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from
University
of
Toronto
OBRAS
Lillcialo Amci-.oneusc
Bento
de Figueiredo Tenreiro
Aranlia
2."
EDIÇÀO
Alandadãreedita?-peloEstadodo
Amazonas
durante a administração
Ex.'"" Sk CoronelJosé
Cardozo
Ramalho
JumorLISBOA
Typ. da Co.mpaxhl\ Nacioxal Eihtora
Obras
Litterarias
Bento
de FfcuEiREDO Tenreiro
Aranha
NaturaldaVilladeBarcellos
capital d'auti!;acapitania doRioNaçro,aí;oraProvindadoAmazonas
Senhor D.
Pedro
2.",Imperador do BrazilD.eO.
JoÀoBaptistade FigueiredoTenreiro
filhodo Autor
Aranhas
//--'
f^Jl^/
^
PARÁ—
1S50r
9
69/
i77í
.^Sf y
rmík
Vossa
Magestade
Imperial dedico as obraslitterarias de
meu
fallecido pai, porqueumas
fez elle
em
honrada Monarciíia, e das acçõespreclaras dos Excelsos Antepassados deVossa
Magestade
Imperial; outrasem
louvor de varõespres-tantes que, á gloria d'Elles e do paiz, se distinguirão
por feitos memoráveis, e de pessoas cujas virtudes
de-viam ter-se por exemplares.
Umas
e outras, porseremde litteratura,
também
pertencem a VossaMagestade
Imperial,que é protector daslettras, e tem omais emi-nente lugar entre os sábios no Instituto Histórico
Bra-zileiro, onde já honrosa
mensão
^
fez destasmesmas
obras; e todas
em
summa,
por ^i^remdo primeiro vatedo Amazonas, vão ser dadas
em
primícias a VossaMa-gestade Imperial, pela elevação d'essa nova Provinda
no presente anno.
Talvez, Senhor, pareça de pouco vallor, por serde
pequeno volume,'o que offereçodas ditasobras; eu
po-rém as tenho
em
altoapreço, pelos motivos sobreditos, e por que, tendo-se perdido todas, amuito custo tornei a haver as que consagroa VossaMagestade
Imperial,e sãoproducções ingénuas de
uma
fonte pura, amelhorb
Com
a dita de beijar aMão
Augustade VossaMa-GESTADEImperial,
em
Petrópolis,também
tiveadeser-mepermittida esta oblação que
faço,
com
os votospuros do mais prbfundo acatamento,no presente e tão propicio Anniversario,
em
que oCéo
dilata e asseguraa venturae gloria dos Brazileiros.
Sou
De
VossAMagestade
Imperial,SenhorSúbditofiel e submisso EmBelém doGráoParàa
2deDezembrode iS3o.
Artigo
biographico
|o
n°
6da Revista Trimensal daHistoria eGeo-graphia, ou Jornal do instituto Histórico
Geo-graphicoBrazileiro,pag. 255,passoua ser reim-presso e publicado no Jornal do
Commercio
n.'^ 8 de10 de Janeiro de 1841,
com
licençadoSecretario perpetuo domesmo
Instituto, o seguinte:Bento de Figueiredo TenreiroAranha
«Nasceu na villa de Barcellos, antiga cabeça de
co-marca do Rio Negro, no dia 4 de Setembro de 1769.(iy
«A
suaascendência hehuma
das mais honestáá{?Ute-tinctas do Pará. Seu pai, Raimunct» de Figueiredo
Ten-reiro erafilho de Bento de Figueiredo Tenreiro,
capitão-(1)
O
Snr.Baenano seu Ensaio Corographico sobre aprovín-ciado Pará, aqui impressonoannode1839,tratandodaVillade
Barcellos,á pag.388e390, dizassim:
<^Barce//os: Villa creada em 1758peloGovernadordóPará
FranciscoXavier deMendonçaFurtado,eCapitaldae.xtincta
Ca-pitania do Rio Negro, tendosido atéentào Aldêa de Marina
mis-sionada pelos Carmelitas depois queo Principal Camandre da
Cabilda dos Manáos arogos de suamàiconvocou
um
dosditosmor
da villa deGurupá
(1), e provedorda fazenda real no Pará; e sua mãi, D. Thereza Joaquina Aranha, erafilha do capitão-mór da
mesma
provínciaManoelGuedes
Aranha, descendente de Bento Maciel Parente, governa-dor e capitão general do estadodo Maranhão.e
Gram-Pará, e donatáriodo
Cabo
do Norte.»«Bento de Figueiredo Tenreiro Aríinha perdeuseupai
na primeira infância, e apenas completos sete annos de sua idade ficou
também sem
mãi.Em
sua orphandadefoi entregue aos cuidados de
hum
tutorque, apezar deo fazer aprender as primeirasletras,não soube
reconhe-cer os talentos de seu pupillo, para os applicar
conve-nientemente, antes o conduzio á solidão da roça, aque
Tenreiro não se podia accommodar.»
«Tocando a idade dedoze annos, sentio maisvivoo
seu desejo de se entregar ao estudo das bellas-letras, e
com
estedesígnio procurou oamparodeseu padrinhoo arcipreste e vigário geral José Monteiro de Noronha,
que, applaudindo e favorecendo estedesígnio de seu
afi-lhado, e de accordo
com
o juiz de orphãos, omandou
estudar no convento de S. António, onde,completando
os seus estudos preparatórios,se passou para as aulas maiores dos Padres Mercenários, sob a direcção do pa-dre mestre Fr. João da Veiga,cunhado do vigário geral
Noronha,e ahi aproveitou muito, desenvolvendo
pasmo-samenteos seus talentos.»
«Aos 19annosde suaidade.TenreiroAranha
aprom-ptava-se air completar os seus estudos na universidade
de Coimbra,
mas
foi embaraçadoneste seu projecto pelafalta de meios queUiecausara
hum
sequestro da fazendareal sobre os
bens^erdados
deseu avô.Removido
doseu propósito, elle se deixou captivardo
amor
queem
«No recinto destaViilanasceoBentode Figueiredo Tenreiro
Aranha,muidistinctopeloengenhoLyrico dequeodotara a
na-tureza.Haimpressas cestehomemjáhamuitofallecidoduasobras em versos, euma emprosa: entreosseusmanuscritosha
uma
OdePindarica aoGovernador
Gama
doRioNegrofrazeadacomtantaenergia de e.xpressãoepompadeharmonia queellasópode
servirde baze,emqueassente o seumerecimentopoéticocomtal
firmezaquenenhumacensura o possaderruir.»
sua alma accenderãoos encantos e virtudes de D.
Roza-lina Espinoza, filha de
hum
official militar vindo de Por-tugal paraservirna província do Pará, ecom
ellaseca-sou.»
«Tomado
este novo estado, figurou-se-lhe avidare-tirada mais conveniente e aprasivel, e assimfoiviver
em
huma
fazenda dentto dajurisdicçào dacidade ondeem
socego se deu maisafincadamente ao estudo das
bellas-ietras e aos cuidados ruraes.»
«Tendo
conhecimento o governador e capitãogene-ral, Martinho de Souza Albuquerque, das boas qualida-des de Tenreiro Aranha, nãosoffreu que permanecesse
em
retiroquem
podia ser mais útil á pátria nosem-pregos públicos; por isso,
com
a patente de alferesdemilícias, o
nomeou
director de Oeiras, villa de Índios:Tenreiro obedeceu logo a este convite e deliberação da primeira autoridade de sua pátria. De suae.\cellente
di-recção resultou
hum
geral contentamento dos indígenas dessavilla, augmentando-se sensivelmente os productosde seu trabalho, e o
numero
da população, peloincre-mento de muitos Índios, que, attrahidos das selvas por
suas maneirasconciliadoras, vierão engrossar orebanho
de Christo, ao qual Tenreiro consagrava
também
parti-culares cuidados.»
«D. Francisco de Souza Coutinho, que succedêra no
governo da província a Martinho de Souza, e que,
se-gundo assuas informações ao gabinete de Lisboa,
espe-rava
huma
lei que abolisse o directório dos Índios,satis-feito do comportamento de TenreiroAranha no regimen
económico da directoriade Oeiras, edo desinteresseque
assazoextremarade muitosdirect/resambiciosose
des-abridos, não quiz que Tenreirose achasse aindadirector
quando chegasse a mencionada lei, paranãoser
confun-dido
com
os outrosque seriào então demittidos; e afimde mostrar-lhe que os seus merecinientoslheoccupavão
a attenção, elevou-o ao posto de capitão de caçadoresdo
seu
mesmo
regimento, e conferio-lhe olugar de escrivãodaabertura da alfandega do Pará.»
