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Relatório sobre Doenças Não Transmissíveis

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Academic year: 2021

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CONFERÊNCIA DOS MINISTROS DA SAÚDE DA UA (CAMH6) Sexta Sessão Ordinária,

22-26 de Abril de 2013, Adis Abeba, ETIÓPIA

CAMH/Exp/6(VI)

TEMA: “O Impacto de Doenças Não Transmissíveis (DNTs) e Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) no Desenvolvimento em África”.

Relatório sobre Doenças Não Transmissíveis

(DNTs)i

AFRICAN UNION UNION AFRICAINE

UNIÃO AFRICANA

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A- Contexto

1. As Doenças Não Transmissíveis (DNTs) matam mais de 36 milhões de pessoas por ano. Aproximadamente 80% das mortes causadas por DNTs - uma estimativa de 29 milhões - ocorrem nos países de rendimento baixo e médio. Mais de nove milhões de todas as mortes atribuídas às doenças não transmissíveis (DNTs) surgem antes de 60 anos de idade e 90% dessas mortes “prematuras” ocorrem nos países de rendimento baixo e médio.

2. As doenças não transmissíveis (DNTs) como doenças cardiovasculares (DCV), cancros, diabetes, doenças respiratórias crónicas, Doença Falciforme (DF) e situações como distúrbios mentais, violência e ferimentos, doenças orais, incluindo perturbações de Saúde dos Olhos e dos Ouvidos (EEH), tornaram-se causas cada vez mais significativas dos problemas de saúde na região africana. Quatro principais DNTs são responsáveis pela maioria das mortes causadas por DNTs anualmente: 17 milhões de mortes causadas por doenças cardiovasculares (sobretudo ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais); seguidas de cancros (7,6 milhões); doenças respiratórias (4,2 milhões); e diabetes (1,3 milhões).

3. As quatro principais DNTs representam cerca de 80% de todas as mortes causadas por doenças não transmissíveis. Partilham os quatro factores de risco importantes e comuns: uso do tabaco, inactividade física, consumo do álcool e dietas pouco saudáveis. As Doenças Não Transmissíveis (DNTs) representam uma séria ameaça para a saúde humana e o desenvolvimento humano no mundo de hoje. As DNTs também conhecidas como doenças crónicas não são transmitidas de pessoa para pessoa. São de longa duração e geralmente de progressão lenta.

4. São as principais causas de morte em todas as regiões, excepto África, mas as actuais projecções indicam que, até 2020, os maiores aumentos em mortes provocadas por DNTs irão ocorrer em África. Prevê-se que, em África, as mortes por DNTs excedam as mortes associadas às doenças transmissíveis e nutricionais e mortes maternas e perinatais como as causas mais comuns de morte em 2025.

5. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que as DNTs são de longe a principal causa da mortalidade no mundo, representando mais de 60% de todas as mortes. Dos 36 milhões de pessoas que morreram de DNTs em 2005, metade tinham idade inferior a 70 anos e metade eram mulheres. Do total de 57 milhões de mortes em 2008, 36 milhões foram causadas por DNTs, o que representa aproximadamente 63%

do total de mortes em todo o mundo. Os factores de risco como estilo de vida modificável, nomeadamente uso do tabaco, inactividade física, consumo do álcool e dietas pouco saudáveis e alguns factores ambientais aumentam a probabilidade de DNTs. Todos os anos, pelo menos 5 milhões de pessoas morrem por causa do uso do tabaco e cerca de 2,8 milhões devido à obesidade. O colesterol elevado representa aproximadamente 2,6 milhões de mortes e 7,5 milhões de pessoas morrem por causa da hipertensão arterial. Até 2030, as mortes causadas por DNTs crónicas devem aumentar para 52 milhões por ano, enquanto as mortes causadas por doenças

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infecciosas, problemas de saúde materna e perinatal e deficiências nutricionais devem diminuir em 7 milhões por ano durante o mesmo período.

B- Tendências de DNTs em África

Factores de risco metabólicos/fisiológicos

6. Os factores de risco modificáveis levam a quatro principais alterações metabólicas/fisiológicas que aumentam o risco de DNTs: tensão arterial elevada, excesso de peso/obesidade, hiperglicemia (níveis elevados de glicose no sangue) e hiperlipidemia (níveis elevados de gordura no sangue). Em termos de mortes atribuíveis, o principal factor de risco de DNTs globalmente é a hipertensão arterial (a que se atribui 13% do total das mortes), seguido pelo uso do tabaco (9%), nível elevado de glicose no sangue (6%), inactividade física (6%) e excesso de peso e obesidade (5%). Os países de rendimento baixo e médio estão a debater-se com o aumento mais rápido em crianças com excesso de peso.

