRATA, DE JOSÉ DE ALENCAR, SOB O ENFOQUE DA GRAMÁTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "Edilberto de Oliveira Barbosa A IDEALIZAÇÃO DO HERÓI EM AS MINAS DE PRATA, DE JOSÉ DE ALENCAR, SOB O ENFOQUE DA GRAMÁTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL"

Copied!
107
0
0

Texto

(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC SP

Edilberto de Oliveira Barbosa

A IDEALIZAÇÃO DO HERÓI EM , DE JOSÉ DE ALENCAR,

SOB O ENFOQUE DA GRAMÁTICA SISTÊMICO FUNCIONAL

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM

(2)

Edilberto de Oliveira Barbosa

A IDEALIZAÇÃO DO HERÓI EM , DE JOSÉ DE ALENCAR,

SOB O ENFOQUE DA GRAMÁTICA SISTÊMICO FUNCIONAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem.

Orientadora: Profa. Dra. Sumiko Nishitani Ikeda.

(3)

Edilberto de Oliveira Barbosa

A IDEALIZAÇÃO DO HERÓI EM , DE JOSÉ DE ALENCAR,

SOB O ENFOQUE DA GRAMÁTICA SISTÊMICO FUNCIONAL

Banca Examinadora:

Profa. Dra. Sumiko Nishitani Ikeda Orientadora

__________________________________________

__________________________________________

__________________________________________

São Paulo, ____ de ___________ de 2015.

(4)

A Raquel, minha esposa. “Por cujo amor escalei a muralha”.

A Lívia, minha filha. “E pareceu me, então, que ao esplendor Do dia se juntava um outro dia”.

(5)

AGRADECIMENTOS

Àquele com quem estive Em todas as tempestades,

E fez que eu delas saísse Mais seu, mais são, e melhor.

À professora Sumiko, minha orientadora, por me aproximar da linguística e pela confiança no meu trabalho, que tornou possível com a sua doação intelectual.

Ao CNpq, por financiar esta pesquisa.

Ao LAEL PUC, seus professores e funcionários, em especial Maria Lúcia e Márcia, pela dedicação e apoio constantes.

Aos colegas mestrandos, doutorandos e pós doutorandos, em especial Ricardo, Viviane, Beth e Piedade, pelos ensinamentos e agradável companhia.

Às professoras: Dra. Elizabeth Del Nero Sobrinha Luft e Dra. Flamínia Manzano Moreira Lodovici, que gentilmente aceitaram participar das Bancas de Qualificação e de Defesa desta dissertação, pela leitura cuidadosa e comentários valiosos.

A Leila Barbara, de quem serei sempre aluno atento e agradecido, por suas aulas fundamentais.

A dona Maria Pereira ( ) e sua filha Aldenora, minhas primeiras professoras, no Externato Nossa Senhora Santana, pelo bem que ficou na memória.

A Antônio Dimas, Flávio Aguiar, João Adolfo Hansen, Alcides Villaça, José Miguel Wisnik e Jaime Ginzburg, por me aproximarem da literatura do Brasil.

Ao SENAI SP, pelo apoio material e espaço para desenvolver o meu trabalho. Aos meus alunos e colegas de trabalho no SENAI SP, pelo esforço compartilhado de melhorar a cada dia.

Aos meus pais, Francisco Onete e Helena, sempre comigo.

À minha família: Neném, Sinsinho, Shirley, Mateus, Samuel, Naldinho, Cláudia, Laurinha e Lena, pela alegria de sua presença.

(6)

(NASCIMENTO, 2012)

(7)

RESUMO

O objetivo desta dissertação de mestrado é o exame linguístico, de cunho crítico,

do processo de idealização do herói do romance , de José de

Alencar. É reconhecida a importância da língua no processo de construção da obra literária, mas, na prática, a língua tem recebido um tratamento relativamente pequeno,

justamente em uma área em que tem papel essencial. , obra

publicada em meados do século XIX, no contexto da independência política do Brasil, como parte de um projeto cultural e político, revela esforços do seu autor para construir um herói que represente valores ideais para a comunidade brasileira nascente. A idealização diz respeito ao uso de certas escolhas linguísticas culturalmente contextualizadas, mostrando certos fatos ao mesmo tempo em que se ocultam outros, como forma de orientar a construção de sentido por parte dos leitores; será examinada linguisticamente em termos da Avaliatividade, um sistema que trata do posicionamento do escritor em relação à mensagem e ao interlocutor, em termos de: Afeto, Julgamento ético de pessoas e Apreciação estética de objetos, proposto pela Gramática Sistêmico Funcional (GSF). Essa teoria permite fazer a relação entre a microestrutura linguística do texto alencariano com a macroestrutura do discurso, em que se encontra a idealização, e assim o faz apoiando se nos três significados simultâneos construídos pela linguagem: a informação, a interação e a construção do texto. A GSF inclui em seu bojo a Linguística Crítica, para a qual, aspecto da estrutura linguística carrega significação ideológica. A pesquisa responde às seguintes perguntas: (a) Como se

realiza a idealização do herói em ? (b) Que escolhas léxico

gramaticais são feitas, em termos das Metafunções Ideacional e Interpessoal para expressar essa idealização? Os resultados mostram a realização da idealização pela construção, por meio de escolhas léxico gramaticais, de um herói que personifica valores ideais: amor, religiosidade e fidalguia de caráter; e pela proposição desses valores à comunidade, por meio do vínculo que se estabelece entre ela e o herói.

Palavras chave: Idealização no discurso. Gramática Sistêmico Funcional. . José de Alencar.

(8)

ABSTRACT

The main purpose of this work is the critical linguistic examination of the hero idealization process in the novel written by José de Alencar. The importance of language in a literary work building process is well recognized but, in practice, the language has received relatively little treatment in an area that plays an essential role. , work published in mid nineteenth century, in the context of the political independence of Brazil, as part of a cultural and political project, reveals its author's efforts to build a hero that represents optimal values for Brazilian developing community. The idealization concerns the use of certain culturally contextualized linguistic choices showing some facts while hiding others in order to guide the reader’s construction of meaning. It will be linguistically examined in terms of Appraisal, a system that deals with the writer's position in relation to the message and to the caller considering: Affection, Ethical Judgment of People and Assessment Aesthetic of Objects, proposed by Systemic Functional Grammar (SFG). This theory allows the relationship between linguistic microstructure of Alencar’s text and the macro structure of the speech, in which idealization appears, and is supported by the three simultaneous meanings constructed by language: information, interaction, and text construction. The SFG includes the Critical Linguistics for which any aspect of linguistic structure carries ideological significance. The study answers the following questions: (a) how does the

idealization of the hero in is carried out? (b) What lexicogrammatical

choices are made in terms of Ideational and Interpersonal Metafunctions to express this idealization? Results show the idealization by the construction, through lexical and grammatical choices, of a hero that personifies ideal values: love, piety, and nobility of character; and the proposition of these values to the community through the bond established between the community and the hero.

