• Nenhum resultado encontrado

Dimensão humana da formação profissional: um olhar sobre os cursos de aperfeiçoamento de sargentos das armas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Dimensão humana da formação profissional: um olhar sobre os cursos de aperfeiçoamento de sargentos das armas"

Copied!
81
0
0

Texto

(1)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

DIMENSÃO HUMANA DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: UM OLHAR SOBRE OS CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS DAS ARMAS

KARINE DE OLIVEIRA LUNARDI

(2)

KARINE DE OLIVEIRA LUNARDI

DIMENSÃO HUMANA DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: UM OLHAR SOBRE OS CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS DAS ARMAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação nas Ciências – Mestrado – da Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação nas Ciências.

Orientadora: Profª. Drª. Lenir Basso Zanon

Ijuí 2017

(3)

L961d Lunardi, Karine de Oliveira.

Dimensão humana da formação profissional: um olhar sobre cursos de aperfeiçoamento de sargento das armas / Karine de Oliveira Lunardi. – Ijuí, 2017.

89 f.: il.; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Educação nas Ciências.

“Orientadora: Lenir Basso Zanon”.

1. Formação humana. 2. Trabalho. 3. Educação profissional. 4. Exército Brasileiro. 5. EASA. I. Zanon, Lenir Basso. II. Título.

CDU: 37.035

Catalogação na Publicação

Ginamara de Oliveira Lima CRB10/1204

(4)
(5)

Agradecimentos

A Profª Drª Lenir Basso Zanon, pela confiança, dedicação, atenção e orientação sempre segura e oportuna.

Aos professores e funcionários membros do Programa de Stricto Sensu em Educação nas Ciências – Mestrado – da Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUI, pela convivência, conhecimentos e estímulos.

À Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas – EASA, pela disponibilização de documentos relativos ao sistema de ensino militar e pela cedência de tempo de estudo para a realização deste trabalho.

A minha família pelo incentivo, compreensão e apoio. E, em especial, ao meu esposo, Jonas, que compartilhou comigo as angústias e alegrias decorrentes da realização deste trabalho.

A todos os amigos, colegas e professores que de alguma maneira contribuíram para que eu chegasse ao final de mais uma etapa significativa de minha vida.

(6)

"Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para que o melhor fosse feito. Não somos o que deveríamos ser, Não somos o que iremos ser, Mas, graças a Deus, Não somos o que éramos." Martin Luther King

(7)

RESUMO

Desde os tempos mais remotos da História, o homem ao estar no ambiente procura modificá-lo em função das suas necessidades por meio de um processo denominado por Saviani (2007), de trabalho. A conquista de territórios, a construção de materiais e métodos de defesa foram os primeiros esboços de um sistema, que atualmente conhecemos como Exército. Mais particularmente no Exército Brasileiro e dentro da sua hierarquia, a Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas (EASA), cenário deste estudo, é um estabelecimento de ensino militar que aperfeiçoa em média 700 sargentos por ano. Esse aperfeiçoamento ocorre dez anos após a sua formação inicial na Escola de Sargentos (ESA). Nesse contexto, a perspectiva humana é discutida nesta dissertação, com uma análise de aspectos formativos identificados em documentos que orientam tal capacitação profissional dos Sargentos das Armas. A metodologia de pesquisa foi norteada pela revisão bibliográfica, análise dos documentos (Projeto Institucional Pedagógico, Perfil Profissiográfico , Plano de Disciplinas), além de Projetos Interdisciplinares desenvolvidos pelos alunos. Esses documentos tratam de conhecimentos referentes à Instituição Exército Brasileiro e referentes à obtenção do título de sargento aperfeiçoado. A construção e análise dos dados abrangeu uma metodologia qualitativa de cunho interpretativo, em que o problema de pesquisa emergiu da vivência cotidiana da pesquisadora, visando (re) significar conhecimentos acerca de seu contexto de atuação profissional. Como resultado das análises dos dados conclui-se que a formação profissional contempla uma dimensão humana com necessidade de sempre avançar na perspectiva de superar a dualidade entre a dimensão básica e técnica no processo de profissionalização. Entende-se que a continuidade de pesquisas como essa e a divulgação de resultados contribui no avanço dos entendimentos sobre o desafio de articular teorias e práticas profissionais nos espaços formativos e por sua vez nos seus sujeitos constituintes, em relação de mútua reciprocidade.

(8)

ABSTRACT

Since the anciest time of History, the human being looks for modify the ambience according to his needys by a process called “Job” for Saviani (2007). The conquest of territories, the building of material and methods of defense were the first sketches of a system which nowadays we know as Army. More particulary, in the Brazilian Army and according to the hierarchy, the Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas (EASA), subject of this study, is a establishment of military education which works for the improvement of around 700 sergeants per year. This course of improvement takes place 10 years after the initial formation course at the Escola de Sargentos das Armas (ESA). In this context, the human perspective is discussed on this article, with an analysis of formative aspects identified in documents that guide this professional training of Combat Sergeants. The methodology of this research was guided for the literature review, documental analysis (Institutional Pedagogical Project, Profissiographic Profile, Discipline Plan), and interdisciplinary project developed for the students. These documents treat about knowledges about the Brazilian Army Institution and about the obtainment of the title of improved sergeant. The construction and analysis of datas comprised a qualitative and explanatory methodology whose problem of review emerged from the profesional procedure, aiming (re)signify knowledges about of its context of professional performance. As a result of the analysis of datas, there was a conclusion that the professional formation contemplates a human dimension with the needy of going ahead always on the perspective of facing the duality between the basical and technical dimension in process of professionalization. There is an understanding that the permanency of reviews like this one and the publishing of results contributes with the advance of the knowledges about the challenge of articulate theories and professional actions on the formative spaces and, in its turn on its constituent subjects, in regarding of reciprocity.

(9)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Base Legal da Doutrina Militar Terrestre ... 31 Figura 2 – Organograma da EASA ... 43

(10)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

EB Exército Brasileiro

DETMIL Diretoria de Educação Técnica e Militar

OM Organização Militar

EASA Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas

DAE Diretoria de Aperfeiçoamento e Especialização

SIPLEx Sistema de Planejamento do Exército

DMT Doutrina Militar Terrestre

EMD Estratégia Militar de Defesa

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

PI Projeto Interdisciplinar

PIP Projeto Institucional Pedagógico

PLADIS Plano de Disciplinas

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

Sgt Sargento

AMAN Academia Militar de Agulhas Negras

ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

(11)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

1 A HISTORICIDADE DO HOMEM FRENTE À FORMAÇÃO PROFISSIONAL

NO EXÉRCITO BRASILEIRO ... 17

1.1 O Homem, a Sociedade e as Armas ... 17

1.2 Aspectos Históricos e Contextuais do Exército Brasileiro ... 22

1.2.1 Arma de Infantaria ... 25

1.2.2 Arma de Cavalaria ... 26

1.2.3 Arma de Artilharia ... 26

1.2.4 Arma de Engenharia ... 27

1.2.5 Arma de Comunicações ... 27

1.3 Aspectos Históricos e Contextuais da Formação Profissional no Exército Brasileiro ... 28

1.4 Violência, Criminalidade e Cultura da Paz na Sociedade ... 35

2 CONTEXTO EMPÍRICO E CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA 40 2.1 Narrativa da Pesquisadora, em Busca de um Novo Alçar ...40

2.2 Descrição do Contexto Empírico da Pesquisa (EASA) ... 44

2.3 Organização Metodológica da Pesquisa ... 55

3 A DIMENSÃO HUMANA NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DA EASA ... 60

3.1 A Dimensão Humana da Formação Profissional sob o viés do Currículo dos Cursos da EASA ... 61 3.2 A Dimensão Humana da Formação Profissional sob o viés de um Projeto Interdisciplinar ... 71 3.3 Uma Visão Geral sobre a Formação Profissional no Contexto dos Projetos Interdisciplinares da EASA ... 75 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 81

(12)

INTRODUÇÃO

Se planejamos para um ano, devemos plantar cereais. Se planejamos para uma década, devemos plantar árvores. Se planejamos para toda a vida, devemos treinar e ensinar o Homem. Confúcio1

Desde o início da História o homem é um ser que evolui pelo pensamento reflexivo, a fim de tornar melhor o mundo que o rodeia. Percebe-se na citação de Confúcio que a única maneira de perpetuação de uma ação acontece por meio da operacionalidade da condição humana aliada ao conhecimento.

