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Que eu não rejeite o Ser. Que o Ser não me rejeite. Que não haja rejeição do Ser da minha parte. Que não haja rejeição de mim pelo Ser.

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Mantra Yoga

Pedro Kupfer

Módulo 4 . Cinco Passos para a Liberdade

34. Passo 2: Focar || Sohaṁ, Mantra da Respiração

Invocação de Paz da Chāndogyopaniṣad

Oṁ āpyāyantu mamāṅgāni | vākprāṇaśchakṣuḥ śrotram | atho balam indriyāṇi cha sarvāṇi |

sarvaṁ brahma upaniṣadam | māhaṁ brahma nirākuryām |

mā mā brahma nirākarot | anirakāraṇam astu anirākaraṇaṁ me astu |

tad ātmani nirate ya upaniṣat su dharmāḥ | te mayi santu | te mayi santu ||

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ ||

Que as partes [do meu corpo], como a fala, os olhos e os ouvidos, a força e todos os demais órgãos sejam eficientes. Tudo é o Ser Ilimitado, [revelam] as Upaniṣads.

Que eu não rejeite o Ser. Que o Ser não me rejeite. Que não haja rejeição do Ser da minha parte.

Que não haja rejeição de mim pelo Ser.

Que todos os valores e atitudes mencionados nas escrituras estejam comigo. Estou comprometido na busca do conhecimento do Ser. Que os valores e atitudes vivam em mim. Oṁ. Paz. Paz. Paz.

Olá. Namaste! Nesta prática de hoje continuaremos com o segundo dos cinco passos em direção à Liberdade, que é a meditação para focar. O mantra que escolhemos hoje é um que você está repetindo desde o seu nascimento, desde a sua primeira respiração. É o chamado sohaṁ, ou mantra da respiração.

A rigor, esse som não é exatamente um mantra, pela definição que vimos ao iniciar o curso. Não obstante, o suporte que a respiração dá ao pensamento é muito eficiente, e o som dela não deixa de ser um mantra sobre o qual podemos nos concentrar a qualquer momento.

Vale a pena então fazer esta prática, uma vez que por um lado o som da respiração é eficiente como meio de concentrar e por outro, esse som ainda nos lembra da nossa natureza: sohaṁ ou sa ahaṁ é uma frase em sânscrito que significa “Esse [Ser Ilimitado (sa), eu sou (ahaṁ)]”.

Atitude

Não obstante, antes de começar a prática queria fazer aqui uma breve explanação sobre a atitude recomendada ao meditar sobre os mantras, de maneira que possamos aproveitar ao máximo estas experiências presentes, e as que teremos mais adiante. Isto complementa o que vimos na última prática sobre a meditação nos mantras.

Quando temos esse ponto de referência que é o mantra, não há mais espaço para distrações ou associação livre de pensamentos, como vimos na última aula. Pense nisto: um dente-de-leão é considerado mato quando você quer plantar grama, porém, se o que você quer é uma plantação de dente-de-leão, qualquer folha de grama será considerada mato. É tudo uma questão do ponto de vista.

A bem da verdade, não há mato. Olhando bem, só há plantas, de diferentes tipos, mas somente plantas.

Assim, qualquer pensamento alheio à meditação, seja do tipo que for, é sempre um pensamento.

Assim descartamos todos eles, sejam do tipo que forem, para nos focar no mantra.

Após cada repetição de cada mantra, reinicia a meditação com o mantra seguinte. No intervalo entre mantra e mantra, podemos apreciar o silêncio. Esses intervalos são, portanto, muito importantes.

Nos tornamos cientes deles ao meditar. “Agora estou ciente do mantra. Agora estou ciente do silêncio”.

Ao tomarmos consciência do silêncio, percebemos que não há diferença entre aquele que observa e aquilo que é observado. Nesse momento da prática fica abolida a diferenciação sujeito-objeto, uma vez que não há objeto para ser observado.

Tomar consciência dos intervalos entre os mantras nos ajuda a evitar as distrações. Até mesmo quando aparecer alguma distração, a mente sempre pode retornar ao mantra. Aquele que leva a

mente de volta para o mantra é o mesmo que se deixou levar pela distração.

“Ao perceber que a mente se distrai, vou trazer ela de volta para o mantra”: repetindo para nós mesmos sugestões como esta vamos nos fortalecendo e tornando capazes de manter o foco no que interessa.

É exatamente isso o que Śrī Kṛṣṇa recomenda para Arjuna na Bhagavadgītā: “Sempre que [perceber que] a mente inquieta e volúvel se desvia [da meditação], procure comandá-la, trazendo ela de volta para a contemplação do Ser apenas” (VI:26).

Como diz a Amṛtabindu Upaniṣad (2), “a mente é tanto a causa do sofrimento quando da liberta- ção”. A mente é apenas um instrumento. Não o que fazemos ou deixamos de fazer com ela. Assim como no caso de uma faca: a faca não sabe o que corta. Quem usa o instrumento é que determina o que será feito com ele.

***

Bom, agora vamos praticar. Sente numa posição confortável, com as costas eretas. Observe se a sua cabeça está na posição vertical. Deixe as mãos em jñāna mudrā, com as palmas voltados para baixo sobre os joelhos, e os dedos polegar e indicador unidos suavemente. Mantenha a boca e olhos relaxadamente fechados.

Tome consciência do corpo todo. Observe-se na posição em que você está sentado. Permaneça consciente da posição. Consciência no āsana e no efeito que ele tem no seu corpo: firmeza, quietude, estabilidade e conforto. Faça uma rotação da consciência por todas as partes do corpo: cabeça, pescoço, ombros, braços, mãos, tronco, costas, tórax, abdômen, pernas e pés.

Localize tensões que possa haver em alguma articulação, músculo ou parte do corpo. Ajuste a posição de maneira que você não precise mais se mexer. As costas eretas, mas sem rigidez. Fique totalmente confortável. Consciência total no corpo. Verifique se o corpo está realmente confortável e livre de tensões.

