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O significado do acompanhante na assistência ao parto para a mulher e familiares [The meaning of the companion in the childbirth for woman and relatives]

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RESUMO - Introdução: No Brasil, através de estratégias criadas de humanização da assistência ao parto e nascimento é aprovada em 2005 a Lei nº 11.108 que propõe a presença de um acompanhante escolhido pela própria parturiente durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto, caracterizando-se como prática para uma assistência humanizada. Objetivos: conhecer a percepção da puérpera que teve a presença do acompanhante no trabalho de parto, parto e pós-parto imediato; conhecer a percepção do acompanhante sobre a experiência vivida e refletir acerca dos benefícios do acompanhante para a mulher, recém-nascido e família. Métodos: trata-se de um estudo exploratório e descritivo realizado no Hospital Sofia Feldman em Belo Horizonte, coletando-se dados por meio de entrevistas semi estruturadas realizadas com 13 puérperas e 13 acompanhantes. Resultados: a partir da análise dos resultados das entrevistas foram identificadas quatro categorias empíricas relacionadas ao significado do acompanhante e os benefícios da sua presença; experiências com o parto com e sem acompa-nhante e conhecimento sobre humanização e a lei do acompaacompa-nhante. Conclusões: os resultados revelaram a importância do acompanhante para a mulher, recém-nascido e para o próprio acompanhante, reforçando o que é preconizado pelo Ministério da Saúde sobre a atenção humanizada ao parto/nascimento.

Descritores: Acompanhantes formais em exames físicos; parto humanizado; trabalho de parto; parto; período pós-parto. ABSTRACT - Introduction: In Brazil, through strategies adopted to humanize the care during childbirth is supported by the Law nº 11.108 / 2005, that aimed at the presence of a companion chosen by the mother during the whole process of giving birth and postpartum. Objectives: to know the perception of postpartum women who had the presence of a companion during labor, delivery and the immediate postpartum period; to know the perceptions of the companion on this experience and to reflect on the benefits of a companion for women, newborns and families. Methods: This is an exploratory and descriptive study performed at Sofia Feldman Hospital in Belo Horizonte, collecting data through semi-structured interviews with 13 post-partum women and 13 companions. Results: From data analysis emerged four empirical categories related to the meaning of companion and the benefits of their presences; delivery experiences with or without a companion and knowledge of humani-zation and the law of companion. Conclusions: The results revealed the importance of companions for women, newborns and for the accompanying himself, reinforcing what is recommended by the Brazilian Ministry of Health on humanized birth care. Descriptors: Medical chaperones; humanizing delivery; labor obstetric; postpartum period.

RESUMEN - Introducción: En Brasil, a través de estrategias para humanizar el parto y el nacimiento, fue creada en 2005 la ley nº 11.108 para garantizar la presencia de un acompañante designado por la madre durante todo el proceso del parto y post-parto. Objetivo: conocer la percepción de la mujer que tuve la presencia del acompañante durante el proceso del parto y post-parto inmediato; conocer la percepción del acompañante acerca de la experiencia vivida y reflexionar sobre los bene-ficios de su acompañamiento para la mujer, recién nacido y familia. Método: Se trata de un estudio exploratorio y descriptivo en el Hospital Sofia Feldman, en Belo Horizonte. Los datos fueran recogidos a través de entrevistas semiestructuradas con 13 madres y 13 acompañantes. Resultados: La análisis de los resultados identificó cuatro categorías empíricas relacionadas con el significado del acompañante y los beneficios de su presencia; experiencias del trabajo de parto con y sin acompañante y conocimiento acerca de la humanización y de la ley del acompañante. Conclusión: Los resultados demostraron la importancia del acompañante para a la mujer, el recién nacido y para si mismo, lo que refuerza lo que recomienda el Ministerio de Salud de Brasil en la atención del parto humanizado y nacimiento.

Descriptores: Chaperones médicos; trabajo de parto; periodo posparto; parto humanizado.

O significado do acompanhante na assistência ao parto para a mulher e familiares

The meaning of the companion in the childbirth for woman and relatives

El significado del acompañante en el parto para las mujeres y familiares

Kele Andrade Ferreira1; Lélia Maria Madeira2

1Especialista em neonatologia. Assistente social do Hospital Sofia Feldman. Brasil. E-mail: keleandrade@yahoo.com.br 2Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Coordenadora da Linha de Ensino e Pesquisa do Hospital Sofia Feldman. Brasil.

