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Cidades inteligentes como estratégia para desenvolvimento de cidades sustentáveis : o caso da cidade de Búzios

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Academic year: 2023

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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DA ECONOMIA CRIATIVA

TATIANA DOS SANTOS MARCELINO DO NASCIMENTO

CIDADES INTELIGENTES COMO ESTRATÉGIA PARA DESENVOLVIMENTO DE CIDADES SUSTENTÁVEIS – O CASO DA CIDADE DE BÚZIOS

Rio de Janeiro 2018

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TATIANA DOS SANTOS MARCELINO DO NASCIMENTO

CIDADES INTELIGENTES COMO ESTRATÉGIA PARA

DESENVOLVIMENTO DE CIDADES SUSTENTÁVEIS – O CASO DA CIDADE DE BÚZIOS

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito para a obtenção do título de Mestre em Gestão da Economia Criativa [Linha de pesquisa:

Gestão Estratégia de Setores Criativos]

pela Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM

Orientador: Daniel Kamlot

Rio de Janeiro 2018

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Ficha catalográfica elaborada pelo autor por meio do Sistema de Geração Automático da Biblioteca ESPM

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TATIANA DOS SANTOS MARCELINO DO NASCIMENO

CIDADES INTELIGENTES COMO ESTRATÉGIA PARA DESENVOLVIMENTO DE CIDADES SUSTENTÁVEIS – O CASO DA CIDADE DE BÚZIOS

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Gestão da Economia Criativa pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM.

Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 2018.

__________________________________________

Prof. Daniel Kamlot Orientador (a)

__________________________________________

Prof. Luís Alexandre Grubits de Paula Pessôa Avaliador 1

__________________________________________

Prof. Diego Santos Vieira de Jesus Avaliador 2

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Dedico esse trabalho a Jesus, o autor e consumador da minha fé.

“Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas”.

Habacuque 3:17-19

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus que me permitiu chegar até aqui.

A meu marido e meu filho que são meus maiores incentivadores.

A meu orientador Daniel Kamlot que me conduziu por entre os caminhos nebulosos durante todo o curso... serei eternamente grata.

Aos professores Diego de Jesus, João e Veranise Dubeux, vocês são exemplos de mestres, aprendi muito com vocês.

A o grupo 1 (Vê, Leo e Marcos), vocês fizeram minhas sextas e sábados mais alegres.

Amo todos vocês!!

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RESUMO

As cidades até 2020 irão abrigar 70% da população mundial, sendo responsáveis pelo consumo de 75% dos recursos naturais mundiais, 75% do consumo de energia e 80%

das emissões de gases relacionados ao efeito estufa. Devido a essa aceleração urbana, há uma necessidade cada vez maior de disponibilização e uso de recursos, o que resulta em ambientes urbanos sobrecarregados e insustentáveis. Está cada vez mais difícil manter o ritmo frenético de produção e sustentabilidade das cidades, portanto é necessário repensar um novo modelo de desenvolvimento urbano (FERREIRA, 2017).

É neste contexto que as cidades inteligentes ou Smart Cities aparecem, com o intuito de tornar as cidades mais habitáveis, seguras e produtivas, oferecendo melhor qualidade de vida. Esse tema tem influenciado inúmeros países. É um conceito que ainda está formação, mas é fato que ele está relacionado a transformações tecnológicas, econômicas, políticas e socioculturais (HAUSER; BOCHI, 2017). A Smart city também se apresenta como um grande desafio, pois pressupõe uma visão holística e sistêmica do espaço urbano, além da integração de diversos atores e setores.

Em 2011 a AMPLA/ENEL iniciou o projeto Cidade Inteligente Búzios, voltado para a eficiência energética da região. Ele propunha que no Balneário a rede inteligente ou smart grid utilizaria soluções digitais avançadas que permitiriam que a rede elétrica funcionasse de modo semelhante à internet. Fazendo a ligação entre a rede tradicional de distribuição com as soluções modernas que enviariam além da energia, dados e informações que iriam alimentar toda a cadeia gerando uma rede energética eficiente e sustentável. O projeto teve um prazo de 5 anos com um investimento de 54 milhões e atingiu inúmeros stakerholders.

Palavras chave: Cidade inteligente. Smart city. Smart grid. Eficiência energética.

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ABSTRACT

Cities by 2020 will house 70% of the world's population, accounting for 75% of the world's natural resources, 75% of energy consumption and 80% of greenhouse gas emissions. Because of this urban acceleration, there is an increasing need for resource availability and use, resulting in overburdened and unsustainable urban environments. It is increasingly difficult to maintain the frantic pace of production and sustainability of cities, so it is necessary to rethink a new model of urban development (FERREIRA, 2017).

It is in this context that smart cities or smart cities appear, with the aim of making cities more livable, safe and productive, offering a better quality of life. This theme has influenced countless countries. It is a concept that is still forming, but it is a fact that it is related to technological, economic, political and socio-cultural transformations (HAUSER; BOCHI, 2017). Smart city also presents itself as a great challenge, since it presupposes a holistic and systemic vision of the urban space, besides the integration of diverse actors and sectors.

In 2011, AMPLA / ENEL started the Búzios Intelligent City project, focused on energy efficiency in the region. He proposed that in the Balneario the smart grid or smart grid would use advanced digital solutions that would allow the electrical network to function in a similar way to the Internet. Connecting the traditional distribution network with modern solutions that would send energy, data and information that would feed the entire chain generating an efficient and sustainable energy network. The project had a term of 5 years with an investment of 54 million and reached countless stakerholders.

Keywords: Intelligent city. Smart city. Smart grid. Energy efficiency.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Dimensões e Fatores da Smart City...23

Figura 2: Dimensões da Smart City...23

Figura 3: Cidade inteligente...25

Figura 4: Evolução Cidades digitais para Cidade inteligente... 28

Figura 5: Setores do Connect Smart Cities...30

Figura 6: Concentração das Cidades mais inteligentes...31

Figura 7: Dimensões CIMI...33

Figura 8: Comparação entre Nova Iorque e São Paulo...35

Figura 9: Comparação entre Buenos Aires e São Paulo...35

Figura 10: DEC – Horas sem Energia...37

Figura 11: FEC – Número de vezes sem energia elétrica...38

Figura 12: Economia Criativa, Cidades Criativas e Cidades Inteligentes...44

Figura 13: Blocos do Projeto – Búzios Cidade Inteligente...46

Figura 14: Site Búzios Cidade Inteligente...48

Figura 15: Divulgação passeio aquataxi elétrico...58

Figura 16: Bonecas Negras...61

Figura 17: Ponto de venda - Bonecas Negras...62

Figura 18: Projeto Energia que Educa...63

Figura 19: Painel Solar – Escola Municipal Nicomedes – Búzios...64

Figura 20: Centro de Monitoramento e Pesquisa (CMP)...65

Figura 21: Portal Bonecas Negras – Búzios...71

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Descrição das dimensões – Smart City...24

Quadro 2: Programa Brasil Inteligente...26

Quadro 3: Programa Minha Cidade Inteligente...28

Quadro 4: Ações para as cidades selecionadas pelo programa Minha Cidade Inteligente... 29

Quadro 5: Ranking Geral...31

Quadro 6: Ranking Primeira Colocação por Setor...32

Quadro 7: TOP 5 da América Latina...34

Quadro 8: Comparação entre Economia Criativa, Cidades Criativas e Cidades Inteligentes...43

Quadro 9: Seleção dos sujeitos...50

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

1.1 OBJETIVO FINAL 13

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 13

1.3 DELIMITAÇÃO DO TEMA 13

2 JUSTIFICATIVA 14

3 REFERENCIAL TEÓRICO 16

3.1 CRIATIVIDADE VERSUS INOVAÇÃO 16

3.2 ECONOMIA CRIATIVA - UM NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO . 18

3.3 CIDADES CRIATIVAS - A CULTURA E CRIATIVIDADE COMO DIFERENCIAIS NA CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADE CRIATIVA E SUSTENTÁVEL 22

