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ESPECIALIZADA EM CRIMES FINANCEIROS E LAVAGEM DE CAPITAIS DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA 6ª VARA ESPECIALIZADA EM CRIMES FINANCEIROS E LAVAGEM DE CAPITAIS DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO

Autos nº:0014695-64.2013.403.6181 Inquérito Policial nº0196/2013-11 DENÚNCIA nº 69034/2014

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do Procurador da República infra-assinado, vem à presença de Vossa Excelência oferecer DENÚNCIA em desfavor de

JOÃO FRANCISCO DE PAULO [“JOÃO FRANCISCO”] PAULO RICARDO FIGUEIRÓ [“PAULO RICARDO”] EDNALDO ALVES BISPO [“EDNALDO”]

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FABIANO MARCULINO MONTARROYOS [“FABIANO”]

pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.

1. Resumo das Imputações

No período compreendido entre fevereiro de 2013 a agosto de 2013, em diversos locais espalhados no território nacional, mas sobretudo a partir da cidade de Barueri – especificamente Alameda Grajaú, Alphaville, Barueri/SP, os denunciados JOÃO FRANCISCO, PAULO RICARDO, EDNALDO, SÉRGIO e

FABIANO, agindo todos em concurso e com unidade de desígnios,

por meio das empresas EMBRASYSTEM - TECNOLOGIAS EM SISTEMAS,

IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO LTDA., conhecida como “BBOM” (“EMBRASYSTEM/BBOM”” e BBRASIL ORGANIZAÇÕES E MÉTODOS LTDA. (“BBRASIL”), atuaram no mercado mobiliário, como se

instituição financeira esta última fosse, promovendo a captação de recursos de terceiros, sem a devida autorização dos órgãos competentes (art.27-E da Lei 6365/76).

No mesmo período, os denunciados JOÃO FRANCISCO,

PAULO RICARDO, EDNALDO, SÉRGIO e FABIANO, agindo todos em

concurso e com unidade de desígnios, por meio das empresas

EMBRASYSTEM/BBOM e BBRASIL, emitiram, oferecerem e negociaram

quase 1 milhão de títulos mobiliários, na forma de contratos de investimento coletivo, sem registro prévio de emissão junto à autoridade competente (art. 7º, II, da Lei 7492/86 c.c. art.

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2º, IX, da Lei 6385/76).

Também no período compreendido entre fevereiro de 2013 a agosto de 2013, os denunciados JOÃO FRANCISCO, SÉRGIO,

PAULO RICARDO, FABIANO e EDNALDO, agindo todos em concurso e

com unidade de desígnios, ainda dentro do mesmo período e contexto, na qualidade de administrador e colaboradores das empresas EMBRASYSTEM/BBOM e BBRASIL, obtiveram ganhos ilícitos em detrimento de quase 1 milhão de pessoas, mediante processos fraudulentos, desenvolvendo, assim, um grande esquema de “pirâmide financeira”, sob o disfarce de marketing multinível (art. 2º,IX, da Lei 1521/51).

Ademais, os denunciados JOÃO FRANCISCO, PAULO

RICARDO, EDNALDO, SÉRGIO e FABIANO, agindo todos em concurso e

com unidade de desígnios, no mesmo período e circunstâncias, na qualidade de administradores e diretores de instituição financeira de fato, desviaram e se apropriaram do dinheiro e de valores de terceiros investidores, dos quais tinham a posse, ocasionando prejuízos bilionários a aproximadamente 1 milhão pessoas, no montante de quase R$2 bilhões, em proveito próprio e alheio (art. 5º da Lei 7492/86).

De igual forma, os denunciados JOÃO FRANCISCO,

PAULO RICARDO, EDNALDO, SÉRGIO e FABIANO, agindo todos em

concurso e com unidade de desígnios, no mesmo período, induziram e mantiveram em erro os investidores que aderiram ao contrato de financiamento coletivo distribuído pela empresa

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EMBRASYSTEM/BBOM, relativamente a operação e situação

financeira, sonegando-lhes informação e as prestando falsamente, fazendo os investidores acreditarem que os valores por eles entregues seriam investidos em equipamentos (rastreadores), os quais, após serem entregues em comodato a terceiros, gerariam uma renda mensal em favor dos investidores, equivalente a, aproximadamente, 24% sobre as quantias inicialmente investidas, o que não correspondia à verdade (art. 6º da Lei 7492/86).

Também no período compreendido entre fevereiro de 2013 a agosto de 2013, os denunciados JOÃO FRANCISCO, PAULO

RICARDO e EDNALDO, por diversas vezes, ocultaram e

dissimularam a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de bens e valores provenientes, diretamente, de infração penal (art. 1º da Lei 9613/98).

Por derradeiro, no mesmo período, os denunciados

JOÃO FRANCISCO, SÉRGIO SÉRGIO, PAULO RICARDO, FABIANO e EDNALDO, agindo todos em concurso e com unidade de desígnios,

por meio das empresas EMBRASYSTEM/BBOM e BBRASIL, associaram-se, de forma a caracterizar verdadeira organização criminosa, para o fim específico de cometer diversos crimes contra o sistema financeiro nacional, contra a economia popular e de lavagem de capitais, ocasionando prejuízos bilionários, a quase 1 milhão de pessoas (art.288 do Código Penal).

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2.1. Atividade típica de Instituição Financeira: Atuação no mercado de valores mobiliários sem autorização (art. 27-E da Lei 6365/76)

No período compreendido entre fevereiro de 2013 a agosto de 2013, os denunciados JOÃO FRANCISCO, PAULO RICARDO,

EDNALDO, SÉRGIO e FABIANO, agindo todos em concurso e com

unidade de desígnios, por meio das empresas EMBRASYSTEM/BBOM e

BBRASIL, atuaram no mercado mobiliário, como se instituição

financeira esta última fosse, promovendo a captação de recursos de terceiros, sem a devida autorização dos órgãos competentes (art.27-E da Lei 6365/76).

Em princípio, para melhor entendimento dos fatos imputados aos denunciados, necessário detalhar a atuação da empresa EMBRASYSTEM/BBOM no mercado consumidor nacional.

Em breve síntese, as empresas EMBRASYSTEM (originalmente denominada UNEPXMIL TECNOLOGIA EM SOFTWARE LTDA. e cujo nome fantasia era “BBOM”) e a empresa BBRASIL (ex-KP ADMINISTRAÇÃO E PROJETOS INDUSTRIAIS LTDA) integravam o denominado “Sistema BBOM”1, e eram responsáveis pela

viabilização do esquema criminoso montado pelos denunciados

JOÃO FRANCISCO, PAULO RICARDO, EDNALDO, SÉRGIO e FABIANO.

1Ambas empresas possuem um sócio em comum, qual seja, JEFFERSON BERNARDO DE LIMA. Além da relação societária, verifica-se no site www.bbom.com.br, que a BBOM informa como sua sede exatamente o mesmo endereço da sede da BBrasil Organizações e Métodos Ltda, constante do registro dessa sociedade na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Alameda Grajaú, 129, Alphavílle, Barueri/SP). Verificou-se que JEFFERSON era funcionário da EMBRASYSTEM desde novembro de 2010, embora não registrado, e que JOÃO FRANCISCO era o verdadeiro administrador desta empreas (fls. 828/829).

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Por meio destas duas empresas (EMBRASYSTEM/BBOM e BBRASIL), no início de 2013, o denunciado JOÃO FRANCISCO se uniu aos denunciados SÉRGIO, PAULO RICARDO, FABIANO e EDNALDO para criar e desenvolver o chamado “Sistema BBOM”, que nada mais era do que uma gigantesca pirâmide financeira, que escondia um esquema montado para a prática, entre outros, de crimes financeiros e lavagem de dinheiro, sob a roupagem de Marketing Multinível2.

Com efeito, a BBOM se passava por uma empresa que atuava por meio de marketing multinível, no ramo de comodato3

de rastreadores e monitoramento de veículos. Mas na verdade, tal não passava de um verdadeiro engôdo, utilizado para mascarar a verdadeira atividade criminosa dos denunciados.

