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Câmara de Porto Alegre (RS) debate construção de prédio ao lado do museu Júlio de Castilhos

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Câmara de Porto Alegre (RS)

debate construção de prédio

ao lado do museu Júlio de

Castilhos

Projeto da prefeitura possibilita construção de hotel ao lado do museu Júlio de Castilhos | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

A Câmara Municipal de Porto Alegre debateu, em audiência pública na noite desta terça-feira (17), o projeto de lei 38/2012, que concede incentivos especiais para a conclusão de empreendimentos imobiliários inacabados no Centro Histórico da cidade. Protocolada em setembro do ano passado, a medida é de autoria do prefeito José Fortunati (PDT) e está pronta para ver votada em plenário.

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O texto original da proposta estabelece que projetos imobiliários aprovados antes da vigência do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA) – instituído em 30 de dezembro de 1999 – e paralisados desde então poderão ser concluídos com base na legislação da época.

O projeto lista quatro empreendimentos que serão beneficiados. Um deles se localiza no número 1195 da Rua Duque de Caxias, próximo à esquina com a Rua Espírito Santo. Trata-se da construção de um hotel de 13 andares no terreno ao lado do museu Júlio de Castilhos.

Moradores da região lotaram a audiência pública na Câmara para manifestar contrariedade à medida. Eles entendem que a construção de um prédio veritcalizado ao lado do museu irá prejudicar a estrutura do estabelecimento, cujo acervo já se encontra em condições precárias. Além disso, os moradores a c r e d i t a m q u e a o b r a d e s c a r a c t e r i z a r i a a r e g i ã o e invisibilisaria o prédio histórico do museu. A comunidade reivindica que o projeto não seja aprovado enquanto não houver a constituição de um grupo de trabalho com a presença de moradores, técnicos, prefeitura e especialistas para debater o tema.

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Terreno onde estava a casa de Borges de Medeiros poderá ter prédio de 13 andares | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

A tribuna da audiência contou também com defensores do projeto, como arquitetos ligados à prefeitura e o próprio empreendedor que quer construir o hotel: Vitório Píffero, ex-presidente do Internacional e proprietário da Piffero Construção Incorporação Ltda. Eles argumentaram que a obra possui autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e que existe um termo de ajuste de conduta (TAC) assinado junto ao Ministério Público com a previsão de monitoramento, por parte da construtora, das condições estruturais do prédio do museu. Além disso, Píffero exibiu um ofício no qual o secretário estadual de Cultura, L u i z A n t ô n i o d e A s s i s B r a s i l , m a n i f e s t a a p o i o a o empreendimento.

Obra não poderia ser beneficiada pelo projeto, diz associação

A Associação Comunitária do Centro Histórico, proponente da reunião desta terça-feira, afirma que a obra ao lado do museu

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Júlio de Castilhos não se enquadra nos requisitos técnicos previstos pelo projeto 38/2012. De acordo com o presidente da entidade, Paulo Barbieri, para que uma obra seja considerada inacabada, é preciso que, ao menos, ela tenha iniciado. Ele assegura que o empreendimento em questão, licienciado pela prefeitura em 1998, nunca começou e que nem mesmo as fundações da obra foram colocadas no terreno.

Paulo Barbieri afirma que obra não poderia ser beneficiada pelo projeto do Executivo | Foto: Vicente Carcuchinski/CMPA

Barbieri denuncia que o proprietário teria informado a construção de uma garagem na Rua Espírito Santo como parte integrante da mesma obra e, com isso, conquistado a garantia de que o empreendimento, de fato, já havia sido iniciado. Isso porque o terreno se estende da Rua Duque de Caxias até a Espírito Santo, em formato de L.

“O impacto de vizinhança desta obra é inimiaginável. O impacto no transporte urbano é óbvio, a Duque é uma rua estreita e já conta com intenso fluxo por causa dos prédios públicos ao

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redor”, considera Barbieri.