«TenreiroAranha nãodei.xounoe.xerciciodestes seus
novos encargos de merecer de mais a mais o honroso
10
insidiosas machinaçõese negras calumnias,movidaspor
occasião da discórdia querebentara entre o governador, o bispo D. Manuel de Almeidade Carvalho, e ojuiz de
fora Luiz Joaquim Frotade Almeida, de
quem
erafiel eextremoso amigo.
O
seu officio da alfandega foi logotransferido para outro individuo que
com
lisonjassou-bera amar a graçado governador. Rtecolheu-se denovo
Tenreiro Aranha á solidão do campo, até que o conde dos Arcos, investido no governo, e inteiradodainjustiça
que se lhefizera, o
chamou
para oemprego
de escrivãoda
mesa
grandedo Pará, que lhe foiconfirmadovitalíciopelo prínciperegente D. João.»
«Bento de Figueiredo Tenreiro Aranhafalleceu no dia
11 de novembrode 1811 (1).»
«Cabiaagora annunciar os diversos talentos deste
hon-rado Paraense pela
mesma
ordemcom
queelle osma-nifestou
em
seus escriptos,mas
a falta de noticiasexa-ctas faz
com
que sejamos parcosem
tal matéria,conten-tando-nos de annunciar unicamenteoquetem chegadoa
nossoconhecimento, e que decerto basta paraacreditar
a memoria de Tenreiro Aranha
como
deum
distinctolitterato.»
«De
suas obrashumas
se imprimirão avulsas, outras de todo se tem perdido. Passarão pelo prelohuma
odehoraciana ao governador e capitão-general Martinho de
Souza e Albuquerque, onde a gratidão de
mãos
dadascom
a verdade, expressou louvoresem
sublime phrase;e
huma
oração feita por occasião do nascimento daSnr.^* D. Maria Izabel, infanta de Portugal, que foi
reci-tadanaresidência dojuiz deforaLuizJoaquim Frota de Almeida. N'esta
oraç^
brilhãoosliberaessentimentos dequejáerapossuído n'aquelle tempoo illustre Paraense.
Querendo elle mostrar asvantagensdasmonarchias
jus-tas, fundadas na equidade e na razão,dirigidas por leis
econsagradas pela religião, diz assim: «Rastejão e
emi-tão de algum
modo
a força, aunidade,aordem,eaquellaacção rápida, poderosa e simplicíssima
com
que o EnteSupremo, desde oalto do seu throno magestoso, regee
11
modera
o universo.» Depois,continuando omesmo
pen-samento, diz assim: «Seja para sempre detestado o
sce-ptro da tyrannia: sejabanido e desterrado para os
con-fins desses bárbaros climas onde, desconhecida ainda a dignidade do
homem,
perjietúa a ignorância o seu jugo infame sobre milhões de escravos.»«Daspoesiasmai'luscriptas,dramas,cantatas, idylHos,
sonetos, etc, só escaparão á voracidade do descuido(1),
huma
ode pindaricaaogovernadordo Rio Negro,Manoelda
Gama
LobodeAlmada,ehum
sonetoáMamaíuca
Ma-riaBarbara,mulherde
hum
soldadodo regimento deMa-capá, cruelmente assassinada no caminho da Fonte do
Marco, por não querer adulterar; e heo seguinte:
SONETO
7
Seacaso aquitopares,caminhante.Meufriocorpojácadáverfeito,
Levapiedosocomsentido aspeito
Esta novaaoesposoafflicto,errante.
Diz-lhecomodeferropenetrante
Me
visteporfielcravadoo peito.Lacerado,insepulto,ejá sujeito
O
troncofèoao corvoaltivolante:Qued'hum monstrointiumano Ifiedeclara,
A mãocruelmetratad'esta snrte.
Porém quealliviobusqueádôramara,
Lembrando-seque teveumaconsorte,
Que,porhonra daféquelhejyfára,
A'manchaconjugalpreferea morte.
,raTiha>,est
(1) As obras, com outros bens,do TenreiroAraíiha^stavào
bemguardadascomosefossemrelíquiasdemuitaveneratãoem
suacasano aprasivelsitiodaMemoria,pertodestaCidadede
Be-lém,eo filhodoAutor tinhaapromptadoumacopiaoucollecçào
delias, com odesígniode as publicar nos Estados Unidos,ouna
CortedoRio de Janeiro paraondefoi emigradonoannode1832.
Mandou ir a dita collecçào em
um
volumecomoutros papeiselivros para aFazendaPinheiro,ondeestava á esperadeum
12
Omittimos outras muitas poesias do
mesmo
TenreiroAranha, compostas por diversos motivos, e
em
diversas occasiõesem
que oseu patriotismose fizerasemprema-nifestar brilhante e sublime,por nãoser de nossa tarefa
transcrever todas as suas composições. Tenreiro cantou
em
muitas poesias a trasladação da familia realportu-gueza para o Brazil, e parece bru^colear desde então, a
independência e futuros destinos da nossa pátria (í).
sua bagagem naufragou, eperderão-setodos os objectosque
le-vava, salvando-seapenasosconductores a nado,eunspequenos
bilhetes dentro de umacaixinhadefolhadeflandres: oportador
de tudoera ocidadão\-torio de Figueiredo Vasconcellos,quebem
sabe dessaperda.Osescrlptosoriginaesdasmesmasobras
con-tinuarão a estarguardados na casa acimadita;masestafoi
in-vadidaesaqueadapelos rebeldesnoannode1835,e foioutravez
noannode 1836 pelosconquistadores quenoannode1838,
es-tando o filho do AutornaCorte,acabarãode adestruir,tirando
deliatudoquantoaindarestava. E' pois ávoracidadedesses
des-truidores, enãoádo descuido aquemsede\eatribuiraperda das
obrasede outrosbensdo TenreiroAranha.
O
Dr. Patroni,seu parente,sentio,descrevêoe fez sentiremum
poema—
AsruinasdaMemoria.(1)Pareceque nãoera
—
bruxolear—
,porqueosábioepoetapodia antever eprognosticar a independência efuturos destinos
OBRAS
LITTERARIAS
BENTO DE
EIGUEIREDO TENREIRO
ARANHA
Quesetinhão perdido,
evàosendo achadasamuitasdiligencias, erecopiladas(*)
pelo Filhodo Autor
ORAÇÃO
Breve
discurso
feitoporoccasiãodofelicíssimonascimentodaserenissimjsenlior.i
D.
MARIA
IZABKL,
Infantade Portugal,ParaserecHar nas casasdaresidência
DoutorLuiz
Joaquim
Frota deAlmeida,Jiíi^deFora da Cidade do Para no anuo dei'gít
OFFERECIDO AO SENHOR
José
Gonçalves
da
Silva,CavalleiroProfesso naOrdemde Chrislo, Fidalgo da RealCasa,
eCoronel de Mihcias no Estado doMaranhão POR
Bento
de Figueiredo Tenreiro
Aranha
NMumI
do Pjrà.IMPRESSO
EM
LISBOA
NO ANNO DE
1S07NaoflícinadeSimão ThadeoFerreira. ,
Vereisamor daPátria,nãomovido
Depremiovil;masalto,e quasi eterno :
Cam.Lus.Canhl.Est.lo.
DaqiiellaPortugueza,altaexceilencia,
Delealdade firme edeobejiencia. 'd.Cantí.Esl.-!
Senhor José Gonçalves da Silva.
[m qualquerparte, e
em
todootempo,ondeavir-tude se ache,mereceasnossashomenagens.
O
^^Pfl!vassallohonrado,efielao seuPríncipe, eaoseu
"^ °~
Paiz; o
bom
patriota,ohomem
generoso,esen-sível he
hum
Cidadão de todo omundo, he digno deserconhecido, e proposto
como
hum
modelo a todos oshomens. Estas reflexões bastarião paraque euhouvesse
de offereceraV. Senhoriaeste limitado tributode
huma
veneração a maisjusta, e a maissincera; aindaquando nãoconcorresse arazão deseacharestaCapitania,onde aProvidenciatemfi.xadoaminhaexistência,tãopróxima,
e visinha a essa, que V. Senhoriaillustra
com
assuasvirtudes.