Introdução

A relação entre parto e nascimento vem, ao longo da história, passando por modificações significativas. Historica-mente, o processo de parturição era algo natural que ocorria com a presença de mulheres e com a ajuda de parteiras,

responsáveis pela assistência ao parto e que proviam tanto o apoio físico quanto o conforto emocional.

Na Europa, até o século XVII, esse cenário era bem comum e, especificamente, no Brasil a assistência ao ISSN 2358-4661

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parto durante todo o século XIX permaneceu nas mãos das parteiras. Entretanto, no início do século XX em prol da redução das elevadas taxas de mortalidade materna e infantil inicia-se a inserção do médico e o uso da tecnologia na assistência ao parto e nascimento1.

Com tais mudanças além da mulher perder sua condição de empoderamento ao parir, a família deixa de participar do processo de nascimento, uma vez que isso é transferido para o médico e instituições hospitalares. Assim, quem passa a “acompanhar” essa mulher é a equipe médica que, muitas vezes, decide o que ela tem e deve fazer ficando a família ou acompanhante e a própria parturiente passiva no processo de trabalho de parto e parto o que prejudica a eficiência de uma assistência humanizada.

No Brasil, a partir de diversos movimentos sociais, são criadas estratégias de humanização da assistência visando resgatar o caráter natural e fisiológico do parto e nascimento. No que se refere ao acompanhante, em 2005 é aprovada a Lei nº 11.108 que obriga os serviços de saú-de do Sistema Único saú-de Saúsaú-de (SUS), saú-de resaú-de própria ou conveniada, permitirem a presença de um acompanhante escolhido pela própria parturiente durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, caracte-rizando assim uma das práticas preconizadas para uma as-sistência humanizada ao parto e nascimento2. Desta forma,

a presença do acompanhante no processo de nascimento tende a encorajar, estimular o exercício da autonomia e fortalecer o empoderamento da parturiente3.

Na maternidade do Hospital Sofia Feldman (HSF), ouvimos relatos dos acompanhantes sobre a importância de estarem com suas companheiras, filhas, amigas, netas e outras no momento do nascimento. Do mesmo modo, ouvimos as puérperas que ressaltam o valor de se ter alguém de confiança ao seu lado em um momento que muitos sentimentos se entrelaçam, como dúvidas, medos, ansiedades e as dores próprias do trabalho de parto.

Muitas vezes, os acompanhantes relatam experiências em outras instituições, onde não é permitida a presença do acompanhante da parturiente, sob diferentes justificativas. Alguns mencionam que há falta de preparo da equipe de saúde para acolher o acompanhante, observam insegurança por acreditarem que serão observados e vigiados e o que é mais frequente, a negação justificada pela estrutura física das instituições que ficam superlotadas e não comporta-riam, além da parturiente e a equipe, o acompanhante.

O trabalho realizado com o acompanhante no HSF mostra a viabilidade de cumprimento da Lei que garante sua presença, justificada pelos benefícios que proporciona à mulher, ao recém-nascido e à família, constatados em estudos científicos que tratam da importância da mudança do modelo assistencial ao parto e nascimento e, espe-cialmente, da presença do acompanhante no trabalho de parto e pós-parto imediato1. Neste sentido, os profissionais

envolvidos nos serviços de saúde têm que construir um serviço comprometido com o ato de cuidar do indivíduo, do coletivo e do social4.

Considerando que a prática do acompanhante no trabalho de parto e parto é benéfica para a mulher,

recém--nascido e família, que é uma prática relativamente recente no País, que já possui respaldo legal, mas ainda apresenta dificuldades para sua implantação nas maternidades pretende-se neste estudo conhecer qual seria o significado da presença do acompanhante na assistência ao parto, na visão da puérpera e do próprio acompanhante.

Método

Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva com abordagem qualitativa, realizado no HSF, instituição filantrópica, que presta assistência à mulher, recém-nascido e família, usuários do SUS. O Hospital foi escolhido como local do estudo pela sua história com a atenção humanizada ao parto e nascimento e, especialmente, por considerarmos que a prática do acompanhante de escolha da mulher já se encontra consolidada na Instituição. Além disso, está vinculado à Rede Cegonha que é uma estratégia do Mi-nistério da Saúde (MS), fundamentada nos princípios da humanização da assistência a mulheres, recém-nascidos e crianças, dentre esses, o direito ao acompanhante de livre escolha da gestante5.

Os sujeitos do estudo foram puérperas a partir da segunda gestação, moradoras de Belo Horizonte e outros Municípios, cujo parto aconteceu no HSF por via vaginal ou cesariana e que tiveram acompanhante desde a chegada à maternidade. Também, foi entrevistado o acompanhante que permaneceu durante todo o processo de parturição e que possuía vínculo familiar com a mesma, já que pretendíamos conhecer os benefícios do acompanhante para a família.

