Stricto Sensu em Economia de Empresas
VALORAÇÃO DE ATIVOS AMBIENTAIS: UMA LEITURA DOS
IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DE PEQUENAS CENTRAIS
HIDRELÉTRICAS
Brasília - DF
2011
VALORAÇÃO DE ATIVOS AMBIENTAIS: UMA LEITURA DOS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DE PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Economia da Universidade Católica de Brasília, como parte dos requisitos necessários para obtenção do Título de Doutor em
Economia.
Orientador: Profª. Dra Lucijane Monteiro de Abreu
Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB – 03/02/2012 A368v Alencar Filho, Francisco Mendes de.
Valorização de ativos ambientais: uma leitura dos impactos socioambientais de pequenas centrais hidrelétricas. / Francisco Mendes de Alencar Filho – 2011.
249f. ; il.:30 cm
Tese (doutorado) – Universidade Católica de Brasília, 2011.
Orientação: Lucijane Monteiro de Abreu
1. Impacto ambiental. 2. Economia ambiental. 3. Ecossistema. 4. Usinas hidrelétricas. I. Abreu, Lucijane Monteiro de, orient.. II. Título.
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AGRADECIMENTOS
A Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo dom da vida.
A Nossa Senhora da Piedade, minha protetora, pelas luzes em meu caminho, pelas oportunidades concedidas em todos os instantes de minha existência, especialmente pela satisfação e alegria em concluir o presente trabalho.
Aos meus pais, o Senhor Francisco Alencar (in memorian) e a minha mãe, a
Sra. Francisca Alencar, aos meus irmãos e familiares, a minha esposa Elizabete e aos meus filhos André Felipe e Paulo Renato.
Aos meus entes queridos, Dr Eurípedes Barsanulfo, Genivaldo, Evaldo e Giuseppe Alencar, Daniel Ivo, as minhas avós Quércia, Zeferina, Zulmira Alves, Isabel Bilú, Maria Melo, vô Constâncio, vô Nhoquim, a Pequena Ondina, a Joaninha D’arc, que sempre me incentivaram, mas que hoje se encontram numa Pátria distante da nossa, cujas presenças espirituais constantes superam suas ausências físicas.
Aos ensinamentos que recebi, dentre os quais, este que guardo com muito valor, pois é a base para minha sobrevivência e independência. “Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam”. (PAULO FREIRE, 1998).
A minha esposa Elizabete, ao Wagner Castilho, ao Humberto José, a Maria das Graças Alencar, a Vera Castilho, ao Ronaldo Aniceto, à Valéria Castilho, ao Felipe Castilho e Talyta Castilho, ao Ricardo Lopes, César Adonai e Ronaldo Aniceto pelos comentários críticos e revisão técnica efetuada ao longo desta pesquisa.
À professora Dra Lucijane Monteiro pela orientação no desenvolvimento desta pesquisa.
Como se não bastasse ter ao meu lado a Profª Dra Lucijane Monteiro, fui privilegiado com a experiência e orientação dos Professores Dr Tito Belchior, Dr Rogério Boueri, Dra. Tânia Rossi, Dr. Gustavo Baptista, Dr. Adolfo Sachsida, Dr. Paulo Loureiro e o Dr Adriano Paixão.
À Diretoria de Saneamento da Caixa Econômica Federal na pessoa de seu Diretor Rogério Tavares, do seu Gerente Nacional Adailton F. Trindade, e do Gerente de Clientes e Negócios, Ronaldo Aniceto e aos demais colegas que aqui não mencionei, mas que de alguma forma deram sua contribuição.
Por fim, agradeço a aqueles que acreditaram em mim e tiveram muita compreensão pelo fato de ter abdicado de muitas horas de convívio com os mesmos. Refiro-me à minha mãe, a minha esposa e aos meus filhos.
vi
RESUMO
A valoração ambiental é um importante instrumento para a determinação do valor de bens que não possuem mercado definido. A construção dos aproveitamentos hidroelétricos Dreher e Kotzian, localizados em Salto do Jacuí e Júlio de Castilhos – RS, respectivamente, promovem impactos diretos nos ecossistemas terrestres e aquáticos e, portanto, afetam o bem-estar geral dos indivíduos. Essas áreas, diretamente afetadas, em razão de suas características de rivalidade e não-excludência, são bens públicos. O método de valoração contingente constitui-se em uma das técnicas que possibilita a determinação do valor econômico de um bem público. Em síntese, esta investigação teve por objetivo determinar o valor econômico da área diretamente afetada pela construção dos aproveitamentos hidroelétricos. Ainda buscou-se na pesquisa, identificar e analisar a percepção dos participantes acerca da construção das hidrelétricas e do uso dos recursos naturais. Para alcançar os objetivos, foram aplicados 916 questionários, sendo 476 em moradores do município de Salto do Jacuí e 440 em moradores de Júlio de Castilhos.. Os resultados mostraram que a renda familiar, a idade, a instrução, o valor do lance ofertado são variáveis importantes para explicar a probabilidade do indivíduo se dispor a contribuir para a recuperação, conservação e preservação ambiental da área afetada diretamente pela construção da Pequena Central Hidrelétrica - PCH. Evidenciou-se também que, na concepção dos respondentes, a hierarquia das suas necessidades foi fator preponderante na elaboração de suas
percepções.
Palavras-Chave: Valoração ambiental; Impactos; Ecossistemas; Valor econômico;
vii
ABSTRACT
The environmental valuation it is important tool for determining the value of goods that have no defined market. The construction of hydroelectric developments Dreher and Kotzian, located in Salto do Jacuí and Júlio de Castilhos - RS, respectively, promote direct impacts on terrestrial and aquatic ecosystems and, therefore, affect the general welfare of individuals. These areas directly affected, due to its characteristics of non-rivalry and non-enclosing, are public goods. The contingent valuation method consists in a technique that allows determining the economic value of a public good. In summary, this investigation aims to determine the economic value of the area directly affected by the construction of hydroelectric developments. Also sought in the research, identify and analyze the participants' perception about the construction of dams and the use of natural resources. To achieve our goals, we applied 916 questionnaires, 476 residents in the city of Salto do Jacuí and 440 residents in Julio de Castilhos. The results showed that family income, age, education, the bid amount offered are important variables to explain the probability of an individual is willing to contribute to the recovery, conservation and environmental protection of the area directly affected by the construction of small hydroelectric - PCH. It was evident that, in the design of the respondents, the hierarchy of needs was an important factor in development of their perceptions.
