Punição Disciplinar: O Código de Ét ica e Disciplina
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Aut or: Crim inólogo - Cláudio Cassim iro Dias
A Punição disciplinar que é aplicada no âmbito administrativo funciona como uma apenação imposta ao servidor público que comete algum desvio de conduta ou transgressão disciplinar, abstraindo-se o ilícito penal, caso houver.
O servidor público militar está sujeito a normas mais rígidas em virtude da condição de ser militar. O militarismo,como todos sabemos, é pautado por normas rigorosas e baseado na hierarquia e disciplina de seus integrantes. A quebra destes preceitos significa quebra do decoro, da disciplina e dos pilares que mantêm vivas as instituições militares.
O servidor militar deve adequar-se ao sistema militar, e não, o sistema militar adequar-se ao servidor militar. É claro que tudo isso, levado em consideração, o respeito aos direitos humanos e a própria condição, de ser humano do servidor militar, que não é uma máquina perfeita. Mas, um ser humano como outro qualquer. É inevitável desconsiderar tal condição.
No entanto, ao entrar para a caserna, o militar está sujeito às sanções decorrentes de transgressões disciplinares que por acaso venha cometer. Ao militar são impostas sanções diversas das sanções administrativas impostas a outros servidores e funcionários do serviço público. Tais sanções, outrora baseadas no RDPM (Regulamento Disciplinar da Polícia Militar), hoje são baseadas no CEDM (Código de Ética e Disciplina dos Militares do Estado de Minas Gerais).
O Código de Ética e Disciplina dos Militares de Minas Gerais foi uma inovação no que diz respeito à observância de princípios básicos dos Direitos Humanos. O militar passou a ter o direito, na prática ao Contraditório e a Ampla Defesa, nos processos administrativos, quais sejam, Comunicação Disciplinar, Sindicância Regular, Sindicância Sumária ou Procedimento Sumário, dantes levados ao julgamento do Comandante da Unidade Militar sem que fosse dada a oportunidade de defesa ao militar acusado. Há ainda o PAD e o PADS que verifica se o militar tem condições de permanecer nas fileiras da
Corporação Militar.
Há quem diga que o Código de Ética dos Militares foi uma alavanca para a quebra da hierarquia e da disciplina. Há também, os estudiosos que dizem que o Código de Ética é inovador, mas a maneira como nasceu, dá a impressão dessa quebra da hierarquia e da disciplina. Existe ainda uma terceira vertente seguida pelo autor que diz que o Código de Ética, além de inovador foi um avanço na legislação do estado de Minas Gerais, no que diz respeito à obediência constitucional e inteira observância ao Contraditório e a Ampla Defesa nos Processos Administrativos militares ou Disciplinares Adminstrativos.
Apesar de tudo, todas as opiniões devem ser respeitadas, pois, as leis surgem dos anseios da sociedade, e hoje o que é proibido, amanhã pode não ser mais, ou vice versa. Então, devemos respeitar todas as opiniões inerentes às legislações disciplinares militares, tanto pelo aspecto formal, quanto pela sua aplicabilidade.
É muito importante considerar que a humanidade está evoluindo, e conseqüentemente, nossas forças de segurança devem inovar sua visão interna e externa, sob pena de, em não o fazendo, ficar obsoleta e arcaica, não acompanhando o processo natural evolutivo.
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principalmente, que o ser humano tem uma tendência natural à comodidade. Entretanto, no caso do Código de Ética e Disciplina dos Militares, faz-se necessário algumas observações que colaborarão para um melhor entendimento do que significa para as instituições militares, tais artigos e textos normativos.
O respeito ao Principio do Contraditório e da Ampla defesa dá ao militar acusado o direito de se defender da acusação imposta, utilizando todos os meios de provas lícitos e possíveis, para provar que é inocente, ou que a acusação está majorada em seu teor.
Outrossim, o julgamento do militar passou a ser feito por um colegiado, intitulado Conselho de Ética e Disciplina da Unidade (CEDMU), que após apreciar a acusação, os relatos das testemunhas, as provas constantes do processo administrativo e as alegações de defesa constantes dos autos, reúne condições de opinar pela punição, pelo arquivamento ou mesmo remessa dos autos à Justiça, quando houver indícios de crime militar, e não tiver sido objeto especifico de um IPM (Inquérito Policial Militar).
Se o militar não ficar satisfeito com a decisão do CEDMU ou se julgar injustiçado, poderá recorrer ao próprio CEDMU, ao Comandante da Unidade, que aprecia a decisão tomada pelo CEDMU, ao Comando Intermediário e ao Comandante Geral, em última instância administrativa. Esgotada a Via Administrativa, o servidor militar tem ainda a possibilidade judicial.
Ocorreu também uma padronização do quantum da sanção administrativa, qual seja, se o militar
comete transgressão leve, média ou grave, proporcional será a aplicação da punição disciplinar, que vai da advertência, repreensão, perda de pontuação, até mesmo a suspensão do serviço, sem recebimento de remuneração (Balão).
É importante salientar que na vigência do RDPM, cabia somente ao comandante da Unidade decidir que punição aplicaria ao militar transgressor, ou seja, se o Comandante achasse por bem aplicava trinta dias de cadeia ao transgressor, e se por outro lado desejasse poderia aplicar somente dois dias de detenção ou repreensão, ou uma advertência. É obvio que aos Comandantes mais sensatos e justos, a aplicação da punição disciplinar se aproximava da proporcionalidade da transgressão. Porém, injustiças muitas vezes involuntárias ocorriam causando um mal estar ao militar que sequer tinha o direito de se defender ou recorrer. Se falasse em recorrer recebia outra punição por estar censurando ato de superior hierárquico, ou como se dizia muito: - Tá ponderando o quê?