Os dados foram coletados no período de 31 de janeiro a 5 de abril de 2013 por meio de entrevistas semi estrutu-radas, sendo 13 com puérperas e 13 com seus respectivos acompanhantes. As entrevistas foram realizadas com mu-lheres a partir de 18 horas de pós-parto. Foram encerradas a partir do critério de saturação das informações6. Após lidas

e transcritas, foram organizadas em categorias empíricas, tendo como referência a técnica de análise de conteúdo proposta por Minayo7.

O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Sofia Feldman (CEP/HSF), número 158.451, em obediência à Resolução n° 466 de 2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS)8. As entrevistas

somente foram iniciadas após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelas mulheres e acompanhantes que aceitaram participar da pesquisa.

Resultados

Inicialmente, buscou-se caracterizar os entrevista-dos para melhor compreensão de suas falas. Quanto às puérperas, verificou-se que a idade variou entre 20 e 44 anos, em sua maioria estavam parindo o segundo filho e de parto normal e, quanto aos acompanhantes, predominou o companheiro, a idade variando entre 24 a 45 anos e apenas duas mães, uma com 66 anos e outra com 45 anos, e dentre os acompanhantes, apenas 2 mencionaram já terem tido a experiência de assistir parto anteriormente.

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Das entrevistas com as puérperas originaram quatro categorias empíricas e das entrevistas com os acompanhan-tes três categorias. Como houve semelhança nos discursos, as três categorias relativas aos acompanhantes receberam o mesmo título das respectivas categorias das puérperas e, por isto, serão apresentadas e analisadas conjuntamente.

O significado do acompanhante

Nos discursos das puérperas foi possível observar que, em relação ao significado do acompanhante durante a internação hospitalar, as entrevistadas atribuem grande importância a esta presença, uma vez que o acompanhan-te lhes proporciona força, segurança, tranquilidade, paz, principalmente em um momento que, para muitas, é de dúvidas e incertezas sobre o que pode acontecer com ela e o bebê. Do mesmo modo, a presença do acompanhante é percebida como de ajuda em situações práticas, como: carregar o bebê, ajudar no banho e outros, além de obser-var os procedimentos realizados com a mulher e bebê. Tais argumentos podem ser exemplificados no relato a seguir:

Eu acho indispensável porque a gente chega ao hospital cheio de dúvidas, frágil não sabe o que vai acontecer aí ter um acompanhante nessa hora é fundamental. Foi escolha minha e dele a gente já conversava sobre isso deste o início (Puerpera 9).

Já nos resultados das entrevistas com os acompanhan-tes, observamos que para estes o significado da sua pre-sença é algo difícil de explicar e as expressões mais usadas foram emoção, felicidade, experiência única e satisfação ao presenciar o nascimento de uma criança. Sentem que sua presença é fundamental e acreditam ser responsáveis pelo suporte e ajuda a essas mulheres.

Ótima, é muito importante, uma coisa que eu vivi e não vou esquecer jamais, foi o primeiro parto que assisti [...]. Já viemos sabendo que ia ser cesárea. Então, a gente dá uma força pra ela e é uma experiência a mais no caso, pois eu vivi uma experiência que eu nunca vivi (Acompanhante 3). Benefícios percebidos com a presença do acom-panhante, em relação à própria mulher, ao recém--nascido e à família

Em relação aos benefícios para a mulher em ter um acompanhante durante a internação, observa-se nos discur-sos que o sentimento mais comum é de força, acolhimento e segurança no processo de nascimento do filho.

O acompanhante é visto pela mulher e por eles pró-prios como um apoio emocional que aumenta a confiança da mulher para conseguir parir.

Eu acho ótimo porque eu não iria conseguir ficar em uma sala de parto sozinha igual minha mãe ficou comigo a noite inteira e ele entrou só pra assistir o parto, mas foi ótimo também, e depois ele sentou atrás de mim me segurou então foi ótimo [...] eu senti muita diferença porque se ele não tivesse lá como eu tinha feito? Porque eu sofri demais. Então o papel do acompanhante é acompanhar, ajudar a cuidar (Puerpera 13).

Os acompanhantes entrevistados são unânimes em reconhecer que a ajuda que podem prestar à mulher em atividades práticas durante a internação é muito importante.

Em relação ao benefício para o recém-nascido é per-cebido nas entrevistas das puérperas e acompanhantes que o contato imediato, principalmente com o pai, proporciona maior vínculo e fortalece os laços entre pai e filho sendo benéfico para o recém-nascido e seus pais.