O ser humano está em constante transformação e esse fator humano é o produto pelo qual se busca transformar os objetos, disso decorre o que Marques (1993) trata da passagem do paradigma ontológico da razão. Com base na ordem objetiva do mundo, para o paradigma mentalista da razão enquanto subjetividade de uma consciência individual, não foi tão radical quanto o é a mudança de noção de conhecimento como relação sujeito-objeto, pela relação entre pessoas como atores sociais. O conhecimento entendido dessa forma é uma questão de prática social que nos situa numa comunidade, espaço lógico das razões. Essa é a grande mudança da atualidade, o conhecimento nasce do processo dialógico, tendo como referência básica o grupo e a linguagem.

Conhecimento e educação são dois aspectos que se articulam entre si e não existem um sem o outro. A atualidade busca situar o conhecimento num novo paradigma capaz de estabelecer novas relações sociais, em que todos de um grupo possam se expressar numa perspectiva solidária, que acenam para a reconstrução da racionalidade e da organização social, nessa direção. A partir dessa visão constitui-se uma nova esperança na aposta por uma pedagogia mais humanizada do ser humano, em seus permanentes processos de formação pessoal/profissional.

O cenário educacional é permeado por inúmeras desigualdades. Em cada região do nosso Brasil, a especificidade de cada território desvela grandes surpresas, sejam elas derivadas do modo de vida das pessoas, da sua cultura, da educação formal e informal com suas normas, diretrizes e padrões diversificados. Entre as inúmeras instituições sociais, as Organizações Militares (OM), também ocupam diversos espaços em nossas cidades, estados e no País.

1

(13)

Os objetivos atribuídos às incipientes forças militares instituídas já no tempo colonial do Brasil correspondem à política da Coroa Portuguesa, ou seja, o objetivo primordial era efetuar a colonização em nome de Portugal e manter a defesa da costa litorânea.

As Forças Armadas Brasileiras compostas pela Marinha e pelo Exército têm suas origens ainda nas tropas lusitanas. A Aeronáutica é a mais moderna. Portanto, estudar as Forças Armadas, mais especificamente o Exército, é uma forma de resgatar a formação do próprio Estado Brasileiro.

Atualmente as Forças Armadas Brasileiras desempenham o importante papel social de assegurar a defesa do território nacional e de segurança dos cidadãos brasileiros. O cumprimento dessa função social não pode ser visto como algo simples nem fácil de ser empreendido, ainda mais, na contemporaneidade, considerando-se a complexidade e dinamicidade dos fatos que vem se mostrando adversos a perspectiva da humanização das pessoas e de suas instituições sociais, suas relações entre si no ambiente.

Promover a cultura da segurança e da paz significa promover a humanização das pessoas e das suas instituições sociais o que tem em sua centralidade, a educação, em todos os níveis e instâncias da sociedade.

No contexto do Exército, desde suas origens, o direito à educação era uma premissa fundamental, um elemento indispensável para o ser humano, e, por isso, o governo esforçava-se para garantir o princípio de equidade ou igualdade de oportunidades de acesso à educação formal. Nesse sentido, constata-se que ao longo da nossa história desenvolveu-se, progressivamente, uma estrutura escolar militar capaz de formar quase a totalidade dos homens de farda por meio de organizações escolares que primam pelas características profissionais de centralização, hierarquia e disciplina.

O Exército Brasileiro teve importante contribuição a respeito do direito à educação, promovendo a formação dos seus militares nas mais diversas áreas profissionais, com o intuito de especializar um povo que vivia no País sem condições de frequentar escolas e até mesmo cursos superiores. A partir desta constatação, podemos dizer que:

Reconstruir a educação que responda às exigências dos tempos atuais não significa o abandono do passado, o esquecimento da tradição, mas uma releitura dela à luz do presente que temos e do futuro que queremos. Requer a dialética da história que se superem os caminhos andados, mas refazendo-os. (MARQUES, 1993, p.104).

Isso supõe que se avance no modo de ver a educação e passe a considerá-la em toda a sua totalidade, isto é, a realização da pessoa que na sua plenitude aprende a ser e a viver criticamente.

(14)

Cabe destacar que, o ensino é uma preocupação constante no Exército Brasileiro. Organizado e embasado na sua lei maior, a Lei do Ensino no Exército nº 9.786/99, a qual no seu capítulo II dos Princípios e Objetivos, destaca a profissionalização continuada e progressiva, "no pluralismo pedagógico, na avaliação integral, contínua e cumulativa" bem como no "aperfeiçoamento constante dos padrões éticos, morais, culturais e de eficiência."

A partir dessa legislação, várias documentações emergem com o objetivo de permitir à Força2, uma transformação nos aspectos profissionais, humanos, logísticos e bélicos para assegurar

uma defesa da Pátria cada vez mais condizente com o contexto mundial e local. De acordo com Marques (1988), o conhecimento é algo que só existe nos sujeitos que conhecem sobre algo, sendo a educação o processo histórico mediador. O que está em construção é uma compreensão que visa romper com a forma tradicional e linear de como se dá o conhecimento. E o trabalho educativo tem a intenção de contribuir para uma compreensão da realidade, pois a finalidade do conhecimento é transformar o pensamento crítico de seus cidadãos e, por sua vez, destes modificarem a sociedade. A Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas – EASA, cenário desta pesquisa, foi criada em 10 de julho de 1992, com o nome de Centro de Instrução de Aperfeiçoamento de Sargentos – Sul, subordinada ao Comando Militar do Sul, no aquartelamento do 17º Batalhão de Infantaria. Iniciando as atividades em 1º de fevereiro de 1993. Tem a missão de aperfeiçoar os Sargentos das Armas do Exército Brasileiro, para isso, ministra o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas (CAS) de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações, propiciando uma educação integral, que vise o desenvolvimento cognitivo aliado ao afetivo, possibilitando um espaço que o aluno possa vivenciar a liderança por meio do exemplo e do desenvolvimento de atributos da área afetiva como camaradagem, liderança, dinamismo, decisão, responsabilidade, flexibilidade entre outros.

Atualmente, face às novas transformações do processo educacional emerge a necessidade de um viés pedagógico que possibilite uma melhoria na produção de conhecimentos, a partir de informações intercambiadas com a necessidade prática da vida profissional, ou seja, para o emprego de suas ações na Força.

Corroborando com isso, a educação necessária, atualmente é a que busque as aprendizagens exigidas pelas novas formas de trabalho, de cultura e de cidadania. Isso significa uma educação que vise ao desenvolvimento total do homem capaz de ampliar sua capacidade de trabalho, produzindo suas necessidades básicas de vida, com dignidade humana. Assim, o objetivo dessa dissertação foi de identificar que aspectos formativos da dimensão humana estão presentes em documentos 2 A Instituição Exército Brasileiro é referida como "Força" ao longo desta dissertação.

(15)

referentes à formação profissional dos Sargentos das Armas, na EASA.

A pesquisa se realiza, nesse contexto, como forma de pesquisa qualitativa (Minayo, 2007) em que se inicia com a interrogação: quais aspectos formativos humanos estão presentes na formação profissional nos cursos da EASA? Na condição de pesquisadora, observo, descrevo e busco informações sobre a realidade a partir do relato apresentado no trabalho, como uma forma de constituição de um ser humano que atua e modifica o ambiente pela sua observação e atuação e da análise de alguns documentos internos da escola, sendo eles: o Projeto Institucional Pedagógico (PIP), o Perfil Profissiográfico do Concludente do CAS, e o Plano de Disciplinas (PLADIS). É importante destacar que estes documentos foram escolhidos por serem sinônimos e fundamentais no marco teórico e curricular da EASA.

Na interlocução da dimensão humana e técnica apresento os aspectos históricos da evolução do Projeto Interdisciplinar (PI), que são os trabalhos apresentados pelos sargentos alunos como requisito para a obtenção da titulação de Sargento Aperfeiçoado, onde a partir de uma tabulação nos anos de 2015 e 2016 subtende-se a necessidade de um olhar atencioso para uma nova formação mais humana.