3.4 CIDADES INTELIGENTES – TECNOLOGIA COMO INTEGRADOR DA CIDADE . 25

3.4.1 Cidades inteligentes no cenário brasileiro 32

3.4.2 Ranking das cidades inteligentes no brasil e no mundo . 35

3.5 REDES INTELIGENTES - UM DOS CAMINHOS PARA TRANSFORMAÇÃO DE UMA CIDADE EM CIDADE INTELIGENTE 41

3.6 ECONOMIA CRIATIVA, CIDADES CRIATIVAS E CIDADES INTELIGENTES – PERCEPÇÕES, DIFERENÇAS E APROXIMAÇÕES 45

3.7 PROJETO BÚZIOS CIDADE INTELIGENTE – A EXPECTATIVA 49

4 METODOLOGIA 55

4.1 TIPO DE PESQUISA. 55

4.2 SELEÇÃO DE SUJEITOS 55

4.3 COLETA DE DADOS 56

4.4 TRATAMENTO DOS DADOS . 56

4.4.1 Abordagem qualitativa 56

4.4.2 Análise de discurso 57

4.5 LIMITAÇÕES DO ESTUDO 57

5 DESDOBRAMENTOS PRÁTICOS E PRODUTOS ORIUNDOS DA PESQUISA 59

5.1 A GÊNESE . 59

5.2 O PROJETO – A REALIDADE 61

5.3 O PÓS PROJETO. 73

6 CONCLUSÃO 76

7 REFERÊNCIAS 79

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1 INTRODUÇÃO

O tema Cidade Inteligente, ou Smart City, tem estado no centro das discussões, no mundo todo, no que se refere a desenvolvimento urbano sustentável. Neste âmbito, a tecnologia é usada para tornar os serviços e a infraestrutura mais eficientes e apresenta-se como um grande desafio para os gestores públicos (CAMPOS, 2015).

A evolução para uma cidade mais inteligente, mais integrada, mais inovadora, pressupõe uma visão holística e sistêmica do espaço urbano e a integração efetiva dos vários atores e setores urbanos. Para tal, é necessário ir além dos investimentos em inovação tecnológica e inovar também na gestão, no planejamento, no modelo de governança e no desenvolvimento de políticas públicas (CAMPOS, 2015, p. 6).

Segundo relatório da ONU (2015), hoje 54% da população mundial vivem em áreas urbanas e em 2050 esse número subirá para 66%. Consequentemente, inúmeros desafios deverão ser enfrentados por todos os países para se adequarem a esse crescimento populacional.

Campos (2015) complementa que, para que as transformações urbanas sejam executadas com sucesso e a cidade se torne inteligente, é de suma importância que haja governança e planejamento em busca de soluções integradas.

O crescimento da população exigirá dos gestores e dos próprios indivíduos uma melhor utilização dos recursos. Camargo (2015) pontua que há necessidade da execução de um novo modelo de progresso, o qual está voltado para o conceito de equilíbrio e reposição permanente dos recursos. Complementa que a sustentabilidade é o novo paradigma do tempo em que vivemos. Com isso, é necessária uma nova consciência sobre a forma de produção e consumo, baseado na eficiência energética, redução de desperdícios, alocação correta de recursos, mobilidade urbana, dentre outros. Os gestores precisam estar alinhados com essa tendência, criando assim mecanismos que busquem alcançar, dentro de suas cidades, desenvolvimento sustentável, tornando-as mais inteligentes. "É preciso, antes de mais nada, que a cidade inteligente seja o melhor lugar para se viver" (CAMARGO, 2015, p. 19).

Um projeto de cidade inteligente pode contribuir para atender a essa demanda, por meio da criação de mecanismos que auxiliem na busca por um maior controle e organização desses espaços e ajudem tais cidades a se tornarem lugares sustentáveis. Implantar sistemas de mobilidade urbana, tratamento de resíduos, eficiência energética, dentre outros, são caminhos normalmente escolhidos pelos gestores das cidades brasileiras.

Nesse contexto, este trabalho visa à resposta da questão: Como a implementação do projeto Búzios cidade inteligente, por meio de uma identidade energética, se relaciona com o conceito de Smart City de uma maneira criativa? E se essa implementação se enquadra com o

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modelo de cidades inteligentes? E se pode ser considerada como um modelo de cidade inteligente?

1.1 OBJETIVO FINAL

O objetivo deste trabalho consiste em analisar os motivos responsáveis por levar à implementação de um projeto, na cidade de Búzios, focado na infraestrutura da área de energia, em particular no modelo de eficiência energética, identificando se tal projeto pode ser responsável por transformar a cidade em uma cidade inteligente.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Analisar o papel da criatividade e inovação como catalisadores de valor econômico na economia criativa e seu impacto no desenvolvimento das cidades;

• Verificar como as cidades criativas utilizam a criatividade e a cultura para mobilizar a sociedade e solucionar problemas urbanos;

• Definir o que é cidade inteligente no contexto brasileiro;

• Levantar as percepções, aproximações e diferenças entre economia criativa, cidades criativas e cidades inteligentes;

• Analisar a situação macro ambiental da cidade de Búzios e sua relação com a implementação do projeto em questão;

• Identificar as relações do investimento em infraestrutura de energia e o desenvolvimento de cidades inteligentes.

1.3 DELIMITAÇÃO DO TEMA

Não faz parte do escopo do estudo a análise do melhor modelo a ser implantado em Búzios. O objetivo do trabalho é identificar o porquê de o modelo energético ter sido escolhido em detrimento dos outros modelos existentes, não contemplando assim outros enfoques possíveis, que podem ser eventualmente citados, mas não serão analisados como uma alternativa à escolhida pelos gestores da cidade investigada.

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2 JUSTIFICATIVA

O termo “economia criativa” foi apresentado inicialmente por Howkins (2001), que descreveu o relacionamento entre criatividade e economia. Para o autor, “a criatividade é a capacidade de gerar algo novo. Significa a produção, por parte de uma ou mais pessoas, de ideias e invenções que são pessoais, originais e significativas” (HOWKINS, 2013, p. 13). Já para a UNCTAD (2010, p. 10), “a ‘economia criativa’ é um conceito em evolução baseado em ativos criativos que potencialmente geram crescimento e desenvolvimento econômico”. O conceito de economia criativa é muito abrangente e permeia diferentes áreas, com conexões e interseções importantes.

Landry (2013) pontua que a criatividade pode ajudar a desenvolver inovações e invenções que podem auxiliar na resolução de problemas urbanos incontroláveis. As cidades precisam disponibilizar espaços para que a população possa pensar, planejar e agir com imaginação.

Porém, o autor cita que existe um paradoxo que gira em torno da criatividade. Segundo ele, quanto mais ela é discutida, mais há um retorno a uma cultura de aversão ao risco. É importante que se tenha em mente que inovação está extremamente ligada a riscos. Não há como criar algo novo sem se cometerem erros. “A questão central é ter uma mentalidade disposta a reavaliar as coisas abertamente e ser criativo quando necessário” (LANDRY, 2013).

As cidades criativas aparecem como novo fenômeno em um cenário em que o colapso das fronteiras geográficas desencadeou grandes e profundas mudanças econômicas, sociais e culturais. Elas surgem em um contexto de transição de uma sociedade tradicional voltada para força e matéria prima finita para uma sociedade voltada para a informação e para o conhecimento. “É um processo de transformação sem precedentes, catalisado pela interconexão tecnológica e pela mobilidade global das pessoas, dos produtos e das ideias, que denominamos globalização e que tem efeitos negativos, mas também cria novas oportunidades” (PARDO, 2011, p. 87).

