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GÊNERO E PRODUÇÃO ACADÊMICA: UMA ANÁLISE DOS ARTIGOS PUBLICADOS EM REVISTAS BRASILEIRAS

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GÊNERO E PRODUÇÃO ACADÊMICA: UMA ANÁLISE DOS

ARTIGOS PUBLICADOS EM REVISTAS BRASILEIRAS

Autor (a) Marcia Rangel Candido, UFRJ – CNPq marciarangelcandido@gmail.com

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GÊNERO E PRODUÇÃO ACADÊMICA: UMA ANÁLISE DOS ARTIGOS PUBLICADOS EM REVISTAS BRASILEIRAS

Autor (a) Marcia Rangel Candido, UFRJ – CNPq

RESUMO: Estudos sobre gênero e produção científica são comuns em determinadas áreas acadêmicas. No caso da Ciência Política, a despeito da notoriedade que a análise da produção na disciplina vem conquistando, aspectos ligados ao perfil de quem publica ainda permanecem fora das abordagens, sobretudo no que diz respeito ao gênero. Levando em conta as desigualdades ainda presentes em vários campos do mercado de trabalho, o presente estudo busca evidenciar como é a distribuição da produção entre os gêneros na Ciência Política Brasileira. Para tal, além de aspectos que apreendem a questão da produtividade, também serão delimitados os principais temas e metodologias presentes, buscando evidenciar possíveis diferenças ou congruências nas abordagens.

PALAVRAS-CHAVE: Gênero; Ciência Política Brasileira; Produção Acadêmica.

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INTRODUÇÃO

O mercado de trabalho vem apresentando um aumento substantivo em relação à inclusão das mulheres em diferentes áreas. Além da conquista de espaço em áreas que não eram usuais, as mulheres chegaram ao patamar de mais escolarizadas que os homens e passaram a construir novas funções sociais, com o notório aumento de famílias chefiadas por mulheres. A despeito deste contexto de avanços, ainda há predominância do gênero feminino em atividades precárias. A desigualdade de gênero ainda se encontra pulsante, evidenciada principalmente pelas diferenças acerca dos salários concedidos à execução das mesmas funções e pela própria divisão do trabalho doméstico, que ainda manifestam preconceitos e impõem jornadas duplas pesadas ao gênero feminino (Bruschini et al, 2008).

Partindo desse pequeno panorama a relevância do presente trabalho consiste em explorar uma área ainda pouco abordada sobre a ótica das desigualdades de gênero. A análise da produção científica é uma importante área de conhecimento, que vem ganhando espaço nas mais diversas disciplinas acadêmicas. No entanto, a despeito de quase cinco décadas de institucionalização acadêmica, a Ciência Política brasileira ainda conta com poucos trabalhos que buscam dimensionar a sua produção. Se levarmos em consideração o perfil das/os pesquisadoras/es, sobretudo no que diz respeito ao gênero, fica ainda mais notável a ausência. Mesmo que de forma incipiente, a intenção deste trabalho é contribuir para preencher essa lacuna, ao avaliar a produção das/os cientistas políticas/os brasileiras/os, com ênfase no gênero das/os autoras/es e nas características da produção de homens e mulheres.

SOBRE GÊNERO E CIÊNCIA

A presença da mulher na ciência não é um tema de estudo recente. Há muitas décadas são realizadas pesquisas que contribuíram com importantes achados. O que a bibliografia sobre o tema indica é que a ainda minoritária presença da mulher na ciência não pode ser vista de forma estanque, uma vez que ela varia de acordo com o tempo e o contexto, bem como com a área disciplinar. Essa presença ainda pode variar dentro de cada disciplina, uma vez que pode haver concentração feminina ou masculina em alguns temas específicos de cada área (Rossiter, 1997).

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Uma importante maneira de dimensionar a presença das mulheres na ciência é avaliar a produção acadêmica. No Brasil, pesquisas têm sido realizadas com o intuito de analisar a relação entre gênero e ciência. O que os resultados mostram é que as mulheres estão concentradas em algumas áreas disciplinares, como saúde, psicologia e educação, ao passo que os homens estão concentrados nas ciências exatas e nas engenharias (Melo e Oliveira, 2006). Outros estudos apontam que em determinadas áreas, não existe diferença significativa na produção de homens e mulheres, sobretudo no que diz respeito ao fator de impacto e da cooperação com pesquisadores de outros países (Leta e Lewison, 2003).

