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PROCESSO Nº TST-RR A C Ó R D Ã O 4ª Turma GMALR/VRR

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A C Ó R D Ã O 4ª Turma

GMALR/VRR

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMADA. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DAS LEIS NOS 13.015/2014 E 13.467/2017.

1. PERNOITE EM CAMINHÃO. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA. CONHECIMENTO E PROVIMENTO.

I. Hipótese em que se discute se o pernoite do empregado no próprio caminhão, em razão da insuficiência dos valores das diárias fornecidas pela Reclamada, configura dano moral na

modalidade in re ipsa. II. A

jurisprudência deste Tribunal Superior é no sentido de que o fato de o empregado pernoitar no caminhão não enseja, por si só, lesão ao seu patrimônio imaterial, pois, nessa hipótese, o dano moral não se configura in re ipsa, sendo imprescindível a comprovação do dano à personalidade do trabalhador. III. No caso, não consta do acórdão regional registro acerca de efetivos prejuízos sofridos pelo Autor em razão do pernoite no caminhão. Portanto, na forma como proferida, a decisão regional conflita com a jurisprudência dominante do TST e viola o art. 186 do Código Civil. Demonstrada transcendência política da causa. IV. Recurso de revista de que se conhece, por violação do art. 186 do Código Civil, e a que se dá provimento.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-1936-25.2016.5.10.0801, em que é Recorrente TRANS

ACCURCIO LTDA. e Recorrido JOSÉ ELIOMAR IBIAPANO COUTINHO.

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O Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região deu parcial provimento ao recurso ordinário interposto pela Reclamada, para

“deferir as horas extras, considerando a jornada de trabalho nos dias de viagens das 07:00 às 19:00 horas, com uma hora de intervalo” (acórdão

de fls. 343/348 do documento sequencial eletrônico nº 3).

A Reclamada interpôs recurso de revista (fls. 366/392). A insurgência foi admitida quanto ao tema "INDENIZAÇÃO POR DANO

MORAL", por divergência jurisprudencial (decisão de fls. 430/431).

O Reclamante apresentou contrarrazões (fls. 434/440) ao recurso de revista.

Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho.

É o relatório.

V O T O

1. CONHECIMENTO

O recurso de revista é tempestivo, está subscrito por advogado regularmente constituído e cumpre os demais pressupostos extrínsecos de admissibilidade.

1.1. PERNOITE EM CAMINHÃO. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA

A Recorrente atendeu aos requisitos previstos no art. 896, § 1º-A, da CLT (redação da Lei nº 13.015/2014), quanto ao tema em destaque.

Trata-se de recurso de revista interposto de decisão regional publicada na vigência das Leis nos 13.015/2014 e 13.467/2017.

Logo, a insurgência deve ser examinada à luz do novo regramento processual relativo à transcendência.

Na forma do art. 247 do RITST, o exame prévio e de ofício da transcendência deve ser feito à luz do recurso de revista. O reconhecimento de que a causa oferece transcendência pressupõe a demonstração, no recurso de revista, de tese hábil a ser fixada, com

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relação aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica, a que se refere o § 1º do art. 896-A da CLT.

Nesse sentido, dispõe o art. 896-A, § 1º, da CLT: “Art.896-A - O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista, examinará previamente se a causa oferece transcendência com relação aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica.

§ 1o São indicadores de transcendência, entre outros: I - econômica, o elevado valor da causa;

II - política, o desrespeito da instância recorrida à jurisprudência sumulada do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal;

III - social, a postulação, por reclamante-recorrente, de direito social constitucionalmente assegurado;

IV - jurídica, a existência de questão nova em torno da interpretação da legislação trabalhista”.

Desse modo, para que se possa concluir pela transcendência da causa, faz-se necessário verificar se o recurso de revista alcança condição objetiva de fixação de tese acerca da matéria. No caso dos autos, a Reclamada pretende o processamento do seu recurso de revista por violação dos arts. 235-C, § 4º, da CLT e 186 e 927 do Código Civil. Transcreve arestos para demonstração de divergência jurisprudencial.

