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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE NÚCLEO DE DESIGN MARIANY PEREIRA DE OLIVEIRA

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE

NÚCLEO DE DESIGN

MARIANY PEREIRA DE OLIVEIRA

ANÁLISE SEMIOLÓGICA DA MODA MASCULINA DA CHANEL:

PRODUZINDO PARA UM NOVO DÂNDI?

Caruaru

2016

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NÚCLEO DE DESIGN

MARIANY PEREIRA DE OLIVEIRA

ANÁLISE SEMIOLÓGICA DA MODA MASCULINA DA CHANEL:

PRODUZINDO PARA UM NOVO DÂNDI?

Monografia apresentado à disciplina de Projeto de Graduação em Design 2 – como requisito parcial à conclusão do Curso de

Design da Universidade Federal de

Pernambuco – Campus Acadêmico do Agreste.

Orientadora: Andrea Camargo

Caruaru

2016

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Catalogação na fonte:

Bibliotecária – Simone Xavier CRB/4 - 1242

O48a Oliveira, Mariany Pereira de.

Análise semiológica da moda masculina da Chanel: produzindo para um novo Dândi?. / Mariany Pereira de Oliveira. – 2016.

56f. ; 30 cm.

Orientadora: Andrea Barbosa Camargo

Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de Pernambuco, CAA, Design, 2016.

Inclui Referências.

1. Roupas masculinas. 2. Dandismo. 3. Chanel, Coco, 1883 -1971. 4. Imagem. I. Camargo, Andrea Barbosa (Orientadora). II. Título.

740 CDD (23. ed.) UFPE (CAA 2016-188)

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ANÁLISE SEMIOLÓGICA DA MODA MASCULINA DA CHANEL:

PRODUZINDO PARA UM NOVO DÂNDI?

A comissão examinadora, composta pelos membros abaixo, sob a presidência do primeiro, considera a aluna MARIANY PEREIRA DE OLIVEIRA APROVADA.

Caruaru, 19 de Julho de 2016

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________ Professora Andréa Barbosa Camargo

Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste Orientadora

________________________________________ Professora Flávia Zimmerle de Nóbrega Costa

Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste Banca

________________________________________ Professora Maria Iracema Tatiana Ribeiro Leite

Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico do Agreste Banca

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A Deus, pela força que me foi dada durante essa caminhada e por não me deixar desistir, por ser meu socorro bem presente em todos os momentos da minha vida.

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Primeiramente agradeço a Deus, por ser sempre onipresente em minha vida, por segurar minhas mãos quando precisei, e por me dar forças para chegar até aqui e me dar determinação para alcançar meus sonhos.

Em seguida agradeço à minha mãe, Maria das Dores Pereira de Oliveira, por seu apoio e seu amor, por se esforçar sempre para tentar me dar o melhor e por priorizar minha educação diante de tantas outras coisas, e ao meu Pai, Maurilio Barbosa de Oliveira “in memorian”, que tenho certeza que estaria orgulhoso de ver aonde eu cheguei, e aonde ainda vou chegar.

A minha querida professora e orientadora Andrea Camargo, por aceitar me ajudar e me dar suporte no pouco tempo que tivemos, foi um prazer tê-la como minha orientadora, obrigada por todo incentivo, paciência e assistência no geral. A todos os professores do curso de Design que tive o prazer de conhecer e estudar, obrigada por todo conhecimento passado, obrigada por fazerem parte da construção da minha carreira profissional e também do meu crescimento como pessoa, obrigada também pelas boas amizades construídas nesse caminho, sempre lembrarei com carinho de vocês.

Um agradecimento em especial ao meu noivo, Thiago César da Silva Bezerra, que sempre esteve ao meu lado desde o dia que nos conhecemos, que sempre me apoiou durante esses anos, me ajudou e me deu forças para continuar, obrigada por todos os puxões de orelha para eu não sair do meu foco, sei que sem sua ajuda teria sido bem mais difícil, você é muito importante para mim.

Por ultimo e não menos importante, gostaria de agradecer aos meus queridos amigos, as minhas melhores amigas que estavam comigo na hora do resultado do vestibular, e permaneceram ao meu lado nessa jornada, algumas de infância, outras desde o colegial, mas sei que permaneceremos assim, umas ao lado das outras para o que precisarmos, amo vocês, minhas. Aos poucos e bons amigos que a universidade me presenteou, passamos por mais de cinco anos de convivência, de aperreios, trabalhos, risadas, viagens, R‘s e N‘s design, novas e boas experiências e muita cumplicidade, vocês estarão sempre em meu coração.

E a todos em modo geral que participaram de forma direta e indireta da minha carreira acadêmica e vida pessoal, vocês contribuíram para eu ser quem sou hoje, muito obrigada!

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“Se você nasceu sem asas, não faça nada para impedi-las de crescer.”

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A vaidade por trás do que vestir não é mais algo que pertence somente às mulheres, vestir-se para chamar atenção, para estar bem consigo mesmo, ou até para receber elogios são pontos que interferem também nas escolhas do homem contemporâneo. De acordo com a história, a roupa masculina vem evoluindo desde os primórdios, desde a invenção da primeira indumentária. Inicialmente, vestir-se era apenas uma questão de necessidade, o homem vestiu-se inicialmente para proteger seu corpo das condições climáticas, depois por pudor, e assim foi evoluindo com o passar do tempo, seja por questões sociais, como diferenciação de classes, de poder, questões como virilidade e masculinidade e também por vaidade. Em meio

há tantos séculos, o universo da moda foi focadonas mulheres, mantendo o homem atrelado

ao cotidiano, algo que atendia apenas as suas necessidades básicas, e não ao que possivelmente eles desejavam Essa história começou a mudar em meados do século XIX na Inglaterra, quando surgiu um novo grupo, ou uma nova ética como dizia Baudelaire (2006), que já não estava mais acomodado ao básico, ao que lhes era ofertado, e desejavam destacar-se de todos. Eram homens com poder aquisitivo, que ainda tinham influência, mas queriam destacar-se da classe média em ascensão e também dos mais poderosos, o período era de interseção entre a democracia e a aristocracia, e as roupas na época não podiam sofrer mudanças que atentassem aos princípios democráticos da ética. Foi aí que surgiu essa nova estética do detalhe, onde surgiu o dândi. Através de uma análise semiótica de imagens feitas a partir de looks atuais da grife de moda Chanel, percebeu-se que embora passado mais de um século, a estética do dândi retornou com a virada do século XX para o século XXI, os homens voltaram a querer se diferenciar, a impor suas escolhas no modo de vestir, eles estão vinculados à moda, abertos a novas tendências e experiências. Por isso, a escolha da marca como objeto de estudo, pois acreditamos que o homem que escolhe vestir Chanel para demonstrar seu poder e se destacar de todas as classes, representa o novo dândi do século XXI.

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Vanity behind wearing is no longer something that belongs only to women. Get dress to attract attention, to be good about yourself, or even to get compliments are points that also interfere in the choices of the contemporary man. According to history, menswear has been evolving since the beginning, since the invention of the first clothing. Firstly get dress was only a matter of necessity, the man got dressed initially to protect his body from weather conditions, then by modesty, and thus evolved over time, either for social issues such as class differentiation, power, issues such as virility and masculinity and also vanity. For so many centuries, the fashion world used to focus on women, associating the man with the everyday, something only to meet their basic needs, and not to what they possibly have desired. This history started to change in the middle of the nineteenth century in England when there was a new group or a new ethics as saying Baudelaire (2006), which no longer was accommodated to basics, to what was offered to them, and wanted to stand out from everyone. They were men with buying power, who still had influence, but wanted to stand out from the rising middle class and also from the most powerful people. The period was of intersection between democracy and aristocracy, and the clothes at the time could not change if it infringed democratic principles of ethics. Then it happened this new aesthetic detail, which came the dandy. Through a semiotic analysis of images taken from current looks from Chanel fashion designer, it was been realized that even though over than a century have passed, the dandy aesthetics have returned in the turn of the twentieth century to the twenty-first century. Men, once again, have wanted to differentiate, to impose their dressing choices, they are bound to fashion, open to new trends and experiences. Therefore, the choice of the brand as an object of study, because we believe that the man who chooses to wear Chanel to demonstrate his power and stand out from all classes, represents the twenty-first century young dandy.