A cidade criativa se torna uma aceleradora de oportunidades quando promove a sociabilidade, o intercâmbio, maximizando a mistura em um ambiente físico diverso e uma atmosfera criativa. Sua infraestrutura criativa, ou “meio social criativo”, combina equipamentos, programas e infraestrutura mental. Porém requer mudança de mentalidade, permitindo que o povo atue como agente de mudança e não como vítima dessas transformações (LANDRY, 2013, p. 27).

Em paralelo a tudo isso surgem as cidades inteligentes, ou smart cities, que são ecossistemas urbanos inovadores que, para gerir seus recursos, utilizam a tecnologia da

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informação e comunicação (TICs). O desenvolvimento social, cultural e urbano é melhorado por meio da utilização de uma infraestrutura em que a conectividade é a fonte de desenvolvimento, possibilitando uma melhor eficiência econômica e política. O foco da cidade inteligente é melhorar a qualidade de vida do cidadão, tornar a cidade sustentável e aprimorar a gestão dos recursos, por meio da conexão entre o capital humano, social e a infraestrutura tecnológica (DEPINÉ, 2016).

Os conceitos relacionados à smart city surgiram num contexto de problemas urbanos agudos, associados a um ambiente de colaboração, para resolver algumas das dificuldades da vida nas cidades. O desafio é como estimular ainda mais a inovação de forma econômica e com baixo risco, de modo que, mesmo as cidades com recursos mais restritos, possam investir na prosperidade local e abordar os principais objetivos de sustentabilidade (HAUSER; BOCHI, 2017, p. 25).

Esse tema tem influenciado inúmeros países, porém não há uma compreensão única para o termo "inteligente", contudo é notório que ele está relacionado a algum tipo de inovação que utiliza tecnologia da informação e comunicação de maneira positiva, com o objetivo de melhorar a vida urbana. É um conceito que ainda está formação, mas é fato que ele está relacionado a transformações tecnológicas, econômicas, políticas e socioculturais (HAUSER;

BOCHI, 2017).

Este trabalho apresenta relevância teórica, uma vez que busca cobrir um gap na literatura referente à relação da economia criativa e cidades criativas com as cidades inteligentes. Como implicações práticas, visa alimentar o debate sobre as cidades inteligentes no contexto das cidades criativas e da economia criativa, que não chama a atenção apenas do cidadão que é afetado diretamente pelo mau funcionamento do lugar em que vive, mas atrai a atenção do poder público e do empresariado. Do poder público, porque vai exigir a alteração de políticas públicas de leis de regulamentações de uma série de elementos que favoreçam a implantação do projeto. No que diz respeito ao empresariado, uma grande preocupação das empresas da área de economia criativa é promover uma noção mais holística de envolvimento, como as empresas se envolverão e auxiliarão na promoção do desenvolvimento sustentável, inclusão social, enfim, uma série de elementos neste contexto.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo apresenta uma reflexão quanto aos conceitos apresentados por meio de revisão da literatura existente sobre o problema estudado. Sua utilidade consiste na apresentação do tema a partir da visão de autores cujas pesquisas tenham levantado questões ou trazido à luz análises relevantes para o presente estudo. Para Vergara (2010) é no referencial teórico que são levantados os gaps percebidos na literatura, os pontos a serem confirmados ou as discordâncias, as preferências, dentre outros. Ela pontua que é nesta seção onde ocorrerá a contextualização permitindo ao leitor tomar conhecimento sobre o assunto a ser exposto nas demais sessões (VERGARA, 2010).

3.1 CRIATIVIDADE VERSUS INOVAÇÃO

A criatividade surge na economia criativa como catalisador de valor econômico, e essa economia aparece como uma oportunidade de resgate do cidadão por meio de ativo que emana de sua formação, cultura e raízes. A convergência entre diversos fatores como tecnologia, globalização e a insatisfação com o atual quadro socioeconômico mundial atribui à criatividade o papel de motivar e embasar novos modelos de negócios, processos organizacionais e uma arquitetura institucional, e é neste contexto que reside a novidade (REIS, 2008).

Vivemos hoje um momento único na história, em que a tecnologia assumiu papel central em nossas vidas. Nos últimos anos, a tecnologia se moveu rapidamente para dentro dos nossos bolsos. E o universo de funcionalidades (apps) é simplesmente infinito e diretamente proporcional à criatividade humana (FIRJAN, 2016, p. 47).

Anteriormente o conceito de criatividade estava relacionada apenas a atividades artísticas, porém no relatório da UNCTAD (2010), houve ampliação deste conceito abrangendo qualquer atividade econômica dependente da propriedade intelectual por meio da produção de produtos simbólicos. Este novo posicionamento exige com que respostas adequadas sejam implementadas, visto que situações novas e imagináveis estão ocorrendo e essas mudanças tem impactado substancialmente a vida de todos (FIRJAN, 2016).

Esse novo paradigma traz à tona a importância da criatividade, que neste caso é considerada a matéria prima da economia criativa. Reis (2008) apresenta criatividade como combustível renovável que, à medida que é utilizada, aumenta seu estoque. Ela frisa que: “a

‘concorrência’ entre agentes criativos, em vez de saturar o mercado, atrai e estimula a atuação de novos produtores”.

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Criatividade. Palavra de definições múltiplas, que remete intuitivamente à capacidade não só de criar o novo, mas de reinventar, diluir paradigmas tradicionais, unir pontos aparentemente desconexos e, com isso, equacionar soluções para novos e velhos problemas. Em termos econômicos, a criatividade é um combustível renovável e cujo estoque aumenta com o uso. Além disso, a “concorrência” entre agentes criativos, em vez de saturar o mercado, atrai e estimula a atuação de novos produtores (REIS, 2008, p. 15).

Desde o início dos tempos, a criatividade é conhecida como combustível da inovação.

Schumpeter (1988) pontua que uma inovação só é completa, no sentido econômico, quando gera riqueza. Ele complementa que inovações incrementais são melhorias nas inovações radicais e essa última provoca mudanças no sistema econômico.

No nível macro, há um substancial conjunto de evidências de que a inovação é o fator dominante no crescimento econômico nacional e nos padrões do comércio internacional. No nível micro — dentro das empresas — a P&D é vista como o fator de maior capacidade de absorção e utilização pela empresa de novos conhecimentos de todo o tipo, não apenas conhecimento tecnológico (OCDE, 2005, p. 31).

A inovação sempre esteve presente na estratégia organizacional e foi responsável por mudanças significativas no mercado. Ela é movida pela habilidade de estabelecer relações, detectar oportunidades e tirar proveito das mesmas, mas não consiste apenas na criação de novos produtos – pode também significar novas formas de atualizar produtos já estabelecidos e maduros (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008).

Duas dimensões são utilizadas para mapeamento dos tipos de inovação, figura 1. Ela não ocorre somente quando há mudanças nos produtos / serviços oferecidos pela empresa (inovação de produto), ela acontece também quando há mudança na forma que os produtos / serviços são criados e entregues (inovação de processo), quando há mudanças no contexto em que produtos / serviços são introduzidos (inovação de posição) e quando há mudança nos modelos mentais que orientam o que a empresa faz (inovação de paradigma), caracterizando assim a primeira dimensão (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008).

Já a segunda dimensão está relacionada ao grau de novidade envolvido. Quando existe algo completamente novo que transforma a forma como vemos ou usamos as coisas, ela é classifica como uma inovação radical. Já a inovação incremental está relacionada à melhoria do produto ou processo dentro da organização. (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008).

