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Richard Serra

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Academic year: 2021

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AGRADECIMENTOS

O presente projecto não seria possível sem o apoio incondicional por parte de diversas pessoas e entidades.

À minha orientadora, Professora Maria José Sacchetti pela constante ajuda tanto no projecto como na dissertação. Por me direccionar no caminho correcto, na devida leitura e em toda a componente prática. Pelo voto de confiança na organização do evento DEMO2013, bem como toda a ajuda. Pela partilha de experiências pessoais, e principalmente por toda a força na fase que se segue.

À minha co-orientadora, Professora Doutora Inês Simões pelos últimos quatro anos, por tudo o que me ensinou, pela sincera opinião durante a fase prática, que me fez avançar para algo mais concreto. Por toda a disponibilidade dentro e fora da faculdade, e por elevar a fasquia do conhecimento em qualquer disciplina que lecciona.

Ao Professor Fernando Moreira da Silva, que desde o início do mestrado foi e é o maior impulsionador do projecto final de curso. Obrigada por todo o interesse e atenção, e por conseguir individualizar cada aluno e seu projecto no meio de tantos outros.

À minha família, em especial à minha irmã Catarina pelo constante apoio em diversas situações e pelo interesse e disponibilidade totais em qualquer ajuda. Aos meus pais, pelo voto de confiança e por toda a ajuda em vários momentos. Ao meu cão Obama pelas longas horas de companhia durante toda a parte escrita. À minha avó, que sempre me incutiu o gosto pelas artes, e mais especificamente pela moda.

A todos os meus amigos, em especial ao Iúri, que acompanhou todo o processo sempre com uma palavra de confiança e apoio, e por fazer com que a motivação aumentasse quando esta parecia esvanecer. Á Ana, que mesmo longe demonstrou constante disponibilidade e apoio ao projecto. Por toda a ajuda antes, durante, e após a materialização da colecção, obrigada.

A todos os que possibilitaram a realização do editorial fotográfico que suporta a parte prática do presente projecto: Francisca, Joana, Victoria, Milen e Iúri. A toda a equipa que permitiu a realização da parte prática, nomeadamente no desfile DEMO2013.

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A todas as pessoas que se cruzaram comigo ao longo destes cinco anos, e que de uma maneira ou de outra me ajudaram e influenciaram a formar-me a pessoa que sou hoje. Muito obrigada.

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RESUMO

O presente projecto de investigação tem como principal objectivo o desenvolvimento de uma colecção de design de moda com base no pensamento projectual de Richard Serra (1939), assente na Process Art.

Trata-se de um projecto de cariz prático, no qual as principais metodologias utilizadas foram a pesquisa bibliográfica dos dois temas, seguida da análise de obras específicas de Serra na área do desenho e na área da escultura. Deste processo resultou o desenvolvimento do projecto, um conjunto de seis coordenados de vestuário feminino, apresentados ao público sob forma de dois desfiles e um editorial fotográfico.

O documento divide-se em duas fases. Na primeira, teórica, é investigado o movimento Process Art no contexto do pensamento projectual de Richard Serra. A segunda, prática, trata a análise de obras e consequente projecto. No trabalho foram consideradas as seguintes obras de Serra: na área do desenho Verb List (1967-68),

Pittsburgh (1985), No Mandatory Patriotism (1989), The American Flag is Not an Object of Worship (1989), Blank (1978), Union (2011) e Two Corner Cut: High Low (2012); na área da escultura, The Matter of Time (2005) e Equal-Parallel: Guernica

-Bengasi (1986).

Em relação à Process Art, esta foi usada como parte inerente (metodologia) do pensamento projectual do design de moda até ao termo da investigação.

Para além da concepção da colecção, é perceptível ao longo do documento o processo intrínseco que a constrói desde as primeiras experiências até aos desenhos finais.

PALAVRAS-CHAVE

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ABSTRACT

This research project has as main purpose the development of a fashion design collection based on the project-thinking of Richard Serra (1939), which relies on Process Art.

It is a project-oriented work in which the main methodologies used were a literature review of the two themes and the analysis of specific works of Serra in drawing and sculpture areas. This has led to the development of the collection, a set of six outfits of female clothing, presented to the public in the form of two catwalk shows and a photography editorial.

The document is divided into two phases. The first, theoretical, investigates the Process Art movement in the context of Richard Serra’s project-thinking. The second part, practical, analyzes certain works of art and the consequent project. For the project the following works of Serra were considered: in the drawing area Verb List (1967-68), Pittsburgh (1985), No Mandatory Patriotism (1989), The American Flag is Not an Object of Worship (1989), Blank (1978 ), Union (2011) and Two Corner Cut: Low High (2012). In the sculpture area The Matter of Time (2005) and Equal-Parallel: Guernica-Bengasi (1986).

Regarding Process Art, this was used as an inherent part (methodology) of the project-thinking until completion of the investigation.

In addition to the design of the collection, is noticeable throughout the document the intrinsic process that builds from the earliest experiments to the final designs.

KEY-WORDS

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LISTA DE ACRÒNIMOS E

ABREVIATURAS

BFA – Bachelor of Fine Arts

EUA – Estados Unidos da América FIG. – Figura

MET – The Metropolitan Museum of Art

MFA – Master of Fine Arts

MoMA – Museum of Modern Art

NI – Nova Iorque

N.Y. Times – New York Times

PÁG. – Página SB – Santa Bárbara SF – São Francisco SS – Spring Summer

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GLOSSÁRIO

AÇO COR-TEN

É um tipo de aço que na sua composição contém elementos que melhoram as suas propriedades anti-corrosivas. Tem um tom alaranjado, toque rugoso e odor de ferrugem.

PROCESS ART

Movimento artístico onde o objecto da arte – o produto final – não é o foco principal.

RAPPORT

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ÍNDICE GERAL

iii Agradecimentos

v Resumo / Palavras-Chave vi Abstract / Key Words

vii Lista de Acrónimos e Abreviaturas viii Glossário

xi Índice de Figuras 01 Introdução

04 Questões de Investigação

05 Objectivos Gerais / Objectivos Específicos 08 Estado da Arte

06 1 RICHARD SERRA 06 1.1 Vida e Influências

11 1.2 Obra, Materiais e Relação com o Observador 33 2 PROCESS ART 39 3 PROJECTO 39 3.1 Introdução ao Projecto 41 3.2 Desenvolvimento do Projecto 42 3.2.1 Scrapbook e Moodboard 46 3.2.2 Selecção de Obras

47 3.2.2.1 Cromatismo, Silhuetas, Processos e Esquissos 57 3.2.2.2 Prints e Materiais

62 3.3 Colecção 62 3.3.1 Overall Look

63 3.3.2 Coordenados, Desenho Plano, Ilustração e Descrições 64 3.3.2.1 Coordenado 1

66 3.3.2.2 Coordenado 2 68 3.3.2.3 Coordenado 3 70 3.3.2.4 Coordenado 4 72 3.3.2.5 Coordenado 5

(10)

74 3.3.2.6 Coordenado 6 77 3.5 Editorial/Lookbook 87 3.6 Desfiles 89 4 Considerações finais 91 Benefícios 92 Disseminação 94 Referências Bibliográficas 107 Bibliografia

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ÍNDICE DE FIGURAS

PÁG. 09.

FIG. 01. Retrato de Richard Serra. PÁG. 12.

FIG. 02. One Ton Prop (House of Cards).

PÁG. 13.

FIG. 03. Stacked Steel Slabs, Skullcracker Series, 1969. PÁG. 14.

FIG. 04. Gutter Splash Two Corner Cast, 1992. PÁG. 15.

FIG. 05. Prop,1968. PÁG. 16.

FIG. 06. Frames de Hand Catching Lead, 1968. PÁG. 18.

FIG. 07. Uma das raras vezes em que Serra mostrou o seu sketchbook. Desenho feito no México. Segundo o mesmo “...é uma anotação e não uma obra de arte.”

PÁG. 20.

FIG. 08. Frame de um modelo tridimensional com 30cm de altura. PÁG. 21.

FIG. 09. Aço cor-ten. PÁG. 22.

FIG. 10. Interior de Serpentine, 1993. PÁG. 23.

FIG. 11. White Neon Belt Piece, 1967. Borracha vulcanizada, tubagens em néon, cabo,

clips em metal, e transformador. PÁG. 24.

FIG. 12. Untitled,1967. Borracha. PÁG. 24.

FIG. 13. Richard Serra no seu estúdio, Nova Iorque, 1968. PÁG. 25.