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Imagem 2.1 Kaunakés 16

Imagem 2.2 Chanti e Kalasíris 17

Imagem 2.3 Peplos, Quíton, Himation 18

Imagem 2.4 Toga Romana 18

Imagem 2.5 Gibão 19

Imagem 2.6 O Rufo 21

Imagem 2.7 Culotte, Colete e Casaca 22

Imagem 2.8 Dândi Século XIX 27

Imagem 2.9 George Brummel 27

Imagem 2.10 Chanel nos Hipódromos 31

Imagem 2.11 Chanel Banhista em 1914 32

Imagem 2.12 Chanel Nº 5 33

Imagem 2.13 Chanel Nº 22 33

Imagem 2.14 Chanel de Calça e paletó 34

Imagem 2.15 Christian Bérad, Chanel e Boris Kockno 34

Imagem 2.16 Coleção Jóias de Diamante 35

Imagem 2.17 Karl Lagerfeld 37

Imagem 2.18 Trench Coat Masculino 40

Imagem 4.1 Peça da coleção de inverno 2007 45

Imagem 4.2 Peça da coleção de verão 2008 46

Imagem 4.3 Peça da coleção pré-fall 2011 47

Imagem 4.4 Peça da coleção de inverno 2016 48

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1. INTRODUÇÃO ... 12 1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA ... 14 1.1.1 Objetivo Geral ... 14 1.1.2 Objetivo Específico ... 14 1.2 JUSTIFICATIVA ... 15 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 16

2.1 O HOMEM, A MODA E A EVOLUÇÃO DA INDUMENTÁRIA ... 16

2.2 O DANDISMO ... 24

2.3 CHANEL: VIDA, CARREIRA E ESTILO ... 29

2.4 A MODA MASCULINA CONTEMPORÂNEA ... 38

3. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS ... 42

3.1 CLASSIFICAÇÕES DA PESQUISA ... 42

3.2 METODOLOGIA DA IMAGEM ... 42

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 45

4.1 ANÁLISES DE DESFILES CHANEL ... 45

4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 50

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 52

5.1 LIMITES DA PESQUISA ... 53

5.2 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ... 53

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1. INTRODUÇÃO

Inicialmente, o vestuário era apenas uma questão de necessidade, proteger o corpo das condições climáticas e posteriormente por uma questão de pudor. Com a evolução das espécies as roupas começaram a ganhar outros significados, como adorno e diferenciação social. Durante muito tempo homens e mulheres se vestiam com essa mesma finalidade, e ao passar dos séculos suas atividades começaram a mudar e com isso as necessidades de vestimenta diferentes surgiram. Questões como virilidade e fertilidade eram pontos marcantes na diferenciação de homens e mulheres, com a adaptação ao solo, o homem inseriu-se na agricultura e pecuária, sendo suas roupas melhoradas para suprir as novas necessidades.

No referencial teórico, na sessão 2.1 será abordado o contexto histórico da evolução da indumentária, focando na indumentária masculina, partindo da pré-história até o final do século XX, mostrando acontecimentos marcantes que foram fundamentais para a formação do estilo masculino, que é proposto hoje.

Em meio a tantas mudanças nas vestimentas, ao surgimento de classes sociais, novos pensamentos e ideologias, surgiu o dandismo, para Baudelaire (2006) uma ética, e para Barthes (2005) era a junção de ética e técnica. Abordado na sessão 2.2, o dandismo foi um marco muito importante para a moda masculina, muitos homens já não estavam mais acomodados ao vestuário geral, eles sentiam a necessidade de se diferenciarem da massa, e fizeram isso com muita técnica através dos detalhes que eles davam as suas roupas. O dandismo deixou referências marcantes para a moda masculina, o problema é que se encontram poucos estudos que abordem o tema ligando a moda masculina atual, estudos que auxiliem na compreensão de pesquisadores ou até para que se possam desenvolver novos estudos a respeito. É interessante compreender como a elegância masculina hoje pode ser mais bem compreendida a partir do dandismo e de suas características.

A sessão 2.3 será dedicada para falar sobre a marca de moda francesa Chanel. Nesta sessão serão abordados assuntos como a vida da criadora da marca, Gabrielle Chanel, como sua história influenciou na formação do seu estilo, o inicio de sua carreira, a criação da até então renomada Maison Chanel e como esse estilo se perpetua até hoje. A última sessão do referencial teórico, trata da moda masculina do século XXI, quais as transformações sociais ocorridas, o que levou o homem a essa definição de estilo, e outras marcas atuais que ajudam na construção dessa identidade.

Diante dos problemas encontrados, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar se e como as características do dandismo estão presentes nas coleções masculinas da

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marca Chanel. Com os objetivos específicos pretende levantar dados sobre a evolução da indumentária masculina e compreender a moda masculina atual, como também entender as características do Dandismo e analisar as peças masculinas da grife Chanel.

Este estudo torna-se importante, pois busca compreender como um período histórico depois de tanto tempo, influencia no comportamento de outra sociedade completamente distinta. Por muito tempo, o foco de estudos e análises foram sobre a moda feminina, um campo cheio de detalhes de cada época, já na moda masculina não encontram-se tantos dados relacionados, poucas pesquisas foram feitas para que dessem continuidade a novos estudos. O homem está cada vez mais cuidadoso com sua aparência, com seu vestuário, ligado a detalhes e consumindo marcas que demonstrem sua personalidade, bons exemplos de homens modernos que valorizam a aparência são os jogadores de futebol, que tem se tornado referencia na área. Conhecendo nosso público alvo, podemos descobrir como características de uma sociedade passada podem influenciar em seu comportamento.

A metodologia adotada neste trabalho será qualitativa, de método histórico, pois inicialmente através da coleta de dados e da análise dos documentos sobre a evolução da indumentária masculina, iremos comparar os elementos que temos hoje com suas origens históricas, sendo esse principalmente o dandismo. Após a coleta, a análise e a interpretação dos dados, iremos transformar os dados em informações, e partir para a análise denotativa e conotativa, proposta por Roland Barthes descrito na obra de Martine Joly (2009) de imagens de moda masculina, focando principalmente no estilo do homem Chanel, analisando suas características detalhadamente e comparando as características do dandismo, para cumprir os objetivos da pesquisa, detectando se há semelhanças entre ambas e qual tipo de influencia a moda atual sofre do dandismo que aconteceu em meados do século XIX.

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1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA

Nesta seção, são apresentados os objetivos, geral e específicos, do estudo.

1.1.1 Objetivo Geral

Analisar se e como as características do dandismo estão presentes nas coleções masculinas da marca Chanel.

1.1.2 Objetivo Específico

1.

Levantar dados sobre a evolução da indumentária masculina.

2. Compreender a moda masculina atual

3. Entender as características do dandismo.

4. Analisar as peças masculinas na grife Chanel.

Abaixo, apresenta-se a justificativa com foco na importância do estudo, bem como a análise do atual cenário em que o tema está inserido.

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1.2 JUSTIFICATIVA

O estudo é motivado pelo desejo de compreender como um período histórico pode continuar influenciando a moda do século XXI, compreendendo o comportamento e os desejos da sociedade masculina da atualidade. Há tempo, existe um grande foco de estudo e desenvolvimento para a moda feminina, mas não é por isso que deve ser deixada de lado a compreensão do universo masculino. Os homens estão cada vez mais, saindo do básico e do necessário, se importando mais com aparência e com tendências, eles também querem estar na moda, para muitos, a preocupação com o visual é grande, acreditam que a mensagem transmitida pela roupa de primeira impressão pode ser associada a personalidade, sendo assim uma forma de comunicação verbal, a moda masculina está sim em processo de formação, crescimento e consolidação, e os homens estão acompanhando e entendendo cada vez mais.

Embora muitos desconheçam, esse desejo por elegância da parte dos homens, vem de muito tempo atrás, em especial de um período histórico que obteve muitas mudanças no modo de vida do homem, o dandismo. Estudando o dandismo e o século XXI, podemos compreender as mudanças e influências que houveram na elegância masculina, inserindo novos conhecimentos para auxiliar no desenvolvimento de indumentárias e suprir os desejos e necessidades desse grupo.