Este trabalho irá considerar que a criatividade como ponto de diferenciação para uma cidade ser considerada criativa e a tecnologia, sendo ela oriunda de uma inovação incremental ou radical, como ponto crucial para o desenvolvimento de uma cidade inteligente.

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3.2 ECONOMIA CRIATIVA - UM NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

A economia criativa é um conceito em evolução baseado em ativos criativos que potencialmente geram crescimento e desenvolvimento econômico (UNCTAD, 2010). Para Reis (2008), ela se apresenta como oportunidade de resgate do cidadão e do consumidor, por meio de um ativo que emana de sua própria formação, cultura e raízes. A autora acrescenta que a valorização da singularidade, do simbólico e do intangível constitui os três pilares da economia da criatividade. “Economia criativa é o conjunto de atividades econômicas que dependem do conteúdo simbólico – nele incluído a criatividade como fator mais expressivo para a produção de bens e serviços” (IPEA, 2013, p.7).

O papel da economia criativa se apresenta como desdobramento da economia do conhecimento, agregando como traço crucial a cultura. Os ativos intangíveis (inclusive a cultura) convertem-se em diferenciais econômicos em um mundo de crescente padronização.

A economia criativa também bebe das águas da economia da experiência, gerando um ambiente no qual há manifestações imprevistas de ideias e respostas a novos e antigos desafios (REIS;

URANI, 2011). Ela pode se relacionar de forma simbiótica com as novas tecnologias e com a comunicação; além disso, promove a diversificação econômica, de receitas, de comércio e de inovação (IPEA, 2017).

Throsby (2010) aponta que em uma economia em constantes mudanças, a economia criativa, juntamente com a cultura e as artes, tem sido vista por políticos, estudiosos e líderes como um grande potencial no aumento da criatividade. Novas questões surgem e se faz necessário que discussões existentes na pesquisa e na prática de políticas culturais, sejam revisitadas. O autor traz ao debate as questões referentes à ampliação do escopo das políticas culturais que migraram das artes criativas para os setores criativos e culturais e, como consequência, novas áreas surgiram.

A economia criativa contribui de várias formas que vão desde dimensões econômicas, sociais, culturais até as dimensões referentes ao desenvolvimento sustentável. “Sabe-se que iniciativas culturais de base que promovem a inclusão social podem ser potencializadas a partir da abordagem da economia criativa, e que o desenvolvimento de certas indústrias criativas pode reduzir disparidades de gênero” (IPEA, 2013, p. 8). Podemos encontrar tanto na tecnologia quanto na economia os principais fatores responsáveis pelo crescimento das indústrias criativas.

Na economia criativa, a geração de riqueza depende da capacidade do país de criar conteúdo criativo, transformá-lo em bens ou serviços comercializáveis e encontrar

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formas de distribuí-los, no mercado local e no exterior, ganhando escala e divulgando seu conhecimento. Esse valor é incrementado quando a região aproveita sua maior e mais inimitável vantagem competitiva: sua própria marca, como promissor veículo de exportações. (REIS, 2008, p.41).

Em uma economia baseada em matéria prima finita, a economia criativa apresenta-se como alternativa para o desenvolvimento econômico, em que a criatividade aparece como ponto chave. Para que a criatividade se concretize e tenha sucesso, é necessário que existam condições favoráveis, tendo como base um processo de transformação contínua, uma essência profundamente local que a distinguirá das demais (REIS; URANI, 2011).

Saber conectar os pontos ainda não conectados. Com a extrema abundância de informações e conhecimentos, com o vasto espectro de produtos e de iniciativas, as possibilidades se tornam praticamente infinitas. Mas não dá para ser criativo apenas olhando para o próprio quintal. É preciso sair do casulo, experimentar novos ambientes, pessoas e sistemas novos, além de estar permanentemente aberto a ouvir o contraditório (FIRJAN, 2016, p. 50).

A economia criativa é profundamente arraigada nas economias nacionais. Ao produzir benefícios econômicos e emprego nos setores de serviços e manufatura relacionados, ela promove a diversificação econômica, receitas, comércio e inovação. Ela ajuda a reavivar áreas urbanas decadentes, a abrir e desenvolver áreas rurais remotas e a promover a preservação dos recursos ambientais e patrimônios culturais de um país (UNCTAD, 2010, p. 23).

Em toda a história da humanidade, nunca se presenciaram tantas mudanças em tão curto período de tempo. Inúmeros desafios são apresentados, mas por outro lado, há um campo repleto de oportunidades em que anteriormente não se havia pensado. Segundo a FIRJAN (2016, p. 48) em 2020, teremos 3 bilhões de pessoas a mais conectadas via internet, 100 milhões de dispositivos conectados em rede e 1 trilhão de sensores, câmeras em telefones, drones, carros autônomos, satélites, tudo sendo gravado e interpretado em tempo real, por inteligência artificial. A previsão para os próximos 20 ou 30 anos é de que os robôs e a inteligência artificial substituirão 48% das profissões. Isso demonstra que precisaremos usar a criatividade para resolver o problema de milhares de pessoas que não terão com que trabalhar. Será necessário gerar novas profissões, nunca antes pensadas.

A educação em tempos de criatividade requer o uso de competências que nos fazem humanos e nos diferenciam de qualquer outra espécie. O futuro espera muito de nós.

E a melhor maneira de prever esse futuro é cocriá-lo. Das mentes para as mãos, das mãos para o mundo e do mundo para o universo (FIRJAN, 2016, p. 50).

Segundo Reis (2008), os primeiros conceitos referentes à economia criativa tinham foco em indústrias criativas e em sua dinâmica econômica. Ela pontuou que havia muita indefinição entre os autores sobre esses conceitos e que essa questão foi resolvida após definição da

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UNCTAD para indústrias criativas. Para a UNCTAD (2010), as indústrias criativas encontram- se no centro da economia criativa.

[...]as indústrias criativas são, portanto, não apenas economicamente valiosas por si mesmas, mas funcionam como catalisadoras e fornecedoras de valores intangíveis a outras formas de organização de processos, relações e dinâmicas econômicas de setores diversos, do desenho de cosméticos que utilizam saberes locais a equipamentos e artigos esportivos que comunicam a marca de um país. Na economia criativa, indústria e serviços fundem-se cada vez mais. (REIS, 2008, p. 25)

É importante que o país seja capaz de conceber objetos criativos, gerando riqueza por meio da comercialização de bens e serviços no mercado nacional e internacional. “Esse valor é incrementado quando a região aproveita sua maior e mais inimitável vantagem competitiva: sua própria marca, como promissor veículo de exportações” (REIS, 2010, p. 41). Segundo a UNCTAD (2016, p.16), “aglomerados de negócios criativos podem crescer em qualquer localidade, desde que existam condições para o desenvolvimento de um grupo criativo”.

Ao se agruparem, as empresas serão capazes de economizar em suas interligações espaciais, obter as múltiplas vantagens dos mercados de trabalho concentrados de forma espacial, conectar-se ao abundante fluxo de informações e potenciais inovadores que se faz presente sempre que muitos produtores com especialidades diferentes e complementares se reúnem, e assim por diante (SCOTT 2005 apud UNCTAD, 2010, p. 16).

É possível demonstrar que a eficiência e a produtividade são aprimoradas por meio do desenvolvimento de produtos e serviços criativos, além da promoção da sustentabilidade (PORTER 1990 apud UNCTAD, 2010). A proximidade entre empresas permite um melhor desenvolvimento da criatividade, visto que o ambiente em questão estimula os indivíduos que convivem neste espaço a “pensar fora da caixa” e inovar sem medo.

Em seu livro Creative Ecologies, Howkins (2011), ao observar várias espécies que convivem em um ecossistema, pontua que a criatividade depende da relação entre quatro condições ecológicas: diversidade, mudança, aprendizado e adaptação. Ele acrescenta que a aprendizagem melhora quando as pessoas trabalham ao lado de outras mais inteligentes.