Consciência total no corpo físico: músculos, ligamentos, ossos, órgãos, sangue, pele. Visualize o seu corpo. Tome consciência das experiências físicas do seu corpo: solidez, dor ou prazer, calor ou frio, e outras coisas que possam alterar o estado de atenção ou afetar o corpo. Permaneça absolutamente estável. Completa quietude do corpo. Completa estabilidade. O corpo está absolutamente imóvel, como uma rocha.

A meditação no som da respiração começa aqui. Observe a sua respiração. Não controle a respiração. Permita-se ser respirado pelo ar. Permaneça como observador imóvel do processo respiratório. Seja testemunha.

Faça khecharī mudrā, elevando a língua e pressionando-a suavemente no palato mole, perto da garganta. Mantenha essa mudrā até o final da prática, na medida do que for possível. Agora faça ujjayī prāṇāyāma, a respiração sussurrante. Respire sem esforço, mantendo a glote suavemente elevada e descontraída, como se o ar estivesse entrando diretamente pela garganta.

Se aparecer algum pensamento, tome consciência dele, mas continue observando o fluxo da respira- ção. Associe o som da sílaba so com a inspiração, e o mantra haṁ com a expiração. Não perca nenhuma respiração. A cada inspiração, repita mentalmente so. A cada expiração, repita mentalmente haṁ. A respiração e o mantra são apenas um: so ao inspirar, haṁ ao expirar. Perfeita sincronia entre o fluxo da energia no canal psíquico e o mantra da respiração. [Pausa]

Observe a inspiração dissolvendo-se na expiração. Observe a expiração dissolvendo-se na inspiração. Agora, cesse a repetição do mantra e apenas escute o som que a respiração produz. Ao inspirar, ouça o so. Ao expirar, ouça o haṁ. Este som sempre existiu, existe agora e existirá enquanto você estiver respirando. Sohaṁ, sohaṁ. O mantra ressoa em cada uma das suas células. O mantra ressoa em cada um dos seus pensamentos.

Sohaṁ significa em sânscrito “eu sou Esse”. Sou Ilimitado. Sou Felicidade. Sou Pleno. A sua respiração esteve e estará sempre lhe lembrando disso, desde o primeiro fôlego que você tomou ao nascer, até a respiração final neste corpo. Sou esse Ilimitado. Sou essa Plenitude.

Sinta o mantra ecoando no espaço interior, na mente, no coração, na respiração e no corpo inteiro.

Observe o intervalo entre o so e o haṁ. Observe o intervalo entre o haṁ e o so. Observe esses espaços onde aparece o vazio. Observe como a sua respiração pode espontaneamente parar por alguns instantes. Nessas pausas, desvincule-se do seu corpo. Desvincule-se do seu pensamento. Não lute contra ele. Apenas a consciência do mantra permanece.

Neste momento, externalize a sua atenção. Encerre esta prática e permita que aos poucos o pensa- mento flua novamente em direção aos sentidos e às experiências sensoriais. Tome consciência do corpo e do ambiente onde você se encontra agora. Externalize os sentidos. Ao poucos, mova o corpo. Quando estiver pronto, sem pressa, abra os olhos. A prática sobre o mantra da respiração conclui-se aqui.

Bom, espero que você tenha gostado. Há várias outras práticas similares a esta que envolvem não apenas o som da respiração mas igualmente vários tipos de visualização da força vital. Na próxima aula veremos o Nirvāṇa Ṣaṭkaṁ, Sexteto do Nirvāṇa, que é um belíssimo poema que usaremos como objeto para meditar.

Concluímos aqui esta prática e, com ela, o segundo passo, que é mantermos o foco. No próximo encontro passaremos ao terceiro passo, que é expandir a partir desse foco que aprendemos a criar aqui. Até breve. Namaste!

(2)

Mantra Yoga

Pedro Kupfer

Módulo 4 . Cinco Passos para a Liberdade

34. Passo 2: Focar || Sohaṁ, Mantra da Respiração

Invocação de Paz da Chāndogyopaniṣad

Oṁ āpyāyantu mamāṅgāni | vākprāṇaśchakṣuḥ śrotram | atho balam indriyāṇi cha sarvāṇi |

sarvaṁ brahma upaniṣadam | māhaṁ brahma nirākuryām |

mā mā brahma nirākarot | anirakāraṇam astu anirākaraṇaṁ me astu |

tad ātmani nirate ya upaniṣat su dharmāḥ | te mayi santu | te mayi santu ||

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ ||

Que as partes [do meu corpo], como a fala, os olhos e os ouvidos, a força e todos os demais órgãos sejam eficientes. Tudo é o Ser Ilimitado, [revelam] as Upaniṣads.

Que eu não rejeite o Ser. Que o Ser não me rejeite. Que não haja rejeição do Ser da minha parte.

Que não haja rejeição de mim pelo Ser.

Que todos os valores e atitudes mencionados nas escrituras estejam comigo. Estou comprometido na busca do conhecimento do Ser. Que os valores e atitudes vivam em mim. Oṁ. Paz. Paz. Paz.

Olá. Namaste! Nesta prática de hoje continuaremos com o segundo dos cinco passos em direção à Liberdade, que é a meditação para focar. O mantra que escolhemos hoje é um que você está repetindo desde o seu nascimento, desde a sua primeira respiração. É o chamado sohaṁ, ou mantra da respiração.

A rigor, esse som não é exatamente um mantra, pela definição que vimos ao iniciar o curso. Não obstante, o suporte que a respiração dá ao pensamento é muito eficiente, e o som dela não deixa de ser um mantra sobre o qual podemos nos concentrar a qualquer momento.

Vale a pena então fazer esta prática, uma vez que por um lado o som da respiração é eficiente como meio de concentrar e por outro, esse som ainda nos lembra da nossa natureza: sohaṁ ou sa ahaṁ é uma frase em sânscrito que significa “Esse [Ser Ilimitado (sa), eu sou (ahaṁ)]”.