Além disso, o fato de uma presença equitativa de homens e mulheres em determinadas áreas existir, não exclui a consideração de outros aspectos problemáticos, que dizem respeito à forma como a trajetória de construção da entrada no mercado é dada. Mesmo que as mulheres encontrem presença equitativa em determinadas áreas, a sua forma de ascensão na carreira é mais lenta. Sobre tal contexto, pode-se ter como exemplo as ciências biológicas. (Costa e Osada, 2006).

A necessidade de considerar cada área em seus contextos é de extrema importância para entender as particularidades que cada uma assume. Ao se estudar as desigualdades de gênero, são muitas as variáveis que podem ser observadas e que podem ter influências diferentes em virtude das áreas. Do ponto de vista geral, o relatório da OIT de 2012, baseado em dados da PNAD,evidencia que as mulheres trabalham cerca de 20 horas a mais que os homens por mês e que 90,7% delas possuem jornada dupla, em comparação a 49,7% dos homens. Sobre o tempo dedicado as atividades domésticas, a mulher gasta em média cerca de 22 horas por semana, enquanto o homem gasta 9,5 horas. Já no trabalho são gastas em média, respectivamente, 36 horas e 43,4 horas, por semana.

E quanto às ciências sociais, o que pode ser dito? Como ainda são poucos os trabalhos que se dedicam a estudar a relação entre gênero e produção acadêmica na área, os dados existentes ainda são escassos. O que algumas pesquisas mostram é que as mulheres são maioria nos cursos de graduação e pós-graduação nas três disciplinas que

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compõem o campo. Numa pesquisa feita com estudantes das principais instituições de ensino superior da área, Vianna et al (1998) mostram que as mulheres compunham 50,7% dos discentes matriculados em cursos de doutorado em ciências sociais. Embora os dados sejam de uma pesquisa que não é recente, resultados de pesquisas que avaliam o ensino superior no Brasil mostram que a participação feminina nesse nível de ensino já ultrapassou a participação masculina, sobretudo nas disciplinas que compõem as Ciências Humanas. Segundo dados do IBGE, no ano de 2006 as mulheres correspondiam a 57,5% dos alunos matriculados no ensino superior. Além disso, dados do INEP mostram que, nos últimos treze anos, o número de mulheres matriculadas no ensino superior teve um incremento de 22%, em comparação com o número de homens matriculados (Borges, Durães e Ide, 2010). No entanto, a presença das mulheres como autoras dos artigos publicados nas principais revistas da área ainda é minoritária. Entre os artigos de sociologia e ciência política publicados entre os anos de 1997 e 2009, nas revistas Dados e RBCs [as duas mais importantes revistas do campo], apenas 25% apresentavam mulheres como autoras principais (Oliveira, 2010).

Tendo em vista esse quadro de expansão feminina na educação superior, a baixa presença de mulheres na produção acadêmica torna-se uma questão premente para os estudos sobre ciência. Embora sem pretensões explicativas, a intenção deste trabalho é contribuir para essa agenda de estudos, buscando dimensionar a produção acadêmica em ciência politica, com ênfase no gênero das/os autoras/es e nas características dos trabalhos por elas/es realizados.

OBJETIVO E DESENHO DE PESQUISA

Como mencionado, o objetivo deste trabalho é analisar a produção da ciência política brasileira, com ênfase no gênero das/os autoras/es e nas características da sua produção. A pesquisa é guiada por uma série de questões, entre elas: como a produção da ciência política brasileira está distribuída entre os gêneros? Existe associação entre os temas dos trabalhos e o gênero das/os autoras/es? O tipo de pesquisa e a orientação metodológica estão relacionados ao gênero das/os pesquisadoras/es?

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Para responder a estas questões, nesta primeira fase foram selecionados para análise os artigos publicados em três das principais revistas de ciências sociais do país [BPSR; RBCS – Revista Brasileira de Ciências Sociais e Opinião Pública], entre os anos de 1986 e 2013. Até o presente momento foram analisados 359 artigos. Quanto à produção acadêmica, é sabido que os cientistas políticos escolhem diversos meios para divulgação dos seus trabalhos: livros individuais e coletâneas, dissertações, artigos científicos, teses, relatórios e artigos na imprensa. Por isso, a análise exclusiva dos artigos está longe de esgotar toda a produção da disciplina. No entanto, os artigos acadêmicos tornaram-se uma importante ferramenta de divulgação científica, alcançando pesquisadores em diversas regiões, tanto nacionais, como internacionais, sobretudo aqueles trabalhos que estão disponíveis em plataformas na internet.