Key-words: Environment Valuation. Impacts. Ecosystems. Economic Value.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Categorias de valores econômicos atribuídos ao patrimônio ambiental. ... 44
Figura 2 - Mapa com a localização dos municípios Júlio de Castilhos e Salto do Jacuí .... 121
Figura 3 - Local da Implantação da Casa de Força ... 123
Figura 4 – Local de Implantação da Casa de Força ... 125
Figura 5 - Detalhe PCH Dreher ... 168
Figura 6 - Detalhe PCH Kotzian ... 168
Figura 7 - Área de influência direta ... 234
Figura 8 - Vista panorâmica do local do futuro barramento, com vista da sua margem direita. ... 235
Figura 9 - Vista do rio à montante do barramento ... 235
Figura 10 - Paredão de rocha ocorrente na margem direita do rio, próximo ao canal de fuga, que ficará na margem esquerda. ... 235
Figura 11 - Exemplar de Bromeliacea presente na área do futuro reservatório da PCH. .. 235
Figura 12 - Vista panorâmica do local do futuro barramento ... 236
Figura 13 - Pinheiro-brasileiro (Araucária angustifolia). ... 236
Figura 14 - Rio Ivaí - a montante do reservatório da PCH Dreher. ... 236
Figura 15 - Cachoeira em afluente do rio Ivaí. ... 236
Figura 16 - A Águia-chilena (Buteo melanoleucus). ... 237
Figura 17 - Capivara ... 237
Figura 18 - Lambari ... 238
Figura 19 - Cascudo ... 238
Figura 20 - Viola ... 239
Figura 21 - Tambicu ... 239
Figura 22 - Área de Influência direta ... 241
Figura 23 - Vista panorâmica do Local do eixo da barragem ... 242
Figura 24 - Vista do rio à jusante do barramento ... 242
Figura 25- Paredão de rocha ocorrente na margem esquerda do rio, próximo a casa de máquinas. ... 243
Figura 26 - Exemplar de Bromeliácea presente na área do futuro reservatório da PCH. .. 243
Figura 27 - Local de implantação da Casa de Força ... 243
Figura 28 - Açoita cavalo (Luehea divaricata) ... 243
Figura 29 - Rio Ivaí - a jusante do reservatório da PCH Kotzian. ... 244
Figura 30 - Cachoeira em afluente do rio Ivaí. ... 244
ix
Figura 32 - Capivara ... 245
Figura 33– Lambari ... 246
Figura 34 – Cascudo ... 246
Figura 35– Viola ... 246
x
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Curvas de Indiferença ... 77
Gráfico 2 – Maximização da Utilidade do Consumo. ... 78
Gráfico 3 – Externalidades Negativas (Custos Externos) em Mercados Competitivos ... 81
Gráfico 4 – Excedente do Consumidor ... 83
Gráfico 5 – Curva de demanda compensadas e excedente do consumidor hicksiano ... 88
Gráfico 6 – Variação Equivalente ... 94
Gráfico 7 - Variação Compensatória ... 95
Gráfico 8 - Variação compensatória e Variação Equivalente ... 96
Gráfico 9 - Excedente do Consumidor, VC e VE ... 97
Gráfico 10– Decomposição Hicksiana de Mudança de preços ... 102
Gráfico 11 - Medida do Excedente Compensatório para um incremento em q ... 106
Gráfico 12 - Medida do Excedente Equivalente para um incremento em q ... 108
Gráfico 13 – Formas de Esgotamento Sanitário ... 128
Gráfico 14 – Formas de Esgotamento Sanitário ... 129
Gráfico 15 – A função de densidade acumulada para rejeitar a oferta de e o valor esperado de EC. ... 145
Gráfico 16 - Média e Mediana da DAP por meio da função logística de distribuição de Probabilidade Acumulada ... 148
Gráfico 17 - Função Logística de Distribuição de Probabilidade Acumulada ... 151
Gráfico 18 – Curva ROC ... 177
Gráfico 19 – Curva ROC ... 180
Gráfico 20 – Curva ROC ... 188
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1– Estatísticas descritivas da Idade, Escolaridade, Renda Individual, Renda Familiar
e Número de Membros da Família, 2009 -2010. ... 158
Tabela 2– Distribuição de Freqüência dos Entrevistados Segundo a Ocupação, Júlio de Castilhose Salto do Jacuí - RS, 2009 - 2010. ... 159
Tabela 3 - Modificações de maior relevância no meio ambiente, Júlio de Castilhos e Salto do Jacuí ... 162
Tabela 4- Resumo das Respostas da Disposição a Pagar, Júlio de Castilhos e Salto do Jacuí-RS, 2009 e 2010 ... 170
Tabela 5 – Relação entre o Nível de Renda e Respostas da Disposição a Pagar, Júlio de Castilhos, Salto do Jacuí – RS, 2009 - 2010. ... 171
Tabela 6 – Relação entre as Repostas da Disposição a Pagar e o Nível de Escolaridade, Salto do Jacuí- RS 2009 - 2010. ... 172
Tabela 7– Motivos da Não Disposição a Pagar pela Conservação da Área Afetada diretamente pela Construção das Hidrelétricas, Júlio de Castilhos, Salto do Jacuí – RS – 2009 - 2010... 172
Tabela 8 - Sumário das Observações ... 174
Tabela 9 - Teste para avaliar a capacidade preditiva do Modelo ... 174
Tabela 10- Análise da Qualidade Geral do Modelo ... 175
Tabela 11– Teste de Ajustamento de Hosmer & Lemeshow ... 175
Tabela 12 – Quadro de Classificação Final ... 176
Tabela 13–Área sob a curva ... 177
Tabela 14 – Parâmetros e testes de significância das variáveis incluídas no modelo. ... 177
Tabela 15- Teste para avaliar a capacidade preditiva do Modelo ... 178
Tabela 16- Análise da Qualidade Geral do Modelo ... 179
Tabela 17– Teste de Ajustamento de Hosmer & Lemeshow ... 179
Tabela 18– Quadro de Classificação Final ... 179
Tabela 19– Área sob a curva ... 180
Tabela 20– Parâmetros e testes de significância das variáveis incluídas no modelo. ... 181
Tabela 21 – Efeitos Marginais com a inclusão dos votos de protesto – Júlio de Castilhos 182 Tabela 22– Efeitos Marginais com a exclusão dos votos de protesto – Júlio de Castilhos 183 Tabela 23– Valores médios e medianos para estimar o valor dos parâmetros. ... 184
Tabela 24– Simulação dos valores atribuídos para a preservação e conservação dos recursos naturais, a partir da DAPA média e mediana – Júlio de Castilhos, RS. ... 185
xii
Tabela 26- Teste para avaliar a capacidade preditiva do Modelo ... 186
Tabela 27- Análise da Qualidade Geral do Modelo ... 187
Tabela 28 – Teste de Ajustamento de Hosmer & Lemeshow ... 187
Tabela 29– Quadro de Classificação Final ... 188
Tabela 30– Área sob a curva ... 188
Tabela 31– Parâmetros e testes de significância das variáveis incluídas no modelo. ... 189
Tabela 32- Sumário das Observações ... 190
Tabela 33- Teste para avaliar a capacidade preditiva do Modelo ... 190
Tabela 34– Análise da Qualidade Geral do Modelo ... 190
Tabela 35– Teste de Ajustamento de Hosmer & Lemeshow ... 191
Tabela 36– Quadro de Classificação Final ... 191
Tabela 37– Área sob a curva ... 192
Tabela 38– Parâmetros e testes de significância das variáveis incluídas no modelo. ... 192
Tabela 39– Efeitos Marginais com a inclusão dos votos de protesto – Salto do Jacuí ... 194
Tabela 40 – Efeitos Marginais com a exclusão dos votos de protesto – Salto do Jacuí ... 195
Tabela 41– Valores médios e medianos para estimar o valor dos parâimmetros. ... 196
Tabela 42– Simulação dos valores atribuidos para a preservação e conservação dos recursos naturais, a partir da DAPA média e mediana – Salto do Jacuí, RS. ... 196
Tabela 43 - Formação do índice de retorno do ICMS ao município de Júlio de Castilhos/RS ... 248
Tabela 44 - Simulação de retorno anual do ICMS para o município de Júlio de Castilhos/RS ... 248
Tabela 45 - Formação do índice de retorno do ICMS ao município de Salto do Jacuí/RS . 249
xiii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Relações entre os conceitos de DAR/DAP e VE/VC ... 110
Quadro 2 - Disparidades entre DAP e DAR ... 120