7. O Relatório Mundial da Saúde 2008 da OMS identificou cinco factores de risco importantes para doenças não transmissíveis nos dez principais riscos para a saúde.

São a hipertensão arterial, colesterol elevado, uso do tabaco, consumo do álcool, e excesso de peso e obesidade. As causas fundamentais associadas com maior risco de DNTs incluem condições económicas e sociais de uma pessoa, também conhecidas como “determinantes sociais da saúde”. Estimou-se que se os principais factores de risco forem eliminados, 80% dos casos de doença cardíaca, acidente vascular cerebral e diabetes tipo 2 e 40% de cancros poderiam ser evitados. As intervenções que visam os principais factores de risco poderiam ter um impacto significativo na redução do fardo da doença em todo o mundo. Esforços centrados no melhor regime alimentar e aumento da actividade física revelaram ser importantes no controlo da prevalência de DNTs.

8. As DNTs incluem muitas "doenças ambientais", abrangendo uma vasta categoria de problemas de saúde humana evitáveis e inevitáveis causados por factores externos, como luz solar, nutrição, poluição e escolhas de estilo de vida. Estas doenças formalmente conhecidas como "doença de afluência" são não-infecciosas e são atribuídas a causas ambientais. Os exemplos são nomeadamente:

Muitos tipos de doenças cardiovasculares (DCV)

Doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) provocada pelo uso do tabaco

Diabetes mellitus tipo 2

Dores lombares causadas por falta de exercício físico ou má posição ergonómica

Má nutrição causada por falta de comida, ou consumir tipos errados de alimentos (e.g, o escorbuto por falta de vitamina C) ou ter uma dieta desequilibrada

Cancro de pele causado por radiação solar e acidentes nucleares

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C- Os Impactos Socioeconómicos de DNTs e Porque é Necessária a Actuação da África

9. As DNTs ameaçam o progresso na realização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio das NU. A pobreza está intimamente ligada às DNTs. O rápido aumento das DNTs pode impedir as iniciativas de redução da pobreza nos países de baixo rendimento, particularmente porque aumenta as despesas dos agregados familiares associadas aos cuidados de saúde. As pessoas vulneráveis e socialmente desfavorecidas ficam mais doentes e morrem mais cedo do que as pessoas de posições sociais mais elevadas, principalmente porque estão em maior risco de serem expostas a produtos nocivos, como o tabaco ou alimentos pouco saudáveis, e têm acesso limitado à educação para a saúde pública e serviços de saúde.

10. Nos meios de poucos recursos, os custos dos cuidados de saúde para as doenças cardiovasculares, cancros, diabetes ou doenças pulmonares crónicas podem rapidamente esgotar os recursos domésticos, levando as famílias a mergulhar na pobreza. Os custos exorbitantes de DNTs, incluindo muitas vezes tratamento demorado e dispendioso e perda de chefes de família, estão a levar 100 milhões de pessoas para a pobreza anualmente, estão a sufocar o desenvolvimento.

11. Em muitos países, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e dieta e estilos de vida pouco saudáveis ocorrem nos grupos de maior e menor rendimento. No entanto, os grupos de alto rendimento podem ter acesso aos serviços e produtos que os protegem dos maiores riscos, enquanto os grupos de rendimento mais baixo podem muitas vezes não dispor desses produtos e serviços.

12. Para reduzir o impacto das DNTs nos indivíduos e sociedade, é necessária uma abordagem abrangente que requer que todos os sectores, incluindo saúde, comércio, indústria e manufactura, finanças, negócios estrangeiros, educação, informação, agricultura, planeamento e outros, trabalhem juntos para reduzir os riscos associados às DNTs, bem como promover as intervenções para a sua prevenção e controlo.