FIG. 14. Hands Tied, 1968. PÁG. 25.

FIG. 15. Splashed Lead, 1968. PÁG. 26.

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PÁG. 26.

FIG. 17. Three Cuts, 1971. Aço laminado em seis partes. PÁG. 27.

FIG. 18. Taraval Beach, 1977. Rolo de tinta em linho belga. PÁG. 27.

FIG. 19. Tilted Arc, 1981. PÁG. 28.

FIG. 20. Weight and Measure, 1993. PÁG. 29.

FIG. 21. Montagem de Torqued Ellipse II, 1996. Aço inoxidável. PÁG. 30.

FIG. 22. + 23. Plantade The Matter of Time. +Modelo tridimensional de The Matter of Time.

PÁG. 30.

FIG. 24. Frames da instalação dedas esculturas Torqued Elipse IV e Intersection com gruas no exterior do MoMA, 2007.

PÁG. 31.

FIG. 25. + 26. Promenade, 2008. PÁG. 31.

FIG. 27. Parte da exposição Richard Serra Drawing: A Retrospective, 1968. PÁG. 33.

FIG. 28. Lynda Benglis, pintura de chão com latex, Rhode Island, 1969. PÁG. 34.

FIG. 29. Untitled, 1967-68, Robert Morris. PÁG. 35.

FIG. 30. + 31. Richard Serra a espalhar chumbo fundido em paredes, 1968-69. PÁG. 36.

FIG. 32. + 33. Untitled (14-Part Roller Drawings), 1973. Tinta sobre papel (8.38m x 12.45m).

PÁG. 41.

FIG. 34. + 35. Betwixt the torus and the sphere, 2001. + Lead Piece, 1968. PÁG. 42.

FIG. 36. Excertos do scrapbook, 2012-13. PÁG. 45.

FIG. 37. Moodboard, 2013. PÁG. 47.

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FIG. 38. Union, 2011. PÁG. 47.

FIG. 39. Blank ,1978. PÁG. 47.

FIG. 40. Two Corner Cut: High Low, 2012. PÁG. 50.

FIG. 41. No Mandatory Patriotism, 1989. PÁG. 50.

FIG. 42. The American Flag is Not an Object of Worship,1989. PÁG. 50.

FIG. 43. Pittsburgh, 1985. PÁG. 51.

FIG. 44. Verb List, 1967-68. PÁG. 53.

FIG. 45. Verb List em scrapbook, 2012. PÁG. 54.

FIG. 46. Preparação do processo com tecido e boneco articulado, 2013. PÁG. 55.

FIG. 47. The Matter of Time, 2005. PÁG. 56.

FIG. 48. Esquissos, 2012-13. PÁG. 58.

FIG. 49. + 50. Equal-Parallel: Guernica-Bengasi, 1986. + Processo do estampado: to select, to rotate, to manipulate, to frame, 2013.

PÁG. 69.

FIG. 51. Processo da localização estampado, 2012. PÁG. 60.

FIG. 52. Posicionamento final do print em dois coordenados: to place, to resize e to rotate.

PÁG. 62.

FIG. 53. Disposição total da colecção TO CUT. TO FOLD. TO EXPAND.. PÁG. 64.

FIG. 54. Processos, coordenado 1. PÁG. 65.

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PÁG. 66.

FIG. 56. Processos, coordenado 2. PÁG. 67.

FIG. 57. Desenho plano, coordenado 2. PÁG. 68.

FIG. 58. Processos, coordenado 3. PÁG. 69.

FIG. 59. Desenho plano, coordenado 3. PÁG. 70.

FIG. 60. Processos, coordenado 4. PÁG. 71.

FIG. 61. Desenho plano, coordenado 4. PÁG. 72.

FIG. 62. Processos, coordenado 5. PÁG. 73.

FIG. 63. Desenho plano, coordenado 5. PÁG.74.

FIG. 64. Processos, coordenado 6. PÁG. 75.

FIG. 65. Desenho plano, coordenado 6. PÁG. 78.

FIG. 66. Editorial Fotográfico. PÁG. 79.

FIG. 67. + 68. Editorial Fotográfico. PÁG. 80.

FIG. 69. Editorial Fotográfico. PÁG. 81.

FIG. 70. Editorial Fotográfico. PÁG. 82.

FIG. 71. + 72. Editorial Fotográfico. PÁG. 83.

FIG. 73. Editorial Fotográfico. PÁG. 84.

FIG. 74. Editorial Fotográfico. PÁG. 85.

FIG. 75. + 76. Editorial Fotográfico. PÁG. 86.

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FIG. 77. Editorial Fotográfico. PÁG. 87.

FIG. 78. + 79. Desfile DEMO2013. PÁG. 88.

FIG. 80. + 81. Desfile DEMO2013. + Backstage DEMO 2013. PÁG. 88.

FIG. 82. + 83. Convite para o desfile DEMO2013. + Convite para o desfile FASHIONFIVE.

PÁG. 93.

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INTRODUÇÃO

O presente projecto de investigação, realizado no âmbito do Mestrado em Design de Moda pela Faculdade de Arquitectura de Lisboa, visa a construção de uma proposta ao nível do design de moda. Para tal, procedeu-se à análise da obra do artista Richard Serra, devidamente seleccionada. Visto que a mesma tem servido de inspiração para a investigadora, o que se prentende é partir dela para um estudo de análise cuidada que servirá de fundamento à colecção de vestuário feminino, proposta para a estação SS 14 e composta por seis coordenados.

Para além da vida, obra e manifestações artísticas de Serra, será igualmente explorado o conceito de Process Art. Quando se referencia Richard Serra, é impossível dissociá-lo do mesmo, já que o seu trabalho assenta em tais propósitos.

Não existe a escultura e a pintura de Serra sem o visitante, o espectador. É disso que a sua filosofia fala. É essa a linguagem de Richard Serra. O vivenciar do espaço como se de um edifício se tratasse, os trajectos que formam, o forte odor a aço cor-ten, as dualidades de cheios e vazios, luz e sombra, e os sentimentos que estas peças maciças auferem ao observador colocam-no no centro da obra, estabelecendo uma relação entre eles.

Para além da escultura, arte que lhe deu o título de “homem do aço”1, Serra explorou (e explora até hoje) várias outras áreas da arte: pintura, desenho, videoarte e performance.

O desenho, por exemplo, é algo que está sempre presente na sua vida, pelo que se faz acompanhar constantemente de um sketchbook onde faz anotações visuais de tudo o que lhe interessa e chama a atenção.

Embora não seja maioritariamente reconhecido por ser um desenhista, esta arte desempenha um importante papel no seu crescimento enquanto artista. Tal é a importância do desenho para analisar Richard Serra autor, que o Metropolitan Museum of Art (MET) em Nova Iorque, lhe dedicou uma exposição: Richard Serra Drawing: A Retrospective2, com desenhos que datam desde a década de 80. Porém, muitos dos desenhos de Serra são considerados pinturas, dada a sua

1 SMITH, R2011, NY Times: Sketches from the man of steel, [Acedido em 23/1/2012].

<http://www.nytimes.com/2011/04/15/arts/design/richard-serras-drawings-at-metropolitan-museum-of-art.html?_r=4&pagewanted=1&ref=design>.

2 The Metropolitan Museum of Art, [Acedido em 23/1/2012].

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escala e os materiais utilizados. A escala nunca é posta de parte por Serra, que a quer sempre com proporções brutais. A composição da exposição sublinhava igualmente a importância do observador para a validar.

É este modo de pensar e trabalhar que alia ainda Richard Serra à Process Art. Como mote deste movimento pode dizer-se que o processo de realização inerente a uma peça é tão ou mais importante que a peça final. Serra trabalhou esta arte através de curtas-metragens ou mostras de execução de trabalho. O seu vídeo Hands Tied (1968) mostra durante largos minutos duas mãos atadas nos pulsos com uma corda a tentar desfazer os nós e soltar-se. Serra descreve os seus filmes como algo que proporciona um entendimento complementar da sua escultura e desde então, fez vários outros que mostram metal e em casos particulares, o aço. É a isto que se chama Process Art.