Quadro 3 – Características Geográficas de Júlio de Castilhos ... 127
Quadro 4 – Indicadores de Júlio de Castilhos ... 127
Quadro 5 – Características geográficas de Salto do Jacuí ... 128
Quadro 6 – Indicadores do Salto do Jacuí ... 129
Quadro 7 - Variáveis Explicativas e Sinal Esperado que explicam a DAP ... 170
Quadro 8 - Caracterização do Empreendimento – PCH Dreher ... 234
xiv
LISTA DE SIGLAS
ACB Análise custo-benefício
AIA Avaliação de Impactos Ambientais
APP Área de Preservação Permanente
AVC Análise da Valoração Contingente
BID Banco interamericano de Desenvolvimento
BIRD Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento
CE Custos Externos
CEEE Companhia Estadual de Energia Elétrica
CERCLA Comprehensive Environmental Response, Compensation, and Liability ACT
CFURH Compensações Financeiras pelo uso dos Recursos Hídricos
CMP Custo Privado
CMS Custo Social
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
DAP Disposição a Pagar
DAPA_JC Valor da Disposição a Pagar – Júlio de Castilhos DAPA_SJ Valor da Disposição a Pagar – Salto do Jacuí
DAR Disposição a Receber
EC Excedente do Consumidor
ECq Excedente Compensatório
EE Excedente Equivalente
EEq Excedente Equivalente
EM Medida Marshalliana
EMC Excedente do Consumidor Marshaliano
EPA Agência de Proteção Ambiental
ER Efeito Renda
ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz
ET Efeito Total
EUA Estados Unidos da América
FDR Função Dispêndio Restrita
FUIC Função Utilidade Indireta Condicional
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços
MAC Método de Avaliação Contingente
MCE Método de Comportamento Mitigatório
MCR Método de custos de Reposição
MCV Método de Custos Viagem
MDR Método Dose-Resposta
MPH Método de preços Hedônicos
MVC Método de Valoração Contigente
NEPA National Environmental Policy of Act
NOAA National Oceanic and Atmospheric Administration
xv
ONU Organização das Nações Unidas
P Preço
PACM Parque Ambiental Chico Mendes
PCH Pequenas Centrais Hidrelétricas (Potência Instalada- maior 1MW até 30MW)
PEMD Parque Estadual do Morro do Diabo
PNLP Parque Nacional da Lagoa do Peixe
PNMA Política Nacional do Meio Ambiente
RIMA Relatório de Impacto Ambiental
ROC Receiver Operating Characteristic
SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente
SIN Sistema Interligado Nacional
SP São Paulo
SPSS Statistical Package for Social Scienses
TO Tocantins
UHE Usina Hidrelétrica de Energia (Potência Instalada maior que 30 MW)
USP Universidade de São Paulo
VC Variação Compensatória
VDAPA Valor da Disposição a Pagar
VE Variação Equivalente
VEX Valor de Existência
VET Valor Econômico Total
VNU Valor de Não Uso
VO Valor de Opção
VU Valor de Uso
VUD Valor de Uso Direto
xvi
SUMÁRIO
RESUMO ... vi
ABSTRACT ... vii
LISTA DE FIGURAS ... viii
LISTA DE GRÁFICOS ... x
LISTA DE TABELAS ... xi
LISTA DE QUADROS ... xiii
LISTA DE SIGLAS ... xiv
1 INTRODUÇÃO ... 19
1.1 Considerações Iniciais ... 19
1.2 O problema e sua importância ... 27
1.3 Hipóteses ... 32
1.4 Objetivo Geral ... 33
1.5 Objetivos Específicos ... 33
1.6 Estrutura da Tese ... 34
2 REVISÃO DA LITERATURA ... 35
2.1 Bens públicos e externalidades ... 35
2.2 Valor econômico de um recurso ambiental ... 40
2.3 Métodos de valoração ambiental ... 44
2.3.1 Método do custo de viagens (travel cost) – MCV ... 46
2.3.2 Método dos Preços hedônicos (Hedonic Price Method) ... 48
2.3.3 Método da valoração contingente ... 50
2.4 Histórico do Método de Valoração Contingente ... 53
2.5 Valoração Contingente - Aplicações Teóricas e Empíricas ... 60
2.5.1 Estudos Internacionais ... 60
2.5.2 Estudos brasileiros ... 63
3 MÉTODO DE AVALIAÇÃO CONTINGENTE ... 73
3.1 Fundamentos Microeconômicos ... 73
3.1.1 A Teoria da Utilidade ... 74
3.1.2 Medidas de bem-estar ... 79
3.1.2.1 Excedente do Consumidor Marshaliano - EMC ou Ordinário do Consumidor .... 83
3.1.2.2 Medidas Hicksianas ... 85
3.1.2.2.1 Excedente Compensatório e Excedente Equivalente ... 92
3.1.2.2.2 Função Utilidade com Métrica Monetária ... 93
xvii
3.1.2.3 Mudança de bem-estar para mudanças nas quantidades de bens ambientais -
Excedente Compensatório e Excedente Equivalente ... 102
3.2 Estimação da disposição a pagar ... 109
3.2.1 Métodos Diretos ... 111
3.2.2 Métodos Indiretos ... 113
3.3 Problemas do método ... 114
3.3.1 Confiabilidade e validade do método ... 114
3.3.2 Diferenças entre a DAP e a DAR ... 119
4 MATERIAL E MÉTODOS ... 121
4.1 Caracterização da área de estudo ... 121
4.1.1 PCH Engenheiro Henrique Kotzian ... 121
4.1.2 PCH Engenheiro Ernesto Jorge Dreher ... 123
4.1.3 Tipologia Vegetal ... 125
4.1.4 Áreas de Influência ... 126
4.1.5 O palco e os atores ... 127
4.2 Metodologia e Estimação ... 130
4.2.1 Aspectos Metodológicos da coleta de dados ... 130
4.2.2 Aspectos éticos ... 130
4.2.3 Delineamento de Pesquisa ... 131
4.2.4 Participantes (Sujeitos) – Determinação da amostra ... 131
4.2.5 Instrumentos de coleta de dados ... 133
4.2.6 Procedimentos ... 137
4.3 Técnicas de eliciação utilizadas para obter a DAP ... 141
4.3.1 Modelo de referendum ... 141
4.3.1.1Modelo de Referendum – Abordagem de Hanemann (1984) ... 143
4.4 Modelo Analítico ... 148
4.4.1 Modelo Logit ... 148
4.4.2 Estimação da DAP: formalização do método referendo ... 152
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 157
5.1 Perfil Sociodemográfico dos Participantes ... 157
5.2 Percepção dos participantes de Júlio de Castilhos e Salto do Jacuí sobre a construção de pequenas centrais hidrelétricas e uso dos recursos naturais: análise de conteúdo ... 161
5.2.1 Questão de livre associação ... 166
xviii
5.4 Estimação da Disposição a Pagar ... 173
5.4.1 Júlio de Castilhos ... 174
5.4.1.1 Avaliação do ajuste do modelo, incluindo os votos de protestos. ... 174
5.4.1.2 Avaliação do ajuste do modelo, excluindo os votos de protestos. ... 178
5.4.1.3 Modelagem e teoria econômica ... 181
5.4.1.4 Cálculo da DAP ... 184
5.4.2 Salto do Jacuí ... 186
5.4.2.1 Avaliação do Ajuste do Modelo, incluindo os votos de protestos. ... 186
5.4.2.2 Avaliação do Ajuste do Modelo, excluindo os votos de protestos. ... 189
5.4.2.3 Modelagem e teoria econômica ... 193
5.4.2.4 DAP com todas as observações ... 196
6 CONCLUSÃO ... 198
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 204
APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADO ... 224
APÊNDICE B - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ... 229
APÊNDICE C–TEXTO INFORMATIVO: PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA - PCH ENGº ERNESTO JORGE DREHER ... 234
APÊNDICE D – TEXTO INFORMATIVO: PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA - PCH ENGº ERNESTO HENRIQUE KOTZIAN ... 241
APÊNDICE E – ÍNDICE DE RETORNO DO ICMS - JÚLIO DE CASTILHOS ... 248
1 INTRODUÇÃO
1.1 Considerações Iniciais
As usinas hidrelétricas, conjunto de obras e equipamentos, têm por objetivo
produzir energia elétrica por meio do aproveitamento natural dos corpos hídricos,
compreendendo o sistema de captação e adução de água, a casa de máquinas e a
linha de transmissão, alcançando os pontos de consumo. No Brasil, até a década de
60, as usinas eram construídas sem que os setores responsáveis se preocupassem
com as alterações e mudanças que viessem a ocorrer no ambiente natural, ou no
meio socioeconômico-ambiental (COLITO, 2004).