13. Uma forma importante de reduzir as DNTs deve concentrar-se na diminuição dos factores de risco associados a estas doenças. Existem soluções de baixo custo para a redução dos factores de risco modificáveis comuns (principalmente o consumo de tabaco, dieta pouco saudável e inactividade física, e o uso nocivo do álcool) e identificar a epidemia das DNTs e seus factores de risco.2

14. Outras formas de reduzir as DNTs são intervenções essenciais para DNTs de grande impacto que podem ser realizadas através de uma abordagem de cuidados de saúde primários para reforçar a detecção precoce e tratamento oportuno. Há dados que revelam que essas intervenções são excelentes investimentos económicos porque, se forem aplicadas aos pacientes com bastante antecedência, podem reduzir a necessidade de tratamento mais caro. Estas medidas podem ser implementadas em vários níveis de recursos. O maior impacto pode ser alcançado através da criação de

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políticas públicas saudáveis que promovem a prevenção e o controlo de DNTs e reorientação dos sistemas de saúde para atender as necessidades das pessoas com essas doenças.

15. Actualmente, os países de baixo rendimento geralmente têm menor capacidade para a prevenção e controlo das doenças não transmissíveis. Isto deve-se principalmente a uma combinação de: menor investimento directo no sector da saúde, e sistemas de saúde menos eficazes, nomeadamente a deficiente capacidade de diagnóstico e baixo número de profissionais de saúde especializados; fraca capacidade de produção de medicamentos necessários para o tratamento das DNTs e consequente custo elevado dos mesmos; ausência de seguro de saúde eficaz; controlo inadequado do álcool e do tabaco; deficiência de produção, armazenamento e distribuição de alimentos, sobretudo fornecimento de frutas e legumes a preços acessíveis, e pobreza que tem impacto negativo nas dietas; e o fraco investimento na educação para a saúde pública que promove a actividade física, consumo reduzido de gordura, sal e açúcar, e uma ampla gama de acções preventivas.

16. Os países de alto rendimento são aproximadamente quatro vezes mais propensos a ter serviços de DNTs cobertos por seguro de saúde do que os países de baixo rendimento. Os países com cobertura inadequada de seguro de saúde dificilmente proporcionarão o acesso universal às intervenções essenciais para as DNTs.

D- Como a África tem reagido até o momento Resposta da OMS:

17. Para reduzir o fardo da doença devido a essas situações, OMS-AFRO está a promover a implementação das actividades de prevenção e controlo de DNTs com base nas estratégias globais e regionais. Os principais problemas enfrentados na prevenção e controlo de DNTs são a insuficiente implementação de estratégias de promoção de saúde eficazes; medidas fiscais e legislativas inadequadas; fragilidade dos sistemas de saúde num contexto de taxas ainda elevadas de doenças transmissíveis e crescente fardo de DNTs. Outras questões importantes que têm dificultado a prevenção e o controlo de DNTs são a implementação inadequada das actuais políticas e estratégias de saúde; financiamento insuficiente do sector da saúde, sobretudo no tratamento de DNTs e formação inadequada dos profissionais de saúde.

O Plano de Acção de 2008-2013 da Estratégia Global para a prevenção e controlo de DNTs proporciona aos Estados Membros, OMS e parceiros internacionais orientações para a abordagem das DNTs nos seus próprios países. A OMS está também a responder com medidas que diminuem os factores de risco que são associados às DNTs.

 A implementação pelos países das medidas contra o tabaco estabelecidas na Convenção-Quadro da OMS sobre a Luta contra o Tabaco pode reduzir significativamente a exposição pública ao tabaco.

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A Estratégia Global da OMS sobre dieta, actividade física e saúde visa promover e proteger a saúde, capacitando as comunidades a reduzir as taxas de doenças e da mortalidade relacionadas com a dieta pouco saudável e inactividade física.

18. A OMS também desenvolveu e proporcionou aos Estados Membros estratégias regionais e globais para prevenir e controlar as principais DNTs e outras doenças não transmissíveis que constituem um desafio significativo para o desenvolvimento na Região Africana:

 O plano de acção global para a prevenção e controlo da cegueira evitável;

 A estratégia regional de prevenção e controlo de DNTs;

 A estratégia regional de prevenção e controlo de diabetes;

 A estratégia regional de prevenção e controlo do cancro;

 O documento técnico sobre a prevenção e controlo do cancro do útero;

 A estratégia regional de prevenção e controlo da cegueira evitável;

 A estratégia regional de prevenção e controlo de SCD;

 O documento técnico sobre a prevenção e controlo das doenças cardiovasculares;

 O documento técnico sobre a prevenção e controlo das doenças orais;

 A saúde oral: plano de acção para a promoção e prevenção integrada de doenças;

 Recomendações para a prevenção de violência, ferimentos e invalidez;

 A estratégia regional da saúde mental;

A estratégia global da OMS para reduzir o uso nocivo do álcool apresenta medidas e identifica áreas de acção prioritárias para proteger as pessoas do uso nocivo do álcool.

