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Escravidão, criminalidade e Justiça: um balanço da produção historiográfica recente. Lídia Gonçalves Martins. Introdução

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Escravidão, criminalidade e Justiça: um balanço da produção historiográfica recente∗ Lídia Gonçalves Martins∗∗

Introdução

Os estudos sobre a criminalidade no Brasil têm assumido nas últimas décadas posição de destaque na historiografia. A partir dos anos de 1980 – momento de intensa revisão historiográfica da escravidão –, as temáticas da violência, das relações senhor-escravo e das formas de resistência adotadas pelos cativos passaram a ser abordadas segundo perspectivas diversas e inovadoras. Para tal, foi fundamental a influência dos historiadores ingleses tais como E. Thompson, Douglas Hay e Peter Linebaugh, que se voltaram para o crime enquanto objeto histórico considerando-o como um produto das relações cotidianas. As fontes criminais ganharam destaque e novas abordagens passaram a ser utilizadas, permitindo uma análise diversificada das interações sociais ocorridas no interior dos grupos subalternos. Tais abordagens possibilitaram a multiplicação de trabalhos sobre a questão do controle social e sobre os crimes cometidos por escravos em diferentes regiões e circunstâncias.1

É nesse contexto de renovação que a historiografia social da escravidão volta-se para uma análise do escravo enquanto sujeito histórico (contraposta à perspectiva até então vigente do escravo-coisa) em busca da reconstituição de suas vivências, com o intuito de entender as estratégias de resistência ao domínio senhorial, percebendo-o como elemento fundamental para a reconstituição do processo de dominação escravista e para o entendimento de um quadro posterior de desagregação da instituição.

No que se refere à Justiça, ao longo do século XIX, sua organização, herdada do período colonial, passou por diversas transformações, tendo em vista a consolidação do Poder Judiciário de modo a legitimar o nascente Estado nacional. A partir da segunda metade do século, as atribuições judiciárias foram se tornando mais específicas. A justiça criminal ganhou destaque, expressando uma preocupação crescente com o crime e a criminalidade. De acordo com os estudiosos, é a partir desse período que o Estado consegue ampliar seu

Este artigo é parte de minha monografia de bacharelado intitulada Criminalidade escrava em Mariana (1850-1888), orientada pelo Prof. Dr. Marco Antônio Silveira, do departamento de História/UFOP.

 ∗Graduada em História pela Universidade Federal de Ouro Preto.

1 Ver: VELLASCO, Ivan de Andrade. As seduções da ordem: violência, criminalidade e administração da justiça: Minas Gerais – Século XIX. São Paulo: Edusp, 2004; BRETAS, Marcos Luiz. O crime na historiografia brasileira: uma revisão na pesquisa recente. BIB, Rio de Janeiro, n.32, p. 49-61, 2º semestre de 1991.

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controle social, especialmente sobre as elites locais, verificando-se, na segunda metade do século, uma crescente interferência nas relações entre senhores e escravos. (VELLASCO, 2004, p. 91-106).

Paralelo a isso, ocorre uma série de mudanças no âmbito da escravidão. A extinção do tráfico internacional de escravos, em 1850, coloca em questão o problema do abastecimento de mão-de-obra no Brasil, intensificando o tráfico interno e provocando uma elevação nos preços dos cativos. Cabe destacar que Minas permaneceu ao longo do Oitocentos como uma província essencialmente escravista. Contrária à idéia de estagnação econômica após o auge da mineração, a historiografia dos anos 80 comprovou que a província contou com um elevado contingente populacional e com o maior plantel escravo do Império, organizado em torno de atividades econômicas diversificadas.

No âmbito das legislações, a aprovação da Lei do Ventre Livre foi fundamental para redimensionar a escravidão, passando a haver uma pressão constante no cotidiano da propriedade. A lei de 1871 libertava os nasciturnos e reconhecia o direito dos escravos à autocompra, instituindo e tornando obrigatórios a matrícula geral dos escravos e um fundo de emancipação gradual. Antes disso, em 1869, havia sido aprovada a lei que proibia os açoites públicos e a separação das famílias. Essa legislação, somada à Lei dos Sexagenários (1885), representa, de acordo com a nova historiografia social da escravidão, o reconhecimento de conquistas obtidas pelos escravos, contrapondo-se à antiga concepção de simples concessão senhorial. (CASTRO, 1995).