Nella descançam
também
as cii-raas de alguns dosmeus
Antepassados; eambas
estas Capitanias formarãolargotempo
hum
só Estado, cujas relaçõesfysicas,epo-liticas união estreitamente os seus habitantes; os quaes
ainda hoje se
devem
considerar animados pelomesmo
espirito, e ligados pelos
mesmos
vínculos, e interesses;pois que tanto huns,
como
outros vivem debaixo damesma
zona, pisãoamesma
terra, e respirãoásombra domesmo
Throno, e dasmesmas
Leis.Sobre estas razões se firmarão as outras,que mais
20
na occasião presente; quero dizer, os próprios feitos,e
as virtudes de V. Senhoria, representadas pela sua
repu-tação, e pela fama
em
toda a parte; as vozes dosinfeli-zes, que V. Senhoria tem arrancadodos braços da
mi-séria, e da desgraça; os muitos,ebrilhantestestemuntios
de beneficência, de generosidade e daquella grandeza
d'alma, que o caracterizão, e que fazem repetir o seu
nome
até nos lugares distantes; o nobre uso,que sabe heroicamente fazer dos meios, e dons, que recebeu daProvidencia,
como
um
fiel depositário, ou dignoinstru-mento da
mesma,
sujeitando constantemente a fortuna(oque é assaz difficil) ao império da razão,edavirtude, e não estas ão capricho, e á tyrannia daquella,
como
quasi sempre succede;
mas
sobretudo o seu patriotismoconsagrado ao
bem
publicoem
tantos, e tão repetidosactos; e aquelle espirito de vassallagem, e de fidelidade
verdadeiramente Portugueza,
com
que V. Senhorianes-tes últimos, e calamitosos tempos deo de sivoluntário
asmaisaltasprovas ao Soberano,á Pátria,aoMaranhão,
a todo oBrazil, eaindaatodaaMonarchia,ouao
Mundo
todo: raro exemplo de generosidade e de zelo, que no
seu género, e
em
taes circumstancias não teve outroigual! Eis aqui os grandes motivos, e asprincipaes
ra-zões, que hoje
me
transportão daquimesmo
atéolugar,onde V. Senhoria habita, e que
movem
a minha almanaturalmente sensívelás vivas impressões,quenella
pro-duz a
imagem
do merecimento,edavirtude, eacontem-plação grata, e suavíssima das acções bellas, e dignas
de louvor.
Não
posso referir, e individuaraqui as de V.Senho-ria,porquesão murtas,
enem
poderiamjámaisresumir-seem huma
breve Carta. São, além disso, assaz notárias, e nãonecessitão de outros louvores;porquejá se achãoqualificadas, e repetidas pela voz publica, e elogios do
mesmo
Soberano nos honoríficos Decretos,com
quetemdado aV. Senhoriaas maise.xpressivas demonstrações
do seu Real Agrado, e Satisfação. Feliz o vassallo que
as merece, e todo o Cidadão, que no tempoda aíflicçào e do perigo concorre para sustentara Pátria,
como
huma
das suas firmescolumnas, offerecendo, eempregando op-portuna, e liberalmente
em
serviço, e soccorro delia o21
precioso fructo das suasfadigas,dos seus suores, e da
sua industria, que os outros
homens
pela maior parteadorão,e
com
tantoaferro, e egoísmoguardão,e só parasireservão.Efeliz o Príncipe, e o Paiz, que temdestes
vassallos, e Cidadãos beneméritos; e que não
desperdi-çando
com
outrosmenos
dignos as suas graças, e osseus prémios, os fazem brilhar, e reluzir naquelles,
em
quem
honrão aomesmo
tempo a justiça, e omereci-mento.
O
de V. Senhoriafoi poissomente oque lhe te-ceo, e pôz sobre a cabeça a coroa civica; coroa essa devida a V. Senhoria, e dignamente representada nas Mercês, e Honras,com
que a Realmão
temmagnifica-mente decorado aV.Senhoria, podendo-se-lhe ainda
de-pois de tudo isto dizer, ou applicar o que a respeito de
outro disse
hum
dos nossos Poetas:E se onãofossesnasmercêspresentes,
Eras digno de oser,quehemais que tudo.
Finalmente nada mais creioque devo por agoraaqui
dizer, ou accrescentar senão que
me
pareceusumma-mente acertado, e justo offerecer-se a V. Senhoria a
breve Oração, ou Discurso feito
em
applausodoNasci-mentode Inuma dasAugustasFilhasdos nossos
Clemen-tíssimos Príncipes. Elle
me
deo occasião de arranjaralgumas idéas, e exprimir os
meus
sentimentosrelativa-mente ao Systhema, ou Governo
Monarchico-Heredi-tario, mostrando ao
mesmo
tempo as vantagens deste sobre todos os outros, quantome
permittia a brevidade,e o caracterde
huma
peça da naturezadesta.Daquipas-sei a tocar sobre algumas das exci^encias,e
prerogatí-vas, que distinguem, e exaltão aMonarchia Portugueza
entre todas as outras, fundando os
meus
principaesar-gumentos, ouasminhasprovas nas virtudeshereditárias,
características, e reciprocas dos seus benéficosPríncipes,
e dos seus leaes vassallos; na bondade das suas Leis;
mas
sobre tudo naReligião, e na Piedade Nacional.Pa-rece-me quena conjunctura, e actual crise dos
aconteci-mentos presentes, entre afermentação das idéas novas,
ou espírito de vertigem, que tem assinaladoanossa
22
a todo o génio digno de se chamar Portuguez, doquea
fiel representação, ou ao
menos
hum
resumo das ditasverdades. Assim se firma cada vez maiso
amor
decadahum
á sua Religião, ao seu Príncipe, ao seu Paiz, eásua Constituição. E
como
es.tessão os sentimentos, quemais resplandecem,eespecialmente caracterizamaV. Se-nhoria, esta offertanãodeixarádeIhfcseragradável pelo seu motivo, e circumstancias, posto que
em
simesma
tãopequena; e deste
modo
jáantecipadamenteme
lison-geo deque
com
ella consegui oduplicado fim de lhefa-zer este tal, ou qual obsequio, e ao
mesmo
tempodedar aV. Senhoria aqui
mesmo
de longehum
publicotestemunho dajusta estima, ou da sincera veneração, e
respeito que lheconsagro.
Espero que V. Senhoria benignamente o receba; e
que desculpando a pobreza da offerta, e osdefeitos do
seu Author
em
attençào ábondade do objecto, e dasin-tenções, que aformarão, se sirvaigualmente de
me
hon-rar
com
os seus preceitos. Serei tãofiel, e sollicitoem
os executar, quanto o sou
em
desejar a V. Senhoriauma
successão de felicidades, e todo obem, paraquepor dilatados annos o continue afazer
em
utilidadepu-blica, e particular de tantos, que nisso verdadeiramente
se interessão,
como
eu, quecom
apossívelconsideraçãosou
De
V. SenhoriaO
mais reverente, e sincero venerador, e fiel criado, VDiscurso
Não
he estaaprimeiravez, Senhores, quehum
espi-rito fraco, excitado pelo estimulo, e presença de
um
mo-tivo poderoso, sahindo dos estreitos limites, quelhe
fo-rão prescriptos desde o berço, se abalançaa
huma
em-presa
summamente
superior ás suasforças naturaes.O
extremoalvoroço, aprofunda sensação de
hum
prazerex-traordinário
com
afaustissima noticia,que acabamosdereceber, avivada, e dilatada neste
momento
feliz peloenérgico Discurso do Sábio, e digníssimo Magistrado,
cujo zelo patriótico,resplandecendo hojeentre asdemais
virtudes, que o caracterizão, nos attrahio a este lugar,
abala, e occupa todaaminha alma. Ellaporem nãoacha
meio mais próprio para desafogar os seus sentimentos,
e corresponder áhonra de tão gratoconvite,doque,
se-guindo as
mesmas
idéas, que elle nos propôz,imitarseuclaro exemplo, e
com
a luz, que recebe delle, demorarmais alguns
momentos
a vossa attenção sobre odigno Objecto da nossa alegria. Tal he para todos osPortu-guezes o FelicíssimoNascimentoda SereníssimaSenhora
D.Maria Izabel, Infantade Portugal; Nascimento,
em
quevemos
continuadas sobre nós as bênçãosdoCéo,perpe-tuada a Successão dos nossos amáveis, e Soberanos
Bemfeitores, dos nossos Augustos Pais, desempenhada
constantemente aProtecção Divina, e firmada
em
novosfundamentos a honra immortal do
nome
Portuguez, anossa dita,aprosperidadepublica.
E
quem
duvidou já mais de quetodas estasvanta-gens inestimáveis são o fruto precioso da conservação
dos nossos amabilissimos Príncipes? Qual de vós
duvi-dará deque d'Ellesdepende ada Monarchia? E de que,
sendo este o mais feliz, e o melhorde todos os Gover- .
24
distincta, ou a maisjusta, e amaisgloriosa entre todas?
