• Nenhum resultado encontrado

KOHLENBERG, R.J; TSAI, M - FAP. Psicoterapia Analítica Funcional

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "KOHLENBERG, R.J; TSAI, M - FAP. Psicoterapia Analítica Funcional"

Copied!
255
0
0

Texto

(1)

Funcional

Criando Relações Terapêuticas

Intensas e Curativas

Robert J. Kohlenberg

(2)

A Psicoterapia Analítico Funcional, uma proposta

teórica e aplicada inserida no

campo da Terapia

Comportamental e Cognitiva, foi desenvolvida por

Kohlenberg e Tsai ao longo da

década de 1980, e contribuiu significativamente para se compreender por quais

mecanismos a relação entre um

terapeuta e seu cliente afeta os

processos de mudança. São

discutidos nesta obra

importantes aspectos

conceituais, acompanhados por

transcrições de interações

terapêuticas e suas respectivas análises. Terapeutas de

diferentes abordagens,

experientes ou novatos, todos estão convidados a estabelecer

com os autores uma espécie de

diálogo. Kohlenberg e Tsai nos

oferecem seu sofisticado

raciocínio clínico, baseado em

uma visão científica a respeito do comportamento humano, o

qual certamente irá atrair a atenção dos profissionais

brasileiros nas áreas de Psicologia e Psiquiatria.

(3)
(4)

Psicoterapia Analítica

Funcional

Criando Relações Terapêuticas

Intensas e Curativas

Robert J. Kohlenberg

Universidade de Washington Seattle, Washington e i

Mavis Tsai

Psicóloga Clínica Seattle, Washington Tradução

Organizadora

Rachel Rodrigues Kerbauy

Traduzido por

Fátima Comte

Mali Delitti

Maria Zilah da Silva Brandão

Priscila R. Oerdyk

Rachel Rodrigues Kerbauy

Regina Christina Wielenska

Roberto A. Banaco

Roosevelt Starling

Reimpressão

Editores Associados

(5)

Kohlenberg. Robert J. (1991)

Psicoterapia Analítica Funcional: Criando Relações Terapêuticas Intensas e

Curativas / Robert J. Kohlenberg e Mavís Tsai.

4

Inclui referências bibliográficas e índice remissivo

ISBN 85-88303-02-7

1. Terapia Comportamental. 2

.Psicoterapeuta e paciente. I. Tsai. Mavis. II. Título

(DNLM: 1. Comportamento.2.Relaçõesterapeuta-pacierite.3.Terapia psicana-lítica. 238págs. WM.460.6 K79f] RC489.B4KÕ5 2001 616.89,I42-~cc20 91-21357 CIP.

Versão em Língua Portuguesa

Editora: Teresa Cristina Cume Grassi

Revisora: Irene Forlivesi

Título do original (inglês)

Functional Analyíic Psychotherapy

Creating Intense and Curative Therapeutic Relationships

Copyright (vCJ 1991 Plenum Press, New York

A Division of Plenum Publishing Corporation

233 Spring Street, New York, N.Y. 1033

Direitos exclusivos para Língua Portuguesa

Copyright @2001 ESETec Editores Associados

j

Editores Associados

A solicitação de exemplares poderá ser feita à ESETec

(11) 4990 56 83/ 4438 68 66

www.esetec.com.br

(6)

Aos nossos pais

Jack e Bess Kohlenberg

Edwin e Emily Tsai

,

cujo amor constante, apoio e orgulho

(7)

Prefácio

Edição de Língua Portuguesa

Nós nos sentimos profundamente honrados pela tenacidade demonstrada por

nossos colegas brasileiros na produção da edição em português do livro Functional

Analytic Psychotherapy (FAP). Por muito tempo o Brasil tem se destacado na aplicação da análise do comportamento aos problemas clínicos, e este livro

posiciona a FAP dentro desse género. Nossos colegas brasileiros estão empenhados em várias pesquisas instigantes e no desenvolvimento da FAP, e

nós temos uma dívida de gratidão para com eles, pelo trabalho que tiveram na

tradução desse livro. Robert Kohlenberg mantém relações de amizade com quase todos os que contribuíram para esta tradução e guarda lembranças agradáveis

de momentos em que estiveram juntos.

Traduzir um livro de psicoterapia analítica funcional (FAP) é uma tarefa

difícil, devido às sutilezas dos conceitos teóricos e à sensibilidade para temas

culturais que se faz necessária. Os tradutores mantiveram contato conosco e

temos a certeza de que eles fizeram um trabalho muito bom. Nós gostaríamos de

agradecer,

por seu trabalho, às seguintes pessoas: Irene Forlivesi pelo prefácio,

Roosevelt Starling pelo Capítulo 1, Regina C. Wielenska pelo Capítulo 2, Maly

(8)

Prefácio

pelo Capítulo 5, Priscila Derdyk pelo Capítulo 6, Maria Ziíah Brandão pelo

Capítulo 7, e Rachel Rodrigues Kerbauy pelo Capítulo 8.

Em especial, desejamos expressar nossa profunda gratidão a Rachel

Rodrigues Kerbauy, por ter iniciado e coordenado este árduo empreendimento, O

trabalho de todos neste livro nos ajuda a alimentar o sonho de que um público cada

vez maior de terapeutas e de clientes pode ser inspirado e enriquecido pela FÂP.

R. J. K.

e

M. T.

(9)

Prefácio

Este livro nasceu da experiência acumulada ao longo de muitos anos, tratando

e pensando a respeito de nossos clientes. Nós encaramos este trabalho como

um manual de tratamento que contem orientações para a criação de relações

terapêuticas que sejam profundas, intensas, significativas e benéficas. Este livro

não é uma coleção de técnicas, mesmo tendo a inclusão de várias delas. Mais do

que isto, nós descrevemos um referenciai teórico que pretende servir de guia para a atividade do terapeuta. Embora a teoria da qual fazemos uso seja

particularmente muito adequada para a nossa proposta, nós perdemos a maioria do nosso público no momento em que mencionamos seu nome. Desta forma, os

próprios alicerces com os quais contamos, podem prejudicar o nosso desejo de compartilhar a estimulação intelectual e os nossos insights clínicos.

É difícil para os clínicos adotarem novas técnicas que leram em um

livro. Eles não estão particularmente propensos a serem receptivos quando estas técnicas estão baseadas numa teoria que provoca uma forte reação negativa.

Entretanto, esta teoria é amplamente mal-interpretada e mal-compreendida; como

consequência, o primeiro capítulo fornece explicações sobre os principais tópicos

do behaviorismo radical

, abordando alguns desses mal-entendidos (talvez você

(10)

x Prefácio

não tenha notado, mas nós omitimos o nome da teoria). No Capítulo 1, nós

também mostramos como o behaviorismo radical conduz o foco da atenção

para a relação terapeuta-cliente.

Pretendia-se que este livro fosse lido mais ou menos na sequência, mas

isto não é obrigatório. Cada capítulo é praticamente independente do outro,

porque muitos dos conceitos menos conhecidos são retomados, mesmo que eles

já tenham sido apresentados num capítulo anterior. Os temas de conteúdo mais

teórico e abstrato estão contidos nos três primeiros capítulos, e nos capítulos

seguintes a ênfase maior é dada à aplicação clínica. Para alguns leitores, iniciar a leitura por estes capítulos mais clínicos poderia avivar o interesse em examinar

os capítulos teóricos anteriores. Nós esperamos que, ao percorrer os capítulos e

observar novas formas de aplicação dos conceitos, ocorra um efeito cumulativo e os conceitos se tornem mais compreensíveis.

No segundo capítulo, nós evidenciamos os princípios de como fazer

psicoterapia analítica funcional (FAP). Embora forneçamos cinco princípios,

somente o primeiro é realmente necessário, e esperamos que seja este a ser

guardado na memória: "prestar atenção aos comportamentos clinicamente

relevantes"

; é nisto que se concentra este livro.

Talvez o terceiro capítulo venha a ser o mais difícil. É a primeira vez

que são apresentados alguns dos conceitos do comportamento verbal. Também

é explicado um sistema que analisa o que o cliente diz. Uma 'saída de emergência'

é oferecida aos leitores que não querem perder tempo no aprendizado do sistema,

ao contrário, querem dirigir-se diretamente para as principais conclusões.