Atitude

Não obstante, antes de começar a prática queria fazer aqui uma breve explanação sobre a atitude recomendada ao meditar sobre os mantras, de maneira que possamos aproveitar ao máximo estas experiências presentes, e as que teremos mais adiante. Isto complementa o que vimos na última prática sobre a meditação nos mantras.

Quando temos esse ponto de referência que é o mantra, não há mais espaço para distrações ou associação livre de pensamentos, como vimos na última aula. Pense nisto: um dente-de-leão é considerado mato quando você quer plantar grama, porém, se o que você quer é uma plantação de dente-de-leão, qualquer folha de grama será considerada mato. É tudo uma questão do ponto de vista.

A bem da verdade, não há mato. Olhando bem, só há plantas, de diferentes tipos, mas somente plantas.

Assim, qualquer pensamento alheio à meditação, seja do tipo que for, é sempre um pensamento.

Assim descartamos todos eles, sejam do tipo que forem, para nos focar no mantra.

Após cada repetição de cada mantra, reinicia a meditação com o mantra seguinte. No intervalo entre mantra e mantra, podemos apreciar o silêncio. Esses intervalos são, portanto, muito importantes.

Nos tornamos cientes deles ao meditar. “Agora estou ciente do mantra. Agora estou ciente do silêncio”.

Ao tomarmos consciência do silêncio, percebemos que não há diferença entre aquele que observa e aquilo que é observado. Nesse momento da prática fica abolida a diferenciação sujeito-objeto, uma vez que não há objeto para ser observado.

Tomar consciência dos intervalos entre os mantras nos ajuda a evitar as distrações. Até mesmo quando aparecer alguma distração, a mente sempre pode retornar ao mantra. Aquele que leva a

mente de volta para o mantra é o mesmo que se deixou levar pela distração.

“Ao perceber que a mente se distrai, vou trazer ela de volta para o mantra”: repetindo para nós mesmos sugestões como esta vamos nos fortalecendo e tornando capazes de manter o foco no que interessa.

É exatamente isso o que Śrī Kṛṣṇa recomenda para Arjuna na Bhagavadgītā: “Sempre que [perceber que] a mente inquieta e volúvel se desvia [da meditação], procure comandá-la, trazendo ela de volta para a contemplação do Ser apenas” (VI:26).

Como diz a Amṛtabindu Upaniṣad (2), “a mente é tanto a causa do sofrimento quando da liberta- ção”. A mente é apenas um instrumento. Não o que fazemos ou deixamos de fazer com ela. Assim como no caso de uma faca: a faca não sabe o que corta. Quem usa o instrumento é que determina o que será feito com ele.

***

Bom, agora vamos praticar. Sente numa posição confortável, com as costas eretas. Observe se a sua cabeça está na posição vertical. Deixe as mãos em jñāna mudrā, com as palmas voltados para baixo sobre os joelhos, e os dedos polegar e indicador unidos suavemente. Mantenha a boca e olhos relaxadamente fechados.

Tome consciência do corpo todo. Observe-se na posição em que você está sentado. Permaneça consciente da posição. Consciência no āsana e no efeito que ele tem no seu corpo: firmeza, quietude, estabilidade e conforto. Faça uma rotação da consciência por todas as partes do corpo:

cabeça, pescoço, ombros, braços, mãos, tronco, costas, tórax, abdômen, pernas e pés.

Localize tensões que possa haver em alguma articulação, músculo ou parte do corpo. Ajuste a posição de maneira que você não precise mais se mexer. As costas eretas, mas sem rigidez. Fique totalmente confortável. Consciência total no corpo. Verifique se o corpo está realmente confortável e livre de tensões.

Consciência total no corpo físico: músculos, ligamentos, ossos, órgãos, sangue, pele. Visualize o seu corpo. Tome consciência das experiências físicas do seu corpo: solidez, dor ou prazer, calor ou frio, e outras coisas que possam alterar o estado de atenção ou afetar o corpo. Permaneça absolutamente estável. Completa quietude do corpo. Completa estabilidade. O corpo está absolutamente imóvel, como uma rocha.

A meditação no som da respiração começa aqui. Observe a sua respiração. Não controle a respiração. Permita-se ser respirado pelo ar. Permaneça como observador imóvel do processo respiratório. Seja testemunha.

Faça khecharī mudrā, elevando a língua e pressionando-a suavemente no palato mole, perto da garganta. Mantenha essa mudrā até o final da prática, na medida do que for possível. Agora faça ujjayī prāṇāyāma, a respiração sussurrante. Respire sem esforço, mantendo a glote suavemente elevada e descontraída, como se o ar estivesse entrando diretamente pela garganta.

Se aparecer algum pensamento, tome consciência dele, mas continue observando o fluxo da respira- ção. Associe o som da sílaba so com a inspiração, e o mantra haṁ com a expiração. Não perca nenhuma respiração. A cada inspiração, repita mentalmente so. A cada expiração, repita mentalmente haṁ. A respiração e o mantra são apenas um: so ao inspirar, haṁ ao expirar. Perfeita sincronia entre o fluxo da energia no canal psíquico e o mantra da respiração. [Pausa]

Observe a inspiração dissolvendo-se na expiração. Observe a expiração dissolvendo-se na inspiração. Agora, cesse a repetição do mantra e apenas escute o som que a respiração produz. Ao inspirar, ouça o so. Ao expirar, ouça o haṁ. Este som sempre existiu, existe agora e existirá enquanto você estiver respirando. Sohaṁ, sohaṁ. O mantra ressoa em cada uma das suas células. O mantra ressoa em cada um dos seus pensamentos.

Sohaṁ significa em sânscrito “eu sou Esse”. Sou Ilimitado. Sou Felicidade. Sou Pleno. A sua respiração esteve e estará sempre lhe lembrando disso, desde o primeiro fôlego que você tomou ao nascer, até a respiração final neste corpo. Sou esse Ilimitado. Sou essa Plenitude.

Sinta o mantra ecoando no espaço interior, na mente, no coração, na respiração e no corpo inteiro.