Em 13 de fevereiro de 2013 o denunciado JOÃO

FRANCISCO deu início às atividades da “BBOM”, dentro do

mercado nacional, oferecendo oportunidades aos consumidores “se associarem” ao chamado “Sistema BBOM”, desde que pagassem uma taxa de associação, no valor de R$60,00, uma mensalidade

2Embora se alegue que se trata de “marketing multinível”, não é o caso. Em poucas palavras, o que difere o marketing multinível das pirâmides financeiras é que naquelas o foco é a venda de produtos, enquanto nestas o foco é o recrutamento de pessoas para investirem no esquema. Realmente, o marketing multinível é um modelo comercial sustentável, constituindo uma prática legal, em que o integrante da rede pode ter ganhos financeiros tanto em razão da venda de produtos ou serviços que realiza como pelo recrutamento de outros vendedores. Nesse caso, seu faturamento será proporcional à receita gerada pelas vendas dos integrantes de sua rede e o faturamento é calculado sobre as vendas dos produtos. A venda do produto é, portanto, a base de sustentabilidade do negócio. É um modelo de negócios que premia com bônus agentes que ajudam a promover certos bens de consumo e serviços, em alternativa aos investimentos tradicionais em publicidade (Disponível em http://www.conjur.com.br/2013-jun-29/marketing-multinivel-nao-mesmo-piramide-financeira-especialista. Acesso em 9 de agosto de 2013). Em poucas palavras, enquanto no “marketing multinível” o foco está no produto, na pirâmide o foco está no recrutamento de novas pessoas (servindo o produto apenas como disfarce).

3Segundo o art. 579 do CC, “O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto”.

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referente a 01 rastreador (para uso pessoal do associado), no valor de R$80,00, e adquirissem um dos três planos oferecidos pela empresa.

O negócio era impulsionado por uma forte divulgação nos veículos de mídia e por meio da internet.

O chamariz do esquema foi criado pelo denunciado

EDNALDO, e se traduzia na distribuição de brindes milionários4

àqueles que logravam êxito em trazer novos “associados”. Desta maneira, os investidores em potencial, movidos pelas promessas de altos e fáceis lucros, ao assistirem a entrega de prêmios de luxo, se sentiam tentados a aderir ao Sistema BBOM.

Para tornar crível o sucesso do esquema, os denunciados PAULO RICARDO, FABIANO e SÉRGIO foram convidados por JOÃO FRANCISCO a encabeçar a “pirâmide”, formando o seleto grupo das “lideranças”, responsáveis por convencer consumidores de que investir na BBOM os deixariam ricos.

Em apertada síntese, o sistema BBOM funcionava da seguinte forma, que poderia ser dividida em três etapas: 1) na primeira etapa, para se tornar “associado”, o interessado deveria assinar um contrato (chamado “Contrato de Associação a

4Relógios Rolex, canetas Montblanc, automóveis Ferrari e Lamborghini. Tome-se como exemplo, o vídeo divulgado na internet por meio do YouTube com o código 7yfqOQ5Hxa4 (fls. 890), onde apresenta a entrega de um automóvel Lamborghini com valor de mercado superior a R$1.400.000,00 (um milhão e quatrocentos mil reais) ao “associado” líder, ora denunciado, PAULO RICARDO. O mesmo ocorreu com o evento de entrega de brindes, registrado pelo programa de televisão do apresentador Amaury Júnior e divulgado pela internet (código EuitrVfKz8s, fls. 890), onde a EMBRASYSTEM/BBOM, por meio do denunciado JOÃO FRANCISCO, informa ao público em geral que a empresa estava com apenas 83 (oitenta e três) dias de atuação e já distribuía brindes como canetas, relógios e veículos de alto valor.

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Parceria – Sistema BBOM”) e pagar um valor previamente estipulado, que variava entre R$ 600,00 a R$ 3.000,00. 2) Uma vez “associado”, era colocado à disposição do associado um determinado quantitativo de rastreadores de veículos. O associado tinha, supostamente, duas opções: a) fazer a venda direta do rastreador (receberia, neste caso, um bônus de venda direta) – hipótese que, na prática, não ocorria; b) deixar os rastreadores com a BBOM para que ela fizesse o aluguel deles a terceiros, mediante contrato de prestação de serviços de monitoramento. Neste último caso, o associado ganhava um percentual sobre o valor do contrato de prestação de serviços; 3) a BBOM pagava ao “associado”, no período de doze meses, um rendimento mensal fixo, que variava de R$ 160,00 a 800,00, a depender do plano.

Porém, na prática, o sistema funcionava muito diferente do divulgado. Era uma forma bem estruturada de mascarar a oferta de contratos de investimentos coletivos e de estruturar uma pirâmide financeira, com captação popular, sob a máscara de marketing multinível.

Vejamos com mais detalhes.

Para a pessoa interessada adentrar ao sistema, bastava que o associado firmasse com a BBOM um contrato de investimento coletivo - denominado, indevidamente, de “Contrato de Associação a Parceria – Sistema BBOM”5 - e 5 Um exemplar deste contrato consta a fls. 227/250.

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adquirisse um dos planos oferecidos. Ao “associado” (em verdade, investidor) também era facultado complementar os rendimentos oriundos dos planos aderidos, por meio da indicação de novos participantes.

A adesão aos planos oferecidos era obrigatória e o “associado” não precisaria fazer nada, além de pagar o valor indicado para cada plano, para então, ser remunerado pelo prazo de 12 meses. Os planos variavam entre R$ 600,00 a R$ 3.000,00.

Os valores pagos pelos planos deveriam ser, teoricamente, aplicados na aquisição de rastreadores de veículos. Quanto maior o plano, mais rastreadores, em tese, seriam adquiridos pela BBOM. A renda mensal que o “associado” tinha direito seria decorrente de um percentual incidente sobre a remuneração advinda do (suposto) serviço de rastreamento oferecido pela BBOM, que incluía o comodato destes rastreadores.

Havia três opções de planos, e como dito, um deles deveria ser, obrigatoriamente, adquirido pelo interessado, mediante pagamento à vista.

Os planos eram os seguintes: a) Plano Bronze – o investimento anual era de R$600,00; b) Plano Prata – o investimento anual era de R$1.800,00; c) Plano Ouro – o investimento anual era de R$3.000,00.

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número de rastreadores. Em todos os planos, o investidor ficava apenas com um rastreador para uso pessoal e a BBOM comercializava os demais com terceiros.6 O número de

rastreadores variava conforme o plano (quatro, doze e vinte rastreadores, nos Planos Bronze, Prata e Ouro, respectivamente).

Pelo uso do aparelho o associado deveria pagar a quantia de R$ 80,00 mensal (valor que poderia ser abatido dos ganhos que fizesse jus).

Na terceira etapa, a partir deste pagamento inicial, a EMBRASYSTEM/BBOM, por meio dos denunciados, assumia o compromisso de pagar aos investidores, no prazo de 12 meses, os seguintes valores: a) R$ 1.920,00 no plano Bronze, b) R$ 5.760,00, no plano Prata e c) R$ 9.600,00 no plano Ouro.

Este “rendimento”, gerado pelo “investimento” nos planos, era denominado “bônus comodato”. Este “bônus” era, em

verdade, uma forma de remuneração fixa paga pela empresa aos associados, em contraprestação pelo capital inicialmente pago.

Tal forma de “investimento” e de “rendimento” encontrava-se explícito nos sites da empresa7 - embora fosse 6Era possível que o próprio usuário ficasse com todos os rastreadores para diretamente locar a terceiros. Porém, esta hipótese era apenas fictícia, conforme será visto.

7Constava do sítio da internet: “Veja detalhes da Franquia de Pacote Bronze da BBom, onde tem um ganho de R$160,00 mensal, sem chamar ninguém e sem vender nada. Valor da Adesão: R$60. Valor do Investimento: R$600.

Quantidade de Rastreadores que será enviado a você: 01 . Quantidade de Rastreadores que ficará na empresa: 04. Valor da Mensalidade: R$80 (obrigatório). Duração do Contrato: 1 ano (renovável). Ganho Fixo Mensal: R$160. Ganho Anual: R$1920. Veja detalhes da Franquia de Pacote Prata da BBom, onde tem um ganho de R$480,00 mensal, sem chamar ninguém e sem vender nada. Valor da Adesão: R$60. Valor do Investimento: R$1800. Quantidade de Rastreadores que

será enviado a você: 01. Quantidade de Rastreadores que ficará na empresa: 11. Valor da Mensalidade: R$80 (obrigatório). Duração do Contrato: 1 ano (renovável). Ganho Fixo Mensal: R$480. Ganho Anual: R$5760. Veja detalhes da

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omitido nos contratos.