Sustenta que, “no presente caso, não há se falar em

ilícito por parte da Reclamada”, “porque o art. 235-C, § 4º, da CLT permite o pernoite do motorista no próprio caminhão” (fl. 371 do documento

sequencial eletrônico nº 3).

Afirma, ainda, que “o dano moral deve emergir de prova

robusta do prejuízo experimentado pela suposta vítima, com reflexos no meio profissional e social em que vive, o que não é hipótese dos autos”

(fl. 374 do documento sequencial eletrônico nº 3).

A esse respeito, consta do acórdão recorrido:

“DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. O autor afirmou que viajava a serviço constantemente, mas a reclamada não pagava o auxílio-hospedagem, remunerando apenas a diária para alimentação. Assim, era compelido a

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dormir dentro do baú do caminhão, porque não recebia aporte financeiro para que pernoitasse em local adequado. Logo, passou por diversos transtornos devido à precariedade do descanso em local muito quente, e com o medo de assaltos, razão pela qual requer o pagamento de indenização por danos morais.

A demandada rebate o pleito. Alega que o autor viajava para entregar mercadorias, e sempre pagou diárias e pernoites no valor estabelecido em norma coletiva. Ademais, o fato dele dormir no caminhão, uma ou duas noites na semana, por si só não caracteriza dano moral.

A r. sentença, após o exame do conjunto probatório, deferiu parcialmente o pedido, concluindo que a prova oral comprovou que o valor pago a título de diárias cobria apenas as despesas com alimentação, e os trabalhadores dormiam em colchões ou redes dentro do caminhão-baú.

A reclamada recorre, reiterando que pagava os valores das diárias conforme estabelecido na norma coletiva aplicável ao contrato. Assim, a eventual insuficiência não pode lhe ser creditada. Sustenta, ainda, que o reclamante não sofreu infortúnios em razão da prática, e tampouco existe indício de abalo psicológico em razão da situação retratada. Finalmente agita o permissivo do art. 235-C, § 4º, da CLT.

As duas testemunhas ouvidas confirmaram a versão do obreiro, no sentido de que pernoitavam no caminhão, já que recebiam importância destinada às refeições, a qual não era suficiente para custear a hospedagem (PDF 266).

Os recibos de pagamento de diárias demonstram, sem esforços, que a empresa pagava valor inferior ao previsto na norma coletiva de trabalho. A título de exemplo, noto que a cláusula 10ª da CCT de 2016 determinava o reembolso de despesas com viagens no valor diário de R$ 76,00 (setenta e seis reais), mas os comprovantes de pagamento indicam importe aquém desse limite (PDF 213/218). De toda sorte, os ônus inerentes ao exercício da atividade econômica são da exclusiva alçada do empregador, e mesmo que a importância fixada em norma coletiva fosse observada pelo recorrente, a ele incumbia arcar com as despesas necessárias à realização do negócio, aí incluída aquela ora analisada.

Ainda que o art. 235-C, § 4º, da CLT, autorize o repouso diário no veículo, entendo que tal permissivo incide apenas naquelas hipóteses onde

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não há alternativa, dada a ausência de outro local para o pernoite. O fato, por sua vez, encerra potestade capaz de lesionar, ainda que de forma reflexa, o patrimônio imaterial do empregado, inclusive porque a própria norma coletiva determina o reembolso das despesas com pernoite do empregado.

Ora, incumbia ao autor produzir prova dos pressupostos fáticos necessários à configuração do dano e de tal encargo ele se desincumbiu. Acrescento, por oportuno, que ao empregado não incumbe a prova da existência de prejuízo ou sofrimento moral, mas apenas de ato capaz de produzir efeito, como orienta a jurisprudência pacífica do col. STJ (REsp-52842/94-RJ, Ac. 3ª Turma, Rel. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, DJ de 27/10/97; REsp-53729/94-MA, Ac. 4ª Turma, Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO, DJ de 23/10/95).

Logo, por evidenciado o elo lógico entre a causa e o efeito emerge o dever de indenizar, nos termos previstos pelos arts. 186 e 927, do CCB, e 5º, inciso X, da CF.

Nego provimento ao recurso” (fls. 345/347 do documento sequencial eletrônico nº 3 – destaques no original). Como se observa, a Corte Regional concluiu que o pernoite do empregado no próprio caminhão, em razão da insuficiência dos valores das diárias fornecidas pela Reclamada, configura dano moral na modalidade in re ipsa.