Segundo ele, a ecologia criativa é o lugar onde as pessoas se expressam de forma sistêmica e adaptativa, ou seja, é o celeiro ideal para o nascimento de ideias.

A criatividade pode desabrochar em qualquer lugar e podemos ter uma grande ideia, sentados no meio de um deserto. Mas se quisermos ir além da criatividade e chegar à ecologia criativa, precisamos de diversidade, mudança, aprendizado e adaptação, com abrangência e escala suficientemente amplos. Precisamos de lugares com mais pessoas, mercados mais ativos, um ambiente construído adequado e as maiores redes de banda larga. Nesses locais, o aprendizado é mais rápido, a colaboração é mais fácil e a novidade é mais estimulante. Em outras palavras, são cidades criativas (HOWKINS, 2011, p. 126).

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É essa diversidade que faz com que novas ideias surjam e gerem mais combustível para a criatividade, o que manterá as cidades vivas. A diversidade, juntamente com o estranhamento, com as diferenças e a tolerância, compõe os itens vitais à manutenção das cidades criativas.

Florida (apud HOWKINS, 2011, p. 127) pontua que as cidades para serem economicamente bem-sucedidas precisam de pessoas talentosas e excêntricas.

O indivíduo assume o papel central, e é este ponto que faz com que a economia da criatividade se diferencie da economia tradicional, cujo foco principal era a empresa e tudo girava ao seu redor. O indivíduo deixou de ser coadjuvante e passou a ser protagonista na era da criatividade (HOWKINS, 2013). Um novo estágio de relacionamento das pessoas com o meio em que vivem e com a cultura ao seu redor foi criado, onde bens e serviços culturais e criativos podem ser adquiridos sem que haja necessariamente a intermediação do mercado (REIS, 2008).

Vivemos hoje numa economia baseada na atenção, que se tornou um dos ativos mais preciosos do mercado. Apesar de dispormos de recursos tecnológicos praticamente ilimitados, só podemos contar com as mesmas limitadas 24 horas para comer, trabalhar, estudar e dormir. Nesse contexto, é natural que tantas empresas, apps, informações e redes sociais disputem ferrenhamente a nossa atenção (FIRJAN, 2016, p. 48).

O impacto da cultura é muito forte dentro da economia criativa e é ela que traz a diferenciação ao produto ou serviço gerado. Ela muda de um lugar para outro e essa metamorfose cria inúmeras possibilidades. O que sintetiza a economia criativa é o constante recomeço do ciclo de criatividade. Talento, ideias novas e originais e a transformação de ideias em capital econômico e em produtos comercializáveis é a matéria-prima desta nova economia (REIS, 2008).

A vitalidade que surge do choque de ideias é absolutamente imprescindível para o entendimento de problemas complexos. Não se pode esquecer de que uma ideia muito boa depende da colisão entre ideias medianas. E ideias medianas dependem da colisão entre ideias ruins. Então, é preciso se munir de muita coragem para ter ideias ridículas e tentar colocá-las em prática (FIRJAN, 2016, p. 50).

A moeda mais valiosa, no contexto da economia criativa, não é o dinheiro, mas sim as ideias, que são intangíveis e móveis. Para o desenvolvimento próspero da sociedade é necessária a utilização correta de seus recursos criativos; investimento em educação, pensamento e pesquisa potencializam o valor da criatividade (HOWKINS, 2013). “A economia criativa também pode ser um instrumento muito eficaz para promover equidade e felicidade, se o potencial de todos os segmentos, classes e grupos sociais for gerido por políticas que incorporem os critérios de inclusão social e desenvolvimento” (PARDO, 2011, p. 88-89).

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3.3 CIDADES CRIATIVAS - A CULTURA E CRIATIVIDADE COMO DIFERENCIAIS NA CONSTRUÇÃO DE UMA CIDADE CRIATIVA E SUSTENTÁVEL

As cidades abrigam mais da metade da população do mundo, por esse motivo, a UNESCO pontua que é necessário repensar o urbano para um modelo sustentável. Neste novo cenário, a cultura e a criatividade têm papel chave dentro do desenvolvimento sustentável das cidades. A cultura é reconhecida como um motor de crescimento em todas as suas dimensões, atuando como um poderoso recurso socioeconômico. A promoção da cidade como um local habitável, segura, produtiva e com uma melhor qualidade de vida ocorre quando a criatividade é colocada no centro da renovação e do planejamento urbano (FERREIRA, 2017).

Como um setor de atividade, por meio do patrimônio tangível e intangível, das indústrias culturais e de várias formas de expressões artísticas, a cultura é um poderoso contribuinte para o desenvolvimento econômico sustentável, para a estabilidade social e para a proteção ambiental. Como repositório de conhecimento, significados e valores que permeiam todos os aspectos de nossas vidas, a cultura também define o modo como os seres humanos vivem e interagem uns com os outros e com o meio ambiente (UNESCO, 2012, p.65).

Estamos passando por uma mudança de paradigma, de um modelo baseado no desenvolvimento quantitativo para um modelo de desenvolvimento qualitativo. Este novo modelo traz consigo desafios relacionados ao equilíbrio ambiental, demográfico, sustentável e cultural dentro do território. "Nossa viabilidade como espécie depende de um novo modo de entender o desenvolvimento, no qual a criatividade tem papel fundamental para vencer os maiores desafios da humanidade" (PARDO, 2011, p. 88).

“A cidade enfrenta uma crise crescente que não pode ser resolvida por uma atitude de

“conformidade”. Ela deve abranger o desafio de conviver com uma grande diversidade e diferença, abordar a agenda da sustentabilidade, repensar seu papel e finalidade para sobreviver bem em termos econômicos, culturais e sociais e administrar a crescente complexidade” (LANDRY, 2013, p. 5).

É necessário trocar os insumos baseados em recursos naturais que são finitos, para uma matéria prima infinita - informação, conhecimento e criatividade - que quanto mais é usada, mais se renova (REIS, 2008; LANDRY, 2013). Tudo que ocorre na cidade criativa afeta a vida de todos e ela assume uma responsabilidade importante no contexto atual (LERNER, 2011, p.

51).

A cidade criativa é um território social em que existe a cooperação dos agentes econômicos, sociais e culturais por meio de novas ideias que auxiliam no desenvolvimento e na transformação de novos produtos e serviços. Neste âmbito, o cidadão passa a ser o agente de mudança na promoção da transformação dentro das cidades, vivenciando a metamorfose do

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lugar em que vive. “Pessoas, com sua criatividade e sua capacidade cultural, científica, técnica e artística, podem oferecer a base fundamental para que as cidades se tornem sistemas inovadores” (PARDO, 2011, p. 89).

Porém este conceito possui gaps, pois nem sempre existe cooperação entre os atores e nem sempre os desenvolvimentos das cidades ocorrem da mesma forma. No Brasil temos inúmeros problemas no que se referem a condução dos projetos pelo governo. Muitas vezes uma ação só dura pelo período em que o governante está no poder, após a sua saída há a descontinuidade.

Búzios é uma cidade conhecida mundialmente por suas belas praias que encantaram a atriz Brigitte Bardot. Devido a isso esse município se tornou um destino turístico muito procurado nacional e internacionalmente. A cidade respira o turismo e busca de forma criativa encantar seus turistas por meio de seu artesanato, gastronomia, dentre outros.

Para Landry (2013), para a criação de uma “ecologia criativa” dentro de uma cidade, faz- se necessário desenvolver uma plataforma de criatividade que será utilizada como ferramenta estratégica.

