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Apelação Cível n , de Gaspar Relator: Des. Luiz Carlos Freyesleben

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Academic year: 2021

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Apelação Cível n. 2012.045893-0, de Gaspar Relator: Des. Luiz Carlos Freyesleben

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO DE VIDA PRESTAMISTA. VENDA CASADA. SEGURO VINCULADO A CONSÓRCIO DE MOTOCICLETA. MORTE DA SEGURADA. RECUSA DA SEGURADORA AO PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO. ALEGAÇÃO DE PREEXISTÊNCIA DA DOENÇA DA SEGURADA AO CONTRATO DE SEGURO.

MÁ-FÉ DA CONTRATANTE NÃO EVIDENCIADA.

INDENIZAÇÃO DEVIDA. RECURSO DESPROVIDO.

Nos contratos de seguro, presume-se a boa-fé do segurado, cabendo à seguradora provar a omissão dolosa do contratante, caso pretenda arredar a obrigação de indenizar. A exigência de exames médicos, conforme o Superior Tribunal de Justiça, é condição indispensável para eximir a seguradora do pagamento da indenização contratada, se a recusa parte do pressuposto de que o óbito decorreu de doença preexistente inconfessada pelo segurado. Todavia, em não realizando o procedimento supracitado, a seguradora assume todos os riscos do contrato, cabendo-lhe indenizar o beneficiário pelo valor da apólice.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 2012.045893-0, da comarca de Gaspar (1ª Vara), em que é apelante American Life Companhia de Seguros, e são apelados Adelino Fernando Waltrich e outros:

A Segunda Câmara de Direito Civil decidiu, por votação unânime, conhecer do recurso e negar-lhe provimento. Custas legais.

Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Des. Trindade dos Santos (Presidente) e João Batista Góes Ulysséa.

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Florianópolis, 2 de agosto de 2012.

Luiz Carlos Freyesleben RELATOR

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RELATÓRIO

American Life Companhia de Seguros apelou de sentença da doutora Juíza de Direito da 1ª Vara da comarca de Gaspar que, em ação de cobrança, movida contra ela por Adelino Fernando Waltrich, Tatiane Regina Waldrich, Christiane Jacqueline Waldrich e Michele Cecília Waldrich, julgou procedente o pedido, condenando-a ao pagamento do valor da indenização previsto na apólice.

Para isso, sustentou não dever a indenização reclamada, mormente porque a esposa e mãe dos recorridos contratou seguro de vida em grupo na modalidade prestamista e, ao preencher a proposta de seguro, assinou declaração de que gozava de boa saúde, fato a dispensar exames médicos prévios, mormente porque o contrato de seguro rege-se pelos princípios da boa-fé contratual e da veracidade das declarações. Alegou mais: que está comprovada a má-fé da segurada, pois tinha inteira ciência da preexistência de sua doença ao assinar o contrato. Por isso, requereu a reforma do julgado, visando à improcedência do pedido.

Os autores contra-arrazoaram, requerendo manutenção da sentença. Este é o relatório.

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VOTO

Trata-se de apelação cível interposta por American Life Companhia de Seguros contra sentença da doutora Juíza de Direito da 1ª Vara da comarca de Gaspar que, em ação de cobrança, movida contra ela por Adelino Fernando Waltrich, Tatiane Regina Waldrich, Christiane Jacqueline Waldrich e Michele Cecília Waldrich, julgou o pedido procedente.

A seguradora visa à reforma da sentença que a condenou a indenizar os beneficiários da falecida, na forma das cláusulas inseridas na apólice do seguro de vida em grupo prestamista, celebrado pela esposa e mãe, respectivamente, dos autores, em 11-1-2007 (fl. 19), falecida em 26-11-2008 (fl. 8).

A empresa apelante alega que a segurada agiu de má-fé, quando da facção do contrato de seguro, ao omitir a preexistência de insuficiência renal crônica. Disse que o pacto decorreu de adesão a plano de consórcio de uma motocicleta, eximindo-a de obrigação derivada do contrato.

Destaco, prima facie, que a relação jurídica sob enfoque submete-se às regras do Código de Defesa do Consumidor, conforme o artigo 3º, § 2º, cuja dicção é esta:

Art. 3°. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 2°. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Logo, examino a demanda, à luz do Código Civil e também das normas e princípios esculpidos no Código de Defesa do Consumidor, pois, não será possível extrair o verdadeiro significado do artigo 757 e seguintes do Código Civil, se não forem interpretados em conjunto com as disposições da legislação consumerista.