Aliado a este procedimento metodológico está a pesquisa bibliográfica, onde as fontes da temática ratificam conceitos empíricos, juntamente com aspectos da pesquisa documental, que as fontes foram os documentos da legislação de ensino e projetos interdisciplinares da escola com objetivo de ser uma pesquisa com aspectos exploratórios, para a partir da familiaridade com o problema construir hipóteses de respostas frente à problemática.

Alguns autores de referência foram fundamentais na construção desta dissertação, como Saviani (2007), Marques (1990), Tardif (2014) e Libanêo (2012). A partir de leituras permeadas pelo contexto no qual estou envolvida e com o intuito de construir uma linha de raciocínio que contribuisse para elucidar o objeto do estudo, procurei estabelecer um percurso de trabalho investigativo focado no estudo da dimensão humana da formação profissional, entendida como interelação dinâmica entre múltiplos saberes, fazeres e pensares dialeticamente implicados entre si, seja no âmbito pessoal, seja no social, mais amplo.

No primeiro capítulo apresento a historicidade do homem, a noção do trabalho com o constitutivo do humano e a relação com a criação das armas como meio de defesa pessoal e territorial. Os aspectos históricos e profissionais do Exército Brasileiro emergem como organização dos homens e do Estado, para que o Brasil, como nação esteja protegida e apta a se defender das ameaças externas que por ventura possam aparecer na questão do contexto mundial, finalizando a

(16)

violência e a cultura da paz na sociedade são fatores opostos, mas unitários, que refletem como a formação profissional deve pensar para termos uma sociedade mais fraterna e justa.

No segundo capítulo, apresento relatos pessoais na condição de uma Pedagoga constituída ao longos dos anos e atualmente inserida no contexto militar que pensa, reflete, pesquisa e se desenvolve em consonância com a realidade profissional, buscando elencar alguns de seus momentos profissionais que foram e são voos rumo a uma profissão constituída em bases seguras e conscientes. O contexto empírico e os caminhos metodológicos da pesquisa são apresentados na sequência, como forma de situar os leitores na proposta da organização metodológica, com recursos distintos e complementares para, posteriormente, descrever o contexto empírico, a EASA como um Estabelecimentode ensino militar repleto de desafios e possibilidades.

No terceiro capítulo se insere a perspectiva da dimensão humana da formação profissional, sob a forma de uma análise documental sobre o currículo dos cursos da EASA. Os documentos selecinados são: o Projeto Institucional Pedagógico (PIP), o Perfil Profissiográfico do Concludente do CAS, e o Plano de Disciplinas (PLADIS) trazendo uma abordagem reflexiva na dimensão humana, juntamente com um exemplo dos projetos interdisciplinares, trabalho redigido pelos alunos como requisito a obtenção do título de sargento aperfeiçoado. A visão geral dos projetos interdisciplinares dos anos de 2015 e 2016 finalizam a seção como forma de contribuição para a resposta do problema da pesquisa.

Esta documentação foi cuidadosamente selecionada, pois aponta os conhecimentos inerentes à vida do militar, independente do contexto social e geográfico em que a sua vivência profissional os exige além de serem primordiais na construção da identidade curricular, teórica e pedagógica deste Estabelecimentode ensino.

Com este percurso aqui empreendido não pretendo chegar a uma análise exaustiva do ensino militar, tampouco chegar a conclusões absolutas devido à amplitude e complexidade do tema. Por isso, disponho-me a trazer à discussão determinados aspectos implicados nos processos de ensino e levantar algumas questões suscitadoras de uma problematização posterior. Assim sendo, saliento:

“a escola com que sonhamos é aquela de assegura a todos a formação cultural e cientifica para a vida pessoal, profissional e cidadã, possibilitando uma relação autônoma, crítica e construtiva com a cultura em suas várias manifestações: a cultura provida pela ciência, pela técnica, pela estética, pela ética, bem como pela cultura paralela (meios de comunicação de massa) e pela cultura cotidiana”. (LIBANÊO, 1998, p.47).

A ação educativa será eficiente se os sargentos aperfeiçoados estiverem dotados de um núcleo básico de conhecimentos que lhes permitam conhecerem e aplicarem os aspectos essenciais

(17)

de sua Arma contextualizado com aspectos humanos. A par destes conhecimentos, todo Corpo Permanente da EASA deverá trabalhar em prol do processo de constituir-se dos sargentos-alunos, a fim de incentivá-los a agirem com um elevado espírito militar, sentimento de coesão, senso de responsabilidade, compromisso para com a Instituição, adaptação aos mais diversos territórios e bom condicionamento físico, atributos indispensáveis para o prosseguimento na carreira das armas.

(18)

1 A HISTORICIDADE DO HOMEM FRENTE À FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO EXÉRCITO BRASILEIRO

O objetivo deste capítulo é perceber o homem como um ser que explora o ambiente, modificando-o, inicialmente instintivamente, após se organiza no espaço, transformando-o por meio do seu trabalho com utensílios que auxiliam para realização de tarefas, como a agricultura e pecuária.

Com a criação do Estado, as armas e instituições como o Exército tomam outra dimensão além da conquista de territórios e defesa pessoal, a discordância das classes sociais, política e até mesmo questões religiosas foram motivos para conflitos que envolvem países e, por sua vez, seus povos.

Os aspectos históricos e contextuais do Exército Brasileiro, da formação profissional estão presentes como forma de conceituar e centralizar a pesquisa para que possamos compreender o ser e suas habilidades implícitas nessa profissão tão particular.

Finalizando o capítulo, socializo reflexões sobre a questão da violência, da criminalidade e a busca da cultura da paz na sociedade. Esses temas são extremamente recorrentes aos dias de hoje, se fazem presente e refletem na formação profissional, uma vez que, numa sociedade competitiva a questão individual se sobrepõe ao aspecto totalitário, surgindo demandas educacionais para as escolas.

1.1 O Homem, a Sociedade e as Armas

O homem por essência é um ser social. As suas relações se dão desde a formação do embrião, no seu desenvolvimento no útero materno, até as inter-relações com outros indivíduos, com o mundo que o rodeia. Nascem os homens imersos num mundo não só de outros homens e das coisas ao redor, mas também de conhecimentos e relações com que se tecem as tramas e a lógica de uma cultura expressa em linguagem determinada. Nascem eles lançados na vida cotidiana, marcados pela simultaneidade de seres particulares e seres genéricos. A unidade e irrepetibilidade do ser humano o fazem único e irredutível aos demais, nas formas em que se defronta com o mundo social humano e nas capacidades que constrói de reagir de frente a ele e de com ele relacionar-se. De igual maneira, cada ser humano é genérico, já que produto e expressão de suas relações e de sua pertença à humanidade em suas manifestações próximas, concretas, tais as atualizadas numa dada cultura. Integrarem-se, assim, em reciprocidade, a consciência do “eu” e a do “nós”, numa espontânea e muda unidade vital.(MARQUES, 1990, p.14).

(19)

Nos tempos da sociedade Primitiva não havia documentos escritos sobre a sua vida, nem sobre o homem. Suas tradições e ensinamentos eram passados de forma oral, tudo o que se conhece a este período baseia-se nos objetos que foram encontrados ao longo da História pela Arqueologia.

Parte- se da premissa de que o homem é um ser que aprende e por isso constrói a sua experiência a partir das inúmeras possibilidades que lhe são apresentadas na vida cotidiana ao conviver em sociedade. O homem utiliza-se de conhecimentos para resolver problemas da sua sobrevivência, sentindo-se envolto pelas forças da natureza, pois segundo Saviani (2007), trabalho e educação são atividades especificamente humanas. Na medida em que o homem estabelece relação com a natureza, distingue- se dela como ser humano e percebe que pode dominá-la.

Ora, o ato de agir sobre a natureza transformando-a em função das necessidades humana é o que conhecemos com o nome de trabalho. Podemos, pois, dizer que a essência humana não é, então, dada ao homem; não é uma dádiva divina ou natural; não é algo que precede a existência do homem. Ao contrário, a essência humana é produzida pelos próprios homens. O que o homem é, é-o pelo trabalho. A essência do homem é um feito humano. É um trabalho que se desenvolve, se aprofunda e se complexifica ao longo do tempo: é um processo histórico. (SAVIANI, 2007, p.154).