A excentricidade do homem contemporâneo, sua preocupação com a boa aparência, e esse estilo de vida cheio de atitude, vem sido trabalhado por grandes marcas, como a Chanel, que tem o seu estilista Karl Lagerfeld como o maior exemplo dândi da contemporaneidade. A escolha da marca Chanel existiu pela curiosidade do fato de que, diante de tantas grandes marcas já serem focadas no público masculino, a Chanel em seus 100 anos de história sempre sob o foco no feminino, elabora também peças masculinas, embora em quantidade reduzida. Então, indagamos: por que diante de tantas opções, um homem escolheria usar Chanel? Acreditamos que para se diferenciar da massa, assim como o dândi do século 19, buscava essa diferenciação através de detalhes. A partir desse estudo, buscou-se mostrar como as referências de um período histórico antigo vêm influenciando na pós-modernidade.

Apresenta-se a seguir, a fundamentação teórica do estudo, trazendo o histórico e os conceitos de vários autores que já discorreram sobre os temas.

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2.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1

O HOMEM, A MODA E A EVOLUÇÃO DA INDUMENTÁRIA

Segundo a Bíblia Sagrada, no livro de Gênesis do Antigo Testamento, capítulo 3 versículo 7, o início da evolução da vestimenta humana foi marcada pelo uso de folhas de figueira; e depois pelo uso de peles de animais. Cobrir o corpo era apenas uma necessidade, por conta do pudor e para protegê-lo, aos poucos começou a ser usado também em caráter de adorno, para poder destacar-se dos demais.

Com o passar do tempo, o ser humano começou a adaptar-se ao solo, e deixou de ser apenas caçador, dominando outras atividades como criação de gados e a agricultura, o que beneficiou suas vestimentas, pois começaram a explorar fibras vegetais, como linho e algodão, inicialmente de maneira artesanal, mas que logo foi sendo aprimorada. Segundo Braga (2009), na antiguidade Oriental (3.500 a.C), na região da Mesopotâmia, os sumerianos usavam kaunakés (imagem 2.1), que eram saiotes caracterizados pelos tufos de lã visíveis na peça, de pele de animal. Nessa época, eles já dominavam a tecelagem, mas ainda tinham características primitivas de se vestirem. Os homens e mulheres dessa época costumavam ter cabelos grandes e usavam acessórios iguais, como o brinco, a partir daí que a vestimenta do homem começou a diferenciar-se das mulheres, pois os homens usavam seus kaunakés um pouco mais curtos, deixando a panturrilha e o torso nu, enquanto as mulheres usavam trajes mais longos e cobriam o colo.

Imagem 2.1 - Kaunakés

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Durante cerca de 3.000 anos, não houve muitas mudanças significativas na indumentária egípcia, essas mudanças só tiveram significados após as invasões nos seus territórios. A vestimenta típica egípcia era o chanti (imagem 2.2), uma tanga masculina, e o kalasíris (imagem 2.2), uma túnica longa, usada por ambos.

Imagem 2.2 - Chanti e Kalasíris

Fonte: Braga (2009)

Na Antiguidade Clássica, podemos entender através do que Braga (2009) explica que, em Creta nota-se uma diferença considerável entre as roupas masculinas e femininas. Os homens usavam uma espécie de tanga com um cinto e o torso nu, e as mulheres usavam saias com aventais, e na parte superior uma blusa costurada nos ombros, de mangas curtas, mostrando os seios, como sinal de fertilidade.

Na Grécia, a principal peça para ambos, era o quíton (imagem 2.3), uma espécie de túnica de linho. Para os homens, longos em momentos cerimoniosos e curtos no dia a dia, e para as mulheres, sempre longo. Além do quíton, os gregos também usavam outros trajes característicos, eles usavam por cima do quíton a clâmide, que era uma capa de lã mais curta, e o himation (imagem 2.3), que era uma roupa civil, especialmente usada em dias frios. Para as mulheres, era usado o peplo (imagem 2.3), um manto que chegava até os pés.

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Imagem 2.3 - Peplos, Quíton, Himation

Fonte: http://www.glossariofashion.com.br/ (2016)

Em Roma, Köhler (2001) diz que por menor que seja o conhecimento sobre os trajes primitivos, a indumentária característica foi a toga (imagem 2.4), muitas vezes usada apenas elas, outras vezes usada por cima das túnicas. Braga (2009) explica que assim como os gregos receberam influências cretenses, os romanos receberam influencias etruscas. A toga tinha características do himation grego também, mas podemos dizer que foi uma evolução da tabena etrusca.

Imagem 2.4 - Toga Romana

Fonte: Braga, 2009.

Segundo Köhler (2001), os trajes da Idade Média foram uma mistura das características da moda nativa com as do final da Antiguidade.

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Com a queda do Império Romano e o fim da Idade Antiga, Braga (2009) diz que o início da Idade Média foi marcado com mudanças nas indumentárias femininas e masculinas. As túnicas ainda continuavam mais curtas para os homens, além de muito largas e de mangas longas até os punhos, e mais longas para as mulheres, mas foi nesse período, através dos bárbaros, que os homens começaram a usar calças e calções por baixo das túnicas, por necessidade de proteção da pele, já que por suas condições de nômades, se locomoviam sobre os animais, e precisavam se proteger do atrito da pele e do frio.

Na Europa Feudal, que ainda estava com poucos recursos econômicos, os homens desse período costumavam usar a gonelle, que era um tipo de túnica, ela ia até a panturrilha para quem tinha mais dinheiro, e para os menos favorecidos, não chegavam nem aos joelhos, pois como disse Braga (2009), a quantidade de tecidos para elaborá-las, é uma outra forma reguladora de diferenças sociais. Por baixo das gonelles, usavam calções chamados braies, que eram usados com meias.

Com o passar do tempo, da Alta Idade Média, para a Baixa Idade Média, houve um restabelecimento da economia, e em meio às cruzadas e na efervescência da religião cristã, surge o gótico. Segundo Braga (2009), se até a Alta Idade Média, as roupas de ambos os sexos pouco se diferenciava, na Baixa Idade Média ela começou a ganhar distinção, as roupas masculinas começaram a encurtar, ao passo que as femininas permaneciam longas. Os homens usavam meias, cortadas no formato da própria perna, muitas vezes coloridas, e usavam os braies, presos à cintura. As túnicas deles foram encurtando-se, transformando-se no que conhecemos como o gibão (imagem 2.5), e os calções foram diminuindo, tanto que as meias justas, começaram a ficar à mostra.

Imagem 2.5 - Gibão

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Outro aspecto que marcou a moda masculina foi o uso de sapatos com bicos pontudos, que era um sinal de grau de nobreza, quanto maior o título, maior podia ser os bicos pontiagudos.

Segundo Braga (2009), essa passagem do final da Idade Média para a Idade Moderna

ou Renascimento, foi um marco importante para a indumentária, pois foi onde surgiu o conceito de moda. Os nobres da época começaram a se incomodar com as cópias que eram feitas de suas roupas, por classes mais baixas, como os burgueses. Com as cruzadas, eles trouxeram mercadorias diversas, e ficaram endinheirados a ponto de terem condições financeiras para copiar tudo que a corte usava. A corte que não gostou disso, toda vez que acontecia, eles mudavam, criando assim um ciclo de criação e cópia.

―Surgiu como um diferenciador social, diferenciador de sexos, pelo aspecto de valorização da individualidade e com o caráter de sazonalidade, ou seja, um gosto durava enquanto não era copiado, pois, se assim acontecesse, novas propostas suplantariam as, então vigentes.‖ (BRAGA, 2009, p.40 e 41).

Segundo Braga (2009), a Idade Moderna, surgiu na Península Itálica, no período denominado Renascimento, século XV, onde houve muitas mudanças, como a expansão do comércio e da indústria, e o catolicismo que foi abalado pelo protestantismo. Foi nessa época que a indústria têxtil deu um salto no desenvolvimento, e cidades como Milão, Veneza, Florença, entre outras, ficaram responsáveis pela produção de tecidos nobres, como brocados, veludos, sedas, refletindo assim, no requinte das roupas. Os homens da Idade Moderna usavam o gibão, esta foi à roupa característica dessa época, ele podia ter ou não ter mangas, normalmente era acolchoado, abotoado à frente e usavam uma basque sobre o calção. Ainda sobre o gibão, eles usavam a jacket ou uma túnica aberta à frente.