Segundo este sistema denominado “bônus comodato”, o associado adquiria um plano (nos valores de R$ 600,00, R$ 1.800,00 e R$ 3.000,00, mais o pagamento de uma taxa de cadastro, no valor de R$ 60,00, conforme visto), cuja verba seria destinada à compra de rastreadores que seriam entregues a supostos clientes da BBOM, pela prestação de supostos serviços de monitoramento.

Estes supostos clientes da empresa (terceiros), em tese, pagariam à BBOM determinado valor mensal pelo serviço de rastreamento oferecido pela empresa. Parte dos valores pagos por este serviço seria entregue ao associado8.

Porém, na prática, era prometido o recebimento de valores mensais e anuais pelo simples fato de se associar, sem

estar condicionado à verdadeira prestação dos serviços a terceiros.

A própria divulgação do site era clara: “Não será necessário fazer anúncios, apenas assinar o plano e esta Franquia de Pacote Ouro da BBom, onde tem um ganho de R$800,00 mensal, sem chamar ninguém e sem vender nada.

Valor da Adesão: R$60. Valor do Investimento: R$3000. Quantidade de Rastreadores que será enviado a você: 01. Quantidade de Rastreadores que ficará na empresa: 19 . Valor da Mensalidade: R$80 (obrigatório). Duração do Contrato: 1 ano (renovável). Ganho Fixo Mensal: R$800. Ganho Anual: R$9600” (grifo nosso). - http://www.noticiasbbomxorn/bbom/franquias-pacotes-dabbom/

8Confirma-se às fls.286, no site “dicasbbom”: - “Veja como realmente funciona os planos BBOM a depender de seu pacote de entrada, uma quantia fixa de rastreadores serão entregues em regime de comodato para outros clientes BBOM, que irão pagar uma mensalidade pelo uso dos equipamentos e serviços de rastreamento. Dessa forma, você receberá um percentual sobre o valor dos comodatos destes equipamentos durante o período contratual de um ano. Em suma, o fluxo natural opera da seguinte forma: • Você faz a adesão à um dos pacotes da empresa; • A empresa comodata os rastreadores para os seus clientes; • Você ganha um % do valor da mensalidade dos rastreadores comodatados.”

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qualificado”. Dizia ainda: Parece sensacional, você não

precisa fazer nada para começar a ver os ganhos bastando adquirir um dos pacotes oferecidos. (…) Você pode ganhar de R$160 até R$800 mensais apenas por fazer o cadastro na empresa em um dos planos propostos”.

A taxa de associação ou pagamento para adentrar na rede é justificada no contrato pelo custo de “aquisição do primeiro aparelho rastreador”. Porém, em verdade, sequer havia a entrega destes rastreadores, de sorte que o “bônus” era chamado de “comodato” apenas no nome, uma vez inexistir a entrega dos rastreadores. Tanto assim que, segundo a cláusula XI do contrato, o associado não tinha sequer o direito de fiscalizar o contrato de prestação de serviços e monitoramento,9 embora sua remuneração supostamente dependesse

deste contrato. Restava, portanto, apenas o “bônus” pela

entrega do dinheiro, sem qualquer tipo de comodato.

Conhecedores da ilicitude, os denunciados não faziam qualquer menção no contrato ao “bônus comodato”, pois tinham consciência de que esta prática era ilícita. Ademais, nos sites e na publicidade, não havia quase nenhuma informação sobre os rastreadores – que deveriam ser o verdadeiro sustentáculo da atividade da empresa.

Em síntese: era um recebimento de valores pela simples adesão ao plano, sem qualquer atividade por parte do

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consumidor.

Portanto, eram ofertados publicamente pelos denunciados contratos que geravam direito de remuneração, resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advinham supostamente do esforço do empreendedor EMBRASYSTEM/BBOM.

Tratava-se, portanto, de uma verdadeira venda de

contratos de investimento coletivo10, que somente poderiam ser

oferecidos ao público por meio de instituição financeira devidamente autorizada pelo órgão competente – CVM11. Isto

porque nenhuma emissão pública de valor mobiliário pode ser distribuída sem prévio registro na CVM. Voltaremos ao tema no próximo tópico, para demonstrar que se tratava verdadeiramente da emissão de contratos de investimento coletivo.

Para “complementar” a renda oriunda do “bônus comodato”, aos “investidores” eram oferecidas outras oportunidades, todas ligadas à formação de uma verdadeira pirâmide financeira e vinculadas diretamente à apresentação de um novo “associado” para se filiar ao Sistema BBOM. Porém, esta forma de complementação de renda era facultativa e

10Segundo o art. 2º, inciso IX da Lei 6368/76: “São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei: IX - quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros”. A Instrução CVM n. 296/1998, em seu artigo 2º, assim classifica a atividade: “Art. 2o Constituem valores mobiliários, sujeitos ao regime da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, quando ofertados publicamente, contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros”. Por sua vez, o art. 4º da mesma Instrução dispõe: “Art. 4o Podem ser ativo objeto dos contratos de investimento coletivo quaisquer produtos ou subprodutos destinados a fins comerciais”.

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eventual (ao contrário da remuneração decorrente do “bônus

comodato, que era geral e automática).

Assim, o rendimento referente à indicação de um novo investidor poderia gerar os chamados “Bônus de Início Rápido”, “Bônus de Equipe”, “Bônus de Equiparação”, “Bônus Residual” e “Bônus de Divisão de Lucro”.

Enfim, todas as opções acima mencionadas, apresentadas aos associados, eram fornecidas no sítio eletrônico da empresa – <www.bbomcomofunciona.com.br> e <www.noticiasbbom.com>”12.

Com relação à publicidade, a principal forma de divulgação do “Sistema BBOM” era a veiculação de vídeos na internet e a compra de espaço em meios de comunicação de grande amplitude (tais como propaganda no Fantástico e no programa Amaury Júnior), conforme se constata na mídia digital acostada às fls.890.

Repise-se que a divulgação da distribuição de produtos de alto valor econômico, a título de brindes em razão do bom desempenho do associado, era uma forma utilizada pela EMBRASYSTEM/BBOM para incentivar as pessoas a ingressarem na pirâmide.

Estranhamente, nos vídeos nada se fala sobre

12Após decisão proferida nos autos da Ação Cautelar ajuizada pelo Ministério Público Federal, ambos os sites saíram do ar, tendo sido substituídos pelo site http://www.bbom.com.br/oque.php, onde a empresa anuncia um “novo modelo”, diverso daquele outrora praticado. Contudo, à época, respectivas páginas foram devidamente impressas, e instruem os autos do inquérito policial que apuraram os fatos em comento.

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aquisição de rastreadores e venda de serviços de monitoramento.

De fato, não existia qualquer venda de serviços de monitoramento veicular, mas sim uma verdadeira captação de recursos de terceiros como forma de investimento com a promessa do lucro fácil e rápido, sem qualquer esforço por parte do investidor.

Não há, nesse caso, sustentabilidade do negócio, pois se funda unicamente nos pagamentos realizados pelos associados. Tal conclusão é compartilhada pelo Ministério da Fazenda às fls.813/826, em nota técnica emitida sobre o tema13.