O banco de dados faz parte de uma pesquisa mais ampla, dedicada a estudar a produção da ciência política no Brasil, e que conta com financiamento do CNPq. A amostragem dos artigos obedeceu a alguns critérios. Como a intenção é analisar a produção em ciência política, somente entraram na análise aqueles autores que se identificavam como cientistas políticos ou professores de departamentos de ciência política ou de relações internacionais. Outro critério diz respeito à filiação dos autores, ou seja, eles devem ser brasileiros trabalhando em instituições nacionais ou estrangeiras e no caso de autores com outras nacionalidades, é preciso que estejam vinculados em instituições brasileiras para que sejam incluídos no banco. Somado a isso, também houve preocupação em relação ao tipo de trabalho publicado: só foram considerados artigos que reportassem resultados de pesquisas, sendo desconsiderados resenhas, obituários e transcrições de conferências.

Após definidos quais artigos entram na análise, eles são classificados seguindo as informações contidas no corpo do texto, ou senão, em fontes externas ao texto. A classificação segue as seguintes variáveis: ano (ano da publicação); revista; título do artigo; número de autores; nome do(s) autor(es); gênero do(s) autor(es); disciplina do(s) autor(es); filiação do(s) autor(es); status do(s) autor(es) na instituição; instituição do(s) autor(es); estado ou país da instituição do(s) autor(es); tema principal; tipo de pesquisa (orientação teórica; orientação empírica quantitativa e orientação empírica não

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quantitativa); tipo de pesquisa com orientação teórica (autor brasileiro; autor estrangeiro; conceitos, correntes e escolas de pensamento; tipo de pesquisa empírica quantitativa (estatística descritiva, análise multivariada, técnicas de regressão; teoria dos jogos e modelos formais); tipo de pesquisa empírica não quantitativa (análise comparativa e estudo de caso; tipologia; análise de discurso; análise descritiva). Depois da classificação dos artigos, a análise considera, em primeiro lugar, a produção de cada gênero em particular e, posteriormente, realiza uma comparação entre a produção de mulheres e homens.

RESULTADOS

Até o presente momento foram analisados 359 artigos nas três principais revistas de ciências sociais do país [BPSR; RBCS – Revista Brasileira de Ciências Sociais e Opinião Pública]. A despeito dos enfoques diferentes dados por cada uma destas revistas, o presente artigo procurará agrupar os resultados a fim de prover uma visão mais geral sobre a produção acadêmica por gênero na ciência política. Dos 359 artigos analisados, 325 possuíam a presença do gênero masculino como primeiro autor ou como co-autor, enquanto 183 possuíam autoras ou co-autoras do gênero feminino. A desigualdade na produtividade já se encontra aí ressaltada.

As análises dadas a seguir serão estabelecidas por meio da proporção em cada grupo, tendo em vista que a análise comparativa direta dos dois geraria uma discrepância por conta da enorme diferença de homens e mulheres publicando. Os resultados que serão apresentados dizem respeito ao tema, a orientação metodológica e a trajetória da produção feminina na ciência política.

O principal resultado preliminar encontrado pelo presente trabalho foi à constatação de que não existem diferenças muito fortes em relação à escolha proporcional dos temas, como evidenciado no gráfico 1. Em relação aos temas principais de pesquisa abordados nos artigos, há congruência no que diz respeito aos dois mais recorrentes, sendo eles o Comportamento Político e as Instituições Políticas.

Cabe apenas uma pequena ressalva para dois temas que tiveram diferenças significativas em termos de proporção, sendo eles a Estrutura Social, que tem proporcionalmente mais mulheres do que homens e a Teoria e História do Pensamento

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Político, que obedece a ordem inversa. O tema com menor proporção entre homens e mulheres é o de Relações Internacionais.