Keywords: Speech idealization. Systemic Functional Grammar. . José de Alencar

(9)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Relação Processos/Participantes/Circunstâncias ... 26 Quadro 2 – POLARIDADE (sim/não) e MODALIDADE (entre sim e não)...29 Quadro 3 – Recursos de Avaliatividade ( )... ...31 Quadro 4 – Resumo das teorias que embasam a análise 36

Quadro 5 – Exemplo de análise ... 40

(10)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Ocorrência de processos verbais no trecho analisado de “O círculo vicioso da fortuna adversa” ... 66 Gráfico 2 – Ocorrência de processos verbais no trecho analisado de “À beira de um esquife” ...82 Gráfico 3 Ocorrência de processos verbais no trecho analisado de “Epílogo”...95

(11)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 20

2.1 A Representação no discurso ... 20

2.2 A Gramática Sistêmico Funcional ... 22

2.2.1 A Metafunção Ideacional ... 25

2.2.2 A Metafunção Interpessoal ... 28

2.3 A Avaliatividade ... 29

2.3.1.1 Reconhecendo hierarquias interpessoais ... 32

2.4 A Linguística Crítica ... 34

2.5 A Análise do Discurso Crítica ... 34

3 METODOLOGIA ... 37

3.1 Dados ... 37

3.1.1 O herói de outro mundo ... 37

3.2 Procedimentos de análise ... 39

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 41

4.1 Análise das variáveis de Registro de “O círculo vicioso da fortuna adversa” ... 41

4.2 Análise da Transitividade e da Avaliatividade / Modalidade. ... 43

4.3 Discussão geral de “O círculo vicioso da fortuna adversa” ... 66

4.4 Análise das variáveis de Registro de “À beira de um esquife”. ... 70

4.5 Análise da Transitividade e da Avaliatividade / Modalidade. ... 73

4.6 Discussão geral de “À beira de um esquife” ... 81

4.7 Análise das variáveis de Registro do “Epílogo”. ... 84

4.8 Análise da Transitividade e da Avaliatividade / Modalidade. ... 85

4.9 Discussão Geral do “Epílogo” ... 96

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 99

REFERÊNCIAS ... 100

APÊNDICE ... 104

(12)

A IDEALIZAÇÃO DO HERÓI EM , DE JOSÉ DE ALENCAR,

SOB O ENFOQUE DA GRAMÁTICA SISTÊMICO FUNCIONAL

1 INTRODUÇÃO

Os estudos de linguística têm evoluído e trazido novas ferramentas para a análise dos textos, abrindo assim espaço para a reavaliação de obras já tradicionais na cultura brasileira. O estudo aqui proposto procura utilizar os recursos da Gramática Sistêmico Funcional (HALLIDAY, 1994, 2004) e da Linguística Crítica (FOWLER, 1991)

para analisar elementos da microestrutura do texto do romance , de

José de Alencar, a fim de desvendar a idealização que perpassa essa obra, na macroestrutura do discurso. O interesse se justifica tanto pela importância do autor Alencar ocupa, segundo Alfredo Bosi (2002, p.134), lugar central na história do nosso

Romantismo –, como pela obra em si, o romance , texto singular no

conjunto da obra do autor, publicado entre 1862 e 1866, no qual Alencar dá continuidade ao seu projeto de recriação romanesca do passado colonial brasileiro, iniciado com a publicação, poucos anos antes, de .

Muitas páginas têm sido escritas sobre os romances de José de Alencar, que são leitura obrigatória no Ensino Médio e constam nas listas de leitura para os exames de acesso à universidade, bem como nas dos cursos de Letras por todo o país. Não encontrei, porém, referências a abordagens dos textos alencarianos, em particular

, sob a perspectiva sistêmico funcional.

tem sido foco de algumas pesquisas de cunho literário, tais como a de Peres (2006), que estuda a relação entre o discurso histórico e outros

gêneros, como o folhetim e o picaresco, que compõem ; a de

Marczyk (2006), que analisa a representação do povo judeu no romance; a de Oliveira (2001), que estuda a atuação das personagens femininas, com destaque para a judia Raquel e a mestiça Joaninha, na hierarquia de poder que se estabelece na sociedade engendrada no romance; e, por fim, a de De Marco (1993), em que analisa os

romances históricos de José de Alencar: , e

(13)

“dissolução das expectativas heroicas” (DE MARCO, 1993, p. 18), o que poderia ser atribuído, segundo a autora, às desilusões de José de Alencar em relação tanto à situação política do país à época, quanto à sua própria situação como intelectual.

Pelo que tenho constatado, a obra de José de Alencar mereceria um exame mais detido do ponto de vista linguístico. Nesse contexto, decidi me a estudar a idealização do herói desse romance, examinando a função da avaliação nesse processo.

A noção de idealização, neste trabalho, está de acordo com o que sugere a obra de Antonio Candido (1981). Nela, a idealização refere se não só ao aspecto da fuga da realidade, vai além, apresentando se, principalmente, como um processo construtivo que opera por meio da transfiguração ou da deformação da realidade, podendo, assim, elevar e glorificar valores, criando, desse modo, a imagem do herói personificação desses valores. A constituição linguística dos valores é o aspecto que nos interessa particularmente neste trabalho, já que à sua construção (no texto) e proposição ao leitor (pelo texto) vincula se estreitamente a noção de idealização.

Embora essa constituição de valores se faça, a bem dizer, em todas as páginas do romance (544), selecionei para análise – tendo em vista a extensão da obra e a natureza minuciosa do trabalho com a microestrutura do texto apenas três fragmentos (153 linhas) que retratam mais detalhadamente a constituição de valores fundamentais para o processo de idealização do herói. Pretendo, futuramente, ampliando o conhecimento do ferramental teórico da Gramática Sistêmico Funcional, empreender abordagem mais abrangente desse romance.

(14)

Todos reconhecem a importância da língua no processo de construção da obra literária, mas, na prática, a língua recebe um tratamento relativamente pequeno, justamente em uma área em que o seu papel é essencial. Por isso, penso como Fowler (1991), cujo objetivo, em sua proposta da Linguística Crítica, é dar à língua a devida importância, não somente como um elemento de análise, mas também como um modo de expressar uma teoria geral da representação.

Nesse sentido, acato a proposta de Fairclough (1992, p. 28) para quem um método e uma análise do discurso, para serem úteis, devem preencher algumas condições mínimas. Primeiro: ser um método para análise multidimensional. Aqui ele propõe a abordagem tridimensional, que permite avaliar as relações entre mudança discursiva e social e relacionar sistematicamente propriedades detalhadas de textos às propriedades sociais de eventos discursivos como instâncias de prática social.

Segundo: ser um método de análise multifuncional. Um bom ponto de partida é a teoria sistêmica da linguagem (HALLIDAY, 1978), que considera a linguagem como multifuncional, representando simultaneamente a realidade; ordenando as relações sociais; e, finalmente, construindo o texto propriamente dito por meio de escolhas léxico gramaticais adequadas.

Terceiro: ser um método de análise histórica. Deve focalizar a estruturação ou os processos “articulatórios” na construção de textos, e na constituição a longo prazo de “ordens de discurso” (isto é, configurações totais de práticas discursivas em instituições particulares, ou mesmo em toda uma sociedade).

Quarto: ser um método crítico. “Crítico” implica mostrar conexões e causas que estão ocultas; implica também intervenção por exemplo, fornecendo recursos por meio da mudança para aqueles que possam encontrar se em desvantagem. As relações entre a mudança discursiva, social e cultural não são transparentes para as pessoas envolvidas.

(15)

BLACK, 2004) como sendo o melhor recurso analítico para esse tipo de exame. Para Halliday (1984), a língua como um código (o que a língua é) e a língua como comportamento (o que as pessoas fazem com a língua) funcionam juntas para uma explicar a outra, e para interpretar seu lugar na vida das pessoas. A língua é considerada um recurso para fazer significado: o código como um recurso sistêmico, um potencial de significado: o comportamento como a realização desse potencial de significado em situações da vida real. Nesse processo de realização, a língua funciona para preencher uma série de necessidades humanas, e "a riqueza e a variedade de suas funções estão refletidas na natureza da própria língua, em sua organização como um sistema" (HALLIDAY, 1973, p. 20).

O objetivo desta pesquisa é o estudo, à luz da Gramática Sistêmico Funcional e da Linguística Crítica, do processo de idealização do herói do romance

, de José de Alencar. A pesquisa responde às seguintes perguntas: (a) Como se

realiza a idealização do herói em ? (b) Que escolhas léxico

gramaticais são feitas, em termos das Metafunções Ideacional e Interpessoal para expressar essa idealização?