Os períodos da História pelos quais retratam as diferentes maneiras de compreender os conhecimentos do mundo que nos rodeiam podem ser citados o medieval, onde o teocentrismo acreditava fazer tudo girar no sentido de Deus, a fé e salvação eterna, o mundo já estava descoberto e revelado. Conforme Marques (1993), o sagrado se incorporou à totalidade da vida para constituir num instrumento de salvação da alma, entender para crer e do crer para entender.

Já no período moderno, temos o antropocentrismo, o homem é o centro do mundo, ele define sua lei, autonomia, razão e felicidade terrena, a ciência se desenvolve e o mundo é um espaço a ser construído.

Com as conquistas teóricas e, depois, experimentais da nova Astronomia, desde Copérnico, Tycho Brahe e Kepler, a terra perdia sua posição de centro do cosmos, presa à esfera cristalina dos céus. Tempo e movimento inseriam-se nas estruturas do universo. À concepção de espaço como conjunto diferenciado de lugares, sucedia a geometrização do espaço como extensão homogênea e necessariamente finita. O movimento circular do mundo fechado em si mesmo era substituído pelo movimento linear de um universo aberto e potencialmente infinito, violentando as fronteiras do cosmos (Labastide: 200-10). O telescópio de Galileu Galilei abria acesso a um universo novo de proporções incalculáveis, pelos caminhos da experiência e das demonstrações lógico-matemáticas (Marques, 1988:62-3). (MARQUES, 1993, p. 42).

Esses períodos propiciam contribuições valiosas para nossa história, nos fazem perceber por meio dos registros históricos os processos de transformações do pensamento humano, o homem deixa de explorar meramente seu ambiente, mas toma para si reponsabilidades de gerir novas

(20)

ferramentas para decifrar o mundo a sua volta.

Ao pensar sobre o infinito de possibilidades do mundo, podemos nos remeter aos espaços constituintes, como as escolas. Cada período da História trouxe sua contribuição. O homem, pela experiência e razão, elabora o conhecimento, cria a ciência e a tecnologia, colocando o mundo em movimento pela sua atividade. É o sujeito agindo sobre a natureza e não apenas admirando-a. É pela linguagem que o homem percebe a forma para interagir com os sujeitos e ultrapassar a razão monológica em busca da razão das múltiplas vozes.

Diríamos, pois, que no ponto de partida a relação trabalho e educação é uma relação de identidade. Os homens aprendiam a produzir sua existência no próprio ato de produzi-la. Eles aprendiam a trabalhar trabalhando. Lidando com a natureza, relacionando-se com os outros, os homens educavam-se e educavam as novas gerações. A produção da existência implica o desenvolvimento de formas e conteúdos cuja validade é estabelecida pela experiência, o que configura um verdadeiro processo de aprendizagem. Assim, enquanto os elementos não validados pela experiência são afastados, aqueles cuja eficácia a experiência corrobora necessitam ser preservados e transmitidos às novas gerações no interesse da continuidade da espécie. (SAVIANI, 2007, p.154).

Nesse processo, edifica a sua linguagem e constrói o discurso para demonstrar seus interesses, anseios e atuar frente à realidade. Todas suas ações são o reflexo do pensamento construído e elaborado nessas relações. Tratando mais especificamente de como o homem transforma o ambiente em que vive, nas sociedades primitivas as ferramentas eram de pedra, madeira ou osso. A técnica usada para fabricar esses instrumentos era simplesmente de bater na pedra para dar a forma adequada, sendo utilizada para cortar, raspar ou furar. Nesse período os principais instrumentos foram os machados de mão, pontas de flecha, pequenas lanças, arpões, anzóis e mais tarde agulhas de osso, arcos e flechas. 3

A transformação do homem primitivo para o homem moderno acarretou várias mudanças conjuntamente, a evolução física no homem, a evolução cultural e a evolução cognitiva, pois com o desenvolvimento da mente e a acumulação de experiências e conhecimentos, os homens primitivos foram aperfeiçoando seus instrumentos, utensílios domésticos e armas, suas técnicas e meios de subsistência. Desenvolveram também suas vidas em sociedade, suas atitudes e hábitos sociais, como a vida familiar, a vida em grupos, a participação coletiva. Nesse período introduziram cerimônias religiosas, aperfeiçoaram a arte, o artesanato, passaram a construir casas e abrigos, a fazer agasalhos, descobriram o fogo e inventaram os meios de comunicação e transporte. 4

3 Informação citada literalmente disponível em:< https://pt.wikipedia.org/wiki/Paleol%C3%ADtico>. Acesso em 16 maio 2016.

(21)

A espécie humana diferenciou-se dos demais animais pelo domínio do fogo e das armas, mediante o uso de sua inteligência, ainda que rudimentar. O fogo permitiu superar suas limitações de criação diurna, sujeita às ameaças de predadores noturnos, além de possibilitar um maior aproveitamento de víveres, antes perecíveis, pela conservação obtida com o uso do fogo. As armas possibilitaram a superação das suas limitações anatômicas de força física, permitindo dominar inimigos naturais de maior poder físico (ODA, Érico; MARQUES, Cícero; FERNANDES. 2008, p.11)

A partir da maior exploração do meio ambiente e o desenvolvimento da produção com o aperfeiçoamento dos seus utensílios de defesa, de caça e até mesmo de preparo e armazenamento dos alimentos, o homem criou uma divisão de classes.

Configuram-se, em consequência, duas classes sociais fundamentais: a classe dos proprietários e a dos não-proprietários. Esse acontecimento é de suma importância na história da humanidade, tendo claros efeitos na própria compreensão ontológica do homem. Com efeito, como já se esclareceu, é o trabalho que define a essência humana. Isso significa que não é possível ao homem viver sem trabalhar. Já que o homem não tem sua existência garantida pela natureza, sem agir sobre ela, perece. (SAVIANI,2007, p.155).

Com essa divisão emergem também disparidades. Com o passar do tempo, o desenvolvimento do equipamento técnico do homem, o aparecimento da propriedade privada e finalmente a expansão da escravatura levaram gradualmente à divisão da sociedade em grandes grupos, que ocupavam diferentes posições sociais. Havia os que possuíam a terra, instrumentos e escravos, mas não trabalhavam, e os que sustentavam pelo seu trabalho, quer os que tinham instrumentos de trabalho próprios (camponeses e artífices) quer os que tinham que trabalhar como escravos para os seus senhores. Estes grandes grupos, que ocupavam posições sociais tão diferentes, vieram a ser conhecidos por classes. A classe que possuía riquezas e obrigava os outros (escravos, camponeses e artífices) a trabalhar para ela começou a organizar-se para mantê-los em submissão. Com esta finalidade, surgiu uma nova instituição, que era desconhecida nas comunidades sociais baseadas nos princípios de parentesco, a que chamamos Estado. Vários órgãos de poder, tais como prisões, exércitos e tribunais eram todos eles componentes do aparelho de Estado.

De acordo com o filósofo inglês Hobbes:

O estado natural é a condição na qual todos os homens se encontram, nesse estágio todos são iguais, todos têm o mesmo direito, pois o homem, em tal estado, está sob a égide das paixões, guiado pelos instintos, pelo conatus, isto é, esforço natural de permanecer na existência, de sobrevivência. Nessa perspectiva, o homem está imerso na ausência de um 2016.

(22)

poder estatal soberano. A condição do homem nesse estágio, consequência natural das paixões, é de guerra, visto que não há um poder visível que seja capaz de mantê-los em respeito, haja vista que naturalmente os homens não são justos, piedosos, bondosos, mas ao contrário, os homens são tendentes a parcialidade, orgulho e vingança. Na realidade nessa condição o homem está em situação de “guerra de todos contra todos”. Nessa perspectiva, a inclinação geral do ser humano é constituída por um ininterrupto desejo de poder e de mais poder que só tem cabo com a morte. (HOBBES apud LOPES, 2012, p.170).

