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CONSELHO DE DISCIPLINA SECÇÃO PROFISSIONAL. Processo Disciplinar n.º 61-21/22 (e Apenso Processo Disciplinar n.º )

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CONSELHO DE DISCIPLINA

SECÇÃO PROFISSIONAL

Processo Disciplinar n.º 61-21/22 (e Apenso Processo Disciplinar n.º 68- 2021-22)

DESCRITORES: Sociedade desportiva – Infração Disciplinar – Declarações – Liberdade de Expressão - Lesão da honra e da reputação – Árbitro - Princípios Desportivos – Ética desportiva - Comunicação Social – Imprensa privada – Confissão integral e sem reservas

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ESPÉCIE: Processo Disciplinar

ARGUIDA: FUTEBOL CLUBE DO PORTO -FUTEBOL,SAD

OBJETO: Declarações proferidas em órgão de comunicação social – imprensa privada DATA DO DESPACHO: 3 de maio de 2022

RELATOR: João Gouveia de Caires

NORMAS APLICADAS: Artigos 19.º, 112.º n.ºs 1, 3 e 4 ambos do RDLPFP; artigo 51.º n.º 1 do RCLPFP

SUMÁRIO

I. No direito disciplinar desportivo os bens jurídicos tutelados encontram fundamentalmente a sua matriz na verdade e na integridade das competições, nas quais se contêm os princípios desportivos da imparcialidade, lealdade, ética, retidão, correção, respeito e urbanidade que devem nortear as relações entre todos os agentes desportivos e sociedades desportivas.

II. As sociedades desportivas que através das suas páginas oficiais em redes sociais da Internet, dos seus sítios na Internet e dos seus canais de comunicação e informação, difundam declarações visando a atuação dos agentes de arbitragem, bem como juízos gravosos para o interesse da própria competição profissional de futebol, utilizando expressões objetivamente injuriosas, difamatórias ou grosseiras e, consequentemente, contrárias à ética desportiva que deve pautar as relações entre as instituições, incorrem em responsabilidade disciplinar.

III. Pratica a infração disciplinar p. e p. pelos n.º 1, 3 e 4 do artigo 112.º, RDLPFP, a sociedade desportiva que detém um Canal televisivo através do qual se transitem jogos da sua equipa B e durante tais transmissões os narradores e/ou comentadores proferem declarações manifesta, objetiva e subjetivamente lesivas da honra e reputação das equipas de arbitragem, colocando em causa o núcleo essencial da função da arbitragem, materializado na isenção e imparcialidade que a deve caracterizar – mais se verificando que essa sociedade desportiva já tinha sido sancionada (com trânsito em julgado), no mesmo tipo de ilícito, por mais uma vez no período das três épocas desportivas anteriores àquela em que se verificaram os factos em apreço.

IV. No âmbito jusdisciplinar as lesões à honra têm uma amplitude maior do que a que decorre das lesões à honra criminais. O âmbito da liberdade de expressão é

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configurado de modo distinto nas duas esferas, por três ordens de razões principais, a saber:

a. A autonomia do ilícito jusdisciplinar das lesões à honra de acordo com a ponderação do princípio da proporcionalidade implica:

i. De um lado, a configuração do tipo de ilícito é mais ampla (nos seus elementos objetivos) na esfera disciplinar do que aquela que decorre da esfera criminal. Nomeadamente, neste as lesões à honra bastam-se com a chamada “grosseria” (artigo 112.º, n.º 1 do RDLPFP), no que não tem qualquer paralelo no foro criminal.

ii. De outro, nos distintos bens e interesses jurídicos protegidos: na esfera criminal, pela natureza de ultima ratio e subsidiariedade, protege-se a honra e de modo mais intenso, não se bastando com qualquer maledicência; na esfera jusdisciplinar, mais amplamente, os interesses protegidos são, para além da honra (desportiva) dos visados, a salvaguarda da ética e valores desportivos refletidos na credibilidade da competição, sendo um seu pressuposto essencial a dignidade e imparcialidade da função dos árbitros. Mais do que um interesse comum de todos os agentes desportivos, é o interesse público na credibilidade das competições profissionais que tem uma elevada ressonância social dados os fenómenos de massas que o futebol em particular suscita.

b. A especial necessidade de prevenção impõe um filtro muito mais amplo do que se passa no lado de qualquer infração criminal de lesão da honra. Enquanto nestas lesões à honra, do que se tratam, são de afetações pessoais, individualizadas e que não acarretam outras consequências, no domínio disciplinar, as lesões à honra dos agentes desportivos (nomeadamente dos árbitros), têm um elevado potencial de danosidade social dado o “efeito de bola de neve”, suscetível de gerar perigo de perturbação (por vezes até grave) da ordem e tranquilidade públicas (maxime, os fenómenos de violência desportiva), como de resto se tem comprovado pela experiência. Tudo afetando o interesse público da credibilidade das competições profissionais.

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c. A autovinculação regulamentar não tem lugar paralelo no ilícito criminal.

Enquanto no foro criminal, a vinculação a deveres mínimos de respeito pela vida em sociedade, sob pena de incriminação nos casos mais graves, decorre do contrato social a que qualquer cidadão está adstrito, por ser cidadão fica-se vinculado a estes deveres gerais; no foro jusdisciplinar são os agentes desportivos que, querendo, estar numa competição profissional decidem livremente aderir às regras especialmente exigentes (como atividade com elevada ressonância social e risco acrescido) e que até contribuem para configuração exata dos ilícitos através da aprovação dos seus próprios regulamentos desportivos por via da competência delegada legalmente em nome do interesse desportivo geral. Estar numa competição profissional como destinatário desta norma especialmente exigente é um privilégio, e, que de algum modo, até é configurado pelos próprios; não um direito de qualquer cidadão perante a comunidade como se verifica no âmbito das lesões à honra criminais em que se basta ser cidadão.

V. Tal comportamento não se vê justificado pelo exercício lícito da sua liberdade de expressão, pelo que, por afrontar valores tutelados pelo direito disciplinar desportivo, faz incorrer o seu autor na prática do ilícito disciplinar de lesão da honra e reputação.

VI. O juízo de ponderação ou de concordância prática entre os bens jurídicos em conflito (honra, liberdade de expressão, ética desportiva) não pode ignorar o facto de a qualidade de agente desportivo estar associada, nos termos legais e regulamentares, a um estatuto especial de direitos e deveres, entre eles o dever, para esses agentes, de se absterem de condutas que potenciem comportamentos violentos ou perturbações da ordem pública. Esta asserção não só encontra arrimo na jurisprudência do STA, como é um dos aspetos tidos em conta pelo TEDH na interpretação e aplicação do artigo 10.º, n.º 2 da CEDH, quando ali se assinala que certas pessoas ou grupos, pelos deveres e responsabilidades inerentes à atividade que desempenham, podem ter de suportar interferências mais intensas na sua liberdade de expressão, sem que isso perturbe o justo equilíbrio dos interesses em presença, atenta a premência dos interesses públicos em que se esteiam aquelas situações funcionais.

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VII. A confissão integral e sem reservas é relativa a factos e não a qualificações jurídicas,

mas deve traduzir, por regra, algum aporte ou contributo relevante para a justiça desportiva ou evidenciar de algum modo o arrependimento (pressupostos teleológicos do instituto). Nos restantes casos, poderá ser apreciada como atenuante geral.

VIII. A valoração da confissão integral e sem reservas implica a redução a metade do arco sancionatório abstratamente aplicável (no caso, de ilícito qualificado) e a dispensa do pagamento das custas. Não implica a aplicação automática ou obrigatória do valor mínimo da sanção (nem a dispensa do pagamento de despesas).