Somente com a realização da Conferência das Nações Unidas em Estocolmo,
no ano de 1972, a percepção quanto aos aspectos ambientais passou a merecer
maior atenção, em razão das exigências dos organismos financeiros internacionais
que estabeleceram como condicionante para a concessão de empréstimos
internacionais a realização do estudo de Avaliação de Impactos Ambientais - AIA,
bem como, o estabelecimento do sistema de gestão decorrente das ações exigidas
na AIA. (ANDREAZZI; MILWARD-DE-ANDRADE, 1990).
Para Mota (2006), a Conferência de Estocolmo representou um marco no
ambientalismo global, em razão da legitimidade concedida aos assuntos ambientais
e auxiliou no fortalecimento de grupos ambientalistas e na ampliação de seus
papéis, bem como, na promoção do desenvolvimento de políticas relacionadas ao
uso do meio ambiente.
A conferência de Estocolmo despertou os países industrializados e em desenvolvimento o desejo de elaborarem, juntos, “(...) os ‘direitos’ da família humana a um meio ambiente saudável e produtivo. Várias reuniões desse tipo se sucederam: sobre os direitos das pessoas a uma alimentação adequada, a boas moradias, a água de boa qualidade, ao acesso aos meios de escolher o tamanho das famílias”. (MOTA, 2006, p. 31).
Entretanto, destaca-se como ação precursora à Conferência de Estocolmo, a
aprovação nos Estados Unidos da América do Norte, em 1969, da Lei Federal
“National Environmental Policy of Act”, conhecida também como NEPA, exigida
inicialmente para ações circunscritas ao âmbito público do governo
tomadas de decisões e concessões de empréstimos, que trazia em sua formulação
uma política nacional ambiental que tinha como instrumento a Avaliação de
Impactos Ambientais (AIA). Outros países, inclusive aqueles em desenvolvimento,
também adotaram o NEPA, uma vez que, estes entendiam serem as questões
relacionadas aos problemas ambientais, algo que extrapolava os limites do território
americano. O referido instrumento passou a ser exigido pelos principais organismos
de cooperação internacional (DIAS, 2001), quais sejam a Organização das Nações
Unidas (ONU), o Banco Mundial (BIRD), o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), entre outros. No Brasil, os referidos estudos tiveram o seu
início na década de 1970 por exigência do Banco Mundial para financiamento à
construção de Usinas Hidrelétricas (MOREIRA, 1985).
Como ação reativa à Conferência de Estocolmo (1972), o governo brasileiro
criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, que durante mais de uma
década e, em parceria com outras agências de controle ambiental, cuidaram das
atividades vinculadas ao controle da poluição e à proteção da vida selvagem.Porém,
o processo de Avaliação de Impacto Ambiental foi reconhecido como instrumento
legal por meio da aprovação da Lei Federal nº 6938, de 31/08/1981 no que se refere
à Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA conforme estabelece em seu Art. 2º:
A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, propicia a vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e a proteção da dignidade, da vida humana atendidos aos seguintes princípios... (LEI FEDERAL nº 6938, Art. 2º).
Entretanto, somente após a definição das diretrizes, dos critérios técnicos
para a elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), bem como do Relatório de
Impacto Ambiental (RIMA), é que a AIA foi regulamentada nos Estados da
Federação Brasileira por meio da Resolução do CONAMA 001/86.
Salienta-se que os estudos de Impactos Ambientais compreendem um
conjunto de atividades técnicas e científicas que abrangem o diagnóstico ambiental,
avaliação dos impactos, proposição de programas de medidas mitigadoras e
compensatórias, além da elaboração do RIMA. Trata-se de um instrumento de
auxílio ao processo de tomada de decisão relacionada às atividades potencialmente
poluidoras que utilizam os recursos naturais como insumo para a produção de bens
conservação da capacidade de suporte dos ecossistemas e qualidade do ambiente,
dimensões socioculturais e econômicas.
De acordo com o Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, impacto
ambiental é definido como:
Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: (I) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; (II) as atividades sociais e econômicas; (III) a biota; (IV) as condições estéticas e sanitárias do meioambiente; (V) a qualidade dos recursos ambientais”(CONAMA n
o
001/86, art. 1º).
Na teoria econômica neoclássica, o termo utilizado para expressar os
impactos socioambientais é denominado de externalidade1. A monetarização destas
externalidades dá origem aos custos externos ou socioambientais. Originalmente, a
aplicação do conceito de externalidade na análise das atividades produtivas remonta
ao trabalho de Pigou, com a publicação em 1920 de seu trabalho denominado “The
Economics of Welfare”.
A questão da poluição para Pigou e seus seguidores (apud DONAIRE, 1999)
tem sua origem na falha dos sistemas de preços, por não refletir de forma correta os
danos causados a terceiros e ao meio ambiente. As empresas poluidoras deveriam
pagar pelo uso dos recursos ambientais, da mesma forma que ela remunera dos
demais fatores de produção, tais como, mão-de-obra, capital etc, cobrindo o
diferencial entre os custos privados e sociais. Desta forma, os pigouvianos
defenderam o estabelecimento de um tributo corretivo, que deveria ser internalizado
pelos poluidores, por meio de cobranças efetuadas pelo Estado, conhecido como
taxa pigouveana.
A internalização dos custos ambientais por meio da taxa pigouveana
tornou-se conhecida como princípio do poluidor-pagador, que embasa o Diploma Legal
Brasileiro (LEI 6.938/81), quanto à forma de gestão da questão da degradação
ambiental por parte do Estado. O poluidor é responsável pelos danos causados ao
Meio Ambiente e a terceiros, cabendo a ele, repará-la, em razão de que a atividade
poluidora interfere no direito de alguém a uma vida com qualidade ambiental.
1
A concepção pigouveana sustentada no princípio poluidor-pagador embasa
os pressupostos teóricos dos integrantes da escola ambiental neoclássica. Para os
neoclássicos, os estudos das questões ambientais vinculam-se à incorporação das
externalidades, que surgem, em decorrência de uma indefinição de propriedade.
Segundo Libanori (1990), como forma de resolver a ausência de propriedade
particular sobre os recursos naturais, a corrente neoclássica propõe a privatização
do meio ambiente, ou seja, sugerem formas para determinar os direitos de
propriedade sobre os recursos ambientais, bem como, negociar esses direitos em
mercados privados.
Ainda tutelado pela ausência de propriedade sobre os recursos naturais,
emerge o Teorema de Coase (2005), que incorpora em sua elaboração, a busca de
soluções eficientes para as externalidades, segundo o qual, a alocação dos direitos
de propriedade sobre as externalidades, conduz a resultados eficientes a partir da
interação de mercado. O ponto de equilíbrio ocorre quando o custo marginal do
controle igualar-se ao custo de degradação.
Outros métodos de valoração econômica das externalidades ambientais
foram criados, a exemplo da análise custo-benefício (ACB) e da valoração
contingente, todos sob a ótica da internalização das externalidades ambientais,
sustentadas no conceito do princípio poluidor-pagador, cerne de toda análise
neoclássica do meio ambiente. A introdução do capital natural na análise econômica
é necessária para avaliação do impacto do fluxo dos estoques naturais com vistas a
buscar uma escala produtiva sustentável.
