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Políticas de esporte e lazer e a problemática social da juventude

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE DESPORTOS

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

MARIAMA RIBEIRO FERRIERA

POLÍTICAS DE ESPORTE E LAZER E A PROBLEMÁTICA SOCIAL DA JUVENTUDE

FLORIANÓPOLIS 2015

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MARIAMA RIBEIRO FERREIRA

POLÍTICAS DE ESPORTE E LAZER E A PROBLEMÁTICA SOCIAL DA JUVENTUDE

Trabalho apresentado à disciplina Seminário de Conclusão de Curso (DEF5875), como requerimento para a conclusão da graduação em licenciatura em Educação Física, da Universidade Federal de Santa Catarina.

Orientadora: Iracema Soares de Sousa.

FLORIANÓPOLIS 2015

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MARIAMA RIBEIRO FERREIRA

POLÍTICAS DE ESPORTE E LAZER E A PROBLEMÁTICA SOCIAL DA JUVENTUDE

Monografia aprovada como requisito parcial à obtenção do título de Licenciada em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina – CDS/UFSC.

Banca:

Orientadora: Prof.ª Dra. Iracema Soares de Sousa Centro de Desportos, UFSC.

Examinador: Prof.º Dr. Luciano Lazzaris Fernandes Centro de Desportos, UFSC.

Examinador: Prof.º Me. Ricardo Lucas Pacheco Centro de Desportos, UFSC.

Suplente: Profª Patrícia Buss Centro de Educação, UFSC.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado a vida e a Jesus Cristo por ter dado a vida por mim.

À minha família por todo apoio e incentivo para que eu concluísse a minha formação, em especial a minha mãe Débora, por me sustentar principalmente em amor e cuidados, comigo e com o meu filho. Este amparo foi de fundamental importância para que eu chegasse onde cheguei. Obrigada minha Vózinha Maria do Carmo, eu consegui fazer com que a senhora visse eu me formar (lagrimas correm dos meus olhos).

Agradeço ao pai do meu filho, Alexandre, por tantas vezes suprir minha ausência na vida do Caio, pelos meus compromissos acadêmicos. Que Jesus te abençoe!

Ao meu lindo filho Caio, por mesmo sendo tão pequeno, me dar tantas forças para continuar.

Agradeço ao grande amor da minha vida, Thalys, que mesmo tendo acompanhado só os momentos finais desse processo, foi peça chave para que eu ultrapassasse a linha de chegada. Por todas as louças lavadas e por abdicar do seu tempo comigo para que eu pudesse escrever este trabalho, muito obrigada pelo amor.

Sou grata ao meu Pastor, Beto, pelos conselhos e por tentar me ajudar de todas as formas a terminar essa etapa. E a todos (as) amigos(as)/irmãos(ãs) da Comunidade Cristã do Campeche pelas orações.

Obrigada a minha gerente Eliz e as meninas da equipe Planetta pela confiança e por abrirem mão de mim nesse ultimo mês de conclusão do trabalho.

Um muito obrigado mais que especial ao Movimento Estudantil de Educação Física (MEEF), por me mostrar os reais significados da minha formação na luta a favor da classe trabalhadora. Por me proporcionar grandes amizades, em especial com meus camaradas da Regional.

Ao eterno Instinto Coletivo e a gestão do CAEF em Construção, os quais eu tive a honra de fazer parte em um momento muito feliz da minha vida e importantíssimo para a minha formação. Todos que fizeram parte estão inclusos nos

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meus sinceros agradecimentos, em especial ao meu amigo e companheiro de Exneef Mariano, por muitas vezes me carregar no colo quando eu não tive condições, ao Farofa que foi fundamental na minha entrada para o movimento e um grande irmão, Mineiro, Valentim (você deixou saudades amigo), Rê, Dudu, Luíza Liz, Kauã, Nati, Renato, André, Felipe, Gabi (lagrimas correm de saudades), em fim, a todos os estudantes que constroem a luta no CDS/UFSC.

Agradeço ao “quinteto fantástico”, Pati, Vivi, Alessandra e Luíza, amigas pra vida toda que a graduação me proporcionou. Realmente irmãs que Deus me deixou escolher. Obrigada por todo amor e suporte, amo vocês.

Obrigada meus queridos professores do CDS/UFSC, em especial ao Capela, Edgar, Cris, Maurício, Jaison e Ricardo, por me ensinarem com respeito, amor e compreensão. À Luciana Marcassa, que por seu comprometimento com a educação pública de qualidade, investiu seu tempo e bagagem em mim e garantiu o inicio desse trabalho. Ao meu querido professor Luciano pela oportunidade no time de handebol, meu amado esporte e pelos cuidados regados de amor de pai.

E a minha querida professora e amiga Iracema, que me acolheu e me encorajou de forma singular a concluir minha formação, realmente Deus te escolheu a dedo para me ensinar o que é pesquisa e mais que isso, me ensinar tanto sobre a vida!

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Sou uma máquina Artificiais sentimentos e atos Específicas funções, simples fatos

Rotina eterna e sistêmica

Vivo para prévios propósitos Sonhos impostos, obedeço cego

Ilusões de escolhas, não nego Ética fixa, padrões próprios

Certo e errado, controlado Bem e mal, instalado Cultura superior, arquivado Cultura inferior, desprezado

Continuo controle, concordo Valores vendados, vigoram

Destino ditado, decoro Pensamentos previstos, perduram

Meu nome é uma estatística Sou útil? Depende Sou inútil? Depende Do que depende? Depende

Tudo depende somente De máquinas antes de mim Formadas por outras outrora

E até alguém chega, enfim

Não sei no que pensar Não penso o que eu mesmo penso

Escravo, sigo o intento Daqueles que me ensinam andar

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Sou uma máquina Sirvo ao sistema do mundo Sou livre, mas preso no fundo

Guiado por erros profundos

Maldade me toma o corpo O que quero não faço O que não quero isto faço

Correntes do pecado!

Em pecado concebido! Em pecado intrínseco! Em pecado instruído!

Em pecado infinito!

Sou um ser humano! Artificiais sentimentos e atos! Específicas funções, simples fatos!

Rotina eterna e sistêmica!

Clamo a Ti que És LTivre Liberta-me! Restaura-me!

Guia-me! Fala-me! Levanta-me! Salva-me!

Arthur Valença

Chegai-vos a Deus, e Ele se chegará a vós. Tiago 4:8

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RESUMO

A crise estrutural da produção da vida para o capital, em sua faceta neoliberal, entra em cena e alavanca consequências devastadoras para a classe trabalhadora. Grande índice de desemprego, aumento da miséria e a violência batem à porta principalmente das famílias excluídas socialmente da riqueza produzida por todos, moradoras de áreas segregadas do todo social. E os jovens, filhos da classe trabalhadora, por vezes abandonam os estudos e procuram formas de ganhar dinheiro. Sabe-se que grande parte desses jovens, moradores de áreas segregadas socialmente, envolve-se em conflitos com a lei. Nesse contexto o esporte surge como instrumento de ajustamento à realidade de pobreza, miséria e violência nessas comunidades, capitaneado pelas ONGs. Foi nesse contexto que esta pesquisa surge e tem como foco central a questão de explicitar e, portanto, desocultar o enfoque dado pela área da educação física nas problemáticas referentes ao esporte e suas relações e contradições entre trabalho, juventude e medidas socioeducativas. O objetivo principal foi o de conhecer como está sendo tratado e qual o enfoque dado pela área da educação física nessas problemáticas na perspectiva de inserção social. Os objetivos específicos foram: (a)Saber as discussões mais presentes levantando as suas problemáticas (b)Saber como se estabelece a compreensão sobre o esporte no contexto das políticas sociais e como lhe tratam (c)Saber como o trabalho é tratado nas discussões sobre política social e juventude (d)Saber qual a juventude que é relacionada nos dados levantados e (e)Saber o eixo predominante do debate acerca da Politica social apresentada. Na perspectiva de uma pesquisa de cunho dialético e de caráter qualitativo delimitamos o campo da investigação nas publicações digitais (Revistas) do século XXI, que tratam do assunto de politicas de esporte para jovens em conflito com a lei e em situação de vulnerabilidade social. A coleta e análise de dados constituídos nesse processo permitiu a construção de categorias de análises a partir da fundamentação teórica da totalidade, relações e contradições dos dados organizados. Nesse sentido, percebemos divergências nas analises estudadas em relação ao papel do esporte nas políticas sociais para jovens. Concluímos ainda que o esporte torna-se uma mercadoria e não é garantido o seu acesso universalmente. Além disso, as contradições, como são de caráter estrutural, não se transforma apenas pela prática do esporte, haja vista que neste caso, exige-se uma inserção política e econômica dos jovens. Por outro lado é necessário que as politicas de cunho esportivo se tornem políticas públicas desenvolvidas pelo Estado, rumo a uma sociedade igualitária, sem classes sociais de interesses antagônicos.