Na parte inferior masculina, eles usavam uma espécie de calção bufante, que eram mais longos, mas que com o tempo foram ficando muito curtos. Sobre o seu órgão sexual, usavam um suporte, que tinha mais função de adorno do que de proteção, e servia também, para unir uma perna da calça à outra, Braga (2009), explica que essa peça tinha um efeito bem erótico, conhecida em inglês como coldpiece, em francês como braquette e em português como porta pênis. Esse detalhe exibia toda a masculinidade e virilidade do homem. Nas pernas eles usavam meias, muitas vezes coloridas, que servia como um código, para identificar seus clãs, essa moda colorida foi bem chamativa, e mais efusiva para os homens do que as mulheres.

Foi no renascimento que também surgiu o rufo (imagem 2.6), um tipo de gola, em tecido fino, que se assemelhava a uma roda grande, que ficava sobre os decotes acentuados.

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Os rufos cresceram por tamanhos inimagináveis, o que era também sinônimo de prestígio social.

Imagem 2.6 - O Rufo

Fonte: http://modahistorica.blogspot.com.br/ (2016)

O rufo foi usado tanto por homens, quanto por mulheres. Para os sapatos masculinos, surgiram os bicos achatados e largos, que eram bem mais confortáveis que os pontiagudos do último período.

O período barroco ocorreu principalmente na Europa do século XVIII, e foi caracterizado pelo excesso visual nos trajes masculinos e femininos. Nesse período, a renda estava em evidência nos punhos e golas de ambos os sexos e foi um marco desse estilo. Como Braga (2009) afirma, era muito comum para o gênero masculino, o uso de botas adornadas com renda, que no inicio serviam apenas para montaria, mas posteriormente passou a ser reconhecido como status de moda, na época da França dos mosqueteiros e na Inglaterra dos cavaleiros.

Enquanto que para as mulheres, segundo Braga (2009) com exceção da Espanha, o vertugado foi deixado de lado, sendo substituído por uma sobreposição de anáguas sob uma saia mais arredondada.

Na década de 40 do século XVII, os cabelos longos naturais masculinos entraram de vez na moda, levando os homens que não tinham essa vasta cabeleira a fazer uso de perucas, tornando-as um hábito de moda. De acordo com Braga (2009) a peruca tornou-se tão importante para a elegância masculina que o Rei Sol, Luís XIV, concedeu licença em 1655 a 48 fabricantes de peruca em Paris.

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A partir de 1660, a moda masculina desenvolveu-se bem mais que a feminina, e quem ganhou espaço foi o pitoresco, marca registrada de ambos os sexos. Para Braga (2009) a roupa dos homens ganhou uma identidade marcante, o culotte (imagem 2.7), que tornou-se largo, chegando até os joelhos com bordados e rendas, que mais parecia com um saiote curto do que com um calção.

Imagem 2.7 - Culotte, Colete e Casaca

Fonte: https://giovanagarcia.wordpress.com (2016)

Já na década de 80 no século XVII, os excessos passam a perder espaço por influência oriental. Os homens começaram a usar uma longa túnica, que com o tempo foi encurtando ate transformar-se no colete. Como explica Braga (2009), ainda usava-se o culotte, porém bem mais justo, e como complemento geral, usava-se uma casaca, feitas de tecidos muito sofisticados.

O rococó teve início em solo francês e foi uma evolução do Barroco, segundo Braga (2009), seu estilo pode ser considerado como um "exagero do exagero". A moda nesse momento manteve-se com toda a pompa e rigor já existentes, porém o aspecto de fineza e leveza eram maiores que em décadas atrás.

O período do Rococó propriamente dito foi de 1730 a 1789, quando ocorreu a insurreição da Revolução francesa. Braga (2009) explica que para os homens desse período, a toilette era composta de culotte justo ate os joelhos, camisa, colete, casaca, meias brancas e sapatos de salto. Os coletes eram bordados e abotoados a frente, as casacas, também com os botões frontais e que passaram a ser bordadas a partir da segunda metade do século XVIII. De acordo com Braga (2009) os cabelos e até as perucas, agora eram amarrados atrás em

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rabo-de-cavalo. Essas perucas podiam ser de cabelos naturais, crina de bode ou cavalo e também de fibras.

No final do século XVIII, mais precisamente em 14 de Julho de 1789, a revolta popular com as diferenças sociais, culminou na Tomada e Queda da Bastilha, sendo o marco da revolução. Nesta época na França, após o período do Rococó, a sociedade dividia-se em três ordens, sendo primeiro o clero; depois, a nobreza; e por ultimo, o restante da população, incluindo a burguesia, sendo estes os líderes da revolução, devido à insatisfação com os excessivos privilégios com as duas primeiras classes. Embora o processo tenha sido gradual, Braga (2009) explica que foi o momento de mudanças, dando início a um novo momento da história: a Idade Contemporânea. Na moda, o século XIX pode ser dividido em quatro períodos: Império, Romantismo, Era Vitoriana e La Belle Époque.

Na passagem do século XVIII para o século XIX, a moda começou a passar por mudanças significativas até chegar a ser o que foi a moda império. A moda passou a ser focada em uma palavra: conforto. Roupas práticas e confortáveis, com influências agora inglesas e do campo. As roupas masculinas, agora com aspectos ingleses, adquiriram sobriedade, começaram a usar botas com mais frequência, golas altas, lenços adornando o pescoço ostensivamente, e o casaco passou a ser do tipo de caça.

No período do Império napoleônico, prevaleceu também a influência greco-romana, trazendo para as roupas do período, não uma cópia, mas lembranças fortes dessa época. A moda masculina, vinha sendo ditada nessa época, totalmente pela Inglaterra, e Napoleão Bonaparte queria resgatar o poder para a França de ser um epicentro divulgador da moda, então começou a ditar algumas leis para aumentar o consumo têxtil na França, como a proibição da importação de mousseline de algodão, vindo da Índia, que era colonizada pela Inglaterra, e a proibição de repetição pública de vestidos das damas de sua corte. As roupas masculinas, sofreram poucas mudanças após a revolução, ainda com influência inglesa, as calças foram se assimilando, e já começaram a ficar parecidas com as usadas hoje, principalmente as de casimira, diz Braga (2009). Nesse período a alfaiataria inglesa estava em ascensão.

Após o reinado de Bonaparte, passamos pela época de restauração, de 1815 a 1820, uma passagem de época do Império para o Romantismo, o qual durou até meados de 1840. Nesse período, a moda masculina estava a todo vapor, aonde suas mudanças já vinham desde o Império, mas agora estava muito mais significante na Inglaterra, enquanto a moda feminina estava sendo ditada em Paris, Londres impunha a moda masculina. Surgindo

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então, um novo estilo pelas mãos de Bryan Brummel, o Dandismo, trazendo dias gloriosos para a moda masculina. Estilo este que será melhor abordado no capítulo seguinte.

A era vitoriana, foi marcada na mesma época da Revolução Industrial, época de prestígio para a burguesia, pois assim, mais pessoas tinham oportunidade de negociar e trabalhar no comércio, beneficiando-se em uma sociedade de consumo. Braga (2009) fala que com a ascensão dos burgueses devido ao seu prestigio financeiro, eles puderam usar roupas semelhantes a da aristocracia e nobreza, surgindo assim na França, em 1850 o conceito de costura, criado pelo inglês radicado na França, Charles Frederick Worth, o pai da alta-costura. Na moda masculina, em paralelo a classe da alta-costura, surgiu a roupa de trabalho, pois nessa época o homem tornou-se reflexo de uma sociedade produtiva, explica Braga (2009). Enquanto a mulher estava mais enfeitada, o homem estava mais sóbrio e sério em suas roupas, buscando omitir alguns enfeites, com exceção de alguns que ainda eram características do dandismo, como a gravata, a cartola, a barba e a corrente de relógio que ficava sobre o colete.

A última época do século XIX, foi a Belle Époque, na última década do século até a primeira década do século XX em 1910, antes do início da guerra. Houve mudanças na moda feminina, e também mudanças como a inclusão de roupas para a prática de esporte e para o banho de mar como lazer, mas na roupa masculina não houve tantas mudanças, esta já estava bem estruturada com a praticidade e funcionalidade.

Na sessão a seguir desse estudo, será exposto o período do Dandismo, de forma mais detalhada.