E- Ameaça de DNTs em África:

19. As doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, cancro, diabetes e outras doenças crónicas são muitas vezes consideradas como problemas de saúde pública de importância apenas nos países de alto rendimento. Na realidade, apenas 20% das mortes causadas por doenças crónicas ocorrem nos países de alto rendimento - enquanto 80% ocorrem nos países de baixo e médio rendimento, onde vive a maioria da população mundial. Além disso, conforme se especifica na publicação da OMS

“Prevenção de Doenças Crónicas: um Investimento Vital”, o impacto de doenças crónicas em muitos países de baixo e médio rendimento está em constante crescimento.

20. Nesses países, cerca de 28 milhões de pessoas morreram em 2005 de uma doença crónica e o número de pessoas que morreram devido a doença cardiovascular é cinco vezes maior do que VIH/SIDA. Nesses locais, os adultos de meia-idade são especialmente vulneráveis à doença crónica. Assim, as pessoas tendem a desenvolver a doença quando muito jovens, sofrem durante mais tempo, e morrem mais cedo do que as dos países de alto rendimento. Isso compromete o desenvolvimento económico

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dos países, uma vez que muitas das pessoas afectadas estão no auge da sua actividade produtiva e económica. As doenças não transmissíveis são a principal causa de morte e invalidez em todo o mundo.

21. A Região Africana da OMS não foi poupada à epidemia global de Doenças Não Transmissíveis e suas complicações debilitantes e muitas vezes fatais, como cegueira, insuficiência renal, gangrena que leva a amputações dos membros inferiores e doenças hemiplégicas. Na região, estima-se que as doenças crónicas representam um quarto de todas as mortes até 2015.

22. As doenças não transmissíveis, os assassinos silenciosos, têm os primeiros sintomas insidiosos, complicações debilitantes e provocam mortes dolorosas. O número estimado de mortes relacionadas com doença crónicas na Região Africana da OMS em 2005 foi 2.446.000.

23. A OMS estima que 28 milhões de pessoas na Região morrerão de uma doença crónica, durante os próximos 10 anos. A taxa de aumento de mortes causadas por doenças crónicas será mais de 4 vezes superior à das doenças infecciosas, doenças ligadas à saúde materna e perinatal e deficiências nutricionais nos próximos 10 anos – a primeira aumentará em 27% e a segunda em 6%. Mais significativamente, as mortes por diabetes aumentará em 42%.

24. Evidentemente, a África enfrenta uma importante mas aparente "epidemia negligenciada” de doenças crónicas não transmissíveis. Em muitos países nesta parte do mundo, morbidade e mortalidade relacionadas com as DNTs como diabetes, hipertensão, doenças cardíacas isquémicas e acidente vascular cerebral aumentaram de forma significativa nas últimas duas décadas. Vários segmentos das populações são afectados, mas principalmente jovens adultos nas áreas urbanas. O fardo das doenças crónicas da África tem sido atribuído à mudança de comportamentos relacionados com a saúde (e.g., estilos de vida sedentários e dietas ricas em gordura saturada e açúcar), que estão relacionados com as transições epidemiológicas e nutricionais, com mudanças estruturais, como industrialização, urbanização e a crescente globalização do mercado de produtos alimentares. O contexto africano é agravado pelos sistemas de saúde ineficazes, que são incapazes de lidar com a carga do duplo fardo grave de doenças infecciosas e DNTs. Muitos recomendaram uma abordagem abrangente para lidar com o fardo, que inclui a vigilância epidemiológica; prevenção primordial e primária (prevenção de doenças nas populações saudáveis); e prevenção secundária (prevenção de complicações e melhoria da qualidade de vida nas populações afectadas). No entanto, a realização destes objectivos enfrenta muitos desafios, que são principalmente estruturais, logísticos, humanos (falta de pessoal clínico e de investigação) e organizacionais (sistema de saúde).