Palavras-chave: Esporte. Juventude. Trabalho e Políticas Sociais. Medidas socioeducativas. Inserção social.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Artigos pela palavra chave Esporte e Juventude...20

QUADRO 2 – Artigos pela palavra chave Esporte e Trabalho...21

QUADRO 3 – Artigos pela palavra chave Esporte e políticas Sociais...23

QUADRO 4 – Artigos pela palavra chave Políticas Sociais e Juventude...23

QUADRO 5 – Artigos pela palavra chave Políticas Sociais e trabalho...23

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...10

2 ORIENTAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS ...19

3 POLITICAS DE ESPORTE E LAZER E A PROBLEMÁTICA SOCIAL DA JUVENTUDE...26

3.1 Esporte para jovens – reproduzindo as contradições...27

3.1.1Politicas Sociais para jovens e o Esporte...35

3.2 Juventude em foco, superação impedida...41

3.2.1Os projetos sociais e seus resultados...45

3.3 Esporte e trabalho, no embate da reprodução x transformação adiada...49

3.3.1Formação de Professores de Educação Física e a formação Humana ...52

3.4 Terceiro Setor, politicas para jovens, propaganda enganosa? ...57

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...68

REFERÊNCIAS...69

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1 INTRODUÇÃO

Ao analisarmos o contexto sócio histórico da sociedade brasileira partimos da reflexão sobre o modo de produção que a determina e seus desdobramentos concretos na vida da parcela jovem da população.

A realidade brasileira está marcada pelas transformações do mundo globalizado e pelas transições do modo de produção capitalista. Frente à crise estrutural do capital, o neoliberalismo surge como alternativa de gestão do Estado, o que culmina, segundo Mézáros (2011), na sua desconcentração, descentralização e a isenção de responsabilidade, especialmente em relação à promoção de politicas públicas. Para Melo (2005), o neoliberalismo aparece como resposta ao socialismo e os modelos de produção capitalistas ultrapassados, pois o Estado de Bem Estar Social garantia uma grande influencia do aparelho estatal na vida social, característica esta contrária aos preceitos liberais. Assim, o mesmo é reorganizado e diminuído no que se refere a influência na aplicação de politicas públicas e na regulação das intervenções do capital. Ou seja, a lei do mercado passa a imperar e decorrente disso promove-se uma progressiva desintegração dos direitos sociais dos trabalhadores, na medida mesma em que o mercado trona-se regulador das interações entre indivíduos e suas necessidades.

No entanto, a ação do Estado na economia não diminui, ela adquire novas funções por meio de formas legais e mudanças na gestão do aparelho estatal. Além disso, organizações financeiras internacionais tais como Banco Mundial (BM), assumem o papel de impulsionadores das reformas neoliberais, concedendo empréstimos aos países que aderirem ao projeto (BEHRING, 2008).

O neoliberalismo consolida a liberdade individual de produzir, possuir e acumular propriedades. Contraditoriamente, elevam-se os níveis de desemprego, intensificam-se os processos de privatizações de empresas estatais, enquanto aumenta o decréscimo/desmobilização das formas de organização civil e sindical combativa.

Assim como a ação do Estado começa a mudar, a ação da Sociedade Civil aparece com outra formatação. Estabelece-se então uma nova relação entre Estado e Sociedade Civil, agora não mais de confronto e sim de colaboração. São criados

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organismos com o objetivo de efetivar as Politicas Publicas, antes função do Estado, enquanto este permanece no processo como financiador. Nesse momento o Terceiro Setor (organismos civis privados e públicos não estatais), surge como protagonista na materialização da nova face do projeto de sociabilidade dominante, no intuito de humanizar o capital. A partir disso, as relações de confronto passam a ser relações de colaboração, por meio de parcerias entre o Estado e a Sociedade civil (MELO, 2005).

Com a interiorização dos valores do capital e acreditando na lógica de que o sucesso só depende do indivíduo e que todos podem se tornar consumidores em potencial, a classe trabalhadora, inclusive seus filhos, os jovens, são envolvidos pelos fetiches do capitalismo e a necessidade de trabalhar interfere no andamento dos estudos e por muitas vezes os jovens abandonam a escola para entrar na dura realidade do mercado de trabalho (ROSA, 2010).

Com o grande crescimento industrial e a propaganda de emprego nas metrópoles, um grande aglutinado de trabalhadores formaram diversas comunidades à margem do aglomerado urbano; comumente chamados de guetos ou favelas.

Perlman identifica que a favela é vista sob a lógica do capital e por uma determinada perspectiva de classe como um aglomerado de desordeiros, vagabundos, desempregados, ladrões, prostitutas, bêbados, mulheres e crianças abandonadas. Tais “elementos marginais‟ vivem em condições subumanas, prejudicando o “pitoresco panorama da cidade‟. São “parasitas‟ que exigem elevados gastos públicos e não contribuem para o bem comum, representando uma ameaça pública permanente (DANTAS, 2012, p.53).

No entanto, Dantas (2012) ainda ressalta que os “favelados”, em outras palavras, a classe trabalhadora, é de extrema importância para o aquecimento da economia, servindo como mão de obra barata para a força produtiva do capital, por meio da exploração da sua força de trabalho.

A juventude pobre, moradora dessas comunidades, são os filhos da classe trabalhadora. Estes sofrem o bombardeamento da mídia do consumo, dos preceitos neoliberais, da sedução do mercado, o desejo de consumir e passam a acreditar que é preciso adquirir, mesmo que sem condições materiais para isso. O mundo do crime lhes parece o ideal a ser seguido (ROSA, 2010).

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A partir da constituição de 1988, o esporte e o lazer passam a ser direitos sociais que devem ser garantidos a sociedade brasileira por meio de políticas públicas, haja vista serem bens socialmente produzidos pela humanidade. No entanto, com o processo de reestruturação produtiva e a mudança de protagonista na efetivação das políticas públicas, Organismos não governamentais (ONGs), Fundações e Associações Filantrópicas (o denominado Terceiro Setor), passam a assumir o papel do Estado de garantir a concretização dos direitos sociais da população.

Organismos internacionais como ONU (organização das Nações Unidas), UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e Cultura), BM (Banco Mundial) e FMI (Fundo Monetário Internacional), têm investido seus discursos em torno do esporte, incentivando e direcionando que os governos promovam politicas de esporte e lazer para a juventude em situação de vulnerabilidade social, empenhando no esporte um caráter salvador da triste realidade de exclusão e segregação (HÚNGARO 2008).