Conforme será demonstrado nos próximos tópicos, os denunciados, por intermédio da empresa EMBRASYSTEM/BBOM,

13Veja a conclusão da Nota Técnica n. 119/2013, da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda: “Em contraposição, as informações apresentadas pela EMBRASYSTEM (BBOM) sugerem crescimento exponencial de receitas e taxa de retorno, superiores às próprias estimativas de crescimento de mercado apresentadas pela empresa - oriundas do IDC (International Data Corporation). Adicionalmente, não se identifica o comportamento dos custos dos produtos vendidos, conforme o padrão de mercado reportado acima, que permita a correlação entre o resultado da companhia e a natureza dos serviços prestados. De fato, salvo melhor juízo, e considerando as condições normais de atuação dos agentes econômicos no mercado de rastreamento de veículo, esta SEAE não conseguiu identificar motivo econômico justo e razoável capaz de explicar a explosão de rentabilidade observada pela EMBRASYSTEM (BBOM). Esse fato associado à dificuldade de a empresa utilizar mecanismo de recrutamento de novos entrantes para a rede, mediante a promessa de pagamento de comissões excessivas, mas que não se refletem em sua estrutura de custos, apontam para a possível insustentabilidade do modelo de negócio desenvolvido pela organização, em especial, conforme consta de seu plano de negócios, por "alimentar" a promessa de ganhos e rentabilidade de 24.430% em 5 anos, ou seja, cada R$ 1 real investido retornaria R$ 245,30 em 5 anos. Assim, não se vislumbra como razoável a ilação de haver, efetivamente, atividade econômica com capacidade de produzir tamanha rentabilidade do capital investido. De fato, salvo melhor juízo, a estrutura de negócios promovida pela Embrasystem (BBOM) não encontra paralelo quaisquer outras empresas atuantes no seu ramo de negócios. Grosso modo, em especial

quando se analisa o plano de negócios apresentado perante esta Secretaria, é possível concluir que a atividade da Embrasystem (BBOM) é insustentável no longo prazo. Para manter os níveis de rentabilidade projetados, seria necessária um ingresso contínuo e ilimitado de receitas ” (fls. 825/826).

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receberam cerca de R $2 bilhões14 pela venda de seus planos, em

prejuízo de, aproximadamente, 1 milhão de pessoas.

Portanto, a EMBRASYSTEM/BBOM atuava como uma verdade instituição financeira, que oferecia, sem qualquer autorização da Comissão de Valores Mobiliários, títulos mobiliários consubstanciados em contratos de investimento coletivo, denominados, indevidamente, de “Contrato de Parceria Empresarial – Sistema BBOM”, por meio do qual se prometia rendimentos estratosféricos aos investidores, de 24% ao mês, o qual somente era possível com o ingresso de novos associados, e não pela venda de qualquer serviço ou produto.

Assim agindo, durante o período de fevereiro de 2013 a agosto de 2013, os denunciados JOÃO FRANCISCO, SÉRGIO,

PAULO RICARDO, FABIANO e EDNALDO praticaram o delito previsto

no art.27-E da Lei 6385/76.

2.2. Emissão de emitiram títulos mobiliários, na forma de contratos de investimento coletivo, sem registro prévio de emissão junto à autoridade competente (“Bônus Comodato”). Art.7º, II da Lei 7492/86 c.c. art.2º, IX da Lei 6385/76

No período de fevereiro de 2013 a agosto de 2013,

14Este valor foi calculado com base na soma da coluna “valor do boleto” da planilha “boletos” contida na mídia de fls.1083, cujo resultado é de R$ 1.858.374.560,00. Este seria o valor total recebido pela EMBRASYSTEM/BBOM pelas vendas dos planos, requisito para acesso ao “Sistema BBOM”. Este valor também está de acordo com o Laudo nº3077/2014 (fls.11561189), onde aponta que a EMBRASYSTEM (UNEXMIL) recebeu em crédito, durante o mesmo período, cerca de R$1.732.207.040,22.

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por meio do esquema criminoso narrado no tópico anterior, os denunciados JOÃO FRANCISCO, PAULO RICARDO, EDNALDO, SÉRGIO e

FABIANO, agindo todos em concurso e com unidade de desígnios,

por meio das empresas EMBRASYSTEM/BBOM e BBRASIL, emitiram, oferecerem e negociaram quase 1 milhão de títulos mobiliários, na forma de contratos de investimento coletivo, sem registro prévio de emissão junto à autoridade competente, qual seja, a Comissão de Valores Mobiliários (art. 7º, II, da Lei 7492/86 c.c. art. 2º, IX, da Lei 6385/76).

Conforme demonstrado acima, aqueles que aderiam ao “Sistema BBOM” deveriam adquirir um de três planos, cada qual com um valor diferente. A partir deste pagamento inicial, sem

que houvesse qualquer esforço pessoal por parte do associado,

a EMBRASYSTEM/BBOM assumia o compromisso de pagar aos investidores, no prazo de 12 meses, “rendimentos”, de 24% ao mês, sobre o valor inicialmente “investido”. Estes rendimentos fixos eram chamados de “bônus comodato” pela empresa.

Os valores que seriam recebidos por este “bônus comodato” eram de R$ 1920,00, no plano Bronze, R$ 5760,00, no Plano prata, e R$ 9.600,00, no Plano Ouro, respectivamente -

pelo simples fato de se associar e pagar o valor. Por este

sistema, o investidor nada precisava fazer, a não ser aguardar o recebimento dos valores ao final de cada mês. A BBOM se comprometia a pagar os valores prometidos mesmo que os rastreadores não fossem entregues a terceiros, ou seja, independentemente ou não de haver pessoas interessadas em

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adquirir os supostos rastreadores, sem qualquer vinculação. Esta era a principal forma de remuneração e a que era automática e geral (todos os que investissem teriam direito). Isto está plenamente comprovado nos autos.15

A adesão aos planos se fazia por meio do preenchimento de um contrato de investimento coletivo, sob a roupagem de “Contrato de Parceria Empresarial – Sistema BBOM” (fls.227/250).

Tal contrato, em seu conteúdo, tinha pouca relação com a verdadeira atividade da BBOM, e, de forma evasiva, pouco esclarecia acerca do negócio realizado.

A partir de uma leitura atenta do aludido contrato, observa-se que este instrumento cuidava, exaustivamente, de temas irrelevantes para a relação jurídica. Os contratos e as cláusulas contratuais eram propositadamente complexas e confusas, não esclarecendo a modalidade de planos, os valores a serem pagos para a adesão, o valor das mensalidades, o objeto do contrato e nem a remuneração dos

15O denunciado PAULO RICARDO, em vídeo de divulgação na internet, afirmava que “o bônus comodato não tem qualquer ligação, não tem qualquer vínculo com vendas, nem com montar uma equipe(...), a própria BBOM irá angariar os clientes, comodatar os equipamentos” (fls. 1101). Em outra passagem afirmava: “não temos uma cota de vendas mensal que somos obrigado a cumprir, não existe isso, não temos obrigação alguma de vendas, então vender é para quem quiser”. Por fim, afirma: “porque o bônus comodato não tem nenhuma

relação com vendas e nem com montar equipe” (fls. 1102). O próprio denunciado JOÃO FRANCISCO, ao

ser ouvido, afirmou que havia um retorno prometido ao adquirir um plano, de acordo com o plano, sem necessidade de qualquer esforço do investidor, desde que deixasse os rastreadores com a BBOM. Confirmou, também, que o investidor não tinha compromisso de vender o produto ou de encontrar pessoas interessadas no rastreador, o que era responsabilidade da EMBRASYSTEM/BBOM. Confirmou, ainda, que os valores que associados recebiam em caso de adesão a um dos três planos era de R$ 1920,00, R$ 5760,00 e R$ 9600,00 por ano, conforme consta a fls. 166 (fls. 658/664).

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associados. Maliciosamente deixava de estabelecer os elementos essenciais de um contrato e não fazia qualquer menção às formas de remuneração dos associados e aos diversos bônus existentes. A omissão do contrato fica clara quando se verifica, na cláusula X, que o associado concordaria em

participar de palestras ou reuniões de demonstração dos produtos, onde seriam tratados assuntos relacionados a novas

propostas de serviços ou produtos.

Assim, para o entendimento pleno do contrato e da real atividade da empresa e a verdadeira essência dos contratos somente era possível caso se analisasse o contrato em conjunto com a divulgação feita pela internet e pelos sites da empresa, conforme orientava o próprio contrato.

E desta análise conjunta verifica-se que, em essência, se tratava de verdadeira negociação de contratos de investimento coletivo. Tratava-se, na prática, de uma oferta pública, que gerava direito de remuneração, cujos rendimentos advinham do (suposto) esforço do empreendedor (BBOM), qual seja, a prestação de serviços de rastreamento veicular, com a entrega de rastreadores em comodato. Caracteriza-se, na prática, um contrato de investimento coletivo, nos termos do art. 2º, inciso IX, da Lei 6385/7616.