Para ser criativa, a cidade requer milhares de mudanças de mentalidade, criando as condições para que as pessoas possam se tornar agentes de mudança, ao invés de vítimas dela, vendo a transformação como uma experiência vivenciada, não como um evento que não irá se repetir (LANDRY, 2011, p. 14).

Marinho (2009, p. 51) pontua que o conceito de cidade criativa "passa pela releitura dos sítios urbanos como um complexo objeto de análise, em constante mutação". A autora complementa que para ser uma cidade criativa, a cidade necessita possuir uma interconexão entre diversas áreas de conhecimento, pois ela é interdisciplinar. A cultura passa a ser reconhecida como a fonte que alimenta a nova economia e aparece como pilar para o desenvolvimento da sociedade pós-industrial, na chamada era do conhecimento (MARINHO, 2009).

Pardo (2011) coloca que a cidade criativa está voltada a inovação e cultura e que valores de mudança, melhoria e progresso são gerados por meio da implementação de critérios que viabilizam a criatividade. As cidades atraem pessoas que produzem e compram, que estão dispostas a aprender, a se adaptar e a buscar novas percepções. São indivíduos exigentes em busca de novidade e estilo. E é nessas cidades que ocorrem esses encontros e trocas que geram combustível para a criatividade.“O ativo mais importante são as pessoas. Pessoas, com sua criatividade e sua capacidade cultural, científica, técnica e artística, podem oferecer a base fundamental para que as cidades se tornem sistemas inovadores (PARDO, 2011, p. 89).

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A cultura da criatividade passa a ser inserida no modo de participação dentro de uma cidade criativa, ampliando o leque de soluções para os problemas urbanos, pois legitima o uso da imaginação nas esferas pública, privada e da sociedade civil (LANDRY, 2011). A cidade criativa precisa construir um sonho coletivo, mobilizando seus cidadãos a transformarem sonhos em realidade – essa é a essência que transforma as cidades em territórios criativos. “Ela também reconhece que é parte do mundo, com uma responsabilidade compartilhada pelo bem- estar de seus clientes, seus recursos naturais e o futuro do próprio planeta” (STRICKLAND, 2011, p. 51).

É importante que as pessoas se sintam parte de todo processo e ter um sonho coletivo é vital para o envolvimento dos habitantes e consequentemente melhoria da qualidade de vida (LERNER, 2011). O sucesso futuro será determinado pelas pessoas que vivem e trabalham nas cidades, que contribuirão na resolução de problemas sociais, de infraestrutura e espaciais (LANDRY, 2013; JOFFE, 2011).

Em uma cidade criativa, a geração de riqueza, oportunidades e prosperidade se dá a partir da habilidade de construir valor com a força de ideias, informação, conhecimento e talento. Ela promove elementos de ecossistema sociocultural, que está inserido no sistema produtivo, em que todos os setores interagem entre si buscando criar um cenário econômico e vital e que promova a criação de riqueza, coesão social, qualidade de vida e atratividade (PARDO, 2011).

Neste âmbito, a UNESCO criou a rede de cidades criativas, que coloca a criatividade e a cultura como fatores estratégicos de desenvolvimento das cidades em âmbito local ou internacional. Essa rede funciona como uma plataforma de conexão entre as cidades e é vista como um terreno fértil para a implementação da agenda 2030, que busca promover o desenvolvimento sustentável (FERREIRA, 2017).

Inovação, conexões e cultura são três elementos que prevalecem em uma cidade criativa, independente da história, tamanho e condição socioeconômica (REIS; URANI, 2011). Quando uma cidade é criativa, ela se torna atraente para indústrias e pessoas criativas, independentemente de seu tamanho (REIS; URANI, 2011; LANDRY, 2011). Ela estimula a inserção de uma cultura de criatividade, no modo como se participa da cidade. Ao incentivar a criatividade e legitimar o uso da imaginação nas esferas pública, privada e da sociedade civil, amplia-se o conjunto de ideias de soluções potenciais para qualquer problema urbano (LANDRY, 2011, p. 13-14). Este também é o entendimento de Reis (2012, p. 223), enfatizando que:

só se ama o que se conhece; expandir os mapas mentais e afetivos que cada um de nós faz de sua cidade a torna una. Cuidar do micro, sentindo-se parte do macro. E esse

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deslocamento do olhar, da parte para o todo, do produto para o processo, da criatividade individual para a inovação urbana, dos mapas individuais para os coletivos, que iça as velas da cidade criativa. (REIS, 2012, p. 223).

Para que a transformação da cidade ocorra, é necessário o esforço de todos visando ao bem comum e à melhoria do local em que se vive. Neste contexto, todos podem trazer suas ideias e elas irão contribuir na resolução de problemas dos mais simples aos mais complexos.

Landry (2011, p. 13) complementa que “[a cidade criativa] pressupõe que sejam criadas condições para que as pessoas pensem, planejem e ajam com imaginação, para estimular oportunidades ou resolver problemas urbanos aparentemente incuráveis”. Uma cidade criativa estimula o engajamento e a criatividade de seus habitantes.

Landry (2011) coloca que uma cidade criativa só pode se desenvolver se houver uma ecologia criativa que permite a interação de modo transversal que vai muito além das indústrias criativas ou da presença de uma classe criativa. E este ecossistema conecta uma administração pública imaginativa, com inovações sociais, criatividade na área da saúde, serviços sociais, política e governança, ou seja, "uma cidade criativa deve ser criativa por completo" (LANDRY, 2011, p. 10).

Landry (2013) pontua ainda que o conceito de cidade criativa se tornou controverso.

Explica que a palavra criatividade “está na moda”, o que faz com que seu real significado muitas vezes não seja entendido corretamente, podendo ser aplicado irrefletidamente. O autor complementa que a partir deste cenário, podem surgir outras variações consideradas como a

“grande novidade do momento”, e cita como um dos exemplos o termo “cidades inteligentes”

como uma dessas mutações. Será que a Smart City é uma variação da cidade criativa, ou seja, uma adequação do termo de acordo com o “frenesi” tecnológico e criativo que vivemos neste momento?

O próximo capítulo foca nessa questão, abordando os conceitos e importância das cidades inteligentes no cenário mundial, e especialmente como esse tema está sendo absorvido pelas cidades brasileiras.

3.4 CIDADES INTELIGENTES – TECNOLOGIA COMO INTEGRADOR DA CIDADE

As cidades possuem grandes desafios a serem superados, pois até 2020 irão abrigar 70%

da população mundial, sendo elas responsáveis pelo consumo de 75% dos recursos naturais mundiais, 75% do consumo de energia e 80% das emissões de gases relacionados ao efeito estufa. Ao mesmo tempo em que as cidades possuem riquezas, elas também consomem de

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forma desenfreada e não sustentável os recursos ambientais que são necessários para a sobrevivência da humanidade. Além de tais problemas, esses espaços urbanos também apresentam questões relacionadas à má distribuição de renda, violência, segurança e mobilidade urbana (FGV, 2015; SOUPIZET, 2017).

Devido a essa aceleração urbana, há uma necessidade cada vez maior de disponibilização e uso de recursos, o que resulta em ambientes urbanos sobrecarregados e insustentáveis. Está cada vez mais difícil manter o ritmo frenético de produção e sustentabilidade das cidades, portanto é necessário repensar um novo modelo de desenvolvimento urbano (FERREIRA, 2017). É neste contexto que as cidades inteligentes aparecem, com o intuito de tornar as cidades mais habitáveis, seguras e produtivas, oferecendo melhor qualidade de vida.

Os conceitos relacionados à Smart City surgiram num contexto de problemas urbanos agudos, associados a um ambiente de colaboração, para resolver algumas das dificuldades da vida nas cidades. O desafio é como estimular ainda mais a inovação de forma econômica e com baixo risco, de modo que, mesmo as cidades com recursos mais restritos, possam investir na prosperidade local e abordar os principais objetivos de sustentabilidade (HAUSER; BOCHI, 2017, p. 25).