As emoções e o afeto são fundamentais no processo terapêutico. Contudo,

nós seguimos por um caminho ligeiramente diferente daquele da maioria dos

outros sistemas terapêuticos. Concluímos que, por um lado, os sentimentos não

causam os problemas de um cliente nem são os responsáveis pela mudança

terapêutica. Mas, por outro lado, a terapia não funciona se os sentimentos não

ocorrem. Este e outros paradoxos são explicados no Capítulo 4, no qual se

espera que a nossa discussão sobre a expressão dos sentimentos traga uma luz

adicional a este tópico polemico.

Todas as pessoas pensam e têm cognições. Além disso, as cognições

têm um papel primordial na terapia. No Capítulo 5, nós expomos de uma nova

forma a visão do behaviorismo radical sobre estes fenómenos, resultando em

uma abordagem que, acreditamos, será útil aos psicoterapeutas, inclusive aos

(11)

4

Prefácio xi

Neste livro, a aplicação da teoria behaviorista se estendeu para além dos seus domínios costumeiros. Esta extensão ocorre em seu maior grau no

Capítulo 6, no qual abordam-se os problemas do self, um tópico esporadicamente

discutido nos círculos behavioristas. Nós apresentamos o self como uma experiência altamente pessoal que se manifesta de diversas maneiras, algumas

mais adaptativas do que outras. Borderline, e transtorno narcisista e de personalidade múltipla estão incluídos entre as formas mal-adaptativas que

colocamos em discussão. Nós explicamos os problemas do self como sendo o resultado de várias condições externas que acontecem durante o desenvolvimento,

tanto normal quanto patológico, na infância.

No Capítulo 7, nós desafiamos a afirmação de que a focalização da FAP na relação terapêutica nada mais é do que a psicanálise com nova leitura.

São examinados os conceitos psicanalíticos de transferência e aliança terapêutica e o modelo relacional da terapia de relações objetais. Argumenta-se sobre a

questão da FAP ocupar um espaço único entre as terapias psicodinâmicas e

comportamentais atuais.

Dependendo de qual seja o interesse dos leitores, alguns podem considerar

que nós deixamos a melhor parte para o final. Nosso último capítulo se aprofunda

nas precauções éticas, no processo de supervisão, nos problemas inerentes à

metodologia tradicional de pesquisa e suas implicações para a pesquisa da FAP,

e em como os princípios da FAP podem ser ampliados para que consigam

abranger problemas do mundo exterior à terapia.

É necessário fazer uma referência à terminologia comportamental usada

neste livro. A linguagem comportamental pode proporcionar novos insights sobre

os fenómenos clínicos e transmite o que pretendemos dizer a respeito de como a

terapia pode ajudar e do porquê dos problemas dos clientes. Entretanto, esta

terminologia não foi desenvolvida no ambiente psicoterapêutico, sendo, por isso,

pouco eficiente para comunicar os fenómenos que lá ocorrem. Nós procuramos

permanecer entre a linguagem dos behavioristas radicais e aquela usada pela maioria dos clínicos, Algumas vezes a pendência foi maior para um dos lados,

mas nós tentamos obter o melhor da riqueza que cada uma delas contem.

Este livro surgiu de um capítulo que constou no livro "Psychotherapists

in Clinicai Practice" (1987), editado por Neil Jacobson. Nós somos gratos a

Neil por nos ter encorajado a dar o primeiro passo. No nosso livro, a aplicação clínica foi facilitada por meio do uso de transcrições de casos e da ênfase dada

ao comportamento verbal do cliente. O capítulo que trata do selfevoluiu de um artigo escrito originalmente por Robert Kohlenberg e Marsha Linehan.

(12)

xu Prefácio

Bob Kohlenberg gostaria de reconhecer a importância que teve sua

filha Barbara na génese deste livro, pois ela foi a responsável pelo 'retorno à

vida' de um behaviorista radical extinto. Seu filho Andy contribuiu

significativamente com perspectivas éticas, ao mesmo tempo em que seu filho

Paul o lembrava da importância de se ter uma mente investigativa, bom humor

e compromisso. Seu irmão David esteve sempre presente para escutar, fato

que foi essencial para a elaboração deste livro. Mavis, querida co-autora,

enriqueceu a vida dele com seu amor e intelecto ilimitados, os quais forneceram

a linha-mestra que é o âmago da FAP.

Mavis Tsai reverencia a lembrança de Ned Wagner, seu primeiro

orientador de pós-graduação. Foi de inestimável valor o entusiasmo que ele demonstrou por suas idéias e textos quando ela era ainda uma "caloura" na

pós-graduação. No curto período de dois anos, Ned infundiu nela um universo de

confiança, curiosidade e compaixão. Seus outros dois orientadores, Stanley Sue

e Shirley Feldman-Summers, também desempenharam papel essencial em seu

desenvolvimento como psicóloga. Também foram mentores Laura Brown, James

Coleman e Ron Smith. Bob, co-autor e seu parceiro na vida, inundou-lhe a vida

com seu profundo amor, mente fértil e presença marcante, dando-lhe razão e

alegria de viver.

Os colegas de clínica Carla Bradshaw, Barbara Johnstone, Karen

Lindner, Vickie Sears, Eilen Sherwood, e Alejandra Suarez leram uma parte ou

todo o manuscrito em suas diferentes etapas de execução e forneceram importante

feedback.

Temos uma dívida especial com Anne Uemura, amiga e companheira

muito próxima, que passou incontáveis horas revisando cada palavra de nosso

manuscrito e nos ofereceu críticas detalhadas e construtivas.

Willard Day foi uma grande inspiração. Seu trabalho demonstrou que a

interpretação é uma atividade essencial do behaviorista radical. Seu encanto pelas novas idéias tornou-se um refugio no qual elas poderiam crescer e prosperar.

Steve Hayes estabeleceu as bases para a aplicação dos princípios

behavioristas radicais na psicoterapia de adultos. Stanley Messer, o primeiro estudioso com orientação psicodinâmica que levou a sério nosso trabalho, nos

deu um feedback crítico valioso.

À próxima geração de terapeutas FAP - Michael Addis, James Cordova,

Daria Broberg, Victoria Foilette, Allan Fruzzeli, Enrico Ganaulti, Kelly Koerner,

(13)

Prefácio ' # « xm

agradecimentos pela generosidade demonstrada enquanto as idéias começavam

a surgir e um sistema estava se desenvolvendo.

Agradecemos aos nossos clientes que dividiram conosco suas mais

profundas dores e alegrias. Cada um de nossos clientes contribuiu para a nossa

perspicácia clínica e modelou quem somos como terapeutas. Para proteger a

individualidade dos clientes que estão descritos nas histórias de casos

, foram

alterados todos os nomes e outras informações que poderiam identificá-los

.

O falecimento de B. F. Skinner representa uma grande perda para todos

aqueles que o admiraram. A essência de seu trabalho de uma vida toda consistia

na esperança de que pudéssemos melhorar nossas vidas e o mundo no qual

vivemos. Foi com base neste legado que nós escrevemos este livro

, e lamentamos

que ele não teve a oportunidade de lê-lo e testemunhar mais um dos inúmeros

efeitos que seu trabalho teve sobre as pessoas.