Destes dois principios se deduz toda a felicidade, que
hoje logramos: e
como
heclara, emanifestaaconnexão,que tem
com
o seu Objecto, nelles se estribarátambém
o
meu
discurso. Discurso breve, e inferior ao seu nobreargumento, digno de outra extensão,ede outra
eloquên-cia, e digno por si
mesmo
de inter5'ssar avossa atten-ção.Nada
direi, que vos sejaestranho, e desconhecido;mas
tocando, e suscitando ligeiramente as primeiras idéas deste grande Assumpto, deixarei á vossa reflexão o prazerde as desenvolver, e dilatar.Apenas ogénero humano, sahindo dainfância,perdeu
aquellaamável singeleza, queos Poetas nosfigurarão no século de Saturno, e que os Livros Santos,fieis
deposi-tários da verdadeira historiado mundo, reduzem aos
re-motos tempos de Nenrod; apenas se gerarão as
desor-dens, e os crimes do corrupto fermento das paixões, e
crescendo estas sobre as ruinasdajustiça primitiva,
vio-larão os sagrados limites, que a
mesma
estabeleceo acada individuo; apenas se vio perturbada pela avareza,
e pela ambição, pelo orgulho, e pela vingança aquella
doce tranquillidade, de que gozarão osnossos
Progeni-tores, occupados noshonestosexercíciosdasua vida
fru-gal, ou ásombrade frondosos arvoredos,ounoseio
pa-cifico de suas choupanas, entretecidasde ramos,sempre
abertas, e patentes entre amor, e orespeito de
uma
fa-mília simples, e virtuosa, que
com
a sua innocencia, etemperança lhes servia de muro, e de defeza; apenasse
multiplicarão
com
osmesmos homens
as suas misérias,e dividida já
em
numerosos bandos agrande família dogénero humano, sérvio dilacerada pelos indivíduos da
mesma
espécie, atacada a sua segurança pessoal,e os seus outros direitos expostos aoinsulto, eáviolênciade seus irmãos degenerados; achou então que deviaperderhuma
parte da sua primitivaigualdadepara conservar as outras prerogativas; e não descubrindo nas urgentescir-cumstancías do seu estado pervertido outro meio para o melhorar, e diminuir os seus males, reconheceu
em
fimpela
mesma
triste experiência, que tinha destes, e pelaluz inextinguível da razão, despertada,e soccorrída por
25
manteve a sua Ohra,anecessidade indispensável, que
ti-nha de confiar a sua conservação ahunna Autlioridade
Suprema, a qual servindo-lhe de abrigo na tormenta, e
concentrando-se
em
si a força publica,fosse aomesmo
tempo a depositaria perpétua dos direitos decada
indi-viduo, o instrumento, e executor do
bem
geral, aco-lumna do fraco, o''freio do poderoso, ovingador do
cri-me, o defensor da innocencia,oprotector, e oconservador
da honra, daliberdade, davida, e da fortuna dos outros
homens.
Com
estas brilhantes qualidades apparecerão os Reis sobre a terra, traçando nella aImagem
AugustadaDi-vindade, quaes outros Deoses, ou
como
seussubstitu-tos, e Lugar-Tenentes, e
huma
espécie de Medianeiros,e Executores dos Decretos Supremos, a fimde
suppri-rem de algum
modo
a distancia immensa, que haentreo
mesmo
Deos, e oshomens.Que-caracter!Que
esplen-dor!
Que
titulo!Que
dignidade!Tal he aorigem das Monarchias, e taes sào os
fun-damentos, sobre que apparecerão collocados os
primei-ros Thronos do mundo, a
quem
o resto do Universo,por
um
pacto solemnissimo, e porum
concertoassinadoem
seu nome, e das geraçõesfuturas, offereceo logo ovoluntário tributo das suashomenagens, e prestou o
in-dissolúvel juramento de perpetua fidelidade não só á
Pessoa Sagrada dos Reis;
mas
até aos seusDescenden-tes mais remotos. Assim se devia retribuir,e ao
mesmo
tempo estimulara virtude desses Géniosescolhidos,que
pelo
amor
dobem
publicose sujeitarãoaopezoimmenso
do Reinado: Assim se devião logo separar dos maisvi-ventes essasfamílias privilegiadas,^ujos indivíduos, an-ticipadamente destinados para tão grandefim,
aprende-rião desde o berço a fazer felicesaos outros homens, a
vellos, e amallos,
como
filhos; Assim superiores peloseu estado, e educação a certas paixões vis, e
grossei-ras, que produz a rivalidade, e que aigualdade nutre,
olharião
como
próprio todo obem
daquelles, de cujaconservação depende a sua, e de cuja prosperidade a
sua gloria,cuidando
em
os deixar, e transmittirconten-tes, e affortunados,
como
huma
herançaamaispreciosa,26
Já vedes, Senhores, que eunão faílo aqui senãodas
IVIonarchias Hereditárias, a
quem
só quadrão estesbri-lhantescaracteres. Eu vosfallo dessesGovernostão
so-lemnemente instituidos,tão respeitáveis pelasua
anciani-dade,qualificadospelo maisirrefragaveldos testemunhos,
firmemente estabelecidos noconsensouniversalde todas
as gentes. Aqui reforçaria o
meu
cffscursò, e se acasonão temesse fatigar antes de tempo a vossa attençãoe
faltar á promettida brevidade, aqui multiplicariaprovas,
e fariaver
em
toda aextensão os motivos,evantagens,queexaltão, e firmáo solidamenteestaformadegoverno
sobre todos os outros,
em
que depoisse evaporouavo-lubilidade humana, e o espiritode ambição, e de
novi-dade.
Conduzido pela luzda razão, e dahistoria, efirmado
na authoridade dos Publicistas mais graves, eu vos
mos-trariaqueelle,e
nenhum
outrosuccedeo immediatamente,econserva ainda, por
hum
modo
eminente, aquelles go-vernosjustos, e primitivos, que asabia natureza estabe-leceo entre as famílias denossosPais, relativamenteaos Chefes,eprimogénitos de cadahuma:
Mostrariaquesim-ples nos seus princípios; seguro, e recatado nos seus planos; prompto efficaz, e livre na execuçãodeiles; he ao
mesmo
tempo omais próprio, e análogo áconstitui-ção fysica, e moral do
mesmo
homem,
cujos actosde-pendem
sempre dehum
movei, e dehum
só principio,que o determina: Mostraria quesó elle rasteja,e imita
de algum
modo
a força, a unidade, aordem, e aquellaacçãorápida, poderosa, e simplicíssima,
com
que oEnteSupremo
desde o alto doseu Tl-irono magestoso rege,emodera o Universol Mostrariaqueinstituídoassim pela
razão, e pela natureza, e consagrado pela Religião, he
elle
em
fim omenos
susceptíveldos viciosdafrágilhu-manidade, e o mais capaz de preencher o seu alto fim,
e de produzir a felicidade.
Mas
consultemos a experiência, e seja ella a nossaguia: voltemos os olhos para os séculos,quenos prece-derão, e vejamos o que se passa ainda hoje diante de
nós mesmos. E que vemos. Senhores? Innumeraveis
po-vos mutuamente dilacerados, e destruídos; Republicas
Aristo-27
cracia, eda Democracia; governos sempre inquietos, e
agitados,
bem como
as vagas, e tumultuosas ondas domar, ondereina, e preside o furor, o espiritode partido,
as facções, rivalidades, discussões eternas; onde custa
muito o ser virtuoso; e onde aambição, e avareza
par-ticular, o orgulho, avingança, e as demais paixões
sol-tas, e
em
campo
abirto,tirandotodasasvantagenspos-síveisde
huma
authoridade precária, opprimem aos seusConcidadãos, epara perpetuar,efirmaraprópriafortuna,
e ade seus netos, ácustade milhares deinfelices,
sacri-íicão-se,degollão-seestes,para
com
oseusanguenutrir,e cevaraquelies. Fluctuando sempre no pélago
immenso
dos exsessos, e do enthusiasmo,'depoisde cahirem pocintervallos nos desvarios e horroresda Anarchia, se
pre-cipitão finalmente, e
vem
a perecer entre osferros docruel, eensanguentadodespotismo.Porissohouvejá
quem
dissessequesónoCéose poderia formar
huma
republicajusta, igual, permanente,everdadeiramente livre;porque
só lá heque oshomens,soltos jádaspezadas cadêasdo
crime, e isentos dos prestígiosdo espirito, edo coração, contentes nosseus limites, respeitarião nosoutt-osos
di-reitos de cadahum,euniriãoperfeitamente os seus
sen-timentos para o bem, e conservação de todos. Ese na
terrahe tãodifficilachar-se
hum homem
justo, e virtuoso,como
se acharão nella muitos?O
testemunhode todas as idades assas o comprova. Athenas, Esparta,Thebas,Carthago, Syracusas, e tu, soberbaRoma, ondeestãoos teus triunfos? Esse Capitólio pomposo, que
dommava
osReis, eo Universo, sepultou nas suas ruinas a tua
glo-ria, oteu império, e atuaaltiva liberdade.