Os governos por sua vez, no caso do Brasil no Governo Lula, em 2003, promovem e financiam projetos de esporte e lazer que em sua maioria são desenvolvidos pelo Terceiro Setor de forma focalizada, o que restringe o acesso universal a esse direito social e sem reais avaliações de qualidade, como afirma Húngaro (2008) quando diz que “Não é cobrado qualidade nesse discurso entusiasta pelo esporte. Na educação cobra-se minimamente qualidade, sabe-se quando o filho está mal ou a escola tem problemas... No esporte não. O controle social, quando existe, fica na esfera financeira” (HÚNGARO, 2008 p 104).

Essas politicas sociais, segundo Montanõ (2002), tem a função de responder a algumas necessidades pontuais da população carente e pauperizada, sendo que para o capital, a função é responder a essas necessidades de forma pontual e superficial. Para o autor essas politicas tem sua função econômica na produção da força de trabalho, no caso do esporte a produção de trabalhadores saudáveis e dispostos e sua função politica, que é transformar a luta contra a exploração em lutas pontuais. Ou seja, aliviam-se as tensões advindas de um modelo de sociedade classista, ao invés de garantir uma mudança estrutural. O esporte passa a ter um caráter conformador ético-politico das novas gerações, “pois essa ideologia não o vê como direito social publico, mas como profilaxia, ideia facilmente vendida como

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antídoto contra a entrada de crianças e jovens no mundo das drogas” (MELO, 2008, p. 2). Mas o autor adverte que “essa linearidade entre prática esportiva e o não envolvimento com drogas/crimes incomodava-me até mesmo em virtude de a experiência profissional demonstrar, cotidianamente, que não se pode estabelecer relações tão mecânicas” (MELO,2008, p. 5).

Além disso, por se cumprirem as exigências dos organismos internacionais, tanto no que se refere à politicas de esporte e lazer quanto à concepção de educação a ser desenvolvida, nesse caso pautada na teoria do Capital Humano torna-se impossível garantir uma formação humana para esses indivíduos, pois nessa vertente educacional, as relações sociais propostas a esses jovens devem produzi-lo omnilateralmente, ou seja, em todas as suas capacidades humanas, de forma livre, consciente e planejada (TONET, 2013). Sendo então que o modo de produção de vida é quem determina o modelo educativo, as politicas sociais educativas desenvolvidas nessa sociedade vão educar para o capital e não para a autonomia como dizem os discursos.

Muitos desses discursos oficiais têm atribuído à prática esportiva a característica de linguagem universal, de ferramenta de paz, de desenvolvimento humano e de promotor de qualidade de vida. Nesse sentido muitos projetos sociais, vêm sendo desenvolvidos pelo Terceiro Setor no cumprimento de medidas socioeducativas e utilizam o esporte como instrumento de reinserção social de jovens em conflito com a lei. Jovens em sua maioria moradores de comunidades pobres e segregadas.

Na cidade de Florianópolis, capital de Santa Catarina (Brasil), dentre outras comunidades, temos o complexo do Maciço do Morro da Cruz (MMC), grande conglomerado de comunidades pobres que segue a lógica de segregação sócio espacial do capital. Alguns dos moradores jovens dessa comunidade hoje são os que têm percorrido os caminhos da criminalidade e da violência na cidade.

Atualmente o MMC tem aproximadamente trinta mil habitantes que se dividem em dezessete comunidades, segundo suas lideranças. Sua história de ocupação se inicia com a construção de uma pequena capela e um rancho residencial onde morava uma beata santista chamada Joana de Gusmão (1689-1779). Joana vivia principalmente de esmolas e assim conseguiu construir também

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uma escola para meninas. A capela “Menino Deus”, construída no Morro da Boa Vista, hoje conhecido como Mocotó, existe até hoje (DANTAS, 2012, p. 49).

As ocupações mais antigas se iniciaram no Monte Serrat (bairro da cidade de Florianópolis) e se deram em três fases: escravos, higienismo e migração. Primeiramente, ainda no séc. XIX, escravos fugidos ou recém-libertos construíram espécies de choupanas e hortas, constituindo os quilombos no alto do morro, onde moravam. Em seguida parte da população pobre, órfã, negra e mendigos ocuparam o morro após serem expulsos das áreas centrais da cidade por meio de medidas higienistas na década de 1920. A terceira fase de ocupação da comunidade do Monte Serrat se deu pela migração da população negra e pobre dos municípios de Biguaçu e Antônio Carlos que vieram para a cidade em busca de emprego, principalmente na área da construção civil, durante o boom imobiliário de 1950 e 1960, em Florianópolis. Assim, essa comunidade é a que possui maior densidade populacional atualmente no MMC (DANTAS, 2012, p. 50).

A realidade hoje, não só dessa comunidade, mas do MMC em geral é bem problemática em muitos sentidos. Em decorrência das ocupações sem planejamento da região, a infraestrutura, saneamento, atendimento público de saúde e educação dos morros e favelas constituídas ao longo dos anos é precária e grande parte da população dessas comunidades vive em áreas de risco (DANTAS, 2012, p. 52).

Como produto de uma história de pobreza e desemprego em meio à propagação da lei do consumo, a criminalidade também é um aspecto forte na realidade dessas comunidades e os jovens do MMC rodeados pelo cotidiano de delitos, muitas vezes aderem a essa postura. Em meio a essa realidade a população começou a se articular politicamente por melhorias sociais. Com isso, especificamente na comunidade do Monte Serrat é criada uma Organização Não Governamental (ONG), com o objetivo de propor melhorias para a educação. Essa instituição cresceu e hoje atua com projetos em várias comunidades do MMC e da grande Florianópolis.

O Centro Cultural Escrava Anastácia surge em 1994, organização não governamental foi fundada por entidades e instituições de caráter educacional, visando “fortalecimento das relações interpessoais, buscando estimular, intensificar e aperfeiçoar a reflexão e a participação na vida comunitária. O Centro Cultural foi

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projetado com a finalidade de abrigar projetos e atividades educativas para os moradores do Morro.” (DANTAS, 2012).

Hoje, o Centro Cultural Escrava Anastácia desenvolve projetos sociais principalmente para a parcela jovem dessa população, no intuito de melhorar sua realidade e perspectiva de vida. Projetos como Procurando Caminho e Frutos do Aroeira; são políticas da ONG voltadas à juventude que se encontra em conflito com a lei e em situação de risco social, estimulando a sua inserção e reinserção social

O programa Procurando Caminho: resgatando vidas por meio do esporte de aventura e oficinas profissionalizantes, atua com cento e vinte jovens das áreas onde a violência e o narcotráfico estão mais presentes, buscando resgatar o vínculo dos participantes com a família, com a sociedade e com o mundo do trabalho, por meio do esporte de aventura, principalmente com o Surf, buscando garantir uma perspectiva de vida para além da realidade social vivenciada.

O projeto Frutos do Aroeira, é uma política da ONG e está voltado à jovens que se encontram em situação de cumprimento de medidas socioeducativas privativas de liberdade, estimulando a sua inserção social. A casa de Semiliberdade tem capacidade para atender a vinte e três jovens e adolescentes, de ambos os sexos, os quais estejam em cumprimento de medidas socioeducativas. O projeto tem parceria com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina.

O projeto Frutos do Aroeira é uma casa de semiliberdade que atente jovens em cumprimento de medidas socioeducativas com idade entre 14 e 19 anos, com vinte e três vagas, dez femininas e treze masculinas. Os jovens são encaminhados pela Vara da Infância, sendo eles moradores do estado de Santa Catarina, mas principalmente da grande Florianópolis.