Justificativa

Tive o primeiro contato com o romance já há alguns anos, e

quis, desde então, estudar esse aspecto da idealização, que me pareceu tão importante quanto obscuro; só recentemente, porém, após entrar em contato com as propostas teóricas da Gramática Sistêmico Funcional (GSF), veio me a ideia de estudá lo pela análise da microestrutura do texto, empreendendo uma abordagem linguística.

(16)

Também motivou a escolha do tema o desafio de analisar as escolhas linguísticas feitas na elaboração de uma noção que parece, deliberadamente, dar as costas à realidade – talvez para voltar se subitamente e encará la ; acresce que não tive notícia da existência de estudo do tema pelo viés da linguística, e acredito que este estudo pode trazer aos estudantes, sobretudo os de nível médio, subsídio à leitura e interpretação de textos em geral, pois a idealização, creio, não se utiliza apenas em texto literário, como o que aqui analiso. Não visa este trabalho à avaliação estética da obra; o que espero é que, sendo análise linguística de uma obra de literatura de ficção, ou seja, de um gênero artístico, sirva o seu resultado de subsídio à leitura e compreensão de uma obra importante para o estudo do contexto de formação do país.

Antes de tratar das teorias que apoiam a minha análise, convém trazer alguma

informação sobre José de Alencar e seu romance .

José de Alencar: entre política e literatura

José Martiniano de Alencar nasceu em 1º de maio de 1829, no Ceará, filho de Ana Josefina, de quem diz ter herdado o que, para muitos, é o seu principal atributo, a inesgotável imaginação (ALENCAR, 1967, vol.1, p. LXIX), e de José Martiniano de Alencar, que, segundo Luís Viana Filho (2008, p. 29), foi político dos mais influentes que o país teve naquele período de sua história, articulador da Revolução de 1817 e da Confederação do Equador, foi também deputado, senador durante a Regência e um dos articuladores do “Clube Maiorista”, responsável por levar ao trono D. Pedro II, então perto dos quinze anos de idade.

(17)

Foi jornalista, pode se dizer, por toda a sua vida (vejam se os folhetins

), teatrólogo (vejam se as peças ! e " # $

), polemista (vejam se as % & '( ) ),

panfletista (vejam se as * + ), romancista e político. Toda a

atividade intelectual de José de Alencar tem estreito vínculo com a política: sobre a sua produção teatral, Luís Viana Filho (2008, p. 115) diz que o teatro, em sua concepção, era uma escola acessível ao público, onde facilmente se incutiriam ideias sobre a

sociedade, os seus erros, e a forma de consertá los; nas % & '(

) tenta mostrar aos defensores do poema de Gonçalves de Magalhães, entre os quais o próprio D. Pedro II, o fracasso da obra em sua pretensão de

representar a nascente nacionalidade; e nas * + apresenta

sugestões políticas ao imperador, a membros do governo, ou ao povo em geral. Segundo Luís Viana Filho, ao escrevê las, aliás no mesmo ano da publicação da edição

integral de , “Alencar parecia atravessar uma dessas fases em que o

homem aspira reformar o mundo” (2008, p. 188).

(18)

: parte de um projeto político literário

Os primeiros 19 capítulos do romance apareceram em 1862, no

terceiro e quinto volumes da , % , , de Quintino Bocaiuva, em cujo prospecto ponderava se que a “civilização do mundo, o progresso das nações não têm só exigências materiais”, e que a motivação de sua iniciativa era “uma ideia de progresso, um princípio civilizador, uma força moral” (DE MARCO, 1993, p. 97). Nessa

edição parcial consta um subtítulo: # - '( ., que

não mais será usado a partir da edição integral da obra, publicada em 1865 66.

e pertencem, no projeto alencariano, ao período

chamado pelo escritor de “histórico”, que “representa o consórcio do povo invasor com a terra americana” e marca “a gestação lenta do povo americano, que devia sair da estirpe lusa, para continuar no novo mundo as gloriosas tradições de seu progenitor” (ALENCAR, 1967, vol. 6, p. 166). Convém lembrar um aspecto, a meu ver muito importante, que diferencia, ao mesmo tempo que associa fortemente, as duas obras no projeto do escritor: em os heróis são índios e portugueses, em

o herói é um mestiço, o tipo mais característico do país em formação, que conquistara a sua independência política poucos anos antes de Alencar começar a escrever.

A publicação de se deu em meados do século XIX, momento

(19)

Contexto de Independência e Romantismo

Segundo Valéria De Marco (2006, p. 12), José de Alencar “é o primeiro a tematizar a relação de tensão entre a produção cultural de um país dependente e as diferentes metrópoles desenvolvidas”. Isso explicaria a adoção da forma literária da estória romanesca, linguagem própria do Romantismo “para contar o passado de cada nação, de cada comunidade, do mundo idílico anterior à Revolução Industrial, na Europa, e ao paraíso do capital comercial dos tempos do Império”, no Brasil.

Na visão de Antonio Candido (1981, vol. 1, p. 26 29), a literatura brasileira sempre foi uma “literatura empenhada”, no sentido de que os escritores brasileiros, desde o início, foram animados do desejo de se mostrarem tão capazes quanto os europeus; “depois da Independência o pendor se acentuou, levando a considerar a atividade literária como parte do esforço de construção do país livre”. O Romantismo, coincidindo com a Independência política do país, levou a uma “tomada de consciência” por parte dos escritores, e a um reforço da “intenção mais ou menos declarada de escrever para a sua terra”; esse nacionalismo artístico, que surgiu em decorrência da situação histórica do país, exigiu “em todos os setores da vida mental e artística um esforço de glorificação dos valores locais”, o que se evidencia no forte sentimento de missão de escritores como José de Alencar.

Não por acaso, então, Valéria De Marco dirá que o romance foi

(20)

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Passo a tratar das teorias que apoiam a minha pesquisa: a Representação no discurso; a Gramática Sistêmico Funcional (HALLIDAY, 1994; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004), que envolve a Avaliatividade (MARTIN, 2000) e a Linguística Crítica (FOWLER, 1991).

Inicio, a seguir, a apresentação da noção de representação no discurso, que Chang e Mehan (2006) aplicam na análise do processo de institucionalização na mídia de massa norte americana, e que julgo poder aplicar se à análise da idealização no

romance .

2.1 A Representação no discurso

A representação política, dizem Chang e Mehan (2006), é uma competição que acontece entre indivíduos, agentes institucionais (aqueles que falam em nome de uma organização ou instituição), ou grupos sobre o significado de eventos, objetos e situações ambíguas do mundo. Há sempre muitas maneiras possíveis de representar um evento ou uma situação, mas uma representação específica dá a eventos, objetos e situações ambíguas um significado específico. Dar uma bofetada em uma pessoa, por exemplo, é um ato tangível, mas chamar o ato de “defesa” ou “agressão” atribui lhe um significado específico. A política da representação produz uma situação em que muitos significados ambíguos são afunilados em um, em que um único significado estável prevalece, segundo os autores. Assim, após um processo de competição discursiva, “ataque agressivo” (ou “tentativa de assassinato”) pode tornar se uma definição dominante para “dar uma bofetada”, inscrevendo se dessa forma no discurso institucional do momento, na memória coletiva das pessoas, nos livros de história, ou em registros legais.

(21)

ser analisada efetivamente como exemplo de representação política. Isto é, para as propagandas serem publicamente legitimadas, nem sempre é suficiente compará las com seu oposto: chamar um ataque de defesa, um regime ditatorial de democracia, terroristas de lutadores pela liberdade, e assim por diante. Sobre assuntos que não recebem muita atenção do público, a simples linguagem orwelliana dos jogos pode ser suficiente para manipular as massas. Contudo, quando se trata de itens políticos controvertidos, os participantes do discurso político público em especial aqueles de sociedades democráticas engajam se inevitavelmente em competições discursivas para tornar dominantes alguns conjuntos de significados sobre outros. E, se a história é um guia, os vitoriosos na política de representação constroem suas reivindicações sobre um corpo coerente de conhecimento que se alinha com o conhecimento prévio do público.