A investigação presente tem como motor de partida uma viagem em 2005 à cidade espanhola de Bilbao, onde no contexto de um outro curso – Arquitectura – foi feita uma visita ao museu Guggenheim Bilbao. A visita à exposição The Matter of Time (2005), de Richard Serra, a única permanente no museu, foi o impulso para todo o projecto. O arquitecto Frank Ghery, autor do museu, projectou uma construção com uma escala gigante, mas não descurou os pormenores. O percurso está previamente estudado; numa das áreas do museu o visitante é convidado a subir nos elevadores de vidro, sendo de seguida direccionado para um mezanino, onde tem uma vista total da exposição. Aqui é já perceptível a enormidade da escala. Os transeuntes parecem insignificantes ao pé das estruturas de aço. Tem-se um primeiro contacto visual e olfativo com a obra, sem se ter ideia de como será a relação directa com esta. Desce-se em seguida ao piso térreo, onde finalmente se entra na galeria 104 Arcelor Mittal. A primeira impressão é a confirmação ou possível surpresa da escala das estruturas laminares. De seguida, nada mais há a fazer se não viver as mesmas, entrando nelas e percorrendo-as. Foi aqui que a investigadora teve um primeiro contacto com a obra de Richard Serra e foi aqui que despertou a curiosidade e interesse repentinos sobre o mesmo. Como pretendido, vários sentimentos despoletam no visitante que percorre as construções de The Matter of Time.

A sala de Ghery, que já por si tem uma dimensão considerável (10.92m x 2.03m) e que anteriormente parecia assoladora, passa aqui para segundo plano, deixando como único actor em palco o conjunto de oito construções gigantescas

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de aço. É importante referir este facto, uma vez que este é um projecto de investigação que nasce de uma semente plantada há anos e que ficou a crescer até então. Só por este motivo, já se justifica todo o processo de pesquisa.

Como referido, esta é uma investigação prática, que se prende com o desenvolvimento de uma colecção.

Relativamente à obra de Serra, foram somente seleccionadas a escultura e o desenho, e mais concretamente apenas algumas obras. Esta é uma decisão consciente e propositada e que permite um maior foco sobre o que realmente se pretende. Paralelamente à pesquisa e selecção destas obras, foi desenvolvido um scrapbook com as principais ideias, mindmaps e referências a ter em conta. Este foi o ponto de partida para o moodboard, os primeiros esquissos, e por conseguinte surgiram também as silhuetas, paleta cromática, escolha de materiais e prints. Alicerçado a este desenvolvimento encontra-se como metodologia de projecto a Process Art e a obra de Richard Serra. Esta é uma fase de introspecção, pelo que foram desenvolvidas e testadas situações muito próprias. Por meio de superfície têxtil e um boneco articulado com uma escala menor, foram realizadas experiências que fundem o tecido e o corpo, tal como acontece na obra de Serra, que acopla o material ao observador.

Apesar da inspiração em Serra e na Process Art, pretende-se igualmente ter uma leitura do autor do projecto, pelo que se pode entender o mesmo como uma coligação de trabalhos.

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QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

A Process Art defende que que os meios executados para atingir um produto final são tão ou mais importantes que o mesmo. É assim indissociável do movimento, do acontecimento e claro, do pensamento. Richard Serra esteve associado a este movimento, o que é visível na sua obra. Enquanto autor, Serra exprime o seu interesse pelo pensamento processual em várias artes, seja no desenho, na pintura ou na escultura.

A conjuntura destes dois itens previamente analisados como parte da metodologia, permite o nascer de um projecto de cariz prático, uma colecção ao nível do design de moda.

As influências visuais e o trajecto de raciocínio dever-se-ão ler de uma forma muito específica, respondendo deste modo às premissas propostas.

Com o desenvolvimento da presente dissertação surgem diversas questões de partida. Estruturados os conceitos e metodologias a tratar na investigação, é colocada a seguinte questão:

[ Será possível construir uma colecção de design de moda que ilustre o pensamento projectual de Richard Serra e seus processos, com base na Process Art? ]

Colocada a principal questão, colocam-se ainda algumas questões secundárias. É intenção que tais pontos fiquem esclarecidos no capítulo do Projecto, aquando da sua conclusão.

[ Como são utilizadas as filosofias de Serra e da Process Art para executar uma colecção de moda? ]

[ Como é proposta a construção de vestuário com cariz processual? ] [ Qual o resultado esperado nesta colecção de moda? ]

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OBJECTIVOS

GERAIS

Os objectivos desta investigação assentam na já referida temática da Process Art com base no trabalho do escultor americano Richard Serra. A investigação tem como objectivo geral o desenvolvimento de uma colecção de vestuário feminino com base em processos resultantes da prévia pesquisa. Como resultado final da dissertação, serão posteriormente confeccionados seis coordenados.

ESPECÍFICOS

Como referido, pretende-se que seja claro o entendimento dos conceitos de Process Art, bem como os processos usados por Richard Serra. É necessário apresentar a sua obra para que se perceba qual a evolução e linha visual de trabalho. Aqui surge também uma contextualização no seio da Process Art. É o conjunto entre este conceito, Serra e o design de autor que despoleta o desenvolvimento projectual, que resulta no desenho da colecção. É intenção clarificar os processos da própria autora desde a pesquisa até ao termo da investigação. Como objectivos específicos identificam-se também a confecção das peças, a mostra pública das mesmas por meio de desfiles, e ainda a elaboração de um editorial fotográfico que situe a colecção no ambiente pretendido. Em suma, o que se pretende é efectivamente fazer a passagem desde a fase teórica até à materialização da colecção de uma forma expositiva.

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ESTADO DA ARTE

1 RICHARD SERRA

1.1.1 VIDA E INFLUÊNCIAS

Richard Serra nasceu a 2 de Novembro de 1939 nos Estados Unidos da América. O segundo de três filhos, de pai espanhol e mãe russa judia, nasceu e cresceu em São Francisco com a família. Sendo o filho do meio, Serra sempre viveu na sombra do seu irmão mais velho, Tony Serra, hoje um grande advogado. Em SF3, era vizinho da família di Suvero cujo filho mais velho Mark, se viria igualmente a tornar num escultor mundialmente conhecido. Apesar de Mark ser mais velho que Richard, o que prejudicava de certa forma o convívio entre ambos, seria exactamente para se destacar do seu irmão Tony, que Richard começou a desenhar.

Com o apoio dos pais, Richard Serra desenhava todas as noites aviões, carros, jogadores de baseball, barcos e autoretratos ao espelho. “Sempre senti que conseguia e iria fazê-lo, mas quando fui para a faculdade, decidi-me pelo Inglês.”4

Começou, em 1957, por entrar na Universidade da Califórnia em Berkeley para estudar Literatura Inglesa, mas acabou por se mudar para a Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, onde teve oportunidade de frequentar pequenos cursos relacionados com arte, tendo sido distinguido com um BFA5 em 1961.

No mesmo ano, Serra candidatou-se ao curso de pintura da Yale University School of Art and Architecture, que estava, na altura, a recrutar os melhores estudantes de arte dos EUA. Nesse sentido, decidiu enviar doze dos seus desenhos, e a resposta foi uma bolsa de estudo. Concluiu o curso em 1964 recebendo um BFA e um MFA6. Durante os anos de faculdade teve como colegas

3 SF – São Francisco

4 TOMKINS, C, Lives of the artists, 2008, pp. 75-76, [Acedido via BooksGoogle, em 23/1/2012]. /

TOMKINS, C, The New Yorker 2002, p. 55, [Acedido via BooksGoogle, em 23/1/2012]. /

<http://books.google.pt/books?id=Wj-mhozWsFEC&printsec=frontcover&hl=pt-PT#v=onepage&q&f=false>.

5 SB – Santa Bárbara 6 MFA – Master of Fine Arts.

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diversas figuras que se viriam a revelar influentes no mundo da arte, como minimalistas, expressionistas, pintores abstracto-expressionistas e escultores.

You could always tell who Richard had been studying when you'd go to the library and find a book all stuck together with paint. (Tomkins 2008)7

Em SB8 teve o pintor e escultor Frederico Lebrun (1900-1964) e Howard Warshaw (1920-1977) como mentores. Já em Yale, Serra estudou pintura com o artista Josef Albers (1888-1976) durante um período de três anos, colaborando na elaboração do seu livro, The Interaction of Color (1963).

Aquando da sua licenciatura, Richard Serra recebeu uma bolsa Yale Travelling Fellowship o que lhe permitiu estudar durante dois anos em Florença e Paris e onde tomou contacto pela primeira vez com a obra de Constantin Brancusi9 (1876-1957). Mais tarde, uma bolsa Fulbright levou-o até Roma, permitindo-lhe passar muito tempo na Europa e Norte de África. No estúdio de Brancusi, Serra desenhava diariamente as suas obras, facto que o próprio marca como tendo sido a passagem da sua obra mais experimental para a escultura. Em Espanha, ficou fascinado com o modo como o pintor sevilhano Diego Velásquez (1599-1660) conseguiu uma aliciante relação entre a obra Las Meninas10 (1656) e o observador, algo que viria a influenciar de forma indelével o seu trabalho e que hoje lhe é indissociável.