RJ.K

(14)

Sumário

Capítulo 1

Introdução. \

Princípios Filosóficos do Behaviorismo Radical... 3

A natureza contextual do conhecimento e da realidade. 3

Uma visão não-mentalista do comportamento; o enfoque nas variáveis

ambientais que controlam o comportamento. 5 O interesse está centrado no comportamento verbal controlado por

eventos diretamente observados. 6

Suportes Teóricos da FAP . 8 Reforçamento... 9

Especificação de comportamento clinicamente relevante. 15

Preparando a generalização. 17

Capítulo 2

Aplicação Clínica da Psicoterapia Analítica Funcional. 19 Problemas do cliente e comportamentos clinicamente relevantes. 19 CRB1: Problemas do cliente que ocorrem na sessão. 20 CRB2: Progressos do cliente que ocorrem na sessão. 21

CRB3: Interpretações do comportamento segundo o cliente. 25

Avaliação inicial . 26

Técnica Terapêutica: As Cinco Regras... 27 Regrai: Prestar atenção aos CRBs . 27 Regra 2 : Evocar CRBs... 30

(15)

xvi Sumário

Regra 3: Reforçar CRB2s. 32 Regra 4: Observe os efeitos potencialmente reforçadores do

compor-tamento do terapeuta em relação aos CRBs do cliente. 40 Regra 5: Forneça interpretações de variáveis que afetam o

compor-tamento do cliente. 41

Exemplo de Caso Clínico ... 47 Capítulo 3

Suplementação: Aumentando a capacidade do terapeuta para

identificar comportamentos clinicamente relevantes . 51

Classificação de Comportamento Verbal. 51

O Sistema da FAP de Classificação das Respostas do Cliente. 54 Classificação e Observação de Comportamento Clinicamente Relevante 65 Exemplos de Classificação de Respostas do Cliente. 67 Situações Terapêuticas que Frequentemente Evocam Comportamentos

Clinicamente Relevantes . 69

Capítulo 4

O Papel de Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento.... 75

Emoções. 75 Aprendendo os Significados dos Sentimentos. 78

Sentimentos como Causas de Comportamento... 80

Expressando sentimentos . 82

Evitando sentimentos . 84

Grau de contato com variáveis de controle. 85

Lembranças. 89

Implicações Clínicas. 92

Ofereça uma Racional Comportamental para Entrar em Contato com

Sentimentos . 93 Aumente o Controle Privado de Sentimentos. 94

Aumente a Expressão de Sentimentos pelo Terapeuta. 96

Melhore o Contato do Cliente com Variáveis de Controle. 97

(16)

Sumário

Capítulo 5

Cognições e Crenças. 107

Terapia Cognitiva. 108

Problemas com a terapia cognitiva e o paradigma ABC.. 109

Formulação Revisada da Terapia Cognitiva. 111

A Revisão FAP do B-> C.. 114

Comportamento Modelado por Contingências. 114

Tatos e Mandos: Dois Tipos de Comportamento Verbal.

115

Comportamento Governado Por Regras. 122

Estruturas Cognitivas e Comportamento Modelado por Contingências 125

Implicações Clínicas da Visão da FAP Sobre as Crenças. 126

Focalizando o pensamento aqui e agora . 127

Levando em consideração o papel variável que os pensamentos podem

exercer. 128

Ofereça explicações relevantes sobre os problemas do cliente. 132 Use com cuidado a manipulação cognitiva direta. 133

135

Ilustração de Caso.

Capítulo 6

O self . 137

Definições Comuns do Self.... 138 Uma Formulação Behaviorista do Self. 139

Conceitos Básicos . 141 A emergência do "Eu" como uma pequena unidade fimcional. 145 Qualidades do "Eu". 153

Desenvolvimento Mal-adaptativo da Experiência do Self. 156 Distúrbios menos graves de Self... 156 Distúrbios graves do self. 162

Implicações Clínicas. 173 Reforçando a fala na ausência de dicas externas específicas. 174

Combinar tarefas terapêuticas com o nível de controle interno no

(17)

xviii Sumário

Reforçando tantas declarações "eu X" do cliente quanto possível. 182

Capítulo 7

Psicoterapia Analítica Funcional : Uma ponte entre a Psicanálise

e a Terapia Comportamental... 187

A FAP em Contraste com Enfoques Psicodinâmicos. 188 Transferência. 188

A Aliança Terapêutica. 196

Relações Objetais . 199

FAP em Contraste com Terapias Atuais do Comportamento. 202

FAP: Um Raro Nicho entre a Psicanálise e a Terapia Comportamental. 205

Capítulo 8

Reflexões sobre ética, supervisão, pesquisa e temas culturais... 209 Temas Éticos ... 209

Proceda cuidadosamente . 210

Evite Exploração Sexual. 211 Esteja Alerta para Interromper Tratamentos Ineficientes.. 212

Atente para Valores Opressivos e Preconceituosos. 212

Evite Tirania Emocional. 213

Supervisão da FAP ... 215 Pesquisa e Avaliação. 217

Falhas dos Modelos Convencionais de Pesquisa. 218

Métodos Alternativos de Coleta de Dados que Influenciam a Prática

Clínica... 220

Problemas Culturais Decorrentes da Perda de Comunicação . 225

Conclusão . 228 Referências... 229

índice... 235

(18)

1

Introdução

Quando penso naqueles pacientes que eu vi experimentarem uma grande mudança, eu sei

que o fogo estava na relação terapêutica.... Havia luta e medo, proximidade, amor e

terror. Havia intimidade e afronta, apreensão e vergonha... era uma jornada significativa,

mais para o paciente que vinha buscar ajuda mas. de fato, para ambos os participantes.

Era um processo que percorria todo o desenrolar da terapia e deixava a ambos, paciente

e terapeuta, alterados pela experiência... A relação terapêutica está no próprio centro

da psicoterapia e é o veículo através do qual a mudança terapêutica acontece. (Greben,

1981, p. 453-454)

Independente da sua orientação teórica, a maioria dos clínicos experientes teve

clientes memoráveis, cujas mudanças excederam em muito, e de maneira

mar-cante, os objetivos formais da terapia. Para estes clientes, a descrição de Greben

parece capturar um aspecto importante do que foi o processo terapêutico, mesmo

que o tratamento tenha sido baseado numa teoria bastante diferente da sua perspectiva psicodinâmica. Entretanto, o que falta nos escritos de Greben, bem

como na maioria dos sistemas terapêuticos que enfocam a relação entre o

terapeuta e o cliente, é um sistema conceituai coerente, com construtos teóricos

bem definidos que conduzam, passo a passo, à formulação de orientações

precisas para a terapia.

Descreveremos um tratamento que tem um referencial conceituai claro e preciso e, ainda assim, parece produzir o que Greben descreve. Chamamos

nosso tratamento de psicoterapia analítica funcional (FA.P) e talvez possa causar uma certa surpresa o fato dele derivar de uma análise funcional

skinneriana do ambiente psicoterapêutico típico. Seus fundamentos estão na

obra de B. F. Skinner (por ex., 1945, 1953, 1957, 1974). Na seção seguinte,

iremos rever os princípios filosóficos mais importantes do behaviorismo radical.

(19)

2 Prefácio

Muito embora a FAP seja um tipo de terapia comportamental, ela é

bastante diferente das terapias comportamentais tradicionais, tais como o treina-mento em habilidades sociais, reestruturação cognitiva, dessensibilização e terapia

sexual. Ao contrário daquelas, as técnicas utilizadas pela FAP são concordantes

com as expectativas dos clientes, que buscam uma experiência terapêutica

pro-funda, tocante, intensa. Além disso, ela também se ajusta muito bem a

clientes que não obtiveram uma melhora adequada com as terapias

comportamentais convencionais e àqueles que têm dificuldades em estabelecer

relações de intimidade e/ou têm problemas interpessoais difusos, pervasivos,

tais como os que recebem diagnósticos tipificados pelos do Eixo II do

DSM-III-R (American Psychiatric Association, 1987). Para manejar estes problemas

enraizados

, a FAP conduz o terapeuta a uma relação genuína, envolvente,

sensível e cuidadosa com seu cliente, e, ao mesmo tempo, apropria-se com

vantagens das definições claras, lógicas e precisas do behaviorismo radical. Infelizmente, o behaviorismo radical tem sido largamente incompreendido e rejeitado. Quando perguntamos aos nossos colegas o que lhes vinha à mente

frente ao termo behaviorismo radical, suas respostas incluíram: (1) "Eu penso nas caixas de Skinner. Sinto uma rejeição visceral. Eu acho que ele é simplista

e que nega a realidade de um psiquismo interno, rico e complexo, que interage

com a realidade externa. Para mim, o behaviorismo sempre me pareceu muito arrogante, ao reduzir o incrível mistério de existir, de ser, "ao que pode ser

observado"

e (2) "Você já ouviu aquela dos dois behavioristas radicais que fazi-am fazi-amor apaixonadfazi-amente? Depois, um perguntou para o outro: Foi bom para

você! Como foi para mim?"

. Estas reações - que o behaviorismo radical é

simplis-ta, que reduz ações significativas somente ao que pode ser observado e

que re-quer consenso público - são representativas dos mal-entendidos que a

maioria dos clínicos mantêm. Essas distorções são devidas, em parte, à natureza

cripto-gráfica das obras de Skinner, o que íhe dificulta ser interpretado

corretamente

, e também devido ao fato de que o behaviorismo radical é

frequentemente confun-dido com o behaviorismo metodológico ou convencional,

que é bem mais conhecido. Em contraste com o behaviorismo radical, o

behaviorismo metodo-lógico exige consenso público para as suas observações.