A história mostra que as autoridades políticas frequentemente procuram

ativamente convencer o povo sobre um determinado significado referente a certos eventos para conseguir legitimidade e poder. Por meio de entrevistas na mídia, discursos políticos ou debates parlamentares, políticos eleitos realizam vários atos de fala de legitimação e deslegitimação (CHILTON; SCHAFFNER, 1997, p. 213; CHILTON, 2004, p. 110 134), para maximizar a legitimidade e conseguir poder político, incluindo apelo a presumidos valores morais superiores por trás de suas ações, raciocinando com o público, usando pesquisa empírica e evidência, ou, em alguns casos, apelando para os autointeresses da maioria dos eleitores, em detrimento do bem estar das minorias (van DIJK, 1980; MEHAN et al., 1990; MEHAN, 1997). Em todas as instâncias, eles lutam para controlar as representações, limitando assim a expressão de certas formas de conhecer os eventos e situações políticas.

(22)

significados ideológicos são transformados em senso comum não ideológico, natural e universal (FAIRCLOUGH, 1995, p. 28 53).

A propósito, , em seu significado literal, é um manuscrito para uma peça teatral, que introduz o enredo, o cenário, as personagens, e assim por diante. Em seu significado sociológico, é um sistema de significados culturais que fornece às pessoas os instrumentos para interpretar e entender eventos (NATHANSON, 1988). Um completo, de acordo com a teoria do drama, de Burke (1989, p. 139), explica o (o que se fez), a (quando e onde se fez), o / (quem fez), a /0

(como se fez) e a & (por que se fez) das ações humanas.

A análise do discurso afirma que a representação social em forma de cultural, como o " de um restaurante", ajuda as pessoas a interagirem em situações não familiares, tal como a ida a um novo restaurante, e a construir rapidamente significados coerentes dos eventos ambíguos (SCHANK; ABELSON, 1977; Van DIJK 1980). Coincidentes com esses achados, estudos na sociologia da cultura e da mídia informam que um cultural, para ser poderoso, precisa ser facilmente acessível ao público, para oferecer uma explicação internamente coerente, para ir ao encontro de opiniões e estruturas já existentes (SCHUDSON, 1989).

A seguir, apresento a Gramática Sistêmico Funcional, uma proposta teórico metodológica, de Halliday (1994) e Halliday e Matthiessen (2004), que serve de base

para as minhas análises de .

2.2 A Gramática Sistêmico Funcional

Uma descrição sistêmica tenta interpretar simultaneamente tanto o código quanto o comportamento, para especificar os sistemas dos quais se deriva um item linguístico, isto é, as escolhas incorporadas naquele item (HALLIDAY; MARTIN, 1981). Portanto, ao analisar instâncias da língua numa conversa, correlacionamos simultaneamente diversos sistemas da língua para fornecer um tratamento linguístico compreensível.

(23)

interpessoal e a textual1. A metafunção ideacional refere se à habilidade para construir experiências humanas, nomeando entidades e construindo categorias e taxonomias; a metafunção interpessoal incorpora todos os usos da língua para expressar relações pessoais e sociais, incluindo todas as formas da intromissão do falante na situação de fala e no ato de fala (HALLIDAY, 1973, p. 41). Essa metafunção é hoje considerada a mais relevante, envolvendo as demais metafunções. Finalmente, a metafunção textual refere se à possibilidade da construção do texto para facilitar as outras duas metafunções, dando textura ao texto para fazê lo operacionalmente relevante (HALLIDAY, 1973; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004). A língua pode manipular esses três tipos de significados simultaneamente, porque possui um nível intermediário de codificação: a léxico gramática. As três metafunções entram no texto por meio das orações mediante escolhas feitas no sistema linguístico.

Importante para a GSF é a noção de escolhas. Assim, quando se faz uma escolha no sistema linguístico, o que se escreve ou o que se diz adquire significado contra um fundo em que se encontram as escolhas que poderiam ter sido feitas, mas que não o foram, fato importante na análise do discurso Em resumo, a GSF procura desenvolver uma teoria sobre a língua como um processo social e uma metodologia que permita uma descrição detalhada e sistemática dos padrões linguísticos.

Subjacente à GSF, existem quatro premissas maiores (EGGINS, 2004, p. 3). O modelo estabelece:

● que o uso da língua é funcional;

● que sua função é construir significados;

● que os significados são influenciados pelo contexto social e cultural em que são intercambiados;

● que o processo de uso da língua é um processo semiótico, um processo de fazer significado por meio de escolhas.

(24)

É por essas razões que a GSF é descrita como "uma abordagem semântico funcional da língua" (EGGINS, 2004, p. 20), uma teoria que procura entender como as pessoas usam a língua em diferentes contextos sociais. Como Martin e White (2005, p. 7) explicam, "a GSF é um modelo multi perspectivo, designado a dar aos analistas lentes complementares para a interpretação da língua em uso".

Os diferentes aspectos de significado das três metafunções estão organizados em níveis. O nível mais básico (ou o mais concreto) do significado refere se à realização fonológica. Indo para uma camada mais abstrata, o nível seguinte é o da léxico gramática, em seguida o da semântica, e finalmente o do contexto, como o nível mais abstrato (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004). As escolhas feitas num nível mais básico realizam escolhas de um nível superior. Reciprocamente, as escolhas feitas no nível superior são realizadas por escolhas de nível inferior. A léxico gramática é literalmente o contínuo do léxico e da gramática (HALLIDAY et al., 2004). A gramática é vista como um instrumento linguístico para ligar seleções feitas nos vários subsistemas da língua, realizando essas seleções em uma forma estrutural unificada (HALLIDAY, 1973). Daí Halliday dizer que a descrição gramatical é essencial à análise textual.

Neste contexto, o termo "logogênese" serve para identificar essa construção dinâmica do significado conforme o texto se desenvolve (HALLIDAY,1992, 1993; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 1999). Thompson (1998) denomina de "ressonância" essa harmonia de significados que é produto de uma combinação de escolhas não identificáveis com quaisquer outras escolhas, se consideradas isoladamente.

Por outro lado, alguns fatos mostram que língua e contexto estão inter relacionados, diz Halliday (1994). Mas quais feições desse contexto afetam o uso da língua? Para responder a essa questão, os sistemicistas lançam mão de dois conceitos:

/ e 0 , referentes ao contexto situacional imediato e ao contexto cultural, respectivamente.

(25)

Registro são organizadas, respectivamente, pelas metafunções Ideacional, Interpessoal e Textual da linguagem (HALLIDAY, 1978).

O Gênero descreve a influência das dimensões do contexto cultural sobre a língua. Dessa forma, o texto não é utilizado somente para explorar as formas gramaticais isoladas, mas tem se o objetivo de analisá lo como uma dimensão textual discursiva, uma concepção sócio interacionista de linguagem centrada na interlocução. Na GSF, Martin (1985, p. 25) oferece, para a noção de Gênero, uma definição mais operacional: "Gênero é uma atividade organizada em 1/ , orientada para uma

& na qual os falantes se envolvem como membros de uma determinada ". Diz ele que grande parte do choque cultural é de fato choque de Gêneros. Menos tecnicamente (MARTIN, 1985, p. 248), ele diz que Gêneros são como as coisas são feitas, quando a linguagem é usada para efetivá las.

Além desses dois tipos de contexto, de natureza social, há também o contexto ideológico, que ocupa um nível superior de contexto e que tem chamado a atenção dos sistemicistas, na medida em que, em qualquer Registro e em qualquer Gênero, o uso da língua será sempre influenciado pela nossa posição ideológica, nossos valores, nossas tendências, nossas perspectivas.