Nesse contexto, o que o autor afirma que o instinto natural dos homens não é de segurança, de paz, mas em função do poder e a garantia de exercer liderança sobre os demais, emerge a criação do Estado, trazendo consigo a sensação de segurança, de uma vida mais tranquila e igualitária, onde todos têm direitos e deveres. Ao surgir a estrutura de Exército, as armas passam de rudimentares para complexas.

As primeiras armas de fogo, ainda improvisadas, provavelmente, surgiram na China, logo após a invenção da pólvora no século IX. Em tubos de bambu, essa mistura de salitre, enxofre e carvão vegetal que explode em contato com o fogo era usada para atirar pedras. Os árabes aperfeiçoaram o invento no século XIII, quando os canhões passaram a ser feitos de madeira e reforçados com cintas de ferro. Mas a contribuição decisiva veio no século XIV, quando surgiram os primeiros canhões de bronze, mais seguros.

As primeiras armas de fogo portáteis aparecem no século XV. A estrutura da guerra ganha nova proporção devido à mobilidade que os artefatos garantem aos soldados. A primeira arma individual amplamente usada em batalhas, é o mosquete, criado no século XVI. No século seguinte, com o fuzil de pederneira, a pontaria melhora, mas muitos disparos falham e o soldado ainda precisa abastecer manualmente a arma com a pólvora e o projétil. No século XIX, a criação dos cartuchos e dos mecanismos de carregamento pela culatra tornou as armas mais confiáveis e impulsionou de vez a tecnologia bélica. O ponto culminante foi a automação, com a invenção da metralhadora em 1884. Para completar, os modelos de submetralhadoras, fuzis de assalto e pistolas automáticas do final do século XX tornaram infinitamente mais preciso e perigoso o poder de destruição das armas.5

1.2 Aspectos Históricos e Contextuais do Exército Brasileiro

O Exército Brasileiro surgiu da vontade da nação brasileira em defender sua soberania contra invasores externos ainda no Brasil Colônia. Este fato foi legitimado a partir da Independência do Brasil, na Constituição de 1824.

5 Informação citada literalmente disponível em:< http://mundoestranho.abril.com.br/historia/qual-e-a-origem-das-armas-de-fogo/>. Acesso em 16 maio 2016.

(23)

Nas suas origens dos tempos coloniais, é sabido que a Metrópole portuguesa não dispunha de Exército para ocupar e defender os seus vastos domínios nem era da sua política despender os seus vultuosos recursos que a empresa exigia. O primeiro contingente de soldados que aqui chegou era formado por quatrocentos degredados das prisões do Reino, trazidos por D. Manoel Lobo, como núcleo inicial destinado a crescer com novos elementos de baixa condição, para sanear a população da Metrópole portuguesa. Lá mesmo, em Portugal, já em 1751, o livro de André Ribeiro Coutinho recomendava, quanto à “conduta do soldado português e o seu comportamento”: “não devendo pedir esmola, fardado, não furtando, não fugindo, não brigando, não se embriagando, sendo que o ladrão devia sofrer pena de morte”. (TAVARES, 1985, p.93).

De acordo com essa espécie de código disciplinar, sob a premissa de povoar e defender o Brasil contra as incursões que cobiçavam as suas riquezas, compreende-se que a intenção de Portugal é utilizar estes soldados portugueses de base para a formação de novos soldados, os quais eram, índios brasileiros e negros escravos importados da África. Criou-se, assim, o alistamento, e por sua vez, o povoamento do Brasil. Dava-se prioridade a sua defesa e à agricultura, que iniciou com os engenhos de açúcar no Nordeste.

Com o aumento do interesse nas terras litorâneas pelos franceses e, principalmente pelos holandeses, surgiu a Batalha de Guararapes (1648), na qual índios, brancos e negros reuniram-se para lutar e expulsar os invasores holandeses do litoral do Brasil. O surgimento de uma nação multirracial, ligada por laços cada vez mais fortes, pelo espírito de defesa da terra, daria lugar à afirmação da consciência de estar lutando pela terra, não a dos portugueses, vindos do além mar para simplesmente ocupá-la, mas de uma nacionalidade verdadeiramente brasileira, ficando estabelecida, assim, a origem da instituição Exército Brasileiro.

No nosso caso, particularmente, cumpre considerar o seu grande papel histórico na formação e no fortalecimento da nacionalidade, não apenas como Força Armada e como elemento de trabalho construtivo, mas, também, nos empreendimentos públicos fundamentais, como fator incontestável de valorização do homem, através da ampla malha que se apoia nos quartéis para cobrir o território nacional. (TAVARES, 1985, p.183).

O Exército Brasileiro é uma instituição de âmbito nacional, integrada por cidadãos brasileiros, de caráter permanente e amparada legalmente, conforme descrição no Capítulo II do Art. 142 da Constituição Federal: “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República”. A Constituição Federal também prevê a finalidade das Forças Armadas, a de defender a Pátria e garantir os poderes

(24)

constitucionais, a lei e a ordem do país. Entre suas missões, o Exército Brasileiro, além da defesa da Pátria e a garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem, participa de missões operacionais internacionais, cumpre missões subsidiárias como atuação em ações e defesa civil ou calamidade pública e apoia a política externa do país.

A visão de futuro da Instituição, expressa no Manual de Fundamentos EB20-MF-10.101 O Exército Brasileiro, diz que a Força está focada em ser uma Instituição compromissada, reconhecida internacionalmente, respeitada, constituída por profissionais altamente qualificados, com valores éticos e morais como o patriotismo, dever, lealdade, probidade e coragem. Salienta também que é um desafio instigante e um farol que orienta a marcha da Instituição e que pretende servir de motivação a todas as ações individuais e coletivas empregadas no cumprimento da missão da Força. O Exército Brasileiro sendo uma Instituição pautada nos preceitos da hierarquia e disciplina tem os valores militares como pilares de toda a sua estrutura, que influenciam de forma consciente e inconsciente, o comportamento e a conduta de cada militar, sendo eles: Patriotismo, Civismo, Fé na missão do Exército, Amor à profissão, Espírito de corpo, Aprimoramento técnico-profissional e Coragem. Um dos valores que diante desse estudo pode ser destacado é o aprimoramento técnico-profissional, pois segundo o Manual de Fundamentos EB20-MF-10.101:

4.4.7.1 Um exército moderno, operativo e eficiente exige de seus integrantes, cada vez mais, uma elevada capacitação profissional.

4.4.7.2 Além de cumprir os programas institucionais de formação específica e aperfeiçoamento constante – realizados na própria Instituição, nas demais Forças Armadas, outros exércitos ou em instituições civis – o militar, por iniciativa própria, deve buscar seu continuado aprimoramento técnico-profissional.

4.4.7.3 Esse aprimoramento contempla as áreas cognitiva, psicomotora e afetiva e é sedimentada com o exercício profissional de suas atribuições. (BRASIL, 2014, p. 4-9).

Nesse sentido, a dimensão fundamental da educação se faz presente, parafraseando Tardif (2014) todas as sociedades humanas conhecidas se dedicam, efetivamente, a atividades educativas. A formação continuada é parte primordial desse processo de universalidade e necessidade, é uma forma de amadurecimento e significação da prática profissional.

É esse o Exército Brasileiro de hoje, que, aliás, não cresceu numericamente, como queria D. Pedro I, em 1824, na mesma escala do crescimento da população e do progresso do país. Nele o homem se prepara para a guerra, como soldado, sem prejudicar as suas atividades normais, como cidadão.

Antes, pelo contrário, o Exército o educa e revigora, tanto para a paz, como para a guerra, contribuindo, de modo substancial, para valorizá-lo, como elemento positivo da comunidade nacional, o que resulta em fortalecer o potencial humano da Nação, fundamento mais importante do seu Poder Militar. (TAVARES, 1985, p.191).

(25)

O Exército respeita a dignidade humana e considera seus recursos humanos e famílias, bens de valor inestimável, tendo como objetivo de elevada prioridade o seu desenvolvimento profissional, bem estar social e valorização da profissão militar. Até 2022,6 o processo de

transformação do Exército chegará a uma nova doutrina com o emprego de produtos de defesa tecnologicamente avançados, profissionais altamente capacitados e motivados para que o Exército enfrente, com os meios adequados, os desafios do século XXI, respaldando as decisões soberanas do Brasil no cenário internacional.