Estudando somente o que pode ser publicamente observado, o behaviorismo

metodológico exclui o estudo direto da consciência, dos sentimentos e dos pensamentos. Já bem cedo Skinner (1945) diferenciava a sua abordagem do

resto da psicologia, declarando que a sua "dor de dentes é simplesmente tão

física quanto a minha máquina de escrever" (p. 294) e rejeitava o pré-requisito

do consenso público. Para ser mais precisa, a anedota acima, contada pelos

nossos colegas, deveria começar assim: "

Você já ouviu aquela dos dois behavioristas metodológicos... ?".

(20)

Introdução 3

PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS DO BEHAVIORISMO RADICAL

Quando alguém diz "radical", é comum vir à mente a imagem de um

extremista de olhos esbugalhados. O que geralmente não se sabe é que a palavra

radical vem do latim radix,

significando raiz. "O verdadeiro radical é aquele

que tenta chegar à raiz das coisas, que não se distrai pelo superficial, vendo

floresta no lugar de árvores. É bom ser radical

.

Qualquer pessoa que pense com

profundidade será um deles" (Peck, 1987, p. 25). Assim é que o behaviorismo

radical é uma teoria rica e profunda, que procura chegar às raízes do

compor-tamento humano. Lapsos verbais, o inconsciente, poesia, espiritualidade e

metá-fora, são exemplos dos temas que têm sido discutidos pelo behaviorismo radical

.

Sentimentos e outras experiências privadas são também considerados e "a

estimulação originada no corpo desempenha importante papel no comportamento"

(Skirmer, 1974, p. 241). Muito embora seja difícil condensar os vários volumes

da obra de Skinner num breve resumo do behaviorismo radical

, o texto que se

segue é uma tentativa de descrever os seus princípios filosóficos básicos.

A natureza contextual do conhecimento e da realidade

Skinner rejeita a idéia de que, conhecendo-se algo sobre uma coisa, a

expressão deste nosso conhecimento consista numa declaração sobre o quê

aquele objeto do conhecimento é; a idéia de que esta coisa possa ter, de alguma

forma, uma identidade permanente, como um ente real da natureza. Podemos

atribuir o status de "

coisa"

a eventos principalmente porque estamos habituados

a falar sobre o mundo como sendo composto de objetos, que sentimos possuir

em uma constância ou estabilidade próprias. Na verdade, a meta original da

ciência, qual seja a descoberta de verdades objetivas, tem se mostrado cada

vez mais inalcançável. No seu núcleo, ciência é ou o comportamento dos

cientistas, ou os artefatos dessas atividades, e o comportamento científico, por

sua vez, é presumidamente controlado pelo mesmo tipo de variáveis que

governam quaisquer outros aspectos do comportamento humano complexo.

Desta forma, os cientistas são, em si mesmos, não mais do que organismos que

se comportam e as obser-vações que produzem não podem ser separadas dos

interesses e atividades do observador.

Esta posição antiontológica de Skinner é similar ao ponto de vista

construtivista ou kantiano (Efran, Lukens & Lukens, 1988). No século XVIII o

filósofo Immanuel Kant

(21)

4 Capítulo 1

que o conhecimento é a invenção de um organismo ativo, interagindo com um

ambiente. Em contraste, John Locke, fundador do empirismo britânico, via o conhecimento como o resultado do mundo externo imprimir uma cópia dele

mesmo numa mente inicialmente "embranco". Decorre daí que Locke considera

as imagens mentais como sendo basicamente

"representações" ou "descobertas"

de algo fora do organismo, enquanto Kant assevera que as imagens mentais

são inteiramente criações ou "invenções" do organismo, originadas como um

subproduto do seu percurso através da vida. Os construtivistas reconhecem o

papel ativo que elas desempenham na criação de uma visão do mundo e na

interpretação das suas observações em termos daquela visão.

Traduzindo essas posições em termos de prática clinica, uma empreitada

objetivista, como a psicanálise clássica, é construída em torno da crença de que

a verdade objetiva pode ser descoberta e, quando adequadamente revelada,

conduziria a uma saúde mental melhorada. Por outro lado, a crença construtivista

é que uma boa intervenção gera as suas próprias verdades. Terapeutas objetivistas

querem saber o que realmente aconteceu no passado. Terapeutas construtivistas

estão mais interessados na "história", como uma chave para a narrativa que

está se desdobrando e que dará aos eventos contemporâneos o seu significado.

Ou seja, a história e o meio ambiente imediato daquele que percebe, influenciam

a percepção da experiência original e da sua recordação. As lembranças reais e

os seus significados podem, assim, manter pouca semelhança com os eventos e

os seus significados no passado. Muito embora uma verdade objetiva sobre o

passado possa ser impossível de ser descoberta, o próprio processo de rememorar

e descobrir significados é considerado como sendo uma intervenção que levará à melhora do cliente. Por exemplo, se uma cliente relata um sonho sobre incesto

e em seguida põe em dúvida a sua veracidade, a ênfase não estaria em se o

incesto ocorreu ou não, mas sim, preferencialmente, nas verdades inerentes ao

sonho, nas condições que ela experimentou em sua vida que poderiam conduzir

a tal sonho. Assim, se for efetiva em termos de benefício terapêutico ou de

progressos na terapia, a intervenção terapêutica que envolve a recuperação de

memórias do passado gera as suas próprias verdades.

Na tradição construtivista, o behaviorismo radical enfatiza o contexto e

o significado. Tire algo do seu contexto e ele perderá o seu significado. Ponha

este algo em um novo contexto e ele significará outra coisa. Esta é uma das

razões pelas quais Hayes (1987) prefere o termo contextualismo para o behaviorismo radical. Problemas, mentais ou de qualquer outra natureza, não

(22)

Introdução 5

.

de uma determinada tradição e têm significado somente dentro desta tradição.

Até mesmo experiências que as pessoas consideram puramente físicas são

, na

verdade

,

modeladas pela linguagem e pelas experiências prévias. A dor, por

exemplo,

não é simplesmente o disparo de terminações nervosas; é em parte

sensação, em parte ideação temerosa: um revestimento de interpretações

envolvendo sensações (Efran et ai, 1988).

Mas no mais das vezes

, e ainda que a posição contextualista

(construtivista) possa ser intelectualmente atrativa, é difícil trazer estas idéias

para a nossa prática de vida em geral e é particularmente difícil trazê-las para

as práticas terapêuticas. É dizer que psicoterapeutas (behavioristas radicais

incluídos) podem aceitar o contextualismo em nível intelectual mas não fazem o

mesmo em nível emocional. Como colocado por Furman e Ahola (1988):

Quando discutimos filosofia com os nossos colegas, talvez possamos concordar prontamente

em que não existe uma única maneira de ver as coisas. Mas quando isso toca as nossas próprias crenças sobre clientes específicos, tendemos a nos apegar com tenacidade às nossas próprias

verdades. Esquecemo-nos de que idéias são fabricadas pelos observadores e. finalmente,

convencemos a nós mesmos de que. de algum modo. elas nos oferecem um diagrama da

realidade... Porque pensamos que sabemos quando, na verdade, simplesmente imaginamos,

construímos, pensamos ou acreditamos? (p. 30).

Uma visão não-mentalista do comportamento: o enfoque nas variáveis

ambientais que controlam o comportamento

O behaviorismo radical explica a ação humana em termos de comportamento ao invés de entidades ou objetos dentro do cérebro. Assim, ao

invés de "memória" e "pensamentor,, a análise baseia-se em

"

lembrando" e

"pen-sando"

. O comportamento de introduzir uma moeda numa máquina automática

de venda de doces é visto como comportamento, e não como um mero sinal que indica a presença de alguma entidade fora do comportamento em si mesmo, tais

como impulso, desejo, expectativa, atitude ou uma desorganização das funções

egóicas. Uma explicação adequada estaria centrada não em entidades mentais, mas naquelas variáveis que afetam o comportamento, tal como o número de

ho-ras sem alimentar-se. No mentalismo, processos psicológicos internos, como

"

força de vontade" e "medo do fracasso", adquirem poderes homunculares para

causar a ocorrência de outros eventos

, esses mais comportamentais. Explicações

(23)

6 Capítulo 1

quanto possível, de antecedentes observáveis do comportamento presentes no

meio-ambiente. Muitas das "

explicações"

psicológicas mais difundidas pouco

mais fazem do que especificar algum processo interno como sendo a causa de

um aspecto particular do comportamento. Neste caso, é um questionamento

inteiramente razoável pedirmos explicações sobre o quê faz esse processo interno

agir como ele age.