2.2.1 A Metafunção Ideacional

(26)

Da perspectiva social, segundo Fairclough (1992), a análise da transitividade oferece intravisões sobre fatores sociais, culturais e ideológicos, que podem influenciar o significado de um texto. Consequentemente, essa análise mostra a atribuição, por exemplo, da agência aos participantes, e, assim, oferece um instrumento útil para mostrar a construção da realidade pela língua por meio da categorização, caracterização e da polarização por meio do discurso.

Apresento o Quadro 1, com o sistema da Transitividade, da metafunção Ideacional, que representa os eventos das orações, envolvendo: Processos, Participantes e Circunstâncias:

Quadro 1: Relação Processos/Participantes/Circunstâncias

Processos Participantes Circunstâncias

Material O padre deu os diamantes a Estácio

Ator Meta Beneficiário

O mancebo caminhou pelo vilarejo destruído. Ator Extensão

a pedido de Dulcita.

Comportamental O Brás gemia de cansaço

Comportante Comportamento

enquanto seguia.

Mental O herói pensava no destino da sua família.

Experienciador Fenômeno

Existencial A pobreza se fazia presente

Existente

na Bahia.

Relacional Ele era um herói. (a) Atributivo: Portador Atributo

O herói era Estácio. (b) Identificativo: Identificado Identificador

Verbal Joaninha contou para Inês a história de Estácio.

Dizente Receptor Verbiagem

Fonte: Halliday (1994)

(27)

Participante Beneficiário ocorre em contextos diversos e pode ser associado ao “objeto indireto” da gramática tradicional (e.g. Cristóvão fez um favor ao amigo).

Os Processos Mentais são os (HALLIDAY, 1994, p. 112) e

dizem respeito ao que ocorre no mundo interno da mente (THOMPSON, 2004, p. 92). Os participantes nesse tipo de processo são: o Experienciador, aquele em cuja mente o processo se realiza; e o Fenômeno, que é o elemento, o fenômeno ou o objeto realizado pelo processo.

Os Processos Relacionais são os processos de e . Tais processos

estabelecem uma relação entre dois conceitos e a função do processo é somente sinalizar a existência da relação, ocorrendo sempre um só participante no “mundo real”. Exemplos:

(1) Estácio era um espírito observador.

(2) A conquista das minas era sua meta.

O primeiro tipo de Processo Relacional (exemplo 1) é chamado de Processo Relacional Atributivo e seus dois participantes são o Portador (a entidade que carrega o atributo) e o Atributo. Já o segundo tipo de Processo Relacional (em 2) é chamado de Processo Relacional Identificador e sua função é identificar uma entidade em termos de outra, equivalendo a um sinal de igual (=), o que o torna reversível, diferentemente do que ocorre com o tipo atributivo.

Os Processos Verbais são “processos de dizer” O Dizente é o único participante obrigatório nos processos verbais. Ele é um participante humano ou humanizado, como em sentenças do tipo: “ diz que se procurava um tesouro”. Participantes opcionais: o Receptor, para quem a mensagem é endereçada; o Alvo, a pessoa, objeto ou entidade que é atingida pelo processo (aquele de quem se fala); e a Verbiagem, que consiste num rótulo para a própria linguagem.

Os Processos Comportamentais existem para diferenciar processos puramente Mentais, daqueles que implicam sinais físicos (THOMPSON, 2004), como por exemplo, em situações do tipo: “O herói na sua amada” (Processo Mental) e “Ele

(28)

comportamento; pode ocorrer um Participante opcional: o Alcance – que define o

escopo do processo: João Fogaça riu / / 3 .

Os Processos Existenciais expressam a mera existência de uma entidade, sem predicá la ou relacioná la com qualquer outra coisa. Há somente um Participante nesse processo: o Existente. Outros detalhes sobre o Existente podem ser dados na oração,

mas somente como elementos Circunstanciais (e.g.: Existem na

caverna de Abaré).

2.2.2 A Metafunção Interpessoal

Em termos da Metafunção Interpessoal, a oração está organizada como um evento interativo, envolvendo produtor e receptor da mensagem, e focaliza a interação

como uma troca de % ' ou de & '( (HALLIDAY, 1994). Juntamente

com essa distinção básica está uma outra distinção, igualmente fundamental, que se relaciona com a natureza do produto que está sendo permutado. A função semântica da oração como permuta de informação caracteriza a proposição; a função semântica da oração como permuta de bens & serviços caracteriza a proposta.

No nível da léxico gramática, os principais sistemas gramaticais envolvidos na Metafunção Interpessoal são , Polaridade e Modalidade. O Sistema de é a gramaticalização do sistema semântico da função de fala; os termos do são realizados por propriedades das orações categorizadas como declarativas, interrogativas e imperativas (e subjuntivas, no caso do português), que realizam diferentes funções de fala.

(a) (ou Modo) estabelece relações entre papéis de falante e ouvinte, por meio de verbos modais ou adjuntos modais, e também o tempo primário e a modalidade.

(29)

posicionamento pessoal. A avaliação pode ser expressa categórica (ou SIM ou

NÃO: e.g. 4 ou 5( 4 ),

mas pode ser expressa de maneira atenuada, por meio da Modalidade (e.g. ) 2

4 . Veja os tipos de Modalidade: Modalização e Modulação,

no Quadro 2.

A propósito, autores (e.g., LEMKE 1992, p. 86) notam que essa abordagem tende a confundir as funções interpessoais e a função do “intrometimento” pessoal. Assim, Thompson e Thetela (1995) propõem que se faça uma distinção no interior da Metafunção Interpessoal, e vê la abrangendo duas funções relacionadas, mas relativamente independentes: a pessoal e a interacional, além do interativo (este para

guiar o leitor através do texto: etc.)

Quadro 2 POLARIDADE (sim/não) e MODALIDADE (entre sim e não)

SIM

Proposição Informação

Proposta Bens & Serviços

NÃO

MODALIZAÇÃO MODULAÇÃO

probabilidade2 frequência obrigação3 inclinação

2 /

A Metafunção Interpessoal tem sido alvo de críticas, bem como de contribuições, que aumentaram o seu poder de análise. Assim é a noção de Avaliatividade (MARTIN, 2000, 2003), que apresento a seguir.

2.3 A Avaliatividade

(30)

Assim, juntamente com modelos “baseados na gramática”, diz o autor, precisamos elaborar sistemas lexicalmente orientados que tratem também desses elementos.

Assim, Martin e seus colaboradores desenvolveram um sistema reticular de descrições de opções semânticas para avaliar pessoas, coisas e fenômenos, e adotaram o termo (doravante: Avaliatividade). O grupo estava interessado na função social desses recursos, não simplesmente para expressar sentimentos, mas, em termos de sua habilidade em construir comunidades, para alinhar pessoas na negociação em curso, na vida em comunidade.

Na essência, a Avaliatividade é um enquadre localizado na Gramática Sistêmico Funcional (GSF) que mapeia os recursos que usamos para avaliar a experiência social (veja MARTIN, 2000; MARTIN; WHITE 2005; WHITE, 2003). Esses recursos podem se realizar através de várias estruturas gramaticais e lexicais. A análise de Avaliatividade é um modo de capturar de maneira compreensiva e sistemática os padrões avaliativos globais que ocorrem num texto, conjunto de textos ou discursos institucionais.

Segundo Martin (2000), a semântica da avaliação (Avaliatividade), envolve três subsistemas: (1) Atitude, referente ao modo como os interlocutores estão se sentindo em termos de Afeto, Julgamentos (éticos) que fazem e Apreciação (estética) de vários fenômenos de sua experiência. Essas avaliações, quando aplicadas ao agrupamento social, têm sido chamadas de Avaliação Social (COFFIN; O’HALLORAN, 2006). A Atitude pode ser expressa de acordo com o (2) Compromisso, de maneira sem negociação com o interlocutor (monoglossia) ou com negociação (heteroglossia); e, finalmente, com (3) Graduação, para aumentar ou diminuir a intensidade da Avaliatividade.