Com a consolidação da montagem do aparato judicial e o reconhecimento legal de direitos escravos, as relações antes resolvidas na esfera do poder privado dos senhores passam a ser mediadas pelo Estado, evidenciando a fragilidade do sistema escravista. A justiça teria se revelado, assim, “sedutora”, oferecendo possibilidade de resolução de conflitos e efetivação de direitos às diversas camadas sociais. (VELLASCO, 2004).

Partindo destas considerações, apresentamos a seguir um balanço de algumas das principais produções historiográficas sobre as temáticas da escravidão, da criminalidade e da Justiça no século XIX. Em seguida, apresentamos nossa pesquisa monográfica acerca da criminalidade escrava em Mariana na segunda metade do Oitocentos, desenvolvida com base em algumas das discussões levantadas pela historiografia trabalhada.

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Os estudos sobre a criminalidade escrava e a Justiça

Como ressalta Marcos Bretas (1991, p. 49-61), as pesquisas baseadas nas fontes da Justiça Criminal se desdobraram em estudos sobre crimes relacionados à escravidão, a homens livres pobres e à emergência de novos agentes de controle social. Na esteira dos novos estudos, o tema do Direito ganhou cada vez mais espaço e, segundo Adriana Pereira Campos (2003), podemos identificar dois grandes blocos de pesquisa, de acordo com as fontes utilizadas. As alforrias e as ações de liberdade são os documentos privilegiados para a discussão da legislação civil, tema tratado de forma inovadora por Hebe Mattos. Os trabalhos sobre crime e escravidão, por sua vez, detêm-se no uso dos processos criminais, linha em que se inserem trabalhos como os de Maria Helena Machado.

Um dos trabalhos pioneiros sobre criminalidade e escravidão é o da autora Sueli Queiroz (1977). Utilizando processos judiciais de Campinas durante o século XIX, a autora demonstra que as ações escravas não se pautavam apenas na submissão, existindo situações mais violentas, dentre as quais se destacam as agressões físicas. A existência de poucos processos envolvendo escravos (252 de um total de 1.347) é explicada pela autora pelo fato de muitos delitos não chegarem ao conhecimento da Justiça.

Maria Helena Machado (1987), em pesquisa sobre Campinas e Taubaté entre 1830 e 1888, aponta para a tendência de aumento do número de crimes contra a pessoa, especialmente donos de escravos, para a região de lavoura paulista a partir da década de 70, momento de evidente crise do escravismo. A autora encontra um percentual de pouco mais de 10% de crimes com presença escrava, incluindo homicídios, agressões, furtos e rebeliões como formas de resistência à escravidão. Tal número se faz significativo, pois, segundo ela, reflete os impactos causados pelo estrangulamento da dinâmica do trabalho, bem como as resistências à tentativa senhorial de reduzir os espaços de autonomia escrava.

Em contraste com este número, Leila Mezan Algranti (1988) verifica, nos registros de prisões no Rio de Janeiro entre 1810 e 1821, a presença escrava em 80% das detenções. A maior parte dos escravos presos havia cometido crimes contra a ordem pública, demonstrando a preocupação da polícia com o controle social. Como ressalta a autora, foi no Rio de Janeiro, sede da Corte portuguesa, que as transformações da vinda da corte se deram de maneira mais intensa. O processo de urbanização, o aumento populacional e a demanda por mão-de-obra

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fizeram do Rio uma “cidade escrava”. Isso explica o fato de que boa parte dos crimes escravos era cometida contra outros escravos e homens livres pobres, como resultado de uma maior convivência entre esses grupos, viabilizada pelas formas típicas da escravidão urbana.