O presidente da associação entende que a obra causaria prejuízos ao entorno se o projeto 38/2012 for aprovado. “Uma obra licenciada em 1998 não está enquadrada nas novas leis que protegem a cidade contra empreendimentos insustentáveis. Hoje, um projeto deste porte seria qualificado como ‘especial de impacto urbano, de acordo com o plano diretor”, informou.

Prédio colocaria em risco a integridade do museu, diz historiadora

Historiadora e moradora do Centro Histórico, Naira Vasconcelos considera que a construção de um hotel ao lado do museu Júlio de Castilhos colocará o estabelecimento em risco. Ela ressaltou que o terreno onde será feita a obra é exatamente o lugar onde estava a antiga residência que abrigava o ex-governador Borges de Medeiros em Porto Alegre.

“O patrimônio de uma cidade são todos os elementos que servem de suporte para que as pessoas que nela vivem estabeleçam laços com seu passado e construam uma identidade coletiva. Este museu foi criado em 1903, é o mais antigo do estado, e conta com mais de 10 mil peças em seu acervo. Se este projeto de lei for aprovado, permitirá a construção de edifícios de grande porte nos terrenos lindeiros ao museu, colocando em risco sua integridade e seu acervo”, critica.

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Naira Vasconcelos diz que permitir construção do hotel é destruir lentamente o patrimônio da cidade | Foto: Vicente Carcuchinski/CMPA

Para a historiadora, a efetivação desta obra representa uma forma de destruição do patrimônio culutral da Porto Alegre. “Há muitas formas de se destruir o patrimônio de uma cidade e a memória coletiva de um povo. Uma delas, talvez a mais impactante, é colocar prédios abaixo. Mas existe outra forma mais sutil e igualmente criminosa: condenar prédios históricos à sombra e à escuridão. Isso mata aos poucos a memória de um povo”, condenou.

Vereadores da oposição criticam projeto

Além dos moradores do Centro Histórico, vereadores da oposição também fizeram críticas ao projeto 38/2012 e à construção de um hotel ao lado do museu Júlio de Castilhos. Sofia Cavedon (PT) informou que serão construídos 10 mil m² no terreno – o que seria proibido, de acordo com o atual plano diretor da cidade. Ela questionou diretamente Vitório Pífero, que estava presente na audiência.

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Marcelo Sgarbossa diz que prédio será construído “goela abaixo” da comunidade | Foto: Vicente Carcuchinski/CMPA

“Pelo atual plano diretor, só poderiam ser construídos 3 mil metros quadrados no local. Píffero, eu admiro tua história no Internacional, mas esse é o comprometimento que tu tens com a tua cidade?”, criticou.

Fernanda Melchionna (PSOL) considera que os prédios inacabados do Centro Histórico deveriam ser convertidos em áreas de cultura e recereação para a comunidade. A vereadora disse, ainda, que acha um “casuísmo” a prefeitura ter incluído a obra ao lado do museu no projeto que beneficia empreendimentos inacabados no bairro. “Colocam como obra incabada um empreendimento que sequer começou”, comentou.

Marcelo Sgarbossa (PT) afirmou que o caráter aparentemente técnico da discussão – a respeito das especificidades arquitetônicas do projeto e da interferência ou não na estrutura do museu – esconde o conteúdo político do tema. “Sempre por trás de de uma discussão técnica se esconde um conteúdo político. Esse prédio, se for construído, virá goela

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abaixo e, portanto, haverá uma resistência cotidiana dos moradores da região”, projetou.

Bernardino Vendruscolo defende substitutivo para a cidade inteira

O vereador Bernardino Vendruscolo (PSD) elaborou um projeto substitutivo ao da prefeitura. Pelo texto do parlamentar, qualquer prédio inacabado – não apenas os que estão no Centro Histórico – poderá ser concluído de acordo com o regime urbanístico da época em que a obra foi licenciada. “Precisamos atender toda a cidade, não apenas o Centro Histórico”, justifica o vereador.