2.2

O DANDISMO

Segundo Barthes (2005 p. 344), ―durante séculos, houve tantos trajes quanto classes sociais‖, para cada situação social, existia um traje, e muitas vezes mudar as roupas, significava ter mudado de ser e de classe social. Barthes (2005), afirma também que muitas mudanças aconteceram na roupa masculina após a revolução francesa, tanto na forma quanto no espírito. Surgiu um vestuário uniforme, prático e digno, que se adapta a várias situações, e pela sobriedade, ostenta o recato dos burgueses do século XIX.

Barthes (2005) ressalta que ainda que o nobre tenha sido vencido politicamente, ele ainda tinha forte prestígio, mesmo sendo limitado ao novo estilo de vida, e o burguês precisava defender-se da ascensão da classe média, logo foi preciso que o vestuário, sem sair

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da forma universal que lhes foi dado, mantivesse algumas diferenças capazes de manifestar a oposição entre as classes. Foi aí que surgiu a nova estética do detalhe, já que o vestuário masculino não podia sofrer mudanças que atentasse os princípios democráticos, logo, um tipo de tecido, um nó de gravata, ou os botões de uma camisa foram o suficiente para marcar as diferenças sociais.

―O homem distinto é aquele que se separa do vulgo por meios cujo volume é modesto, mas cuja força – de algum modo energética – é muito grande. Como por um lado, ele pretende ser reconhecido apenas por seus pares, e como por outro lado, esse reconhecimento se baseia essencialmente em detalhes.‖ (BARTHES, 2005, p. 346 e 347)

A palavra dândi teve origem na Inglaterra no final do século XVIII e início do século XIX, sendo um fenômeno que foi exportado também para a França propondo um estilo de homem sóbrio, elegante e distinto, transformando a moda masculina e a transformando até a década de 60 do século XX. (Cardoso 2005, apud Campell, 1987; Figueiredo, 2011)

Os dândis surgem principalmente na época de interseção entre a democracia e a aristocracia, quando alguns homens sem vínculos de classe, desocupados, mas ricos em força interior, dão vida ao que Baudelaire (2006), chama de projeto de fundação de uma nova aristocracia, baseada nas faculdades mais preciosas, mais indestrutíveis, e nos dons celestes que nem o trabalho nem o dinheiro podem conferir. O dândi é um homem rico, ocioso, e que mesmo entediado, não deixa de procurar a felicidade; um ser que foi criado no luxo e acostumou-se a ser obedecido desde sempre, e que desfila uma elegância e fisionomia à parte de tudo que é comum, em qualquer que seja a época.

“Denominem-se eles refinados, incríveis, belos, leões ou dândis, não importa: têm todos uma mesma origem; são todos dotados do mesmo caráter de oposição e de revolta; são todos representantes do que há de melhor no orgulho humano, dessa necessidade, bastante rara nos homens de hoje, de combater e de destruir a trivialidade. Vem daí, nos dândis, essa atitude altiva de casta provocadora, até mesmo em sua frieza.” (BAUDELAIRE, 2009, apud ACOM, 2013)

Em meio a uma sociedade detalhista, para Barthes (2005) o dândi veio para radicalizar o vestuário do homem distinto, submetendo-o a uma lógica absoluta O dândi exagera na distinção, não por motivos sociais, porém metafísicos: ele não opõe classe superior à classe inferior, opõe apenas o indivíduo ao vulgo, ou seja, ao comum. Para ele, o indivíduo não é o geral, e sim ele próprio, purificado de qualquer comparação. O dândi diz que sua essência, assim como a dos deuses, através do detalhe, pode estar presente por inteiro no nada, logo, o detalhe já não é mais um objeto concreto, e sim, muitas vezes um modo sutil de romper a unidade do vestuário, de subtraí-lo a valores, para eles o objeto não é executado, e sim

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tratado, como por exemplo, tal comportamento de molhar as luvas para fazê-la tomar a forma perfeita da mão.

Segundo Baudelaire (2006), o dandismo pode ser considerado antes de tudo, como uma instituição, que possui leis próprias, estritamente rigorosas e que todos os seus adeptos são submetidos, independente de sua audácia ou caráter.

Barthes (2005), defende a ideia de que o dandismo não seja apenas uma ética, como Baudelaire descreve, mas sim, que seja também uma técnica, e que a união dos dois que formou o dândi, sendo a segunda que garante a primeira. A função do detalhe para o dândi é fazer com que ele escape da massa, nunca sendo alcançado por ela, então logo ele é condenado a estar sempre se reinventando, tanto para se distanciar do padrão dos ricos como dos pobres. O detalhe possibilitava ao dândi, a transformar o vestuário em outro, principalmente porque as formas de vestir as roupas já eram limitadas, então se eles não as mudassem com alguns detalhes, a renovação se esgotaria.

Na literatura francesa e principalmente inglesa, os romancistas sempre tiveram muito cuidado ao escrever sobre os personagens que traziam consigo esse estilo. Eram sempre pessoas afortunadas, para que pudessem aproveitar sem nenhuma hesitação de seus luxos e fantasias, muitas vezes sem ter nenhuma profissão. Como afirma Baudelaire (2006), sua única ocupação é cultivar a ideia do belo em si mesmo, satisfazer sua paixão, sentir e pensar.

Assim, Baudelaire (2006), explica que se tornam com todos esses atributos emocionais e financeiros, superiores aos demais, porém, o que mais os distinguem da sociedade, é a perfeição da indumentária. Essa elegância física é um verdadeiro amor, uma necessidade fervorosa de ser original, dentro dos limites da convivência. É o prazer de causar admiração, sem nunca ficar admirado. O homem dândi pode até estar sofrendo, mas jamais irá demonstrar qualquer traço de inferioridade. Mesmo que esses homens sejam chamados de refinados, incríveis, belos, leões ou dândis, todos procedem da mesma origem; todos participam do mesmo caráter de oposição e de revolta; todos são representantes do que há de melhor no orgulho humano. É daí que surge o ar de superioridade, que provoca a sua frieza.

Cardoso (2015 apud Campbell, 1987), registra que foi George Brummel o homem quem mais simbolizou o dândi no século XIX, sendo um dos precursores, ele trouxe para a moda masculina através de sua expressão, a elegância, sobriedade, descrição e refinamento, se destacando a moda da época que era o oposto; caracterizava-se a partir de cores fortes, sua exuberância, perucas e maquiagens. Era obcecado pela excelência, tudo que era relacionado a aparência tinha que estar perfeito, não só a aparência mas o todo, como até o seu comportamento, criando competições que abrangiam não só o vestuário, mas o modo de estar,

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a inteligência e a perspicácia. O dandismo teve outros representantes, entre eles, o poeta e escritor Oscar Wilde e o poeta citado na sessão Charles Baudelaire.

Imagem 2.8 - Dândi século XIX

Fonte: Google Imagens (2016)

Imagem 2.9 - George Brummel

Fonte: Google Imagens (2016)

Baudelaire (2006), mostra que o dandismo é como um sol poente; como o astro que declina e é magnífico, sem calor e cheio de melancolia. Que o tipo da beleza do dândi

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consiste, sobretudo, no ar frio que vem da inabalável resolução de não se emocionar, é como um fogo latente que se deixa adivinhar, que poderia — mas não quer — se propagar.

Para Barthes (2005), a confecção foi o primeiro golpe mortal do dândi, pois, o vestuário masculino acabou se transformando totalmente industrial, impossibilitando de recorrer ao modo artesanal, isso gerou a padronização através da produção em série, ainda que fossem roupas de luxo, perderam totalmente a singularidade buscada pelos dândis. Após a confecção em série surgiram às butiques, essas propagavam roupas e acessórios que fugiam ao padrão da massa, mas acabaram caindo sob o controle do comércio, ainda que fossem peças de luxo, aquele que comprava em alguma dessas butiques, eram inclusos automaticamente em um determinado estilo, abdicando também das invenções pessoais e perdendo a singularidade, o que para Barthes (2005) acabou arruinando definitivamente o dândi. O dandismo era criação pura, o dândi concebia seus trajes e não os comprava, mas acabou sendo reduzido apenas à opção de comprar e não criar, comprar o último sapato italiano do momento era para eles um ato vulgar, pois era uma conformidade à moda, o que para eles a moda é apenas uma imitação coletiva de uma novidade regular, então por conta disso o dandismo acabou asfixiando-se a morte. A moda acabou se transformando em negócio para todos, transformou-se em uma instituição, o que de certa forma acabou exterminando a singularidade do vestuário, colocar um pouco de dandismo a cada vestuário foi como matar o próprio dandismo, por essência condenando-o a ser radical ou não. Logo, entende-se que não foi a socialização do mundo que matou o dandismo, e sim a intervenção de um poder que intermediou o individualismo absoluto e a massa total: a moda, que ficou encarregada de sutilizar e neutralizar o dandismo.