Gráfico 1: Total de Autores por Gênero e Área Temática (%)

Partindo para a abordagem das orientações metodológicas, o gráfico 2 apresenta a porcentagem dos gêneros em relação ao tipo de pesquisa. Entre os artigos com orientação empírica quantitativa, as mulheres têm uma presença um pouco maior, ao passo que nos artigos com orientação teórica, são os homens que têm maior presença. Em relação à orientação empírica não quantitativa os gêneros tem uma recorrência proporcional semelhante. 0 5 10 15 20 25 30 Feminino Masculino

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Gráfico 2: Total de Autores por Gênero e Tipo de Pesquisa (%)

No que diz respeito à trajetória de produtividade feminina, o gráfico 3 evidencia algumas fortes oscilações, ao exemplo da alta produtividade no ano de 2004 e da queda no ano de 2005. Fora isso, a partir do ano de 2007 é notório o aumento da produtividade e a sua continuidade até o presente momento.

Gráfico 3: Gênero Feminino por Ano (%) 0 10 20 30 40 50 60 70 Orientação Empírica Quantitativa

Orientação Empírica Não Quantitativa Orientação Téorica 0 2 4 6 8 10 12

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CONCLUSÕES

A análise preliminar dos primeiros artigos classificados aponta para a reduzida produtividade feminina em relação à produtividade do gênero masculino. Embora o presente trabalho não tenha se proposto a dar explicações sobre as condicionantes que podem determinar este contexto, a sua relevância consiste em evidenciar a grande diferença ainda presente. Em um contexto de expansão da participação feminina em diversas áreas, buscar compreender o cenário em que se encontra a mulher dentro da Ciência Política é fundamental, principalmente levando em conta o desenvolvimento de trabalhos que procuram construir a história da disciplina. A partir do exame das orientações metodológicas e dos temas foi possível constatar que há certa congruência no que diz respeito aos caminhos e preferências entre os gêneros.

Este artigo buscou apresentar os resultados de uma pesquisa que está em processo inicial. Intenta-se não só conhecer a distribuição e a produção de uma maneira geral, como apresentado aqui, mas desenvolvê-la no sentido de encontrar possíveis causas das discrepâncias encontradas. O melhor dimensionamento da ainda reduzida presença da mulher na produção acadêmica da Ciência Política, em comparação aos homens, poderá ser encontrado com a continuidade na análise de mais revistas importantes da área, somado ao futuro exame de quantos artigos são efetivamente enviados para a publicação, mesmo que não cheguem a tal fim.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORGES, K. F. C., DURÃES, S. J. A e IDE, M. H. S. (2010), “Mulheres na Educação Superior no Brasil: Estudo de Caso do Curso de Sistema de Informação da Universidade Estadual de Montes Claros (2003/2008)”. Trabalho Apresentado no 8º Congresso

Iberoamericano de Ciência, Tecnologia e Gênero, Curitiba, 5 a 9 de abril de 2010.

BRUSCHINI, Cristina. RICOLDI, Arlene e MERCADO, Cristiano. 2008. "Trabalho e gênero no Brasil até 2005: uma comparação regional." IN: Mercado de trabalho e gênero: comparações internacionais. Albertina de Oliveira Costa, Bila Sorj, Cristina Bruschini, Helena Hirata (orgs.) Rio de Janeiro: Editora FGV: 15-33

COSTA, M. C. e OSADA, N. M. (2006) “A Construção Social de Gênero na Biologia: Preconceitos e Obstáculos na Biologia Molecular” Cadernos Pagu, 27, 279-299.

LETA, J. e LEWISON, G. (2003) “The Contribution of Women in Brazilian Science: a Case Study in Astronomy, Immunology and Oceanography” Scientometrics, 57 (3), 339-353.

MELO, H. P. e OLIVEIRA, A. B. (2006) “A Produção Científica Brasileira no Feminino” Cadernos Pagu, 27, 301-331.

OLIVEIRA, L. P. C. (2010) “A Produção da Ciência Política e da Sociologia no Brasil: Uma Análise dos Artigos Publicados nas Revistas Dados e RBCS (1997-2009).” 111 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia). Instituto de Estudos Sociais e Políticos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

ROSSITER, M. (1997) “Which Science? Wich Women?” Osiris, 12, 169-195.

VIANNA, L. W., CARVALHO, M. A. R., CUNHA e MELO, M. P. e BURGOS, M. B. (1998), “Doutores e Teses em Ciências Sociais”, Dados, 41 (3), 453-516.

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