Com efeito, constava como objeto do contrato, “o

16 Segundo a Lei 6385/76, art. 2º, inciso IX “São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei: (...) quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros”.

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comprometimento da BBOM de disponibilização ao ASSOCIADO de acesso ao Sistema BBOM, permitindo ao ASSOCIADO a adesão a 01

(um) pacote de benefícios, conforme as opções disponíveis no Regulamento Geral BBOM (instrumento autônomo e independente, mas que ora integra este como Anexo D), que incluirá ao menos

a aquisição de 01 (um) aparelho, rastreador, cujo manual e especificações encontram-se no Anexo C” (fls.230/231).

E mais, na cláusula 1.3 consta, expressamente, que o associado “terá direito de receber uma bonificação aplicada

sobre os valores recebidos pela BBOM decorrente de Contratos de Prestação de Serviços de Monitoramento e Rastreamento firmados com seus clientes, ou de clientes da BBOM, sempre que

tenham existido aparelhos rastreadores comodatados”.

A cláusula 2 segue afirmando que “constitui

condição essencial para associação e manutenção do status de ASSOCIADO (...) a escolha e adesão a 01 (um) pacote de benefícios, conforme as opções disponíveis e previstas no

Regulamento Geral BBOM, acompanhada do pagamento integral

respectiva da Taxa Associativa”.

Em outras palavras, apesar do grande vazio dos termos contratuais, que pouco esclarecem acerca do objeto que está sendo contratado, algumas cláusulas não deixam dúvidas sobre a necessidade de o “associado” pagar os valores referentes ao plano escolhido, além de uma taxa de adesão.

(21)

Portanto, a única coisa certa e inteligível no contrato firmado é o fato de que o associado deveria fazer um aporte obrigatório de valores e que receberia uma “bonificação

aplicada sobre os valores recebidos”.

Tratava-se, portanto, de uma verdadeira venda de contratos de investimento coletivo, cuja finalidade era nitidamente a captação de recursos do público investidor (associados), para aplicação em determinado empreendimento (serviço de rastreamento veicular), a ser implantando e gerenciado exclusivamente pelo empreendedor (BBOM), com a promessa de distribuir entre os investidores os lucros originados do empreendimento (24% ao mês sobre o valor inicialmente investido). Em poucas palavras, conforme bem apontou a Autoridade Policial, a pessoa entregava à EMBRASYSTEM-BBOM um determinado valor e por isto iria receber rendimentos superiores a 24% ao mês pelo prazo de um ano, sem qualquer esforço pessoal por parte do investidor.

Este rendimento oriundo dos planos aderidos - que não exigiam qualquer trabalho por parte dos associados - era chamado, pela BBOM, de “bônus comodato”, a principal forma de remuneração da imensa maioria dos que aderiram à BBOM. Os investidores não teriam que despender nenhum esforço pessoal para serem remunerados durante os 12 (doze) meses em que receberiam os prometidos “lucros” - o chamado “bônus comodato”.17 Tal como uma verdadeira contrato de investimento

coletivo, a EMBRASYSTEM/BBOM prometia aos

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investidores/associados, determinado “rendimentos” sobre o “investimento” inicial.

O investidor era informado que não precisaria fazer nenhum esforço pessoal, não precisaria vender nada e nem anunciar nada: bastava pagar o valor do plano escolhido.18

Simulava-se que a principal atividade da EMBRASYSTEM/BBOM era a venda, através do sistema de marketing

multinível, de serviços de rastreamento. Porém, em verdade, os

associados/investidores eram convencidos de que ficariam ricos “sem fazer nada”. Na prática não se mencionava a necessidade de venda dos rastreadores.

As vítimas19 confirmaram que o dinheiro

desembolsado para pagamento dos planos era um verdadeiro “investimento”, com promessa de “rendimento” futuro e que não

havia necessidade de vender nenhum produto ou serviço. As

vítimas não receberam nem mesmo o rastreador que lhes seria entregue para uso pessoal. Ademais, as vítimas viam o rastreador recebido como um brinde, para uso próprio (embora não tenham sequer recebido, em sua imensa maioria).20

Por outro lado, embora houvesse a possibilidade do

18Às fls. 280 consta um extrato do site “dicasbbom” onde há diversas passagens informando que o associado faz o aporte de capital, adquirindo um dos planos, e recebe lucros mensais “sem precisar vender nada e nem indicar ninguém”.

19 Rodrigo Oliveira de Aquino, Carlos Eduardo Jesus do Nascimento, Maurício Alencar de Lima, Moisés Vieira da Silva, Valter Sponton, Edson Cândido Pereira, Denny Garcia Garbujo, Vanderlei Santello, Marcos Gomes Covelo, Wilma Gonçalves e Luciano Ferreira dos Santos.

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chamado “bônus de venda direta” - ou seja, o próprio associado vender o serviço de rastreamento, por seu desforço – isto não acontecia na prática e era mera ficção, por várias razões.

De início, porque não houve, na esmagadora maioria dos casos, a entrega dos rastreadores pela EMBRASYSTEM, conforme será visto mais à frente (tópico 2.5). Embora alguns rastreadores tenham sido, de fato, adquiridos, o foram para que a empresa pudesse manter a aparência de que sobrevivia à base do serviço de rastreamento. Porém, os investidores não interferiam na atividade de comodado destes objetos (segundo cláusula contratual, não poderiam sequer fiscalizar).

Ademais, na prática, não havia qualquer atividade diretamente desenvolvida pelo investidor, pois o próprio contrato desestimulava o aluguel direto, já que era mais rentável deixar que a EMBRASYSTEM atuasse (o investidor ganharia 50% do valor) do que alugar diretamente (ganharia 10% do valor). Note-se que, de forma sutil, a BBOM desencorajava o associado a optar pela forma “direta de venda” de serviços, induzindo o associado a optar pela “bonificação sobre pacotes adquiridos21”.

21Como forma de disfarçar o esquema criminoso, a BBOM previa a possibilidade de o associado, por conta própria, vender os serviços de rastreamento oferecidos pela BBOM, e, por consequência, entregar diretamente o rastreador (em comodato) para tais clientes. Era o chamado “bônus de venda direta”. Contudo, neste caso, o associado faria jus ao recebimento, no prazo de 12 meses, a 10% do valor das mensalidades (tabeladas), pagas pelos clientes. Por outro lado, se o associado optasse pela “bonificação sobre pacotes adquiridos”, ou seja, por deixar a BBOM “arranjar” os clientes, o associado faria jus a 50% sobre tais mensalidades. Ora, não faz o menor sentido, pois no primeiro caso, o associado teria tido mais trabalho, pois teria se esforçado para conseguir clientes em favor da BBOM. Contudo, faria jus a um pagamento menor do que se simplesmente nada fizesse, apenas adquirindo o plano. O próprio denunciado JOÃO FRANCISCO declarou que foram poucas as vendas realizadas nesta modalidade de “bônus direto” (fls. 662).

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Isso é facilmente explicado: como não se tratava da venda de nenhum serviço de rastreamento e sequer havia rastreadores para todos os investidores, não interessava à BBOM que os associados angariassem “clientes” para comprar os serviços de rastreamento que sequer eram realmente prestados. Este serviço era apenas uma “fachada” para ludibriar os investidores e as autoridades públicas.

O próprio denunciado JOÃO FRANCISCO declarou que houve poucos destes “bônus de venda direta” e não apresentou o nome de nenhum associado que recebeu valores desta forma. Ademais, repita-se, não havia qualquer estímulo a este bônus, pois era muito melhor para o investidor permitir que a EMBRASYSTEM “vendesse” tais serviços.

Em verdade, este “bônus de venda direta” era apenas uma forma de burlar a ocorrência de um contrato de investimento coletiva, por vários motivos.

Por isso, o que realmente interessava à BBOM era a injeção de capital feita pelo investidor, no momento que integrava o Sistema BBOM, pois na realidade os rastreadores não seriam adquiridos e tampouco seriam dados entregues a terceiros. Embora alguns tenham sido provavelmente adquiridos, o foram apenas para mascarar e disfarçar a comercialização de títulos e valores mobiliários, através de contratos de investimentos coletivos.