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DESPACHO-DECISÃO

Decisão proferida ao abrigo do disposto no nº 4 do artigo 245.º do Regulamento Disciplinar das Competições Organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol1

I – Relatório Registo inicial

1. O trato sucessivo dos presentes autos, cuja tramitação é regulamentarmente simplificada atenta a confissão integral e sem reservas com todos os efeitos previstos no RD (cfr. o disposto no n.º 4 do artigo 245.º do mesmo: “o relator, por despacho sumariamente fundamentado, procede à qualificação jurídica dos factos e à determinação da sanção aplicável”) consta do Relatório Final (RF) elaborado pelo Il. Instrutor, Senhor Dr. Sérgio Moutinho Rola, de fls. 132 a 149, datado de 06.04.2022, mas enviado a este Conselho de Disciplina apenas a 11.04.2022, cujo teor ora se reproduz para todos os efeitos:

“(…)

I. Da génese do processo, sua instauração e distribuição

Por Deliberação de fls. 1, a Secção Profissional da Secção do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (CD), na sequência de participação disciplinar da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), ordenou a instauração do Processo de Inquérito n.º 31-20/21, tendo como objeto «[a]puramento de eventual relevância disciplinar de declarações proferidas em órgão de comunicação de sociedade desportiva»

– cfr. capa do processo.

Lê-se na sobredita Deliberação:

«1. O Conselho de Disciplina recebeu, no dia 15 de março de 2021, participação disciplinar da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol contra Futebol Clube do Porto, Futebol, SAD, Por alegados comentários ofensivos e grosseiros sobre o Árbitro Victor Ferreira. Os mesmos foram proferidos no decorrer e no final da

1 Aprovado na Assembleia Geral Extraordinária de 27 de junho de 2011, com as alterações aprovadas nas Assembleias Gerais Extraordinárias de 14 de dezembro de 2011, 21 de maio de 2012, 06 e 28 de junho de 2012, 27 de junho de 2013, 19 e 29 de junho de 2015, 08 de junho de 2016, 15 de junho de 2016 e 29 de maio, 13 de junho de 2017, 29 de dezembro de 2017, 13 de junho de 2018 e 29 de junho de 2018, 22 de maio de 2019 e 28 de julho de 2020, ratificado na reunião da Assembleia Geral da FPF de 26 de agosto de 2020, doravante abreviado, por mera economia de texto, por RDLPFP20 ou apenas por RDLPFP. O texto regulamentar encontra-se disponível, na íntegra, na página da LPFP.

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transmissão do jogo do FC Porto B - Casa Pia a mesma foi no canal oficial de comunicação do FC Porto, por esse motivo solicitamos a vossa análise. Tendo em conta a gravidade das acusações e insinuações solicito a sua melhor atenção.

Pedimos a sua melhor análise de possível conteúdo jurídico-disciplinar. Link:

https://mega.nz/folder/Hx4C2ASC#Hk4Mvk6dfS4gPKjpDnj58A”.

2. O referido link apresenta parte da transmissão do jogo entre FC Porto B e Casa Pia, disputado a 8 de março de 2021, refente à 23ª jornada da Liga Portugal SABSEG, na qual foram proferidos os seguintes comentários, nomeadamente a partir do minuto 00.02.15:

“Sinceramente o que precisas mais para pôr isto em pratos limpos? Nada, é apenas perguntar à Liga, perguntar à Federação Portuguesa de Futebol, se efetivamente isto é alguma penalização para a equipa B do FC Porto, se querem que ela desça ou não desça, para ir ocupar lugar nos tais Campeonatos de Revelação ou Sub 23, ou aquilo que seja. Se assim for, creio que por decreto, o melhor era dizer que a equipa B do FC Porto desce de divisão, não vale a pena competir mais. (…) Agora que isto é uma autêntica vergonha, é. Que hoje aquilo que se assistiu aqui, esta arbitragem do Sr. Vítor Ferreira, foi uma autêntica vergonha, é sim senhor.

(…) É apenas dizer aos jogadores, parabéns por aquilo que lutam, parabéns de cabeça erguida, olhar para os jogadores que saem agora e, alguns deles com a lágrima no olho, mas não adianta muito, porque o esforço que eles dão, aquilo que eles dão dentro do campo e aquilo que os treinadores tentam incutir, é-lhes subvertido e surripiado, para não utilizar outro termo, precisamente por arbitragens más, francamente más e que hoje roçou, de facto, a forma vergonhosa de não assinalar uma grande penalidade inequívoca, e podemos pôr, precisamente, se as houver, e há imagens dessa grande penalidade e do resto do roubo que foi, efetivamente esta questão”.

3. Por fim, aquando da conclusão da emissão do referido jogo, e ao minuto 00.13.50 do vídeo apresentado, proferiu-se o seguinte: “Sublinho, rigorosamente nada contra o Casa Pia, fez uma exibição competente, está a fazer um campeonato competente, tudo contra a arbitragem de Vítor Ferreira, e particularmente ao árbitro assistente, Valdemar Maia, foi simplesmente miserável. Boa tarde”

4. Na medida em que a factualidade descrita supra se mostra suscetível de assumir relevância disciplinar, determina-se a instauração de processo de inquérito.»

Concluiu-se a inquirição com o relatório final de fls. 33 e ss., que aqui se dá por integralmente reproduzido, e onde se formulou a seguinte proposta:

«PROPÕE-SE A INSTAURAÇÃO DE PROCESSO DISCIPLINAR (cfr. artigos 267.º, n.º 3, e 268.º, ambos do RD) para aferição da responsabilidade disciplinar da Futebol

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Clube do Porto - Futebol, SAD, à luz à luz do disposto no artigo 112.º, números 1 e 4, do RD.»

Seguiu-se o “DESPACHO PROPOSTA – DECISÃO CONVERSÃO” de fls. 42 e ss., que aqui se dá por integralmente reproduzida, onde assim concluiu o Exmo. Senhor Relator:

«Tendo alcançado o presente processo de inquérito a sua finalidade precípua (e sem prejuízo do juízo que se fizer ulteriormente em sede de processo disciplinar), propõe- se ao Conselho de Disciplina (Secção Profissional), nos termos do disposto no artigo 268.º, n.º 1, do RDLPFP:

a) A conversão deste processo de inquérito em processo disciplinar, que terá por arguidos:

i. Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, com vista a apurar a sua responsabilidade à luz do disposto no artigo 112.º, n.ºs 1 e 4, do RDLPFP20 [Lesão da honra e da reputação dos órgãos da estrutura desportiva e dos seus membros];

ii. Paulo Miguel Castro, com vista a apurar a sua responsabilidade à luz do disposto no artigo 136.º, n.ºs 1 e 4, do RDLPFP20 [Lesão da Honra e da reputação e denúncia caluniosa], por referência ao disposto no artigo 112.º, n.º 1, ex vi n.º 1 do artigo 171.º, todos do mesmo corpo regulamentar; e

iii. Bernardino Soares, com vista a apurar a sua responsabilidade à luz do disposto no artigo 136.º, n.ºs 1 e 4, do RDLPFP20 [Lesão da Honra e da reputação e denúncia caluniosa], por referência ao disposto no artigo 112.º, n.º 1, ex vi n.º 1 do artigo 171.º, todos do mesmo corpo regulamentar.

b) Que, nos termos do disposto no artigo 268.º, n.º 1 e 2 do RDLPFP20, o presente processo de inquérito fique a constituir a fase instrutória do processo disciplinar, sem prejuízo de, para além da prova já carreada para os autos, serem realizadas as diligências de instrução que a Comissão de Instrutores, no seu prudente arbítrio, repute como necessárias, nomeadamente: a recolha dos elementos de identificação individuais (nomeadamente nome completo) dos agentes desportivos que assumirão a qualidade de arguidos.»

Veio o CD a informar «que, conforme resulta manifesto do teor e de todas as referências feitas no despacho com proposta de conversão (…), no final da proposta de conversão onde se lê “Bernardino Soares” deve ler-se “Bernardino Barros”».

Nessa sequência, o presente Processo Disciplinar n.º 61-21/22, em são Arguidos a Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD (FCP, doravante), Paulo Miguel Castro e Bernardino Barros, cujo objecto é «[d]eclarações proferidas em órgão de comunicação de sociedade desportiva.» – cfr. capa do presente processo.