Já em Itália, os artistas que recorriam a materiais não convencionais começaram a inspirá-lo. Terminados os estudos, Serra mudou-se para Nova

7 Tomkins, C 2008, Lives of the artists, p. 77, [Acedido via BooksGoogle, em 23/01/2012]. /

<http://books.google.pt/books?id=Wj-mhozWsFEC&pg=PA75&lpg=PA75&dq=richard+serra+grew+up+dunes&source=bl&ots=la43NQUVHI&

sig=29TWkdUpSgCST1r7r3-KLt4F_58&hl=pt-PT&sa=X&ei=AkPtUdnMB6HF7AaKm4H4BA&ved=0CFkQ6AEwBA#v=onepage&q=richard%20serra%2 0grew%20up%20dunes&f=false>.

TL: “Conseguia-se sempre saber quando Richard estava a estudar quando se ia à biblioteca e se encontrava um livro todo colado com tinta".

8 BFA – Bachelor of Fine Arts.

9 O mais célebre escultor romeno e um dos principais nomes da vanguarda moderna, [Acedido em

23/1/2012]. /

<http://www.brancusi.com/>.

10 Quadro pintado em 1656 pelo pintor espanhol Diego Velázquez. Óleo sobre tela. 3.10×2.76 m. Museu

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Iorque, Estados Unidos da América, onde permanece até aos dias de hoje (divide o tempo entre NI e Cape Breton Island, na Nova Escócia com a sua mulher Clara Weyergraf-Serra). O seu trabalho continua em evolução.

Montou a sua primeira exposição nos Estados Unidos, na Leo Castelli Warehouse em NI. Desde então, Richard Serra exibiu o seu trabalho e as suas esculturas em todo o mundo, com especial atenção para as exposições de retrospectiva em museus como o Centro Georges Pompidou11 e o Museu Nacional de Arte Moderna em Paris (1983-84), o Museu de Arte Moderna (1986) e o Centro Dia para as Artes em Nova Iorque (1997) e permanentemente em Bilbau, no Museu Guggenheim Bilbao12. No verão de 2007, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) recebeu a exposição de retrospectiva do trabalho de Serra – Richard Serra Sculpture: Forty Years13 – onde foram expostos vinte e sete trabalhos, incluíndo dois dos anos 60 e 80. Foi distinguido em 2008 com o título Honoris Causa: Doctor of Fine Arts pela Williams College e em 2010 pela Universidade de Harvard.

11 Centre national d'art et de culture Georges-Pompidou é um complexo fundado em 1977 em Paris,

França, que abriga museu, biblioteca, teatros, entre outros equipamentos culturais, [Acedido em 23/1/2012]. <http://www.centrepompidou.fr/>.

12 Situado na cidade basca de Bilbau, é um dos cinco museus pertencentes à Fundação Solomon R.

Guggenheim no mundo. Projectado pelo arquitecto norte-americano Frank Gehry (1929), [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.guggenheim.org/bilbao/collection>.

13 MoMA, [Acedido em 23/1/2012]. /

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FIG. 01. Retrato de Richard Serra.

Fonte: http://davidseidner.com/resources/_wsb_238x301_Richard_Serra.jpg [23/01/2012].

Serra é considerado um dos escultores mais influentes do final do século XX. Sabido como um homem de personalidade forte e muito confiante, o seu interesse em pintura, escultura, arte, música, dança, cinema, performance e instalação afectou legiões de artistas durante a sua longa carreira. Tido por muitos como meras paredes que atrapalham a circulação normal da cidade ao nível do piso térreo, o trabalho de Serra é agressivo pela sua grande escala, forte odor, acentuada textura e incisiva localização. Tal como o próprio diz, o seu trabalho é quase indestrutível.

My work is really very hard to hurt. I mean, people sit on it, write on it, piss on it, you really can't hurt it. (…) you can graffiti the hell out of it, but there's not much you can do to hurt it. (Serra 2001)14

14 Art21, [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.pbs.org/art21/watch-now/segment-richard-serra-in-place>. /

TL: “O meu trabalho é realmente muito difícil de danificar. Quero dizer, as pessoas podem-se sentar sobre ele, escrever sobre ele, fazer chichi sobre ele, mas realmente não se consegue feri-lo, (...) podem “graffitá-lo” completamente, mas não há muito que se possa fazer para o ferir.”

(26)

Como influências do seu trabalho, Richard Serra enumera os artistas Carl Andre15 (1935), Constantin Brancusi16 (1876-1957), Alberto Giacometti17 (1901-1966), Jackson Pollock18 (1912-1956) e Robert Smithson19 (1938-1973), a crítica e escritora americana Rosalind Krauss (1941), a escultora e também amiga Eva Hesse20 (1936-1970); e por fim os movimentos do Expressionismo Abstracto21 (1952), Arte de ambiente e o movimento Minimalista, emergente em NI na primeira década dos anos 60.

15 Artista plástico e autor de poemas visuais, e um dos membros do movimento minimalista nos anos 60,

[Acedido em 23/1/2012]. / <http://www.carlandre.net/>.

16 O mais célebre escultor romeno e um dos principais nomes da vanguarda moderna, [Acedido em

23/1/2012]. /

<http://www.brancusi.com/>.

17 Artista suíço que se distingiu pelas suas esculturas e pinturas expressionistas. Filho do pintor

inmpressionista Giovanni Giacometti, [Acedido em 23/1/2012]. / <http://www.alberto--giacometti.com/>.

18 Pintor norte-americano e referência no movimento do Expressionismo Abstracto, [Acedido em

23/1/2012]. <http://www.jacksonpollock.com/>.

19 Artista americano famoso pela sua land art, [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.robertsmithson.com/>.

20 Escultora americana nascida na Alemanha conhecida pelo seu trabalho pioneiro com materiais como

látex, fibra de vido e plásticos.

21 Nova vanguarda nascida nos EUA no início dos anos 40, [Acedido em 09/12/2012]. /

(27)

1.2 OBRA, MATERIAIS E RELAÇÃO COM O OBSERVADOR

I started doing that when I was fifteen, rolling ball bearings in a little plant where I lied about my age. It was very useful. It’s probably why I do what I do. I respect the working class. If you’re making art, you don’t know what class you’re in, but if you work in a steel mill you’re part of a working class. (Serra 2011) 22

Richard Serra manifestou desde cedo o gosto pelos materiais, observação, experimentação, processos e pela relação do Homem com a arte. Sempre lhe interessaram os pormenores mas, em simultâneo, sempre assumiu uma estética crua, dura, e com alguma brutalidade. A paleta de cores por ele usada em desenho e pintura cinge-se ao preto e branco, e no caso da escultura, ao tom da própria matéria, o aço cor-ten.

Os primeiros trabalhos de Richard Serra assentam no início de inovadoras experiências do artista, orientados para processos com materiais não tradicionais, tais como a borracha vulcanizada, néon e chumbo.

Quando se instalou definitivamente em Nova Iorque em 1967, Richard Serra abandonou a pintura, começando a executar os primeiros trabalhos de escultura e experimentando igualmente outros materiais como a fibra de vidro.

22 TOMKINS, C 2008, Lives of the artists, p. 76, [Acedido via BooksGoogle em 23/1/2012]. /

<http://books.google.pt/books?id=Wj-mhozWsFEC&printsec=frontcover&hl=pt-PT#v=onepage&q&f=false.>.

TL: “Comecei a fazer isso quando tinha quinze anos, rolamentos de esferas numa pequena fávrica onde menti sobre minha idade. Foi muito útil. É provavelmente por isso que eu faço o que faço. Eu respeito a classe trabalhadora. Se estiver a fazer arte, não se sabe a que classe pertence, mas se trabalhar numa siderurgia, faz parte de uma classe trabalhadora”.

(28)

FIG. 02. One Ton Prop (House of Cards).

(29)

FIG. 03. Stacked Steel Slabs, Skullcracker Series, 1969.

Fonte: http://bombsite.com/issues/42/articles/1605 [23/01/2012].