May (1995) chama a atenção para o papel da decisão coletiva no que se
refere ao futuro do planeta de modo a identificar e reduzir os custos ambientais e
aqueles que tivessem sofrido um declínio em bem-estar fosse adequadamente
compensado por suas perdas.
Merico (2002) fala da necessidade de reconhecer as externalidades
ambientais do processo produtivo e na inclusão econômica desses efeitos no custo
de produção, uma vez que custo da degradação ambiental e do consumo de
recursos naturais não tem sido computado no processo produtivo. A internalização
destes custos ambientais trata-se de excelente ferramenta para melhor alocar os
recursos econômicos, entretanto, depende da identificação dos impactos ambientais
custos em bases econômicas necessita de que o valor dos bens e serviços, antes
proporcionados pela natureza, ao deixarem de existir em vista de sua degradação,
sejam estimados, quantificados e incorporados ao processo produtivo econômico. A
escassez dos recursos naturais é uma ameaça.
O impacto do setor produtivo na deterioração ambiental é significativo.
Fundamental, portanto, que no processo produtivo sejam consideradas as
externalidades negativas. A questão ambiental tem sido discutida e estudada dentro
do pensamento econômico, no âmbito da microeconomia, onde se busca embutir no
preço dos produtos os custos dos danos ambientais decorrentes da atividade
produtiva e sua recuperação.
Ao longo dos anos, diversas áreas de pesquisas surgiram no âmbito da
ciência econômica e se desenvolveram, a exemplo da economia dos recursos
naturais, economia ambiental, e economia ecológica, sustentadas na teoria
microeconômica neoclássica e que têm orientado as pesquisas na busca de uma
solução harmônica para o paradoxo existente entre crescimento econômico e a
preservação e conservação dos recursos naturais.
Segundo Sachs (1986), a sintonia entre o desenvolvimento socioeconômico
com a gestão racional do ambiente, passa por uma redefinição de objetivos e tipos
de ação, uma vez que o ambiente é considerado como uma dimensão do
desenvolvimento, devendo ser internalizado e integrado em todos os níveis de
decisão.
Para Godard (1997), a gestão de recursos ambientais deve contemplar uma
visão estratégica de desenvolvimento no longo prazo, o que lhe confere um sentido
para além dos usos do dia-a-dia, pois se constitui no cerne onde se confrontam e se
reencontram os objetivos associados ao desenvolvimento e aqueles voltados para a
conservação da natureza ou para a preservação da qualidade ambiental. Salienta
ainda, que o estudo da economia em relação ao meio ambiente não se encontra
ainda bem definido, no entanto, apresenta como característica primordial a
necessidade de ser sustentável, considerando na sua estrutura a capacidade de
suporte dos ecossistemas.
Para Sachs (1993), desenvolvimento e o meio ambiente encontram-se
permanentemente associados. Dessa forma, a formulação de políticas públicas
conceito de sustentabilidade não deve limitar-se à visão tradicional de estoque e
fluxos de recursos naturais e de capitais. Ele considera necessária a observação
simultânea de três critérios fundamentais, quais sejameqüidade social,
prudênciaEcológica e eficiência econômica. Este conceito normativo básico surgiu a
partir daConferência deEstocolmo em 1972, nomeado à época como “abordagem do
ecodesenvolvimento” eposteriormente conhecida como “desenvolvimento
sustentável” (SACHS, 1993).
Os debates promovidos por Godard e Sachs remetem à reflexão das atitudes
e ações do ser humano em relação à utilização das reservas naturais e finitas do
planeta, defendendo a prática de um desenvolvimento de forma sustentável que
atenda as demandas atuais sem comprometer as gerações futuras e suas
necessidades; ou seja, buscar formas de desenvolvimento no presente que
contemplem avaliação dos impactos ambientais e os seus efeitos, e ao mesmo
tempo, ações pró-eficientes que tenham por objetivo a manutenção e preservação
da biodiversidade e dos ecossistemas naturais.
Faz-se necessário inserir no planejamento das atividades econômicas,
voltadas ao setor público ou privado, o estudo a respeito do local onde será
implantado determinado projeto, o seu ambiente natural (atmosfera, hidrosfera,
litosfera e biosfera) e ambiente social (infraestrutura material constituída pelo
homem e sistemas sociais criados). Em caso contrário, deparar-se-á com grandes
áreas impactadas devidas ao rápido crescimento econômico, sem o controle e
manutenção dos recursos naturais, e como conseqüência a geração de
externalidades negativas pelo aumento da poluição e uso incontrolado de recursos
como água e energia, etc.
Assim sendo, percebe-se que os impactos ambientais apresentam forte
relação de “causa e efeito”, quando vinculados ao crescimento econômico e
adensamento populacional, por agirem diretamente sobre os recursos naturais, tais
como a água, ar, o solo, a energia e outros, bem como, na infraestrutura social,ou
seja, a atividade industrial.
Na realidade as atividades humano-econômicas produzem sobre o meio
ambiente efeitos paralelos negativos, causando sérios danos aos recursos naturais,
intensificando desta forma os impactos ambientais. A humanidade vem se utilizando
animais, biomassa para a geração de energia e outras explorações dos recursos
naturais.Entre estas atividades, destacam-se alguns empreendimentos
potencialmente poluidores como as Usinas Hidrelétricas ou Pequenas Centrais
Hidrelétricas (PCH), Usinas de Energia Eólica, Termelétricas a diesel, rodovias,
ferrovias, portos, linhas de transmissão elétrica, emissários de esgotos e aterros
sanitários, aeroportos, gadosutos, oleodutos, canais para navegação, retificação de
cursos d'água, saneamento básico, irrigação e drenagem, dutos de minério, entre
outros.
No âmbito deste estudo, será considerada a mensuração dos valores
monetários associados aos impactos decorrentes da construção de uma Pequena
Central Hidrelétrica – PCH, sob a ótica da análise do método de valoração
contingente (MVC), cuja aplicação tem se constituído em extenso campo de
pesquisas teóricas e empíricas.
As hidrelétricas continuam sendo imprescindíveis, não apenas para suprir o
país de energia, mas para garantir a modicidade tarifária. Entretanto, não podem ser
desconsideradas as características de um ambiente lótico, que reúne características
singulares e específicas, como por exemplo, espécies da fauna e flora que podem
ser endêmicas na região, vazões e ciclos particulares, bem como, a presença de
populações ribeirinhas.
As PCH objeto de estudo desta pesquisa, embora se encontrem intimamente
vinculadas ao paradigma do desenvolvimento sustentável ao proporcionar baixo
impacto ambiental causam interferências no meio ambiente e produzem diversos
impactos ambientais e socioeconômicos. Destacam-se as alterações na
hidrodinâmica e qualidade das águas, degradação ambiental pela implantação dos
canteiros de obras, caminhos de serviços e acampamentos; ações predatórias como
a caça, pesca, retirada de madeira,perda de habitats faunísticos, elevação do risco
de eutrofização, degradação promovida pela produção de resíduos sólidos e
efluentes sanitários; interferência em sítios arqueológicos; redução da vazão do rio
durante a fase de enchimento do reservatório, mudanças climática; efeito-estufa,
erosão do solo, desflorestamento, desertificação, alagamento, deslocamento de
populações e destruição de áreas de subsistência, destruição da biodiversidade em
Por outro lado, as PCH apresentam externalidades positivas ao contribuir com
diversos benefícios de ordem econômica para a região onde está sendo construída,
e dentre eles, mencionam-se o aumento na disponibilidade de emprego nas fases de
implantação e operação do empreendimento; aumento das demandas de serviços
públicos; aumento da receita do município via incremento da atividade econômica
local e regional e a geração de royalties. Porém, uma questão relevante, a saber, é
se o retorno para o município, no que diz respeito ao pagamento de royalties e
compensações ambientais, corresponde às possíveis perdas causadas pelo
alagamento sobre o valor de uso e de existência do meio ambiente.
