Autoria
Judas era um nome muito comum na Palestina da época de Cristo, como Judas Tadeu, o apóstolo,
e Judas Iscariotes, o traidor (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc 6.16; At 1.13; Jo 18.2,5).
Entretanto, de acordo com a tradição, o autor desta carta é Judas (v.1), o irmão de Jesus Cristo e
de Tiago (Mt 13.55; Mc 6.3). Eles próprios jamais usaram o parentesco com o Senhor para reivindicar
qualquer privilégio ou atenção especial às suas mensagens. Por essa razão, não mencionaram esse
fato em suas cartas e documentos, deixando que outros irmãos se encarregassem desse registro
histórico (Jo 7.3-10; At 1.14; 1Co 9.5; Gl 1.19).
Referências a essa epístola sagrada são conhecidas desde os primórdios pelos pais da Igreja:
Clemente de Roma (96 d.C.), Clemente de Alexandria (155-215 d.C.), Tertuliano (150-222 d.C.) e por
Orígenes (185-253 d.C.). Desde o ano 170 d.C., a carta de Judas já fazia parte do Cânon Muratório e
era aceita como “autorizada” por Atanásio (298-373 d.C.) e pelo Concílio de Cartago (397 d.C.).
Contudo, segundo Jerônimo e Dídimo, alguns críticos de sua época não aceitavam a canonicidade
dessa epístola por causa da citação de alguns escritos apócrifos (vv.9,14). Porém, a maioria dos
eruditos e teólogos é unânime em reconhecer que um autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo,
pode fazer uso de documentos históricos e textos não inspirados com a finalidade de ilustrar ou
corroborar com sua argumentação bíblica, sem com isso estar defendendo a inspiração dos
docu-mentos ou referências utilizadas.
Propósitos
O primeiro e grande desejo de Judas era publicar um tratado teológico sobre o tema: “nossa
comum salvação” (v.3), porém o Espírito Santo o convenceu a escrever uma vigorosa obra
apolo-gética contra os precursores do gnosticismo, filosofia que ganhava cada vez mais força e adeptos
entre os cristãos de todo o mundo civilizado da época. Os falsos mestres estavam usando os
próprios textos do apóstolo Paulo e outras partes da Bíblia para defender a “plena liberdade” do
ser humano de uma perspectiva antinominiana, a fim de darem licença total às manifestações “da
carne” (Gl 5.13). Essa confrontação se revela claramente na descrição de Judas acerca dos falsos
mestres, destacados como pessoas que “adulteraram a graça de nosso Deus em libertinagem” e
que “negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor” (v.4).
O gnosticismo (expressão que deriva do grego gnosis – conhecimento), cuja forma filosófica
acabada só se consolidou a partir do século II, tem influenciado o pensamento da humanidade
até nossos dias, devastando a moral e a fé responsável em Jesus Cristo, o Filho de Deus e nosso
único Salvador.
Em contraste com a atitude mundana dos falsos mestres, os cristãos devem demonstrar um amor
fraternal, altruísta e espiritual. Sempre atentos à maravilhosa graça com que fomos contemplados
em Cristo, devemos demonstrar misericórdia para com aqueles que estão enredados por esse
modo de pensar e agir, pois talvez, assim, alguns sejam levados à salvação (vv.19-23). Judas
finaliza sua obra com uma bela e significativa doxologia (vv.24,25), muito apropriada para todos
aqueles que enfrentam as poderosas forças do erotismo e da sedução da carne tão presentes em
nosso século.
Judas, ainda, demonstra grande conhecimento das tradições e literatura judaicas. Suas
dis-cutidas citações (vv. 9,14), embora não sejam encontradas no AT, estão presentes nos livros
deuterocanônicos e históricos da época.
É notável a relação que esta carta de Judas tem com a segunda epístola de Pedro. Ao que tudo
p
indica, 2 Pedro profetizou sobre alguns males que acometeriam a Igreja, procurando prevenir os
cristãos sobre tais influências filosóficas perniciosas, que efetivamente ocorreram no tempo de
Judas e foram abordadas em sua carta (2Pe 2.1; 3.3; Jd 4,18,19).
Como deixou registrado Orígenes: “Apesar de consistir de apenas uns poucos parágrafos, a
carta de Judas está repleta de poderosas palavras dotadas de graça celeste”.
