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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 6660/2006-2

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 6660/2006-2

Relator: MARIA JOSÉ MOURO Sessão: 12 Outubro 2006

Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: AGRAVO

Decisão: RECURSO PROCEDENTE

SEPARAÇÃO JUDICIAL DE BENS COMPETÊNCIA MATERIAL

PARTILHA DOS BENS DO CASAL

Sumário

I – Tendo o A. sido citado para requerer, querendo, a separação judicial de bens para efeitos do consignado no art. 239 do CPPT e no nº 3 do art. 825 do CPC, caber-lhe-ia requerer a separação de bens em processo de inventário, nos termos do art. 1406 do CPC.

II – Uma situação paralela é a desenhada nos arts. 1767 a 1772 do CC, a da simples separação judicial de bens fundada na má administração dos bens por um dos cônjuges, necessariamente judicial e litigiosa, seguindo a forma do processo comum e em que transitada em julgado a sentença que decrete a separação se procederá à partilha dos bens comuns.

III – Se, como sucede no caso dos autos, os termos da pretensão do A. se

reconduzem a uma acção de processo comum de simples separação judicial de bens, formulando o A. o pedido correspondente a tal acção, a competência em razão da matéria para a preparação e julgamento de tal processo é dos

tribunais cíveis, visto a acção de simples separação judicial de bens não estar incluída no elenco constante do art. 81 da LOFTJ.

Texto Integral

Acordam na Secção Cível (2ª Secção) do Tribunal da Relação de Lisboa:

*

I - Nos Juízos Cíveis do Tribunal Judicial da Comarca de Loures intentou A.

processo que designou de «Acção com Processo Judicial – Inventário para Separação de Meações» contra B..

(2)

Tendo sido proferido despacho que julgou o Tribunal incompetente em razão da matéria para conhecer do pedido formulado, considerando

competente para o efeito o Tribunal de Família de Loures, e indeferiu liminarmente o requerimento inicial, desse despacho agravou o A., concluindo pela seguinte forma a respectiva alegação de recurso:

1° - O Exmo. Juiz "a quo" indeferiu liminarmente o requerimento inicial por entender ser o 1° Juízo Cível de Loures incompetente em razão de matéria para a causa.

Fundamentou o assim decidido na circunstância de o Autor peticionar a separação judicial de bens e ser competente para tal, face ao disposto nas alíneas a) e b) do artigo 81° da Lei Orgânica dos Tribunais Judiciais, o Tribunal de Família.

2° - Todavia, porque a alínea a) daquele artigo se refere aos processos de jurisdição voluntária e a separação judicial de bens não é tal, aquela alínea a) não é ao caso aplicável.

E, porque a alínea b) se refere à separação judicial de pessoas e bens e ao divórcio, é igualmente inaplicável.

Donde, o Tribunal de Família é materialmente incompetente para julgar as acções de simples separação judicial de bens, sendo-o, ao invés, o Tribunal recorrido.

3º - De todo o modo, e face ao esclarecimento prestado, o que o Autor pretende é, na realidade, que se proceda a inventário para separação das meações, sua e de sua mulher.

E consequência directa e necessária desse procedimento é a de, a partir daí, o casamento passar a regular-se pelas regras do regime de separação de bens.

Donde, a competência material para o feito pertence aos Juízos Cíveis de Loures.

4° - Assim, pela procedência do recurso, deverá revogar-se o douto despacho e ordenando-se o recebimento do requerimento inicial para que os autos possam prosseguir no 1° Juízo Cível da Comarca de Loures.

*

II - Tendo em conta que de acordo com os arts. 684, nº 3, 690, nº 1, 660, nº 2 e 749, todos do CPC, o âmbito do recurso é delimitado pelas conclusões da alegação, a questão que nos é colocada no presente recurso é a de qual o Tribunal competente em razão da matéria para conhecer da presente acção – se o Tribunal de Família se o Tribunal Cível.

*

III - Com interesse para a decisão há que salientar as seguintes ocorrências no âmbito do processo:

1 – Endereçado aos Juízos Cíveis do Tribunal Judicial da Comarca de Loures

(3)

intentou A. processo que designou de «Acção com Processo Judicial – Inventário para Separação de Meações» contra B..