[...] por mais que elas sejam tão pequenininhas e não entendem, mas isso vai ficar marcado porque isso a gente vai contar pra elas e, automaticamente, a criança desde que ela está aqui dentro ela sabe do carinho, do amor que elas recebem. Então eu tenho certeza que elas estão sentindo o calor do pai, da presença paterna [...] elas são muito pequenininhas, mas conhecem a presença do pai, a presença da mãe (Puerpera 10).

Além disso, os acompanhantes mencionam ainda como benefício para a mulher e o bebê, a proteção que ele pode oferecer-lhes durante sua presença no hospital, pois exerce um papel de vigilância dos processos utilizados, como exames e avaliações médicas.

A mulher fica mais segura, tranquila, pro bebê é bom por-que ele (pai) tá ali ajudando a tomar conta, observando o que está acontecendo [...] (Acompanhante 5).

Já os benefícios para a família tanto as puérperas quanto os acompanhantes pontuam que a presença do acompanhante favorece maior união e fortalecimento dos laços afetivos, pois é um momento que fará parte da história daquela família.

Eu vejo que é bom porque, quando minha mãe soube que ele (companheiro) estava comigo ela ficou mais tranquila, eu acho que a família fica mais unida (Puerpera 3). Experiências com o parto com e sem acompanhante

Esta categoria diz respeito apenas às puérperas, uma vez que se pretendeu conhecer experiências anteriores com partos nos quais não tiveram o acompanhante.

Dentre as entrevistadas, 4 mencionaram experiência anterior com partos sem acompanhante e, ao compararem a experiência com a atual, percebem claramente a diferen-ça, especialmente, no que se refere aos aspectos emocio-nais, pois consideram que a presença do acompanhante proporciona à mulher maior segurança, força e ajuda no processo de parturição.

Nos outros eu não tive ninguém, foi mais difícil, essa é a primeira filha com ele, ele teve perto o tempo todo, me ajudou bastante, deu força, carinho, apoio, me senti mais valorizada... (Puerpera 2).

Das outras eu não tive acompanhante, meu marido na época não acompanhou e só depois que nascia é que minha mãe podia entrar, mas não podia dormir com a gente. Agora é muito melhor (Puerpera 3).

Nessas falas, observa-se que as mulheres tem clareza sobre a pessoa que elas desejam como acompanhante na maternidade, especialmente pelo apoio emocional que

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os mesmos lhes proporcionam. Entretanto, é importante destacar que mesmo tendo o acompanhante que possui vínculo familiar e afetivo com a mulher deve ser assegura-da à mesma a presença dos profissionais assegura-da assistência e, também, as doulas, pois quando se trata de suporte que envolve a utilização de técnicas específicas de alívio da dor, respiração e outros, a presença de um profissional qualifi-cado completa uma assistência mais adequada no que diz respeito a sua segurança física, emocional e psicológica.

Conhecimento sobre a humanização do parto e a lei do acompanhante

Em relação ao parto vivenciado na Instituição, observa-se que ainda há equívocos por parte das usuárias que confundem “parto humanizado” com o parto natural, sem analgesia, “forçado” e que provoca dor e sofrimento na mulher. Duas das entrevistas refletem esta assertiva:

[...] quando eu cheguei aqui e fiquei sabendo como é que era, eu falei assim com a minha mãe, mãe eu tô com medo, porque aqui não tem anestesia é tudo natural, porque da minha menina, eu levei anestesia, me cortaram, meu parto foi todo induzido então, eu não senti dor nenhuma. Dele não, eu já sofri bastante pra ele nascer, [...] eu sofri bas-tante, eu sofri demais pra poder ter ele, então eu preferia, no meu caso ter sido igual da minha menina [...] a gente sofre mais, porque é tudo natural, não passam nada na gente é só força e vontade de Deus pra ele vim (Puerpera 1).

Retomando os discursos dos acompanhantes entrevis-tados, observa-se que os mesmos reconhecem que o parto humanizado é uma modalidade assistencial que permite melhor acolhimento aos usuários, com mais carinho e atenção por parte dos profissionais.

Parto humanizado foi isso que aconteceu com ela, trata-ram ela muito bem, teve um carinho muito grande por ela, respeitou ela como pessoa, parto humanizado é isso (Acompanhante 2).