Com referência ao subsistema do Compromisso, diz White (2003) que, para examinar e descrever adequadamente a funcionalidade comunicativa desses recursos léxico gramaticais, é necessário vê los como fundamentalmente dialógicos ou interativos. Em termos amplos, o autor distingue entre enunciados monoglóssicos

(31)

expansivos (possibilitam alternativas) ou dialogicamente contráteis (restringem as possibilidades). O Quadro 3 apresenta um resumo do sistema de Avaliatividade.

Quadro 3 Recursos de Avaliatividade (APPRAISAL)

AVALIATIVIDADE

COMPROMISSO

Monoglossia [avaliação sem negociação]

Heteroglossia [avaliação com negociação]

ATITUDE

Afeto

Julgamento

Apreciação (inclui: a Avaliação Social)

GRADUAÇÃO

Força

aumenta [ ]

diminui [ / 3 ]

Foco

aguça [ 3 6 ]

suaviza [ ]

Fonte: Martin (2000)

A Avaliatividade pode realizar se de maneira explícita, mas também pode sê lo de maneira implícita, sem o uso de termos geralmente usados para expressar a avaliação. Nesse caso, Martin propõe a noção de ) 7 de Atitude para denominar o modo pelo qual o significado ideacional, considerado neutro em termos avaliativos, pode ser saturado pela Avaliatividade. Assim, Martin distingue entre Avaliatividade inscrita (explícita) e evocada (implícita). Por outro lado, realizações mais segmentáveis e localizadas de Avaliatividade, bem como de Modalidade, podem espalhar se – pelo processo da prosódia através de longos trechos de um texto, somando se funcionalmente em uma única avaliação no nível do discurso. Esse tipo de persuasão, que acontece cumulativamente, pode ser extremamente eficaz em certos contextos.

(32)

2.3.1 A Avaliatividade e a Prosódia

Com referência à Avaliatividade, Martin (1992, p. 553 559) e outros sistemicistas notaram que as realizações de significados interpessoais, incluindo Modalidades e Atitudes, tendem a ser mais “prosódicas” que as realizações mais segmentáveis e localizadas dos significados Ideacionais. Para Lemke (1998), componentes redundantes, qualificadores e amplificadores ou restritivos, daquilo que é funcionalmente uma única avaliação, espalham se através da oração ou da oração complexa ou, mesmo, de longos trechos de um texto. Ficará claro, assim, que as avaliações de Proposições e Propostas não são independentes, em longos textos, da avaliação de Participantes, Processos e Circunstâncias incluídos em Proposições e Propostas.

Lemke (1998) chama de Realização Prosódica a esse significado atitudinal que

se estende pelo texto e que inclui: ( / '( 1

'( 8 '( , e sugere que esses

significados avaliativos têm um papel importante na análise do discurso da heteroglossia social e da identidade individual e coletiva. O autor examina um

constituído de editoriais.

Por outro lado, devido à existência de vários tipos de nominalização em certos registros, uma proposição (p.ex., "a confirmação chocou a população") num ponto do texto, pode tornar se “condensada” (p.ex., "confirmação") como um participante em outro trecho, e, vice versa, participantes (especialmente nomes abstratos) podem ser “expandidos” pelo leitor em proposições implícitas através da referência a algum intertexto, ou ao co texto imediato (e.g. "O autor confirmou a denúncia") (LEMKE, 1990).

2.3.1.1 Reconhecendo hierarquias interpessoais

(33)

na narrativa são todas sujeitas ao ambiente condicionador da da narrativa que os anima.

Muitos teóricos da narrativa chamaram a atenção para a hierarquia de discursos que operam nos textos escritos e para a necessidade de distingui los na análise do texto. Assim, o ato da narração (também chamado “enunciação”) precisa ser diferenciado daquilo que é narrado (ou “enunciado”). Um recente trabalho de Cortazzi e Lixian Jin (2000) destaca a importância de se estar atento a vários níveis e contextos de avaliação textual. Obviamente, até mesmo narrativas que parecem ratificar as escolhas de personagens específicos relativizarão essas escolhas, simplesmente devido ao fato de serem vozeadas. O autor “fala ao” leitor por meio de ventriloquismo semiótico, garantindo que, mesmo que muitas vozes possam ser ouvidas, poucas serão sancionadas.

Os leitores também são sensíveis a síndromes ou complexos de significado atitudinal e aos modos como confirmam, opõem se ou transformam escolhas de palavras em outros locais do texto. Essas configurações de escolhas avaliativas relevantes criam o que Thompson (1998) denomina “ressonância” – uma harmonia de significados que é produto de uma combinação de escolhas não identificáveis com quaisquer outras escolhas, consideradas isoladamente. Como veremos na análise da Avaliatividade, as expressões de Atitude evocadas (implícitas) e inscritas (explícitas) entram numa espécie de dança através do texto, criando um espaço semântico mais amplo que, por si, torna se avaliativo. Outros perceberam esse fenômeno em estudos de avaliação, vejam se, por exemplo, Hunston e Thompson (2000) sobre a complexidade de sua realização em diferentes discursos, e Lemke (1998) sobre a qualidade “propagativa” da avaliação. A esse respeito – embora algumas partes do texto possam ser mais ou menos interpessoalmente salientes do que outras precisamos ver todo o texto como “aberto para” e criativo de avaliação, seja ela implícita ou explícita.

(34)

2.4 A Linguística Crítica

A abordagem crítica inclui a Linguística Crítica (LC) de Fowler et al. (1979, 1991) e o trabalho de Fairclough sobre linguagem e poder (1989, 1992a, 1992b). A LC foi desenvolvida por um grupo da Universidade de East Anglia, Inglaterra, na década de 1970 (FOWLER ., 1979; KRESS e HODGE, 1979). Segundo Fairclough (1992a, p. 46): “Eles tentaram casar um método de análise linguística e textual com uma teoria social da linguagem em processos políticos e ideológicos, recorrendo à Gramática Sistêmico Funcional”.

O ponto teórico principal na análise de Fowler é que aspecto da estrutura linguística carrega significação ideológica; seleção lexical, opção sintática, etc., todos têm sua razão de ser. Há sempre modos diferentes de dizer a mesma coisa e esses modos não são alternativas acidentais. Diferenças em expressão trazem distinções ideológicas (e assim diferenças de representação).

A análise crítica está interessada no questionamento das relações entre signo, significado e o contexto sócio histórico, os quais governam a estrutura semiótica do discurso, usando um tipo de análise linguística. Ela procura, estudando detalhes da estrutura linguística à luz da situação social e histórica de um texto, trazer para o nível da consciência os padrões de crenças e valores codificados na língua – que estão subjacentes à notícia e que são invisíveis para quem aceita o discurso como algo “natural”.

2.5 A Análise do Discurso Crítica

Van Dijk (2008a, 2009) sugere que a relação entre discurso e sociedade não é

direta, mas precisa ser mediada pelos chamados 9 . Ou seja, as

estruturas sociais organizações, grupos, sexo, raça etc. são fenômenos que não podem ser diretamente ligados aos processos mentais de produção do discurso e compreensão, como era anteriormente considerado pelos sociolinguistas tradicionais.

(35)

e as sociais em todos os níveis de análise. Isso significa que a "sociedade" é entendida aqui, por um lado, como uma configuração complexa de estruturas situacionais no nível local (participantes e suas identidades, papéis e relacionamentos envolvidos em interação espaço temporal e institucionalmente situada, dirigida a objetivos) e, por outro lado, como estruturas societais (organizações, grupos, classes etc. e suas propriedades e relações de, por exemplo, poder).