(25)

Por fim, os demais bônus ofertados pela EMBRASYSTEM/BBOM – de captação de outros investidores e derivados disto – eram autônomos e independentes do funcionamento do “bônus comodato”. Ou seja, um investidor poderia apenas ter este último – decorrente da mera aquisição do plano -, mas não ter interesse em angariar outras pessoas. Estes demais bônus estavam ligados à pirâmide financeira, conforme será visto.

Enfim, por meio dos documentos aprendidos, em especial, do arquivo digital “boletos” (fls.1083), afere-se que a BBOM negociou e emitiu cerca 986.91722 contratos de investimento coletivo, amealhando uma quantia surpreendente, que girou em torno de R$2 bilhões23, quantia esta que foi apropriada e desviada pelos denunciados, conforme se verificará no próximo tópico.

Portanto, conclui-se que os denunciados ofereceram, negociaram e emitiram 986.917 títulos mobiliários, na forma de contratos de investimento coletivo, maliciosamente intitulados de “Contrato de Associação e Parceria Empresarial – Sistema BBOM, sem registro prévio de emissão junto à autoridade competente, auferindo ilicitamente o montante de

22Informação obtida pela análise feita pela Polícia Federal dos arquivos digitais apreendidos na empresa (fls.921/935 e 941/943).

23Este valor foi calculado com base na soma da coluna “valor do boleto” da planilha “boletos” contida na mídia de fls.1083, cujo resultado é de R$ 1.858.374.560,00. Este seria o valor total recebido pela EMBRASYSTEM/BBOM pelas vendas dos planos, requisito para acesso ao “Sistema BBOM”. Este valor também está de acordo com o Laudo nº3077/2014 (fls.11561189), onde aponta que a EMBRASYSTEM (UNEXMIL) recebeu em crédito, durante o mesmo período, cerca de R$1.732.207.040,22.

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aproximadamente cerca de R$2 bilhões.

Desta forma, restou evidente que o contrato formulado pela BBOM, em relação à emissão de “Bônus Comodato” - principal forma de remuneração dos investidores, repita-se - se enquadrava, em essência, no conceito de “contrato de investimento coletivo”, a exigir registro prévio na Comissão de Valores Mobiliários. E, no caso, as empresas não possuíam este registro para a emissão dos contratos.

Sobre a necessidade de registro na CVM, referida autarquia, em mais de uma ocasião, afirmou que o contrato firmado pela BBOM não se enquadraria no conceito de contrato de investimento coletivo pois não estava “previsto no contrato oferecido ao público” (fls. 972).

Porém, sem razão a autarquia.

De início, deve-se destacar que o esquema do “bônus comodato” era em tudo semelhante ao esquema Avestruz Master, no qual a CVM já reconheceu que houve apelo público à poupança mediante promessa de remuneração.24

24Não à toa, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) emitiu Alerta aos investidores nos seguintes termos, em relação ao esquema “Avestruz Master”, em tudo semelhante ao desenvolvido pela empresa BBOM: “ALERTA AVESTRUZ. Nesta data a CVM, por deliberação do Colegiado tomada em sua reunião de 30 de novembro de 2004, emitiu duas deliberações determinando a interrupção de certas práticas no mercado, atinentes à comercialização de Avestruzes. A Deliberação CVM nº 474 determinou a imediata interrupção pela empresa Avestruz Top da comercialização de avestruzes através de contratos que, em verdade, como podia ser constatado na página da referida empresa na Internet, outorgavam promessa de remuneração aos adquirentes de avestruzes, que poderiam manter os animais na posse da empresa vendedora, e ao final de certo período revendê-los por um preço previamente determinado. Tal atividade se constitui, nos termos da lei, em apelo

público à poupança mediante promessa de remuneração, e somente pode ser realizada por empresas devidamente registradas perante a CVM, através de distribuição pública igualmente registrada. A

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Ademais, o parecer da CVM se baseia em dois pressupostos que se mostram equivocados. O primeiro, é de que não se tratava de contrato de investimento coletivo pelo fato de o contrato ser omisso em relação à possibilidade de ganhar dinheiro sem esforço dos investidores. O segundo pressuposto equivocado é de que haveria necessariamente atuação e esforço do próprio investidor.

Sobre o primeiro ponto, verifica-se que a CVM, conforme bem ressaltou a Autoridade Policial, desprezou todos os elementos existentes para se ater apenas ao contrato. Se o quanto asseverado pela autarquia fosse correto, somente seria contrato de investimento coletivo aquele em que estivesse declarado, em palavras sacramentais, que não é exigido qualquer esforço do associado, o que mostra um apego excessivo ao formalismo e ao nominalismo. É intuitivo que o instituto deve ser caracterizado pela sua essência e não pelo nome dado a ele, sob pena de fragilizar e tornar inefetivo o próprio

Deliberação CVM nº 473, por sua vez, determinou a imediata interrupção pela empresa Avestruz Master da comercialização de avestruzes através de Cédulas de Produtor Rural que contenham, em seu bojo, elementos de indução à existência de uma promessa de rentabilidade consistente em um valor de recompra dos animais, bem com a imediata interrupção da utilização de um documento denominado "Certificado de Garantia de Mercado", que induz à existência de uma promessa de remuneração, pois "garante disponibilidade do mercado

para negociação" das aves. No caso da Avestruz Master, diante do recebimento, pela CVM, de 25 consultas e

reclamações em que se indagava sobre a natureza do investimento, e o eventual registro na CVM (dando-se inclusive notícia de que a suposta existência de tal registro teria sido mencionada por vendedores), foi ainda determinada a inclusão em qualquer documento de comercialização de avestruzes, com destaque, das seguintes ressalvas: a) que a empresa ou quaisquer outras empresas a ela ligadas, ou que com ela mantenham relação de natureza comercial, não se obriga a recomprar, do adquirente das CPR, as aves a ele alienadas; e, b) que a Avestruz Master e os investimentos por ela ofertados não são regulados ou fiscalizados pela CVM. A CVM não pretende impedir a negociação de ativos que não se constituam em valores mobiliários. Entretanto, esta

autarquia não se pode omitir no cumprimento de seu dever legal de impedir que o apelo público à poupança popular, quando envolver promessa de remuneração, seja realizado apenas e rigorosamente nos termos da lei, não sendo admissíveis condutas que visam a burlar tal restrição, mediante a utilização de textos pouco claros, ou indutoras de dúvidas no público investidor”. Disponível em

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papel da CVM de fiscalização do mercado de capitais. A própria autarquia, no caso Avestruz Master, asseverou não serem “admissíveis condutas que visam a burlar tal restrição, mediante a utilização de textos pouco claros, ou indutoras de dúvidas no público investidor”.

Se o entendimento da CVM fosse procedente, bastaria que houvesse uma cláusula em qualquer contrato – mesmo que fictícia – prevendo algum desforço por parte do investidor para descaracterizar o contrato de investimento coletivo e legitimar a atuação do agente para a emissão de contratos de investimento coletivo, com a captação ilegítima de valores da população. Em outras palavras, a seguir o entendimento da autarquia, somente haveria contrato de investimento coletivo se o próprio contrato afirmasse isto, declarando todos os seus elementos. A fraude e a facilidade em contornar a fiscalização seriam evidentes. No caso dos autos, os denunciados eram experientes na área e foram orientados juridicamente. A elaboração do contrato foi justamente pensada para evitar que se caracterizasse como contrato de investimento coletivo.

O segundo pressuposto equivocado da autarquia é de que haveria desforço por parte do investidor. A CVM não considerou as centenas de publicações feitas pela internet, as declarações dos próprios denunciados, em palestras pela rede mundial de computadores, as declarações das milhares de vítimas, etc. Conforme visto acima, à exaustão, para a

(29)

obtenção do “Bônus Comodato” - que era uma forma de remuneração mensal e automática – não era necessária a realização de nenhuma atividade ou desforço por parte do investidor. O fato de haver outras formas adjacentes, acessórias e eventuais de remuneração – que não interferem com o “bônus comodato” - não pode ser justificativa para afastar a caracterização do contrato de investimento coletivo. Não há,

em essência, incompatibilidade lógica entre o contrato de investimento coletivo e a pirâmide financeira. No presente

caso, o contrato de investimento coletivo decorria do “bônus comodato” (que era permanente em todos os contratos e em todas as adesões, com valor predeterminado e sem qualquer atividade do investidor), enquanto a pirâmide derivou dos demais bônus (que eram eventuais, adjacentes e acessórios – ou seja, ocorriam em apenas alguns casos, caso o investidor tivesse interesse).