As primeiras obras de Richard Serra eram abstractas, como a série Splash, iniciada em 1968, onde eram atirados pedaços de chumbo derretido contra grandes superfícies, paredes de estúdios e espaços expositivos. Em 1969 constrói One Ton Prop (House of Cards), ainda nesta linha de pensamento, o qual consiste em quatro chapas de chumbo quadradas colocadas de modo a formar uma espécie de cubo, como se se tratassem de cartas de jogar suportando-se umas nas outras. No mesmo ano constrói a série Skullcracker. É nesta altura que se começa a verificar a tendência para o aumento da escala, e é também nesta fase que inicia uma série de instalações interiores de grande porte em aço e começa a trabalhar com engenheiros estruturais.

(30)

FIG. 04. Gutter Splash Two Corner Cast, 1992.

Fonte: http://www.depont.nl/en/collection/artists/detail/werk_id/343/kunstenaar/serra/ [23/01/2012]. A série seguinte, Prop, que Serra iniciou em 1969, é considerada a precursora imediata das enormes construções minimalistas partindo de grandes rolos de aço laminado. Explorações de equilíbrio, peso e gravidade, as peças desta série espelham igualmente as suas memórias de infância.

(31)

FIG. 05. Prop,1968.

Fonte: http://www.artnet.com/magazineus/features/saltz/saltz6-19-07_detail.asp?picnum=10 [23/01/2012].

No final dos anos 60 Serra, produziu os seus primeiros filmes. Hand Catching Lead (1968), por exemplo, mostra bocados de chumbo derretido a cair e uma mão a tentar apanhá-los. No vídeo apenas se observa este processo. No entanto, estes bocados quando agarrados e portanto, deformados, originam uma peça que depois de seca se define como escultura. Este é um dos exemplos onde a obra de arte não se cinge ao resultado final, mas vive igualmente do seu processo.

(32)

FIG. 06. Frames de Hand Catching Lead, 1968.

(33)

Drawing provides a space, a place for me to go to where I can concentrate on an activity that is satisfying in and of itself. (Gagosian Gallery 2011)23

Serra tem vindo, de facto, a desenhar desde os seus 4 anos. Lembra que a seguir à 2ª Guerra Mundial, em São Francisco o papel era caro. Nesta altura, a carne do talho era normalmente embrulhada em papel cor-de-rosa. Com 5 ou 6 anos de idade, Serra costumava desenrolar rolos deste papel no meio da rua e fazia desenhos sobre estes. Em entrevista ao jornalista Charlie Rose (1942), Richard Serra diz que desenha todos os dias, como modo de pensamento. “Ver é pensar e desenhar é um outro modo de pensar”24 O escultor mantém sketchbooks desde os tempos de faculdade em Santa Bárbara, e admite ter centenas deles guardados. Uma vez que a universidade de Yale assumiu um papel importantíssimo na sua vida, Serra afirma que a desfazer-se deles, o destino óbvio destes diários seria Yale. No entanto, para já, assume-os como algo pessoal e frisa que é raro mostrá-los a alguém. É neles que faz anotações e esquissos rápidos. Quanto ao destino das suas esculturas, refere que não tem interesse em construir um museu para as suas obras.

23 Gagosian Gallery 2011. / <http://www.gagosian.com/exhibitions/richard-serra---november-23-2011>.

[Acedido em 23/1/2012].

TL: “O desenho proporciona espaço, um lugar para eu ir onde possa concentrar-me numa actividade que é satisfatória em si.”

24 ROSE, C 2011, entrevista a Richard Serra, [Acedido em 23/1/2012]. /

(34)

FIG. 07. Uma das raras vezes em que Serra mostrou o seu sketchbook. Desenho feito no México. Segundo o mesmo “...é uma anotação e não uma obra de arte.” 25

Fonte: http://www.charlierose.com/ [23/01/2012].

When does the drawing come in? It’s an autonomous body of work and I try to redefine it in terms of my needs in articulating space. I don't start with a drawing, I start with a model. I don't make drawings of my sculpture. I start with model, and I work models, and I re-work models. If I make drawings that deal with my sculpture at all is after the fact or when they’re going up and I see a detail or part, but I don’t illustrate my sculpture. (...) I want the drawing (...) to be interesting and not mere representations.(Serra 2011)26

25 ROSE, C 2011, entrevista a Richard Serra, [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.youtube.com/watch?v=92haKUsVHBQ>.

26 ROSE, C 2011, entrevista a Richard Serra, [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.youtube.com/watch?v=92haKUsVHBQ>.

TL: “Quando é que entra o desenho? É um corpo autónomo de trabalho e eu tento redefini-lo em termos da minha necessidade em articular espaço. Eu não começo com um desenho, começo com um modelo. Não faço desenhos da minha escultura. Começo com modelo, trabalho modelos, e re-trabalho modelos. Se fizer um desenho é quando as peças estão a ser levantadas e vejo um detalhe particular. Quero que o desenho seja interessante e não meras representações”.

(35)

Richard Serra tem a preocupação de esclarecer que sua a sua escultura não advém do desenho. Não inicia um projecto por este meio, mas sim com modelos tridimensionais. Após diversas anotações no próprio modelo e as necessárias melhorias, procede-se à construção das peças à escala real e posteriormente à sua colocação em determinado local.27 Quando questionado sobre se o espaço é o que melhor compreende, o escultor responde prontamente que sim.

I think so, yes. For sure. It always has. It’s always been what I am most curious about. Curious about and understand most. I think if you’re curious it leads to understanding. I mean, the way I had a meeting with curves was when I looked at one and thought "... oh, here's a great concavity" (...) I took a walk by the edge and thought "here's a convexity". And that caught my attention because I realized that I knew nothing about it, and precisely the things that I least understand are the things that I am more inquisitive about, and space is one of them. The simple organization of space: mapping of circulation, how your body feels, your relation with space, how you feel in an open space, how you felt in the lobby of the same building. (Serra 2011)28

27 KENNEDY, R 2007, NY Times; Sculpture (and nerves) of steel, [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.nytimes.com/2007/05/20/arts/design/20kenn.html?ex=1337400000&en=65829b650e00a845 &ei=5124&partner=permalink&exprod=permalink>.

28 ROSE, C 2011, entrevista a Richard Serra, [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.youtube.com/watch?v=92haKUsVHBQ>.

TL: “Acho que sim. Com certeza. Sempre foi. Sempre foi o que me despertou mais curiosidade. Curiosidade, e melhor compreensão. Eu acho que se se é curioso isso leva ao entendimento. Quer dizer, a maneira como eu tive um encontro com curvas foi quando olhei para uma linha e pensei "...oh, aqui está uma grande concavidade", (...) Dei um passeio pelo limite e pensei "aqui está uma convexidade". E isso chamou-me à atenção porque percebi que nada sabia acerca disso, e precisamente as coisas que eu menos compreendo são as coisas em que sou mais inquisitivo, e o espaço é um deles. A simples organização de espaço: mapeamento de circulação, como se sente o corpo, a sua relação com o espaço, como se sente num espaço aberto, como se sentiu no lobby deste mesmo edifício.”

(36)

FIG. 08. Frame de um modelo tridimensional com 30cm de altura.

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=GAQ9KyxDYUY [23/01/2012].

Durante a adolescência, ainda em São Francisco, o estaleiro onde o seu pai trabalhava na montagem de tubos e o seu próprio emprego numa siderugia para se sustentar viriam a revelar-se uma enorme influência no seu trabalho com o tratamento do aço.

Quando hoje se fala em Richard Serra, o material que se lhe associa de imediato é o aço cor-ten (ou patinável), com um tom avermelhado que é não mais que uma camada de óxido que se forma aquando da sua exposição aos agentes corrosivos da atmosfera. Por este motivo, este aço dispensa qualquer tipo de pintura ou acabamento. Com excelente capacidade de resistência e propriedades muito particulares, Serra tem vindo a fazer construções quase exclusivamente com este material.

(37)

FIG. 09. Aço cor-ten.

Fonte: http://www.amazingtextures.com/texture/ [23/01/2012].