Observe o intervalo entre o so e o haṁ. Observe o intervalo entre o haṁ e o so. Observe esses espaços onde aparece o vazio. Observe como a sua respiração pode espontaneamente parar por alguns instantes. Nessas pausas, desvincule-se do seu corpo. Desvincule-se do seu pensamento. Não lute contra ele. Apenas a consciência do mantra permanece.

Neste momento, externalize a sua atenção. Encerre esta prática e permita que aos poucos o pensa- mento flua novamente em direção aos sentidos e às experiências sensoriais. Tome consciência do corpo e do ambiente onde você se encontra agora. Externalize os sentidos. Ao poucos, mova o corpo. Quando estiver pronto, sem pressa, abra os olhos. A prática sobre o mantra da respiração conclui-se aqui.

Bom, espero que você tenha gostado. Há várias outras práticas similares a esta que envolvem não apenas o som da respiração mas igualmente vários tipos de visualização da força vital. Na próxima aula veremos o Nirvāṇa Ṣaṭkaṁ, Sexteto do Nirvāṇa, que é um belíssimo poema que usaremos como objeto para meditar.

Concluímos aqui esta prática e, com ela, o segundo passo, que é mantermos o foco. No próximo encontro passaremos ao terceiro passo, que é expandir a partir desse foco que aprendemos a criar aqui. Até breve. Namaste!

(3)

Invocação de Paz da Chāndogyopaniṣad

Oṁ āpyāyantu mamāṅgāni | vākprāṇaśchakṣuḥ śrotram | atho balam indriyāṇi cha sarvāṇi |

sarvaṁ brahma upaniṣadam | māhaṁ brahma nirākuryām |

mā mā brahma nirākarot | anirakāraṇam astu anirākaraṇaṁ me astu |

tad ātmani nirate ya upaniṣat su dharmāḥ | te mayi santu | te mayi santu ||

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ ||

Que as partes [do meu corpo], como a fala, os olhos e os ouvidos, a força e todos os demais órgãos sejam eficientes. Tudo é o Ser Ilimitado, [revelam] as Upaniṣads.

Que eu não rejeite o Ser. Que o Ser não me rejeite. Que não haja rejeição do Ser da minha parte.

Que não haja rejeição de mim pelo Ser.

Que todos os valores e atitudes mencionados nas escrituras estejam comigo. Estou comprometido na busca do conhecimento do Ser. Que os valores e atitudes vivam em mim. Oṁ. Paz. Paz. Paz.

Olá. Namaste! Nesta prática de hoje continuaremos com o segundo dos cinco passos em direção à Liberdade, que é a meditação para focar. O mantra que escolhemos hoje é um que você está repetindo desde o seu nascimento, desde a sua primeira respiração. É o chamado sohaṁ, ou mantra da respiração.

A rigor, esse som não é exatamente um mantra, pela definição que vimos ao iniciar o curso. Não obstante, o suporte que a respiração dá ao pensamento é muito eficiente, e o som dela não deixa de ser um mantra sobre o qual podemos nos concentrar a qualquer momento.

Vale a pena então fazer esta prática, uma vez que por um lado o som da respiração é eficiente como meio de concentrar e por outro, esse som ainda nos lembra da nossa natureza: sohaṁ ou sa ahaṁ é uma frase em sânscrito que significa “Esse [Ser Ilimitado (sa), eu sou (ahaṁ)]”.

Atitude

Não obstante, antes de começar a prática queria fazer aqui uma breve explanação sobre a atitude recomendada ao meditar sobre os mantras, de maneira que possamos aproveitar ao máximo estas experiências presentes, e as que teremos mais adiante. Isto complementa o que vimos na última prática sobre a meditação nos mantras.

Quando temos esse ponto de referência que é o mantra, não há mais espaço para distrações ou associação livre de pensamentos, como vimos na última aula. Pense nisto: um dente-de-leão é considerado mato quando você quer plantar grama, porém, se o que você quer é uma plantação de dente-de-leão, qualquer folha de grama será considerada mato. É tudo uma questão do ponto de vista.

A bem da verdade, não há mato. Olhando bem, só há plantas, de diferentes tipos, mas somente plantas.

Assim, qualquer pensamento alheio à meditação, seja do tipo que for, é sempre um pensamento.

Assim descartamos todos eles, sejam do tipo que forem, para nos focar no mantra.

Após cada repetição de cada mantra, reinicia a meditação com o mantra seguinte. No intervalo entre mantra e mantra, podemos apreciar o silêncio. Esses intervalos são, portanto, muito importantes.

Nos tornamos cientes deles ao meditar. “Agora estou ciente do mantra. Agora estou ciente do silêncio”.

Ao tomarmos consciência do silêncio, percebemos que não há diferença entre aquele que observa e aquilo que é observado. Nesse momento da prática fica abolida a diferenciação sujeito-objeto, uma vez que não há objeto para ser observado.

Tomar consciência dos intervalos entre os mantras nos ajuda a evitar as distrações. Até mesmo quando aparecer alguma distração, a mente sempre pode retornar ao mantra. Aquele que leva a

Mantra Yoga

Pedro Kupfer

Módulo 4 . Cinco Passos para a Liberdade

34. Passo 2: Focar || Sohaṁ, Mantra da Respiração

mente de volta para o mantra é o mesmo que se deixou levar pela distração.

“Ao perceber que a mente se distrai, vou trazer ela de volta para o mantra”: repetindo para nós mesmos sugestões como esta vamos nos fortalecendo e tornando capazes de manter o foco no que interessa.

É exatamente isso o que Śrī Kṛṣṇa recomenda para Arjuna na Bhagavadgītā: “Sempre que [perceber que] a mente inquieta e volúvel se desvia [da meditação], procure comandá-la, trazendo ela de volta para a contemplação do Ser apenas” (VI:26).

Como diz a Amṛtabindu Upaniṣad (2), “a mente é tanto a causa do sofrimento quando da liberta- ção”. A mente é apenas um instrumento. Não o que fazemos ou deixamos de fazer com ela. Assim como no caso de uma faca: a faca não sabe o que corta. Quem usa o instrumento é que determina o que será feito com ele.