Diante desta realidade existe um extenso ramo de especializações desempenhadas por cada integrante da Força Terrestre, abrangendo os mais diversos campos de atividades, e que, na maioria dos casos, define toda a carreira militar desses indivíduos. A grande divisão dessas especializações é definida pela Arma, Quadro ou Serviço a que pertence um militar do Exército.

As Armas dividem-se em dois grupos: as Armas-Base (Infantaria e Cavalaria) e as Armas de Apoio ao Combate (Artilharia, Engenharia e Comunicações). A Infantaria define o combatente a pé, aquele que pode deslocar-se por qualquer tipo de região e que conquista, ocupa e mantém o terreno, em operações ofensivas e defensivas; pela variedade de missões o infante também tem suas especializações, tais como: de selva, blindado, de montanha, paraquedista, Polícia do Exército e muitas outras, que estão ilustradas neste site. A Cavalaria reconhece, proporciona segurança às demais formações em combate e combate por seus próprios meios; seja blindada ou mecanizada mantém nos seus atuais veículos as capacidades das tradicionais formações hipomóveis (a cavalo). As Armas de apoio complementam a missão das armas-base, quer pelo apoio de fogo de seus obuses, canhões, foguetes e mísseis (Artilharias de Campanha e Antiaérea – EsACosAAe; pela mobilidade e contra mobilidade (Engenharia) e pela instalação e manutenção dos sistemas de C2 (Comando e Controle) e de Guerra Eletrônica – CCOMGEx/DF (Comunicações). Os oficiais e sargentos de carreira, das diferentes Armas, são oriundos da Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN (Resende/RJ) e da Escola de Sargentos das Armas – ESA (Três Corações/MG), respectivamente.7

Cada Arma tem sua particularidade e traz novas abordagens da sua estratégia e meios de apoio, elas englobam o militar combatente por excelência, tradicionalmente a atividade fim da profissão. Os Quadros reúnem os militares que, de origens diversas, aglutinam-se dentro destes com uma finalidade geral própria. Por fim, há os Serviços que, como o termo indica, têm uma atividade de apoio bem definida, normalmente de cunho logístico.

1.2.1 Arma de Infantaria

A Infantaria tem como característica essencial a aptidão para combater a pé, em todos os 6 Este prazo é determinado pelo PROFORÇA, apresentado no Projeto de Força do Exército Brasileiro, disponível em:

<http://www.eb.mil.br/web/proforca/apresentacao>. Acesso em: 20 maio 2016.

7 Esta citação está disponível em: <http://www.eb.mil.br/web/guest/armas-quadros-e-servicos>. Acesso em 20 maio 2016.

(26)

tipos de terreno e sob quaisquer condições meteorológicas, podendo utilizar variados meios de transporte. Uma de suas missões é conquistar e manter o terreno, aproveitando a capacidade do infante de progredir em pequenas frações, difíceis de serem detectadas em todos os tipos de terreno. Isso permite que ele se aproxime do inimigo para travar o combate corpo a corpo. A Infantaria poderá ter especializações das mais diversas: motorizada, blindada, Paraquedista, leve, de selva, de caatinga, de montanha, de guardas e de polícia.

Sua missão básica, no ataque, é destruir ou capturar o inimigo, empregando o fogo, o movimento e a ação de choque. Na defensiva, mantém o terreno e contra-ataca.

1.2.2 Arma de Cavalaria

A Cavalaria, no início das operações, é empregada à frente dos demais integrantes da Força Terrestre, na busca de informações sobre o inimigo e sobre a região de operações. Participa de ações ofensivas e defensivas, aplicando suas características básicas: mobilidade, potência de fogo, ação de choque, proteção blindada e sistema de comunicações amplo e flexível. Seus elementos podem ser blindados, mecanizados e de guardas.

Não obstante a crescente complexidade do campo de batalha moderno, onde o império da alta tecnologia dinamiza a integração dos sistemas operacionais do campo de batalha, as Forças Blindadas ainda permanecem um fator decisivo no combate, graças as suas características cada vez mais aperfeiçoadas de mobilidade, potência de fogo, proteção blindada e comunicações amplas e flexíveis. Modernização, desenvolvimento de uma doutrina de emprego eficaz e adestramento duro e realístico dessas forças constituem motivo de constante preocupação e elevada prioridade para todos os exércitos do mundo.

1.2.3 Arma de Artilharia

A Artilharia de Campanha é o principal meio de apoio de fogo da Força Terrestre. Suas unidades e subunidades podem ser dotadas de canhões, obuses, foguetes ou mísseis. Tem por missão apoiar a arma-base pelo fogo, destruindo ou neutralizando os alvos que ameacem o êxito da operação. A artilharia antiaérea, componente terrestre da defesa aeroespacial ativa, realiza a defesa antiaérea de forças, instalações ou áreas. A artilharia de Costa participa da defesa contra operações navais inimigas em áreas marítimas próximas ao litoral ou em águas interiores. Suas características são a precisão e a rapidez, para destruir ou neutralizar as instalações, os equipamentos e as tropas inimigas localizadas em profundidade no campo de batalha.

Nos dias de hoje, acompanhando a evolução dos tempos e das necessidades, organiza-se em três ramos: de Campanha, Antiaérea e de Costa. Possui uma gama variada de materiais, que

(27)

equipam suas organizações militares, para o cumprimento das missões de apoiar pelo fogo as Armas-bases, realizar a defesa antiaérea e defender a costa. Além disso, vem aperfeiçoando, com o apoio da informática, seu Sistema de Levantamento Topográfico, Busca de Alvos, Observação e Direção de Tiro.

1.2.4 Arma de Engenharia

A Engenharia divide-se em duas vertentes: de combate e de construção. A de combate apoia as armas-base, facilitando o deslocamento das tropas amigas, reparando estradas, pontes e eliminando os obstáculos à progressão e, ainda, dificultando o movimento do inimigo. Uma operação de grande envergadura, e que depende diretamente da Engenharia, é a transposição de cursos de água obstáculo. A Engenharia de Construção, em tempo de paz, colabora com o desenvolvimento nacional, além do contexto militar, construindo estradas de rodagem, ferrovias, pontes, açudes, barragens, poços artesianos e inúmeras outras obras.

1.2.5 Arma de Comunicações

As Comunicações – a Arma do Comando – proporcionam as ligações necessárias aos escalões mais altos que exercerão a coordenação e o controle de seus elementos subordinados antes, durante e após as operações. Além disso, atua no controle do espectro eletromagnético, por meio das atividades de Guerra Eletrônica, para impedir ou dificultar as comunicações do inimigo, facilitar as próprias comunicações e obter informações.

O Exército Brasileiro figura entre as instituições com maior credibilidade junto à população. Por isto, está em processo de transformação, a fim de se manter nessa condição e de atender às demandas do Estado Brasileiro, que se encontra em franco crescimento e caminha para a condição de potência mundial. A expectativa é de o Exército vir a constituir uma nova Força, que possa bem formar e preparar os seus recursos humanos e torna-los altamente qualificados, treinados e motivados, moral e intelectualmente, mas preservando os valores e as virtudes.

O Exército preocupa-se com a constituição de seus quadros, pois, como Instituição de caráter nacional e com Organizações Militares sediadas em todos os rincões do Brasil, possui, em suas fileiras, oficiais e graduados de todas as regiões do território nacional, tornando-se personificação simbólica de toda a Nação Brasileira.

A educação necessita ser visualizada, organizada e conduzida em sua historicidade por formas de racionalidade mais ampla e abrangente, para que capte o sentido de viver o humano no mundo e as intencionalidades da emancipação de todo e de todos os indivíduos. (MARQUES, 1990, p.92).

(28)

Nesse mister, o EB tem implementado medidas visando à modernização, dentre as quais se destacam as atividades voltadas ao aperfeiçoamento de seus Recursos Humanos, o que lhes proporciona condições de preparo e emprego tecnologicamente adequadas e atualizadas. Por isso, novos instrumentos e novas tecnologias têm sido desenvolvidos no intuito de melhor preparar os oficiais e sargentos da Instituição, em concordância com as novas demandas pelo desenvolvimento da Força.