I never begin to construct with a specific intention. I don't work from a priori ideas and theoretical propositions. The structures are the result of experimentation and invention. In every search there is always a degree of unforeseeability, a sort of troubling feeling, a wonder after the work is complete, after the conclusion. The part of the work that surprises me invariably leads to new works. Call it a glimpse; often this glimpse occurs because of an obscurity which arises from a precise resolution. (Serra 2006)29

Uma das características mais evidentes da obra de Richard Serra é a relação que esta mantém com o espectador. Tratando-se de obras com uma grande escala, permitem não só ser visualizadas, como habitadas e percorridas no seu interior. Ao aproximar-se da obra, é permitido ao observador entrar e seguir o percurso delineado pelo escultor, procurando o momento final, onde o espera o

29 GALENSON, D 2006, Artistic Capital, Taylor & Francis, p.136. /

TL: “Eu nunca começo a construir com uma intenção específica. Não trabalho a partir de ideias a priori

e proposições teóricas. As estruturas são o resultado de experimentação e da invenção. Em todas as pesquisas, há sempre um grau de imprevisibilidade, uma espécie de sentimento perturbador, uma maravilha depois do trabalho estar completo, após a conclusão. A parte do trabalho que me surpreende, invariavelmente, leva a novas obras. Chame-lhe um vislumbre, muitas vezes essa visão ocorre por causa de uma obscuridade que surge a partir de uma resolução precisa.”

(38)

ponto mais central e interior da escultura, ou mesmo o seu termo. São descritas pelos visitantes diversas sensações durante o trajecto, tão díspares como ansiedade, tonturas, surpresa e finalmente, alívio.

I don't draw image, I draw space. Sculpture is not flat. If it's really good, you have to move to understand. It is three-dimensional, not flat like a painting. It is fundamentally different. You have to move and see how it moves. You become the subject of the experience when you’re experiencing it. (Serra 2011)30

FIG. 10. Interior de Serpentine, 1993.

Fonte: http://thechocolatechipwaffle.blogspot.pt/search/label/Richard%20Serra [23/01/2012].

30 ROSE, C 2011, entrevista a Richard Serra, [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.youtube.com/watch?v=92haKUsVHBQ>.

TL: “Eu não desenho imagem, eu desenho espaço. A escultura não é plana. Se for realmente boa, tem de se mover para a entender. É tridimensional, e não plana como uma pintura. É fundamentalmente diferente. Tem de se mover e ver como ela se move. Você torna-se o interesse da experiência quando a está a experimentar.”

(39)

Independentemente do tipo de trabalho, a obsessão com os detalhes é uma característica de Richard Serra: “Se vais observar o processo, observa-o no seu todo”31

Para situar cronologicamente a sua obra, divide-se o trabalho de Serra em três fases; A fase processual, onde trabalhou a experimentação e os processos, sendo a sua fase mais próxima da Process Art, a fase bidimensional, onde explora através de desenhos de grande escala as proporções cromáticas e de espacialidade e, finalmente, a fase estrutural na qual constrói gigantescas peças em aço cor-ten na qual se enaltece a relação de proximidade com o observador.

1967 / Inicia os trabalhos mais processuais, com recurso a vários materiais.

FIG. 11. White Neon Belt Piece, 1967. Borracha vulcanizada, tubagens em néon, cabo, clips

em metal, e transformador.

Fonte: http://www.davidzwirner.com/exhibition/richard-serra-early-work-6/?work=grid [23/01/2012].

31 KENNEDY, R 2007, NY Times: Sculpture (and nerves) of steel, [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.nytimes.com/2007/05/20/arts/design/20kenn.html?pagewanted=all&_r=0>. / TL de: “If you’re going to watch the process, watch it all the time”.

(40)

FIG. 12. Untitled,1967. Borracha.

Fonte: http://www.davidzwirner.com/exhibition/richard-serra-early-work-6/?work=grid [23/01/2012].

FIG. 13. Richard Serra no seu estúdio, Nova Iorque, 1968.

(41)

1968 / Produz vários filmes e continua o trabalho experimental.

FIG. 14. Hands Tied, 1968.

Fonte: http://trivialdevotion.blogspot.pt/2012/10/bound-to-suffer-acts-2110-11.html [23/01/2012].

FIG. 15. Splashed Lead, 1968.

(42)

FIG. 16. Double Roll, 1968.

Fonte: http://www.davidzwirner.com/exhibition/richard-serra-early-work-6/?work=grid [23/01/2012].

1971 / Desenvolve trabalhos em aço, numa escala menor.

FIG. 17. Three Cuts, 1971. Aço laminado em seis partes.

(43)

1977 / Pinta Taraval Beach, um dos seus muitos desenhos monocromáticos de grande escala que jogam com a espacialidade.

FIG. 18. Taraval Beach, 1977. Rolo de tinta em linho belga.

Fonte: http://menil.org/exhibitions/RichardSerraDrawinginRetrospect.php [23/01/2012].

1981 / A escultura Tilted Arc é instalada na Federal Plaza em NI, para mais tarde a ser removida em 1989.

FIG. 19. Tilted Arc, 1981.

(44)

1993 / Pinta Weight and Measure, continuando a sua tendência minimalista também no desenho.

FIG. 20. Weight and Measure, 1993.

(45)

1997 / ExpõeTorqued Ellipses no Dia Center for the Arts em NI.

FIG. 21. Montagem de Torqued Ellipse II, 1996. Aço inoxidável.

Fonte: http://historyofourworld.wordpress.com/2010/03/17/the-matter-of-time-richard-serra/ [23/01/2012].

2003 / É instalada The Matter of Time, a exposição permanente de oito peças – Torqued Spiral (Closed Open Closed Open Closed) (2003–04); Torqued Ellipse (2003–04); Double Torqued Ellipse (2003–04); Snake (1994–97); Torqued Spiral (Right Left) (2003–04); Torqued Spiral (Open Left Closed Right) (2003– 04); Between The Torus and The Sphere (2003–05) e Blind Spot Reversed (2003– 05) – no Guggenheim de Bilbau.

(46)

FIG. 22. + 23. Planta de The Matter of Time. +Modelo tridimensional de The Matter of Time.

Fonte: http://www.guggenheim-bilbao.es/en/useful-information/routes/ [23/01/2012].

Fonte: http://www.metropolismag.com/December-1969/The-Engineer-Supporting-Serra-rsquos-Sculptures/ [23/01/2012].

2007 / O MoMA em NI apresenta a exposição retrospectiva Richard Serra Sculpture: Forty Years.

FIG. 24. Frames da instalação dedas esculturas Torqued Elipse IV e Intersection com gruas no exterior do MoMA, 2007.

(47)

2008 / Promenade, um conjunto de esculturas de larga escala é instalado no Grand Palais em Paris.

FIG. 25. + 26. Promenade, 2008.

Fonte: http://www.samedirouge.net/photo/interpreter_la_partition%3Arichard_serra [23/01/2012]. Fonte: http://www.samedirouge.net/photo/interpreter_la_partition%3Arichard_serra [23/01/2012].

2011 / O MET de Nova Iorque organiza a primeira exposição retrospectiva de desenhos de Serra: Richard Serra Drawing: A Retrospective.

FIG. 27. Parte da exposição Richard Serra Drawing: A Retrospective, 1968.

(48)

Durante os seus primeiros anos em NI, Serra envolveu-se igualmente com a música e a dança. Reconhece a importância que os factores de espaço e equilíbrio têm na música e dança bem como nas suas obras. Colaborou em performances e instalações com a realizadora, dançarina e coreógrafa Yvonne Rainer (1934), o compositor americano Stephen Reich (1936), e a pioneira de vídeo e performance art Joan Jonas (1936).32

Talvez em homenagem às suas raízes musicais, Serra é inclusivamente mencionado na música “White Sky” da banda indie rock nova iorquina Vampire Weekend (2006), tem uma faixa dedicada a ele intitulada “Serra” no álbum Lime da banda de rock inglesa Mugstar (2003), e a sua arte foi destaque na capa do álbum Monoliths & Dimensions da banda metal americana Sunn O))) (1998).

(...) A modern piece of glasswork / Down on the corner that you walk each day in passing (...) The little stairway / A little piece of carpet / A pair of mirrors that are facing one another (...) Around the corner, the house that modern art built (...) And on the second floor, the Richard Serra skate park (...) Sit on the park wall / Ask all the right questions (...) Look up at the buildings / Imagine who might live there (...). (Vampire Weekend 2009)33

Para além das já mencionadas obras, Serra desenvolveu muitos outros trabalhos. Actualmente, em 2013, o artista está ligado a um projecto com Richard Koshalek, director do Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, provando que os seus 73 anos ainda lhe permitem trabalhar e pensar como fez toda a sua vida.

32 The Art Story, [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.theartstory.org/artist-serra-richard.htm>.

33 Parte da letra de White Sky (Letra/Música: Ezra Koenig, Rostam Batmanglij, Chris Tomson e Chris

Baio, 2009).