Assim, o discurso é um fenômeno social multidimensional, segundo o autor. É, ao mesmo tempo, um objeto (palavras ou frases significativas) linguístico (verbal, gramatical); uma ação (como uma afirmação ou uma ameaça); uma forma de interação social (como uma conversa); uma prática social (como uma palestra); uma representação mental (como um significado, um modelo mental, uma opinião, um conhecimento); um evento ou uma atividade interacional ou comunicativa (como um debate parlamentar); um produto cultural (como uma telenovela) ou mesmo um bem econômico que está sendo vendido e comprado (como um romance). Em outras palavras, uma "definição" mais ou menos completa da noção de discurso envolveria muitas dimensões e seria composta de muitas outras noções fundamentais que precisam de definição, isto é, teoria, como significado, interação e cognição.

Para os Estudos Críticos do Discurso, continua Van Dijk, especialmente interessante nessa análise da semântica local é o estudo das várias formas de significados implícitos ou indiretos, tais como implicações, pressupostos, alusões, imprecisões, e assim por diante. Novamente, tais significados estão relacionados a crenças subjacentes, mas não abertas, direta ou precisamente afirmadas por várias razões contextuais, incluindo o bem conhecido objetivo ideológico de desenfatizar as nossas coisas ruins e as coisas boas deles. Finalmente, entre muitas outras propriedades semânticas desse tipo de texto, deveríamos mencionar também a importância do que está sendo deixado de fora do texto.

(36)

Podemos agora dizer que o discurso será coerente se os usuários da língua forem capazes de construir um modelo mental para ele.

Semanticamente falando, um discurso é como a ponta de um % /: apenas algumas das proposições necessárias para se compreender um discurso são realmente expressas; a maioria das outras proposições permanece implícita e precisa ser inferida a partir das proposições explícitas (dado um conjunto de conhecimento de mundo). É o modelo que fornece essas "proposições omitidas", segundo Van Dijk. Proposições implícitas ou subentendidas do discurso são, portanto, simplesmente definidas como aquelas proposições que fazem parte do modelo mental para aquele discurso, mas não estão presentes em sua representação semântica. Ou seja, por razões pragmáticas, como é definido pelo modelo de contexto de um discurso (incluindo as crenças atribuídas ao destinatário pelo falante), apenas parte das proposições de um modelo precisa ser expressa porque o falante acredita que essa informação é irrelevante, porque o destinatário já conhece essas proposições ou porque pode ser inferida a partir de outras proposições. Assim, modelos mentais proporcionam, ao mesmo tempo, uma excelente definição de pressuposições, a saber, como aquelas proposições de modelos de eventos que estão implícitas, mas não afirmadas no discurso.

A seguir, faço o Quadro 4 para resumir a teoria até aqui apresentada.

Quadro 4 – Resumo das teorias que embasam a análise

A Idealização no Discurso

Um enfoque crítico da Gramática Sistêmico Funcional

Representação no Discurso Avaliatividade Linguística Crítica

Fonte: Barbosa (2015)

Passo, assim, à análise de , caracterizando o romance para, a

(37)

3 METODOLOGIA

A pesquisa recorre a uma metodologia que se apoia na gramática da oração para explicar o modo como os traços léxico gramaticais da estrutura superficial do texto comunicam ideologias específicas e identidades no nível profundo do discurso no enquadre da Gramática Sistêmico Funcional, de Halliday (2004).

3.1 Dados

O romance foi publicado pela primeira vez em 1862 (os dezenove

primeiros capítulos); a edição completa apareceu entre 1865 e 1866. Neste trabalho,

utilizo o texto da coleção " . 5ª ed. Rio de

Janeiro: José Olympio, 1967. 7 v. O segundo volume é dedicado só para

, que se divide em três partes com, respectivamente, 23, 22 e 27 capítulos, mais um epílogo, que encerra a narrativa. São, portanto, 72 capítulos mais o epílogo, totalizando 544 páginas.

Serão analisados três trechos, retirados dos seguintes capítulos: (a) “O círculo vicioso da fortuna adversa”, capítulo XI, terceira parte, da página 405 à 419, trecho com aproximadamente 96 linhas; (b) “À beira de um esquife”, capítulo XXVII, terceira parte, da página 537 à 542, trecho de aproximadamente 23 linhas; e, por fim, (c) “Epílogo”, da página 542 à 544, trecho de aproximadamente 34 linhas. A seleção dos fragmentos a serem analisados se fez com base na importância dos valores que constroem no processo de idealização do herói do romance.

3.1.1 O herói de outro mundo

A narrativa de se passa em 1609, início do segundo século da

(38)

Correia é ainda composto pela gente miúda, onde se encontram pescadores, alfeloeiras, magarefes, taberneiros, adeleiras, aventureiros, caçadores de escravos; gente mestiça, negra, índia, branca, escrava ou semiescrava.

Estácio Correia, jovem de 19 anos, vive uma situação ambígua: como descendente de Diogo Álvares, o Caramuru, primeiro senhor português a conquistar as terras aos gentios, e de sua esposa índia, Catarina Álvares, chamada de Paraguaçu, e ainda por ser filho de Robério Dias, o descobridor das lendárias minas de prata, pertence a uma das poucas famílias ditas ricas e principais. O jovem é pobre, porém. E não é visto entre os principais da terra.

Poucos anos antes, o seu pai, Robério Dias, de posse de um manuscrito com o roteiro para se chegar às minas de prata, julgara por bem embarcar se para as Espanhas e oferecer o segredo das minas a El Rei Filipe II. No momento de entregá lo, porém, percebeu o nobre Robério que fora roubado. El Rei não o conhecia e, cheio de desconfiança e irritação, pois já lhe havia até prometido o título de marquês, condenou o por falso e embusteiro. Robério adoeceu e morreu em seguida, e a sentença de confiscação de seus bens pesou sobre sua família, reduzida subitamente à extrema pobreza material e à desonra pela acusação de traição.

Estácio logo se tornaria também órfão de mãe, e sua educação ficou a cargo do advogado português Vaz Caminha, “o mais sábio letrado da cidade do Salvador”, que educou o herói com a ajuda de Álvaro de Carvalho (o alcaide); este lhe ensinou as “artes de cavalaria”, aquele as “humanidades”; teve o jovem Estácio ainda a instrução dos padres no colégio dos jesuítas, que o queriam membro do instituto, com o intuito secreto de herdarem as minas de prata de seu pai, caso fosse confirmada a sua existência.

(39)

seu “santo amor”. Em suas viagens será assediado pela cobiça dos que querem roubar lhe o roteiro, dentre esses se destaca um inteligentíssimo e ambicioso jesuíta, o Padre Gusmão de Molina, o ambíguo vilão do romance.

Por meio de uma espécie de jogo de xadrez que opõe a inteligência do herói (e seus amigos) à do vilão, o narrador constrói e apresenta ao leitor, fazendo os emergir a cada passagem do sinuoso enredo romanesco, os valores que fazem de Estácio Correia o herói do romance, proposto como referencial moral para os leitores e para a comunidade do país em processo de construção de sua autonomia política e identidade cultural.

3.2 Procedimentos de análise

Para responder às perguntas (a) Como se realiza a idealização do herói em ? (b) Que escolhas léxico gramaticais são feitas, em termos das Metafunções Ideacional e Interpessoal para expressar essa idealização? , sigo os seguintes passos analíticos:

(a) Caracterização do contexto do trecho analisado, por meio das variáveis de Registro – Campo, Relações e Modo , para evitar a subjetividade da análise, conforme sugestão de Goatly (1997).

(b) A seguir, cada linha do trecho selecionado será analisada em termos da Transitividade e, na linha seguinte, será feita a análise da Avaliatividade e da Modalidade.

(c) Cada trecho será seguido de uma discussão da análise feita.