Para não falar da questão psicológica do dandismo, o que o fez um fenômeno essencialmente masculino, fala que o vestuário dândi só foi possível naquele tempo historicamente efêmero, onde o vestuário era uniforme no tipo e variável nos detalhes. Mesmo sendo mais lenta e menos radical que a moda feminina, a masculina não deixa de explorar as variações de detalhes, porém não toca a muitos anos no tipo fundamental e tradicional do vestuário, assim, Barthes (2005) afirma que realmente foi a moda quem matou o dandismo, privando-o ao mesmo tempo de seus limites e de seu alimento principal, a singularidade. O sistema industrial de confecção de roupas massificou o modo de vestir, produzindo a ideia de uma unicidade alcançável em massa, para todos. Essa noção paradoxal de individualidade que a moda lança, é que não deixa muito espaço, segundo Barthes, para a criação individual do vestuário.

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A seguir será abordado sobre o estilo da grife de moda masculina e feminina Chanel, e também um pouco sobre a vida e carreira de sua fundadora, Coco Chanel.

2.3

CHANEL: VIDA, CARREIRA E ESTILO

A grife Chanel é uma das principais e mais influentes marcas no universo da moda, com mais de cem anos de hegemonia, dita tendências que são seguidas por determinadas classes sociais no mundo, porém, seu público-alvo delimita-se a pessoas de elevada classe econômica, espalhadas pelo globo. Mas, para compreender tamanha importância durante décadas, se faz necessário conhecer um pouco da história de quem idealizou tudo isso, e como ela construiu um estilo único e uma carreira brilhante.

Filha de um caixeiro-viajante de Cevenas chamado Albert Chanel, com uma jovem camponesa chamada Jeanne Devolle, nasce na província francesa de Saumur, em um hospital público transformado em asilo, em 19 de agosto de 1883, Gabrielle Chanel. Com a morte precoce de sua mãe em 1895, o pai de Chanel ficou com os cinco filhos, porém não tendo condições de criá-los a abandonou com suas irmãs na semana seguinte, deixando-as sob os cuidados de um orfanato de sua província. Com uma história difícil, foi determinada em destruir qualquer vestígio de sua origem, e a palavra orfanato jamais fora pronunciada em sua boca. Ela não teve o mesmo destino de muitas mulheres, não se casou e não teve filhos, e apesar das diversidades, veio a reinar de seu próprio modo, explica Charles-Roux (2007).

Assim que saísse de sua adolescência, Chanel teria que trabalhar como vendedora em alguma loja da região, e ela queria escapar desse destino; entretanto, foi o que acabou acontecendo ao completar seus dezoito anos. Começou em Moulins, uma loja especializada em enxoval e tecidos, embora tenha passado alguns anos tentando desastrosamente trabalhar sem sucesso, ela desistiu do seu emprego na loja e foi então dedicar-se ao teatro e a música.

Começou sua carreira no La Rotonde, um local de concerto livre, mais reputado da região, onde não se pagava para entrar, e quem fosse contratada, só eram pagas se passassem o chapéu, Chanel estreou sua carreira como “poseuse”, figurantes que se mantinham atrás das vedetes, em sua estreia no palco ela só sabia cantar duas músicas: Ki-ko-Ri-Ko e Qui q’a vu

Coco, sendo apelidada pelo publico por uma palavra em comum aos dois refrãos, Coco. Foi

também em Moulins que ela conheceu Étienne Balsan, jovem de boa família, que futuramente lhe propõe uma vida a dois. Gabrielle sempre ambiciosa decidiu deixar os palcos em Moulins e tentar a sorte na temporada de Vichy, em um dos mais importantes cafés da França. Testemunhos dizem que Gabrielle Chanel exerceu mais de uma função em Vichy,

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sem dúvidas, pois lá não era fácil arrumar emprego em um café-concerto quanto era na cidade de Moulins, ao chegar nesta cidade, Gabrielle não conseguiu trabalho nos concertos, foi mandado trabalhar a voz, para que com esperança pudesse figurar, mesmo tendo seus encantos, sua graça não era reconhecida em sua voz, pois os espetáculos lá, eram de alta qualidade, e para os empresários não valia a pena arriscar a estreia.

Com o final da temporada e o seu fracasso, ela decide voltar para Moulins e suas noitadas no La Rotonde, reencontrando Étienne Balsan, onde ele a resgatou de seu passado provinciano, e a convidou para viver em seu castelo. Chanel mudou-se para uma cidade perto de Paris, aprendendo os encantos da boa vida oferecida em um Castelo por Balsan, apesar de viver realmente no posto de concubina. Com os privilégios a ela concebidos, Chanel agarrou a oportunidade e tudo que lhe era oferecido, Charles-Roux (2007) diz que nessa época ela foi ao mesmo tempo amazona e sedutora, treinava com os melhores cavalos, e conseguia também explorar seus atrativos peculiares, era dona de uma grande beleza natural e um charme raro. Ficou conhecida como a queridinha dos jovens notáveis da época, era vista em todos os lugares, como Paris, Pau, Cannes e outros. Aos 26 anos, Chanel era vista em hipódromos usando trajes vistos como improvisados, como um, sobretudo do barão Foy e a gravata de Balsan, um chapéu de palha confeccionado por ela mesmo e sapatos baixos (imagem 2.10); não sabia ela que vinte anos depois, esse já era o esboço que foi imposto por ela para todas as mulheres: gola branca, gravata e canotier, afirma Roux. Durante a vida no castelo, em meio às visitas e brincadeiras de Balsan, Gabrielle descobre por meio destas ―o principal fundamento da arte: adaptar ao uso feminino, elementos do guarda-roupa masculino.‖ Charles Roux (2007, p. 67)

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Imagem 2.10 - Chanel nos Hipódromos

Fonte: Charles-Roux (2007)

Depois do seu relacionamento com Balsan, veio Boy Capel, um inglês que talvez tenha sido o único grande amor de Chanel, mas que apenas a fez de sua amante, sem nunca propor casamento. Charles-Roux (2007), diz que embora Chanel fingisse estar sempre feliz, admitiu depois, que chorou muitas noites naquela época, pois queria um grande amor e desejava ser a preferida de alguém, mas não era o que o destino queria pra ela. No ano de 1910, Gabrielle abre sua primeira loja de chapéus, chamada ―Chanel Modes‖ localizada em Paris. ―O estilo de vestido simples e elegante de Gabrielle Chanel torna-se sensação e é rapidamente imitado por toda a cidade de Paris‖, INSIDE CHANEL (2013). Entre as primeiras clientes de Chanel, podemos destacar as amazonas e as amigas de Balsan, que vieram a ser as artistas de primeiro plano, que vinham a ser fotografadas em revistas com os chapéus de Chanel, ajudando a revelar cada vez mais o nome da até então artista desconhecida: Coco Chanel; consagrando-a em 1912 na revista feminina mais influenciada da época, a Les Modes.

Em 1913 decidiu por um fim em sua dependência, e com a ajuda financeira de Boy Capel, inaugurou na cidade de Deauville sua primeira loja com segmento de roupas, apresentando uma coleção de roupas esportivas, conduzindo com determinação, e sem nunca desistir, fazendo desse um modo de vingar-se da vida, sendo assim, nada a detia, nem mesmo a guerra que havia estourado nesse tempo. Chanel foi para sempre, uma mulher de negócios, sempre determinada desafiou os maiores costureiros da época, trazendo

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para si suas clientes, mudando o estilo das mesmas, para uma nova era da moda. Uma dessas mudanças marcantes foi no ano de 1914 em meio a um verão muito quente, que ela decide inovar nas vestimentas de esporte e de banho, fazendo com que as mulheres sentissem mais vontade em banhar-se do que de costume, criando um casto maiô de banho. Ter a pele branca era sinal de aristocracia, e o bronzeado sinal de origem modesta ou popular, sendo um preconceito antigo. Partiu da determinação de Chanel fazer com que as mulheres temessem menos ao sol, mas esse bronzeamento à vontade por parte das mulheres, inclusive sem o chapéu, só ocorreu em 1923.