O primeiro contato com esta realidade concreta foi nesta casa e na ocasião existiam sete meninos que praticaram crimes como assalto, homicídio, porte ilegal de alma e tráfico de drogas. Esses jovens moram na casa, cuja estrutura é ampla, com vários quartos, refeitório, pátio, sala com bons equipamentos eletrônicos, piscina e portão elétrico. E está localizada em uma área considerada nobre de um dos bairros da região sul de Florianópolis. Alguns dos participantes estavam matriculados nas escolas de educação básica da região, alguns frequentavam o Ensino médio e outros estavam completando o Ensino Fundamental na Educação de Jovens e Adultos. Com relação à participação familiar no processo, os horários

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de visita não são restritos, bastando o agendamento antecipado com a equipe técnica do projeto.

Os profissionais que trabalham na Casa são compostos pela coordenadora, a cozinheira, o motorista do ônibus (que trabalha em outros projetos do CCEA), o auxiliar de serviços grais, os professores e os monitores. Sendo todos considerados pelo projeto como sócioeducadores.

O Surf e o cinema compõem os dois projetos de aprendizagem inerentes a Casa, sendo o surf praticado pelos integrantes todos os dias de manhã e dois dias à tarde, nas paias do Sul da Ilha, principalmente no Campeche. Além disso, é proposta do projeto que os jovens participem também dos programas de formação profissional da ONG e de convênios feitos com outras instituições.

O projeto consiste em uma Parceria com a Secretaria de Justiça e Cidadania, que financia o mesmo. E tem como principal conceito do Projeto politico Pedagógico da instituição a ação educativa a partir das margens, como eles chamam a ação a partir da realidade dos jovens.

Outro projeto que também fez parte de minha apreensão ao real é o Procurando Caminho que tem como objetivo a prevenção e a reinserção de jovens em situação de risco social. Sua sede está localizada no Bairro do Monte Serrat, no centro de Florianópolis e tem como publico alvo jovens (meninos e meninas) com idade a partir de quatorze anos, de preferencia, por ser a idade de iniciação profissional. No momento do contato a esta realidade este projeto possuía cem inscritos, divididos em grupos de trabalho, em alguns casos por área de residência.

As atividades acontecem de terça a quinta-feira, no período da tarde e a prática educativa principal é o Surf. As aulas são desenvolvidas nas praias do Matadeiro e da Barra da Lagoa e são ministradas por escolas de surf contratadas, podendo haver ou não a participação de auxiliares, na condução das aulas. Os auxiliares são ex-participantes do projeto que se interessam em se capacitar para ajudar nessas aulas. Cada grupo de trabalho é acompanhado por um sócio educador, denominado de articulador do projeto, que também em sua maioria são sujeitos que participaram de alguns dos projetos do CCEA e que hoje se dedicam a trabalhar no mesmo.

O projeto Procurando caminho também encaminha seus participantes para a participação em cursos de formação profissional da própria ONG, fazendo a

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chamada por eles, articulação em rede. Como no projeto Frutos do Aroeira, o Procurando Caminho também segue um Projeto Político Pedagógico que visa a ação educativa por meio das margens, como denomina a Instituição.

A presença da Educação Física em tal processo tem sido um vínculo constante, porém, como falam alguns autores, vem se inserido na área superficialmente (BRASIL, 2011). Neste sentido é que surge a intenção de fomentar esse debate num assunto tão denso e problemático. Ao conhecer esta realidade percebi a necessidade de vislumbrar perspectivas e proposições na direção de uma sociedade igualitária e emancipada, onde não se mantivesse a existência dessas contradições. Assim, com a preocupação de conhecer esse assunto, sob o ponto de vista concreto (conhecendo os projetos reais com pessoas reais), é que me inseri neste contexto, porém, essa aproximação apesar de permitir maior familiaridade com esta assunto não garantiu um grau de aprofundamento às interpretações que pudessem explicar, de alguma maneira, tamanha desigualdade social. E, sob o ponto de vista teórico é que problematizamos questões para serem elaboradas a partir de outras sistematizações publicadas.

Tendo em vista todo este contexto deparamo-nos com as seguintes perguntas: o que a Educação Física está discutindo sobre essas questões e quais as problemáticas que aparecem nos estudos sobre juventude e esporte? Qual a visão geral do esporte nesse contexto e como tem sido tratado? O que se fala sobre trabalho? Qual a ideia de juventude elencada pelos autores que tratam deste assunto? Qual o debate acerca de Politicas voltadas a jovens em situação de vulnerabilidade social relacionadas ao esporte? Como os jovens percebe essa prática?

Em síntese, e a partir desses questionamentos, a presente pesquisa tem como problema central o desocultar do enfoque dado pela área da educação física nas problemáticas referentes ao esporte e suas relações e contradições entre trabalho, juventude e medidas socioeducativas. Esta questão se materializou para nós com a aproximação realizada em instituições que tratam desses jovens, como foi apontado anteriormente. Principalmente numa ONG que tinha o esporte como medida de reinserção social, configurada pelos jovens oriundos do Maciço do Morro da Cruz em situação de vulnerabilidade social. Porém, o direcionamento do estudo

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foca-se, a partir deste contato com a realidade, em Revistas com publicações de ordem científica e que tratam desse assunto de alguma forma.

Assim, o objetivo geral desta pesquisa foi conhecer o enfoque dado pela área da educação física nas problemáticas referentes ao esporte e suas relações e contradições entre trabalho, juventude e medidas socioeducativas na perspectiva de inserção social em publicações digitais, do século XXI, referentes à Educação Física.

E, os objetivos específicos são:

a. Saber as discussões mais presentes levantando as suas problemáticas;

b. Saber como se estabelece a compreensão sobre o esporte no contexto das políticas sociais e como lhe tratam;

c. Saber como o trabalho é tratado nas discussões sobre política social e juventude;

d. Saber qual a juventude que é relacionada nos dados levantados; e. Saber o eixo predominante do debate acerca da Politica social apresentada.

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2 ORIENTAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

O método proposto para este estudo é o dialético, pois tem caráter qualitativo e propõe a estudar profundamente uma unidade, sempre levando em conta a história do objeto estudado e suas contradições (TRIVIÑOS, 1987). Quanto às estratégias de pesquisa, esta se caracteriza por uma pesquisa exploratória, tendo em vista a necessidade de se conhecer mais o assunto haja vista a escassez de pesquisas que venham a somar nas explicações, avanços e superações desta problemática exposta anteriormente.

Segundo Tobar e Yadour (2001), a pesquisa exploratória é aquela que “realizada em áreas e sobre problemas dos quais há escasso ou nenhum conhecimento acumulado e sistematizado”, em que o pesquisador estará incumbido de fazer uma sistematização qualitativa dos resultados, para definir uma unidade de informação. O enfoque na pesquisa qualitativa se caracteriza essencialmente, pela necessidade de conhecer em profundidade a realidade, a partir da “percepção, reflexão e intuição” e assim transforma-la (TRIVIÑOS, 1987).

Seguindo a mesma lógica, Triviños (1987), comenta que na pesquisa exploratória o pesquisador se planeja para encontrar elementos e resultados ainda não conhecidos. Apesar de a pesquisa exploratória parecer simples, o autor ressalta que o rigor científico é sempre necessário.

Silva pressupõe que:

Na pesquisa qualitativa o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de conseguirmos, não só uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar, mas também construir uma relação social de alteridade na dimensão da aproximação e do estranhamento e, além disso, criar um conhecimento, partindo das evidências e ocultamentos da realidade (SILVA, 2010).

No que se refere à coleta de dados, este estudo, caracterizado como uma pesquisa qualitativa levantou os dados em revistas/periódicos digitais nacionais da área da Educação Física com maior regularidade em termos de tempo e de publicações. Foram elas: Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, Revista Conexões, Revista Licere, Revista Motrivivência, Revista Motriz, revista Movimento e

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Revista Pensar a Prática. Sendo selecionados artigos, resenhas e ensaios relacionados às categorias Esporte, Juventude, Trabalho e Politicas Sociais, que dispunham o trabalho disponível na íntegra para donwloads, em português.