2 – Como fundamento da referida acção alegou o A.:

- ser casado com a R. em regime de comunhão de adquiridos;

- pender contra a R. no Serviço de Finanças de Odivelas execução fiscal em que foi penhorado um imóvel que integra o património comum do casal;

- no âmbito dessa execução ter sido citado para requerer, querendo, a

separação judicial de bens para efeitos do consignado no art. 239 do CPPT e do nº 3 do art. 825 do CPC, sendo o que ele, A., pretende que «se faça no presente processo, cujo segue os termos dos artigos 1404º a 1406º do Código de Processo Civil»;

- a alegada dívida fiscal respeita a veículo automóvel que a R. teria importado já na vigência da sociedade conjugal, mas nem o A. nem R. foram donos de veículo automóvel que houvessem importado; a ser verdade que a R. importou um veículo automóvel só o poderia ter feito à custa de dinheiros do casal, sendo certo que não o fez entrar no património comum, o que traduz má administração da R., susceptível de criar o perigo de o A. perder o que lhe pertence

- mostra-se, então, devidamente fundamentado o pedido que aqui se formula (arts. 1767 a 1772 do Código Civil);

- cabe ao A. exercer as funções de cabeça-de-casal.

3 – Concluiu o A. formulando o seguinte pedido: «Termos em que, e nos mais de direito, deve a acção ser julgada procedente por provada, decretando-se a separação judicial de bens entre o A. e a R., passando o seu casamento a reger-se segundo o regime de separação de bens e procedendo-se,

subsequentemente, à separação das meações de cada um dos cônjuges relativamente aos bens comuns do casal».

4 – E terminou nestes termos: «Haverá que citar-se a Ré para contestar, querendo, no prazo legal e sob a legal cominação…»

5 – O processo foi apresentado no 2º Juízo de Família e Menores do Tribunal Judicial da Comarca de Loures onde foi proferido despacho considerando que o processo foi incorrectamente distribuído uma vez que a p.i. foi endereçada aos Juízos Cíveis da Comarca de Loures, sendo que de acordo com o art. 81-c) da LOFTJ o Tribunal de Família e Menores é materialmente incompetente para apreciar e decidir a causa; determinou-se, então, a rectificação da

distribuição.

6 – Tal despacho foi notificado ao A., transitando em julgado.

7 – No Tribunal Judicial da Comarca de Loures foi proferido despacho em que se considerou que o A. pretende não só que se proceda a inventário para separação de meações, mas, também, que o tribunal decrete a separação

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judicial de bens entre A. e R., nos termos do disposto no art. 1767 a 1772 do CC, sendo este pedido prévio ao inventário e que a competência para a preparação e julgamento de acções de simples apreciação de bens é do

tribunal de família; na sequência, foi o tribunal declarado incompetente para conhecer do pedido formulado e indeferido liminarmente o requerimento inicial (despacho recorrido).

*

IV – 1 - Consoante alegado pelo A., na p.i. apresentada, no âmbito de

execução fiscal que pende contra a R. no Serviço de Finanças de Odivelas, foi aquele citado para requerer, querendo, a separação judicial de bens para efeitos do consignado no art. 239 do CPPT e do nº 3 do art. 825 do CPC.

Não oferece dúvidas que, naquela oportunidade, caberia ao aqui A.

requerer a separação de bens em processo de inventário nos termos do art. 1406 do CPC - processo que corre por apenso à execução e tem, entre outras, a particularidade de poder ser impulsionado não só pelo cônjuge do executado, como parte principal, mas também pelo exequente - ou juntar aos autos certidão comprovativa da pendência de processo de separação de bens já instaurado (1).

Uma situação paralela é a desenhada nos arts. 1767 a 1772 do CC: a da simples separação judicial de bens fundada na má administração dos bens, providência autónoma, constituindo objecto imediato de acção própria, assentando numa causa intrínseca da sociedade conjugal – a aludida má

administração de um dos cônjuges que põe em perigo os bens pertencentes ao outro.