25. Em 19 e 20 de Setembro de 2011, uma Reunião de Alto Nível das Nações Unidas (NU) sobre DNTs foi convocada em Nova York para a sensibilização da comunidade internacional sobre o facto de que as mortes prematuras por DNTs limita a produtividade, reduz o crescimento económico e constitui um desafio social significativo

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na maioria dos países. As delegações dos países membros das NU eram constituídas por Chefes de estado e de Governo, Parlamentares, Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Saúde, e Representantes da sociedade civil. A declaração política final da reunião destacou as proporções epidémicas das DNTs e seus impactos socioeconómicos e de desenvolvimento; a necessidade de responder a este desafio através de uma iniciativa integrada a nível do governo e da sociedade; as abordagens para a redução dos factores de risco e criação de ambientes favoráveis à promoção da saúde; a necessidade de reforçar as políticas nacionais e sistemas de saúde, e a importância da cooperação internacional, incluindo parcerias de colaboração; bem como de pesquisa e desenvolvimento, e monitorização e avaliação.

F- Necessidade Urgente de uma Acção Política Africana e Global a Nível de Cimeira para a Melhoria de Estruturas, Política e Financiamento das DNTs

26. Destacar os perigos crescentes das DNTs em África através de uma combinação de cimeiras das NU e da União Africana pode ajudar a colocar as DNTs no topo da agenda política nos países africanos, sobretudo num contexto em que a sensibilização sobre essas questões é muito baixa na maioria dos países. Os líderes políticos locais não têm geralmente demonstrado interesse nas DNTs, e isso tem reflectido nas políticas e na dotação orçamental.

27. Consequentemente, os ministérios/departamentos africanos da saúde deparam- se com uma tarefa difícil: tentar mobilizar apoio para a prevenção e controlo de doenças crónicas; proporcionar uma unificação de visão e plano de acção para garantir que a acção intersectorial seja enfatizada em todas as fases de formulação e implementação de políticas; e assegurar que as acções a todos os níveis e por todos os sectores sejam mutuamente favoráveis. Além disso, as acções devem ser priorizadas de acordo com as necessidades específicas da população para a prevenção e controlo de DNTs, o conjunto de possíveis intervenções e a disponibilidade de recursos humanos e financeiros para a sua implementação.

28. O ímpeto criado pelas cimeiras das NU e da UA, pode potencialmente levar a uma colaboração internacional mais frutuosa, coordenada pelas várias organizações internacionais envolvidas na prevenção e controlo de DNTs. O foco político africano e global de alto nível no VIH e SIDA desde 2001, e desde 2009 na Saúde Materna, Neonatal e Infantil tem demonstrado o impacto positivo que essa incidência pode causar.

29. Isso contribuirá definitivamente para a criação de melhores políticas e quadros de financiamento para auxiliar os ministérios africanos da saúde no equilíbrio das diversas necessidades e prioridades na implementação de intervenções baseadas em evidências. Um quadro que será orientado por um conjunto de princípios baseados numa abordagem de saúde pública para a prevenção e controlo de DNTs, e que envolvem vários níveis - nível nacional ou governamental, uma colaboração intersectorial, bem como intervenções individuais e baseadas na população. As

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colaborações internacionais podem ser benéficas para a maioria dos países africanos, que ainda não implementaram políticas e quadros para reduzir os factores determinantes das DNTs, como álcool e tabaco; e ainda não têm os recursos para implementar imediatamente políticas de prevenção e tratamento. Os países seriam auxiliados a definir as prioridades, e a seleccionar e implementar actividades que são imediatamente viáveis e susceptíveis de ter o maior impacto para o investimento. Por exemplo, a Organização Mundial da Saúde e a Federação Internacional de Diabetes têm estado a ajudar os países a formular políticas de prevenção e controlo de DNTs.

Essas iniciativas podem ser reforçadas e alargadas para um número maior de países como resultado das cimeiras das NU e da UA sobre DNTs.