A jurisprudência deste Tribunal Superior é no sentido de que o fato de o empregado pernoitar no caminhão não enseja, por si só, lesão ao seu patrimônio imaterial, pois, nessa hipótese, o dano moral não se configura in re ipsa, sendo imprescindível a comprovação do dano à personalidade do trabalhador.

Os seguintes julgados ilustram esse entendimento: "[...] RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO RECLAMANTE NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. MOTORISTA VIAJANTE. PERNOITE EM CABINE DE CAMINHÃO. DANO MORAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO. O simples fato de o motorista pernoitar na cabine do caminhão, sem prova da ocorrência de efetiva lesão aos direitos da personalidade, não dá ensejo à indenização por dano moral. Precedentes.

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Recurso de revista a que se nega provimento" (ARR-1526-07.2014.5.20.0009, 1ª Turma, Relator Ministro Walmir Oliveira da Costa, DEJT 09/08/2019).

"[...] DANO MORAL. PERNOITE NO CAMINHÃO. Cinge-se a controvérsia a se saber se o motorista em viagem, que pernoita no próprio caminhão, em razão de o empregador não fornecer recursos suficientes para hospedagem, tem direito ao recebimento de uma indenização por dano moral. No caso, o Tribunal Regional condenou a reclamada ao pagamento de indenização por danos morais, por considerar que a quantia disponibilizada não era bastante para suprir as despesas e que era comum a prática de pernoite dos caminhoneiros nos veículos durante as viagens. A mera constatação de que o empregador não disponibilizava ao empregado diárias suficientes para hospedagem, permanecendo este na cabine do caminhão em pernoite, não configura ilícito passível de atribuição de responsabilidade civil por danos morais, porquanto não demonstrado qualquer outro elemento que noticie hipótese específica de abalo moral. Precedentes. Recurso de revista conhecido por violação do art. 235-C, § 4º, da CLT e provido. CONCLUSÃO: Recurso de revista parcialmente conhecido e provido"

(RR-164-29.2018.5.13.0007, Turma, Relator

Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT 27/11/2020).

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. APELO INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.015/2014 E DO NOVO CPC (LEI N.º 13.105/2015). CERCEIO DE DEFESA. DANOS MORAIS. MOTORISTA. PERNOITE NA CABINE DO CAMINHÃO. HORAS EXTRAS. A despeito das razões expostas pela parte agravante, merece ser mantida a decisão que negou seguimento ao Recurso de Revista, porquanto não verificadas as violações legais e constitucionais indicadas, cumprindo registrar, quanto à alegação de danos morais, que a decisão está de acordo com a jurisprudência desta Corte, no sentido de que o simples fato de o motorista pernoitar na cabine do caminhão, sem prova da ocorrência de efetiva lesão aos direitos da personalidade, não dá ensejo à indenização por dano moral. Acrescenta-se que qualquer outra consideração acerca dos temas

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debatidos, demandaria o reexame de fatos e provas, o que é vedado pela Súmula n.º 126, do TST. Agravo de Instrumento conhecido e não provido" (AIRR-25426-14.2014.5.24.0007, 4ª Turma, Relatora Ministra Maria de Assis Calsing, DEJT 09/06/2017).

"RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. DANO MORAL. PERNOITE NO CAMINHÃO. O entendimento atual desta Corte é no sentido de que a pernoite do motorista na cabine do caminhão, por si só, não é fato gerador de danos morais passível de indenização. Dessa forma, incidem os óbices da Súmulas nº 333 do TST e art. 896, § 7º, da CLT para o processamento do recurso de revita. Recurso de revista não conhecido"

(RR-2285-17.2012.5.03.0040, Turma, Relator

Ministro Breno Medeiros, DEJT 31/08/2018).

"RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE. DANO MORAL. PERNOITE NO CAMINHÃO. Em que pese o eventual desconforto causado pelo fato de pernoitar no caminhão, é imprescindível, para configuração do dano moral, que o empregado demonstre a condição aviltante em que esse pernoite se realizava, sem as condições de acomodação digna e de segurança que inspiravam, no legislador (art. 235-D, III, da CLT), a compreensão de estar o repouso em "cabine leito do veículo" em consonância com a dignidade do trabalho rodoviário. No presente caso, o Regional deixou consignado que não foi comprovada a existência de prejuízos irreparáveis ao reclamante, pelo fato do pernoite na cabine do caminhão, apenas mantendo o dano moral em função de inexistir irresignação da reclamada quanto ao fato relativo ao dano em função no atraso do pagamento da rescisão contratual, reduzindo o valor do dano para R$ 2.000,00. Recurso de revista conhecido e não provido" (ARR-1480-95.2011.5.09.0084, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de Carvalho, DEJT 15/12/2017).

"RECURSO DE REVISTA DO RECLAMANTE - PERNOITE DO MOTORISTA NA CABINE DO VEÍCULO - DANO MORAL - NÃO CONFIGURADO. A discussão dos autos cinge-se à configuração ou não de

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dano moral em virtude de o empregado, no exercício da função de motorista, pernoitar na cabine de veículo, visto que não era fornecida importância suficiente para pagamento das suas despesas com hospedagem. Com efeito, o descumprimento contratual pode gerar reparação por danos morais, se comprovado que dele exsurgiu para o trabalhador a experimentação de circunstâncias que afetem sua dignidade. No entanto, a configuração do dano moral não está relacionada automaticamente ao inadimplemento contratual, mas depende de prova de que dele decorreram prejuízos para o trabalhador. Dessa forma, a jurisprudência desta Corte preceitua que o mero descumprimento de obrigações trabalhistas, por si só, não enseja o reconhecimento de dano moral, o qual somente se configura quando demonstrada a conduta ofensiva aos direitos de personalidade e ao princípio da dignidade da pessoa humana. Na esteira desse entendimento, também não enseja indenização por dano moral o pernoite na cabine do veículo por motorista, se desacompanhado tal fato de circunstância que revele abalo aos direitos da personalidade do trabalhador, como por exemplo, o pernoite em local notoriamente perigoso situado no trajeto do itinerário a ser cumprido pelo empregado ou ter sido vítima de assaltos. Precedentes. Ademais, do contexto normativo dos arts. 235-C, § 4º, e 235-D, § 7º, da CLT, afere-se que o repouso diário do motorista profissional pode ser feito no veículo em viagens de longa distância, bem como o repouso previsto no § 3º do art. 235-C, que se refere ao intervalo interjornada, pode ser fruído no veículo com cabine leito nos casos em que o motorista tenha que acompanhar o veículo transportado por qualquer meio onde ele siga embarcado. Nessa quadra, com efeito, a legislação atual possibilita que o repouso do motorista ocorra no veículo. Em face dos fundamentos expendidos, sob qualquer ângulo que se examine a questão em testilha - seja considerando que se trata de descumprimento contratual o pernoite do motorista em veículo em decorrência de não pagamento pelo empregador de importância suficiente para custear a hospedagem do empregado, seja considerando a legislação atual que expressamente possibilita o repouso diário do motorista profissional no veículo em viagens de longa distância - não há como reputar, por si só, o pernoite do motorista no veículo como fato ofensivo a direito extrapatrimonial do empregado ensejador de indenização por dano moral. Recurso de revista conhecido e não provido"

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(RR-65400-10.2012.5.17.0141, 7ª Turma, Relator Ministro Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, DEJT 20/11/2015).

"[...] DANOS MORAIS. PERNOITE NO CAMINHÃO. NÃO CARACTERIZAÇÃO. O presente agravo de instrumento merece provimento, com consequente processamento do recurso de revista, haja vista que o recorrente logrou demonstrar possível violação dos arts. 186 e 927 do CC. Agravo de instrumento conhecido e provido. B) RECURSO DE REVISTA. DANOS MORAIS. PERNOITE NO CAMINHÃO. NÃO CARACTERIZAÇÃO. Esta Corte se manifesta no sentido de que o fato de o motorista dormir na cabine do caminhão não gera, por si só, dano moral, devendo ser demonstrados de forma cabal os prejuízos sofridos pelo reclamante. No caso, como não há no acórdão regional nenhum elemento fático que demonstre que o reclamante sofreu constrangimento pessoal que pudesse caracterizar abalo dos valores inerentes à sua honra, não há falar em indenização por danos morais. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido" (RRAg-11913-74.2015.5.15.0045, 8ª Turma, Relatora Ministra Dora Maria da Costa, DEJT 02/10/2020).