Imagem 2.11 - Chanel Banhista em 1914

Fonte: Charles-Roux (2007)

Em 1915 já com a reputação estabelecida, Chanel abre sua primeira Maison de costura em Biarritz, na França. Charles-Roux (2007), escreve que embora a moda feminina deva agradecer a Poiret por trazer o alivio do espartilho e o encurtamento da saia, em 1918 Chanel impôs o direito do conforto as mulheres, da facilidade dos movimentos. Foi também no ano de 1918 que ela abre outra Maison de costura em Cambon, em Paris. Enquanto Poiret permitiu que os pés fossem vistos, ela subiu as saias até o tornozelo ser visto e também a marcação da cintura se tornou mais leve, desaparecendo dos ateliers as exigências de clientes de exclusividade de tecidos e modelos, transformando-a em um espetáculo da rua. Um marco em sua vida foi o ano de 1919, com a morte do seu amado Boy Capel em um acidente automobilístico, deixando-a em pedaços, incapaz de esconder a dor que sentia. Após a morte dele, Chanel foi introduzida em um grupo de artistas onde conquistou segundo Charles-Roux (2007, p. 170) ―aquela autoridade de descobrir, apreciar e defender talentos muito diversos‖.

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Através de seus romances, Chanel adquiriu características de sua identidade na moda, como o gosto pelas peliças quentes e os tecidos de opulência bizantina, adquirido do russo grão-duque Dimitri Pavlovitch, e a sua paixão pelo tweed, adquirida no Reino Unido, em seu romance com Bend'or, o homem mais poderoso da Inglaterra. Foi de lá também que ela adquiriu o hábito de dar prioridade ao conforto, não permitindo que o luxo tivesse outra finalidade, a não ser fazer a simplicidade ser notável, explica Roux. Também em meio ao seu relacionamento com Pavlovitch, acontece um marco em sua carreira, a criação do seu primeiro perfume, o Chanel Nº 5, mais precisamente em 1920, com um frasco simples e despojado e uma mistura de 80 ingredientes. O perfume foi elaborado pelo químico chamado Ernest Beaux, que ela conhece através do seu amante, e segundo explica a página oficial INSIDE CHANEL, chamou-se Nº5 por ser o quinto aroma apresentado por ele a mademoiselle, um verdadeiro clássico que até hoje continua sendo o maior símbolo de feminilidade. Veio a lançar também outro perfume, desta vez o Nº 22 devido ao ano de lançamento, concebido no mesmo espírito do Nº5.

Imagem 2.12 - Chanel Nº 5 Imagem 2.13 - Chanel Nº 22

Fonte: Google Imagens (2016) Fonte: Google Imagens (2016)

Entre os anos de 1920 a 1924, Chanel ganhou fama internacional, passando a ser procurada e convidada por pessoas importantes, revistas e fornecedores. Em 1924, Chanel apresenta sua primeira linha de maquiagem, com batons e pós-faciais. Em 1925, com a chegada da atriz Joséphine Baker a Paris e sua nudez que chocou a todos, Gabrielle capta para si o que ela queria passar, autenticidade e naturalidade, impondo assim para a moda, a noção de modernidade. Em 1926 começa a febre do preto, devido a uma edição da revista Vogue

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que falava de um certo vestido Chanel preto de mangas compridas e meio ajustado, seria uma espécie de uniforme para as mulheres, pois todas o queriam, o que foi um choque de comparação, pois a cultura de individualidade ainda prevalecia, muitas mulheres não eram vistas com vestidos iguais. ―Gabrielle Chanel cria o icônico ―pretinho básico‖, um estilo cuja ousada simplicidade revoluciona a moda‖, INSIDE CHANEL (2013). Chanel também foi responsável por uma grande mudança na moda, a criação de roupas unissex, o uso da calça por mulheres pode constituir a mais espetacular das suas inovações, diz Charles-Roux (2007).

Imagem 2.14 - Chanel de Calça e paletó. Imagem 2.15 - Christian Bérad, Chanel e Boris Kockno

Fonte: Charles-Roux (2007) Fonte: Charles-Roux (2007)

Em 1930, Chanel é chamada pelo Czar Samuel Goldwyn para criar as roupas das maiores estrela de Hollywood, pois na época as mulheres iam ao cinema, primeiramente por seus filmes, depois para ver as grandes estralas e também ver as roupas que seriam tendências, vendo aí a importância da intercessão de Chanel, que foi fazer sua temporada de sucesso em 1931. Em 1932 Chanel faz em sua Maison a primeira exposição de joias, todas desenhadas por ela, um luxo coberto por diamantes. Diamantes eram suas pedras preferidas, segundo o site da marca, ela os escolheu por serem os mais valiosos com o menor volume.

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Imagem 2.16 - Coleção Joias de Diamante.

Fonte: Charles-Roux (2007)

No auge da sua fama em 1935, Chanel já contava com quatro mil funcionários e possuía cinco boutiques na Rue Cambon, em Paris. Foi também na década de 30 que surge uma renomada estilista, Elsa Schiaparelli, esta deu um novo tom à elegância, Charles-Roux (2007) explica que até 1933, Chanel não tinha rivais, mas em 1937 quando Elsa sai do anonimato e é anunciada pela Vogue, isso muda. Schiaparelli causou confusões, seu estilo era o oposto de Chanel, porem atraia o mesmo publico. Chanel reagia a cada golpe de sua rival, quando ―Schiap‖ como era chamada, lançou um novo tom de rosa chamado ―rosa-choque‖, Chanel criou em 1938 uma moda cigana, que seduziu e apaixonou a América, franceses e outros estrangeiros.

No início da década de 40 com a França em guerra, Chanel decide fechar sua Maison por algumas semanas e deixa Paris. Mas ainda com a guerra, ela não parou suas atividades, retornou a Paris, mas não reabriu sua Maison, Charles-Roux (2007) afirma que em 1944 foi acusada de deserção, embora ela não ligasse para os comentários. Com o fim da guerra, notou que a França de antes não existia mais, mudou-se para Suíça estendendo seu período de inatividade por oito anos, sendo esquecida rapidamente por Paris.

Em 1947 o mundo conhece outro grande nome: Christian Dior. Trazendo para a moda pós-guerra todo o excesso que no começo Chanel aboliu, como a volta da cintura marcada e o excesso de tecido, explodindo um sucesso instantâneo: O new look Dior. Com o triunfo de 1954, afundava mais ainda Chanel no esquecimento, foi um período de longa ausência, Charles-Roux (2007) diz que antes de sua partida, a moda da época estava nas mãos das mulheres, como: Lanvin, Schiaparelli, Vionnet e Alix; e agora então passava para as mãos dos homens como: Dior, Balenciaga, Piguet, Fath e outros. Com isso seu instinto de luta

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renasceu, despertando em Chanel a certeza que ia chegar um momento em que as mulheres iam ser tomadas por uma vontade de se livrarem das cintas elásticas e de sutiãs com enchimento, das saias pesadas e das armações, trazendo de volta sua obstinação, sua paixão pelo ofício. Decidindo assim em 1953 voltar a trabalhar e reabrir sua Maison no ano seguinte.

Charles-Roux (2007), define a apresentação da sua coleção de reabertura como uma espécie de julgamento a alguns minutos do veredito final. Jornalistas de todas as partes estavam na primeira fila, formando uma espécie de tribunal. Foi realmente uma execução capital, descreve ele, as modelos desfilavam em meio a um silencio gelado, comentários maldosos e vulgares partiram dos jornalistas, Chanel foi zombada por sua idade, e criticada segundo eles por não ter aprendido nesses 15 anos afastada, mas o que mais a magoou foi o desprezo manifestado por seus amigos ingleses.