Esta coleta de dados, portanto, teve como campo as elaborações teóricas publicadas nas revistas/periódicos digitais acima descritos com o objetivo de conhecer o que falam as publicações da Educação Física que tratam do assunto de politicas de esporte para jovens em conflito com a lei e em situação de vulnerabilidade social.

É necessário evidenciar que o mundo em que vivemos a quem atribuímos significados, não pode ser meramente classificado ou analisado, quantitativamente. Além disso, Minayo (1999) reforça que a diferença entre métodos quantitativos e qualitativos aparece em sua natureza, pois na primeira as análises são superficiais, enquanto na segundo se faz um aprofundamento “no mundo dos significadas das ações e relações sociais”.

A busca envolveu o campo “pesquisa” e foram utilizadas as palavras chaves “esporte e juventude”, “esporte e trabalho”, “esporte e politicas sociais”, “politicas sociais e juventude”, “politicas sociais e trabalho” e “trabalho e juventude” Conforme as especificações dos quadros abaixo:

QUADRO 1 – Artigos pela palavra chave Esporte e Juventude

ESPORTE E JUVENTUDE REVISTAS

O Paradigma da Intersetorialidade nas

Políticas Públicas Licere

Políticas de esportes no Brasil Licere

Segregação Sócio Espacial, Lazer e o

Papel do Estado. Licere

Retratos da vida: relatos dos jovens do

dança comunidade Licere

O lazer eclipsado: registros sobre o

programa “Escola Aberta” Motriz

Determinantes para a implementação de

um projeto social. Motriz

Recreação Esportiva e seus desafios

corporais no Complexo do Alemão Motriz

Avaliação do programa de capacitação para formação de socioeducadores: o esporte como possibilidade de enfrentamento da vulnerabilidade social

Pensar a Prática O esporte de alto rendimento como política

pública do estado burguês: a acumulação, a legitimação e a exclusão social capitalista

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Pedagogia do esporte e autonomia: um estudo em projeto social de educação não

formal Pensar a Prática

Triunfo, desgraça e outros impostores: um ensaio sobre hierarquia e exclusão no esporte e nas relações internacionais.

Revista Brasileira de Educação Física e Esporte

Adolescente em conflito com a lei e sua

noção de regras no jogo de futsal. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte Celebração e transgressão: a

representação do esporte na adolescência. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte . Gestão das políticas públicas do

Ministério do Esporte do Brasil Revista Brasileira de Educação Física e Esporte Facilitadores e barreiras para a

implementação e participação em projetos sociais que envolvem atividades esportivas: os casos dos projetos Vila na Escola e Esporte Ativo

Revista Brasileira de Educação Física e Esporte

A inclusão social através do esporte: a

percepção dos educadores Revista Brasileira de Educação Física e Esporte Fonte: Autoria própria

QUADRO 2 – Artigos pela palavra chave Esporte e Trabalho

ESPORTE E TRABLHO REVISTAS

O direito ao esporte e lazer:

apontamentos críticos à sua mistificação Licere Retratos da vida: relatos dos jovens do

dança comunidade Licere

Políticas Públicas para Esporte e Lazer: para além do calendário de eventos

esportivos Licere

. A Atuação do Profissional de Educação Física: políticas públicas de esporte e

lazer no contexto brasileiro Licere

A Política Social de Esporte e Lazer no

Governo Lula. Licere

A prática esportiva e atividade física podem educar pessoas atrás das

grades? Conexões

O esporte como componente educacional

para meninos de rua. Conexões

Intervenção do profissional de educação física em jovens em situação de risco social: a contribuição da psicologia do esporte.

Conexões Crise estrutural do capital, mudanças no

mundo do trabalho e suas mediações na

educação física. Motrivivência

Políticas esportivas do terceiro setor no estado de mato grosso do sul: uma

análise do projeto Córrego Bandeira. Motrivivência Trabalho e lazer na infância e

adolescência no século XXI: direito social

(23)

O programa segundo tempo e seu processo de capacitação: análise e

proposições. Motrivivência

O corpo produtivo no mundo do trabalho

da educação física, esportes e lazer. Motrivivência Globalização e a Nova Cultura do

Trabalho e seus impactos na Educação

Física Motrivivência

Desenvolvimento humano, co-responsabilidade social e educação no capitalismo: investigando o programa “Educação pelo Esporte” do Instituto Ayrton Senna.

Motrivivência Estado cosmopolita, organismos

internacionais e a terceira via: o esporte

enquanto Política Social Motrivivência

Programas sociais de esporte e lazer na escola e na comunidade: as evidências de exclusão social e educacional na sociedade brasileira.

Motrivivência O lazer eclipsado: registros sobre o

programa “Escola Aberta”. Motriz

. Determinantes para a implementação de

um projeto social. Motriz

Políticas públicas de lazer e a

metodologia da ação comunitária. Motriz Recreação Esportiva e seus desafios

corporais no Complexo do Alemão Motriz

Reflexões sobre a participação nas

políticas públicas de esporte e lazer. Motriz O estado da arte em políticas sociais de

esporte e lazer no brasil (2000-2009). Pensar a Prática Avaliação do programa de capacitação

para formação de socioeducadores: o esporte como possibilidade de enfrentamento da vulnerabilidade social.

Pensar a Prática . O esporte como um direito: traços e

tramas da constituição de uma verdade. Movimento Fonte: Autoria própria

(24)

QUADRO 3 – Artigos pela palavra chave Esporte e políticas Sociais

ESPORTE E POLÍTICAS SOCIAIS REVISTAS

O estado da arte em políticas sociais de

esporte e lazer no brasil (2000-2009). Pensar a prática O esporte de alto rendimento como

política pública do estado burguês: a acumulação, a legitimação e a exclusão social capitalista nem sempre dissimuladas.

Pensar a prática Esporte e lazer em comunidades

quilombolas no Paraná: identificando realidades e apontando desafios para implementação e/ou aprimoramento de políticas públicas

Pensar a prática Sobre lazer e políticas sociais: questões

teórico-conceituais Pensar a prática

. Aspectos técnicos, conceituais e políticos do surgimento e desenvolvimento do programa esporte e lazer da cidade.

Pensar a prática Esporte na cidade: estudos etnográficos

sobre sociabilidades esportivas em

espaços urbanos Movimento

Lazer, Esporte e Cidadania: debatendo a

nova moda do momento Movimento Movimento

A lei de incentivo fiscal e o (não) direito

ao esporte no Brasil Movimento Movimento

Estado cosmopolita, organismos internacionais e a terceira via: o esporte

enquanto Política Social Motrivivência

Fonte: Autoria própria

QUADRO 4 – Artigos pela palavra chave Políticas Sociais e Juventude POLÍTICAS SOCIAIS E JUVENTUDE REVISTA O esporte de alto rendimento como

política pública do estado burguês: a acumulação, a legitimação e a exclusão social capitalista nem sempre dissimuladas.

Pensar a Prática

Fonte: Autoria própria

QUADRO 5 – Artigos pela palavra chave Políticas Sociais e trabalho POLÍTICAS SOCIAIS E TRABALHO REVISTAS O financiamento dos programas Federais

de esporte e lazer no Brasil (2004 a

2008). Movimento

Significados de um projeto social esportivo: um estudo a partir das perspectivas de profissionais, pais, crianças e adolescentes.