Na espécie, Tusnelda Ranthun (esposa e mãe dos autores) contratou, em 11-1-2007, com a empresa Promenac, plano consorcial de uma motocicleta Honda Biz, com o prazo de 72 meses, devendo pagar prestações mensais da ordem de R$ 112,00. De conseguinte, ao ingressar no consóricio, foi compelida a aderir a contrato de seguro de vida prestamista, cuja apólice previa cobertura, entre outras, para o caso de morte natural (fl. 64).

Em 26-11-2008, a segurada faleceu, em razão de choque cardiogênico, arritimia cardíaca e insuficiência cardíaca congestiva, contribuindo para o evento o fato de a segurada ser portadora de insuficiência renal crônica (fl. 8). Efetivamente, não se pode negar que a segurada sabia ser portadora de insuficiência renal, mesmo ao assinar o contrato, conforme comprova o relatório assinado pelo médico assistente Dr. Márcio Azevedo Moraes (fl. 24). Entretanto, nada obstante a preexistência da moléstia renal, o contrato feito entre ambas as partes reveste características de verdadeiro contrato de adesão, prática essa complemente contrária às normas consumeristas, usualmente chamada de venda casada, porquanto condicione o

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consumidor a adquirir serviço inserido no que, efetivamente, almejava contratar (CDC, art. 39, I). Na espécie, a contratante, seguramente, foi compelida a aderir ao seguro como forma de garantir o pagamento das prestações a que se obrigou, sob pena de negativa do empréstimo pretendido.

Situações deste jaez encontram precedentes neste Tribunal de Justiça,

verbis:

A cláusula contratual que obriga a consumidora a contratar seguro de vida para poder ingressar em grupo de consórcio, sem que lhe seja dada a oportunidade de escolher a seguradora ou discutir as condições do contrato de seguro, configura a prática abusiva vedada pelo Código de Defesa do Consumidor (Ap. Cív. n. 2007.015164-5, de Chapecó, rel. Des. Henry Petry Junior, j. 4-12-2007).

Doutra parte, constato que a causa principal da morte da segurada foi a ocorrência de choque cardiogênico, conclusão esta constante da declaração firmada pelo médico signatário do atesta de óbito da segurada, onde consta que a insuficiência renal crônica foi uma concausa, ou causa secundária, coadjuvante apenas do desfecho fatal (fl. 24).

Destarte, parece-me prudente dizer que a morte da segurada não decorreu, exclusivamente, de sua preexistente insuficiência renal, como pretende fazer crer a seguradora, razão por que os beneficiários da segurada deverão ser indenizados. Além disso, não parece ter havido omissão contratual capaz de revestir má-fé da segurada, pois, se omissão houve, esta foi da seguradora, por não ter exigido exames médicos da segurada. Sem opor obstáculos e com toda a pressa recebeu os valores correspondentes ao prêmio do seguro e, ao depois, recusou-se a pagar a indenização impregnada do risco do contrato. E quando isso acontece não pode a seguradora negar a indenização. Aliás, esta Câmara vem decidindo:

AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE SEGURO DE VIDA EM GRUPO PRESTAMISTA. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA DIANTE DO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE AFASTADA. SEGURO DE VIDA VINCULADO A PLANO DE CONSÓRCIO DE VEÍCULO. FALECIMENTO DO SEGURADO. NEGATIVA DE COBERTURA NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO POR PARTE DA SEGURADORA. ALEGAÇÃO DE DOENÇA PREEXISTENTE À ÉPOCA DA ASSINATURA DO PACTO. EXAME PRÉVIO NÃO EXIGIDO NO ATO DA CONTRATAÇÃO. SEGURADO QUE NÃO DECLAROU EXPRESSAMENTE SEU ESTADO DE SAÚDE. CONTRATO DE ADESÃO COM CLÁUSULA AUTOMÁTICA DE DECLAÇÃO DE BOA SAÚDE. VIOLAÇÃO AOS DIREITOS DE INFORMAÇÃO E DE ESTIPULAÇÃO DE CLÁUSULAS LIMITATIVAS COM DESTAQUE E CLAREZA.