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Por Despacho do Exmo. Senhor Presidente da Comissão de Instrutores, proferido nos termos da alínea c), do Artigo 210.º, do Regulamento Disciplinar das Competições Organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (doravante, RD), foi o aqui signatário nomeado instrutor no presente processo disciplinar, pelo que, atento o disposto nos Artigos 228.º n.ºs 2 e 3 e 229.º n.ºs 1 e 2 do RD, assumiu as funções de instrutor, dando abertura e início à respectiva instrução.

II. Da instrução

Determinou-se que se procedesse à notificação dos Arguidos FCP, Paulo Miguel Castro e Bernardino Barros, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 227.º, n.º 1, do RD, prescrevendo que a notificação destes últimos fosse «(i) por mensagem de correio electrónico dirigida ao notificando e endereçada à Arguida Futebol Clube do Porto - Futebol, SAD e (ii) por carta registada com aviso de recepção, a remeter para a sede da

“Avenida dos Aliados – Sociedade de Comunicação, S.A.”» (cfr. fls. 78 e ss.).

Notificados, os Arguidos não se pronunciaram e nada requereram.

Concomitantemente, ordenou-se a junção de cópia do registo disciplinar dos Arguidos, abrangendo as três épocas desportivas anteriores à da data da prática dos factos, que agora consta de fls. 90 e ss. (FCP), 114 (Bernardino Barros) e 115 (Paulo Castro).

Por despacho de fls. 116, ordenou-se a junção de impressões das seguintes páginas da internet, que agora constam de fls. 117 e ss:

a. https://pt-pt.facebook.com/bbarros1955

b. https://portocanal.sapo.pt/pesquisa_videos?pesquisavideos=bernardino%20barros&n=

1 ;

https://portocanal.sapo.pt/pesquisa_videos?pesquisavideos=bernardino%20barros&n=

2;

https://portocanal.sapo.pt/pesquisa_videos?pesquisavideos=bernardino%20barros&n=

3 ;

c. https://portocanal.sapo.pt/porto_canal/

d. https://portocanal.sapo.pt/pesquisa_videos?pesquisavideos=paulo+miguel+castro ; https://portocanal.sapo.pt/pesquisa_videos?pesquisavideos=paulo%20miguel%20castro

&n=2

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III. Do Processo Disciplinar (PD) n.º 68-20/21 – sua génese, instauração, distribuição e posterior apensação

Por Deliberação de fls. 1, a Secção Profissional da Secção do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (CD), na sequência de participação disciplinar do Conselho de Arbitragem da FPF, ordenou a instauração do Processo de Inquérito n.º 20- 20/21, tendo como objeto «[a]puramento de eventual relevância disciplinar de declarações proferidas em órgão de comunicação de sociedade desportiva.» – cfr. capa do processo –, «[n]a medida em que a factualidade reportada é suscetível de assumir relevância disciplinar, nomeadamente em função de declarações proferidas em órgão de comunicação de sociedade desportiva».

Em causa, as seguintes declarações, transcritas naquela Deliberação, que correspondem ao ficheiro vídeo de que o Conselho de Arbitragem da FPF fez acompanhar a sua participação, «do Comentador do Porto Canal, Sr.Bernardino Barros, relativas à arbitragem do jogo da 20ª Jornada da Liga Sabseg “FC Porto B x Oliveirense”, realizado no dia 14.02.2021» (cfr. sobredita participação):

“(…) olha um jogo de futebol onde tinha eu dito no inicio que oxalá estivessem as três equipas à altura do jogo, estão duas à altura do jogo, está a Oliveirense, está o Futebol Clube do Porto, por aquilo que fizeram, por aquilo que jogaram, a Oliveirense não tem culpa absolutamente nenhuma de ter beneficiado, precisamente, dos erros de arbitragem, eu não digo erros, quer dizer, há erros e erros, este parece perfeitamente premeditado por uma jogada de vermelho direto que ninguém entende(…)”.

Elaborou-se o relatório final de fls. 35 e ss., que aqui se dá por integralmente reproduzido, e onde se formulou a seguinte proposta:

«PROPÕE-SE A INSTAURAÇÃO DE PROCESSO DISCIPLINAR (cfr. artigos 267.º, n.º 3, e 268.º, ambos do RD) para aferição da responsabilidade disciplinar da Futebol Clube do Porto - Futebol, SAD, à luz à luz do disposto no artigo 112.º, números 1 e 4, do RD.»

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Por Despacho de fls. 47 e ss., determinou o Exmo. Senhor Relator «nos termos e para os efeitos da al. b) do n.º 3 do artigo 268.º-A, do RDLPFP, a realização das seguintes diligências:

a) Que a Comissão de Instrutores solicite um pedido de esclarecimentos junto da Futebol Clube do Porto - Futebol, SAD sobre se o Senhor Bernardino Barros, à data dos factos, mantinha qualquer relação com aquela sociedade desportiva e em caso afirmativo de que tipo.

b) Que a Comissão de Instrutores diligencie junto de fontes abertas a natureza das funções desempenhadas pelo Senhor Bernardino Barros nomeadamente à data dos factos, em especial aquando da sua participação no programa televisivo em causa;

c) Que a Comissão de Instrutores analise os ficheiros vídeo juntos aos autos relativos à transmissão do jogo de modo que se possa compreender em que qualidade o Senhor Bernardino Barros esteve presente naquele programa televisivo.

Mais se determina o prazo de 6 (seis) dias para concretização das diligências e o caráter URGENTE dos presentes autos.»

Nessa conformidade e sequência, determinou-se, por Despacho de fls. 59 e ss:

A. Fosse notificada a FCP para, na qualidade de testemunha, no prazo de três dias, informar, por escrito:

i. se mantinha, em 14/02/2021, qualquer relação – contratual, de qualquer tipo, designadamente – com o Senhor Bernardino Barros; e, em caso de resposta afirmativa, ii. informar sobre o tipo e natureza de tal relação.

B. Fosse notificado o competente Departamento da Liga PFP para, no prazo de três dias:

i. proceder a pesquisa, junto de qualquer fonte aberta (acessível on-line, nomeadamente) e idónea, de qualquer informação sobre qualquer relação – contratual, de qualquer tipo, designadamente – entre o Senhor Bernardino Barros e a FCP ou a “Avenida dos Aliados – Sociedade de Comunicação, S.A.” (sociedade comercial com o NIPC 507 496 825, que tem por objecto a exploração do serviço de programas televisivo por cabo denominado “Porto Canal”);

ii. informar sobre os resultados de tal pesquisa.

C. Se obtivessem, pelo meio mais expedito, e se juntassem as imagens do jogo acima referido que foram objecto de transmissão televisiva pelo «Porto Canal», abrangendo os

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créditos finais (nomeadamente, a identificação do autor do relato e dos comentários produzidos durante a referida transmissão).

Notificada, a FCP informou que «Em 14/02/2021 não existia qualquer relação contratual entre o Sr. Bernardino Barros e a Futebol Clube do Porto – Futebol SAD» – cfr. fls. 64.

Notificado, o Departamento de Comunicação da Liga PFP forneceu «links onde o Bernardino Barros é descrito como comentador do FC Porto, assim como algumas declarações dele no Porto Canal» – cfr. fls. 65. Constam de fls. 66 os links fornecidos e de fls. 67 a 76 impressões das páginas da internet a que correspondem.

Por despacho de fls. 78, determinou-se a junção de impressões das seguintes páginas da internet, que agora constam de fls. 79 e ss.:

e. https://pt-pt.facebook.com/bbarros1955

f. https://portocanal.sapo.pt/pesquisa_videos?pesquisavideos=bernardino%20barros&n=

1 ;

https://portocanal.sapo.pt/pesquisa_videos?pesquisavideos=bernardino%20barros&n=

2;

https://portocanal.sapo.pt/pesquisa_videos?pesquisavideos=bernardino%20barros&n=

3 .