Movimento

(25)

juventude pobre

Lazer e utopia: limites e possibilidades de

ação política. Movimento

Lazer, Esporte e Cidadania: debatendo a

nova moda do momento. Movimento

Dança de rua: opção pela dignidade e

compromisso social. Movimento

Os sentidos da exclusão social na

bibliografia da Educação Física brasileira. Movimento Estado cosmopolita, organismos

internacionais e a terceira via: o esporte

enquanto Política Social Motrivivência

Avaliação do programa de capacitação para formação de socioeducadores: o esporte como possibilidade de enfrentamento da vulnerabilidade social.

Pensar a Prática Fonte: Autoria própria

QUADRO 6 – Artigos pela palavra chave Trabalho e Juventude

TRABALHO E JUVENTUDE REVISTAS

Retratos da vida: relatos dos jovens do

dança comunidade. Licere

Experimentando as Juventudes num

Bairro Segregado. Licere

A dança Break: corpos e sentidos em

movimento no Hip-Hop Motriz

O lazer eclipsado: registros sobre o

programa “Escola Aberta” Motriz

Determinantes para a implementação de

um projeto social. Motriz

Recreação Esportiva e seus desafios

corporais no Complexo do Alemão. Motriz O estado da arte em políticas sociais de

esporte e lazer no brasil (2000-2009). Pensar a Prática A inclusão social através do esporte: a

percepção dos educadores Revista Brasileira de Educação Física e Esporte Facilitadores e barreiras para a

implementação e participação em projetos sociais que envolvem atividades esportivas: os casos dos projetos Vila na Escola e Esporte Ativo.

Revista Brasileira de Educação Física e Esporte

Gestão das políticas públicas do

Ministério do Esporte do Brasil Revista Brasileira de Educação Física e Esporte Triunfo, desgraça e outros impostores:

um ensaio sobre hierarquia e exclusão no

esporte e nas relações internacionais. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte Fonte: Autoria própria

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É de extrema importância salientar que a categoria Politicas Sociais substituiu a de Medidas Socioeducativas no instante em que se percebeu quase nenhuma publicação referente ao tema de práticas esportivas na reinserção de jovens em conflito com a lei. Por conseguinte acreditamos que o tema se relaciona à medida que o envolvimento com o crime se dá em sua grande maioria por jovens em situação de vulnerabilidade social. Publico alvo das politicas sociais para juventude.

Muitos artigos foram descartados, pois suas discussões não se aproximavam do tema de politicas sociais para essa parcela jovem da sociedade. Apareceram muitos artigos sobre esporte na escola. As 42 publicações selecionadas foram separadas em pastas por palavras chaves e fonte. Todas foram lidas e resumidas em forma de citações e comentários.

É importante salientar também que os dados apresentados a partir desse momento no decorrer desse trabalho, em forma de citação direta, são parte dos artigos encontrados na pesquisa referida acima. Eles serão dispostos no intuito de ilustrar o que foi encontrado e relacionar com a base teórica escolhida.

A relação entre os dados coletados e a necessidade de construção das categorias empíricas foi realizada pelo método de analise da dialética materialista. Assim, após a organização dos dados levantados é que foi possível a elaboração das categorias analíticas.

As categorias organizadas para analisarmos o todo encontrado foram: Políticas de esporte e lazer e a problemática social da juventude: Esporte para jovens – reproduzindo as contradições: Politicas Sociais para jovens e o Esporte; Juventude em foco, superação impedida: Os projetos sociais e seus resultados; Esporte e trabalho, no embate da reprodução x transformação adiada: Formação de Professores de Educação Física e a formação Humana e; Políticas para jovens, propaganda enganosa?

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3 POLÍTICAS DE ESPORTE E LAZER E A PROBLEMÁTICA SOCIAL DA JUVENTUDE

O presente estudo se pauta e enfoca a juventude filha da classe trabalhadora, moradora de áreas marginalizadas, “fruto de desigualdades sociais e de reprodução sociocultural, na qual a transição dos jovens para a vida adulta é marcada pela divisão de classe, de gênero, de raça, de trabalho” (CORDEIRO, 2008).

Das relações desiguais advindas do modelo de produção vigente na sociedade, são observadas algumas, já citadas, consequências concretas na realidade. De acordo com Behring (2008), a classe trabalhadora se depara com uma situação de grande pobreza, altíssimo índice de desemprego, salários baixíssimos e direitos sociais negados pelo Estado. É necessário que se garanta o essencial para a sobrevivência, por isso os filhos dos trabalhadores, os jovens, precisam completar o orçamento familiar (ABRAMO, 2002).

A partir da constituição de 1988, o esporte e o lazer passam a ser direitos sociais que devem ser garantidos pelo Estado a todo e qualquer indivíduo. Porém, como vimos anteriormente, frente à reestruturação produtiva do capital (Mèzáros,2011), o Estado passa a se configurar de outra maneira que não mais de efetivador de politicas publicas - politicas que seriam na prática a concretização dos direitos sociais na vida da população - e o direito ao esporte e ao lazer são secundarizados na hierarquia de prioridades. A não concretização universal de acesso e permanência desse direito segundo Húngaro (2008) efetivou a prática esportiva e de lazer como mercadoria adquirida por aqueles que dispõem de condições para isso, ao ponto de que os que não têm nem seus direitos de moradia, saúde e alimentação garantidos (meios de subsistência), passam a não desfrutar dos conhecimentos produzidos historicamente pela cultura corporal.

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3.1 Esporte para jovens – reproduzindo as contradições

Considerando que o esporte é prática corporal, de produção histórico-cultural, que reproduz códigos, sentidos e significados da sociedade que o pratica, neste caso a capitalista, este estará revestidos de valores que reproduzem, inevitavelmente as desigualdades sociais. (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

Algumas das pesquisas encontradas debatem a questão dos porquês das políticas públicas e sua ideal função na vida da população.

Pautada em princípio pelos interesses comuns, mas, em grande medida, suscetível também aos interesses e necessidades privados, a política pública é a ação que se constrói e se processa a partir da relação entre Estado e sociedade. Entretanto, são os serviços sociais, organizados pelas diferentes instâncias e esferas de governo, voltados ao atendimento das carências da população que conferem visibilidade e tornam evidentes as políticas públicas. Longe de se restringir apenas à ação estatal, como processo social, a política pública e as políticas sociais, além de se ocuparem da provisão de serviços, têm de contribuir para a conquista da cidadania, concretizando o direito do ser humano à autonomia, à informação, à convivência familiar e comunitária saudável, ao desenvolvimento intelectual e corporal, à participação e ao usufruto das riquezas materiais e simbólicas (COSTA et al, 2011,p.572).

No entanto, na maioria das vezes os direitos são negados aos sujeitos pelas hierarquias de prioridades governamentais.

A política pública, nesse sentido, mediada por políticas e programas sociais, tem a função de concretizar direitos, entre os quais, o direito ao lazer. Mas se por um lado a política pública é uma estratégia de ação, por outro, pode significar ainda uma “não-ação”, expressão daquilo que um governo decide fazer e não fazer, conforme a hierarquização de objetivos e metas de seu planejamento. Com efeito, historicamente, o lazer tem sido tratado timidamente como direito e objeto de políticas públicas. Embora a Constituição brasileira de 1988 consigne em seu artigo 6º o lazer – juntamente com a educação, a saúde, o trabalho, a segurança, etc – como um direito social, e no seu artigo 217o determine que o poder público deva incentivá-lo como forma de promoção social, na realidade ele é alvo de atenção secundária (COSTA et al, 2011,p. 572).

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E principalmente o esporte e o lazer passam a ser direitos não acessados pela parcela pobre da população.