MÁ-FÉ DO SEGURADO NÃO CONFIGURADA (...). RECURSOS DAS

SEGURADORAS DESPROVIDOS (Ap. Cív. n. 2008.040366-4, de Balneário Camboriú, rel. Des. Nelson Schaefer Martins, j. 28-3-2012).

Neste mesmo sentido temos muitos outros julgados nesta Corte:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA DE CONTRATO DE SEGURO DE VIDA PRESTAMISTA. INCIDÊNCIA DO CÓDIGO CONSUMERISTA. INDENIZAÇÃO POR MORTE. ALEGAÇÃO DE DOENÇA PREEXISTENTE. EXAMES NÃO EXIGIDOS NO MOMENTO DA CONTRATAÇÃO. AUSÊNCIA DE PROVA DE QUE O SEGURADO TENHA PREENCHIDO O CARTÃO PROPOSTA E OMITIDO INFORMAÇÕES. MÁ-FÉ NÃO EVIDENCIADA. DEVER DE INDENIZAR.

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PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.

Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor às relações encetadas entre segurados e seguradoras.

A falta de exigência de exames médicos do segurado no momento da contratação do seguro de vida, bem como a ausência de prova de que o segurado tenha omitido informações quando do preenchimento do cartão proposta, impedem que a seguradora obste o pagamento indenizatório arrimado exclusivamente em doença preexistente (Ap. Cív. n. 2012.010828-6, de São João Batista, rel. Des. Fernando Carioni, j. 2-5-2012).

DIREITO OBRIGACIONAL. SEGURO DE VIDA PRESTAMISTA. VENDA CASADA A CONTRATO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO POR EXIGÊNCIA DA INSTITUIÇÃO BANCÁRIA. OCORRÊNCIA DO SINISTRO CONTRATADO (MORTE). NEGATIVA DE PAGAMENTO DA COBERTURA SECURITÁRIA. PREEXISTÊNCIA DE MOLÉSTIA À CELEBRAÇÃO DO CONTRATO. MÁ-FÉ DO SEGURADO NÃO

COMPROVADA. EXAMES MÉDICOS PRÉVIOS NÃO REALIZADOS.

RECEBIMENTO, PELA SEGURADORA, NO INTERREGNO, DOS PRÊMIOS

DECORRENTES DO SEGURO AVENÇADO. APELO E AGRAVO RETIDO

DESPROVIDOS.

1. Considera-se prática contrária à legislação consumerista aquela que condiciona o contratante a aderir a seguro de vida prestamista como forma de concessão de empréstimo consignado.

2. Enquanto a boa-fé se presume, a má-fé do segurado no preenchimento de proposta de seguro de vida há de ser cabalmente comprovada pela seguradora, a qual deve demonstrar, estreme de dúvida, que a omissão sobre doença preexistente do interessado foi intencional e com o escopo de lesá-la (Ap. Cív. n. 2011.065702-3, da Capital, rel. Des. Eládio Torret Rocha, j. 30-3-2012).

Defronte de todo o exposto, afigura-se evidente o dever da seguradora de diligenciar no sentido de inteirar-se a respeito do estado de saúde do contratante, pois a exigência de exames médicos é condição tida como fundamental para eximi-la do pagamento da indenização securitária, em caso de morte decorrente de doença preexistente. Se negligenciou o proceder, assumiu todos os riscos derivados do contrato, até porque, nos contratos de seguro de vida presume-se a boa-fé do segurado, cabendo à seguradora o ônus da prova acerca de eventual omissão dolosa por parte do consumidor segurado. Ademais, à luz das normas protetoras do Códido de Defesa do Consumidor, penso que toda e qualquer limitação de direitos há de ser examinada de modo restritivo, com vistas à preservação dos interesses do hipossuficiente. Em havendo dúvida, ainda que mínima, deverá ela ser interpretada em favor do consumidor. Diante disso, não é possível afirmar que a segurada omitiu, intencionalmente, informações a respeito de seu estado de saúde e, estando afastada a má-fé da contratante, não pode a seguradora eximir-se de sua obrigação de indenizar.

Assim, insisto, correta está a sentença increpada ao condenar a seguradora a indenizar os beneficiários do seguro, razão por que conheço do recurso e o desprovejo para confirmar, em seu inteiro teor, a sentença increpada.

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