É importante notar que Skinner faz objeções a coisas que sejam mentais,

não a coisas que sejam privadas. Entretanto, aos eventos privados Skinner não atribui qualquer outro status distintivo que nã© seja o da sua privacidade. Eles

provêm do mesmo material dos comportamentos públicos e estão sujeitos aos

mesmos estímulos discriminativos e reforçadores que afetam todos os

compor-tamentos. Assim sendo, na visão de Skinner a resposta privada de um cliente

pode ter tanto (ou tão pouco) efeito causal no seu comportamento subsequente

como poderia ter uma resposta pública.

Assim é que, ao procurar explicações para o comportamento, os behavioristas radicais percebem a si mesmos como estando, essencialmente,

engajados numa busca por "variáveis de controle"

. Eventos são considerados

como variáveis de controle quando eles são percebidos como estando, de alguma forma, relacionados ao comportamento. O comportamento verbal que descreve uma relação entre um comportamento e variáveis de controle é chamado de declaração de uma relação funcional e a tentativa sistemática de descrever

relações funcionais é chamada de análise funcional do comportamento,

O interesse está centrado no comportamento verbal controlado por eventos

diretamente observados

Todo comportamento verbal, não importa quão privado pareça ser o

seu conteúdo, tem as suas origens no ambiente. Embora os fenómenos relacionados ao funcionamento verbal humano possam variar do mais

intima-mente pessoal ao mais publicaintima-mente social, toda linguagem que faça sentido

tem a sua forma eficaz modelada pela ação da comunidade verbal. Desta forma,

quando uma falante diz que ela vê uma imagem dentro da sua mente, o que está

sendo dito precisa ter-lhe sido ensinado, na sua infância, por outros que não

po-deriam ver dentro da sua mente. Assim, para o processo de ensino os "

professores"

» *

/

precisariam, necessariamente, dispor de eventos diretamente observáveis (ver

(24)

Introdução 7

Que fatores estão envolvidos em levar o falante a falar o que ele ou ela

faz? Conhecer de maneira completa o que leva a pessoa a falar alguma coisa é

entender o significado do que foi dito no seu sentido mais profundo (Day

, 1969).

Por exemplo, para entender o que uma pessoa quer dizer quando ela fala que

acabou de ter uma experiência de estar fora do corpo

, procuraríamos por suas

causas. Primeiramente,

desejaríamos saber sobre a estimulação que foi

experi-mentada no corpo. A seguir,

gostaríamos de saber porque um estado corporal

particular foi experimentado como fora do corpo. Desta forma, procuraríamos

causas ambientais na história passada daquela pessoa

, incluindo as circunstâncias

4

que ela encontrou enquanto crescia e que resultaram nela falar "corpo", "fora

do"

,

"

acabo de ter"

e "Eu" (uma descrição de algumas experiências que resultam

em "

Eu" está apresentada no Capítulo 6). Tão logo saibamos "de todos estes

fatores, entenderemos profundamente o significado do que ela quis dizer.

A observação direta é altamente valorizada como um método de reunir

dados relevantes. Entretanto, é importante notar que o que é observado não

necessita ser público. Skinner tem uma posição crítica no que diz respeito à

filosofia da "verdade por consenso"

, uma perspectiva frequentemente adotada

por behavioristas convencionais os quais sustentam a tese de que o conhecimento científico necessita ser de natureza essencialmente pública. De fato, na maioria das vezes é mais fácil considerar a observação como algo privado, porque somente uma pessoa pode participar de um ato singular de observação. Mas o interesse não está restrito somente aos eventos que, em princípio, são considerados como

sendo observáveis por uma outra pessoa. Os behavioristas radicais sentem-se

livres para observar ou mesmo responder às suas próprias reações a uma sonata

de Beethoven, assim como eles estão livres para observar a reação de qualquer outra pessoa (Da}', 1969). Uma vez que a observação do comportamento tenha

ocorrido, os observadores são encorajados a falarem interpretativamente sobre

o que foi observado, reconhecendo que a interpretação particular que for feita

por eles será uma função da sua própria história pessoal. Simplesmente, eles

têm a esperança de que o quê eles vêem, venha a exercer uma crescente influência

no que eles dizem.

A influência ampliada do mundo naquilo que é dito é também entendida

como um contato ampliado com o mundo. O contato é altamente desejável para

o cientista e pode ser visto como o núcleo da ciência. Um contato ampliado é

também desejável para a maioria dos clientes que comparecem à psicoterapia.

Por exemplo,

clientes que não expressam emoções (ver Capítulo 4), podem

também ser descritos como pessoas que estão evitando contato com situações

(25)

8 Capítulo 1

Os princípios filosóficos vistos acima - que o conhecimento é contextual,

que o comportamento é compreendido de maneira não-mentalista e que mesmo o comportamento verbal mais privado tem as suas origens no ambiente - fornecem a linguagem e o conceito de natureza humana que pretendem tomar clara a

inte-ração entre o comportamento de um indivíduo e o ambiente natural. Conceitos behavioristas radicais têm sido usados tanto para explicar uma ampla gama de

práticas terapêuticas, como a psicanálise e a dessensibilização, como também para

explicar experiências humanas como o sentimento, a apreensão, o self e a raiva. Uma outra aplicação dos conceitos skinncrianos, denominada análise

experimental do comportamento, é uma abordagem mais estreita e que utiliza analogias com procedimentos de condicionamento operante, desenvolvidos em

laboratórios, para solucionar problemas clínicos da vida cotidiana. Usamos o

termo 'analogias, porque existem diferenças significativas entre a aplicação

clí-nica e o trabalho de laboratório (como discutiremos mais tarde), diferenças

essas que têm importantes implicações para a psicoterapia. Na seção seguinte,

estaremos desenvolvendo os nossos argumentos sobre como os fundamentos da

análise experimental do comportamento compõem o suporte teórico da FAP

.

SUPORTES TEÓRICOS DA FAP

O interesse da análise experimental do comportamento está centrado no reforçamento, na especificação dos comportamentos clinicamente relevantes e

na generalização (Reese, 1966; Kazdin, 1975; Lutzker & Martin, 1981). Estes

procedimentos têm se mostrado extremamente poderosos no tratamento de

pacientes institucionais, estudantes em sala de aula e crianças muito jovens ou

severamente perturbadas, populações para as quais o terapeuta pode exercer

um grande controle sobre o arranjo ambiental cotidiano. Com as exceções de

Hayes (1987) e Kohlenberg e Tsai (1987), o behaviorismo radical e a análise

experimental do comportamento têm sido negligenciadas como uma fonte de

procedimentos para o tratamento de adultos em consultórios psicológicos. Esta

desatenção ao behaviorismo radical como fonte de idéias para a psicoterapia de

adultos é um tanto misteriosa para nós

. Conforme já fizemos notar, a teoria é

extensiva e engloba muitos dos conceitos relevantes para o psicoterapeuta

. Além

disso, esta concepção teórica tem estado disponível já há um bom tempo

. Muitas

(26)

Introdução 9

das idéias relevantes para a psicoterapia foram publicadas nos anos 50 (Skinner

,

1953

,

1957). Há também muitos profissionais, analistas experimentais do

comportamento,

que estão familiarizados com estes princípios teóricos e que

estão igualmente interessados no trabalho clínico.

É bem possível que o próprio

sucesso da análise experimental do comportamento em ambientes controlados

(por ex., hospitais, escolas) tenha impedido a sua aplicação ao ambiente

psicoterápico, bem menos controlado. O que estamos sugerindo é que os analistas

experimentais do comportamento foram tão bem sucedidos com uma aplicação

limitada da teoria que não examinaram as implicações bem mais extensas do

behaviorismo radical, relevantes para a psicoterapia de adultos.