30. Para melhorar as questões penosas da saúde relacionadas com DNTs, os dirigentes africanos necessitarão de encontrar as melhores soluções e as melhores formas para a adaptação dessas soluções nos sistemas de saúde complexos e muitas vezes sobrecarregados e com escassos recursos, e as melhores formas de contribuir para as mudanças desejadas nos sistemas de saúde. Mesmo com muita boa vontade, os doadores e agências internacionais não podem apresentar políticas nacionais congruentes que sejam localmente aplicáveis. Deste modo, a investigação da saúde baseada nos países e evidências clínicas são necessárias para a concepção de políticas adequadas. Caso contrário, as intervenções eficazes em termos de saúde pública para combater as DNTs não atingirão as populações em África, uma vez que os programas não baseados em evidências provavelmente seriam fragmentados, de baixa qualidade, injustos e de curta duração.

31. As intervenções a ser utilizadas devem representar o perfil epidemiológico da população africana nos vários países, e mecanismos de execução eficazes devem ser específicos em termos do contexto, porque as abordagens uniformes estão destinadas ao fracasso. Embora as cimeiras das NU e da UA ajudem a melhorar a disponibilidade de fundos internacionais para pesquisas, prevenção e tratamento de DNTs, uma dinâmica local interna nos países africanos é necessária para gerar evidências que serviriam para o planeamento da saúde pública. Pesquisa, prevenção e tratamento de DNTs é uma tarefa de longo prazo e delicada que requer uma massa crítica de pesquisadores locais com competências adequadas, que não pode ser o resultado de um eventual facto externo.

32. Os governos devem equilibrar as necessidades dos seus cidadãos com as suas obrigações de prestar ajuda aos outros países. Há uma evidente desigualdade global no fardo das doenças não transmissíveis e nos recursos nacionais disponíveis para as solucionar. Isso suscita a questão básica das obrigações dos países ricos de ajudar os países pobres a lidar com essas doenças. É difícil recorrer a argumentos de interesse pessoal, como ameaças à segurança nacional, como tem sido colocado para o combate ao VIH/SIDA. E, embora muitas intervenções de saúde sejam consideradas para o bem público global, este argumento pode não ser suficiente. Actualmente há pouca vontade dos países ricos para a atribuição de mais financiamento da ajuda. Os doadores enfrentam o dilema de questionar se devem reafectar os fundos existentes destinados às doenças infecciosas para as doenças não transmissíveis.

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33. Embora estas doenças possam beneficiar de uma mudança de programas específicos de doenças para um centrado no reforço dos sistemas de saúde, é difícil saber se os países de poucos recursos encontrarão financiamento adicional especificamente de acção sobre doenças não transmissíveis. Isso significa que uma ênfase na prevenção é necessária para envolver uma ampla gama de factores como o excesso de gordura, sal e açúcar na alimentação, sobretudo alimentos processados e refrigerantes, e uso de tabaco e álcool. Medidas para a sua abordagem estão a ser cada vez mais implementadas nos países industrialmente mais desenvolvidos através de uma combinação de educação para o público e medidas regulamentares envolvendo alimentos, refrigerantes, álcool e indústria do tabaco.

34. Além disso, intervenções de tratamento devem ser concebidas para as pessoas mais necessitadas, que seriam as mais beneficiadas, e medidas preventivas que beneficiariam a maioria das pessoas. A reunião anterior de alto nível inicialmente priorizou quatro doenças (doenças cardiovasculares, cancro, doenças pulmonares crónicas e diabetes) com encargos de elevada mortalidade e quatro factores de risco (uso do tabaco, má alimentação, uso nocivo do álcool e inactividade física). Contudo, a declaração política que foi assinada na reunião mais recente mencionou transtornos neurológicos e de deficiência mental (como foram incluídos nas declarações de Oslo, Cidade do México e Brazzaville), e factores de risco adicionais, nomeadamente exposição ao fumo de fogões de cozinha domésticos, que afecta especialmente as mulheres rurais e urbanas pobres.

35. O facto de incidir nas quatro doenças é que têm causas comuns e há maiores benefícios alcançados no seu tratamento. A doença mental é também um acompanhamento comum de doença física. O reforço dos sistemas de saúde para proporcionar cuidados crónicos, de longa duração deve melhorar os cuidados de saúde mental, e actuação nos factores de risco de saúde mental, como o uso nocivo do álcool, também irá ajudar.

36. As declarações políticas são um grande passo em frente, mas inerentes a elas existem dilemas éticos, visíveis nas tensões e diferenças entre as declarações regionais sobre doenças não transmissíveis. Temos de abordar primeiro estas tensões, se pretendermos avançar de compromissos de alto nível para acções eficazes.