A relação entre crime e escravidão também pode ser observada no trabalho de Sidney Chalhoub (1990), ao analisar, através de consulta a processos-crime, as experiências escravas no cotidiano de suas relações com os senhores e os diversos significados da liberdade para esses cativos nas últimas décadas da escravidão na Corte. Segundo Chalhoub, há um movimento em que os escravos recorrem à Justiça como forma de escapar à dominação senhorial. Em contrapartida, como afirma Hebe Castro (1995), há uma tentativa, por parte dos senhores, de manter a resolução dos conflitos com seus escravos no âmbito privado, como uma forma de “suavizar” suas perdas, especialmente após 1850, com a alta dos preços dos cativos.

Os crimes de escravos são o objeto de estudo de Maria Tereza Pereira Cardoso, em sua tese sobre o Rio das Mortes na primeira metade do Oitocentos. Utilizando diversas fontes, entre elas as criminais, a autora verifica a predominância dos crimes particulares em relação aos crimes públicos e policiais. Cruzando as categorias cor e condição, Cardoso constata que a maioria dos réus pronunciados nos registros criminais pertencia a um universo de escravos e afro-descendentes. Em busca dos significados dos atos desses cativos, de suas motivações e noções de justiça, a autora conclui que “os escravos e seus descendentes souberam transitar no universo do cativeiro, burlando a lei branca e reelaborando e atualizando códigos de uma justiça negra” (2002, p. 25), sempre apoiados na memória cultural africana.

Ivan Vellasco (2004), em estudo também sobre o Rio das Mortes entre 1800 e 1890, encontra presença escrava em 10% dos crimes, dados próximos aos encontrados por Maria Helena Machado e Celeste Zenha (1984). A trajetória da criminalidade escrava implica duas elevações no primeiro quartel do século, uma em 1810 (quando há uma elevação nas curvas de todas as camadas sociais, reforçando a percepção de aumento da produção judicial) e outra em 1830. Após 1840 a criminalidade escrava se torna inferior à das demais camadas, o que, para a região estudada, reflete uma diminuição do contingente escravo na segunda metade do século e o exercício de um controle mais rigoroso sobre esta população. Embora os registros de prisão apontem mais para questões de manutenção da ordem pública, os registros judiciais expressam o predomínio de crimes contra a pessoa, com elevada presença escrava e um maior número ainda abarcando a camada livre pobre (crimes violentos). Vellasco, contrastando em

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parte a perspectiva de Algranti, procura mostrar que os crimes cometidos por escravos provinham não apenas de resistência, mas também da partilha de valores comuns, já que suas motivações eram muitas vezes similares às dos indivíduos das demais camadas sociais.

Em sua tese de doutorado, Adriana Pereira Campos analisou a prática jurídica aplicada aos escravos na província do Espírito Santo entre 1830 e 1888. A consulta às fontes criminais revelou uma distinção entre os trabalhos da polícia e da justiça. Embora essas autoridades estivessem integradas em um mesmo processo de controle social, a polícia centrava-se na disciplina social, enquanto a magistratura atuava nos crimes com vítima. Os escravos estão representados em cerca de 10% das partes processuais, constatando-se um progressivo afrouxamento da política repressiva sobre os cativos. Em vista disso, a autora argumenta que “não se pode assumir como pressuposto que todo ambiente urbano escravista no Brasil dos oitocentos comportava uma crescente criminalidade escrava, eliminando a inquirição a respeito da dinâmica social dos aspectos locais em estudo.” (CAMPOS, 2003, p. 232). Para a autora, a reduzida presença de cativos nas “barras dos tribunais” deve-se não a uma sub-representação dos números ou à tentativa dos senhores de manter os conflitos na esfera privada, mas a um entrelaçamento entre poder público e interesses dos senhores. Esta explicação, a nosso ver, sugere que o próprio senhor pudesse atuar desestimulando a punição judicial do escravo. Além disso, Campos conclui que o que tornava o réu propenso a receber penas duras não era a gravidade do crime cometido e sim o grau de vinculação/desvinculação com o senhor.