Mas
para queme
demoroem
buScar, ereferire.xem-plos tão antigos, se á nossa vista se offerece a prova
mais forte, e terrível dessaverdade?
Que
males,e quehorrores não tem causado!... (1)
Que
rios de sangue,ede lagrimas!...
Mas
suffoquemospor oraonossopranto;apartemosos olhos deste espectáculo de dor,
occupan-(1) Sabendo-se o anno, em quefoifeitoesteDiscurso,eos
acontecimentos funestos, eassas públicos daquelle tempo, he
fá-cil entender-se a queelle se refereneste lugar, eemoutros
28
do-nos somente, e applaudindo hojea singular
felicida-de, deque gosamos.
Basta decorrer por todas asMonarchiasantigas,e
mo-dernas,queflorecerão á face do Universo, para vêrquão
feliz, e differente se mostrou sempre a sua sorte.
Não
penseis porém que
me
confundo, e queeu entendo de-baixo desteNome
Augusto,erespeitívelaquellesGover-nos infelizmentearbitrários,ondereinao capricho;eonde
a vida, a honra, e o destinode tantos milhares de
Cida-dãos
dependem
sódotemperamento,dasinclinações,dosvicios de
hum
Senhor despótico, e tyranno. Seja parasempre detestado o seu sceptro, o sceptro da tyrannia:
seja banido, e desterrado para osconfins desses
bárba-ros climas, onde desconhecida ainda adignidadedo
ho-mem,
perpetuaa ignorância o seu jugo infame sobre mi-lhões de escravos desgraçados. Eu fallo, torno a dizer,das Monarchias justas, fundadas na equidade, e na
ra-zão; dirigidas pelas Leis,(1)auguradaspelosvivas, e
ac-clamações de
hum
povo grato, e affortunado; econsa-gradas finalmente pelaReligião.Estassão asdequefallo,
e as que, fazendo
em
todos os tempos afelicidade dasNações, que governarão, devião ser eternas para
bem
das mesmas. E qual foi aquella, que não floreceo longo
tempoásombradestesThronosbenéficos?
Que
facemaisbrilhante!
Que
grandeza!Que
successos!Que
triunfos!Diga-o aGermânia, a Grão-Bretanha, e aHespanha:
Di-ga-o
também
esse por mais de doze séculosflorentis-simo Império dos Clodoveos.
Mas
ohmemoria
importu-na! Triste, è fatal cadèa dos destinos
humanos!
Diga-oporém, e diga-o sempre portodas, a bella, a venturosa,
e invencível LusitarUa. Nós não precisamos de outros
exemplos,etestemunhos;pois
achamos
nestesó asmaisillustres, e sobejas provas, que felizmente concluem o
meu
argumento.E portanto, se asmonarchias
em
simesmas,eentretodos os Governosforão sempre osmaisaffortunados,e
vantajosos, que direi eu daquella, que ás prerogativas geraes ajunta outras, queprópria, esingularmente a
29
-tinguem, e que sustentada por
uma
constituição óptima,e felicíssima, que os tempos nào tem podido alterar,foi
particularmentefundada sobre as bases sólidas, efirmes
da Religião e da virtude. E
quem
não reconhece logo aestescaracteres a Monarchia Portugueza?
Sim,
Senhores^a
Religião, essaLuzDivina;precio-síssimo
dom
da IJivindade para soccorro, e consolaçãodosfracos mortaes; a Religião,
sem
aqual he ohomem
nada mais do que
hum
ente desgraçadíssimo, asocie-dade
humana
hum
bando de feras,e de anthropófagos;essa, que sópode produzira virtude, e suffocar o crime;
que ensina, prescreve, e limitaos direitos, e os deveres
decada
hum;
que obriga o súbditoa respeitar,como
de-ve, ao superior legítimo; que inspiraaeste o
amor
mais terno paracom
aquelle; que equilibra ascondições;re-gula a liberdade; anima, defende e castella o fraco;
as-susta, refrêa, e desarmaopoderoso;eformandoaordem,
eharmoniapublica,produz,e
mantém
aprosperidadege-ral, e particular dosindivíduos, e das nações;aReligião,
digo,foi sempre o movei, ea divisadoesclarecido
Impé-rio Portuguez, cujos religiosíssimosSoberanos nunca se
guiarão por outras máximas, nunca adoptarão outra
po-litica.
Nascendoentre osbraçosdavictoria, edaReligião(1)
no illustre
Campo
de Ourique, seufamoso berço, desde então atéhoje tem crescido, e tem prosperadoásombradas suas azas. Ella tem feito
em
todos os temposestaNaçãotão gloriosa; traçou todos os planos doseu
esta-(1) Nós não pretendemosentraremdueilo,edisputacom
al-guns criticos modernos. Basta que o facto,aque nosreferimos,
nàosejaimpossível,segundoosprincípiosdanossa crença;eque
elleseache authorísado porváriostestemunhoscoevos; pormuitos
monumentos, queoconfirmão;pelaasserção uniforme de graves
Historiadores; pela tradição Nacional continuadaaténós;epela
opiniãopublica,paraquepossa,edevaterlugarem humquadro
Oratório, tal como este; cuja verosimilhança subsistiria, ainda
quandose provasseo contrario;peloquerespeitaás
circumstan-cias;porqueemsubstanciasempreserá verdade que aMonarchia Portuguezadeve á Religião os seusprincípios,eestabelecimento,
dequalquermodoqueestese considere,comotambémoseu
30
belecimento; dirigio os seus successos, na paz dictou
Leis Santíssimas; consagrou naguerra os seus triunfos, e levando o nome, e a gloria Portugueza desde
huma
até outra extremidadedoUniverso,conduzio os seus
He-roes
—
pormares nuncad'antesnavegados—
ásmaisár-duas emprezas; mostrouao
mundo
admiradonovoscli-mas; diffundio nelles a luz,edesterrou astrevas,queos
enlutavão; e arvorando
com
respeito a Cruz triunfante nas Regiões mais barbaras,è desconhecidas,feztremo-lar ao pédeliasobre os seus muros as Quinas
victorio-sas de Portugal. Ellahe finalmente aqueexaltae
acom-panha constantemente no Thronoa todos os Monarchas
Portuguezes; e a que inspirando-lhessentimentos
sem-pre justos, e suaves a respeito dos seus vassallos, ou
verdadeiros filhos, lhes tem igualmente merecido da
partedestes,
como
huma
herançaparticular, ebençãodoCéo, a obediência, o respeito, o amor,e a mais pura
fe-licidade.
Oh
venturosa Monarchia! Nação distincta!héli-ces Soberanos! Felices povos!
Nós osabemos,Senhores,ecada
hum
denóstemem
si
mesmo
todas as provas desta verdade consoladora,fundada
em
factosinnumeraveis.Todo
omundo
ossabeigualmente
com
nosco, e cheiosdeassombro,edehuma
nobre inveja nos apontão, e assinalão
com
o dedo.Em-bora o espiritodo erro, disfarçado
com
o trage, enome
impostor de
huma
nova, dehuma
atroz Filosofia, arvo-randoem
huma
das suasmãos
o funesto Estandarte darevolta,
com
amagica InscripçãodosDireitosdohomem,
que apregoa, e queinculca atodooUniverso,
em
quantocom
a outralhe descarrega o golpe mortal, e nadame-nos tenta do que aViestruição do
mesmo
homem
e detodaasua espécie;embora derramepor todaaparte oseu mortíferoveneno, e vomiteda horrívelgarganta lavas de sangue, e de fogo, que inundào, que affogão, e devorão
mil povos desgraçados;ederribandoThronos,e Altares,
se esforce, e pretenda sobre as suas ruinas fundar o
monstruoso Império da Irreligião, e da Anarchia.
Deve-mos
sentir os males dos nossos semelhantes;mas
nãotemamos.
A
Religião, Senhores, a Religiãosomenteob-stará entrenós, qual
muro
de bronze, atodos estesgoza-mos
ha tantos tempos, e que ainda nestes últimos nosnão tem podido roubar de todo os abalos da concussão
universal;aella
devemos
atranquillidade internanomeiomesmo
da tormenta; a ella aquelles vínculosindissolú-veis, que ligão reciproca, e estreitamente os Soberanos
com
os seus povos• e a ellafinalmente aquellaharmo-nia perenne, que
vemos
reinarcom
prazerentreoImpé-rio e o Sacerdócio.