I
NTRODUÇÃO
posterior à existência dos apóstolos e à sua própria. Judas, Paulo e Pedro não combateram o
gnosti-cismo formatado no século II, mas um embrião das idéias libertinas e dicotômicas que questionavam
a perfeita humanidade e deidade de Jesus Cristo, como o Filho de Deus e Messias (At 20.29.30; Rm
6.1; 1Co 5.1-11; 2Co 12.21; Gl 5.13; Ef 5.3-17; 1Ts 4.6). Há indicações de que os próprios leitores
de Judas chegaram a presenciar algumas das pregações de Pedro e de outros apóstolos (2Pe 3.3).
Portanto, podemos concluir que a epístola de Judas começou a circular por volta do ano 75 d.C.
Esboço de Judas
1. Judas, irmão de Tiago, líder da Igreja em Jerusalém (v.1)
2. Propósitos da epístola e bênçãos sobre os leitores (vv.2-4)
3. Deus exerceu juízo no passado e o fará no futuro (vv.5-11)
4. Os falsos mestres são sagazes, sedutores e vãos (vv.12-16)
5. Contrastes entre cristãos verdadeiros e falsos (vv.17-23)
6. Doxologia para todos os séculos e Amém! (vv.24,25)
JUDAS
Prefácio e saudação
1
Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de
Tiago, aos que foram convocados,
ama-dos por Deus e, o Pai e preservaama-dos na fé
em Jesus Cristo:
12
Misericórdia, paz e amor vos sejam
multiplicados.
2Devemos batalhar pela fé cristã
3Amados, enquanto me preparava com
grande expectativa para vos escrever acerca
da salvação que compartilhamos, senti que
era necessário, antes de tudo, encorajar-vos
a batalhar, dedicadamente, pela fé confi ada
aos santos de uma vez por todas.
34
Porquanto, certos indivíduos, cuja
con-denação já estava sentenciada há muito
tempo, infi ltraram-se em vossa
congre-gação com toda a espécie de falsidades.
Estas pessoas são ímpias e adulteraram a
graça de nosso Deus em libertinagem e
negam Jesus Cristo, nosso único
Sobera-no e Senhor.
4A punição eterna dos ímpios
5
Quero, portanto, recordar-vos, embora
já estejais bem informados sobre tudo
isso, que o Senhor libertou um povo
do Egito, contudo, mais tarde, destruiu
todos os que não creram.
56
E, quanto aos anjos que não guardaram
sua autoridade e santidade originais, mas
abandonaram seu próprio domicílio, Ele
os tem mantido em trevas, presos com
correntes eternas para o julgamento do
grande Dia.
67
De maneira semelhante a estes, Sodoma
e Gomorra e as cidades circunvizinhas se
entregaram à imoralidade e a todo tipo
de depravação sexual. Estando sob o
castigo do fogo eterno, essas cidades nos
servem de exemplo.
71Judas é irmão de Tiago (autor da epístola bíblica e líder da Igreja em Jerusalém). E, portanto, irmão de Jesus Cristo. Judas
e Tiago eram filhos de José e Maria (Mt 13.55; Mc 6.3). Judas, assim como Jesus, era um nome muito comum na Palestina. É curioso que seus principais homônimos tenham entrado para a história como sinônimos de traição, violência e injustiça: Judas Iscariotes e Barrabás (em aramaico “filho do pai” ou Jesus, em grego – Mc 3.19; Mt 27.16). O autor desta carta não se apresenta como apóstolo, mas “servo” (palavra que no original grego significa “escravo”) do Senhor. Escreve aos “convocados”, aqueles que são atraídos pelo amor de Deus. E assevera que o Senhor sustenta todo o Universo e cuida para que seus filhos sejam pre-servados e alcancem plenamente a herança eterna (Rm 8.28-39; Cl 1.17; Hb 1.3; Jo 3.16; 6.37-40; 17.11,12; 1Pe 1.3-5).
2A palavra “paz” (em hebraico: shãlôm), neste contexto, expressa o profundo descanso e bem-estar da alma que emana da
verdadeira experiência da graça de Deus, independentemente das circunstâncias momentâneas que todos nós atravessamos (Jo 14.27; 20.19; Gl 1.3; Ef 1.2).