***

Bom, agora vamos praticar. Sente numa posição confortável, com as costas eretas. Observe se a sua cabeça está na posição vertical. Deixe as mãos em jñāna mudrā, com as palmas voltados para baixo sobre os joelhos, e os dedos polegar e indicador unidos suavemente. Mantenha a boca e olhos relaxadamente fechados.

Tome consciência do corpo todo. Observe-se na posição em que você está sentado. Permaneça consciente da posição. Consciência no āsana e no efeito que ele tem no seu corpo: firmeza, quietude, estabilidade e conforto. Faça uma rotação da consciência por todas as partes do corpo:

cabeça, pescoço, ombros, braços, mãos, tronco, costas, tórax, abdômen, pernas e pés.

Localize tensões que possa haver em alguma articulação, músculo ou parte do corpo. Ajuste a posição de maneira que você não precise mais se mexer. As costas eretas, mas sem rigidez. Fique totalmente confortável. Consciência total no corpo. Verifique se o corpo está realmente confortável e livre de tensões.

Consciência total no corpo físico: músculos, ligamentos, ossos, órgãos, sangue, pele. Visualize o seu corpo. Tome consciência das experiências físicas do seu corpo: solidez, dor ou prazer, calor ou frio, e outras coisas que possam alterar o estado de atenção ou afetar o corpo. Permaneça absolutamente estável. Completa quietude do corpo. Completa estabilidade. O corpo está absolutamente imóvel, como uma rocha.

A meditação no som da respiração começa aqui. Observe a sua respiração. Não controle a respiração.

Permita-se ser respirado pelo ar. Permaneça como observador imóvel do processo respiratório.

Seja testemunha.

Faça khecharī mudrā, elevando a língua e pressionando-a suavemente no palato mole, perto da garganta. Mantenha essa mudrā até o final da prática, na medida do que for possível. Agora faça ujjayī prāṇāyāma, a respiração sussurrante. Respire sem esforço, mantendo a glote suavemente elevada e descontraída, como se o ar estivesse entrando diretamente pela garganta.

Se aparecer algum pensamento, tome consciência dele, mas continue observando o fluxo da respira- ção. Associe o som da sílaba so com a inspiração, e o mantra haṁ com a expiração. Não perca nenhuma respiração. A cada inspiração, repita mentalmente so. A cada expiração, repita mentalmente haṁ. A respiração e o mantra são apenas um: so ao inspirar, haṁ ao expirar. Perfeita sincronia entre o fluxo da energia no canal psíquico e o mantra da respiração. [Pausa]

Observe a inspiração dissolvendo-se na expiração. Observe a expiração dissolvendo-se na inspiração.

Agora, cesse a repetição do mantra e apenas escute o som que a respiração produz. Ao inspirar, ouça o so. Ao expirar, ouça o haṁ. Este som sempre existiu, existe agora e existirá enquanto você estiver respirando. Sohaṁ, sohaṁ. O mantra ressoa em cada uma das suas células. O mantra ressoa em cada um dos seus pensamentos.

Sohaṁ significa em sânscrito “eu sou Esse”. Sou Ilimitado. Sou Felicidade. Sou Pleno. A sua respiração esteve e estará sempre lhe lembrando disso, desde o primeiro fôlego que você tomou ao nascer, até a respiração final neste corpo. Sou esse Ilimitado. Sou essa Plenitude.

Sinta o mantra ecoando no espaço interior, na mente, no coração, na respiração e no corpo inteiro.

Observe o intervalo entre o so e o haṁ. Observe o intervalo entre o haṁ e o so. Observe esses espaços onde aparece o vazio. Observe como a sua respiração pode espontaneamente parar por alguns instantes. Nessas pausas, desvincule-se do seu corpo. Desvincule-se do seu pensamento. Não lute contra ele. Apenas a consciência do mantra permanece.

Neste momento, externalize a sua atenção. Encerre esta prática e permita que aos poucos o pensa- mento flua novamente em direção aos sentidos e às experiências sensoriais. Tome consciência do corpo e do ambiente onde você se encontra agora. Externalize os sentidos. Ao poucos, mova o corpo. Quando estiver pronto, sem pressa, abra os olhos. A prática sobre o mantra da respiração conclui-se aqui.

Bom, espero que você tenha gostado. Há várias outras práticas similares a esta que envolvem não apenas o som da respiração mas igualmente vários tipos de visualização da força vital. Na próxima aula veremos o Nirvāṇa Ṣaṭkaṁ, Sexteto do Nirvāṇa, que é um belíssimo poema que usaremos como objeto para meditar.

Concluímos aqui esta prática e, com ela, o segundo passo, que é mantermos o foco. No próximo encontro passaremos ao terceiro passo, que é expandir a partir desse foco que aprendemos a criar aqui. Até breve. Namaste!

(4)

Invocação de Paz da Chāndogyopaniṣad

Oṁ āpyāyantu mamāṅgāni | vākprāṇaśchakṣuḥ śrotram | atho balam indriyāṇi cha sarvāṇi |

sarvaṁ brahma upaniṣadam | māhaṁ brahma nirākuryām |

mā mā brahma nirākarot | anirakāraṇam astu anirākaraṇaṁ me astu |

tad ātmani nirate ya upaniṣat su dharmāḥ | te mayi santu | te mayi santu ||

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ ||

Que as partes [do meu corpo], como a fala, os olhos e os ouvidos, a força e todos os demais órgãos sejam eficientes. Tudo é o Ser Ilimitado, [revelam] as Upaniṣads.

Que eu não rejeite o Ser. Que o Ser não me rejeite. Que não haja rejeição do Ser da minha parte.

Que não haja rejeição de mim pelo Ser.

Que todos os valores e atitudes mencionados nas escrituras estejam comigo. Estou comprometido na busca do conhecimento do Ser. Que os valores e atitudes vivam em mim. Oṁ. Paz. Paz. Paz.