1.3 Aspectos Históricos e Contextuais da Formação Profissional no Exército Brasileiro

A profissão militar apresenta características únicas que a distingue de outras profissões. Com isso, as bases pedagógicas para a formação dos profissionais das Armas devem respeitar essas particularidades nas suas concepções e currículos.

Historicamente, o Exército Brasileiro presta contribuição para a nação no que se refere à formação profissional. As formações eram as mais variadas, dentre as quais podemos destacar a formação como manutenção das atividades internas das organizações militares, sendo elas: mecânicos, motoristas, cozinheiros, telefonistas, entre outros e aquelas que dão apoio aos militares, sendo elas: médicos nas suas mais diversas especialidades, dentistas, farmacêuticas, entre outros.

Em primeiro lugar, ele tem desempenhado, em muitos setores, o papel de instrumento de pioneirismo, sobretudo na Engenharia, que nasceu, no Brasil, de uma tradicional Escola do Exército, destinada à formação dos engenheiros militares, e transformada e desdobrada, mais tarde, com o desenvolvimento do país, para tornar-se o núcleo-base da nossa Engenharia Civil. (...)

Desta forma, em inúmeras atividades profissionais de interesse nacional, o Exército contribui para a valorização do potencial humano do país em todos os níveis da preparação do homem, desde o operador, o executante, o aprendiz, até mais o alto padrão de engenheiro e de cientista. (TAVARES, 1985, p.198).

Além do início dos cursos de graduados militares, nas escolas de Comunicações, Instrução Especializada, Artilharia Antiaérea, de Educação Física do Exército, de Material Bélico, de Saúde do Exército e na de Veterinária, todas sob a jurisdição da Diretoria de Aperfeiçoamento e Especialização (DAE), que atualmente é a Diretoria de Educação Técnica Militar (DETMil), onde teve sua origem em 21 de agosto de 1945, com a criação do Centro de Aperfeiçoamento e Especialização do Realengo (CAER), idealizado pelo então General-de-Brigada Cordeiro de Farias, Diretor de Ensino do Exército, nas instalações da extinta Escola Militar do Realengo. E pouco mais de dez anos após a sua criação, passou a denominar-se Diretoria de Aperfeiçoamento e Especialização (DAE), de acordo com o Decreto nº 37.973, de 22 de setembro de 1955. Finalmente,

(29)

o Decreto nº 7.089, de 20 de setembro de 2012, alterou, a contar de 5 de outubro de 2012, a designação da Diretoria de Especialização e Extensão para Diretoria de Educação Técnica Militar (DETMil).

A DETMil possui 6 (seis) Estabelecimentos de Ensino subordinados e 22 (vinte e dois) com vinculação técnico-pedagógica, cabendo-lhe a missão de dirigir, orientar, supervisionar e avaliar as atividades de ensino e pesquisa, a formação e o aperfeiçoamento dos sargentos de carreira, bem como a especialização e extensão de oficiais, subtenentes e sargentos.

Com o intuito de permanecer como uma instituição idônea, comprometida com seus recursos humanos, o Exército Brasileiro promove a cada ano concursos as múltiplas especialidades para compor seu efetivo profissional nas diversas Organizações Militares.

As escolas formadoras de militares de carreira são: A Academia Militar das Agulhas Negras, o Instituto Militar de Engenharia, a Escola de Sargentos das Armas, a Escola de Sargentos de Logística, e o Centro de Instrução de Aviação do Exército. A Escola de Formação Complementar do Exército e a Escola de Saúde do Exército têm a peculiaridade de receber profissionais já formados para compor os quadros técnicos, administrativos e médicos da Força. O Sistema Colégio Militar do Brasil, dispõe de colégios distribuídos em várias cidades do território, nos níveis de Ensino Fundamental e Médio, os quais proporcionam conhecimentos necessários para o ingresso nas Forças Armadas ou a inserção profissional na vida civil.

Os fundamentos legais da formação profissional situam-se na legislação civil com a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional - Nº 9.394/96 que reporta a questão da educação profissional, no artigo 39 do capítulo III da Educação Profissional e Tecnológica, sobre a abrangência dos cursos:

I - de formação inicial e continuada ou qualificação profissional; II – de educação profissional técnica de nível médio;

III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação.

E se complementa no âmbito militar com a Lei sobre o Ensino no Exército Brasileiro (Nº 9.786/99) no artigo 3º, do capítulo II dos Princípios e Objetivos, que destaca:

I - integração à educação nacional; II - seleção pelo mérito;

III - profissionalização continuada e progressiva; IV - avaliação integral, contínua e cumulativa; V - pluralismo pedagógico;

VI - aperfeiçoamento constante dos padrões éticos, morais, culturais e de eficiência;

(30)

ensino.

Nestes aspectos podemos salientar a consonância do ensino militar com a educação nacional, no que diz respeito a profissionalização continuada e progressiva, fatores que se unem garantindo um currículo atualizado diante o cenário educacional brasileiro e uma preocupação constante com a formação profissional, visando constituir os currículos com o foco na dimensão humana para obtermos uma sociedade composta por pessoas além de competentes técnicos, mas interessados no bem comum e se colocando no lugar do outro.

Pode-se afirmar que o ensino integrado entre a formação básica e a formação profissional, proposto a partir do conceito de politecnia, atende a um imperativo das condições históricas do Brasil. “Portanto, o ensino médio integrado ao ensino técnico, sob uma base unitária de formação geral, é uma condição necessária para se fazer a “travessia” para uma nova realidade” (Frigotto; Ciavatta; Ramos, 2005b, p.43). (...) A concepção de educação politécnica, definida por Demerval Saviani “[...] como domínio dos fundamentos dos fundamentos científicos das diferentes técnicas utilizadas na produção moderna” (2007, p. 161) e de currículo integrado, na perspectiva dada por Frigotto; Ciavatta; Ramos (2005b), insere-se na tradição da pedagogia crítica e, portanto, nos compromissos de uma educação implicada em uma leitura das relações sociais e culturais que contribua para a construção de uma sociedade mais solidária. Não se confunde, portanto, com as propostas pedagógicas que se apresentam apenas como oposição a uma visão tecnicista calcada na transmissão de conteúdos, das quais a pedagogia das competências é a sua expressão mais difundida na atualidade (SILVA e LOTTERMANN, 2016, p.27).

Diante desses aspectos sociais, educacionais e características próprias do militar, a EASA como um Estabelecimento de Ensino tem a atribuição de receber estes militares das Armas apresentadas e oportunizar momentos de formação continuada, uma preparação teórica e motivacional para que este pense como um profissional que irá oportunizar a produção do conhecimento a inúmeros sargentos, que, por sua vez, irão se constituir em disseminadores destes e os próprios agentes de mudança.

O principal instrumento de desenvolvimento é própria atitude do instrutor: consciente, aberta, flexível, mas segura, paciente e otimista, possibilitando a aprendizagem autônoma.

A partir disso, emerge a figura do instrutor, um profissional que para corresponder a sua nova função, deve observar e agir proativamente frente aos seguintes aspectos: conhecer e identificar dentro da Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas, o papel que representa como instrutor; analisar o nível de relação com os seus superiores hierárquicos, seus pares, subordinados, alunos e colaboradores; ter consciência e acreditar na missão, valores e príncipios básicos da Escola; ser um agente facilitador de todo o processo educacional; e ser um eterno aprendiz.

Essa preocupação com a sua formação continuada é de extrema importância, pois convém frisar que o aluno do CAS tem as seguintes características: o adulto não é mais dependente e sim

(31)

capaz de autodirigir-se; possui um grande lastro de experiências, sobre o qual constrói e amplia; e aprende melhor os conteúdos relacionados aos seus papéis sociais presentes.

Assim sendo, fica claro que o instrutor, ao ministrar suas instruções, precisa aplicar outra metodologia de ensino. Não poderá ser predominantemente expositiva e, sim, mais vivencial, mais dinâmica, mais flexível, respeitando a heterogeneidade do grupo. Cabe a ele, motivar seus instruendos, reconhecer as oportunidades dos assuntos, alargar horizontes, desenvolver competências e facilitar a aprendizagem através de uma organização adequada dos recursos do ensino.