Na sequência de pedido ao mesmo Departamento de Comunicação da Liga PFP, de fornecimento das imagens acima referidas (cfr. fls. 77), este Departamento informou que

“não se dispõe nem se pode aceder a arquivo que contenha as imagens correspondentes à totalidade da transmissão do jogo FC Porto B – UD Oliveirense, do passado dia 14 de fevereiro de 2021, pelo Porto Canal, incluindo os créditos finais” e forneceu “vídeos (…) do Bernardino Barros, em algumas emissões do Porto Canal, de forma a que se possa fazer um comparativo com a emissão de jogo” (cfr. fls. 85), os quais agora constam de fls. 87.

Aquando da análise determinada, dos ficheiros vídeo juntos aos autos relativos à transmissão do jogo de modo que se possa compreender em que qualidade o Senhor Bernardino Barros esteve presente naquele programa televisivo, verificou-se que, a cerca dos 03m50s do vídeo de fls. 25 e cerca dos 00m30s do vídeo de fls. 4, quem procedeu ao relato do jogo convida “Bernardino” a produzir comentários.

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Realizadas todas as diligências ordenadas pelo Exmo. Senhor Relator, entre outras que nos pareceram úteis, tendo em conta o teor do Despacho de fls. 47 e ss., afigurou-se-nos fortemente indiciado que Bernardino Barros, no dia 14/02/2021, tinha relação colaborativa com “Avenida dos Aliados – Sociedade de Comunicação, S.A.”, no âmbito da qual produzia comentários de jogos e/ou em programas transmitidos pelo “Porto Canal”.

Nessa conformidade, o despacho de fls. 88 e ss., que se concluiu determinando que fossem os autos conclusos ao Exmo. Senhor Relator.

Seguiu-se o «DESPACHO PROPOSTA – DECISÃO CONVERSÃO» de fls. 93 e ss, onde se conclui com a seguinte «DECISÃO»:

«Tendo alcançado o presente processo de inquérito a sua finalidade precípua (e sem prejuízo do juízo que se fizer ulteriormente em sede de processo disciplinar), propõe- se ao Conselho de Disciplina (Secção Profissional), nos termos do disposto no artigo 268.º, n.º 1, do RDLPFP:

a) A conversão deste processo de inquérito em processo disciplinar, que terá por arguidos:

i. Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, com vista a apurar a sua responsabilidade à luz do disposto no artigo 112.º, n.ºs 1 e 4, do RDLPFP20 [Lesão da honra e da reputação dos órgãos da estrutura desportiva e dos seus membros]; e

iii. Bernardino Barros, com vista a apurar a sua responsabilidade à luz do disposto no

artigo 136.º, n.ºs 1 e 4, do RDLPFP20 [Lesão da Honra e da reputação e denúncia caluniosa], por referência ao disposto no artigo 112.º, n.º 1, ex vi n.º 1 do artigo 171.º, todos do mesmo corpo regulamentar.

b) Que, nos termos do disposto no artigo 268.º, n.º 1 e 2 do RDLPFP20, o presente processo de inquérito fique a constituir a fase instrutória do processo disciplinar, sem prejuízo de, para além da prova já carreada para os autos, serem realizadas as diligências de instrução que a Comissão de Instrutores, no seu prudente arbítrio, repute como necessárias, (…) mais se determinando a continuação do caráter urgente do procedimento.» (sublinhado nosso)

Nessa sequência, o PD n.º 68-21/22, em são Arguidos a FCP e Bernardino Barros, cujo objecto é «[d]eclarações proferidas em órgão de comunicação de sociedade desportiva.»

– cfr. capa do presente processo.

Por Despacho do Exmo. Senhor Presidente da Comissão de Instrutores, proferido nos termos da alínea c), do Artigo 210.º, do Regulamento Disciplinar das Competições

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Organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (doravante, RD), foi o aqui signatário nomeado instrutor no PD n.º 68-21/22, pelo que, atento o disposto nos Artigos 228.º n.ºs 2 e 3 e 229.º n.ºs 1 e 2 do RD, assumiu as funções de instrutor, dando abertura e início à respectiva instrução e determinando que se procedesse à notificação dos arguidos Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD e Bernardino Barros, prescrevendo que a notificação deste último fosse «(i) por mensagem de correio electrónico dirigida ao notificando e endereçada à Arguida Futebol Clube do Porto - Futebol, SAD e (ii) por carta registada com aviso de recepção, a remeter para a sede da “Avenida dos Aliados – Sociedade de Comunicação, S.A.”» (cfr. fls. 131 e ss.).

Concomitantemente, ordenou-se a junção de cópia do registo disciplinar dos Arguidos, abrangendo as três épocas desportivas anteriores à da data da prática dos factos, que agora consta de fls. 140 e ss. (FCP) e 164 (Bernardino Barros).

Notificados, os Arguidos não se pronunciaram e nada requereram.

Por despacho de fls. 166 e ss., cujo teor aqui se dá por reproduzido, sugeriu-se ao Exmo.

Presidente da CI, que ponderasse propor à douta Secção Disciplinar do Conselho de Disciplina da FPF a decisão de apensação do Processo Disciplinar n.º 68-21/22 ao Processo Disciplinar n.º 61-21/22. Feita tal proposta pelo Exmo. Presidente da CI, deliberou o CD

«(…) a apensação do Processo Disciplinar n.º 68 - 2021/2022 ao Processo Disciplinar n.º 61 – 2021/2022, ressalvando-se a natureza urgente do processo» (cfr. fls. 167 e 169 a 170).

IV – Da continuação da instrução

Por despacho de fls. 123, determinou-se a notificação dos «competentes Departamentos da Liga PFP e da FPF, para informarem, por escrito e com urgência,

(i) se dispõem de qualquer informação de identificação e sobre a morada dos Arguidos Bernardino Barros e Paulo Miguel Castro, nomeadamente (mas não só), a que possa ter

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sido fornecida para efeitos de sua credenciação como representantes de órgão de comunicação social, designadamente, do “Porto Canal”,

(ii) se há registo/inscrição de alguém de tais nomes, informando, em caso de resposta afirmativa, em que qualidade(s) e durante que período(s) estiveram inscritos.»

Tendo em conta que, da informação nos autos, cuja junção anteriormente se ordenou, resultou evidente que

(i) a “Avenida dos Aliados – Sociedade de Comunicação, S.A.” (NIPC 507 496 825) é sociedade comercial que tem por objecto a exploração do serviço de programas televisivo por cabo denominado “Porto Canal”, e está integrada no grupo de empresas “Futebol Clube do Porto”, sendo a maioria do respectivo capital social detido, ainda que indirectamente, pela FCP – facto que é, até, notório –, e que

(ii) existia, nas datas dos factos (14/02/2021 e 03/03/2021), relação de colaboração, contratual, de “Avenida dos Aliados – Sociedade de Comunicação, S.A.” com os Arguidos Bernardino Barros e Paulo Miguel Castro,

determinou-se, por despacho de fls. 124, que as referidas Sociedade Comercial e SAD fossem notificadas por meio expedito, para fornecer, informação completa sobre a identidade (nome completo, mormente) e morada de residência destes Arguidos (Bernardino Barros e Paulo Miguel Castro).

Informou o Departamento Registos e Transferências da FPF que “não dispomos da informação solicitada” (cfr. fls. 127).

O Departamento de Registos e Contratos da Liga PFP, informou o seguinte:

« Bernardino Barros – de acordo com a informação registada na nossa base de dados, a intraLIGA, existe um registo em nome da referida pessoa relativo à época 2011/2012, na categoria de “Outros” que estará relacionado com pedido de credenciação, enquanto jornalista da Rádio Renascença, para participação em evento organizado pela Liga Portugal, nomeadamente a Final da Taça da Liga, nessa mesma época desportiva, e não registado/inscrito, nesta Liga Portugal, enquanto agente desportivo, em representação de qualquer sociedade desportiva.

Mais informo que para além do nome indicado, não dispomos de qualquer outra informação relacionada com a sua identificação ou morada.