Olá. Namaste! Nesta prática de hoje continuaremos com o segundo dos cinco passos em direção à Liberdade, que é a meditação para focar. O mantra que escolhemos hoje é um que você está repetindo desde o seu nascimento, desde a sua primeira respiração. É o chamado sohaṁ, ou mantra da respiração.

A rigor, esse som não é exatamente um mantra, pela definição que vimos ao iniciar o curso. Não obstante, o suporte que a respiração dá ao pensamento é muito eficiente, e o som dela não deixa de ser um mantra sobre o qual podemos nos concentrar a qualquer momento.

Vale a pena então fazer esta prática, uma vez que por um lado o som da respiração é eficiente como meio de concentrar e por outro, esse som ainda nos lembra da nossa natureza: sohaṁ ou sa ahaṁ é uma frase em sânscrito que significa “Esse [Ser Ilimitado (sa), eu sou (ahaṁ)]”.

Atitude

Não obstante, antes de começar a prática queria fazer aqui uma breve explanação sobre a atitude recomendada ao meditar sobre os mantras, de maneira que possamos aproveitar ao máximo estas experiências presentes, e as que teremos mais adiante. Isto complementa o que vimos na última prática sobre a meditação nos mantras.

Quando temos esse ponto de referência que é o mantra, não há mais espaço para distrações ou associação livre de pensamentos, como vimos na última aula. Pense nisto: um dente-de-leão é considerado mato quando você quer plantar grama, porém, se o que você quer é uma plantação de dente-de-leão, qualquer folha de grama será considerada mato. É tudo uma questão do ponto de vista.

A bem da verdade, não há mato. Olhando bem, só há plantas, de diferentes tipos, mas somente plantas.

Assim, qualquer pensamento alheio à meditação, seja do tipo que for, é sempre um pensamento.

Assim descartamos todos eles, sejam do tipo que forem, para nos focar no mantra.

Após cada repetição de cada mantra, reinicia a meditação com o mantra seguinte. No intervalo entre mantra e mantra, podemos apreciar o silêncio. Esses intervalos são, portanto, muito importantes.

Nos tornamos cientes deles ao meditar. “Agora estou ciente do mantra. Agora estou ciente do silêncio”.

Ao tomarmos consciência do silêncio, percebemos que não há diferença entre aquele que observa e aquilo que é observado. Nesse momento da prática fica abolida a diferenciação sujeito-objeto, uma vez que não há objeto para ser observado.

Tomar consciência dos intervalos entre os mantras nos ajuda a evitar as distrações. Até mesmo quando aparecer alguma distração, a mente sempre pode retornar ao mantra. Aquele que leva a

mente de volta para o mantra é o mesmo que se deixou levar pela distração.

“Ao perceber que a mente se distrai, vou trazer ela de volta para o mantra”: repetindo para nós mesmos sugestões como esta vamos nos fortalecendo e tornando capazes de manter o foco no que interessa.

É exatamente isso o que Śrī Kṛṣṇa recomenda para Arjuna na Bhagavadgītā: “Sempre que [perceber que] a mente inquieta e volúvel se desvia [da meditação], procure comandá-la, trazendo ela de volta para a contemplação do Ser apenas” (VI:26).

Como diz a Amṛtabindu Upaniṣad (2), “a mente é tanto a causa do sofrimento quando da liberta- ção”. A mente é apenas um instrumento. Não o que fazemos ou deixamos de fazer com ela. Assim como no caso de uma faca: a faca não sabe o que corta. Quem usa o instrumento é que determina o que será feito com ele.

***

Bom, agora vamos praticar. Sente numa posição confortável, com as costas eretas. Observe se a sua cabeça está na posição vertical. Deixe as mãos em jñāna mudrā, com as palmas voltados para baixo sobre os joelhos, e os dedos polegar e indicador unidos suavemente. Mantenha a boca e olhos relaxadamente fechados.

Tome consciência do corpo todo. Observe-se na posição em que você está sentado. Permaneça consciente da posição. Consciência no āsana e no efeito que ele tem no seu corpo: firmeza, quietude, estabilidade e conforto. Faça uma rotação da consciência por todas as partes do corpo:

cabeça, pescoço, ombros, braços, mãos, tronco, costas, tórax, abdômen, pernas e pés.

Localize tensões que possa haver em alguma articulação, músculo ou parte do corpo. Ajuste a posição de maneira que você não precise mais se mexer. As costas eretas, mas sem rigidez. Fique totalmente confortável. Consciência total no corpo. Verifique se o corpo está realmente confortável e livre de tensões.

Mantra Yoga

Pedro Kupfer

Módulo 4 . Cinco Passos para a Liberdade

34. Passo 2: Focar || Sohaṁ, Mantra da Respiração

Consciência total no corpo físico: músculos, ligamentos, ossos, órgãos, sangue, pele. Visualize o seu corpo. Tome consciência das experiências físicas do seu corpo: solidez, dor ou prazer, calor ou frio, e outras coisas que possam alterar o estado de atenção ou afetar o corpo. Permaneça absolutamente estável. Completa quietude do corpo. Completa estabilidade. O corpo está absolutamente imóvel, como uma rocha.

A meditação no som da respiração começa aqui. Observe a sua respiração. Não controle a respiração.

Permita-se ser respirado pelo ar. Permaneça como observador imóvel do processo respiratório.

Seja testemunha.

Faça khecharī mudrā, elevando a língua e pressionando-a suavemente no palato mole, perto da garganta. Mantenha essa mudrā até o final da prática, na medida do que for possível. Agora faça ujjayī prāṇāyāma, a respiração sussurrante. Respire sem esforço, mantendo a glote suavemente elevada e descontraída, como se o ar estivesse entrando diretamente pela garganta.

Se aparecer algum pensamento, tome consciência dele, mas continue observando o fluxo da respira- ção. Associe o som da sílaba so com a inspiração, e o mantra haṁ com a expiração. Não perca nenhuma respiração. A cada inspiração, repita mentalmente so. A cada expiração, repita mentalmente haṁ. A respiração e o mantra são apenas um: so ao inspirar, haṁ ao expirar. Perfeita sincronia entre o fluxo da energia no canal psíquico e o mantra da respiração. [Pausa]

Observe a inspiração dissolvendo-se na expiração. Observe a expiração dissolvendo-se na inspiração.