Digna, e SoberanaMãi de tudo quehe útil,honesto, decoroso, e grande, nestafonte pura he que os Augus-tos Reisde Portugal beberão, e aprenderão todasas
vir-tudes, que os caracterizâo, e que fazendo ha perto de
sete séculos
hum
dos fundamentos mais sólidos do seuThrono, formão as delicias, eafelicidadede seus
vassal-los. Se consideramos o zelo, que mostrarão sempre
para conservarem illeso o Sagrado Deposito da Fé, para
sustentarem, e propagarem o verdadeiro Culto; e se
olhamos para tantos outros
monumentos
da suaPie-dade sublime, elles lhes merecerão osingular Titulo de Fidelíssimos: se contemplamos as suas virtudes
intré-pidas, e militares, que immenso, e vasto
campo
se nãoofferece! Se admiramos as suas virtudespoliticas, e
so-ciaes, eu
me
perco. Senhores, neste pélago demaravi-lhas!
Em
quantocom
huma
das suas mãos, obrandopro-dígiosde Valor á frente de esquadrõesguerreiros,
debel-lãobárbaros Reis, e acabão de livraraHespanhado seu jugo pezadissimo,
com
a outra, depois davictoria,tra-ção esses planos justos de Legislação,quefarião
perpe-tuamentefelizesosseus povos.
Em
quanto fi.rmàoaMo-narchia
com
o própriosangue, e fixÃo a admiração, e orespeitodasNaçõesvizinhas,extendem o seu Sceptro, e
asua fama além dos mares conhecidos. Ásia, e Africa
correm já a offerecer-lhes os seus tributos.
Hum
Novo
Mundo,abrindo o seuseio atéallirecôndito,patentêa os
thesouros, queencerraedesentranhando-se
em
riquezas, e preciosidades, esmaltacom
ellas a brilhante CoroadosAugustos Descendentes de Affonso, e a^^ornaos
lou-ros dos seus famosos Descobridores. Todas as quatro Partes
em
fim, penetradas de justo assombro, e32
do Universo, concorrem a fazer célebre o
Nome
Portu-guez, cujas emprezas, e trabalhos, arguidos detemeri-dade por aqueíles, que os não podião imitar, não
limi-tando asi somenteOs seus maravilhosos effeitos,
passa-rão aillustrar, e felicitaroutras Regiões,e outros povos,
que delles se aproveitarão, e aprenderão; e seguindoas
pizadas dos nossos, caminharão fíelo trilho, que estes abrirão
com
o seu sangue, e os seus suores, ainda hojelhes
devem
a parte principal da sua fortuna, e da suaopulência(1).
Aqui florece a Agricultura, allise dilata o
Commer-cio; aindustria o
vem
já seguindo; as Artes, easScien--cias crescendo, e extendendo as suas luzes entre o
es-trépito, e o brilhanteesplendor das armas, ostentarão á
face doUniverso toda asua gloria; honrandoaos
Natu-raes, admiravào aos Estranhos; e illustrando a
IVIonar-chia desde os formosos, e doirados diasdo Grande
Ma-noel, mostrarão ao
mundo
que nellareinavào demãos
dadas Minerva
com
as Musas;o Deos dos combates, eo Génio da paz.
No
seu seio se formarão, e se formãoainda hoje esses Heróes,que
em
todos ostempos farãohonra a hum. e outro; os Albuquerques, os Barros, os
Gamas,
e osCamões
; tão dignos da sua fama, e doslouros immortaes, que hunsaos outrosfabricarão.
E não lhes basta esta gloria?
Não
basta esta para que, distinguindo-a singularmente de todas, constitua aMonarchia Portuguezatão sólida,e feliz, quantohe todo
aquelle povo, e Paiz, onde impera arazão; ondereinaa
Filosofia unida á Religião, as Letras
com
as Armas;eonde as Musas, moderando o furor de Marte,e
huma-nizando osReis,
e^s
Nações,produzem costumespuros,virtuosos, e suaves?
Mas
a quem, Senhores, aquem
deve ella tantas, e(1)Estetestemunhode honra,edejustiçasefirma, eseacha
authorisado pelavozuniversal.Os mesmosEstrangeirosassimo
confessão,eoublicão,cheiosde espanto, forçados pela notoriedade
de factos, qul não podem negar. Nós nos explicamosnolugar
acimaquasi pelosmesmostermos dehumdosseus Escrlptores:
Lafitan. Hist.des Conq.des Portug. L. I danslePréface, epor
33
tão admiráveis vantagens,senão aos Príncipes
Bem-Ama-dos, de que o Ceo, por
huma
Providencia particular, econstante, lhe fez o nnais grato, e precioso presente?
Quantopois sepodedizer
em
louvor destaMonarchia,fazigualmente oelogio dos seusMonarchas.Ellessão
como
a almadeste grand,| corpo, cuja vida, conservação, e
fe-licidade, animão, sustentão, e promovem. Dados a
huma
Nação fiel na effusão das Misericórdias do
Todo-Pode-roso,- estaGeração Real, e escolhidatem sabido
com
assuas virtudescorresponder á excellenciade tão grandes
fins.
Amantes
semprezelososdaJustiça,ellamesma
lhestem franqueado o
campo
para os successivostriunfosdasua Clemência, dessa virtude Suprema, que tanto
asse-melha o
homem
á Divindade, virtude de Heróes, virtudeRégia, e propriamente característica dos Soberanos Por-tuguezes. Magníficos
sem
orgulho; affaveissem
baixeza;compassivos,benéficos, e
humanos
nomeio dagrandeza,e da Magestade, que os cerca; País, e Protectores dos
seus vassallos, ellesderão
com
o segredo de reinarnoscorações, fazendo-se amarporgratidão, respeitar, e obe-decer poramor. Estefoi sempre o maisbrilhante
dístin-ctivodoseu Sceptro;este o dilatou, eofezsuaveatodos
os povos, animou,e coroou os trabalhosemprehendidos
porelle, ácusta de mil perigos, e da própria vida,
sem-pre
amado
dosseus,admiradodos estranhos, respeitado,e obedecido dentro, e fora do Reino, nos Climas
distan-tes, nas quatro Partes do Universo.
E
bem
longe de que o giro,e revolução dos séculostenhão podido produzir algum daquelles eclipses, que
tantas vezes alterarão a condição Ixumana, e de vez
em
quando obscurecemabrilhante facedosImpérios, otempo
só tem servidopara esclarecer mais a este, propagar, e
perpetuar as virtudes dos Soberanos Portuguezes: taes
como
os grandes, e caudalosos rios, que quantomaisseapartão da sua origem, tanto mais alargão asuafoz so-berba, tantomais engrossão e dilatão as suascorrentes.
AffortunadosPortuguezes, e queprovas vosnãoofferece
destaverdadea Real,efirmíssimaCasaReinante, o
Nome
Augusto de Bragança?
Este tronco Régio, cujasraizes,passando semprepor entre Thronos, se entranhão, e tocão na mais alta
34
fundidade dos séculos, cujosramos seenlação
com
ou-tros tantos Sceptros, quantos são os que tem dado aomundo;
cujo excelsocume
chega já aos Ceos; e cujacopaflorida, e magestosa serve de abrigo e derefugioa tantos povos sobre a terra; este Tronco sagrado,
que-brotou da Semente mais pura, tem^adavez melhorado, e aperfeiçoado mais os seusfrutos: affortunados Portu-guezes, e onde ha Príncipes
como
os vossos?Onde
hapríncipes
como
estes? Possuindoe reunindoem
sitodasas virtudes,quedivididascaracterizãoaosSenhoresReis
passados, seus altos progenitores: se minha língua as pertendesseenumerar,perderlãosua grandeza;seriaesta
huma
empreza mui superior ás minhas forças, e atão-pequenodiscurso; eseria
huma
injuriapara avossagra-tidão. Eu fallo
com
osmeus
Compatriotas, e todoo-mundo
tem já lido nossas historias.Portuguezes, vós o sabeis: vós sabeisqueaelles,ou
ás suas virtudes deveis os doces frutos da preciosa
li-berdade, depois de terem quebrado, e despedaçado
com
as suas
mãos
triunfantes os pezados ferros,quevos op-prlmiào: sabeis que delles voslivrarãoácustademilpe-rigos, e do sacrifício difficll do seu descanço, eda
pró-pria vida,
com
asuaprudência,com
o seuvalor, ecom.asua Pessoa Sagrada;
sem
aqual, desfalecida a vossa,nada ousariaIntentar, faltar-vos-hla aalma, eo
estimulo-para
huma
das maiores emprezas, que vio o mundo, eflcariãoassim desarmadas, e maniatadas sempre as
vos-sas
mãos
valerosas: a ellas deveis a perpetuidade dehuma
Monarchla, que faz, e fará sempre toda a vossafelicidade:a ellas aconservação,e oaugmento do vosso
estado actual, eflorente: aellas, a ellasfinalmente, por
complemento de tudo, o melhor, e omais glorioso dos
Reinos,e Reinadoimmortal de Maria 1.