A definição de Smart City, ou cidade inteligente, ainda é impreciso, emergente e difuso (PANHAM; MENDES; BREDA, 2016; SOUPIZET, 2017; HAUSER; BOCHI, 2017). Ao mesmo tempo em que aparece como uma oportunidade de melhoria na qualidade de vida da população, também se apresenta como um grande desafio, pois pressupõe uma visão holística e sistêmica do espaço urbano, além da integração de diversos atores e setores. Segundo Hauser e Bochi (2017, p.7), “a viralização do debate sobre smart cities parece ter sido influenciada por alguns fatores que vêm gerando grandes desafios para a definição de políticas públicas e práticas urbanas”. Ela combina novas e velhas tecnologias na construção de uma nova cidade que priorize a qualidade de vida e sustentabilidade e não apenas fatores econômicos (PANHAM; MENDES; BREDA, 2016).

[...], porém não existe critério único ente a arquitetura da cidade e a adoção desta denominação para a cidade. Algumas cidades utilizam a palavra inteligente para nomear iniciativas que envolvem o emprego das tecnologias da informação em projetos de comunicação (PANHAM; MENDES; BREDA, 2016, p. 15).

O conceito de cidades inteligentes não pode ser aplicado da mesma forma para todas as cidades, pois o tipo de cidade, seu tempo de existência, seu tamanho, suas especificidades influenciarão na forma de desenvolvimento desse processo no território (SOUPIZET, 2017).

Panham, Mendes e Breda (2016, p. 56), entendem que “[...] uma cidade inteligente (CI) é capaz

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de "sentir" o ambiente e "reagir" automaticamente, e tomando decisões com o objetivo de manter o equilíbrio de sistema ligados a ela”.

Cidade Inteligente é um novo conceito definindo uma cidade que atua proativamente para melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos pela garantia da sustentabilidade social, econômica e de desenvolvimento urbano. Uma Cidade Inteligente é baseada no uso e na modernização da nova Tecnologia da Informação e das Comunicações para prover um gerenciamento mais eficiente dos recursos e dos serviços municipais (BCN Smart City apud PANHAM; MENDES; BREDA, 2016, p. 131).

Para Marinho (2009), uma cidade torna-se inteligente quando estimula e é estimulada por uma economia específica, com base na cultura e na tecnologia. Ao apropriar a inovação nos ciclos econômicos, os territórios criativos transformam cadeias produtivas em cadeias de valor, qualificando os processos de criação, produção, fruição, distribuição e consumo de bens e serviços. Tais territórios se diferenciam das cidades tradicionais, pois usam o conhecimento, a criatividade e o capital intelectual como principais recursos de produção. Para Camargo (2015, p. 19), “[A cidade inteligente] é necessariamente, um centro cultural e científico importante e um gerador de saberes diversificados na sociedade da informação e do conhecimento”. Já para Panham, Mendes e Breda (2016, p. 22), “[a] cidade que sente e que fala é cidade inteligente”.

[...] a cidade inteligente deve oferecer uma forte concentração de serviços e talentos[...]. Ela é também um valioso hub de comunicação com outras cidades e outros países – integrada a uma rede globalizada – graças a um importante centro de serviços. A economia precisa ser competitiva e adequar-se ao papel das indústrias criativas – cultura através do teatro, televisão, cinema e vídeo, tendo à sua disposição conhecimento e tecnologia de última geração, serviços informatizados, design, editoras, artesanato de luxo e bens sofisticados. Nada disso ocorrerá longe dos centros universitários e de pesquisa que produzem e multiplicam o conhecimento, criando uma palavra-chave para qualquer cidade inteligente: atratividade (CAMARGO, 2015, p. 19).

O modelo de cidade inteligente contribui para uma nova forma de desenvolvimento urbano em que o progresso está voltado a um novo estilo de vida cujo foco é a sustentabilidade, ou seja, à promoção do crescimento sem o desperdício dos recursos naturais, perpetrando sua reprodução e agredindo o mínimo possível a natureza, aumentando assim a capacidade de se (re) produzir infinitamente (CAMARGO, 2015). A participação de todos é estimulada, visto que configura insumo para esse novo sistema que se retroalimenta, garantindo assim que a cidade se conecte a um grande ecossistema. Essa transformação é o cerne da cidade inteligente, ou seja, um novo modelo mental em que os dados captados de diferentes lugares são utilizados para auxiliar a gestão urbana a melhorar seu controle sobre o espaço urbano (SOUPIZET, 2017).

Em suma, este é o novo modelo que, ao invés do progresso a qualquer preço, baseia- se no conceito de equilíbrio dinâmico e de reposição permanente, combatendo o

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crescimento predatório que, uma vez esgotados os recursos, desloca-se para outras regiões, criando “cidades mortas” e sem vida (CAMARGO, 2015, p. 18)

As cidades inteligentes se posicionam como um "hipermeio" que aproxima entre si os atores, viabilizando uma melhor interconexão e um inter-relacionamento (PANHAM;

MENDES; BREDA, 2016). Por intermédio desse novo modelo de cidade é possível fazer com que todos olhem “na mesma direção” – que visa à melhoria da cidade, da qualidade de vida e de sua sustentabilidade. A responsabilidade passa a ser compartilhada entre o poder público, o privado, universidade e a sociedade, que passam a trabalhar para o bem comum e por uma cidade mais inteligente e mais humana.

Segundo Giffinger et al. (2007), uma cidade inteligente atua de forma prospectiva em seis características que o autor define como "inteligente", formando uma estrutura onde ainda podem ser incorporados achados e fatores adicionais, conforme figura 1. É necessário desenvolver uma estrutura hierárquica transparente e fácil, para descrever uma cidade inteligente e suas características. Essa estrutura é definida por 31 fatores, sendo que cada nível é descrito pelos resultados dos níveis abaixo.

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Figura 1 Dimensões e Fatores da Smart City

Fonte: HAUSER; BOCHI (2017) apud GIFFINGER (2007)

Essas dimensões apresentadas na figura 1 são constituídas por diversas atividades, sistemas, funções que estão ligadas a diferentes aspectos relacionados ao dia a dia da cidade, como: educação, mobilidade, saúde, energia, dentre outros (GIFFINGER, 2007; HAUSER;

BOCHI, 2017). Todos esses aspectos contribuem para a formação de uma grande teia que contribuirá para o desenvolvimento de uma cidade mais inteligente.

Figura 2 Dimensões da Smart City

Fonte: HAUSER; BOCHI, 2017

Hauser e Bochi (2017), com base em estudos sobre as dimensões das cidades inteligentes que são amplamente discutidas, elaboraram um modelo com as 7 dimensões principais, de

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acordo com a frequência com que são citadas na literatura (figura 2). As características estão descritas no quadro 1 abaixo:

Quadro 1: Descrição das dimensões – Smart City

Dimensões Descrição

Infraestrutura

A dimensão da infraestrutura é entendida por muitos autores como sendo um elemento essencial, pois está diretamente associada aos insumos necessários para a realização das atividades nas cidades, abrangendo tanto a infraestrutura virtual quanto a infraestrutura física.

Economia

Essa dimensão está associada ao setor econômico da cidade, abrangendo as funções e atividades relacionadas ao mercado de trabalho e à indústria. Incluem- se ainda nessa dimensão inovação e empreendedorismo, no que se refere ao desenvolvimento de tecnologias de ponta, à produtividade e à flexibilidade do mercado de trabalho a fim de promover a integração entre a economia local e a global.