Após o fracasso de sua abertura, ela mesma admitiu que quinze anos de inatividade a fez perder um pouco da prática, ela precisou de um ano para recuperar o que Roux chamou de onipotência, e os primeiros sinais vieram do sucesso nos Estados Unidos, dos vestidos até então mal julgados, que acabaram vendendo mais do que se esperava. Já no seu segundo desfile, Chanel lidera novamente o topo da alta costura, sendo citada como mais do que moda e sim uma revolução, em meio a todo sucesso, Chanel conseguiu pela segunda vez em sua carreira modificar a roupa feminina e impor o seu estilo novamente na rua. O INSIDE CHANEL (2013) mostra que nesse tempo ela criou novos perfumes e objetos de desejos como a bolsa de matelassê 2.55 de couro com uma corrente de ouro e o lendário sapato bicolor, em tom de bege e o bico preto. Nos anos 60, Chanel vira uma febre entre os famosos, e em 1970 foi consagrada na Broadway, como o show mais caro da história do teatro.

Chanel foi uma mulher que se dedicou inteiramente a sua liberdade e a sua carreira, segundo Charles-Roux (2007), era vista cansada, tendo bebido apenas um copo d'água durante o dia, trabalhando obstinadamente e sempre insatisfeita, sempre em busca da perfeição, não permitido descuidos com detalhes, vivendo assim dias e noites, conseguindo chegar aonde chegou, reinou novamente dos 79 aos 88 anos de idade. Embora Coco tenha obtido sucesso na questão de igualdade entre os sexos, no âmbito profissional, sendo muito respeitada, acabou fracassando no que mais prezava: sua vida de mulher; mesmo com o sucesso de ser uma mulher de negócios, era ao mesmo tempo vulnerável, vivia em uma grande solidão, embora tenha conhecido o amor, mas através de muitas desilusões.

Diante de costureiros que haviam recorrido às barbatanas dos corpetes, e às anáguas, ela explodia: ―Esse homem era louco? Zombava das mulheres? De que maneira, vestidas com esses trecos, elas podiam ir, vir, viver...?‖. Viver... Foi dessa exigência que nasceu o estilo Chanel, esse estilo que era seu único orgulho: ―Não gosto que

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falem de moda Chanel‖, ela dizia. ―Chanel é antes de tudo um estilo. A moda sai de moda, o estilo, jamais‖. Charles Roux (2007. p. 367)

Em 10 de Janeiro de 1971 morre a Mademoiselle Coco Chanel. O Estilo Chanel continua, e durante a década de 70 mais lançamentos, a primeira coleção prêt-à-porter e a distribuição mundial de sua linha. Em 1981, Jacques Polge é nomeado o novo perfumista da Chanel, lançando no mesmo ano seu primeiro perfume, para o publico masculino, chamado: Antaeus. A linha de alta costura e prêt-à-porter continuaram a ser confeccionadas por seus assistentes,

até que em 1983 o alemão Karl Lagerfeld (Hamburgo, 10 de setembro de 1933) é nomeado o

diretor artístico da Chanel, assinando todas as coleções de alta costura e prêt-à-porter, até os dias de hoje. A marca segue até então com a criação de novos perfumes, alta joalheria, relógios, bolsas, sapatos e maquiagem.

Krick (2004), diz que foi Karl que deu inicio a produção das primeiras peças masculinas na Maison, com a utilização do tecido preferido de Coco Chanel, o Jersey, utilizou na criação irreverente de camisetas masculinas e cuecas na virada do século XX.

Imagem: 2.17 - Karl Lagerfeld

Fonte: Google Imagens (2016)

Além da Chanel, Karl também é designer chefe da Fendi e de sua casa de moda que leva seu nome, é conhecido por sua aparência impecável, seu cabelo branco, está sempre de óculos escuros, colarinho bem engomado, e o uso de joias e diversos acessórios. Karl é considerado um representante atual do dandismo, carregando todas as características descritas buscadas pelos dândis do século XIX, seguindo fiel a cultura dos detalhes, passando esse

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estilo para suas criações masculinas. Como o próprio disse: “Fashion today is more about attitude than detailing.” (Moda hoje em dia é mais sobre a atitude de detalhar).

Karl lançou-se em um jogo perigoso, segundo Charles-Roux (2007), pois já com prestigio, reputação formada e criatividade, teve que fazer viver o nome e a obra de Chanel, mas conseguiu ganhar o jogo, ele inovou, soube ser da sua época, ser ele mesmo, sem precisar copiar os modelos de Chanel, prestando sempre homenagens a criadora da marca, mas sem nunca copiar.

2.4

A MODA MASCULINA CONTEMPORÂNEA

Segundo Braga (2009), a Idade Contemporânea ou século XX, teve como marco de seu início, um conflito que mudou a humanidade, a primeira guerra mundial, onde a figura masculina saiu do campo de trabalho e foi para as batalhas, deixando com que as mulheres ocupassem alguns dos espaços masculinos. A roupa como sempre, seguiu modificando-se e adaptando-se as necessidades do momento, nesse período os tons escuros predominaram principalmente o preto. Foi nesse período que um nome da moda começou a se sobressair, Gabrielle Coco Chanel, inovando e dando estilo à moda, consolidou-se no setor e se tornou o nome mais importante da moda do século XX, sendo importante até hoje.

As roupas masculinas permaneceram as mesmas, explica Braga (2009), apenas tornando-se mais simples e práticas, com um aspecto de uniformização: calça comprida, paletó, colete e gravata. Na década de 20 o marco para os homens foi o smoking para ocasiões mais formais, sapatos bicolores, também a famosa calça de golfe chamada knickerbockers, o colete saiu de moda e surgiu o paletó com abotoamento duplo e o chapéu era o coco, usado por Charles Chaplin nos cinemas. Algumas décadas se passaram e as roupas masculinas manteriam o aspecto de uniformização, principalmente com a segunda guerra mundial na década de 40. Nos anos 50, as roupas dos homens começaram a relembrar as do começo do século XX, como paletós compridos, calças justas e o chapéu coco, mas o que se sobressaiu nessa época foram os ternos sóbrios, com a gravata.

A partir da década de 60, a moda masculina se transformou de fato, o homem deixou o tom sério para aderir às modernidades vigentes, como jaquetas com zíper, golas altas, botas e calças com tecidos sintéticos, e camisas coloridas e estampadas, enfim, o homem estava voltando a se enfeitar. Nas décadas de 80 e 90, com o surgimento de tribos, a moda era ser diferente entre os iguais, e igual entre os diferentes.

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Cardoso (2005), diz que na década de 60, a partir de mudanças sociais e culturais é que se da à reabilitação da beleza masculina, em que se encontra a imprensa e a literatura direcionadas para o consumo de moda masculina, através de conselhos estéticos. Sendo essa beleza apresentada como triunfo social, incentivando os homens a saírem da moda a partir do estilo dândi, e serem eles mesmos, explica CARDOSO (2005 apud Lipovetsky, 2013; Lipovetsky e Serroy, 2014)

Com a troca do século, a moda continuou sendo o espetáculo, com grandes nomes surgindo, mas em contraposição às imposições dos estilistas, a moda reinventou-se com o conceito de customização, que é uma personalização na qual o usuário interfere na sua roupa, se diferenciando dos demais, característica essa que remete ao dandismo. Além desse conceito de customização e vintage, a moda continuou com mecanismos de releitura. ―A moda, aliás, hoje se tornou negócio de todos‖ (Barthes, 2005 p. 350).

Nery (2004), diz que as pretensões culturais vão sempre depender da economia, das técnicas e da capacidade de produzir fatores que determinem a moda de qualquer época. Diz também que a moda virou um grande negócio em muitos países e é preciso que sempre haja novidades para que a fonte nunca seque. Ele explica que antes a moda não podia mudar do dia para a noite, muitas vezes durava décadas ou séculos até, e hoje o que a sociedade do consumo denomina com ‗in‘ estará ‗out‘ na moda de amanhã.

No final do século 20, na moda masculina firmava-se cada vez mais a calça jeans, a mesma é figura principal até hoje, início do século XXI, Nery (2004), fala também da nova onda que foi o clássico e elegante terno de duas fileiras de botões e os blazers com calça cinza de lã, as camisas eram usadas com cores e padrões mais discretos, entre as peças mais populares para os homens esteve o Trench Coat, o blusão e o macacão para esportes e o quepe de brim. Nos sapatos, o sucesso eram os clássicos, os mocassins e as botas para uso diário, e para a prática de esporte tênis e chinelos, como acessórios masculinos destacaram-se itens que fazem sucesso até hoje, como relógios de pulso sofisticados, gravatas em seda, braceletes e cintos de couro.

Referências

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