Houve perda, porém, de um pouco daquele temor que o militar tinha ao RDPM, pois, com o
nascimento do CEDM, o militar passou a ter voz ativa, possibilitando usar o direito de se defender das acusações que lhes são impostas.
Nenhuma lei nasce completa, o que ocorreu também com o CEDM que necessita de reformas e complementação para que tenha maior eficiência e eficácia. Muitas são as falhas já detectadas nesses primeiros anos de sua existência. A Polícia Militar criou o MAPPAD para dar processualidade e aplicabilidade ao CEDM. O Corpo de Bombeiros Militar ainda não criou um dispositivo semelhante ao MAPPAD, mas se utiliza de regulamentação já existente que determina prazos e como proceder nos Processos administrativos internos do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais.
Com todo respeito ao RDPM que vigorou por muito tempo no seio da Polícia Militar, mas a
necessidade de inovação era patente, urgente e inevitável. Lamento que tenha nascido como nasceu, a partir de um movimento reivindicatório, considerado ilegal pela legislação pertinente, e com as conseqüências que todos conhecemos bem.
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Contraditório e a Ampla Defesa deveriam ser incluídas em seu bojo, sob pena de não o fazendo, continuar sendo arbitrário e desrespeitando os direitos humanos.
Não há como a Polícia Militar existir como comunidade estanque da sociedade, até porque seus membros são oriundos da mesma sociedade que defende os direitos humanos.
Não estou aqui atirando pedras no RDPM, muito ao contrário, louvando sua vigência e duração, como o instrumento disponível e necessário para a época, pois os policiais militares, abstraindo-se o quadro de Oficiais, possuíam mal... mal, um conhecimento de como usar o cassetete. É claro que toda regra tem sua exceção. Então controlar aquela porção de homens, fazia-se necessário que algumas vezes a prisão administrativa do militar fosse a solução para aquele desvio de conduta.
O Código de Ética extirpou a prisão administrativa arbitrária que relegava o policial militar, a uma condição deplorável, e que o bania, de repente, do convívio de seus familiares. Só quem ficou preso por ordem de um superior hierárquico, sem saber o motivo, sabe descrever o que é ser privado da liberdade sem o devido processo legal.
E acontecia com freqüência, pois bastava que um superior desse a ordem e lá estava o militar
confinado no alojamento do quartel, ou mesmo varrendo o pátio, como punição ficando dias e dias sem poder ir para casa.
A prisão dos militares acabou?
Não, mas, somente pode ocorrer após o trânsito em julgado de sentença condenatória, ou preventivamente ou em casos previstos na lei.
Já há militares com saudade da prisão nos quartéis, pois, quando é imposta a sanção de perda de vencimento, muitos relatam que gostariam de ficar preso um ou dois dias, mas, que não mexessem em seus vencimentos.
Percebem que não é pacifico o pensamento, mesmo entre as Praças de Polícia Militar.
Afinal punição é punição, seja de que espécie for.
Ninguém quer ser punido.
Há uma preocupação muito grande com a manutenção da hierarquia e disciplina dentro da Polícia Militar, e o controle interno e externo aumentou bastante, dando sustentabilidade ao CEDM. A criação das Ouvidorias de Polícia, da Corregedoria, das Comissões de Direitos Humanos, dos CONSEPs que sempre acompanham o trabalho dos policiais de sua circunscrição são exemplos claros da evolução social.
Quando o policial militar transgride o regulamento e há indícios de crime, ou seja, se desobedece ordenamento jurídico ou ordem legal, certamente se verá as barras da justiça militar, onde o peso do martelo não é leve.
O investimento no profissionalismo dos policiais militares também é uma variável importantíssima, pois vemos policiais mais preparados e com uma visão humanitária, apesar da função repressora para a qual foram criadas as forças militares.
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sociedade e se a sociedade evolui, também evolui suas instituições.
Lamento muito que o movimento de 1997 tenha maculado a imagem da Centenária Polícia Militar de Minas Gerais, e que só a partir desse momento nefasto tenha surgido o CEDM, mas, devemos separar o nascimento do CEDM da lamentável greve na História da Polícia Militar Mineira, para que possamos vê-lo com bons olhos e entender sua utilidade.
Não quero aqui mudar o pensamento e a ótica que os senhores e senhoras têm do CEDM, nem tampouco abolir de suas mentes o RDPM e suas nuances, mas refletir sobre o movimento natural das civilizações, onde transformações somente puderam surgir, a partir de inovações e novos pensamentos. Se não fosse assim, ainda estaríamos usando o relógio do sol, escovas de dente feitas de pêlo de porco, carros movidos a vapor, e no serviço cotidiano na metrópole, debaixo de sol quente, estaríamos usando ainda aquele capacete de guerra.
A guerra urbana exige um policial militar preparado e instruído e que se sinta respeitado em seus direitos, para que possa respeitar os direitos dos cidadãos. Há uma diferença considerável entre o soldado no campo de batalha e o soldado lidando com o cidadão brasileiro no dia a dia.
Conseqüentemente, uma legislação mais humana e em atendimento aos direitos dos Homens, tão pregados pela Revolução Francesa, onde a Igualdade, a Fraternidade e a Liberdade devem ser uma constante na vida em sociedade.