Meio Ambiente

Refere-se aos recursos e às questões associadas ao meio ambiente, como a proteção e a utilização racional dos recursos naturais, visando a uma gestão ambiental eficiente. Ações voltadas ao meio ambiente impactam na

sustentabilidade e na habitabilidade da cidade, por isso devem ser levadas em consideração ao se examinarem as iniciativas de cidades inteligentes.

Pessoas

É a principal dimensão, pois as pessoas são os atores fundamentais em todo o processo de criação de uma cidade inteligente. Pessoas mais informadas, qualificadas e participativas possibilitam o desenvolvimento de projetos de inovação nas mais diversas áreas. Conhecer e discutir os desejos e as necessidades de comunidades e grupos permite implementar a gestão urbana participativa.

Governança

Esta dimensão se refere a aspectos de gestão pública e governo, abrangendo os serviços sociais e públicos, a transparência de governo e as ações participativas.

A governança inteligente visa à maior influência da população na tomada de decisões, a partir do uso de ferramentas TIC que permitam a interação entre a sociedade e o governo.

Qualidade de Vida

Vários fatores podem interferir na qualidade de vida do cidadão, tais como o acesso: à educação; aos meios de transporte rápidos, seguros e econômicos; à saúde; à cultura; ao lazer; dentre muitos outros. Embora essa dimensão seja tratada por alguns autores como um objetivo a ser alcançado pelo bom

desempenho da cidade, entende-se que, devido à sua abrangência e importância, deve ser avaliada separadamente, considerando os diversos

fatores que a impactam.

Tecnologia

As TICs são os principais impulsionadores das iniciativas das cidades inteligentes. A integração das TICs com os projetos de desenvolvimento pode oferecer uma série de oportunidades que podem melhorar a gestão e o

funcionamento de uma cidade, mas também podem aumentar as desigualdades e promover uma divisão digital.

Fonte: HAUSER; BOCHI, 2017

“Percebe-se que o adjetivo inteligente implica, claramente, algum tipo de inovação e mudança tecnológica urbana positiva por meio de da utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC” (HAUSER; BOCHI, 2017, p.6). Essa definição vai ao encontro do entendimento de vários autores que sinalizam que uma cidade inteligente é uma cidade que

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possui a tecnologia como ponto crucial para seu desenvolvimento, cujo objetivo é a sustentabilidade e a qualidade de vida dos cidadãos (SOUPIZET, 2017).

Diante de inúmeros conceitos aqui apresentados, para este trabalho uma cidade inteligente é um território que coloca o indivíduo como cerne do processo e utiliza a tecnologia como ferramenta principal para desenvolvimento de sua sustentabilidade. Ela busca resolver os problemas da cidade por meio de uma interação entre o governo, universidade, empresa e sociedade de forma colaborativa visando o bem comum, por meio de uma rede viva que se retroalimenta trazendo ganhos econômicos, sociais e ambientais, figura 3.

Diferentemente do que o autor Charles Landry pontua em seu livro Origens e futuros da cidade criativa, acredito que existe diferença entre o conceito de cidade criativa e cidade inteligente e não apenas um “frenesi” do momento como ele cita. A cidade inteligente se apresenta como um modelo de cidade criativa e o seu diferencial se baseia na tecnologia como apoio para resolução dos problemas do território.

Figura 3 Cidade inteligente

Fonte: Elaborado pelo autor, 2018

A smart city não atua apenas em uma área específica da cidade, mas visa o desenvolvimento do todo. Como o foco principal dela é o cidadão, há a necessidade de uma mudança de mentalidade, pois o indivíduo passará a contribuir com a solução de problemas, deixando de ser um agente passivo, que antes era apenas impactado pelas mudanças, para um agente ativo, sendo parte da mudança. Uma cidade inteligente é uma cidade viva que sente, participa e colabora buscando sua evolução, sustentabilidade e o bem comum.

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Porém, a implantação de um modelo de cidade inteligente dentro de um país periférico é uma realidade muito diferente daquela que os autores de smart city apresentam. Esses conceitos foram desenvolvidos tendo por base países de primeiro mundo em que existe infraestrutura básica, investimento financeiro e uma mentalidade cooperativa, pois a sociedade compreende o seu papel. O contexto atual da cidade de Búzios assim como o estado do Rio de Janeiro não é favorável, pois nos últimos anos ambos estão passando por um momento de crise financeira grave o que pode impactar diretamente no resultado. Isto aliado a uma política pública voltada para o tempo de governo que não é pensada para ser contínua, dificulta ainda mais as chances de sucesso de uma smart city no Brasil.

O próximo tópico fala sobre o posicionamento do Brasil no que se refere a implantação do modelo de cidades inteligentes e como o governo interpreta o conceito de Cidade Inteligente.

3.4.1 Cidades inteligentes no cenário brasileiro

Em maio de 2016, o Governo Federal instituiu o decreto nº 8776, denominado Programa Brasil Inteligente, com 11 objetivos, sendo que o sexto deles tratava da promoção da implantação de cidades inteligentes no Brasil, conforme o quadro 2.

Quadro 2: Programa Brasil Inteligente Finalidade Objetivos

Universalização do acesso à internet no território Brasileiro

I - Expandir as redes de transporte em fibra óptica;

II - Aumentar a abrangência das redes de acesso baseadas em fibra óptica nas áreas urbanas;

III - Ampliar a cobertura de vilas e de aglomerados rurais com banda larga móvel;

IV - Atender órgãos públicos, com prioridade para os serviços de educação e de saúde, com acesso à internet de alta velocidade.

V - Ampliar a interligação com redes internacionais de telecomunicações;

VI - Promover a implantação de cidades inteligentes;

VII - Promover a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação em tecnologias móveis de quinta geração;

VIII - fomentar o desenvolvimento e a adoção de soluções nacionais de internet das coisas e sistemas de comunicação máquina a máquina;

IX - Promover a capacitação e a qualificação profissional em tecnologias da informação e comunicação;

X - Disponibilizar capacidade satelital em banda larga para fins civis e militares; e

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XI - Expandir redes de transporte em fibra óptica na Amazônia por meio de cabos subfluviais.

Fonte: EDITAL 214/2016/SEI-MC, 2016, p.2

Como desdobramento desse programa, surgiu o programa Minha Cidade Inteligente (quadro 3), que é uma evolução do Projeto Cidades Digitais, o qual tinha como objetivo disponibilizar acesso a informação e a banda larga à população e, assim, promover inclusão social, redução de desigualdades e desenvolvimento econômico e social, conforme figura 4 (EDITAL 214/2016/SEI-MC, 2016). Esse projeto visa desenvolver a infraestrutura da cidade, melhorando e desenvolvendo seu mercado e dando melhor qualidade de vida à população.

Dessa forma, o projeto Minha Cidade Inteligente pretende, além da implantação de redes e sistemas de alta capacidade, também implantar serviços e infraestrutura de monitoramento e acompanhamento das condições locais, permitindo gerar dados para criação de aplicações inovadoras, bem como permitir o amplo acesso às informações.

Além disso, buscará dotar as localidades de alta capacidade de formação e capacitação da população (EDITAL 214/2016/SEI-MC, 2016, p. 3)

Figura 4 Evolução Cidades digitais para Cidade inteligente

Fonte: SECRETARIA DE INCLUSÃO DIGITAL, 2017

No contexto desse projeto, uma cidade inteligente é um território que traz, dentro da mesma localidade, tecnologia da informação e sistemas inovadores, caracterizadas pela alta capacidade de aprendizado e inovação por meio da criatividade de sua população. Ela combina:

oferta ampla de banda larga para empresas, prédios governamentais e residências; educação, treinamento e força de trabalho eficazes para oferecer trabalho do conhecimento; políticas e programas que promovam a democracia digital, reduzindo a exclusão digital, para garantir que todos os setores da sociedade e seus cidadãos se beneficiem da revolução da banda larga;

Referências

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