Paulo Miguel Castro – Informo que de acordo com os dados disponibilizados (nome) para consulta, e da pesquisa efetuada junto da nossa base de dados, a

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intraLIGA, não resulta qualquer agente desportivo registado/inscrito, nesta Liga Portugal, de nome “Paulo Miguel Castro”.»

A “Avenida dos Aliados – Sociedade de Comunicação, S.A.” e a FCP não forneceram qualquer informação, na sequência de sua notificação, nos termos do despacho de fls.

124.

V – Proposta de arquivamento

Apesar de todo o esforço investigatório nesse sentido, e dos abundantes indícios das condutas que lhes são imputadas, não se logrou reunir informação suficiente para completa identificação dos Arguidos Bernardino Barros e Paulo Miguel Castro, pelo que, quanto a estes, nos termos do disposto no n.º 1, do artigo 234.º do RD, atento o disposto no n.º 1, do artigo 233.º, do RD2, e na al. a), do n.º 3, do artigo 283.º do Código de Processo Penal3 (ex vi artigo 16.º, n.º 1, do RD), propõe-se o arquivamento do processo disciplinar”. – cfr. RF, de fls. 32 a 149, em especial a fls. 132 a 143.

Acusação

2. Simultaneamente com a proposta de arquivamento relativamente aos agentes desportivos (de facto)/Arguidos Bernardino Barros e Paulo Miguel Castro, pela falta da sua identificação, a CI, através do seu Il. Instrutor, em sede daquele mesmo RF, deduziu acusação, por resultar suficientemente indiciado que a Arguida Futebol Clube do Porto – Futebol SAD cometeu duas infrações disciplinares p. e p. nos termos do disposto no artigo 112.º n.ºs 1, 3 e 4 do RDLPFP. Acusação essa (cfr. fls. 143 a 149) deduzida a 06.04.2022 e posterior remessa dos autos a este Conselho de Disciplina a 11.04.2022 (cfr.

fls. 150).

2 «Se, finda a instrução, se verificarem indícios suficientes da prática de uma infração disciplinar e do seu autor, o instrutor deduz acusação.» (sublinhado nosso).

3 «A acusação contém, sob pena de nulidade: a) As indicações tendentes à identificação do arguido;».

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II – Competência do Conselho de Disciplina

3. Nos termos do disposto no artigo 43.º, n.º 1 do RJFD20084, compete a este Conselho, de acordo com a lei e com os regulamentos e sem prejuízo de outras competências atribuídas pelos estatutos e das competências da liga profissional, instaurar e arquivar procedimentos disciplinares e, colegialmente, apreciar e punir as infrações disciplinares em matéria desportiva.

4. No mesmo sentido, dispõe o artigo 15.º do Regimento deste Conselho5.

5. Conforme o disposto no artigo 237.º RDLPFP20, deduzida a acusação, são os autos remetidos à Secção Disciplinar no mais curto espaço de tempo e, se nada obstar ao seu recebimento, a Presidente do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, ordena a notificação da acusação ao Arguido, procede ao agendamento de uma audiência disciplinar para um dos 10 dias úteis seguintes e distribui o processo a um dos vogais, que será o respetivo Relator.

6. No cumprimento do citado comando regulamentar, foram recebidos os autos (em suporte eletrónico) a 11.04.2022 (cfr. fls. 150), e recebida a acusação a 13.04.2022 (cfr.

fls. 151), ordenada a notificação nos termos regulamentares à Arguida, designado o dia 26.04.2022, pelas 10H00 para a audiência disciplinar, a realizar “por videoconferência, através da plataforma Microsoft Teams, perante Relator” e distribuído o processo ao aqui Relator (cfr. fls. 151).

7. A 21.04.2022, pelas 14h55 (cfr. fls 161) a Arguida, por intermédio de correio eletrónico remetido pela Senhora Dr.ª Inês Magalhães, Il. Mandatária da Arguida, veio apresentar o seu “Memorial de Defesa” subscrito pela mesma e bem assim pelo Senhor Professor Doutor Nuno Brandão, Il. Mandatário da Arguida, requerendo a junção de três documentos (restritos no seu entender “a título de prova documental, visam, exclusivamente, instruir a matéria de direito e a aludida irrelevância jurídica dos factos vertidos na acusação” - cfr. fls. 162 a 175, e em especial a fls. 171) e a dispensa da audiência disciplinar nos termos do artigo 238.º, n.ºs 6 e 7 do RD.

4 Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro (regime jurídico das federações desportivas e do estatuto de utilidade pública desportiva) e alterado pelo artigo 4.º, alínea c), da Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro (Cria o Tribunal Arbitral do Desporto e aprova a respetiva lei) e ainda pelos artigos 2.º e 4.º do Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho, cujo texto consolidado constitui anexo a este último.

5 Divulgado e publicado através do Comunicado Oficial n.º 173, de 13 de janeiro de 2017 da FPF. Disponível, na íntegra, na página da Federação Portuguesa de Futebol.

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8. Logo depois, pelas 15h42 do mesmo dia 21.04.2022, foi remetido pela Il. Mandatária da

Arguida (cfr. fls. 176), correio eletrónico contendo requerimento de confissão integral e sem reservas dos factos que lhe são imputados na acusação (de fls. 143 a 149), mais requerendo que seja dada sem efeito a audiência disciplinar nos termos do disposto no artigo 245.º, n.º 4 do RD, sem prejuízo dos demais efeitos previstos regulamentarmente (cfr. fls. 177 a 179).

9. Ainda na mesma data (21.04.2022), pelas 19h40, foi proferido Despacho pelo aqui Relator (de fls. 181 a 182) nos termos do qual se apreciou e decidiu:

“(…)

Relativamente ao Memorial de Defesa e respetivos três documentos anexos, por terem sido apresentados tempestivamente e por quem tem legitimidade, decide-se admitir os mesmos, ainda que os documentos sejam restritos à matéria de direito atenta a confissão integral e sem reservas, aliás em conformidade com a pretensão da Arguida demonstrada a fls. 171.

No que concerne ao requerimento de confissão integral e sem reservas apresentado subsequentemente, considerando que tal confissão se apresenta subscrita pela Arguida, cumprindo todos os requisitos previstos nos n.ºs 1 e 2 do artigo 245.º do RD, admite-se como válida e eficaz. Uma vez confessados, integralmente e sem reservas, os factos, e nos termos do disposto na 1.ª parte do n.º 4 do citado normativo regulamentar, é a audiência disciplinar dada sem efeito, o que se determina desde já.

Não obstante o prévio requerimento de dispensa da audiência ao abrigo do disposto no artigo 238.º do RD, atendendo a que após o mesmo foi apresentada confissão integral e sem reservas com todos os efeitos (nomeadamente, o de ficar sem efeito a audiência), e tendo a mesma sido admitida, e considerando-se que as normas relativas à confissão integral e sem reservas são especiais face às previstas no artigo 238.º do RD, entende-se ficar prejudicada a apreciação do requerimento de dispensa da audiência ao abrigo deste último dispositivo, nomeadamente no seu n.º 6, dado ter sido admitida a confissão integral e sem reservas com os respetivos efeitos, incluindo dar-se sem efeito a audiência disciplinar agendada.

Por fim, e ao abrigo do contraditório, determina-se a notificação de todos os intervenientes processuais, incluindo a Comissão de Instrutores da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (CI), quer do presente Despacho, quer, no que concerne à CI dos

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requerimentos que o antecedem e que constam de fls. 161 a 179), para, querendo, pronunciar-se em 5 (cinco) dias (prazo subsidiariamente aplicável nos termos do artigo 14.º, n.º 5 do RD), após o que deverão os autos, nos termos regulamentares, serem conclusos ao Relator” – cfr. Despacho de fls. 181 a 182.

10. A 02.05.2022, e findo o prazo sem que tivesse havido qualquer pronúncia, foram os presentes autos conclusos (cfr. fls. 195) ao aqui Relator para, nos termos do n.º 4 do artigo 245.º do RD, este, por despacho sumariamente fundamentado, proceder à qualificação jurídica dos factos confessados integralmente e sem reservas e à determinação da sanção aplicável, o que procederá de imediato.