2:58min Álbum Contra, Vampire Weekend, [Acedido em 23/01/2012]. / <http://www.vampireweekend.com/lyrics.php>. /

TL: "(...) Uma peça moderna de vitrais / Na esquina onde anda todos os dias de passagem (...) Uma pequena escada / Um pequeno pedaço de tapete / Um par de espelhos que estão enfrentando uns aos outros (...) Ao virar da esquina, a casa que a arte moderna construiu (...) E no segundo andar, o

skatepark de Richard Serra (...) Sentar-se na parede parque / Fazer todas as perguntas certas (...) Olha para cima para os edifícios / Imaginar quem poderia viver lá (...)".

(49)

2

PROCESS ART

In Process Art, the means count for more than the ends. (Atkins 1990)34

A Process Art tem como principal objectivo evidenciar o processo de fazer arte em detrimento do seu resultado final. Centra-se na criatividade do autor enquanto cria a sua obra, e como tal, tem associados a si os conceitos de mudança e transição.

O processo tornou-se uma preocupação generalizada dos artistas no final dos anos 60 e 70. O seu maior interesse é mostrar ao observador a actividade do artista desde o início do trabalho até à sua conclusão, ou uma parte do mesmo. Para isso, são admitidas várias formas de o fazer, seja por meio de vídeo, instalação ou performance, pelo que o resultado desta arte pode não ser palpável. A elaboração destes acontecimentos implica uma intencionalidade e raciocínio que, por motivos alheios podem sofrer alterações.

FIG. 28. Lynda Benglis, pintura de chão com latex, Rhode Island, 1969.

Fonte: http://www.artnet.com/awc/lynda-benglis.html [23/01/2012].

34 MOCA, The Museum of Contemporary Arts, Los Angeles, Process Art, [Acedido em 13/11/2012]. /

<http://www.moca.org/pc/viewArtTerm.php?id=17>. TL de: "Na Process Art os meios contam mais do que os fins.”

(50)

FIG. 29. Untitled, 1967-68, Robert Morris.

Fonte: http://theslideprojector.com/art1/ranchocampus/art1rlecturepresentations/art1rlecture7.html [ 23/12/2012].

São vários os artistas contextualizados no âmbito da Process Art, nomeadamente Robert Morris (1931), Eva Hesse, Lynda Benglis (1941), Alan Saret (1944) e, claro, Richard Serra.

Para Serra, por exemplo, o derretimento do chumbo é o processo essencial para a criação das suas peças finais. Na obra Splashing, que data de 1968, Serra procede ao seu derretimento, tratando o material no seu estado líquido. O estado sólido com que o material se apresentará a posteriori não tem para o artista tanto interesse como a execução que o levou a tal. Assim, quando Serra atira várias camadas de chumbo conta uma parede é esse o acto isolado que é expectante, e não (apenas) o resultado disso.

Os artistas da Process Art usam geralmente nas suas obras materiais pouco ortodoxos como resíduos de corda e poeira. Esta preocupação e interesse peculiares com a matéria e suas propriedades recaem para a influência do anterior Expressionismo Abstracto e métodos não convencionais, como pingos e manchas.

(51)

Numa das obras de Robert Morris, o artista mostra grandes pedaços de feltro com longos cortes. Posteriormente, o artista pendurava-os num prego ou deitava-os no chão, permitindo que estes tomassem uma determinada posição ditada pela gravidade. Em 1968, o artista frisou noção de Anti-forma como uma base para elaborar obras de arte em termos de processo e de tempo em vez de ícones estáticos, que associou com a arte object-type. Morris evidenciou esta nova arte por meio de materiais não rígidos – iniciada por Claes Oldenburg (1929) – e a manipulação dos mesmos através dos “processos de gravidade, empilhamento e enforcamento.”35

FIG. 30. + 31. Richard Serra a espalhar chumbo fundido em paredes, 1968-69.

Fonte: https://blogs.commons.georgetown.edu/ajs299/2013/02/13/the-process-of-making/ [13/1/2012]. Fonte: http://www.theslideprojector.com/art1/art1twoday/art1lecture18.html [13/1/2012].

35 Guggenheim, Movements>Process art, [Acedido em 13/11/2012]. /

<http://www.guggenheim.org/new-york/collections/collection-online/show-full/movement/?search=Process%20art>.

(52)

FIG. 32. + 33. Untitled (14-Part Roller Drawings), 1973. Tinta sobre papel (8.38m x 12.45m).

Fonte: http://artinfo.com/ e http://mobiletest.moma.org/ [23/12/2012]. Fonte: http://artinfo.com/ e http://mobiletest.moma.org/ [23/12/2012].

Apesar de não ser tão fácil encontrar registos que o documentem visualmente, sabe-se que Serra incluiu o processo também no desenho, mesmo que de uma forma implícita. A série Untitled (14-part roller drawing), de 1973, exposta

(53)

no MET em Nova Iorque, e no San Francisco Museum Of Modern Art (Richard Serra Drawing: A Retrospective) é composta por 14 molduras que seguram 14 desenhos muito semelhantes. Serra reúne 14 grandes folhas de papel, um rolo de borracha e tinta preta usada em impressoras. O que faz é dividir as telas em duas partes, esquerda e direita. Na primeira folha, passa o rolo 14 vezes no lado esquerdo e nenhuma no lado direito. Na folha seguinte, 13 vezes do lado esquerdo e 1 vez no lado direito e assim sucessivamente até obter a simetria da primeira folha, 14 pinceladas à direita e nenhuma à esquerda. Este é um dos exemplos onde Serra não questionou o resultado, preocupando-se apenas com o processo.

Ao contrário do que acontece com o desenho tradicional de outros artistas, Serra explica que “não desenha imagem.”36 Ao contrário de linha, desenha forma. Por este motivo, quando se depara com os seus desenhos estes são facilmente confundíveis com pintura.

If the artist knows exactly what he is going to do and more importantly how it will be done and what it will become then there really is no use in doing it since there will be nothing new in it.(Stein 1931)37

Em suma, o que é retirável como raíz do conceito da Process Art é a possível visualização e sobretudo a compreensão do desenvolvimento de uma obra de arte por parte do observador. A obra Verb List – que será tratada posteriormente na dissertação – é outro grande exemplo do auge da Prossess Art pela mão de Serra.

36 ROSE, C 2011, entrevista a Richard Serra, [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.youtube.com/watch?v=92haKUsVHBQ>.

37 STEIN, G 1931, How To Write, s.p. /

TL: “Se o artista sabe exactamente o que vai fazer, e mais importante, como isso será feito e em que se tornará, então não há realmente nenhum propósito em fazê-lo já que não haverá nada de novo nisso.”

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3 PROJECTO

3.1 INTRODUÇÃO AO PROJECTO

No seguimento da cuidada pesquisa dos temas, chegou-se finalmente ao mote que impulsiona toda a dissertação. Para além do já mencionado exercício de recolha de bibliografia, apresentação e reflexão das duas temáticas, é frisável a tangente construção de uma colecção de design de moda. Esta deverá agrupar seis coordenados de vestuário feminino, propostos para a Primavera/Verão (SS) de 2014. O conceito assenta na obra de Richard Serra (1939), do mesmo modo que se evidencia a Process Art.

Após a referida verificação dos temas, ficaram consolidados os aspectos e características inerentes à obra de Serra. Sabe-se como a sua infância e vida académica influenciaram o seu trabalho e o contacto com certos materiais; observa-se a sua estética visual predominantemente minimalista e com atenção nos detalhes; identifica-se a sua preferência pelo monocromatismo e, principalmente, reconhece-se a articulação do seu pensamento aquando da elaboração das obras e o carácter processual que lhes confere. Por este motivo, fica igualmente definido o facto de estar ligado à Process Art. Deste movimento fica assente a importância do trabalho de produção, evidenciando-se o mesmo sobre o produto final.

Em relação a Richard Serra, são abordadas inspirações na área da pintura e da escultura, por meio de obras específicas devidamente seleccionadas: Verb List (1967-68), Pittsburgh (1985), No Mandatory Patriotism (1989), The American Flag is Not an Object of Worship (1989), Blank (1978), Union (2011), Two Corner Cut: High Low (2012), The Matter of Time (2005) e Equal-Parallel: Guernica-Bengasi (1986). Não se estende este documento à restante obra do artista.

Na Process Art é importante maioritariamente o pensamento de

bastidor. Como tem sido referido, a construção da colecção apoia-se nestes conceitos durante as várias partes do projecto, desde o desenvolvimento do scrapbook, passando pelos primeiros esquissos e definição de silhuetas, escolha cromática e de materiais, até à sua materialização física. Por outro lado, por opção

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da investigadora, e por se aproximar com a estética de Serra, foi abordado o cariz minimalista no desenho da colecção.