Cabe aqui uma observação importante que diz respeito à distinção entre os trabalhos da Polícia e da Justiça. Enquanto as autoridades policiais atuavam nos crimes contra a ordem pública, as autoridades judiciais concentravam-se nos crimes com vítima. Isto explica o fato de os registros de prisão apresentarem um índice elevado de participação escrava (como demonstra Algranti), tendo em vista a preocupação com sua vigilância (preocupação que fica evidente nas Posturas Municipais, por exemplo). No dia-a-dia, “ocorrências aparentemente banais, como uma altercação verbal entre duas pessoas, corriam o risco de ser enquadradas ou mesmo registradas como crime.” (CAMPOS, 2007, p. 216). Já os processos criminais, por tratarem apenas dos crimes violentos, tendem a apresentar porcentagens menores.

Outra tese recente sobre as práticas da Justiça no século XIX é apresentada por Dimas José Batista. O autor analisa os crimes cometidos por homens pobres livres e escravos na região norte de Minas, verificando a predominância dos crimes violentos. Sua pesquisa chega

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a conclusões muito parecidas às de Maria Sylvia de Carvalho Franco sobre homens livres pobres. Assim como os caipiras de São Paulo, os sertanejos do norte mineiro tinham suas relações domésticas, de lazer, trabalho e vizinhança permeadas pela violência. Segundo Batista, a existência de fronteiras mal fixadas, a indefinição de competências dos funcionários da Justiça, a punição restrita e seletiva e/ou a existência de um Estado para as elites e outro para o restante da população impossibilitavam que o Estado aplicasse de modo eficaz a Justiça em uma região de sertão. A emergência deste cenário, segundo o autor, contraria a idéia de “justiça sedutora” nos termos propostos por Ivan Vellasco, pois

tanto os dados estatísticos como os discursos dos presidentes [de província] corroboram que a Justiça enfrentou inúmeras dificuldades internas e externas para consolidar o projeto centralizador e de ordem, enfim, o projeto civilizacional engendrado pela elite política brasileira e mineira. (BATISTA, 2006, p. 92).

Em pesquisa sobre a criminalidade em Mariana nos primeiros 30 anos do XIX, Alan Nardi de Souza (2007) confirma a tendência apontada pela historiografia de predominância dos crimes contra a pessoa ao longo do período estudado. Os assentos de prisão revelam que os crimes contra a pessoa somam 44,5%, seguidos dos crimes contra a propriedade (41,3%) e crimes contra a ordem pública (6,1%). Quanto à condição dos presos, verifica-se que 80% dos crimes foram praticados por livres, 11% por escravos e 9% por forros. Entre os escravos, as agressões físicas (44%) e os homicídios (35%) são os crimes mais significativos. É preciso lembrar, no entanto, que se trata de um período em que o crime e as penas ainda estavam previstas nas Ordenações Filipinas, sendo a Câmara Municipal o órgão a cumprir suas determinações.

O tema da criminalidade foi alvo de crescente preocupação do Estado. É o que se observa nos relatórios ministeriais e provinciais, principalmente a partir da segunda metade do XIX, através da constante apresentação de dados referentes à criminalidade nas províncias. (VELLASCO, 2004). No entanto, como afirma Dimas Batista (2006), dos discursos dos presidentes emerge a constatação das dificuldades de garantir a segurança da população devido à grande extensão territorial da província, às carências econômicas e ao despreparo dos agentes, questões que não devem ser desconsideradas em uma análise mais pormenorizada da implementação do aparato judicial por parte do Estado.

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Em nossa monografia de bacharelado intitulada Criminalidade escrava em Mariana, o objetivo foi analisar os crimes envolvendo escravos entre 1850 e 1888. Foram encontrados 50 autos criminais, analisados de modo quantitativo e qualitativo. Nossos índices se aproximam dos dados fornecidos pela historiografia, que aponta para uma proporção em torno de 10% de crimes com participação escrava. Destaca-se o predomínio dos crimes contra a pessoa (90% dos casos), marcando as interações violentas que perpassaram não só as relações entre senhores e escravos, mas também entre escravos e indivíduos livres, libertos e outros escravos.