III – Fundamentação de facto

§1. A prova no direito disciplinar desportivo

11. Nem no RDLPFP, nem em qualquer outro diploma de natureza jusdisciplinar desportiva que regulamente as competições reconhecidas como profissionais se encontra uma resposta expressa à questão da valoração da prova em ambiente disciplinar desportivo.

No entanto, dispõe o RDLPFP20 de uma norma que nos auxilia a enfrentar tal questão: o artigo 16.º, n.º 1, estabelece: “na determinação da responsabilidade disciplinar

subsidiariamente aplicável o disposto no Código Penal e, na tramitação do respectivo procedimento, as constantes do Código de Procedimento Administrativo e, subsequentemente, do Código de Processo Penal, com as necessárias adaptações.”.

12. Assim, constitui princípio geral do direito disciplinar a aplicação subsidiária dos princípios do direito penal, com as necessárias adaptações, na medida em que as normas processuais penais são, naturalmente, aquelas que se colocam como mais garantísticas dos direitos de defesa dos Arguidos, razão pela qual, nalguns casos e sempre com as necessárias adaptações, o processo penal pode e deve representar a matriz do direito sancionatório público (criminal, contraordenacional e disciplinar)6. Por conseguinte, ancorados no artigo 127.º do Código de Processo Penal7, a prova é apreciada “segundo as

6 A própria Constituição da República Portuguesa parece sufragar este entendimento quando, a propósito das garantias do processo criminal, estende a outros processos sancionatórios, de forma inequívoca, pelo menos algumas delas (cfr. artigo 32.º, n.º 10). Vide, a este respeito, Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, Volume I, 4.ª edição revista, Coimbra: Coimbra Editora, 2007, p. 526 e Jorge Miranda e Rui Medeiros, Constituição Portuguesa Anotada, 2.ª edição, Tomo I, Coimbra: Coimbra Editora, 2010, pp. 740-743.

7 Neste sentido, ver, entre outros o Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte, Processo n.º 03132/11.6BEPRT, de 20-05-2016; o Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, Processo n.º 07455/11, de 12-03-2015; o Acórdão

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regras da experiência comum e a livre convicção da entidade competente”, sem prejuízo, como é óbvio, de dois princípios basilares do processo penal: o princípio da “presunção de inocência” (consagrado no artigo 32.º, n.º 2, da CRP) e do princípio “in dubio pro reo”, que tal como asseveram Gomes Canotilho e Vital Moreira8 constituem a dimensão jurídico-processual do princípio jurídico-material da culpa concreta como suporte axiológico-normativo da culpa.

13. Destarte, no exercício do poder disciplinar, a autoridade competente tem a liberdade de formar a sua convicção sobre os factos submetidos ao seu julgamento, mas não de forma arbitrária, porque motivada e controlável, e consequentemente ela há-de “processar-se segundo as regras da lógica, da ciência e da experiência”9 e condicionada pelo princípio da persecução da verdade material. Dito por outras palavras, com base no juízo que se fundamenta no mérito objetivamente concreto do caso, na sua individualidade histórica, tal como ele foi exposto e adquirido representativamente no processo. Em suma, a aceitação da credibilidade de toda a prova está dependente da convicção do julgador que, embora sendo uma convicção pessoal, terá de ser sempre objetivável e motivável.

§2. Factos provados

14. Compulsada toda a prova existente nos autos consideram-se provados todos os factos constantes da Acusação deduzida pela CI cujo teor se reproduz para os devidos efeitos:

“(…)

1. Realizou-se, no dia 14/02/2021, no Estádio Municipal Jorge Sampaio, o jogo n.º 22008 disputado entre a equipa B da Futebol Clube do Porto - Futebol, SAD (FCP, doravante) e a União Desportiva Oliveirense – Futebol, SAD, a contar para a 20.ª Jornada da Liga SABSEG II Liga, época 2020-2021.

do Tribunal Central Administrativo Sul, Processo n.º 06944/10, de 20-12-2012; o Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte, Processo n.º 00093/06.7BEVIS, de 09-12-2011; o Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, Processo n.º 01717/06, de 05-11-2009; o Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, Processo n.º 12372/03, de 29-09-2005; o Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul, Processo n.º 10842/01, de 11-03-2004 (todos disponíveis em www.dgsi.pt).

8 Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, Volume I, 4.ª edição revista, Coimbra: Coimbra Editora, 2007, p. 204.

9 A este propósito, entre muitos outros, consultar, Germano Marques da Silva. Produção e valoração da prova em processo penal, Revista do CEJ, n.º 4, 2006, pp. 37-53 (p.39).

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2. A equipa de arbitragem nomeada para este jogo teve a seguinte composição:

Árbitro: João Bento

Assistente 1: Pedro Felisberto Assistente 2: Nelson Pereira 4º Árbitro: Carlos Covão

3. Este mesmo jogo foi objecto de transmissão televisiva pelo “Porto Canal”, durante a qual, o comentador, de nome Bernardino Barros, em resposta a pergunta que, logo após o termo do jogo, lhe foi feita porque quem o relatou, declarou “(…) olha um jogo de futebol onde tinha eu dito no inicio que oxalá estivessem as três equipas à altura do jogo, estão duas à altura do jogo, está a Oliveirense, está o Futebol Clube do Porto, por aquilo que fizeram, por aquilo que jogaram, a Oliveirense não tem culpa absolutamente nenhuma de ter beneficiado, precisamente, dos erros de arbitragem, eu não digo erros, quer dizer, há erros e erros, este parece perfeitamente premeditado por uma jogada de vermelho direto que ninguém entende (…)”

4. Realizou-se, no dia 08/03/2021, no Estádio Municipal Jorge Sampaio, o jogo n.º 22303 disputado entre a equipa B da FCP e a Casa Pia Atlético Clube - Futebol SDUQ, Lda, a contar para a 23.ª Jornada da Liga Portugal SABSEG (II Liga).

5. A equipa de arbitragem nomeada para este jogo teve a seguinte composição:

Árbitro: Vítor Ferreira Assistente 1: Valdemar Maia Assistente 2: Paulo Miranda 4º Árbitro: João Afonso

6. Este mesmo jogo foi objecto de transmissão televisiva pelo “Porto Canal”, em que Paulo Miguel Castro e Bernardino Barros foram, respectivamente, narrador e comentador.

7. Durante a referida transmissão televisiva, Bernardino Barros proferiu as seguintes declarações:

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“Sinceramente o que precisas mais para pôr isto em pratos limpos? Nada, é apenas perguntar à Liga, perguntar à Federação Portuguesa de Futebol, se efetivamente isto é alguma penalização para a equipa B do FC Porto, se querem que ela desça ou não desça, para ir ocupar lugar nos tais Campeonatos de Revelação ou Sub 23, ou aquilo que seja. Se assim for, creio que por decreto, o melhor era dizer que a equipa B do FC Porto desce de divisão, não vale a pena competir mais. (…) Agora que isto é uma autêntica vergonha, é. Que hoje aquilo que se assistiu aqui, esta arbitragem do Sr. Vítor Ferreira, foi uma autêntica vergonha, é sim senhor.

(…) É apenas dizer aos jogadores, parabéns por aquilo que lutam, parabéns de cabeça erguida, olhar para os jogadores que saem agora e, alguns deles com a lágrima no olho, mas não adianta muito, porque o esforço que eles dão, aquilo que eles dão dentro do campo e aquilo que os treinadores tentam incutir, é-lhes subvertido e surripiado, para não utilizar outro termo, precisamente por arbitragens más, francamente más e que hoje roçou, de facto, a forma vergonhosa de não assinalar uma grande penalidade inequívoca, e podemos pôr, precisamente, se as houver, e há imagens dessa grande penalidade e do resto do roubo que foi, efetivamente esta questão”.

8. Ainda, durante a mesma transmissão televisiva, Paulo Miguel Castro proferiu as seguintes declarações:

“Sublinho, rigorosamente nada contra o Casa Pia, fez uma exibição competente, está a fazer um campeonato competente, tudo contra a arbitragem de Vítor Ferreira, e particularmente ao árbitro assistente, Valdemar Maia, foi simplesmente miserável.