Que nome! Que
Maravilha!
Jactem-se emboraasNaçõesestranhasdealguns
dos-seus Príncipes mais famosos: nós até contamos
huma
Heroina entre os nossos. EseosgrandesReis,
dom
pre-cioso do Ceo, formando nos annaes do génerohumano
abalizadas épocas, forào semprena historia
hum
obje-ctoadmirável, e Interessante, queseráaos olhosdo
35
Huma
Rainha, que unindoás virtudesmais puras,e amá-veis do seu sexotodas as virtudes sublimes dos maiores Imperantes, tem collocado o seu Nome, e oReinado apar das Isabeis, das Christinas, das MariasTiíeresas, e
das Catharinas;igual a estas nos talentos,querecebeo; superior no uso qu,j fez delles; e ainda maisrara, e
di-gna de louvor pelos sentimentos sempre constantes de
Justiça,deBeneficência, ede Piedade,que acaracterizão.
Mortaes de todas as Regiões, e de todos os Climas,
vinde prostrar-vos aos pés do seuThrono,vinde
render-Ihe o tributo das vossas homenagens, e vinde ver, e
admirar de pertono Príncipe adorado, AugustoHerdeiro
do seu Sceptro,e das suasvirtudes, e legitimo Succes-sorde tantos Reis esclarecidos, odignoFilhodetalMãi, o novo Depositário da nossa felicidade.
Cheiodos princípios maisjustos, e sublimes; dotado
de
hum
coração recto, e dehuma
alma nutrida, ehabi-tuada no
bem
;com
queprazer, emaravilha onão temosvisto repetiros seus ensaios; ou antes verdadeiras
pro-vas, na grande, edifficil Arte de Reinar!
Com
queacerto, e firmeza não tem regido o pezado leme daMonarchianestes tempos tão tristes, e tormentosos!
Que
prom-ptas, e sabias Providencias! E ao
mesmo
passo, queGraças não derrama continuamente sobre milhões de
vassallos na occasião
mesma em
que parece esgotar-seafonte delias nas urgências mais indispensáveis do
Es-tado! E finalmente,que zelo, humanidade, moderação, e quepiedade.
E se Deos, pelos seus profundos, e impenetráveis
Juízos, costuma punir, ou premiar^^nos povos as
virtu-des,ou os crimes dos queos governão,edos seus
Prín-cipes, quantas razões não temos nós de attribuíraos
nossos toda a felicidade de que gozamos, e
particular-•mente esta, que hoje tanto nos interessa? Unido pelos vínculos mais Santos a
huma
Princeza amável, e dignad'Elle; o Ceo, que muitas vezes começa aremuneraro
Justo sobre a terra; o
Ceo
que teceo, e formou esses laços sagrados; oCeo
mesmo
os corooucom
abençãode fecundidade, a fim de que, fazendo d'Elles o
instru-mento das suas Misericórdias sobre
hum
povoescolhido,A MamalucaMaria Barbara,mulherdehumsoldado, cruelmente assassinada nocaminhoda Fonte do karco, perto d'esta Cidade
deBelém, por quepreferioamorteámanchadeinOelao seu espozD
Se acaso aqui topares, caminliante,
Meu
frio corpojá cadáverfeito,Levapiedoso
com
sentido aspeitoEstanova ao esposo afflicto, errante.
Diz-lhe
como
deferro penetranteMe
viste porfie! cravado o peito,Lacerado,insepulto, e já sujeito
O
tronco fêo ao corvo altivolante:Que
d'hum monstro inhumano, Itie declaraA
mão
cruelme
trata desta sorte;Porém
que alivio busque ádôramara,Lembrando-se que teve
huma
consorte,Que
porhonra dafé quelhe jurara,Dignando-seoGovernadoreCapitão General
D. Francisco deSouzaCo-alinlioaparecercomuniforme de simples soldado
emparada de mostra
do2."Corpoauxiliar,por incentivoetionraaosbriosdos milicianos
Não
vence o General,que nabatalViaSó
mostra briosem
trazer bordadosRicos telizes, elmos emplumados,
Luzentesarmas, e lustroza malha;
Mas
sim aquelle, quefiel trabalhaEm
inspirarmagnânimo
aos soldadosO
puroamor
da gloria,despresadosOs
fúteis dons que amão
dotempo talha.Assim Coutinho illustre, que vestido
Vem
de uniforme simplese ligeiro,Fama
nos dá, e exemplo esclarecido.Honra-te, ó Terço, (1)desde já o primeiro,
Que, se
em
Souza outros ternJChefe subido.Tu
o contastambém
porcompanheiro.(1) Nessetempoos corpos demilicias au.xiliaresse
denomi-navào Terços,eo Autor eraofficialdaquelleemquese
/
A MamalucaMaria Barbara,mulherdebumsoldado,
cruelmente assassinada nocaminhoda Fonte dotiarco,perto d'estaCidade de Belém,por quepreferioamorteámanchadeinOelao seu espoza
Se acaso aqui topares, caminhante,
Meu
friocorpo jácadáverfeito.Levapiedoso
com
sentido aspeitoEsta novaao esposo afflicto, errante.
Diz-lhe
como
deferro penetranteMe
visteporfiel cravado o peito.Lacerado, insepulto, e já sujeito
O
tronco fêo ao corvoaltivolante:Que
d'hum monstro inhumano, lhe declaraA
mão
cruelme
trata desta sorte;Porém
que alivio busque ádòr amara,Lembrando-se que teve
huma
consorte,Que
porhonra dafé que lhe jurara,Dignando-seo GovernadoreCapitão General
D. Francisco deSouzaCoatinlioaparecercomuniforme de simples soldado
emparadademostra
^02." Corpoauxiliar,por incentivoehonraaosbriosdos milicianos
Não
vence o General,que na batalhaSó
nriostra briosem
trazerbordadosRicostelizes, elmos emplumados,
Luzentesarmas, e lustrozamalha;
Mas
sim aquelle, quefiel trabalhaEm
inspirarmagnânimo
aos soldadosO
puroamor
da gloria, despresadosOs
fúteisdons que amão
do tempotalha.Assim Coutinho illustre,que vestido
Vem
de uniforme simples e ligeiro,Fama
nos dá, e exemploesclarecido.Honra-te, ó Terço,(1) desdejá o primeiro.
Que, se
em
Souza outros temí^Chefe subido.Tu
o contastambém
porcompanheiro.(1) Nesse tempoos corpos demilícias au.xiliaresse denomi-navão Terços,e oAutoreraofíicialdaquelleemquese
AoGovernadoreCapitão General do Estado do Pará D.Francisco deSouzaCout^atio,
sendo promovidoao posto de Capitão deMareGuerra,naoccasião dos primeirosmovimentos
da Europaacercada Revolução Franceza
SONETO (1)
Sangues,mortes, incêndios vomitando,
Sahe do
avemo
a Discórdia regicida.Que
aEuropa, de mil males opprimida.Vai
em
tristes ruinas sepultando.Todos
se aprestão,cada qual buscandoResistir, e salvar a Pátria, avida:
Sõad'Austria'atrombeta retorcida,
Ejá Sardos, e Prussios vão marchando.