(40)

A codificação utilizada é:

Caixa Alta Processos:

MATERIAL (Ma), RELACIONAL (Re), MENTAL (Me), COMPORTAMENTAL (Co), VERBAL (Ve) e EXISTENCIAL (Ex).

Sublinhado Participantes e Circunstâncias.

Negrito Avaliatividade e Modalidade.

(+) ou ( ) Avaliatividade, positiva ou negativa.

(↑) ou (↓) Graduação, com intensificação ou com atenuação da Avaliatividade.

Veja se, abaixo, no Quadro 5, um exemplo das análises da Transitividade e da Avaliatividade / Modalidade.

Quadro 5 – Exemplo de análise

(41)

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A seguir, caracterizo por meio das variáveis de Registro: Campo, Relações e Modo o contexto do primeiro trecho analisado, do capítulo “O círculo vicioso da fortuna adversa”.

4.1 Análise das variáveis de Registro de “O círculo vicioso da fortuna adversa” (capítulo XI, terceira parte, da página 405 à 419).

Campo

No capítulo “O círculo vicioso da fortuna adversa”, o narrador mostra mais uma aparição espetacular do herói Estácio Correia. Tido como morto após uma longa sequência de aventuras por terra e por mar, em que luta no interesse da pátria e no seu próprio (a busca do roteiro das minas, que representa a possibilidade de reabilitação do nome de seu pai, e a sua própria felicidade, pela obtenção de riquezas extraordinárias e condição de ter o seu amor), eis que surge o herói, com o roteiro em mão, diante do seu mestre Vaz Caminha. Escondido o roteiro, simbolicamente aos pés de uma cruz, o herói se dirige à casa de D. Marina de Peña (a Dulcita), esposa abandonada pelo padre vilão Gusmão de Molina, em troca de sua ambição de ser Geral da Companhia de Jesus, e talvez papa; aí, ajudado por seus amigos, o herói obtém uma “roupa de gala e um cavalo ajaezado”, para, cumprindo os rituais necessários para se apresentar a um homem “principal”, dirigir se à casa do fidalgo espanhol D. Francisco de Aguilar e pedir lhe a mão da filha Inesita, a quem ama, em casamento. A conversa entre o herói e o fidalgo é a cena principal do capítulo, a qual analisarei.

Relações

(42)

educação, nas letras como nas armas, sabe se expressar com elegância, e tendo já provado o seu valor bélico em serviço da pátria, e obtido, à custa de muitas façanhas, o roteiro das minas de prata, motivo da condenação real que vitimou o seu pai e a si próprio, chega confiante à casa do fidalgo espanhol, esperando que o seu valor pessoal e a posse do roteiro sejam suficientes para convencê lo, já que, em sua concepção, a posse do roteiro representa a reabilitação moral e material de sua família. Porém, o fidalgo espanhol, como se verá, vê se noutro patamar social, é senhor de engenho e figura entre os homens ditos principais na cidade do Salvador; é estrangeiro, além disso, em tempos de União Ibérica, o que o coloca, ao menos em sua concepção, acima de qualquer português. Na conversa, mostrar se á hostil aos argumentos de Estácio, até, por fim, explicitar a verdadeira razão de sua recusa, a qual, veremos, tem relação direta com os valores principais que o narrador quer construir no processo de idealização do herói.

Modo

Segundo Eggins (1997), um texto apresenta invariavelmente algumas influências do contexto em que foi produzido, e esse contexto determina, ao menos em parte, as palavras e as estruturas que o produtor escolherá. No 6 :+ , texto datado de

1865, mesmo ano da publicação da edição integral de (ALENCAR,

1967, vol. 7, p. 168), José de Alencar apresenta uma concepção de língua nitidamente relacionada ao contexto sociopolítico do país em seu tempo: “A língua é a nacionalidade do pensamento como a pátria é a nacionalidade do povo”. A linguagem de José de Alencar procura, portanto, uma identidade para o Brasil independente.

(43)

Os bons livros teriam o papel de corrigirem “os defeitos da língua”, além de realçar as suas belezas; e ao grande escritor, “o gênio”, assistiria o direito de “criar uma língua, uma arte”, cabendo ao público, que exerce uma influência recíproca com o escritor, fazer a sanção. A ideia é colocada, finalmente, na forma de um símile à Homero:

A atmosfera atrai os átomos que sobem das águas estagnadas pela evaporação, e depois os esparze sobre a terra em puro e cristalino rocio. São da mesma forma as belezas literárias dos bons livros; o escritor as inspira do público, e as depura de sua vulgaridade (ALENCAR, 1967, vol. 7, p. 170).

4.2 Análise da Transitividade e da Avaliatividade / Modalidade (disponho o texto do capítulo na íntegra, para facilitar a compreensão da análise).

O círculo vicioso da fortuna adversa

É tarde da noite.

Vaz Caminha prolongou mais a costumada vigília; ainda ele rabisca no seu telônio, à luz mortiça da candeia. Sentia o bom velho que a vida se lhe escapava rapidamente, e esforçava terminar a correção de sua obra para deixá la concluída por sua morte, legando a a algum rico patrono, que a fizesse imprimir e a amparasse com seu valimento. Outrora destinava ele essa herança para seu afilhado; mas Deus o tinha chamado primeiro, dando lhe assim aviso de que se apressasse em reunir se aos seus que já eram todos idos.

No dia em que fora ao Colégio, três havia, o advogado ao ouvir a narração do P. Molina, tivera realmente um pressentimento de que Estácio ainda era vivo; e mais se fortalecera na esperança observando a tática do jesuíta para tirar dele pormenores acerca do roteiro das minas de prata. Mas aos setenta anos a alma tem perdido o calor, e já não vicejam nela as rosas, senão as pálidas e rápidas anêmonas, que ao menor sopro se desfolham. Assim a esperança murchou no coração do velho com as primeiras sombras da noite.

Continuava o laborioso escritor sua vigília, quando no princípio da escura rua soaram passos ligeiros, acompanhados do tinir da espada ao longo do quadril. A pessoa, que era, tinha elevada estatura, e vinha embuçada em manto de amplas dobras e cores escuras. Dirigiu se direito à porta do advogado; mas vendo as réstias de luz que filtravam pelos interstícios da janela, bateu de leve nas grades. Vaz Caminha interrompeu o trabalho um tanto surpreso, mas não muito; pois não era a primeira, nem segunda vez que lhe batiam na porta a tais desoras.

Quem bate? perguntou de dentro da rótula.

Uma pessoa que vem de parte de D. Fernando de Ataíde sobre negócio urgente! respondeu voz desconhecida, que vibrou uma corda íntima no coração do velho.

Ele correu a abrir. O desconhecido entrou rápido, fechou a porta sobre si, e enlaçou o advogado com os braços, apertando o ao peito.

Vitória, mestre!... murmurou ele.

Estácio!... Filho!... exclamou o velho trêmulo de comoção.

Imagem

Gráfico  1  –  Ocorrência  de  Processos  Verbais  no  trecho  analisado  de  “O  círculo  vicioso da fortuna adversa”:
Gráfico 3 – Ocorrência de Processos Verbais no trecho analisado do “Epílogo”:

Referências

Documentos relacionados

Foram analisados a relação peso-comprimento e o fator de condição de Brycon opalinus, em três rios do Parque Estadual da Serra do Mar-Núcleo Santa Virgínia, Estado de São

1 Selecione o papel fotográfico HP adequado como o tipo de papel na guia Qualidade da caixa de diálogo Propriedades da impressora. 2 Selecione o tamanho do papel fotográfico como

A contribuição de Castelli (2006), apesar de voltada para a hotelaria retrata, acima de tudo, a interligação entre os estudos hospitalidade comercial e a prestação de

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

O CES é constituído por 54 itens, destinados a avaliar: (a) cinco tipos de crenças, a saber: (a1) Estatuto de Emprego - avalia até que ponto são favoráveis, as