"[...] III - RECURSO DE REVISTA ADESIVO INTERPOSTO PELO RECLAMANTE . INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. MOTORISTA. PERNOITE NA CABINE DO CAMINHÃO. Conforme vem decidindo esta Corte Superior, o fato de o motorista pernoitar na cabine do caminhão, por si só, não enseja o pagamento de indenização por dano moral. Nesses casos, para a configuração do dano, é imprescindível que o empregado comprove efetiva lesão aos direitos de personalidade, o que não ocorreu. Aresto paradigma inespecífico, nos termos da Súmula 296, I, do TST . Recurso de revista não conhecido" (ARR-75-75.2012.5.09.0670, 8ª Turma, Relator Ministro Marcio Eurico Vitral Amaro, DEJT 22/02/2019).

No caso, não consta do acórdão regional registro acerca de efetivos prejuízos sofridos pelo Autor em razão do pernoite

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no caminhão. Portanto, na forma como proferida, a decisão regional conflita com a jurisprudência dominante do TST e viola o art. 186 do Código Civil.

Cabe ressaltar que o reconhecimento de que a causa oferece transcendência política (art. 896-A, § 1º, II, da CLT) não se limita à hipótese em que haja verbete sumular sobre a matéria; haverá igualmente transcendência política quando demonstrado o desrespeito à jurisprudência pacífica e notória do Tribunal Superior do Trabalho sedimentada em Orientação Jurisprudencial ou a partir da fixação de tese no julgamento, entre outros, de incidentes de resolução de recursos repetitivos ou de assunção de competência, bem como, na hipótese do Supremo Tribunal Federal, no julgamento de recurso extraordinário com repercussão geral ou das ações de constitucionalidade.

Trata-se de extensão normativa do conceito de transcendência política, prevista no art. 896-A, § 1º, II, da CLT, a partir, sobretudo, da sua integração com o novo sistema de resolução de demandas repetitivas inaugurado pelo Código de Processo Civil de 2015, cujas decisões possuam caráter vinculante (exegese dos arts. 489, § 1º, 926, 928 do CPC/2015).

Ademais, ainda que assim não fosse, o próprio § 1º do art. 896-A da CLT estabelece que os indicadores de transcendência nele nominados não constituem cláusula legal exaustiva, mas possibilita o reconhecimento de indicadores "entre outros".

Ante o exposto, reconheço a existência de

transcendência política da causa e, em consequência, conheço do recurso

de revista por violação do art. 186 do Código Civil.

2. MÉRITO

2.1. PERNOITE EM CAMINHÃO. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA RECONHECIDA

Em razão do conhecimento do recurso de revista por violação do art. 186 do Código Civil, seu provimento é medida que se impõe, para excluir a condenação da Reclamada ao pagamento de indenização por dano moral.

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Ante o provimento do recurso de revista interposto pela Reclamada, com a exclusão da condenação imposta a título de dano moral, julgo prejudicado o exame da matéria remanescente suscitada no recurso de revista (“VALOR ARBITRADO A TÍTULO DE DANO MORAL”).

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Quarta Turma Tribunal Superior

do Trabalho, à unanimidade:

(a) reconhecer a transcendência política da causa; (b) conhecer do recurso de revista interposto pela

Reclamada quanto ao tema “PERNOITE EM CAMINHÃO. DANO MORAL NÃO

CONFIGURADO”, por violação do art. 186 do Código Civil, e, no mérito,

dar-lhe provimento, para excluir a condenação da Reclamada ao pagamento

de indenização por dano moral; e

(c) julgar prejudicado o exame do recurso de revista

interposto pela Reclamada quanto ao tema “VALOR ARBITRADO A TÍTULO DE

DANO MORAL”.

Custas processuais inalteradas. Brasília, 17 de março de 2021.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

ALEXANDRE LUIZ RAMOS Ministro Relator

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