O esporte e o lazer são legalmente defendidos como direitos sociais pela Constituição Federal de 1988. Entretanto, a realidade que abarca a efetivação de tais direitos é completamente contrária ao que é sinalizado na Carta Magna, pois, os mesmos não conseguiram a sua efetivação concreta devido ao recuo da participação do Estado frente aos avanços das políticas neoliberais, desintegrando direitos sociais, transformando-os em direitos de consumo, mercadoria (FLAUSINO, 2012,p.21).

Percebendo no esporte um instrumento poderoso de manutenção da ordem neoliberal, as Organizações Internacionais passam a apostar no esporte como meio de equalizador de consciências na promoção da paz mundial e da paz com todos (MELO, 2005).

ONU: No que diz respeito à saúde relacionada ao esporte, o documento defende que as principais causas de até 60% das mortes no mundo, estão ligadas a pessoas inativas, e que o esporte e a educação física são “são cruciais para a vida longa e saudável. O esporte melhora a saúde e o bem-estar, aumenta a expectativa de vida e reduz o risco de várias doenças não-transmissíveis incluindo a doença cardíaca” (ONU, 2003, p.7), além disso é essencial para manter a saúde da mente e construir “valiosas conexões sociais” (SOUZA, 2014,p.50)

Além de apostar grandemente em seu viés de reprodutor do capital sob a égide da aptidão física e da promoção da saúde na construção de trabalhadores funcionais e produtivos.

Segundo Loureiro e Della Fonte (1997), é a visão funcionalista sobre saúde que permite este tipo de afirmação: a prática de esporte como solução para os malefícios da vida moderna. Para os autores, essa afirmação demonstra a superficialidade que tem se abordado o tema saúde, qual seja: as doenças ou “morbidades” não têm nada a ver com as relações sociais concretas e sim com um desvio dos indivíduos, ou seja, uma não adesão consciente de hábitos mais saudáveis (SOUZA, 2014,p.50)

No entanto alguns artigos encontrados salientam que a visão funcionalista da saúde tende a jogar a responsabilidade dos males sobre os indivíduos, sendo

(30)

que o modo de produção de vida influencia diretamente nas condições de saúde da sociedade. Nessa perspectiva o indivíduo é culpabilizado por seu estado de saúde, enquanto as contradições do modelo de vida para o capital são ocultadas.

Em outras palavras, o modo de vida/trabalho, ainda sobre a égide de uma sociedade classista, conserva uma estrutura de poder e uma política mundial de grandes impactos no que concerne à sobrevivência dos indivíduos. Nessa direção, a preocupação dos Organismos Internacionais consiste, também, em criar certa ideologia que vai “tornar” os indivíduos os únicos culpados ou responsáveis pelo seu estado de saúde (SOUZA, 2014,p.51).

Assim o esporte passa a servir como instrumento de manutenção e de reprodução do capital.

Diante dessa reflexão é possível afirmar que a pretensa saúde relacionada ao esporte, defendida pelos Organismos Internacionais, serve duplamente à reprodução da sociedade capitalista. Se, de um lado, busca convencer as pessoas de que a “ausência de saúde” é uma escolha consciente e natural de hábitos não saudáveis, por outro, busca ocultar as contradições do modo de vida/trabalho em uma sociedade de classes (SOUZA, 1014,p.51).

Nesse sentido o esporte segue aliviando as tensões produzidas por uma sociedade pautada na exploração de uma classe pela outra, além de servir ao capital como restituidor da ordem, principalmente em regiões de conflitos e de vulnerabilidade social, por garantir aos participantes sociabilidade e apreensão de valores tais como saber ganhar e perder, esforço pessoal nas conquistas, noção ética e moral e obediência a regras (BRACHT, 1992).

Atribui-se ao esporte mecanismos que possibilitam as crianças várias experiências pelas quais elas interiorizam valores que poderíamos classificar como aspetos positivo-funcionais. Entre estes valores temos, segundo BRACHT: (i) o reconhecimento do “outro” no caminho entre a criança e o mundo, (ii) conviver com a vitória e a derrota, (iii) vencer através do esforço pessoal, entre outros. Esta interpretação, segundo o autor, parte de uma análise do entendimento da Educação Física/Esporte como “instituições autônomas e isoladas, ou quando muito, como instituições funcionais, ou seja, como instituições que devem colaborar para a funcionalidade e harmonia da sociedade na qual se inserem”. (JUNIOR, 1998, p.52)

(31)

Esporte passa ser medida compensatória do capital frente às consequências dos avanços, e recebe um caráter “salvacionista” segundo Melo (2005) para as mazelas sociais.

A repercussão negativa das relações capitalistas contemporâneas nas formações sociais nacionais – tais como: aumento da desigualdade social, perdas de direitos trabalhistas, desequilíbrio ambiental, aumento da exploração, aumento da violência no campo e nas cidades, surtos de doenças e principalmente a não garantia de direitos básicos como saúde, transporte, educação e outros – podem ser contrabalanceados a partir da fórmula mágica que o esporte assume na ótica dos Organismos Internacionais, qual seja: segundo a resolução 58/5, o esporte oferece uma oportunidade de inclusão moral e social dos sujeitos marginalizados, rompe com barreiras culturais em relação ao sexo, a deficiência e outras discriminações, através do esporte o sujeito excluído torna-se livre, igual e liberto das mazelas sociais (SOUZA, 2014,p.51).

Este estudo se propôs saber também qual a discussão acerca do esporte em relação às políticas sociais para a juventude em situação de vulnerabilidade. Nesse sentido relacionamos algumas das funções que o esporte tem desempenhado na ótica das pesquisas selecionadas. Umas das características relacionadas ao esporte e que vem sendo muito difundida pela mídia e pelos discursos oficiais hoje é o seu papel de socializador e pacificador universal, no que se refere às relações internacionais (MELO, 2005).

Numa dimensão cultural mais profunda, há especialistas que defendem que os intercâmbios esportivos podem conduzir à ruptura de estereótipos negativos no relacionamento com a diferença e transformar as visões sobre o Outro, redirecionando as disputas do campo de batalha para os locais de competição esportiva. Ademais, eles funcionariam como primeiros passos para o engajamento internacional de Estados isolados, trazendo a promessa de integração e cooperação global (JESUS, 2011,p.418).

Alguns artigos fazem referência a visão cosmopolita e globalizadora do esporte nas busca pela equidade de pensamentos, na harmonia mundial, na socialização de culturas, na quebra de barreiras e na diplomacia entre os povos, propagadas pelos Organismos internacionais.

(32)

A inter-relação entre esporte e política opera em múltiplos níveis de acordo com HOULIHAN (1994), que, ao focar o nível internacional, verifica que o esporte pode funcionar como um veículo para a diplomacia, a disseminação de ideologias, a construção de nações, a ampliação da inserção internacional e a conquista de ganhos comerciais... argumentam que o esporte é o aspecto mais universal da cultura popular, num momento em que atravessa as barreiras linguísticas e ultrapassa as fronteiras nacionais, atraindo espectadores e participantes numa “língua comum” de paixões e desejos... o esporte se coloca como uma das principais frentes do processo de globalização, já que une comunidades dispersas e gera riqueza econômica em culturas organizadas de acordo com a burocratização e a ideologia vigentes (JESUS, 2011,p.420).

Porém, se faz um alerta de que essa é uma forma dos dirigentes maquiarem vantagens econômicas em vantagens esportivas e prevenir o patriotismo seguido de guerras e desacordos por diferentes visões de mundo. Além disso, o esporte continua em seu processo real de exclusão e segregação pela maneira como é conduzido pelo capital (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

Em nível cultural, sinalizo que a transformação de visões depreciativas em relação à diferença é circunscrita e limitada, quando realmente acontece. Ela dificilmente ocorre em múltiplos setores sociais em face da construção social de preconceitos enraizados em relação à diferença e ainda esbarra no interesse de atores políticos em fazer do esporte um instrumento de promoção do seu poder e status (JESUS, 2011,p423).