G- Resposta da África até o momento:

37. Em Abril de 2011, os Ministros da Saúde africanos adoptaram uma declaração apoiada pelas Nações Unidas que apela a acções urgentes contra doenças não transmissíveis, nomeadamente doenças cardíacas, diabetes, cancro e problemas respiratórios crónicos, distúrbios sanguíneos, saúde mental, violência e ferimentos.

38. A Declaração de Brazzaville sobre doenças não transmissíveis (DNTs), que tem o nome da capital da República do Congo, onde o documento foi aprovado na Consulta Ministerial Regional Africana, sob os auspícios do Escritório Regional da Organização

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Mundial da Saúde para a África destaca os compromissos assumidos em relação ao problema crescente das DNTs em África.

39. As acções incluem reforço e normalização dos sistemas nacionais de saúde para a elaboração de dados detalhados sobre DNTs; utilização de meios adequados, incluindo tecnologias de informação e comunicação para promover a sensibilização da saúde e estratégias de prevenção e controlo de DNTs.

40. Os Ministros comprometeram-se igualmente a tomar medidas para proteger as pessoas de: dietas pouco saudáveis, uso nocivo do álcool e do tabaco, exposição ao fumo do tabaco e alimentos inseguros; violência e ferimentos, e a publicidade de produtos não saudáveis.

41. Comprometeram-se a reforçar os sistemas de saúde com a devida atenção ao financiamento; formação e retenção dos profissionais de saúde; aquisição e distribuição de medicamentos, vacinas, materiais e equipamentos médicos; melhoria de infra-estruturas; e prestação de serviços com base em evidências.

42. Na declaração, os Ministros exortaram igualmente a OMS, parceiros e organizações da sociedade civil a conceder apoio técnico aos Estados Membros para a implementação, monitorização, e avaliação das recomendações contidas no documento.

43. A declaração especificamente solicitou os Chefes de Estado e de Governo na região a aprovar a declaração, e apresentá-la na próxima Cimeira de Alto Nível da Assembleia Geral sobre DNTs como a posição africana.

44. O Comité Regional da OMS em Novembro de 2012 aprovou a Declaração de Brazzaville sobre Prevenção e Controlo de Doenças Não Transmissíveis na Região Africana da OMS; e exortou os Estados Membros a:

 Tomar as medidas apropriadas para a actualização das suas políticas de saúde e Planos Estratégicos Nacionais do Sector da Saúde com o objectivo da sua adequação à Declaração de Brazzaville sobre Prevenção e Controlo de DNTs;

 Desenvolver a capacidade institucional para a implementação da Declaração de Brazzaville através da reorientação dos sistemas de saúde para a promoção e apoio de estilos de vida saudáveis por indivíduos, famílias e comunidades no contexto de cuidados de saúde primários, a fim de responder eficazmente às complexas questões sociais, culturais e de comportamento associadas às DNTs e estabelecimento de um mecanismo de coordenação multissectorial eficaz;

 Aumentar efectivamente os recursos nacionais para implementar políticas e estratégias nacionais para a prevenção e controlo de DNTs;

 Considerar o reforço dos sistemas de saúde com a devida atenção para nomeadamente: financiamento da saúde; formação; retenção dos profissionais de saúde; aquisição e distribuição de medicamentos, vacinas, materiais e

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equipamentos médicos; melhoria de infra-estruturas; e, prestação de serviços com base em evidências e acessíveis para DNTs.

H- Recomendações e Perspectivas

45. O fardo da doença de DNTs é muitas vezes múltiplo e crónico, e com grande dor e sofrimento das pessoas - apenas uma abordagem política e de investimento, incluindo atenção e compromisso político ao mais alto nível, intervenções de saúde pública, cuidados primários básicos, visão de cooperação e da pessoa como um todo, pode ser bem sucedida. Deve haver uma abordagem que relaciona os factores de risco individuais com determinantes sociais e económicos da saúde, condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e idade, e as influências da sociedade.