Boa tarde”.

9. A “Avenida dos Aliados – Sociedade de Comunicação, S.A.” (NIPC 507 496 825) é sociedade comercial que tem por objecto a exploração do serviço de programas televisivo por cabo denominado “Porto Canal”, e está integrada no grupo de empresas

“Futebol Clube do Porto”, sendo 81,42% do respectivo capital social detido, ainda que indirectamente, pela Futebol Clube do Porto - Futebol, SAD; Ou seja, como é de aquisição pública, o “Porto Canal” é o canal televisivo oficial desta SAD, explorado pela mesma, por intermédio da “FCP Media, S.A.” e da “Avenida dos Aliados, S.A.”,

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dedicando-se maioritariamente à exploração de conteúdos relativos ao futebol profissional e, em particular, do interesse da Futebol Clube do Porto - Futebol, SAD.

10. A Arguida agiu de forma livre, consciente e voluntária, bem sabendo da ilicitude e punibilidade das suas condutas acima descritas, porém, não se abstive das mesmas.

11. À data dos factos, a Arguida FCP tinha os antecedentes disciplinares constantes do cadastro dos autos, verificando-se que foi anteriormente punida, várias vezes, pela mesma infracção, por decisões transitadas em julgado, desde a terceira época desportiva anterior à dos factos” – cfr. acusação constante do referido RF, em especial a fls. 143 a 149.

§3. Motivação

15. No caso vertente, para a formação da nossa convicção, foram tidas em consideração, desde logo, a confissão integral e sem reservas da Arguida (confissão que implica a aceitação de todos os factos que lhe são imputados e não admite condições ou alterações aos factos admitidos, tal como constam da acusação), mas também todo o acervo probatório carreado para os autos - concretamente os documentos oficiais de jogo de fls.

10 a 23 do PD n.º 68-2021/22, (factos 1.º e 2.º), vídeo de fls. 25 (facto 3.º) e documentos de fls. 10 a 22 e vídeos de fls. 4 e 24 no âmbito do PD n.º 61-2021/22, (factos 4.º a 8.º), além de factos notórios e constantes de documentos de fls. 25 a 28 no âmbito do PD n.º 61-2021/22 e fls. 27 a 30 do PD n.º 68-2021/22 - o qual foi objeto de uma análise crítica à luz de regras de experiência comum e segundo juízos de normalidade e razoabilidade.

Quanto ao facto vertido no ponto 10.º, relativo aos elementos subjetivos do tipo de ilícito, além da confissão integral e sem reservas, alicerça-se nas regras da experiência neste tipo de contexto futebolístico: a Arguida, detentora da Porto Canal, é responsável pelas declarações que através daquele órgão de comunicação, mesmo os seus narradores/comentadores de jogos da sua equipa proferem, em especial quando nem sequer esboça, mesmo que ex post, qualquer afastamento face ao conteúdo de tais declarações lesivas da honra das arbitragens, muito menos fazendo até um pedido de desculpas como seria, no mínimo, de esperar, bem sabendo que tais declarações, no

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âmbito dos seus órgão de comunicação social, violam os deveres impostos regulamentarmente. Por último, a prova dos antecedentes disciplinares e reincidência pelo mesmo tipo de ilícito (facto vertido em 11.º) decorre do registo disciplinar constantes de fls. 140 a 163 no âmbito do PD n.º 68-2021/22 (igualmente reproduzido de fls. 90 a 113do PD n.º 61-2021/22), para além da referida confissão integral e sem reservas.

IV – Fundamentação de direito

§1. Enquadramento jurídico-disciplinar – Fundamentos e âmbito do poder disciplinar

16. O poder disciplinar exercido no âmbito das competições organizadas pela Federação Portuguesa de Futebol – ou, por delegação, pela Liga Portuguesa de Futebol profissional – assume natureza pública.

17. Com clareza, concorrem para esta proposição as normas constantes dos artigos 19.º, n.º 1 e 2, da Lei n.º 5/2007 de 16 de janeiro (Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto), e dos artigos 10.º, 13.º, alínea i), do RJFD2008.

18. A existência de um regulamento justifica-se pelo dever legal – artigo 52.º, n.º 1, do RJFD200810 – de sancionar a violação das regras de jogo ou da competição, bem como as demais regras desportivas, nomeadamente as relativas à ética desportiva, entendendo- se por estas últimas as que visam sancionar a violência, a dopagem, a corrupção, o racismo e a xenofobia, bem como quaisquer outras manifestações de perversão do fenómeno desportivo (artigo 52.º, n.º 2, do RJFD2008).

19. O poder disciplinar exerce-se sobre os clubes, dirigentes, praticantes, treinadores, técnicos, árbitros, juízes e, em geral, sobre todos os agentes desportivos que desenvolvam a atividade desportiva compreendida no seu objeto estatutário (artigo 54.º, n.º 1, do RJFD2008).

20. Em conformidade com o artigo 55.º do RJFD2008 o regime da responsabilidade disciplinar é independente da responsabilidade civil ou penal.

21. Todo este enquadramento, representa, entre tantas consequências, que estamos perante um poder disciplinar que se impõe, em nome dos valores mencionados, a todos os que se

10 Regime Jurídico das Federações Desportivas, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de dezembro e alterado pelo Decreto-Lei n.º 93/2014, de 23 de junho, tendo sido o seu artigo 12.º revogado pela lei que criou o Tribunal Arbitral do Desporto, Lei n.º 74/2013, de 6 de setembro.

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encontram a ele sujeito, conforme o âmbito já delineado e que, por essa razão, assenta na prossecução de finalidades que estão bem para além dos pontuais e concreto interesses desses agentes e organizações desportivas.

Das infrações disciplinares em geral

22. O RDLPFP20 encontra-se estruturado, no estabelecer das infrações disciplinares, pela qualidade do agente infrator – clubes, dirigentes, jogadores, delegados dos clubes e treinadores, demais agentes desportivos, espectadores, árbitros, árbitros assistentes, observadores de árbitros e delegados da Liga.

23. Para cada um destes tipos de agente o RDLPFP20 recorta tais infrações e respetivas sanções em obediência ao grau de gravidade dos ilícitos, qualificando assim as infrações como muito graves, graves e leves.

24. Recorde-se que é aplicável, material e procedimental, o RD20 vigente à data dos factos supra mencionado tendo em conta (1) a data da prática dos factos em apreço, (2) que não deixaram de ser puníveis como infrações, em virtude da entrada em vigor de nova disposição legal ou regulamentar, (3) não vigora, actualmente, sanção/regime mais favorável aos Arguidos (ou que tenha impacto relevante quer em termos materiais, quer em termos processuais) e (4) se trata de procedimento instaurado durante a vigência daquele RD (cfr. art. 11.º, n.º 1, n.º 2, a contrario, e n.º 3, a contrario, e n.º 6, do RD 21/2211).

Das infrações disciplinares concretamente imputadas

25. Para a aferição em concreto das normas a imputadas passamos à descrição da sua localização sistemática no RDLPFP20, bem como às transcrições do que releva para o caso sub judice:

11 Aprovado na Assembleia Geral Extraordinária de 27 de junho de 2011, com as alterações aprovadas nas Assembleias Gerais Extraordinárias de 14 de dezembro de 2011, 21 de maio de 2012, 06 e 28 de junho de 2012, 27 de junho de 2013, 19 e 29 de junho de 2015, 08 de junho de 2016, 15 de junho de 2016 e 29 de maio, 13 de junho de 2017, 29 de dezembro de 2017, 13 de junho de 2018, 29 de junho de 2018, 22 de maio de 2019, 28 de julho de 2020 e 02 de junho de 2021, ratificado na reunião da Assembleia Geral da FPF de 05 de julho de 2021.