Um instrutor não pode ser um mero adestrador de hábitos e habilidades. A ele, cabe garimpar o que há de positivo nas pessoas e no contexto. Ele precisa ter conhecimentos teóricos e práticos, mas, acima de tudo, desenvolver competências específicas do seu trabalho. Além disso, necessita ter também um comportamento ético, de respeito às pessoas e ao sigilo profissional.

Considerando as peculiaridades da profissão militar sempre foi do interesse da Força profissionalizar seus recursos humanos, inicialmente era mero aspecto organizacional das organizações militares, hoje existe a preocupação do seu profissionalismo, pois o militar poderá ser empregado em situações de extremo estresse envolvendo alto risco de vida para ele próprio, bem como para seus subordinados. Sob este prisma temos a questão da violência no seu nível globalizado dos conflitos, muitas vezes o Exército Brasileiro é empregado em ações para garantir a lei e a ordem e em missões no exterior com o objetivo de auxiliar a reestruturação social e política de um país, por exemplo.

O processo de Transformação do Exército Brasileiro teve início com a constatação da necessidade da Instituição se tornar capaz de garantir ao Brasil condições para enfrentar os novos desafios no cenário internacional. O Sistema de Planejamento do Exército (SIPLEX) é responsável pelas implementações do planejamento idealizado, podendo ratificar ou retificar as ações, mantendo assim o estudo de situação continuado.

No século XXI, três fatos impactaram o planejamento estratégico do Exército: o surgimento da era do conhecimento, a emergência do Brasil como nação de grande relevância no cenário mundial e a imprevisibilidade marcante dos conflitos na atualidade, caracterizados por diferentes tipos de ameaças ao redor do mundo.

O acelerado desenvolvimento tecnológico, em especial da tecnologia da informação e comunicação, fez surgir o que se denominou Era do Conhecimento, que tem como características marcantes maior velocidade, confiabilidade e baixo custo de transmissão e armazenamento de conhecimentos e outros tipos de informação, tornando possível a difusão em qualquer lugar do planeta.

(32)

Por sua vez, a economia global viu-se diante de novos parâmetros. A transferência de riqueza dos países desenvolvidos para os emergentes, dentre eles o Brasil, produz uma nova relação de forças no mercado e cria condições para que esses países assumam posições protagonistas no cenário internacional.

Os diferentes tipos de ameaças presentes no cenário mundial confirmaram as tendências decorrentes do fim da Guerra Fria e produziram alterações significativas nas relações internacionais.

Nesse contexto, os conflitos passaram a ser influenciados pelas seguintes características:  o surgimento de uma nova dimensão no campo de batalha, o ambiente cibernético;

 o aumento da importância da opinião pública internacional e nacional, restringindo a liberdade de ação dos estados-nacionais; e

 o aumento do poder dos atores não estatais, como grupos insurgentes, organizações não governamentais e organizações internacionais.

Com tal perspectiva, cabe ao Exército Brasileiro, constituinte das Forças Armadas repensar seu planejamento para desafios futuros, organizando uma sério de documentos que vão desde o amplo espectro a menor escala das ações.

Figura 1 – Base Legal da Doutrina Militar Terrestre

Fonte: Manual da Doutrina Militar Terrestre EB20-MF-10.1021 (2014, p. 19)

A Política Nacional de Defesa (PND) tem como um dos propósitos sensibilizar todos os segmentos da sociedade brasileira quanto à importância da defesa do País, sendo este um dever de todos os brasileiros. Por conseguinte, a Estratégia Nacional de Defesa (END), um decreto de lei,

(33)

aprovado em 2008 que se define como:

(...) o vínculo entre o conceito e a política de independência nacional, de um lado, e as Forças Armadas para resguardar essa independência, de outro. Trata de questões políticas e institucionais decisivas para a defesa do País, como os objetivos da sua “grande estratégia” e os meios para fazer com que a Nação participe da defesa. Aborda, também, problemas propriamente militares, derivados da influência dessa “grande estratégia” na orientação e nas práticas operacionais das três Forças. (BRASIL, 2014, p.9).

Esta estratégia se constitui em três eixos estruturantes:

O primeiro eixo estruturante diz respeito a como as Forças Armadas devem se organizar e se orientar para melhor desempenharem sua destinação constitucional e suas atribuições na paz e na guerra. (...) A análise das hipóteses de emprego das Forças Armadas – para resguardar o espaço aéreo, o território e as águas jurisdicionais brasileiras – permite dar foco mais preciso às diretrizes estratégicas. Nenhuma análise de hipóteses de emprego pode, porém, desconsiderar as ameaças do futuro. Por isso mesmo, as diretrizes estratégicas e as capacitações operacionais precisam transcender o horizonte imediato que a experiência e o entendimento de hoje permitem descortinar. (...)

Descreve-se como as três Forças devem operar em rede – entre si e em ligação com o monitoramento do território, do espaço aéreo e das águas jurisdicionais brasileiras.

O segundo eixo estruturante refere-se à reorganização da indústria nacional de material de defesa, para assegurar que o atendimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas apoie-se em tecnologias sob domínio nacional.

O terceiro eixo estruturante versa sobre a composição dos efetivos das Forças Armadas e, consequentemente, sobre o futuro do Serviço Militar Obrigatório. Seu propósito é zelar para que as Forças Armadas reproduzam, em sua composição, a própria Nação – para que elas não sejam uma parte da Nação, pagas para lutar por conta e em benefício das outras partes. O Serviço Militar Obrigatório deve, pois, funcionar como espaço republicano, no qual possa a Nação encontrar-se acima das classes sociais. (BRASIL, 2014, p.10).

A Política Militar de Defesa (PMD), em uma visão ampla, tem por finalidade orientar os planejamentos estratégicos, nos níveis internacional e nacional, sendo projetado um cenário para servir de referência ao preparo das Forças Armadas.

É perceptível a preocupação com o contexto globalizado e as premissas que cabem a cada integrante das Forças Armadas para cumprir o seu papel de se organizar, planejar e executar ações em prol da defesa da nação. O Exército por sua vez cumprirá sua destinação constitucional e desempenhará suas atribuições, na paz e na guerra, sob a orientação dos conceitos estratégicos de flexibilidade, para monitoramento e controle das atividades a fim de deixar o inimigo em constante desiquilíbrio e de elasticidade, para garantir a mobilidade de ação da tropa.

Chegando a um nível mais prático, encontramos a Estratégia Militar de Defesa (EMD), que tem como fundamentos a concepção estratégico-militar que moldam o emprego da Força Terrestre, a prioridade de elaboração dos planos de emprego, as indicações de capacidades das Forças e ações para alcançar tais capacidades.

Referências

Documentos relacionados

A validação da metodologia analítica para determinação de α- e β- zearalenol foi feita considerando os parâmetros de seletividade, linearidade, precisão, exatidão, limite

As análises fitoquímicas do teor de polifenóis totais, flavonoides e capacidade antioxidante, realizadas na estação: verão, dezembro de 2013 e outono em abril de 2014,

Esperávamos que os resultados de docking molecular para a estrutura da molécula de DanG, no sítio de interação, apresentasse um valor de ângulo diedro próximo àquele obtido

- Se o estagiário, ou alguém com contacto direto, tiver sintomas sugestivos de infeção respiratória (febre, tosse, expetoração e/ou falta de ar) NÃO DEVE frequentar

Os candidatos reclassificados deverão cumprir os mesmos procedimentos estabelecidos nos subitens 5.1.1, 5.1.1.1, e 5.1.2 deste Edital, no período de 15 e 16 de junho de 2021,

O artigo 9ª da Lei de Inovação faculta à ICT celebrar acordos de parceria com instituições públicas e privadas para realização de atividades conjuntas de pesquisa científica

- Será disponibilizado um Nr reduzido de alojamentos, tanto para concorrentes quanto para tratadores, devendo para isso reservar através requerimento anexo a fixa

Olhai que vos dou poder para pisar aos pés serpentes e escorpiões e domínio sobre todo o poderio do inimigo; nada vos poderá causar dano.. Contudo, não vos alegreis