3Aqui, a expressão grega epagõnizesthai comunica o sentido de “lutar com todas as forças” contra os inimigos da fé e da sãi
doutrina, que são manipulados pelo Diabo para atacar as verdades fundamentais da teologia cristã e perverter os incautos (2Tm 3.14). O Evangelho deve ser vivido e pregado sem qualquer adulteração (Gl 1.9).
4Judas deixa bem claro seu reconhecimento à deidade de Cristo, uma vez que a expressão hebraica “Senhor” se refere ao
nome de Deus no AT (Yahweh – Javé), o Único e Todo-Poderoso Deus (Rm 10.9; 2Pe 2.1-3).
5 Três exemplos do juízo divino, registrados na história do AT, demonstram o perigo da delinqüência do indivíduo e do afastamento da sociedade do temor do Senhor. A espiral descendente do pecado é, basicamente, sempre a mesma: falta de fé, abandono da santidade, imoralidade e perdição. O povo de Israel, ao cruzar o deserto rumo a Canaã, duvidou das promessas do Senhor; em conseqüência, todos os adultos daquela geração morreram antes de entrar na terra prometida (Êx 12.51; 32.30-35; Nm 14.29-30).
6 Deus organizou o céu e distribuiu aos anjos áreas de liderança, responsabilidade, autoridade e poder. Alguns anjos se deixaram contaminar pela arrogância e egoísmo. Revoltaram-se contra as ordens de Deus e se transformaram no Diabo (o Inimigo) e seus anjos malignos. Alguns vieram para a terra e estabeleceram seu reino entre os seres humanos. Entretanto, no Dia do Juízo Final, todos os partidários do mal serão destruídos pelo fogo da santidade e da justiça de Deus (Dn 10.20,21; Mt 25.41; 2Pe 2.4).
7O texto não está afirmando que o pecado das pessoas que viviam em Sodoma e Gomorra foi o mesmo praticado pelos anjos 7
desobedientes. Judas está enfatizando que seja qual for a maldade que campeie pelo Universo e na história não ficará impune aos olhos justos de Deus. A sociedade tende a se afastar da Palavra de Deus, seguindo o caminho da imoralidade e assumindo um estilo andrógeno de vida. O juízo ocorrido no passado foi um prenúncio e exemplo do Dia em que o Senhor derramará “enxo-fre incandescente” e consumirá toda impiedade e impureza moral sobre a terra (Gn 19.5,24; 2Pe 2.10).
8
Ora, estes, da mesma forma, como
alucinados inconseqüentes, não
ape-nas contaminam o próprio corpo, mas
rejeitam toda autoridade instituída e
caluniam os seres celestiais.
89
No entanto, nem mesmo o arcanjo
Mi-guel, quando argumentava com o Diabo,
e batalhava a respeito do corpo de
Moi-sés, se atreveu a fazer qualquer acusação
injuriosa contra o inimigo, limitando-se
a declarar: “O Senhor te repreenda!”
910
Apesar disto, estes tais, levianamente
difamam tudo o que não
compreen-dem; e até nas atitudes mais simples que
aprendem por instinto, como animais
irracionais, se corrompem.
11
Ai deles! Porquanto trilharam o
cami-nho de Caim, ávidos pelo lucro se
joga-ram no erro de Balaão, e fojoga-ram tragados
pela morte na rebelião de Corá.
1012
Estas pessoas participam de vossas
reu-niões e celebrações fraternais,
banquete-ando-se convosco, sem o menor pudor.
Agem como pastores que a si mesmos se
apascentam; vagam como nuvens sem
água, impelidas pelos ventos. São como
árvores sem folhas nem fruto, duas vezes
mortas, arrancadas pela raiz.
1113
São como as ondas bravias do mar,
espu-mando suas próprias indecências; estrelas
errantes, para as quais estão preparadas as
mais densas trevas por toda a eternidade.
14
Ora, foi quanto a estes que Enoque, o
sétimo a partir de Adão, profetizou: “Eis
que vem o Senhor com milhares de
mi-lhares de seus santos,
1215
a fi m de executar juízo sobre todos,
e convencer a todos os ímpios de todas
as ações malignas que cometeram, e de
todas as palavras insolentes que os
peca-dores incrédulos proferiram contra Ele”.