É necessário, então, mensurar tais impactos, avaliar tecnicamente os
investimentos feitos nesta área e seus devidos retornos tanto para a população de
um modo geral como para o governo, e também, se for o caso, para a empresa
detentora dos recursos que viabilizaram o projeto de construção da hidrelétrica.
Nesse sentido, percebe-se a relevância da elaboração de um estudo de
valoração econômica dos danos causados às sociedades organizadas que estão na
área de influência do empreendimento hidroelétrico.
O valor estimado poderá servir como parâmetro para discutir a forma de
determinação do valor das Compensações Financeiras pelo uso dos Recursos
Hídricos (CFURH) destinadas ao município e/ou como sinalizador às políticas
compensatórias necessárias; como também um valor de referência para a tomada
de decisão política no que tange a utilização de forma racional de determinado ativo
ou serviço ambiental pela sociedade.
Para tanto será utilizado nesta pesquisa o MVC, que tem sido considerado a
principal ferramenta analítica para estimar os valores monetários (preços) de "bens e
serviços" ambientais que não apresentam um valor no mercado. O método consiste
basicamente no estabelecimento de um mercado hipotético, em que os indivíduos
são questionados sobre as suas preferências por um determinado "bem ou serviço"
ambiental e sua "Disposição a Pagar" (DAP) ou sua "Disposição a Receber" (DAR)
uma compensação pelo aumento ou decréscimo na qualidade ou quantidade do
"bem ou serviço" ofertado. Nesse contexto, o valor monetário fixado para
determinado bem ou serviço ambiental representa o valor que o indivíduo
encontra-se disposto a pagar por sua existência e pelos benefícios que poderão advir a partir
1.2 O problema e sua importância
A construção de pequenas centrais hidrelétricas provoca alterações no
ambiente da região em que está situada. A implantação de um barramento e a
formação de reservatório conduz à mudanças na dinâmica das relações ecológicas,
ao transformar o rio que é um sistema lótico, complexo, caracterizado como
escoadouro natural das áreas de drenagens adjacentes, em um ambiente lêntico,
provocando impactos nos ecossistemas terrestre e aquático, ou seja, são
promovidas alterações nos componentes físico-químico, biótico e socioeconômico,
como as seguintes: mudanças na temperatura da água que favorecem o processo
de eutrofização, o surgimento de condições que propiciem o aparecimento de
endemias ou doenças que antes não existia e para os quais a população local pode
não ter imunidade, a modificação do fluxo das águas, que por conseguinte afeta o
meio físico e o funcionamento dos ecossistemas aquáticos; alterações na
transparência da água, erosão do solo, perda da biodiversidade, extinção de
espécies, alterações nas condições sociais, econômicas e culturais, promovidas pela
absorção de um grande número de trabalhadores na fase de construção de
barragens (alagamento da área),mudanças de hábitos e perda da cultura local em
razão da relação dos trabalhadores da hidrelétrica, proveniente de outras regiões,
com a população local, realocação das populações estabelecidas na área de
construção da barragem; perda de áreas economicamente ativas a exemplo de
áreas de pastos e agricultáveis; aumento de expectativa da população local, geração
de emprego, possibilidades de recreação e turismo,aumento e aquecimento.
Em suma, a construção de uma pequena central hidrelétrica gera diversos
impactos positivos e negativos pela implantação de sua infraestrutura, que são
refletidos, sobretudo no bem-estar geral dos indivíduos, sendo que alguns podem
ser valorados com certa facilidade, por estarem vinculados ao sistema de mercado,
porém, outros, como por exemplo, o valor que se atribui à preservação da
biodiversidade é de difícil mensuração por meio da teoria econômica tradicional, em
razão de não possuírem preço de mercado. O ponto essencial da questão é que a
geração de energia elétrica possui preço de mercado, bem como, são conhecidos os
custos e os valores de investimento de um aproveitamento hidroelétrico, sinais
desse empreendimento. No entanto, os benefícios ou danos ambientais ocasionados
pela construção da represa são externalidades não captadas pelo mercado, e não
incluídos de forma adequada no processo decisório organizacional. Clemente (1994)
reconhece a falha de mercado na valoração de ativos ambientais, uma vez que
estes não possuem preço de mercado e são de difícil mensuração monetária.
Em razão disso, a valoração de recursos naturais vem se constituindo em
alvo de diversos estudos (RIERA, 1992, 1994; CARSON et. al, 1995;MOTA, 2006;
PAIXÃO, 2008), cujo objetivo é captar o valor de uso e de não uso dos recursos
ambientais. Estes estudos têm contribuído também para a criação de um valor de
referência dos ativos ambientais para o mercado, incorporando em sua formação de
preço o uso racional e eficiente dos recursos ambientais.
Logo, a criação de um valor de referência para um ativo que considere na sua
elaboração fatores ambientais, torna-se insumo básico para o processo de tomada
de decisão quanto ao gerenciamento de determinado projeto, seja por parte poder
público, dos empreendedores privados, da sociedade civil organizada e das
organizações não-governamentais (ONGs), propiciando uma gestão mais eficaz
desses recursos, possibilitando a geração de ações para um uso racional dos
recursos ambientais, auxiliando os gestores na compreensão de assimilação do
sistema ambiental, que tem sua capacidade de regeneração limitada ao controle de
uso e exploração humana. No âmbito municipal, além de subsidiar a elaboração de
políticas ambientais, possibilita ao planejador local, orientação ecológica à
organização do espaço por meio de uma relação harmônica entre o ambiente natural
e construído. O valor de referência pode servir também como balizador na discussão
do valor a ser destinadoao município a título de compensação pela utilização dos
recursos naturais do local onde será instalado, por exemplo, o aproveitamento
hidroelétrico.
O valor de referência se constitui, portanto, em indicador que fornecerá
subsídios quanto à orientação do comportamento dos consumidores, das empresas
e dos governos, embasada na sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
Para Nogueira e Medeiros (1998) os valores estimados dos bens e serviços
9 Como informações para análise de custo-benefício, em que os projetos
para provisão dos ativos ambientais serão aprovados se o benefício
social for maior que o custo social;
9 Como referência para determinar valores de multas/compensações por
danos/benefícios ambientais; e
9 Como valor de referência na tomada de decisão para o
estabelecimento de tarifas para utilização de um bem ou serviço
ambiental.
Portanto, justifica-se a proposta desta pesquisa em estimar o valor econômico
dos danos ambientais, bem como, avaliar as alterações no bem-estar da população
das cidades de Júlio de Castilhos e Salto do Jacuí, decorrentes da construção dos
aproveitamentos hidroelétricos PCH Kotzian e Dreher. Para tanto, será utilizado a
principal ferramenta analítica, conhecida como MVC, que consiste em estabelecer
um mercado hipotético, onde os indivíduos são questionados sobre as suas
preferências por um determinado “bem ou serviço” ambiental e sua disposição em
pagar (DAP) ou receber (DAR) pelo aumento ou decréscimo na provisão do “bem ou
serviço” ofertado.Em suma, pergunta-se ao indivíduo se ele está disposto a pagar
para evitar danos ambientais provenientee do barramento para geração de energia
ou se está disposto a receber alguma compensação pelo impacto provocado. Neste
sentido, a contribuição desta pesquisa é notória pelo fato de proporcionar uma
estimativa de custo-benefício para avaliação dos efeitos das externalidades
ambientais provocadas pelos aproveitamentos de pequenas centrais hidrelétricas.