Um obstáculo adicional às aplicações do behaviorismo radical vem das

dificuldades na transposição dos métodos da análise experimental do

comportamento para a situação psicoterapêutica. Como algumas das restrições que a situação de tratamento em consultório de pacientes adultos estabelece

para esta transposição, temos: o coníato terapeuta/cliente limitado a uma ou

mais horas de terapia por semana, o fato do terapeuta não ter acesso ao compor-tamento do cliente fora do atendimento e a falta de controle sobre as contingências fora da sessão. A FAP tem a sua base na investigação de como o reforçamento,

a especificação de comportamentos clinicamente relevantes e a generalização

podem ser obtidos dentro das limitações de tuna situação típica de tratamento

cm consultório.

Reforçamento

A modelagem direta e o fortalecimento de repertórios comportamentais mais adaptativos através do reforçamento são centrais no tratamento analítico-compoitamental. Usamos o termo reforçamento no seu sentido técnico, genérico,

referindo-se a todas as consequências ou contingências que afètam (aumentam

ou diminuem) a força do comportamento. A definição de reforçamento é

fun-cional, ou seja, algo pode ser definido como um reforçador se, depois da sua

apresentação, há o efeito de aumentar ou diminuir a força do comportamento que o precedeu.

Para alguns leitores esta definição pode ser insatisfatória, de vez que

ela não identifica reforçadores específicos como sorvete, sexo ou confeitos de

chocolate. O reforçamento não pode ser definido desta forma porque ele é um

processo: um objeto funciona como um reforçador somente no contexto de um

. s

(27)

10 Capítulo 1

dado processo e não pode ser identificado independentemente dele. Ainda que

um sorvete possa reforçar o comportamento de uma pessoa, poderá não ter

qualquer efeito sobre o comportamento de uma outra e, portanto, não seria um

reforçador para o comportamento. Além disso, o reforçamento pode atuar sobre

algo que não gostamos. Por exemplo, um dentista que esteja presente no horário

combinado para o nosso atendimento, reforça nosso comportamento de marcar

horários para outros atendimentos, mesmo que o tratamento dentário seja, em si

mesmo, uma experiência desagradável.

Mais ainda: é importante notar que o reforçamento não é um processo

consciente. Muito do nosso comportamento foi modelado por processos de reforçamento antes mesmo que aprendêssemos a falar. Quando o reforçamento

ocorre, ocorre também uma mudança física no nosso cérebro, da qual não nos

damos conta. Ainda que possamos experimentar uma sensação de prazer ou

uma inclinação para agir desta ou daquela maneira, nós não percebemos o fortalecimento do nosso comportamento. Por exemplo, se um moço diz "Amo

você" para a sua namorada e ela sorri calorosamente e diz "Eu também amo

você", ele poderá sentir uma sensação de prazer em seu corpo e pensar "Isto é

maravilhoso!"

. Mas, neste exato momento, o prazer independe do processo de

fortalecimento. O pensamento "isto é maravilhoso!" foi o resultado da sensação

de prazer,

no sentido de que ele estava descrevendo os seus sentimentos para ele

mesmo. Seu comportamento foi fortalecido e também ocorreram aqueles

senti-mentos e pensasenti-mentos prazeirosos. De maneira alguma a consciência dos

pensa-mentos e sentipensa-mentos que acompanharam o processo de reforçamento são neces-sários para que o comportamento seja fortalecido.

Desde o início dos tempos, somente aquelas criaturas cujo

comportamento fosse fortalecido pelas suas consequências puderam adaptar-se

a um ambiente em constante mudança e assim sobreviverem. Desta forma, o processo de reforçamento é o resultado da evolução. Conforme discutiremos

mais adiante com maiores detalhes,

é um processo comportamental básico que

conduz à consciência,

ao pensamento, ao self e à essência da experiência humana.

O momento e o/lugar do reforçamento

Uma das características bem conhecidas do reforçamento é que quanto

mais próximo das suas consequências (no tempo e no espaço) um comportamento

estiver

, maiores serão os efeitos deste processo. Qualquer um que já tenha

(28)

Introdução 1 \

dispensado pelotas de comida a um rato numa caixa de Skinner, pôde observar

os efeitos deletérios que o atraso do reforçador pode ter no comportamento do

animal. Todavia

, o processo de modelagem é eficaz, se a pressão na barra e a

pelota de comida estiverem bem próximas uma da outra, no tempo. De maneira

semelhante, é fácil para o terapeuta reforçar, e assim fortalecer, as habilidades

de relaxamento do cliente enquanto elas ocorrem no consultório. Ou seja, quando

solicitado, o cliente prontamente relaxará no consultório, porque o terapeuta

está presente e pode reforçar diretamente o comportamento

. Por outro lado, é

amiúde um problema fazer com que os clientes cumpram um programa de

relaxamento em casa, entre os atendimentos, pois o terapeuta só pode reforçar o

comportamento quando os clientes comparecem à consulta.

Para o paciente de consultório, isto implica em que os efeitos do

tratamento serão mais significativos se os comportamentos-problema e as

/

melhoras ocorrerem durante a sessão

, onde estes estarão, no tempo e no espaço,

o mais perto possível do reforçamento. Esta é a razão pela qual a FAP é um

tratamento para problemas cotidianos que também ocorrem durante o, atendimento

terapêutico. Exemplos de tais problemas incluem as dificuldades nas relações

de intimidade, incluindo os medos do abandono, da rejeição e de ser "engolido"

na relação; dificuldades na expressão de sentimentos; afetos inapropriados,

hostilidade, hipersensibilidade a críticas, ansiedade social e comportamentos

obsessivos-compulsivos. As palavras acima não se referem a estados mentais ou internos. São utilizadas aqui como termos descritivos de uso geral, para dar

ao leitor uma idéia da gama de comportamentos observáveis do cliente que, sob as condições apropriadas, podem ser evocados e modificados durante a terapia.

Uma outra característica importante da FAP - e que é de certa maneira

problemática - é que melhoras no comportamento do cliente que ocorrem nó

consultório, deveriam ser reforçadas imediatamente. O reforçamento de

comportamentos durante a sessão é problemático porque a própria tentativa de

aplicar o reforçamento de maneira imediata e contingente pode também,

inadvertidamente, torná-lo ineficaz e até mesmo contraproducente.

O problema em aplicar o reforçamento durante o tratamento nasce da

imitação dos métodos da análise experimental do comportamento. Com o

propósito de atingir a meta de reforçar a resposta o mais prontamente possível,

os analistas experimentais do comportamento, quando clinicando, usaram procedimentos análogos aos usados, em laboratório, em experimentos operantes

com animais. Aqueles clínicos adotaram a regra "Dê a pelota de comida

(29)

12 Capítulo 1 clínica: "Dê o confeito de chocolate imediatamente depois que a criança

permanecer na cadeira por dois minutos."

. Entretanto, o propósito dos

expe-rimentos de laboratório era o de estudar os parâmetros do reforçamento e não o

de beneficiar o sujeito ou obter uma generalização do comportamento para a

sua vida eotidiana.

Ferster (1967, 1972b,c) discutiu extensamente as implicações clínicas

da utilização do reforçamento arbitrário, tal como o empregado em montagens

de laboratório, contrastando-o com o tipo de reforçamento que ocorre no ambiente

natural. Antecipando os riscos do uso do reforçamento no tratamento de pacientes

de consultório

, Ferster avisava que muitas das recompensas utilizadas pelos

analistas experimentais do comportamento - alimento, objetos simbólicos e

elogios - poderiam ser arbitrárias. Ele via isso como um sério problema clínico

de vez que, comportamentos reforçados arbitrariamente somente ocorreriam quando o controlador estivesse presente ou se o cliente estivesse interessado no

tipo específico de recompensa que estivesse sendo oferecida

. Como exemplo de

um reforçamento arbitrário que foi distorcido, ele citava o caso de um autista

que apresentava mutismo eletivo e, tratado pela análise do comportamento, parava

de falar quando o alimento não estava presente.