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TÍTULO II

INFRAÇÕES DISCIPLINARES CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS Artigo 19.º

(Deveres e obrigações gerais)

1. As pessoas e entidades sujeitas à observância das normas previstas neste Regulamento devem manter conduta conforme aos princípios desportivos de lealdade, probidade, verdade e retidão em tudo o que diga respeito às relações de natureza desportiva, económica ou social.

2. Aos sujeitos referidos no número anterior é proibido exprimir publicamente juízos ou afirmações lesivos da reputação de pessoas singulares ou coletivas ou dos órgãos intervenientes nas competições organizadas pela Liga, bem como das demais estruturas desportivas, assim como fazer comunicados, conceder entrevistas ou fornecer a terceiros informações que digam respeito a factos que sejam objeto de investigação em processo disciplinar.

3. (...)

26. Atinente às infrações dos clubes, vejamos:

CAPÍTULO IV INFRAÇÕES DISCIPLINARES

SECÇÃO I

INFRAÇÕES ESPECÍFICAS DOS CLUBES SUBSECÇÃO II

INFRAÇÕES DISCIPLINARES GRAVES

Artigo 112.º

(Lesão da honra e da reputação dos órgãos da estrutura desportiva e dos seus membros) 1. O clube que de expressões, desenhos, escritos ou gestos injuriosos, difamatórios ou grosseiros para com órgãos da Liga ou da FPF e respetivos membros, árbitros, dirigentes,

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clubes e demais agentes desportivos, nomeadamente em virtude do exercício das suas funções desportivas, assim como incite à prática de atos violentos, conflituosos ou de indisciplina, é punido com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 75 UC e o máximo de 350 UC.

2. (...)

3. Em caso de reincidência, os limites mínimo e máximo das multas previstas nos números anteriores serão elevados para o dobro.

4. O clube é considerado responsável pelos comportamentos que venham a ser divulgados pela sua imprensa privada e pelos sítios na Internet que sejam explorados pelo clube, pela sociedade desportiva ou pelo clube fundador da sociedade desportiva, diretamente ou por interposta pessoa.

27. De realçar ainda que em matéria de prevenção de violência e promoção do fair-play, atendendo ao preceituado no artigo 51.º n.º 1 do RCLPFP2012Deveres de correção e urbanidade dos intervenientes: 1.º Todos os agentes desportivos devem manter comportamento de urbanidade e correção entre si, bem como para com os representantes da Liga Portugal e da FPF, os árbitros e árbitros assistentes.».

§2. O caso concreto: subsunção ao direito aplicável

28. Importa agora atentar nas declarações em análise, apreciando-as jurídico- disciplinarmente, por via da subsunção da respetiva factualidade às normas regulamentares aplicáveis.

29. Determina o artigo 17.º (Conceito de infração disciplinar) do RDLPFP20 que se considera infração disciplinar o facto voluntário, por ação ou omissão, e ainda que meramente culposo, que viole os deveres gerais ou especiais previstos nos regulamentos desportivos e demais legislação aplicável.

30. Específica e analiticamente os elementos essenciais da infração disciplinar, de verificação cumulativa, são: (i) o facto do agente (que tanto pode traduzir-se numa ação como numa omissão); (ii) a ilicitude desse mesmo facto; e (iii) a culpa. No plano da culpa basta que

12 Igualmente aplicável, valendo, mutatis mutandis, o referido supra em 24.

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estejamos face a uma conduta meramente culposa ou negligente do agente, para que essa conduta, desde que ilícita, seja passível de punição disciplinar.

31. Nos termos constantes da acusação, vem imputada à Arguida prática de duas infrações disciplinares p. e p. no artigo 112.º, n.ºs 1, 3 e 4 do RDLPFP20.

32. Começamos por referir que a Secção Profissional do Conselho de Disciplina da FPF tem consistentemente afirmado que, no seu entendimento13, o artigo 112.º do RDLPFP20 realiza, sobretudo, a salvaguarda de bens jurídicos específicos da realidade do desporto, in casu do futebol profissional, como sejam a proteção da ética e dos valores desportivos, aqui ramificados na salvaguarda da credibilidade da competição, sendo um seu pressuposto essencial a dignidade e imparcialidade da função dos dirigentes federativos e dos árbitros.

33. Assim, a responsabilidade disciplinar da Arguida depende da violação dos deveres gerais ou especiais que a mesma está adstrita no âmbito dos regulamentos desportivos e demais legislação aplicável à realização das competições desportivas profissionais (em que participa). E esses deveres resultam da conjugação do artigo 19.º e 112.º do RDLPFP20 e ainda do artigo 51.º do RCLPFP20.

34. No n.º 1 do artigo 19.º do RDLPFP20 estabelece-se que todos os clubes e agentes desportivos que, a qualquer título ou por qualquer motivo, exerçam funções ou desempenhem a sua atividade no âmbito das competições organizadas pela Liga Portugal,

«devem manter conduta conforme aos princípios desportivos de lealdade, probidade, verdade e retidão em tudo o que diga respeito às relações de natureza desportiva, económica ou social». E, de forma muito expressiva, no n.º 2 da mesma disposição regulamentar se inibe aqueles mesmos sujeitos de «exprimir publicamente juízos ou afirmações lesivos da reputação de pessoas singulares ou coletivas ou dos órgãos intervenientes nas competições organizadas pela Liga».

35. É, pois, no quadro desses deveres gerais de lealdade, probidade, verdade e retidão, e da proibição expressa de publicitação de juízos ou afirmações lesivos da reputação de todos aqueles que intervenham nas competições desportivas organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, que o n.º 1 do artigo 112.º do RDLPFP20 comina com a sanção de multa de montante a fixar entre o mínimo de 75 UC e o máximo de 350 UC, o uso «de expressões, desenhos, escritos ou gestos injuriosos, difamatórios ou grosseiros para com

13 Por todos, acórdão prolatado relativamente ao PD n.º 18-17/18, de 16 de janeiro.

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órgãos da Liga ou da FPF e respetivos membros, árbitros, dirigentes, clubes e demais agentes desportivos».

36. Impõe-se, então, analisar se os factos dados como provados se subsumem às citadas previsões normativas do RDLPFP, ou seja, se com tais declarações proferidas pelos comentadores/narradores de dois jogos da equipa B da Arguida transmitidos televisivamente através da Porto Canal (canal oficial da Arguida) violou, ou não, bens jurídicos tutelados pelos artigos 19.º, 112.º do RDLPFP20 e 51.º n.º do RCLPFP20, como a verdade e a integridade da competição, particularmente evidenciados pela imparcialidade e isenção dos desempenhos dos elementos das equipas de arbitragem.

37. Tendo presente o que se deixa referido, analisemos as declarações em causa (e reproduzidas nos factos provados 3.º, 6.º a 8.º supra), com alusão a decisões de duas equipas de arbitragem:

i)

As declarações proferidas pelo comentador Bernardino Barros após a transmissão televisiva na “Porto Canal” do jogo disputado a 14.02.2021 entre a equipa B da Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD e a União Desportiva Oliveirense – Futebol, SAD:

“(…) o comentador, de nome Bernardino Barros, em resposta a pergunta que, logo após o termo do jogo, lhe foi feita porque quem o relatou, declarou “(…) olha um jogo de futebol onde tinha eu dito no inicio que oxalá estivessem as três equipas à altura do jogo, estão duas à altura do jogo, está a Oliveirense, está o Futebol Clube do Porto, por aquilo que fizeram, por aquilo que jogaram, a Oliveirense não tem culpa absolutamente nenhuma de ter beneficiado, precisamente, dos erros de arbitragem, eu não digo erros, quer dizer, há erros e erros, este parece perfeitamente premeditado por uma jogada de vermelho direto que ninguém entende (…)” – cfr. supra facto 3.º, sublinhado e destaque nosso;

ii)

Bem como, com as declarações propaladas, no mesmo canal televisivo, pelo narrador Paulo Castro e comentador Bernardino Barros durante a transmissão televisiva do jogo realizado a 08/03/2021 que opôs a equipa B da Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD e a Casa Pia Atlético Clube – Futebol, SDUQ:

“(…) Bernardino Barros proferiu as seguintes declarações:

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