As preferências dos indivíduos por uma melhor qualidade ou quantidade do
serviço ou recurso natural não se expressam tão somente por meio de variáveis
sociais e econômicas. Outros valores são associados pelos indivíduos aos recursos
e serviços naturais, tais como, cultura, ética, motivação, afeto, altruísmo, moral,
dentro de perspectiva que podem ser antropocêntricas ou ontológicas e que devem
fazer parte da função utilidade desses indivíduos. (MOTA, 2006).Luzadis (1997)
sugere a consideração de conceitos derivados do estudo da psicologia social, que
se ocupa da interação comportamental dos indivíduos dentro de um grupo e da
interação entre grupos como forma de melhor explicar os resultados alcançados por
A partir das perspectivas de Mota (2006) e Luzadis (1997), foram também
consideradas nesta pesquisa as percepções dos participantes sobre a construção
das PCHs e a utilização dos recursos naturais. Inseriu-se também as significações
dos participantes como forma contributiva para melhor explicar os resultados
alcançados com a valoração contingente.
Outro motivo para a escolha do MVC ocorre por se tratar de uma das
abordagens mais utilizadas na valoração de ativos públicos e notadamente de bens
ambientais, que na maioria das vezes não transacionados no mercado, não sendo,
portanto, observadas as variações de preço e quantidade. Entretanto, como principal
motivo para a escolha do MVC, cita-se o fato do referido método captar os valores
de uso (direto e indireto) e o único a captar os valores de não uso (opção +
existência) dos atributos ambientais, indicadores da preferência pela preservação
e/ou conservação dos bens ambientais (PEARCE, 1993; JAKOBSSON; DRAGUN,
1996).
Assim sendo, é de fundamental importância que os valores (uso, opção e
não-uso) sejam estimados, possibilitando contribuir com os órgãos planejadores e
aos tomadores de decisão (decision makers) instrumental necessário como base
para a implantação de políticas de conservação e preservação dos recursos
naturais.
Nesta direção, este trabalho fornece resultados que podem ser utilizados
pelos seguintes atores: (a) formuladores de políticas ambientais, pela avaliação do
comportamento da população, mediante implantação de projetos de elevado impacto
ambiental; (b) segmentos não governamentais da sociedade, pela possibilidade da
discussão de projetos de recuperação ambiental; (c) empresas empreendedoras, no
sentido do direcionamento dos recursos a serem aplicados, que possa contemplar
ações que garantam a qualidade ambiental do entorno de seus reservatórios; (d)
gestores públicos, planejadores municipais, para que promovam maior interação
com os atores da sociedade, e que privilegie políticas públicas voltadas para o
desenvolvimento econômico e à preservação ambiental. O produto gerado neste
estudo pode auxiliar a construção de arranjos em parceria, onde se compartilhem
ações públicas e privadas com a participação da Sociedade Civil Organizada,
ambientais, referenciar e determinar valores de multas/compensações por
danos/benefícios ambientais, e, por fim, oferecer à sociedade da região objeto do
estudo elementos para fins de negociação entre seus segmentos e organizações.
Além disso, o MVC aplicado para estudos de pequenas centrais hidrelétricas
reveste-se do caráter inédito, uma vez, tratar-se de aspecto ainda pouco explorado
na literatura, sendo que no Brasil, dentre os diversos estudos aplicados na área de
valoração contingente, este é o primeiro voltado para as PCH, aproveitamento com
potência de até 30MW e área de inundação inferior a 250 km2.
No Brasil, o uso de métodos de monetarização ambiental é relativamente
recente, porém, o número de aplicações de estudos que utilizam o MVC para
determinar a monetarização de ativos ambientais vem crescendo. A valoração de
áreas protegidas, como os Parques Nacionais, por exemplo, vem responder
primeiramente a questão dos custos e benefícios derivados destas unidades e sua
participação no desenvolvimento, isto é, o que representa economicamente para a
sociedade a manutenção destas áreas.
Outro aspecto que merece destaque é a ampla aplicação da temática
valoração ambiental no ambiente acadêmico, onde tem sidogerado mais de 2000
trabalhos teóricos e práticos. (CARSON et. al, 1995;MOTA, 2006).
Por fim, considera-se o aspecto metodológico, em razão do uso de modelo
econométrico compatível com hipótese econômica de maximização da utilidade, que
permite o cálculo do valor monetário atribuído à conservação e preservação da
provisão de ativos ambientais. A modelagem proposta, além de procurar extrair dos
agentes econômicos suas preferências, também busca mitigar o viés estratégico e
hipotético, respectivamente, por meio da identificação dos votos de protesto, e
criação de cenários bem próximos a realidade.
Busca-se, portanto, nesta pesquisa responder as seguintes questões de
pesquisa:
1ª questão – Qual é o impacto de mudanças no vetor de variáveis
conservação e preservação dos recursos ambientais existentes na área de influência
direta2 das pequenas centrais hidrelétricas?
2ª questão - Quais são as percepções dos participantes sobre a construção
dos aproveitamentos hidroelétricos e o uso dos recursos naturais?
3ª questão – Qual é o impacto provocado pelos votos de protesto na
estimativa do valor monetário atribuído pela sociedade à reposição e conservação
dos recursos naturais existentes na área afetada de influência direta dos
aproveitamentos hidroelétricos?
1.3 Hipóteses
Em resposta às questões de pesquisa, procurar-se-á comprovar ou refutar a
seguinte hipótese:
Hipótese 1: H1 – Ao nível de significância de 5% existe evidência de que as
variáveis renda, idade, instrução e valor do lance contribuem para explicar a
disposição dos indivíduos a pagar ou não pela conservação e preservação dos
recursos naturais da área de influência direta das Pequenas Centrais Hidrelétricas.
Hipótese 2: H2– Quanto maior a idade, a renda e o nível de escolaridade do
participante, maior a probabilidade de aceitar a pagar para conservar e preservar os
recursos naturais existentes na área de influência direta das PCH.
Hipótese 3: H3 – Quanto maior o valor do lance ofertado ao participante,
menor é a probabilidade do indivíduo aceitar a pagar para conservar e preservar os
recursos naturais existentes na área de influência direta das PCH.
Hipótese 4: H4 – Se a disposição a pagar média e mediana, apuradas pelo
método de valoração contingente, for definida tão somente em função dos votos de
protesto e não protesto, então a exclusão dos votos de protesto, melhora
significativamente a valoração pretendida, a um nível de significância de 5%.
2Considerou-se como área de influência direta as áreas de preservação permanente (APP), área a
Hipótese 5: H5: Em relação à percepção dos participantes quanto à
construção das pequenas centrais hidrelétricas e o uso dos recursos naturais,
espera-se uma comportamento ambivalente.
1.4 Objetivo Geral
O principal objetivo deste trabalho é estimar o valor monetário atribuído pela
sociedade na conservação e preservação dos recursos naturais existentes na área
de influência direta dos aproveitamentos hidroelétricos Kotzian e Dreher na bacia do
Rio Ivaí.