No que se refere à atuação da Justiça, verifica-se uma diferenciação nas sentenças de crimes praticados por cativos e por senhores. Tanto os crimes praticados por escravos contra senhores como os de senhores contra escravos sofreram a intermediação da Justiça. No entanto, enquanto todos os crimes perpetrados por escravos contra seus senhores e prepostos foram punidos com base na lei de 10 de junho de 1835, em nenhum dos processos em que senhores figuraram como réus houve a condenação. Diante desse antagonismo nas decisões judiciais, somos levados a concluir que embora a Justiça tenha se constituído como um locus privilegiado para a resolução de conflitos antes pertencentes à esfera privada, suas decisões não parecem ter superado as relações de poder existentes, ao contrário, tenderam a reforçá-las.

Não se pode negar que a Justiça se expandiu e se firmou na regulação dos conflitos sociais, como bem afirma Vellasco. Como vimos, ela foi “sedutora” para diversos escravos em defesa de seus direitos e garantias. Contudo, não podemos afirmar que suas expectativas foram plenamente atendidas, uma vez que as sentenças proferidas apresentaram, quase sempre, pesos diferentes, a depender da situação econômica, da influência política e do status social de réus e vítimas.

Por outro lado, notamos que em nenhum dos crimes de escravos contra seus senhores houve condenação, em última instância, à pena capital. Em todos os processos houve a comutação da pena em prisão com trabalho, açoites, ferro ao pescoço ou prisão simples. Mesmo havendo uma distinção na condenação de crimes cometidos por livres e por escravos, alguns casos nos fazem acreditar que a pena sofrida pelo cativo ficou aquém do delito cometido (por exemplo, o assassinato do senhor punido com açoites) já que a pena máxima prevista era a de morte. Nesse caso, cometer o crime e entregar-se à Justiça parece ter surgido como a alternativa mais atraente ao escravo. Acreditamos na hipótese de que o movimento abolicionista, a nova legislação, sobretudo a Lei do Ventre Livre e a intervenção pública na

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relação senhor/escravo contribuíram para a corrosão da autoridade senhorial, levando escravos a matarem seus senhores e se apresentarem à Justiça.

Conclusão

De modo geral, os trabalhos apresentados apontam para a presença escrava em torno de 10% dos crimes analisados (dado recorrente nos estudos e que precisa ser melhor entendido), embora haja divergências entre alguns autores quanto ao significado dessa participação (sub-representação das fontes, maior vigilância sobre os escravos etc.). No entanto, é preciso ter cautela ao comparar estes estudos, pois, como vimos, trata-se de recortes temporais e espaciais distintos. Além disso, raramente os pesquisadores encontram séries de dados completas, o que também dificulta as comparações. Outro fator importante são as diferentes abordagens adotadas pelos autores. Todos esses fatores fazem emergir contextos sociais, econômicos e políticos muito específicos que, por sua vez, resultam na existência de relações entre senhores e escravos bastante peculiares.

Outro resultado comum a todas as pesquisas diz respeito ao predomínio dos crimes interpessoais ao longo do século, com destaque par a os homicídios e as ofensas físicas. Como vimos, esse tipo de crime prevalece principalmente nas pesquisas com fontes judiciais, enquanto nos registros policiais os crimes contra a ordem pública tendem a prevalecer.

Partindo de uma situação-limite – o crime – os historiadores se voltaram para os escravos enquanto agentes históricos tendo em vista a reconstrução de suas vivências, seus valores e suas estratégias de resistência à dominação senhorial. Esses estudos, por sua vez, contribuíram para conhecermos melhor a sociedade escravista oitocentista.

Referências bibliográficas

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BATISTA, Dimas José. A administração da justiça e o controle da criminalidade no Médio Sertão do São Francisco, 1830-1880. Tese. (Doutorado em História). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. São Paulo: USP, 2006.

BRETAS, Marcos Luiz. O crime na historiografia brasileira: uma revisão na pesquisa recente. BIB, Rio de Janeiro, n.32, 2º semestre de 1991, p. 49-61.

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Referências

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