16
Tais pessoas vivem murmurando e se
queixando, dominados por seus próprios
desejos impuros. A sua boca proclama
arrogância, e usam de adulação para
conquistar seus objetivos.
138Esses pagãos e ímpios eram conhecidos como “sonhadores”, expressão cujo sentido original se refere às pessoas “alucinadas” ou “fora da realidade”, por causa do efeito moral devastador que suas “fantasias” provocavam em suas atitudes e estilo de vida. As pessoas que se afastam do Senhor e são controladas pelo homossexualismo, ou por qualquer tipo de droga, são iludidas pela idéia do prazer de se “estar ausente” da realidade. Por isso, são levados a desenvolver um comportamento absolutamente antagônico ao Senhor e sua Palavra; tornam-se especialistas na arte de mentir e rejeitam a toda autoridade instituída a partir de Deus, seus servos, e dos membros da própria família. Alguns gnósticos primitivos (apóstatas), havendo descambado para a prostituição e o homossexualismo, tornaram-se antinomistas (libertinos), e desenvolveram uma teoria filosófico-religiosa que negava a influência das ações realizadas por meio do corpo sobre o espírito humano (v.19).
9Judas faz menção a uma tradicional obra judaica, chamada “Assunção de Moisés” (Dt 34.6; Zc 3.2), apenas para ilustrar sua
exposição teológica, assim como fizeram Paulo (At 17.28), Menandro (1Co 15.33) e Epimênides (Tt 1.12).
10 Judas cita mais três exemplos do tipo de atitude insana e pecaminosa, que leva à terrível (os “ais” de Jesus) destruição final (Mt 23.13-29). O caminhar de Caim foi constituído de egoísmo, ódio, inveja e homicídio (Gn 4.3,4; Nm 22.1-35; 1Jo 3.12). O erro de Balão foi deixar-se dominar pela cobiça e imoralidade (2Pe 2.15; Cl 3.5; Ap 2.14). Corá representa a insubordinação e a revolta contra toda a ordem estabelecida por Deus. Comportamento de parte da liderança cristã de sua época que, apostatando da fé, estava dividindo a Igreja (Nm 16.1-35; 3Jo 9,10).
11 O motivo da urgência e prioridade dessa mensagem (v.3) é que os mestres hereges estavam se infiltrando nas festas e
cele-brações cristãs, comuns entre os membros da igreja primitiva, com o propósito de disseminar seus ensinos libertinos e promíscu-os, questionando a liderança cristã apostólica e se impondo como novos líderes do conhecimento transcendental (gnose), ainda que suas vidas não demonstrassem qualquer manifestação do fruto da justiça (Cl 2.19-23). Judas usa uma série de metáforas para evidenciar que tais pessoas agiam como lobos pastoreando ovelhas para saciar suas próprias vontades animalescas (2Pe 2.13; Ez 34.8-10; Is 57.20). Entretanto, assim como as chamadas “estrelas cadentes” (meteoritos e cometas), que surgem com brilho e magnificência, tais mestres do mal logo serão incinerados e se desintegrarão nas trevas eternas.
12 Judas, a exemplo do que fizera no v.9, cita uma obra tradicional no judaísmo com a finalidade de esclarecer seu ponto
doutrinário. Se observarmos a linhagem de Sete, considerando Adão como primeiro, Enoque é o sétimo e o autor da obra apócrifa (Enoque 1.9) que leva seu nome (Gn 5.18-24; 1Cr 1.1-3). Não confundir com outro Enoque, da descendência de Caim (Gn 4.17). Entretanto, o que Enoque revela em seu livro, já havia sido profetizado por autores bíblicos (Dn 7.9-14; Zc 14.1-5). Judas aplica essas citações ao glorioso retorno de Jesus Cristo e à condenação final de todos os ímpios (2Ts 1.6-10; Dn 4.13-17; 1Ts 1.7; 1Ts 3.13).