Agora, cesse a repetição do mantra e apenas escute o som que a respiração produz. Ao inspirar, ouça o so. Ao expirar, ouça o haṁ. Este som sempre existiu, existe agora e existirá enquanto você estiver respirando. Sohaṁ, sohaṁ. O mantra ressoa em cada uma das suas células. O mantra ressoa em cada um dos seus pensamentos.

Sohaṁ significa em sânscrito “eu sou Esse”. Sou Ilimitado. Sou Felicidade. Sou Pleno. A sua respiração esteve e estará sempre lhe lembrando disso, desde o primeiro fôlego que você tomou ao nascer, até a respiração final neste corpo. Sou esse Ilimitado. Sou essa Plenitude.

Sinta o mantra ecoando no espaço interior, na mente, no coração, na respiração e no corpo inteiro.

Observe o intervalo entre o so e o haṁ. Observe o intervalo entre o haṁ e o so. Observe esses espaços onde aparece o vazio. Observe como a sua respiração pode espontaneamente parar por alguns instantes. Nessas pausas, desvincule-se do seu corpo. Desvincule-se do seu pensamento.

Não lute contra ele. Apenas a consciência do mantra permanece.

Neste momento, externalize a sua atenção. Encerre esta prática e permita que aos poucos o pensa- mento flua novamente em direção aos sentidos e às experiências sensoriais. Tome consciência do corpo e do ambiente onde você se encontra agora. Externalize os sentidos. Ao poucos, mova o corpo. Quando estiver pronto, sem pressa, abra os olhos. A prática sobre o mantra da respiração conclui-se aqui.

Bom, espero que você tenha gostado. Há várias outras práticas similares a esta que envolvem não apenas o som da respiração mas igualmente vários tipos de visualização da força vital. Na próxima aula veremos o Nirvāṇa Ṣaṭkaṁ, Sexteto do Nirvāṇa, que é um belíssimo poema que usaremos como objeto para meditar.

Concluímos aqui esta prática e, com ela, o segundo passo, que é mantermos o foco. No próximo encontro passaremos ao terceiro passo, que é expandir a partir desse foco que aprendemos a criar aqui. Até breve. Namaste!

(5)

Invocação de Paz da Chāndogyopaniṣad

Oṁ āpyāyantu mamāṅgāni | vākprāṇaśchakṣuḥ śrotram | atho balam indriyāṇi cha sarvāṇi |

sarvaṁ brahma upaniṣadam | māhaṁ brahma nirākuryām |

mā mā brahma nirākarot | anirakāraṇam astu anirākaraṇaṁ me astu |

tad ātmani nirate ya upaniṣat su dharmāḥ | te mayi santu | te mayi santu ||

Oṁ śāntiḥ śāntiḥ śāntiḥ ||

Que as partes [do meu corpo], como a fala, os olhos e os ouvidos, a força e todos os demais órgãos sejam eficientes. Tudo é o Ser Ilimitado, [revelam] as Upaniṣads.

Que eu não rejeite o Ser. Que o Ser não me rejeite. Que não haja rejeição do Ser da minha parte.

Que não haja rejeição de mim pelo Ser.

Que todos os valores e atitudes mencionados nas escrituras estejam comigo. Estou comprometido na busca do conhecimento do Ser. Que os valores e atitudes vivam em mim. Oṁ. Paz. Paz. Paz.

Olá. Namaste! Nesta prática de hoje continuaremos com o segundo dos cinco passos em direção à Liberdade, que é a meditação para focar. O mantra que escolhemos hoje é um que você está repetindo desde o seu nascimento, desde a sua primeira respiração. É o chamado sohaṁ, ou mantra da respiração.

A rigor, esse som não é exatamente um mantra, pela definição que vimos ao iniciar o curso. Não obstante, o suporte que a respiração dá ao pensamento é muito eficiente, e o som dela não deixa de ser um mantra sobre o qual podemos nos concentrar a qualquer momento.

Vale a pena então fazer esta prática, uma vez que por um lado o som da respiração é eficiente como meio de concentrar e por outro, esse som ainda nos lembra da nossa natureza: sohaṁ ou sa ahaṁ é uma frase em sânscrito que significa “Esse [Ser Ilimitado (sa), eu sou (ahaṁ)]”.

Atitude

Não obstante, antes de começar a prática queria fazer aqui uma breve explanação sobre a atitude recomendada ao meditar sobre os mantras, de maneira que possamos aproveitar ao máximo estas experiências presentes, e as que teremos mais adiante. Isto complementa o que vimos na última prática sobre a meditação nos mantras.

Quando temos esse ponto de referência que é o mantra, não há mais espaço para distrações ou associação livre de pensamentos, como vimos na última aula. Pense nisto: um dente-de-leão é considerado mato quando você quer plantar grama, porém, se o que você quer é uma plantação de dente-de-leão, qualquer folha de grama será considerada mato. É tudo uma questão do ponto de vista.

A bem da verdade, não há mato. Olhando bem, só há plantas, de diferentes tipos, mas somente plantas.

Assim, qualquer pensamento alheio à meditação, seja do tipo que for, é sempre um pensamento.

Assim descartamos todos eles, sejam do tipo que forem, para nos focar no mantra.

Após cada repetição de cada mantra, reinicia a meditação com o mantra seguinte. No intervalo entre mantra e mantra, podemos apreciar o silêncio. Esses intervalos são, portanto, muito importantes.

Nos tornamos cientes deles ao meditar. “Agora estou ciente do mantra. Agora estou ciente do silêncio”.

Ao tomarmos consciência do silêncio, percebemos que não há diferença entre aquele que observa e aquilo que é observado. Nesse momento da prática fica abolida a diferenciação sujeito-objeto, uma vez que não há objeto para ser observado.