Ao concentrar-se no reforço dos sistemas de saúde e medidas preventivas eficazes de diagnóstico e tratamento das DNTs, os serviços de saúde em geral irão melhorar, melhorando assim o tratamento de doenças transmissíveis e de doenças não transmissíveis simultaneamente:

a) Para tomar estas medidas políticas urgentes ao mais alto nível global e africano através da cimeira global e da UA, é necessário destacar os encargos das DNTs em África e suas implicações para o desenvolvimento social e económico, como se tem feito em relação a VIH e SIDA, Saúde Materna e Infantil;

b) Isso contribuirá para melhorar da capacidade de realçar e agir sobre casos concretos como mortalidade e morbidade anuais causadas por todas as DNTs a nível nacional e regional; e também abordar a taxa de mortalidade e morbidade por cada DNT em vários países, especialmente causas cardiovasculares, cancros, causas respiratórias, diabetes e outras;

c) Acção política de alto nível e subsequentes evidências materiais por sua vez ajudará a promover políticas e financiamento para a aplicação de quadros globais e africanos sobre factores de risco como álcool e tabaco; e também investimento na capacidade de diagnóstico e tratamento de factores de risco metabólicos, como: tensão arterial, glicose, colesterol, cancros, doenças respiratórias. De realçar que essa acção é essencial para a redução dos custos gerais de diagnóstico e tratamento, como aconteceu com doenças infecciosa;

d) Medidas específicas políticas e de investimento são também necessárias a nível nacional para garantir a melhoria da capacidade através da criação ou apoio aos departamentos do Ministério da Saúde ou agências especializadas responsáveis pelas DNTs com políticas, planos e orçamentos integrados para Doenças Cardiovasculares, Cancro, Doenças Respiratórias Crónicas, Diabetes, Álcool, Dieta Pouco Saudável / Excesso de Peso, Obesidade, Inactividade Física, Tabaco; incluindo investimento específico para prevenção e promoção da saúde;

tratamento e controlo; Vigilância, M&A; formação e retenção de profissionais de saúde especializados; e para garantir o sistema de informação nacional de saúde inclui, Mortalidade específica causada por DNTs, Morbidade de DNTs,

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Factores de Risco de DNTs, e Registos de Cancros com base na população nacional;

e) Juntamente com a educação do público sobre uma dieta mais equilibrada baseada em frutas e legumes, exercício físico, e consequências negativas do consumo excessivo de gordura, sal, açúcar e uso abusivo de álcool e tabaco - um compromisso especial do comércio, indústria e sector produtivo é necessário através de medidas regulamentares de negociações, e restrições no teor de alimentos processados e refrigerantes; e promoção de álcool e tabaco, especialmente a exposição dos dois últimos para crianças e jovens. São fundamentais para a acção preventiva como acontece agora nos países e cidades industrialmente desenvolvidos;

f) Apoio especial político e de investimento também deve ser promovido para o sector alimentar e agrícola para permitir que ele desempenhe o seu papel de produção, armazenamento e distribuição de alimentos que facilitam uma dieta mais equilibrada sobretudo o abastecimento de frutas e legumes durante todo o ano;

g) Na sequência do acima exposto, atenção especial deve igualmente ser prestada ao problema da doença respiratória causada pelo uso de combustíveis sólidos sobretudo nas zonas rurais, e entre os pobres urbanos, que tem cada vez mais impacto na saúde especialmente de mulheres e criança;

h) A educação do público, as políticas e o orçamento para o tratamento de transtornos mentais e neurológicos são também essenciais, considerando o número crescente de casos. A educação do público na abordagem do estigma é um primeiro passo crucial.

46. Apenas uma combinação dessas medidas pode ajudar a acelerar a capacidade da África para abordar e responder ao perigo de DNTs em relação ao desenvolvimento social e económico.

47. Hoje, a África enfrenta uma questão fundamental: A sua via para o desenvolvimento seguirá as tomadas por outros lugares, ou a África traçará um rumo exclusivo? Enquanto outros países e continentes se desenvolveram economicamente, passaram por muitos mais casos de doenças não transmissíveis. Estas doenças estão a aumentar em África, mas podem ser travadas. Na verdade, com uma estratégia clara de desenvolvimento, acção rápida, e apoio financeiro suficiente, os países africanos podem evitar alguns dos piores erros que outros países cometeram.

48. A tecnologia oferece um bom precedente paralelo. Na última década, o aumento significativo na tecnologia de telemóveis incentivou o desenvolvimento económico em África. Em vez de construir lentamente uma vasta rede de telefones fixos e de extensões telefónicas em todo um continente, muitos países da África saltaram essa

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etapa e simplesmente construíram torres de telemóveis, o que gerou a utilização inovadora de telemóveis no comércio.

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