O substitutivo retira a listagem dos quatro imóveis que seriam prioritariamente atendidos no texto original e institui a obrigação de haver um monitoramento das obras pela prefeitura.

Arquiteta afirma que lei da prefeitura não elimina fiscalização sobre as obras

Rosane Zottis explica que projeto da prefeitura não elimina critérios de fiscalização e tramitação de obras

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| Foto: Vicente Carcuchinski/CMPA

Arquiteta do quadro técnico da prefeitura, Rosane Zottis trabalha atualmente como assessora no gabinete do vereador João Carlos Nedel (PP) e foi uma das servidoras que trabalhou na redação do projeto de lei 38/2012. Ela disse que a medida não beneficia nenhum prédio em especial na região do Centro Histórico.

“Essa lei não elimina a tramitação que deve haver dentro da prefeitura em relação a estudos de viabilidade, tráfego, impacto ambiental e cumprimento de medidas mitigatórias. As exigências permanecem”, defendeu.

Rosane explicou que o projeto foi inicialmente pensado para que pudesse ser concluída a obra do edifício conhecido como “esqueleto da galeria 15”, nas esquinas das ruas Marechal Floriano Peixoto e Otávio Rocha.”Se verificou que era preciso flexibilizar a legislação para permitir que essas obras, já iniciadas e comprometidas, pudessem ser terminadas”.

“Adoro todos os prédios históricos”, diz Píffero

Proprietário da construtora que deseja erguer um hotel ao lado do museu Júlio de Castilhos, Vitório Píffero participou da audiência pública e defendeu o projeto na tribuna. Ele iniciou seu pronuciamento dizendo que é natural de Porto Alegre e tem admiração pelo patrimônio da cidade. “Nasci aqui e, como porto-aelgrense, adoro os prédios históricos”, observou.

O empresário considera que foram ditas “muitas desinformações” sobre o tema e esclareceu que o empreendimento conta com aval do IPHAN, do Ministério Público e da Secretaria Estadual de Cultura – responsável pela administração do museu Júlio de Castilhos.

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Vitório Píffero se irritou com comentários e vaias dos moradores do Centro Histórico | Foto: Vicente Carcuchinski/CMPA

“O TAC assinado como o Ministério Público prevê medidas compensatórias e um monitoramento da situação do prédio do museu, além da captação de R$ 276 mil junto à Lei Rouanet ou à doação de R$ 300 mil para a associação comunitária do Centro Histórico”, informou.

Muitos moradores afirmaram que, com a construção do hotel, o prédio do museu deixaria de receber a luz do sol. “Até que seja modificada a lei natural, o sol continuará nascendo no leste. Meu prédio não vai tirar a luz do sol pela manhã. E, à tarde, o prédio (residencial) da esquina já bloqueia a luz”, afirmou Píffero.

Enquanto ele discursava, alguns moradores rebatiam comentários e ensaiavam vaias. Irritado, Píffero disse que não iria tolerar interrupções. “Fiquei oito anos no Internacional recebendo vaias e apupos. Não vou mais ser impedido por qualquer tipo de comentário”, irritou-se.

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O empresário considera que a obra não irá congestionar a região – já que os carros que ingressarem no hotel sairão pela Rua Espírito Santo – e afirmou que o estabelecimento trará mais segurança ao entorno. Os moradores rebateram, afirmando que a zona já é segura, por estar bastante próxima ao Palácio Piratini. “Mas ninguém nunca foi assaltado na Duque de Caxias? Duvido”, disse.

Píffero ainda garantiu que existe a intenção de interligar os pátios entre o museu Júlio de Castilhos e o hotel, o que ele considera que favoreceria as visitas dos hóspedes ao estabelecimento. E assegurou que a parte frontal do prédio, que terá uma parede lisa, poderá abrigar banners e cartazes com propagandas sobre o museu. Por Samir Oliveira

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