Por fim, o entendimento da CVM não pode vincular o Poder Judiciário, sob pena de se transferir para a autarquia a interpretação, em última análise, das disposições legais e da prática de uma conduta delitiva.

Portanto não há dúvidas de que o contrato se enquadra no conceito legal de contrato de investimento coletivo. Assim agindo, os denunciados incorreram nas penas dos art. 7º, II, da Lei 7.492/86 c.c. art. 2º, IX, da Lei 6385/76.

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2.3. Do crime contra a economia popular (Demais bonificações) – Art.2º, IX, da Lei 1.521/51

Também no período compreendido entre fevereiro e agosto de 2013, os denunciados JOÃO FRANCISCO, SÉRGIO, PAULO

RICARDO, FABIANO e EDNALDO, agindo todos em concurso e com

unidade de desígnios, ainda dentro do mesmo contexto, na qualidade de administradores e colaboradores das empresas

EMBRASYSTEM/BBOM e BBRASIL, obtiveram ganhos ilícitos em

detrimento de quase 1 milhão de pessoas, mediante processos fraudulentos, desenvolvendo, assim, um grande esquema de “pirâmide financeira”, sob o disfarce de marketing multinível (art.2º,IX, da Lei 1521/51).

Segundo se apurou, após os associados ingressarem no Sistema BBOM, por meio da adesão obrigatória a um dos três planos oferecidos, eram oferecidas outras oportunidade para “complementar” aquela renda mensal.25

Estas complementações eram chamadas de “bônus de início rápido”, “bônus de equiparação”, “bônus residual”, “bônus de equipe” e “bônus de divisão de lucros”. Todos estes

bônus eram calculados com base no número de pessoas indicadas

pelo associado para adesão ao Sistema BBOM .

25O “bônus comodato”, conforme visto, independia de qualquer atividade por parte do investidor e, por isto, estava assegurado. Não dependia de qualquer desforço próprio, mas apenas da EMBRASYSTEM, razão pela qual era, em verdade, um contrato de investimento coletivo. Ao contrário, estes outros bônus oferecidos pela BBOM estavam ligados à pirâmide financeira, pois os rendimentos estão ligados ao tamanho da rede posicionado abaixo do participante da pirâmide financeira, conforme bem apontou a diligente Autoridade Policial (fls. 1096)

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Esta era a verdadeira formação da pirâmide financeira, pois o ganho crescia exponencialmente, à medida que o associado trazia outras pessoas para a pirâmide. Em razão da sua explícita ilicitude, não havia qualquer menção no contrato a tais bonificações, mas apenas no site da empresa e nas propagandas veiculas pela mídia.

No site da BBOM estavam devidamente explicados estes bônus, que tinham como único fato gerador o ingresso de novos associados, trazidos pelos já associados (fls. 28/32, Apenso VIII, Vol. III)26.

Assim, os participantes eram remunerados pela indicação e adesão de outros no Sistema BBOM, sem levar em consideração a venda de qualquer produto ou serviço. Os valores eram pagos aos beneficiários, dentre outros meios, por intermédio de Cartões Pré-pagos.27

26No sítio da internet constavam os seguintes bônus: “(…) 2 – Bônus de Inicio Rápido. 2ª Forma de Ganho na BBom –

Bônus de Inicio Rápido. A segunda forma de ganho na BBom é o bônus de inicio rápido, que seria um bônus de indicação. Você ganhará por cada indicado: Plano Bronze – 200 pontos – R$ 40,00; Plano Prata – 600 pontos – R$ 120,00; Plano Ouro – 1000 pontos – R$ 200,00 (…). 4 – Bônus de Equiparação. 4ª Forma de Ganho na BBOM – Bônus de Equiparação.

O Bônus de Equiparação lhe dará 2% sobre o bônus de comodato de sua rede até o 6º nível. Então por exemplo, você indicou uma pessoa que aderiu o plano ouro. Esta pessoa recebe R$ 800,00 por mês de bônus comodato. Você irá receber por cada pacote ouro o valor de R$ 16,00. Lembrando que este valor é adicionado aos outros bônus. 5 – Bônus Residual. 5ª

Forma de Ganho na BBOM – Bônus Residual. A quinta forma de ganho da BBom é o Bônus Residual. Com este bônus você receberá 6% (seis porcento) sobre os pontos gerados de mensalidade de rede até o 6º nível. Cada mensalidade irá gerar 25 pontos. 1º Nível – 6% 2º Nível – 6% 3º Nível – 6% 4º Nível – 6% 5º Nível – 6% 6º Nível – 6%. 6 – Bônus de Equipe. 6ª Forma de Ganho na BBOM – Bônus de Equipe. Nesta forma de ganho da BBOM, o bônus de equipe, você irá

ganhar 30% do volume de pontos gerados em sua menor perna da equipe. Veja ao exemplo abaixo: Perna da Esquerda – existe 30 planos ouro – 30.000 pontos – menor perna, recebe então R$ 9.000,00. Perna da Direita – existe 50 planos ouro – 50.000 pontos – maior perna. 7 – Bônus de Divisão de Lucros. 7ª Forma de

Ganho na BBom – Bônus de Divisão de Lucros. Para conseguir ganhar este Bônus, você deverá possuir cinco ou dez

pessoas diamantes em sua rede. No Bônus de divisão de lucros, você irá ganhar até 2% do faturamento liquido da empresa

global. Veja abaixo. 05 Pessoas Diamantes = 1%. 10 Pessoas Diamantes = 1%. Para uma pessoa se tornar Diamante, terá

que alcançar 500.000 pontos em sua perna menor da rede.”

(32)

Para que fique claro: todos os associados aderiam, primeiramente, aos planos oferecidos. Portanto, todos firmavam o contrato de investimento coletivo e passaram a ter direito de receber “rendimentos” mensais, advindos do chamado “bônus comodato”, sem que precisassem fazer qualquer esforço em contrapartida. Após, eram incentivados a agregar e complementar os valores do “bônus comodato” com os demais bônus, que seriam decorrentes diretamente do ingresso de pessoas apresentadas pelo associado e que passavam a fazer parte da sua “rede”.

O denunciado EDNALDO montou o esquema chamado de “binário”, o qual foi adotado por JOÃO FRANCISCO e divulgado por PAULO RICARDO, SÉRGIO e FABIANO. Por este sistema binário, o associado precisaria apresentar duas pessoas, as quais formariam as chamadas “perna direita” e “perna esquerda”, dando-se início à pirâmide. Cada “perna” daria início a uma cadeia formada por novos associados. O associado originário, que deu início a esta “micro-rede”, seria remunerado até o 6º nível. Cada novo associado teria a mesma oportunidade e assim, cada um daria início a uma nova rede, dentro do Sistema BBOM. De acordo com o número de “recrutados”, o associado “recrutador” recebia um título, por exemplo, “embaixador” ou “diamante”. Quanto maior o título, maior o brinde oferecido pela BBOM, podendo chegar a um automóvel Ferrari ou

distribuição de cartões pré-pagos” com a empresa WEBCARD ADMINISTRADORA DE CARTOES. Os cartões pré-pagos eram destinados pela WEBCARD aos associados da BBOM, como forma de pagamento dos rendimentos auferidos em razão de “Contrato de Associação e Parceria Empresarial – Sistema BBOM”. A VALE PRESENTES, ao questionar a WEBCARD sobre a origem dos valores transferidos àquela empresa , quedou-se em silêncio.

(33)

Lamborghini.

Graficamente, já se verifica a ideia de uma pirâmide, conforme pode ser visto a seguir:

A vítima (associado) passava, então, a apresentar familiares e amigos para se associarem à BBOM e, por consequência, para também aderirem a um dos três planos oferecidos, assinando o aludido contrato de investimento coletivo.