1.5 Objetivos Específicos
A partir da proposição estabelecida no objetivo geral, propõe-se a pesquisa e
análise dos seguintes objetivos específicos:
a) Estimar, por generalização do valor médio e da mediana, o valor total
atribuído pela população da área de estudo ao recurso ambiental
considerado;
b) Identificar quais variáveis que afetam a DAP;
c) Associar o valor da disposição a pagar às características socioeconômicas
dos participantes;
d) Comparar as estimativas do valor da DAP considerando a inclusão e a
exclusão dos votos de protesto;
e) Avaliar a percepção dos participantes acerca da construção dos
aproveitamentos hidroelétricos e do uso dos recursos naturais; e,
f) Contribuir na formulação de propostas e diretrizes de gestão ambiental que
integre os recursos naturais e sua relação com as atividades humanas
desenvolvidas na área de interesse.
g) Contribuir no estabelecimento de parâmetro para discussão, e, se for o caso,
para a determinação do valor da Compensação Financeira do Uso dos
1.6 Estrutura da Tese
Esta tese encontra-se dividida em mais quatro capítulos, além desta
introdução. O capítulo dois apresenta uma revisão de literatura. O capítulo três trata
dos fundamentos microeconômicos, os métodos diretos e indiretos para a estimação
da disposição a pagar (DAP) e a disposição a receber (DAR), bem como, os
problemas inerentes a estes. O capítulo quatro apresenta a metodologia utilizada,
aplicação dos questionários e determinação da amostra, o modelo analítico,
detalhando o método de valoração contingente, formas de estimação, informações
sobre a amostra e o desenho da pesquisa. Também será apresentado o modelo logit
para estimação da amostra. Por fim, o quinto capítulo, faz uma síntese das
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Bens públicos e externalidades
A Economia é uma ciência social que estuda a atividade produtiva, a alocação
eficiente dos recursos naturais escassos necessários ao setor produtivo de bens e
serviços utilizados para satisfazer as ilimitadas necessidades humanas, suas
combinações na alocação dos fatores de produção (terra, capital, trabalho,
capacidade empresarial e tecnologia). Estuda a unidade de produção que são as
empresas, as unidades de consumo que são as famílias e atividade econômica de
toda a sociedade.
Em suma, é a ciência que estuda a escassez dos recursos na produção de
bens alternativos. É uma das áreas do conhecimento humano que mais tem se
voltado para o estudo acerca das questões relativas de como subsidiar os processos
de tomada de decisão dos agentes econômicos, que condicionam as suas escolhas
a um comparativo da relação entre custos e benefícios de uma determinada opção,
isto é, efetua escolhas consistentes com a maximização de valor e dentro de certos
limites.
A escassez de recursos ou fatores de produção vinculada às necessidades
ilimitadas do ser humano, dá origem aos problemas econômicos fundamentais, que
são o que e quanto produzir, como produzir e para quem produzir. Denota-se,
portanto, que o problema da escassez de recursos e a sua alocação e distribuição
de maneira eficiente e ótima são a principais questões de estudo da economia e há
muito já preocupa os pensadores no que diz respeito ao futuro da vida humana no
planeta, que se vinculam de forma direta aos recursos naturais ofertados e que são
finitos, tais como, o ar, a água, o sol, a terra, os minerais, as plantas e os animais.
À medida que a população aumenta novas necessidades surgem
demandando por mais recursos naturais e, dado aos recursos escassos, existe a
necessidade de alocadar entre usos que competem entre si, os preços, portanto, se
constituem em sinalizadores que guiam a alocação desses recursos escassos de
forma a atingir o seu maior valor de uso. O preço além de ser uma proxy do valor
racionamento entre os compradores. Percebe-se assim que a eficiência econômica
vincula-se a determinação dos preços dos bens e serviços na economia.
Em uma economia de mercado – que aloca os recursos por meio de decisões
descentralizadas de diversas empresas e famílias quando interagem nos mercados
de bens e serviços - os preços são considerados como indicadores de escassez
relativa de determinado bem ou serviço e orientam as decisões econômicas.
Sustenta-se referida idéia na descentralização da tomada de decisão, onde cada
agente econômico movido pelo interesse particular, ao buscar opções para
maximizar o seu bem-estar, estaria de forma automática promovendo o bem-estar
econômico da sociedade. Os consumidores procuram maximizar a sua satisfação
(utilidade) e os produtores buscam maximizar os seus resultados (lucro). Trata-se,
portanto, de uma aproximação do conceito da “mão invisível” do mercado de Adam
Smith, trazida à lume em 9 de março de 1776, por meio da publicação da obra a
Riqueza das Nações.
Entretanto, existem situações em que o mercado não consegue produzir uma
alocação eficiente dos recursos, ou seja, situações em que ocorrem falhas de
mercado. Há bens e serviços disponibilizados na economia, em específico pelo
ambiente natural (bens ambientais como água, ar, espécies migratórias, florestas,
ecossistemas), com características de não-exclusão de direitos de uso ou de
propriedade e não-rivalidade de uso que não podem ser alocadas de forma eficiente
pelo mecanismo de mercado, isto é, são bens públicos, cujos direitos de propriedade
não estão completamente definidos e, portanto, impedem a realização de transações
com outros bens de forma eficiente no mercado. Desta forma, o sistema de preços
não consegue valorá-los adequadamente.
Segundo Pindyck e Rubinfeld (1999), um bem ou serviço “é denominado
não-rival quando, para qualquer nível específico de produção, o custo marginal da sua
produção é zero para um consumidor adicional” - embora o custo de produção de
uma unidade adicional possa ser maior do que zero - e não-exclusivo “quando as
pessoas não podem ser excluídas do seu consumo”. Normalmente, o livre acesso
das pessoas a um bem público se constitui em um tipo de direito de propriedade
associado com esta categoria de bens e serviços. Para conceituar bens públicos,
i) Teoria das Trocas: bens públicos são aqueles cuja utilização não se pode individualizar porque estão colocados, simultaneamente, à disposição de todos indivíduos; ii) Teoria Organista do Estado: bens públicos são aqueles que satisfazem necessidades coletivas e que, colocados à disposição pelo Estado, proporcionam bem-estar aos indivíduos; iii) Teoria Institucional: bens públicos são aqueles que estão sendo atualmente supridos pelo Estado ou estão sob sua influência direta, qualquer que seja sua essência direta ou natureza sócio-política.
Segundo Ribeiro (1998), em sua pesquisa sobre o rio Meia Ponte, localizado
no Estado de Goiás, a mesma afirma que:
O rio Meia Ponte é um bem de consumo coletivo, um bem público que tem valor para a sociedade, embora não haja mercados onde tal valor possa ser expresso. A sociedade, para decidir dado recurso, precisa estimar o seu valor, sendo esse a base para as tomadas de decisões racionais. (RIBEIRO, 1998).
Para Pindyck e Rubinfeld (1999), a despoluição de um rio o torna um bem
não-exclusivo (qualquer um pode utilizá-lo) e não-rival (a utilização por um indivíduo
não impede o uso por outro), caracterizando-o desta forma como um bem público.
De acordo com Varian (2006), o mecanismo de mercado, base da teoria
econômica neoclássica, não é hábil na alocação eficiente dos bens públicos.
Os bens públicos são um exemplo típico de externalidade de consumo: todo indivíduo é obrigado a consumir a mesma quantidade do bem. Eles são um tipo especialmente perturbador de externalidade. As soluções de mercado que os economistas gostam não funcionam bem na alocação de bens públicos. As pessoas não podem comprar quantidades diferentes de defesa pública, têm de decidir, de alguma forma, por uma quantidade comum.(VARIAN, 2006, p. 720).
Pode-se conceituar externalidade como o impacto não compensado das
ações de uma pessoa ou unidade produtiva sobre o bem-estar de outro indivíduo ou
unidades produtivas. Se o efeito sobre outro indivíduo ou unidade produtiva for
adverso, dizemos que há uma externalidade negativa. Caso contrário, se o efeito
sobre outro indivíduo ou unidade produtiva for benéfico, dizemos que há uma
externalidade positiva.
De maneira sintética, a externalidade ocorre “quando uma transação entre um
comprador e um vendedor afeta diretamente uma terceira parte, o efeito é chamado
de externalidade”.(MANKIW, 2006, p. 210)
Segundo Motta (1998, p.204), “externalidade existe quando o bem-estar de
um indivíduo é afetado, não só pelas suas atividades de consumo como também