Como referem Pires de Lima e Antunes Varela (2) paredes meias com a separação judicial fundada na má administração, regulada nos arts. 1767 e seguintes do CC, prevê a lei outros casos de separação como consequência de outros procedimentos judiciais, referidos genericamente na alínea d) do nº 1 do art. 1715 do CC, constituindo providências dependentes, acessórias ou marginais e reportando-se a situações em que a separação pode ser decretada independentemente de ter havido qualquer acto de má

administração de um dos cônjuges – entre estas últimas se encontrando aquela que tem lugar quando se pretende proceder à separação de bens requerida ao abrigo do disposto no art. 825 do CPC, a realizar de acordo com o art. 1406 do mesmo Código.

A separação judicial fundada na má administração é necessariamente judicial e litigiosa – art. 1768 do CC; não está incluída entre os processos especiais mencionados no CPC, pelo que terá de seguir a forma de processo comum ordinário. Transitada em julgado a sentença que decrete a

separação procede-se, então, à partilha dos bens comuns entre os

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cônjuges – art. 1770 do CC.

*

IV – 2 - No caso dos autos sucede que o A., aludindo embora aos arts. 1404 e 1406 do CC refere, seguidamente, que a alegada dívida fiscal respeita a

veículo automóvel que a R. teria importado já na vigência da sociedade conjugal, mas que nem o A. nem a R. foram donos de veículo automóvel que houvessem importado e que a ser verdade que a R. importou um veículo

automóvel só o poderia ter feito à custa de dinheiros do casal, sendo certo que não o fez entrar no património comum, o que traduz má administração da R., susceptível de criar o perigo de o A. perder o que lhe pertence. Acrescenta mostrar-se, então, devidamente fundamentado o pedido que aqui se formula, com menção dos arts. 1767 a 1772 do Código Civil, sendo esse pedido o seguinte: «Termos em que, e nos mais de direito, deve a acção ser julgada procedente por provada, decretando-se a separação judicial de bens entre o A.

e a R., passando o seu casamento a reger-se segundo o regime de separação de bens e procedendo-se, subsequentemente, à separação das meações de cada um dos cônjuges relativamente aos bens comuns do casal» (sublinhados nossos).

Para terminar, solicita a citação da Ré para contestar, querendo, no prazo e sob a legal cominação.

O pedido formulado pelo A. é o pedido correspondente à acção comum de simples separação judicial de bens, dizendo, embora, pretender que subsequentemente se venha a proceder à separação do património comum (nos termos previstos no art. 1770 do CC). Aliás, o A. solicita, como tramitação seguinte da acção, a citação da R. para contestar no prazo e sob cominação legal, o que corresponde à tramitação normal de uma acção comum, mas não à tramitação do processo de inventário… Sendo certo que nos fundamentos alude, igualmente, à má administração da R., susceptível de criar o perigo de o A. perder o que lhe pertence, chamando à colacção os arts. 1767 a 1772.

*

IV – 3 - Trata-se, no presente agravo, de definir qual o tribunal competente em razão da matéria. Ensinava Manuel de Andrade (3) que a competência do tribunal se afere pelo quid disputatum (quid decidendum, em antítese com aquilo que será mais tarde o quid decisum), sendo o que tradicionalmente se costuma exprimir dizendo que a competência se determina pelo pedido do autor; é ponto a resolver de acordo com a identidade das partes e com os termos da pretensão do autor (compreendidos aí os respectivos fundamentos) não importando averiguar quais deveriam ser as partes e os termos dessa pretensão.

Vimos acima que os termos da pretensão do A. se reconduziam a uma acção

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(de processo comum) de simples separação judicial de bens.

Cumpre, pois, verificar a que tribunal, em função da matéria, é atribuída a competência para processar e julgar tal acção.

Dispõe o art. 81 da LOFTJ (no que concerne à competência relativa a cônjuges e ex-cônjuges) que compete aos tribunais de família preparar e julgar:

a) Processos de jurisdição voluntária relativos a cônjuges;

b) Acções de separação de pessoas e bens e de divórcio, sem prejuízo do disposto no nº 2 do artigo 1773º do Código Civil;

c) Inventários requeridos na sequência de acções de separação de pessoas e bens e de divórcio, bem como os procedimentos cautelares com aqueles relacionados;

d) Acções de declaração de inexistência ou de anulação do casamento civil;

e) Acções intentadas com base no artigo 1647º e no nº 2 do artigo 1648º do Código Civil;

f) Acções e execuções por alimentos entre cônjuges e entre ex-cônjuges.