Todos os associados eram instigados a optar por uma das formas de “complementação”, sob a promessa de “fazer fortuna”, bastando, para tanto, que apresentassem novos participantes. No caso da BBOM, conforme documentos apreendidos na sede da empresa, verificou-se que foram captados cerca de 1 milhão de pessoas. O próprio denunciado

JOÃO FRANCISCO, questionado quantos rastreadores o denunciado RICARDO FIGUEIRÓ deveria vender para gerar ganho diário de

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cinquenta mil reais, declarou que “o que gera esses rendimentos elevados é a indicação de novos integrantes da rede, que são pagos de uma única vez” (fls. 664).

Neste contexto, a mando de JOÃO FRANCISCO, os denunciados SÉRGIO, PAULO RICARDO, EDVALDO e FABIANO persuadiam, com eficiência, os associados a optarem pela aludida “complementação”, sendo certo que estes três últimos o faziam por meio de vídeos acessíveis na internet, conforme se verifica do laudo de nº 1740/2014-NUCRIM/SETEC/SR/DPF/SP, fls.886/890.

Naqueles vídeos nada se fala sobre vender serviços de monitoramento, mas sim na captação de recursos de terceiros como forma de investimento com a promessa do lucro fácil e rápido.

Enfim, o ingresso de um novo associado era o que mantinha o sistema “vivo”, haja vista a ausência de uma verdadeira atividade comercial. O dinheiro pago pelos novos associados servia apenas para pagar os rendimentos prometidos para aqueles mais antigos (“líderes” e demais subordinados), característica própria das pirâmides financeiras, as quais não se sustentam, diante da necessidade de um número infinito de integrantes para garantir o pagamento de todos.28

Ao assim fazê-lo, além da atividade de pirâmide,

28O próprio denunciado JOÃO FRANCISCO declarou que “o dinheiro que entra na rede é utilizado para

pagar os rendimentos de comissionamento de novas entradas, pago em uma só vez , aquisição de

(35)

os denunciados captavam, intermediavam e aplicavam dinheiro de terceiros. Em síntese, pegavam dinheiro de novas vítimas para pagar os “rendimentos” prometidos aos que já tinham ingressado anteriormente no sistema.

Assim, diante da impossibilidade de manutenção da pirâmide financeira, sua derrocada é apenas uma questão de tempo. No caso da BBOM: 6 meses. Sobretudo diante da comprovada inexistência de um produto realmente existente, conforme visto acima.

No caso, sob o falso nome de “Marketing Multinível”, os denunciados desenvolveram uma pirâmide financeira, com diversas características típicas indicadas: (i) vendas exagerados; (ii) pouca ou nenhuma informação sobre a empresa, sendo que as informações são passadas apenas àqueles que desejam participar da rede, por meio de palestras; (iii) Promessas de rendimentos potencialmente ilimitados; (vi) inexistência real de produto (apenas uma fachada para a pirâmide); (v) vaga descrição do produto supostamente vendido; (v) obtenção de comissão recebida também pelo recrutamento de novos associados - e não através de vendas para consumidores não participantes do esquema.29

Conclui-se do exposto que os denunciados, com vistas a criar uma verdadeira pirâmide financeira, passaram a instigar os associados a indicar novos integrantes para o 29Neste sentido é também a Nota Técnica n. 25 da Secretaria de Acompanhamento Econômico (fls. 217/225)

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Sistema BBOM e com isso obtiveram ganhos ilícitos em detrimento de aproximadamente 1 milhão de pessoas, mediante ato conhecido como "pichardismo".

Assim agindo, os denunciados incorreram no tipo previsto no artigo 2º, inciso IX, da Lei 1.521/51.

2.4. Da apropriação e do desvio de valores – Art. 5º da Lei 7492/86

Ademais, entre fevereiro e agosto de 2013, os denunciados JOÃO FRANCISCO, PAULO RICARDO, EDNALDO, SÉRGIO e

FABIANO, agindo todos em concurso e com unidade de desígnios,

nas circunstâncias já descritas acima, na qualidade de administradores e diretores de instituição financeira de fato, desviaram e se apropriaram do dinheiro e de valores de terceiros investidores, de que tinham a posse, ocasionando prejuízos bilionários, a aproximadamente 1 milhão pessoas, no montante de quase R$2 bilhões, em proveito próprio e alheio.

Dentre os documentos apreendidos na sede da empresa, destaca-se o arquivo digital de fls.1083, com o título “boletos”, contendo uma planilha com diversas colunas onde se verificam os dados de todos os associados, tais como: o número do “id”; o “nome”; o “valor do boleto”; o “endereço”; o “CPF” ou “CNPJ”. Cada “id” representa a adesão a um plano. Extrai-se deste arquivo, que houve um total de 986.917 adesões

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vítimas30.

Excetuando-se alguns poucos felizardos localizados na ponta da pirâmide31, todo o restante amargou prejuízos.

Somente no site “RECLAME AQUI” cerca de 5.800 (cinco mil e oitocentas) vítimas registraram reclamações em face da EMBRASYSTEM/BBOM (fls.891/892). Também constam, ao menos, 1.800 ações cíveis ajuizadas em face desta empresa (item 12, fls.172/226 do Apenso V) e diversas reclamações no PROCON (fls. 981/1017)

Recapitulando, pela narrativa dos fatos feita nos tópicos anteriores, verifica-se que os investidores acreditavam que o dinheiro por eles investido seria aplicado na aquisição de rastreadores entregues em comodato para clientes dos serviços de rastreamento veicular da BBOM.

Os dados obtidos a partir da análise dos documentos apreendidos na empresa indicam que a EMBRASYSTEM/BBOM recebeu dos investidores cerca de R$2

bilhões32 de reais.

30Para se aferir o número exato de vítimas, deve-se excluir deste total aquelas que adquiriram mais de plano, bem como os poucos felizardos localizados na ponta da pirâmide.

31A planilha que possui o título “relatório divisão de lucros” apresenta 219 linha com “id”, “nome do usuário qualificado” e “valor”, ao aplicarmos a ferramenta de somar nesta coluna, teremos o montante de 290.667.093,9 a indicar que no período ali registrado foram distribuídos a pouco mais de 200 pessoas o montante em reais de R$ 290.667.093,90.

32Este valor foi calculado com base na soma da coluna “valor do boleto” da planilha “boletos”, contida na mídia de fls.1083, cujo resultado é de R$ 1.858.374.560,00. Este seria o valor total recebido pela EMBRASYSTEM/BBOM pelas vendas dos planos, requisito para acesso ao “Sistema BBOM”. Este valor também está de acordo com o Laudo nº3077/2014 (fls.11561189), onde aponta que a EMBRASYSTEM (UNEXMIL) recebeu em crédito, durante o mesmo período, cerca de R$1.732.207.040,22.

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Contudo, tais quantias foram apropriadas e desviadas pelos denunciados, contribuindo para a formação de suas fortunas.

Com efeito, os denunciados movimentaram altas somas de dinheiro, durante o período de funcionamento do Sistema BBOM. Estas somas, provenientes dos “investimentos” feitos pelos associados, eram apropriadas pelos próprios denunciados e muitas vezes desviadas em favor de terceiros para, conforme se demonstrará no tópico referente à lavagem de dinheiro, ocultar a sua origem ilícita.

De acordo com o Laudo de fls.1156/1168, considerando-se o montante de dinheiro transferido da EMBRASYSTEM/BBOM (UNEPXMIL) para a conta do denunciado JOÃO

FRANCISCO, verifica-se que este denunciado se apropriou de

mais de R$40 milhões33 de reais, recebidos da EMBRASYSTEM/BBOM,

chegando a investir, em maio e junho de 2013, o total de R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais) em planos de previdência. JOÃO FRANCISCO também se utilizou das contas de familiares próximos e das empresas registradas em nome destes parentes para desviar o dinheiro auferidos dos investidores lesados.

Com o dinheiro dos investidores, JOÃO FRANCISCO também adquiriu uma embarcação e um helicóptero (fls.1034/1035).

33Dados extraídos do Laudo 3077/2014, onde consta, na Tabela 3, os créditos recebidos por JOÃO

Referências

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