A visão de um esporte que pode transformar a vida de jovens segregados socialmente é a que direciona os projetos sociais, desenvolvidos por ONG que atribuem ao esporte o papel de agente transformador da realidade dos participantes. Convergindo com algumas das pesquisas encontradas.

É possível afirmar que o problema de investigação dessa pesquisa é originário do contato permanente com as informações divulgadas pelos meios de comunicação de massa4 sobre “as diversas maravilhas” que o esporte pode fazer na vida das crianças e jovens “carentes”; concebendo o mesmo como o novo Mecenas da questão social. Tais informações são apresentadas à população em geral sem a menor preocupação em contextualizar o momento histórico no qual os fenômenos sociais ocorrem, sem aprofundar os comentários sobre o papel das ONGs e a utilização do esporte com fins sociais e, sobretudo, sem mencionar os por quês das crianças e jovens se encontrarem em tal situação de “carência” e empobrecimento (SILVEIRA, 2006,p.115).

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Outra característica encontrada nos artigos lidos propõe o esporte como criador da identidade social e subjetividade dos atores envolvidos; como instrumento de aptidão física e de formador social. Atribuem ao esporte a capacidade de desenvolver uma competição controlada (BRACHT, 1986), o fair play e auto realização. No entanto percebemos nessas concepções uma visão que garante a manutenção da ordem, tantas vezes descrita aqui, pois segundo Coletivo de autores (1992) ao invés de problematizar os conflitos e a solução dos mesmos em sua estrutura, busca mecanismos de controle e compensação das mazelas, direcionando os jovem a se preocupar com sigo mesmo ao invés das questões sociais. Pois na verdade a supressão das contradições só aconteceria tendo em vista uma sociedade que não seja excludente por natureza.

Na perspectiva de ELIAS e DUNNING (1992), o esporte é uma forma de substituir a violência, por uma competição controlada, em que o respeito à vida é um elemento fundamental. A procura do esporte pelos membros das classes populares, como um meio de elevação social, especialmente por aqueles que são residentes em comunidades violentas, pode representar uma forma de auto-realização e de superação da condição de não ter direitos de cidadania plena. (VIANNA, 2011,p294)

Neste texto o autor verifica que em um jogo de futsal, os jovens em conflito com a lei, sabem as regras, porém não as cumprem em favorecimento próprio, a não ser que haja um regulador das punições, a exemplo o arbitro.

Acreditamos que o reconhecimento da noção de regras, dos adolescentes em conflito com a lei, no jogo de futsal, possibilitará práticas educativas mais eficientes na promoção de questionamentos para ajudá-los no desenvolvimento da aquisição de valores direcionados para o respeito mútuo, a cooperação, a solidariedade e a responsabilidade. Assim, a ressocialização e a diminuição da reincidência desses adolescentes, em medida socioeducativa de internação poderão ser favorecidas (KOBAYASHI, 2010,p.196).

A noção de regras desenvolvida pelo esporte é uma das características principais da utilização do mesmo como agente condicionante dos jovens ao modelo de vida opressor do capital (BRACHT, 1986). As pesquisas em geral encontradas se

(34)

referem a esse aspecto de forma superficial, no entanto algumas buscam fundamentação teórica, como por exemplo, a que desenvolve a ideia de Piaget, no que tange a questão da moral, para o trabalho justamente com jovens em conflito com a lei e sua reinserção social, como mostra parte do mesmo; Segundo PIAGET (1994), “a regra coletiva é, inicialmente, algo exterior ao indivíduo e sagrada, depois vai se interiorizando e aparece como livre resultado do consentimento mútuo e da consciência autônoma”. (KOBAYASHI, 2010,p.197).

O artigo mencionado merece nossa atenção, pois, além de ser o único a tratar dos atores sociais elencados como publico alvo desse estudo – os jovens infratores - a pesquisa organiza seus conceitos e metodologias de forma fundamentada, porém seguindo a lógica de mecanização para o capital através da noção de regras no processo de reinserção social.

Regras são importantes porque são partes integrantes da sociedade. O jogo com regras possibilita à criança, desenvolver suas estruturas mentais e socializar-se. Na infância, a moralidade é passiva, porque as crianças obedecem às regras sem discuti-las” (KOBAYASHI, 2010,p.196).

A pesquisa teve como foco os jogos de futsal praticados por adolescentes reclusos pela prática de delitos, e se propôs analisar o quanto esses jovens conhecem e praticam as regras no jogo. Os pesquisadores concluíram que os adolescentes sabem as regras, porém no que se refere a vantagens próprias, os mesmo não fazem questão de cumpri-las, a não ser que haja um mediador regulador de punições, a exemplo o árbitro. “O jogo, principalmente, de regras, pode viabilizar seres mais éticos, conscientes e comprometidos com a cultura e os valores, e assim, favorecer a construção de uma sociedade mais justa e menos excludente”. (KOBAYASHI, 2010, p.196).

Percebemos nessas condutas uma reprodução do modelo de sociedade vigente. O capital faz isso. Existem regras, a exemplo as lei com relação aos direitos sociais, no entanto quando para benefício próprio, o capital transgride a regra quando o mercado dita os investimentos prioritários. No entanto, nessa relação não há arbitro, pois esse papel que era do Estado, na reestruturação produtiva, passou a ser do próprio mercado (MELO, 2005). Mais a frente vamos discorrer sobre a prioridade de investimentos com relação ao direito ao esporte.

(35)

O adolescente conhece regras e normas, porém as desacatam, talvez, por acreditar que não será castigado e nem punido pelo ato infracional cometido, e isto, infelizmente, favorece a prática de outros atos infracionais até que seja descoberto, apreendido e punido. Para PIAGET (1994), o tipo de relação social mantida com o grupo familiar e social, na mais tenra idade, influencia o desenvolvimento moral. Acreditamos que pesquisas direcionadas a analisar o ambiente familiar e social possam articular projetos preventivos com o objetivo de diminuir a incidência de adolescentes na criminalidade e promover, portanto, seu desenvolvimento moral (KOBAYASHI, 2010, p.203).

O artigo mencionado faz uma revisão da obra de Piaget, para a defesa do jogo como método eficaz na recriação da consciência e da moral nos adolescentes em conflito com a lei, discorrendo sobre as regras impostas e as regras criadas.

Sabemos que o estudo da Ética e da Moral possibilita ao educador o planejamento de atividades para estimular o adolescente a rever, através de dilemas, seus valores éticos e morais. Isso refletirá em novas condutas e atitudes direcionadas a melhorar sua interação com o mundo (KOBAYASHI, 2010,p.196).

De acordo com tal hipótese, PIAGET (1994) distingue duas formas diferentes de moral: a heterônoma, baseada na obediência, na coerção e punição e a autônoma, fundamentada na igualdade, no respeito mútuo e na cooperação. Postula que a condição necessária para a autonomia (grifos meus) é a relação mantida com os companheiros (KOBAYASHI, 2010, p.196.).

Percebe-se que o texto defende, por Piaget, que o esporte, por se tratar de um jogo de regras, pode desenvolver nos participantes, neste caso jovens em conflito com a lei, a autonomia e uma melhor interação com o mundo. A questão da moral e da ética constituem os discursos oficiais sobre a influencia do esporte na vida social dos jovens, nesse sentido podemos perceber que o esporte aparece como agentes condicionantes nos indivíduos e não como agente transformador, na medida em que conduz os mesmos a se comportarem bem mediante à situações adversas e não a refletir sobre as reais causas, na luta por transformações (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Além disso, faz proposições com relação a projetos que previnam futuros danos desenvolvendo a moral em crianças desde a tenra idade.

Referências

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