De
Britannos baixeis omar
se cobre;E,
em
tanto estrago, Lysia acauteladaArma também
oempavesado
Pinho:E, p'raque sfcu respeito então se dobre, Ajuntaaos Capitães da forte
Armada
O
grandeNome,
oNome
de Coutinho..humpassarinho,quandooAutorsoffriavexações
Passarinho, que logras docemente
Os
praseres daamável innocencia, Livre de que aculpada consciênciaTe
afflijacomo
affligeao delinquente.Fácil sustento, e sempre mui decente
Vestido tefornece a Providencia;
Sem
fucturos prever, tua existência He feliz, limitando-se ao presente.Não
assim, ái demim!
porque soffrendoA
fome, a sede, ofrio, aerifermidade,Sinto
também
do crime opezo horrendo.Dos
homens
me
rodêaa iniquidade,A
calumniame
opprime; e, aofim tremendo,AoSnr.JoséEugénio deAragãoeLima,
ProfessordePtiilosopbia,amigodo iutor, quaikloellefoiperseguido, presoedesterrado
Em
quanto o molle SyberitatremeDa
desgraçaco' o simples pensamento;O
Varão forte,sem
perder o alento,De
arrrostar-secom
ella nào, nãoteme:Entre cadèas e grilhões, nào
geme
;Mas
armado de heróicosoffrimento.Livre aalma, conserva o peito isento,
Na
fornalha, no potro, ena trireme.Tal Eugénio presado,tu, que unindj
Com
a sãa Philosophia a Cristandade,Dos
jogosdafortuna te estás rindo. E das fezes da negra adversidade.Qual provido IVlineiro,colligindo
Aosannos daExm,^ Condeçados Arcos,em180í, e offerecidoaoCotríeseufllho,GovernadoreCapitão General
do Estado do Pará
Não
só do Tejo os immortaes cantores Alegreshymnos
ateunome
entoão,Também
nas margensdoAmasonas
soão, O' preclara heroina, os teus louvores.Se aquelles de teu berço os resplandores
De
pertoadmirão, entre nós ressoãoAs mil virtudes,que brilhantesc'roão
Os
dons que herdaste, as graças, os favores.Elies virão nascer teu claro dia;
Mas
nósvemos
aqui o doce fructo,Que
o Céo, de tinascido, nos envia.Oh!
quanto te hé devido este tributo!Pois quedeti nasceo nossa alegria.
Aosgloriosos successosdasArmas na restauração dePortugal, depoisda Invasão dosFranifezes,
epelosfeitosdos briososParaensesnaConquista deCayenna
HoI.1120Invicto asArmasTriunpliames(i)
SONETO
(LIE1MPK0VI>0(
Os
crimes innundavão toda a Terra,E váriosmonstros no Avernoconcebidos, •
Na
Córsegae no Sena produsidos,A' todos osmortaesfazião guerra.
A
impiedade, aperfidia, e o mais que encerraPandora nos seus Cofres denegridos.
Entre lúgubresáis, entre gemidos,
Da
face do Universoa paz desterra.Porém, á tantomal, o Céo, que héjusto.
Já
põem
termo, suscita mil Atlantes,Lopes, Silveiras, Palafo.x
sem
susto.li
Suscita outros Heroes da Pátria amantes, E faz que brilhem no Braziladusto
Do
Luzo
Invicto asArmas
Triunphantes.(1)inscripçào em uma pequenabandeira,quecomasarmas
reaes,sobre
um
Castello de confeitaria sé achava nocentrodameza de doces, queo Governador eCapitão General do Grão
Pará deo aos Convidados no Palácio do Governoemo diados
Festejos pelos sobreditos sucessos.Enessa occasiãooAutorcom
NoAnniversariodo^riacipeRegente á 13 de Maio de 1809, l."depois dasua vinda parao Brazii,
e1."daConquista daGoyannaFranceza, pelasArmasPortuguezas desta Capitaniado Grão Pará, queoGovernador eCapitão General José Narciso de MagalhãeseMenezesexpedio
Neste dia, o mais beilo,
em
quede pertoTe vio, qual Phebo,renascer jucundo,
Cheio de gloria e luz o
Novo
Mundo,Hum
puro amor, ó Príncipe,te offerto.O
Grão-Pará, dejubilo coberto.Abre seu peito
em
producções fecundo;E,
com
zelo e respeito o mais profundo,Te
offreceprovas mil, tributo certo:Os
bens, o sangue, avida te offrece;
Mas, sobre todos, Magalhães sublime
O
Teu
Sceptro magnifico engrandece:
i
Em
todos seu valor, seu génio imprime;Já Cayenna, Senhor, te reconhece,
AoSnr.Alexandre deSouzaMalheirf de Menezes, Intendente daMarinhado Pará,eCapitão de Fragatad'A[madaReal,
naoccaslãoemquefoipromovidoaesteposto
O
nobre sangue teu, teu génioclaro,Talentos e valor, já conhecidos,
N'um
pólo, e n'outroem
factos repetidos,Do
Francezbellicioso, e INIouro avaro;Não
são,Malheiroillustre, o que maisraroEm
ti contemplãohoje enternecidosOs
Paraenses, todos convencidosDo
teu singular méritopreclaro.Hum
peito bemfeitore generoso,Sensível coração,
huma
alma pura:Hé estesim o teu brazão honroso.
Porelle o
Céo
te leva ámor
altura;Eeu, entre todis, grato e sonoroso
AoIllm."c Exm.",Siir. Martinho deSouza e Albuquerque,
GovernadoreCapitão General
do Estado do Pará, actiando-se ábanhosforada Capital
IDYLLIO (1)
Hum
dia, que apressadoO
manso
gado trouxe ao seu aprisco,Por poder socegado
Hirbantiar-me no rio,
sem
o riscoDa Onça
tragadoraA
cria vir roubar-me ámesma
hora.Quando
jámergulhandoNas ondas té ao centro m'entranhava,
Ou
sobre aagua olhandoO
delphim nadador arremedava;E
em
tanto o claro diaCos
exforços da noite mal podia.Á
praiame
recolho;E,
tomando
o vestido,um
murmurinhoSintoda esquerda! olho:
Hé
um
bando deNymphas, que o visinhoigarapé descendo,
Com
pressa ao largo riovem
rompendo.48
4."
Queto
me
ponho a ouvillas,Porver o que dizião,pois fallando
Entre si
vem
: sentillasFácil
me
foi;mas
euvou duvidando,Que
acertar possa ofio *Dascousas, quedizião peiorio. 5.»
«Vamos, ó
Nymphas, vamos
«Renderao Maioral nossa
homenagem.
«Parece que tardamos!
«Eiapois, avistemos a paragem,
«Onde
o ChefeSubido«Ha
dias, por doença, está detido.6.0
«Estamosaqui juntas
«As
Nymphas
tutellares destes rios,«E vem-nosadjuntas
«Muitas queos lagos tem por senhorios:
«Todas Martinho honremos,
«Faça-mos,
Nymphas,
tudo oque devemos.7.»
«As agoas mais sadias
«Para qui n'altá enchente encaminhadas
«Sejào, e nestes dias
«As
floresjunto ao banho amontoadas:«Os
ventoschamaremos,«E, que brandos respirem, lhes
rouguemos
Humas
assim dizião;
Porém
outras, parando concertavão49
Em
que obom
Maioral muito iouvavão; Aquellas afinandoOs
retorcidos búzios, e cantando:9.0
« Já
huma
entoa,como
Havia o
bom
IMartinlio navegadoO
Amasonas, ecomo
O
Guámá,
Tocantins há visitado,E ámi! rios distantes
Porver, e dar auxilio aos Habitantes!
10."
Cantão outras Deidades,
Como
foracom
festasrecebido;E quantassaudades
Os
povos de seos rios tem sentidoDepois;
como
se senteA
nova damoléstia impertinente.11.
Promettem logo aquellas,
Qu'em
melhorando, ao Deos da MedicinaTem
delevar CapellasDa
branca surnaúmeira, muitofina,Cos
ramos enlaçados '^D'umiry por cheirozos procurados.
«O.xalá que depressa
«As
Tutellares Deosas destes rios«Cumprão
suapromessa...Clamei então;
mas
ah!meus
votos piosAs
Nymphas
assustarão!Idillio
emlouvor doIllm."eExra." Snr.D.Francisio deSouzaCoutinho, nodiaemquese festeja
o ADDlTersario de sua Posse doGovernode^teEstado
INTERLOCUTORES
TiRSENO, E AlBENIO
Serranos deste Contorno (1)
Deixa Tirseno a vàa melancolia.
Que
sempre traz tão lividos teusoínos:
Que
fazes,em
legar tão solitário,Mudo
e triste pensando?Não
temovem
Os
prazeres, que occupão nestedia.Nestediaditozo anossa Aldêa?
Assimchegandojunto de Tirseno,
Albenio lhe dizia, o
bom
Albenio Pastor honrado, ehum
dos mais polidosDe
grande authoridade entre os Pastores,Que
habitão sobre as margens do Amazonas,E
em
gados, e i^izaes mui opulento.Desse
mesmo
contorno era Tirseno,Serrano inda mancebo, a
quem
os fadosPor altapermissão do
Céo
Supremo,Deixarão
sem
haveres, e cabana:E os grossos cabedaes,que possuião
(1)
Com
onomede Tirseno se disignaoAutord'este idytlio,ecom o de AlbeniooCoronelAmbrósio Henriques,festeiro,que
foi quempedio ao primeiroqueemtrezdiasfizessealgumaobra