Reforçamento Natural versus Arbitrário

Devido às deficiências do reforçamento arbitrário, a FAP orienta-se

para prover reforçamento natural às melhoras do cliente que ocorrem durante a sessão. Nossas sugestões sobre como fazer isso se encontram no Capítulo 2. As

comparações abaixo ajudarão a destacar a diferença entre os dois tipos dc

reforçamento. Reforçadores arbitrários e naturais diferem em quatro dimensões

básicas, como expomos-a seguir:

1. Quão ampla ou estreita é a classe de respostas? O reforçamento

arbitrário especifica um desempenho estreito enquanto o reforçamento natural é

contingente a uma ampla classe de respostas

. Por exemplo

, um professor que

esteja usando reforçamento arbitrário para ensinar um menino disléxico a ler,

está sujeito a estar sendo limitado e contraproducente em sua prática

. Como é o

caso de qualquer pessoa usando reforçamento arbitrário com propósitos

educacionais

,

este professor precisa decidir quais os comportamentos que serão

reforçados e quais os punidos. Ele decide punir o menino por ler uma revista em

(30)

defi-Introdução 13

ciências do uso de reforçamento arbitrário, ou seja, ele está pedindo uma resposta

estreita - ler o livro-texto - e perdendo de vista a classe de respostas muito mais

ampla de ler, em geral. O reforçamento natural inerente à leitura (tais como os

proporcionados pelas informações, pelo divertimento) reforça uma ampla classe

de respostas, que inclui ler revistas em quadrinhos, resultados de corridas e

tantos outros. Assim,

um dos riscos no uso de reforçamento arbitrário é que ele

pode inadvertidamente interferir com o reforçamento natural e com a aquisição

do comportamento-alvo.

2. O comportamento desejado existe no repertório da pessoal O

reforçamento natural inicia com um desempenho já existente no repertório da

pessoa, enquanto o reforçamento arbitrário não leva em conta, no mesmo grau

do reforçamento natural, o repertório de comportamentos existente na pessoa.

Tal é o caso quando uma mãe critica a primeira tentativa dc sua filha em costurar

uma peça em curva e não leva em conta o seu nível de habilidade em costurar. A

utilização da crítica como reforçamento arbitrário fez com que essa mãe falhasse

em ver que a sua filha estava se saindo bem para o nível das suas habilidades

atuais em costura. Por contraste

, o reforçamento natural consistiria na apreciação,

por essa mãe, de uma peça de costura utilizável que a filha conseguiu fazer em

sua primeira tentativa, desconsiderando a sua aparência.

3. Quem proporciona o reforçamento é o primeiro beneficiado?

Reforçamento arbitrário produz mudanças de comportamento na pessoa sendo

reforçada que somente beneficiam a pessoa que faz o reforçamento. Nenhum benefício precisa ser oferecido à pessoa submetida ao reforçamento arbitrário.

Na verdade

, pessoas são frequentemente prejudicadas pelo reforçamento.

arbitrário. Adultos que abusam sexualmente de crianças usam reforçadores

arbitrários (ameaças, elogios, abuso físico) para obter aceitação. Muitas vezes

eles reivindicam benefícios para a criança dizendo "

que ela quis isso" ou "ela teve experiências de sexualidade e dessa forma foi beneficiada". Este argumento

é ridículo; qualquer adulto que usa sexualmente uma criança não o faz para beneficiar a ela, a criança. Na verdade, o abuso sexual pode causar uma ampla variedade de problemas e, especificamente, interfere com o reforçamento natural

do comportamento sexual que ocorre em relações íntimas consensuais.

4. Para o comportamento que está sendo apresentado, o reforçador

oferecido é típico e comumente presente no ambiente natural? Uma outra

maneira de formular esta mesma pergunta c: "

Para este comportamento em

particular, qual seria o reforçamento mais provável no ambiente natural?".

(31)

14 Capítulo 1

que os reforçadores arbitrários. Este aspecto do reforçamento é o mais facilmente perceptível, de vez que um observador não necessita da história dos

indivíduos envolvidos numa operação de reforçamento para que possa dizer

quão típico é o reforçamento que está sendo utilizado. Por exemplo, a maioria

das pessoas concordaria que dar doces ao seu filho para que ele vista o casaco é arbitrário, ao passo que lhe chamar a atenção por estar sem casaco é natural.

Pagar à sua filha para que pratique no piano é arbitrário ao passo que o fato

dela tocar simplesmente pela música criada é natural. De igual maneira

, multar

o seu cliente em alguns centavos por não manter contato visual é arbitrário.

enquanto que é natural deixar que a sua atenção flutue.

Em resumo, o reforçamento natural é diferente do reforçamento arbitrário

por fortalecer uma ampla classe de respostas, por ter em consideração o nível de habilidade da pessoa, por beneficiar primariamente a pessoa sendo reforçada ao

invés da pessoa que proporciona o reforço e por ser típico e de ocorrência comum

no ambiente natural. Entretanto

, a maior parte das consequências não se encaixa

perfeitamente nas categorias associadas tanto ao reforçamento arbitrário quanto

ao natural e

, provavelmente, apresentam dimensões de ambos os tipos.

Embora nenhuma pesquisa tenha comparado diretamente os

reforça-mentos arbitrário e natural, dados que fundamentam a nossa posição provieram,

paradoxalmente, de pesquisas orientadas cognitivamente e planejadas para

desacreditar a ênfase behaviorista no reforçamento. A pesquisa concernia aos

efeitos de recompensas externas sobre a motivação intrínseca (estes termos não são comportamentais mas foram aqueles usados pelos investigadores

não-behavioristas). Por exemplo, Deci (1971), num estudo típico deste tipo de

pesquisa, pagou a um grupo de sujeitos para encontrarem soluções corretas

para um quebra-cabeças e comparou este grupo a um outro, ao qual foi dado o

mesmo problema, porém sem qualquer pagamento pelo encontro da solução.

Quando deixados sós por oito minutos, numa situação de "descanso", os sujeitos pagos ocuparam menos tempo manipulando o quebra-cabeças do que os sujeitos

sem pagamento. Após uma revisão da literatura sobre este tipo de pesquisa,

Levine e Fasnacht (1974) argumentaram que "recompensas externas" são

arriscadas, por apresentarem pouco poder de permanência (isto é

, uma resistência

reduzida à extinção) e interferem com a generalização

, "

solapando"

assim o

próprio comportamento que elas visavam fortalecer. Operacionalmente,

"

recompensas externas" e "motivação intrínseca" correspondem aos conceitos

de Ferster de reforçamento arbitrário e natural. Assim, embora os dados sobre

(32)

Introdução 15

na abordagem behaviorista, esses dados podem ser vistos, alternativamente,

como um exemplo no qual o reforçamento arbitrário mostrou efeitos negativos

.

f

Especificação de comportamento clinicamente relevante

Além do reforçamento,

a análise do comportamento é caracterizada por

sua atenção à especificação dos comportamentos de interesse. O termo

compor-tamento clinicamente relevante (CRB) inclui tanto os comporcompor-tamentos-problema

como os comportamentos finais desejados. Discutiremos os dois componentes

da especificação de comportamentos clinicamente relevantes - a observação e a

definição comportamental - e examinaremos as implicações disso para a

condu-ção de terapias de pacientes em consultórios.

r « ' r'

Observação

A observação é um pré-requisito necessário para a definição

compor-tamental dos CRBs (comportamentos clinicamente relevantes). Os behavioristas

assumem que, se os comportamentos podem ser observados, então eles podem

ser especificados e contados. Obviamente, o comportamento-problema do cliente

não pode ser observado a menos que ele ocorra na presença do terapeuta. Para

atender a este requisito, os analistas do comportamento têm (a) tratado clientes

que estão com seu movimento restrito, tais como aqueles hospitalizados ou

internados em presídios, ou (b) tratado problemas graves e que se manifestam com alta frequência, como ecolalia em crianças autistas.

Ainda que seja conveniente usar problemas graves e ambientes restritos

para observar diretamente o comportamento-problema, qualquer problema que

possa ser diretamente observado é adequado para uma análise do comportamento.

O ambiente psicoterapêutico do cliente de consultório atende a este requisito

caso o problema cotidiano do cliente seja de tal natureza que também ocorra

durante o atendimento. Um exemplo significativo, ainda que trivial, é o de alguém

que procura tratamento por ter ficado "

sem palavras"

ao relatar ao seu médico

suas queixas e que realmente fica "sem palavras" quando está relatando esse seu problema ao terapeuta. Fundamentada no pré-requisito da observação, uma

(33)

16 Capítulo 1

enfoca aqueles problemas do mundo externo ao consultório que também ocorrem

durante a sessão.