Ora, a presente acção não se integra em nenhuma das referidas alíneas. Não é um processo de jurisdição voluntária (trata-se de uma acção litigiosa); não é um inventário requerido na sequência de acção de separação de pessoas e bens ou de divórcio, nem procedimento cautelar com tais processos

relacionado; não é acção de declaração de inexistência ou de anulação do casamento civil nem acção intentada com base no artigo 1647º e no nº 2 do artigo 1648º do Código Civil; não é acção ou execução por alimentos. Também não se trata de acção de divórcio nem de acção «de separação de

pessoas e bens», mas de mera acção de separação judicial de bens. Enquanto as acções de divórcio e separação judicial de pessoas e bens estão

reguladas no capítulo XII do título II do Livro IV do Código Civil, as acções de simples separação judicial de bens estão reguladas no capítulo XI do

mesmo Livro. São acções que não se confundem: a simples separação judicial de bens cobre a situação institucionalizada de crise menos grave da sociedade conjugal, uma crise «epidérmica ou superficial que, ficando pela crosta

patrimonial do casamento, não atinge declaradamente a profundidade das relações pessoais entre os cônjuges. Por se cingir apenas às relações

patrimoniais, a simples separação judicial de bens se distingue da separação judicial de pessoas e bens, que, além das relações patrimoniais, atinge, ainda, os direitos e deveres pessoais dos cônjuges» (4)

Também em termos processuais existem marcadas diferenças; enquanto a acção de separação judicial de pessoas e bens pode ser litigiosa ou por mútuo consentimento, correspondendo em qualquer dos casos a um processo

especial (respectivamente arts. 1407-1408 e arts. 419-1424 do CPC) a acção de simples separação judicial de bens, como vimos, tem carácter litigioso e

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corresponde-lhe processo comum.

Talvez pelas suas diferenças estruturais a acção de simples separação de bens não está incluída no elenco constante do art. 81 da LOFTJ;

enquanto a separação de pessoas e bens tem um carácter sobremaneira

pessoal a simples separação de bens tem um carácter apenas patrimonial, em nada alterando os direitos e deveres inerentes ao casamento.

Deste modo, dada a sua não inclusão entre as matérias da competência do tribunal de família no que concerne a cônjuges e ex-cônjuges, a competência para o processamento e julgamento da presente acção é dos tribunais cíveis, consoante resulta do art. 94 da LOFTJ.

Saliente-se que nos situamos no âmbito da incompetência absoluta, em razão da matéria, assente no princípio da especialização dos tribunais, tendo em conta as regras que delimitam a jurisdição dos tribunais de acordo com a matéria ou o objecto do litígio (arts. 62 , 67 e 101 do CPC e 64 da LOFTJ).

O Tribunal de 1ª instância não se pronunciou sobre as consequências das regras decorrentes do valor da causa ou da forma de processo aplicável – não se chegou a pronunciar, concretamente, sobre a competência específica do tribunal (arts. 64, nº 2, 97 e 99 da LOFTJ), uma vez que se deteve sobre a (precedente) competência especializada. Tal questão, excede, pois, o âmbito deste recurso.

*

V - Face ao exposto, acordam os Juízes desta Relação em conceder

provimento ao agravo, revogando a decisão recorrida, substituída por outra que considere o tribunal competente em razão da matéria, devendo ser dado seguimento aos ulteriores termos processuais.

Sem custas.

*

Lisboa, 12 de Outubro de 2006

Maria José Mouro Neto Neves

Isabel Canadas

_____________________________________________

1.-Neste sentido, Lebre de Freitas, «A Acção Executiva à Luz do Código Revisto», 2ª edição, pag. 187, e Lopes Cardoso, «Partilhas Judiciais», vol. III, pags. 413 e 416.

(8)

2.-«Código de Processo Civil Anotado», vol. IV, pag. 503.

3.-«Noções Elementares de Processo Civil», pag. 91.

4.-Antunes Varela, «Direito da Família», pags. 435-436.

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