Inicia-se desta forma a fase projectual da dissertação, que tem termo no produto final, o qual reflectirá as teorias anteriormente abordadas.

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3.2 DESENVOLVIMENTO DO PROJECTO

Desde o início do projecto ficou assegurado que não se pretendia uma transposição visual óbvia das obras de Richard Serra para as peças da colecção. O que se pretendeu desde sempre foi reflectir algumas das suas obras por meio de processo. Este processo desvia-se e molda-se obviamente à própria autora da dissertação, já que é uma interpretação pessoal. É aqui que o projecto começa a ganhar forma e onde finalmente a teoria vai de encontro ao desenho.

FIG. 34. + 35. Betwixt the torus and the sphere, 2001. + Lead Piece, 1968.

Fonte: http://artpedia.tumblr.com/post/16196959017/richard-serra-betwixt-the-torus-and-the-sphere [23/01/2012]. Fonte: http://www.kunstmuseumsg.ch/pressebilderrolfricke/images/Richard%20Serra_Lead%20Piece_1968.jpg [23/01/2012].

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3.2.1

SCRAPBOOK

E

MOODBOARD

Paralelamente à recolha literária, foi mantido desde o início da investigação um scrapbook onde foram anotados em vários momentos registos que poderiam vir a ter interesse na fase projectual. O scrapbook é algo muito pessoal, pelo que muitas das notas contidas neles não serão compreendidas pelo público em geral. No entanto, para a investigadora foi um registo de ideias provenientes do desenvolvimento até à fase de projecto. Foi, na verdade, um processo. Das considerações retiradas da teoria, do scrapbook, e recolha de imagens, resulta um painel de inspiração – moodboard –, o qual já se foca mais precisamente nas cores, ambiência, materiais, formas e silhuetas que se aproximam da colecção final. Foi igualmente nesta fase que se desenvolveram os primeiros esquissos.

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FIG. 36. Excertos do scrapbook, 2012-13.

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FIG. 37. Moodboard, 2013.

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3.2.2 SELECÇÃO DE OBRAS

Tal como referido, da extensa obra de Richard Serra foram devidamente seleccionadas a pintura e escultura e dentro destas áreas, somente algumas obras. Esta foi uma escolha consciente e propositada por parte da investigadora. Na área da pintura, foram seleccionadas obras monocromáticas e de cariz geométrico: Verb List (1967-68), Blank (1978), Union (2011) e Two Corner Cut: High Low (2012), e o conjunto Pittsburgh (1985), No Mandatory Patriotism (1989), e The American Flag is Not an Object of Worship, (1989). Já na escultura, o projecto debruça-se maioritariamente sobre o colectivo The Matter of Time (2005) e numa fase pontual sobre Equal-Parallel: Guernica-Bengasi (1986).

De seguida apresenta-se o desenvolvimento de vários pontos do projecto sob influência das referidas obras.

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3.2.2.1 CROMATISMO, SILHUETAS, PROCESSOS E

ESQUISSOS

FIG. 38. Blank ,1978. Fonte: http://www.artpractical.com/review/richard_serra_drawing_Feinstein/ [23/01/2012]. FIG. 39. Union, 2011. Fonte: http://blogs.artinfo.com/modernartnotes/2012/03/the-modern-art-notes-podcast-richard-serra/ [23/01/2012].

FIG. 40. Two Corner Cut: High Low, 2012.

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As referidas obras em particular têm acoplada a si a relação com o espaço e com o observador. Em Blank (1978), por exemplo, dois painéis pretos são colocados igualmente frente a frente numa pequena galeria. Dominando as respectivas paredes, e posicionados nas mesmas não as preenchendo totalmente, as figuras pretas deixam-se emoldurar pelo espaço branco circundante, criando uma certa tensão na sala. As telas pretas absorvem a luz em vez de a reflectir, intensificando assim a massa preta, que cria volume e modifica toda a geometria do espaço em seu redor. No entanto, sem um espectador, a obra apenas seria parcialmente bem sucedida. Algo semelhante acontece em Union (2011). Esta pintura executada propositadamente para a sua exposição retrospectiva no MET em Nova Iorque, é uma das obras de Serra que comporta essa relação. A obra, composta por duas pinturas totalmente pretas colocadas frente a frente num propositado espaço imaculadamente branco, apresentam-se com grande escala, preenchendo a parede na sua totalidade, desde o chão até ao tecto e funcionam como um par. A obra é aparentemente simples. No entanto, quando habitada, toda a noção de espaço muda e este, que a priori era um canto de grandes dimensões, rapidamente assola o visitante que o invade parecendo-lhe imediatamente menor. A impressão de encolhimento acontece tanto para quem habita o espaço, tanto para o espectador exterior que observa o habitante a diminuir de tamanho. Já Two Corner Cut: High Low (2012), que consiste igualmente em duas telas pretas colocadas frente a frente numa ala branca é outra das obras que assenta neste propósito. É o seu posicionamento que a torna uma obra especial e de interessante vivência. A cada um dos rectângulos foi retirado um canto, um no canto superior esquerdo da galeria (high) e outro no canto inferior direito (low). O que acontece é que o piso parece desta forma inclinado a quem o habita. Ao se entrar na galeria, o chão parece estar a subir. Já fazendo o caminho oposto em direcção à saída, a ilusão é contrária, parecendo que o piso está a descer.

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Now you’re contained in a space that’s different than the space of the room, and it becomes the space of the drawing. (Serra 2011)1

São estas premissas de Blank (1978), Union (2011) e Two Corner Cut: High Low (2012) que foram transpostas para o projecto, nomeadamente na escolha e disposição cromáticas. Como parte integrante de qualquer colecção, esta escolha é essencial, podendo inclusivamente mudar o modo como se lê e compreende uma peça de vestuário. Pela inspiração resultante do moodboard, aliado ao interesse pessoal enquanto autora, conclui-se que o esquema cromático se cinge ao preto, branco e ao print, que terá as mesmas cores. A colecção apresenta-se então entre coordenados em preto e branco totais e igualmente cruzados. Quer-se que o pensamento processual assuma aqui um lugar – tal como nas referidas obras – onde dependendo das peças e suas cores o espectador admita a diferente leitura que é resultante de um look total preto ou de um look preto com uma quebra em branco, ou mesmo de um total look branco. Pretende-se assim criar diferentes volumes e sensações visuais aquando do uso localizado do preto e do branco.

1 ROSE, C 2011, entrevista a Richard Serra, [Acedido em 23/1/2012]. /

<http://www.youtube.com/watch?v=92haKUsVHBQ>. /

TL: “Agora está contido num espaço que é diferente do espaço da sala, e torna-se o espaço do desenho.”

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FIG. 41. Pittsburgh, 1985.

Fonte: http://www.wikipaintings.org/en/richard-serra/pittsburgh-1985 [23/01/2012].

FIG. 42. No Mandatory Patriotism, 1989.

Fonte: http://exploringvenustas.wordpress.com/tag/richard-serra/ [23/01/2012].

FIG. 43. The American Flag is Not an object of Worship,1989.

Fonte: http://greg.org/archive/2011/05/16/richard_serra_was_not_pleased_with_the_us_government.html [23/01/2012].

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Relativamente às silhuetas da colecção, estas querem-se impreterivelmente desprendidas do corpo. Tendo em conta o pensamento serriano e da Process Art, o papel do espectador é relevante, pretendendo-se que a obra o contorne e o vista. Apesar de se tratar de uma colecção feminina, as proporções querem-se largas, tal como dita a escala de Serra. Abordam-se silhuetas simples e incisivas, que formam um conjunto entre si, tal como acontece com Pittsburgh (1985), No Mandatory Patriotism (1989), e The American Flag is Not an Object of Worship (1989). Para além deste facto, as pinturas tiveram igual influência no desenho de contorno e de silhuetas na colecção. As suas linhas precisas, rectas e superfícies lisas sem ornamento foram transpostas para os contornos das peças e pontualmente para alguns detalhes. É pois, entre os ditames da Process Art e o conjunto das três pinturas que se obtêm as formas gerais da colecção.

FIG. 44. Verb List, 1967-68.

Imagem

FIG. 02.  One Ton Prop (House of Cards).
FIG. 03.  Stacked Steel Slabs, Skullcracker Series , 1969.
FIG. 04.  Gutter Splash Two Corner Cast , 1992.
FIG. 06.  Frames  de  Hand Catching Lead , 1968.
+7

Referências

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