Tomar consciência dos intervalos entre os mantras nos ajuda a evitar as distrações. Até mesmo quando aparecer alguma distração, a mente sempre pode retornar ao mantra. Aquele que leva a

mente de volta para o mantra é o mesmo que se deixou levar pela distração.

“Ao perceber que a mente se distrai, vou trazer ela de volta para o mantra”: repetindo para nós mesmos sugestões como esta vamos nos fortalecendo e tornando capazes de manter o foco no que interessa.

É exatamente isso o que Śrī Kṛṣṇa recomenda para Arjuna na Bhagavadgītā: “Sempre que [perceber que] a mente inquieta e volúvel se desvia [da meditação], procure comandá-la, trazendo ela de volta para a contemplação do Ser apenas” (VI:26).

Como diz a Amṛtabindu Upaniṣad (2), “a mente é tanto a causa do sofrimento quando da liberta- ção”. A mente é apenas um instrumento. Não o que fazemos ou deixamos de fazer com ela. Assim como no caso de uma faca: a faca não sabe o que corta. Quem usa o instrumento é que determina o que será feito com ele.

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Bom, agora vamos praticar. Sente numa posição confortável, com as costas eretas. Observe se a sua cabeça está na posição vertical. Deixe as mãos em jñāna mudrā, com as palmas voltados para baixo sobre os joelhos, e os dedos polegar e indicador unidos suavemente. Mantenha a boca e olhos relaxadamente fechados.

Tome consciência do corpo todo. Observe-se na posição em que você está sentado. Permaneça consciente da posição. Consciência no āsana e no efeito que ele tem no seu corpo: firmeza, quietude, estabilidade e conforto. Faça uma rotação da consciência por todas as partes do corpo:

cabeça, pescoço, ombros, braços, mãos, tronco, costas, tórax, abdômen, pernas e pés.

Localize tensões que possa haver em alguma articulação, músculo ou parte do corpo. Ajuste a posição de maneira que você não precise mais se mexer. As costas eretas, mas sem rigidez. Fique totalmente confortável. Consciência total no corpo. Verifique se o corpo está realmente confortável e livre de tensões.

Consciência total no corpo físico: músculos, ligamentos, ossos, órgãos, sangue, pele. Visualize o seu corpo. Tome consciência das experiências físicas do seu corpo: solidez, dor ou prazer, calor ou frio, e outras coisas que possam alterar o estado de atenção ou afetar o corpo. Permaneça absolutamente estável. Completa quietude do corpo. Completa estabilidade. O corpo está absolutamente imóvel, como uma rocha.

A meditação no som da respiração começa aqui. Observe a sua respiração. Não controle a respiração.

Permita-se ser respirado pelo ar. Permaneça como observador imóvel do processo respiratório.

Seja testemunha.

Faça khecharī mudrā, elevando a língua e pressionando-a suavemente no palato mole, perto da garganta. Mantenha essa mudrā até o final da prática, na medida do que for possível. Agora faça ujjayī prāṇāyāma, a respiração sussurrante. Respire sem esforço, mantendo a glote suavemente elevada e descontraída, como se o ar estivesse entrando diretamente pela garganta.

Se aparecer algum pensamento, tome consciência dele, mas continue observando o fluxo da respira- ção. Associe o som da sílaba so com a inspiração, e o mantra haṁ com a expiração. Não perca nenhuma respiração. A cada inspiração, repita mentalmente so. A cada expiração, repita mentalmente haṁ. A respiração e o mantra são apenas um: so ao inspirar, haṁ ao expirar. Perfeita sincronia entre o fluxo da energia no canal psíquico e o mantra da respiração. [Pausa]

Observe a inspiração dissolvendo-se na expiração. Observe a expiração dissolvendo-se na inspiração.

Agora, cesse a repetição do mantra e apenas escute o som que a respiração produz. Ao inspirar, ouça o so. Ao expirar, ouça o haṁ. Este som sempre existiu, existe agora e existirá enquanto você estiver respirando. Sohaṁ, sohaṁ. O mantra ressoa em cada uma das suas células. O mantra ressoa em cada um dos seus pensamentos.

Sohaṁ significa em sânscrito “eu sou Esse”. Sou Ilimitado. Sou Felicidade. Sou Pleno. A sua respiração esteve e estará sempre lhe lembrando disso, desde o primeiro fôlego que você tomou ao nascer, até a respiração final neste corpo. Sou esse Ilimitado. Sou essa Plenitude.

Sinta o mantra ecoando no espaço interior, na mente, no coração, na respiração e no corpo inteiro.

Mantra Yoga

Pedro Kupfer

Módulo 4 . Cinco Passos para a Liberdade

34. Passo 2: Focar || Sohaṁ, Mantra da Respiração

Observe o intervalo entre o so e o haṁ. Observe o intervalo entre o haṁ e o so. Observe esses espaços onde aparece o vazio. Observe como a sua respiração pode espontaneamente parar por alguns instantes. Nessas pausas, desvincule-se do seu corpo. Desvincule-se do seu pensamento.

Não lute contra ele. Apenas a consciência do mantra permanece.

Neste momento, externalize a sua atenção. Encerre esta prática e permita que aos poucos o pensa- mento flua novamente em direção aos sentidos e às experiências sensoriais. Tome consciência do corpo e do ambiente onde você se encontra agora. Externalize os sentidos. Ao poucos, mova o corpo. Quando estiver pronto, sem pressa, abra os olhos. A prática sobre o mantra da respiração conclui-se aqui.

Bom, espero que você tenha gostado. Há várias outras práticas similares a esta que envolvem não apenas o som da respiração mas igualmente vários tipos de visualização da força vital. Na próxima aula veremos o Nirvāṇa Ṣaṭkaṁ, Sexteto do Nirvāṇa, que é um belíssimo poema que usaremos como objeto para meditar.

Concluímos aqui esta prática e, com ela, o segundo passo, que é mantermos o foco. No próximo encontro passaremos ao terceiro passo, que é expandir a partir desse foco que aprendemos a criar aqui. Até breve. Namaste!

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