13Uma característica marcante desses falsos profetas e mestres é que sempre estão descontentes, críticos, lamuriantes e
jamais expressam sincera gratidão a Deus pelo que são e o que possuem (Ef 5.20; Cl 3.16-17; 1Ts 5.18). Além disso, são movidos pela ganância, e seu humor só melhora em função de seus interesses pessoais, quando não poupam adulações àqueles de
6
JUDAS
Exortação à perseverança da fé
17Vós, entretanto, amados, lembrai-vos
das palavras anteriormente proferidas
pe-los apóstope-los de nosso Senhor Jesus Cristo,
18
os quais vos alertavam: “Nos últimos
tempos, haverá zombadores que seguirão
as suas próprias e ímpias vontades”.
1419
Estes são os que provocam divisões
entre vós, os quais são dominados pelas
paixões de suas próprias almas e não têm
o Espírito.
1520
Vós, porém, amados, edifi cai-vos na
santíssima fé que tendes, orando no
Espírito Santo.
1621
Conservai-vos no amor de Deus,
aguardando confi antemente a
misericór-dia de nosso Senhor Jesus Cristo para a
vida eterna.
22
E demonstrai compaixão para com
alguns que não possuem essa certeza,
23
assim como salvai a outros,
arreba-tando-os do fogo; e a outros, ainda,
ajudai com misericórdia e temor,
re-pugnando até a roupa contaminada
pela carne.
17Glória a Deus por sua proteção
24
Àquele que é poderoso para vos
im-p
p
ç
pedir de cair e para vos apresentar sem
máculas e com grande júbilo, perante a
sua glória,
1825
ao único Deus, nosso Salvador, sejam
glória, majestade, poder e autoridade,
por intermédio de Jesus Cristo, nosso
Senhor, antes de todas as eras, agora e
para todo o sempre! Amém.
quem acreditam poder obter alguma vantagem. Essa é uma cilada muito perigosa, a qual todos os pastores e líderes cristãos, especialmente, estão freqüentemente expostos (1Tm 3.3; 1Pe 5.3; v.11).
14 Judas, em sua época, já advertia a Igreja quanto ao cumprimento da profecia dos apóstolos sobre o surgimento de
ondas doutrinárias heréticas e vãs filosofias; e que esses eventos funestos no meio da Igreja não deveriam pegar os crentes desprevenidos (At 20.29; 1Tm 4.1; 2Tm 3.1-9; 2Pe 3.3).
15Os próprios gnósticos dividiram-se em três grupos: os “mundanos”, materialistas; os “sensuais”, ligados à psicologia do
comportamento; e os “espirituais” (que acreditavam ter alcançado o estágio mais desenvolvido do saber). Judas vence os heréticos usando a própria maneira debochada com a qual eles apreciavam atacar os princípios bíblicos (v.10) e desfecha a argumentação, alertando-os para o fato de que, ao contrário de pertencerem a uma “elite espiritual”, nem sequer tinham o Espírito de Deus, ou seja, estavam completamente perdidos (Rm 8.9; Hb 6.4,6; 2Pe 2.20).
16Embora esta epístola trate prioritariamente de combater os heréticos (pretensos cristãos que apostataram da verdade e tentam corromper os fiéis), Judas dedica uma palavra de encorajamento aos crentes, asseverando que o próprio Senhor cuida pessoalmente de cada um de seus filhos, em sua luta diária e caminhada cristã, preservando-lhes a fé e o amor (Rm 8.26-39; Gl 4.6; Ef 6.18).
177 A expressão original em grego sugere uma operação de socorro muito arriscada, como “tirar alguém da beira da destruição”. Para realizar esse ministério com sucesso, correndo o perigo de sermos tragados pelo pecado, o exercício da misericórdia deve ser praticado sob a vigilância do temor a Deus e sem fazer qualquer concessão à carne: em trajes limpos (Zc 3.1-4; 2Pe 2.1-22).
18 Judas conclui sua “mensagem de guerra” aos hereges e exaltação à fidelidade dos cristãos com uma proclamação formal de louvor a Deus, chamada “doxologia” (em grego dovxa “doxa – glória”), e que – a exemplo de Paulo – exalta o maravilhoso poder do Senhor em preservar todos aqueles que nele depositam confiança (Rm 16.25; Ef 3.20). A expressão “apresentar”, aqui, deriva do termo gregostesai, cujo sentido é “colocar de pé” (2Pe 3.14; 1Pe 1.19).