Definindo comportamentalmente os CRBs

Tradicionalmente, os analistas do comportamento têm formulado

descrições comportamentais de comportamentos-alvo que se refiram

exclu-sivamente a comportamentos observáveis. Este requisito atende ao propósito de

obter-se confiabilidade, medida por consenso entre os observadores. Os

observadores, os quais devem concordar se um problema de comportamento

ocorreu ou não, habitualmente incluem o terapeuta e pelo menos uma outra

pessoa. Entretanto e por conveniência, esta outra pessoa utilizada como obser-vador costuma ser relativamente inexperiente, tal como um estudante de

graduação. Observadores inexperientes podem realizar o trabalho quando os

comportamentos de interesse são simples,

tais como completar um problema de

matemática, a ocorrência de um tique facial ou o comportamento de roer unhas

.

Mas são eles mesmos um problema, quando os comportamentos são algo mais

complexos (por ex., ansiedade e discórdia conjugal). Quando os

comportamentos-problema são mais complexos, é necessário um treinamento, antes que os

observadores possam fazer o trabalho. Por outro lado

, a quantidade de

treina-mento que pode ser dada é limitada. Assim, o uso de observadores relativamente

ingénuos tem colocado um limite prático com relação à complexidade dos

comportamentos com os quais os analistas do comportamento têm trabalhado.

Por exemplo, estariam excluídos tratamentos que envolvessem comportamentos

finais que não existissem no repertório dos observadores

, fato que não pode ser

remediado através do treinamento do observador. Exemplos de tais

compor-tamentos do cliente incluem reações interpessoais mais sutis, como as relacionadas

às relações de intimidade e à aceitação de riscos interpessoais

.

Na prática, é quase impossível obter-se a desejada objetividade com

base nas descrições comportamentais típicas que são formuladas para problemas

aplicados (Hawkins & Dobes, 1977). Não obstante, o consenso entre os

observadores é enormemente facilitado se o comportamento que está sendo

observado existe no repertório dos observadores

. Ainda que certas habilidades

(por ex., lances livres no basquete ou o desempenho físico de um ginasta) possam

ser observadas e avaliadas com confiabilidade por alguém que não possui essas

habilidades

(34)

compor-Introdução 17

tamentos interpessoais complexos que inexistam no repertório do observador

.

Consequentemente, é mais fácil para os terapeutas perceberem e descreverem comportamentos clinicamente relevantes se o comportamento final desejado fizer parte do seu próprio repertório. Como exemplo, poderia ser difícil para um

terapeuta que não tenha estabelecido relações de intimidade em sua vida,

discriminar, no cliente, a presença ou a ausência desses comportamentos.

Por estas razões e para os tipos mais sutis de problemas que a

psico-terapia de clientes adultos apresenta, a observação direta e a definição

comporta-mental do problema e dos comportamentos finais desejados podem ser levadas a cabo se (a) os comportamentos relacionados ao problema ocorrem durante a

sessão e desta maneira podem ser diretamente observados, e se (b) o terapeuta e os observadores forem cuidadosamente selecionados de forma que eles mesmos

tenham, em seus repertórios, os comportamentos fmais desejados para o cliente.

Preparando a generalização \

A terapia será ineficaz caso o cliente melhore no ambiente terapêutico

mas esses ganhos não se transfiram para a vida cotidiana. Por isso, a

genera-lização tem sido uma preocupação fundamental para os analistas do compor-tamento. A melhor maneira para preparar a generalização é conduzir a terapia

no mesmo ambiente no qual o problema ocorre. Historicamente, os analistas do

comportamento têm conseguido este objetivo através do oferecimento de

reforça-mento imediato em instituições, salas de aula, na residência do cliente ou onde

mais seja possível conduzir o tratamento no mesmo ambiente onde o problema

ocorreu.

Como podemos medir ou determinar se dois ambientes são similares?

Uma análise formal procura descrever e comparar os ambientes em termos das

suas características físicas. As limitações deste tipo de análise são encontradas

quando comparamos dois ambientes que são diferentes em alguns aspectos,

mas semelhantes em outros. Por exemplo, se você conduzir um tratamento para

déficits de atenção numa classe de educação especial, os comportamentos

adqui-ridos generalizar-se-iam para uma classe regular ou para o ambiente doméstico?

Para evitar este problema, a comparação pode ter por base uma análise funcional.

Os ambientes são então comparados com base no comportamento que eles

evo-cam, ao invés das suas características físicas. Se eles evocarem o mesmo

(35)

18

*

Capítulo 1

Embora análises do comportamento não sejam tradicionalmente conduzidas num ambiente de psicoterapia para adultos, elas poderiam ser, se o

ambiente terapêutico for funcionalmente similar ao ambiente cotidiano do cliente,

Uma similaridade funcional entre estes dois ambientes estará demonstrada se

comportamentos clinicamente relevantes ocorrerem em ambos os ambientes.

Por exemplo, um homem cujo problema apresentado é uma hostilidade que se

desenvolve em relações interpessoais próximas, demonstrará que o ambiente

terapêutico é funcionalmente similar ao seu cotidiano se ele desenvolver uma

hostilidade em relação ao terapeuta na medida em que uma relação mais próxima

venha a se estabelecer entre eles.

Neste capítulo,

lançamos as bases para a psicoterapia analítica funcional,

descrevendo seus pressupostos teóricos e filosóficos. Como esquematizado no

prefácio, os Capítulos 2 e 3 são dedicados às técnicas de manejo clínico e a

estratégias para ampliar as percepções do terapeuta. A seguir

, nos Capítulos 4

e 5, revemos os conceitos, o papel e a importância das recordações, das emoçõgs

e da cognição para a mudança do comportamento. No Capítulo 6, formulamos

uma teoria comportamental do desenvolvimento da noção do self e discutimos suas implicações clínicas. No Capítulo 7, comparamos e contrastamos a FAP

com a psicanálise e com outras terapias comportamentais e demonstramos que

a FAP aproveita-se dos melhores atributos desses dois enfoques

. Finalmente,

temas éticos e temas culturais

,

de supervisão e de pesquisa são examinados no

Capítulo 8.

(36)

Aplicação Clínica da

Psicoterapia Analítica Funcional

A aplicação clínica da FAP será discutida em termos de certos tipos de comportamento do cliente e do terapeuta, os quais ocorrem ao longo da sessão

de terapia. Os comportamentos do cliente são seus problemas, progressos e

interpretações. Os comportamentos do terapeuta são métodos terapêuticos, que

incluem evocar, notar, reforçar e interpretar o comportamento do cliente.

PROBLEMAS DO CLIENTE E COMPORTAMENTOS

CLINICAMENTE RELEVANTES

Tudo que um terapeuta pode fazer para auxiliar os clientes ocorre durante a sessão. Para o behaviorista radical, as ações do terapeuta afetam o cliente

através de três funções de estímulo: 1) discriminativa, 2) eliciadora e 3)

reforçadora. Um,estímulo discriminativo refere-se às circunstâncias externas

nas quais certos comportamentos foram reforçados e onde, consequentemente, tornam-se mais prováveis de ocorrer. A maior parte de nosso comportamento

está sob controle discriminativo e é usualmente conhecido como comportamento

voluntário (comportamento operante). Um comportamento eliciado

Referências

Documentos relacionados

QUANDO TIVER BANHEIRA LIGADA À CAIXA SIFONADA É CONVENIENTE ADOTAR A SAÍDA DA CAIXA SIFONADA COM DIÂMTRO DE 75 mm, PARA EVITAR O TRANSBORDAMENTO DA ESPUMA FORMADA DENTRO DA

Promovido pelo Sindifisco Nacio- nal em parceria com o Mosap (Mo- vimento Nacional de Aposentados e Pensionistas), o Encontro ocorreu no dia 20 de março, data em que também

nesta nossa modesta obra O sonho e os sonhos analisa- mos o sono e sua importância para o corpo e sobretudo para a alma que, nas horas de repouso da matéria, liberta-se parcialmente

Foi apresentada, pelo Ademar, a documentação encaminhada pelo APL ao INMETRO, o qual argumentar sobre a PORTARIA Nº 398, DE 31 DE JULHO DE 2012 E SEU REGULAMENTO TÉCNICO

Neste trabalho avaliamos as respostas de duas espécies de aranhas errantes do gênero Ctenus às pistas químicas de presas e predadores e ao tipo de solo (arenoso ou

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

3.3 o Município tem caminhão da coleta seletiva, sendo orientado a providenciar a contratação direta da associação para o recolhimento dos resíduos recicláveis,

O Conselho Deliberativo da CELOS decidiu pela aplicação dos novos valores das Contribuições Extraordinárias para o déficit 2016 do Plano Misto e deliberou também sobre o reajuste