Algumas das mulheres falaram do “parto humaniza-do”, relacionando-o às técnicas que proporcionam o alívio da dor:

Eu já tinha ouvido falar, mas mudou muito ultimamente, hoje tem várias técnicas, vai pra debaixo do chuveiro, tem ginástica, antigamente não tinha, igual me mandou ficar em pé pra ter neném (Puerpera 2).

Em relação à Lei do Acompanhante, ao serem questio-nados se já a conheciam, constatou-se que das 13 puérperas entrevistadas 10 não sabiam deste direito e dos 13 acompa-nhantes entrevistados 11 desconheciam a existência da Lei, sinalizando as deficiências das informações que deveriam ter sido repassadas no pré-natal. Aqueles que afirmaram já terem ouvido falar sobre a Lei n° 11.108 de 2005, indicam como fonte da informação os meios de comunicação, como internet e televisão.

Olha, a minha opinião agora a respeito dessa questão, desse direito de se ter um acompanhante para a gestante é muito importante, [...] eu cheguei a ver até uma reportagem na televisão que todo hospital é obrigado a deixar a mãe a ter

uma acompanhante do inicio da internação até a hora da alta e caso queira o acompanhante ou a mãe fazer mudança na hora de revezar é muito importante porque dá a gente mais segurança. [...] Eu acho muito importante essa ini-ciativa do governo, do Ministério da Saúde (Puerpera 10).

Verifica-se que, apesar do pouco conhecimento acerca da Lei do Acompanhante, sua relevância já é reconhecida por aqueles que tiveram a experiência de vivenciar seus preceitos.

Discussão

Diante dos relatos apresentados, percebe-se verda-deiramente que a presença do acompanhante significa segurança para a parturiente, uma vez que o contato com uma pessoa de confiança da mulher proporciona a esta se sentir mais confortável para vivenciar o nascimento do filho e, além disso, a presença de uma pessoa com a qual possui vínculo gera a elevação da autoestima e sensação de apoio resultando assim, em satisfação e segurança, pois o alcance do bem estar acontece quando a parturiente se sente amada e respeitada9.

Nesta perspectiva, os familiares ou pessoas mais próximas da parturiente é que são responsáveis por apoiar emocionalmente essa mulher em um momento tão espe-cial, principalmente por poderem se sentir fragilizadas no ambiente hospitalar3.

Na dinâmica do trabalho no ambiente hospitalar a demanda é tão intensa que o tempo dedicado pelos profissionais para prover apoio à parturiente não supre o período que se gasta com uma assistência contínua a paciente10. Atrelado a isto, o protocolo de assistência ao

parto do MS ressalta a necessidade da parturiente estar ao lado do acompanhante de sua escolha durante o processo de parturição. Desta forma, no atendimento ao parto, esse novo personagem irá influenciar na forma como a mulher vivencia esse processo, do mesmo modo que tal presença pode impactar nos resultados e na experiência do parto. A presença e participação ativa do acompanhante provê suporte capaz de produzir modificações na assistência obstétrica, sendo importante que essa presença seja esti-mulada como forma de proporcionar uma vivência singular para a mulher e seus familiares11.

A presença do homem na cena do parto também é um fator importante, uma vez que durante o trabalho de parto as mulheres desejam a presença de uma pessoa conhecida estabelecendo a necessidade de uma relação com essa pessoa no processo de parturição e na nossa sociedade, frequentemente é o pai do bebê o principal acompanhan-te12. Sendo assim, a presença do companheiro fornece

encorajamento à mulher para o enfrentamento das dores, ansiedades e expectativas antes, durante e no pós-parto.

Sobre o acompanhante pai, esse fortalecimento de vínculo mencionado pelas mulheres entrevistadas pode estar atrelado à confirmação da paternidade, valorizando o papel de progenitor. Portanto, não se deve negar ao pai acompanhante a vivência do momento de nascimento de um filho, considerado um dos momentos mais importantes

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na vida do ser humano. O nascimento significa o ponto máximo da gestação, visto que o bebê torna-se real, po-dendo ser pego nos braços, o que proporciona emoções marcantes13.

Considerações sobre a natureza e o valor do suporte de profissionais e não profissionais no processo de parturição tem sido foco de diversos estudos. Muitos destes apresentam ideias antagônicas a respeito deste suporte. Alguns profissio-nais defendem que a participação do acompanhante deve ser ativa o que pode acontecer através de exercícios e massagens especificas para o momento, já outros profissionais acreditam que esta participação é uma condição passiva e consideram o acompanhante como mero espectador do parto e nasci-mento11. Entretanto, no presente estudo, a contundência dos

discursos tanto das puérperas quanto dos companheiros en-trevistados leva-nos a refletir se há mesmo esta incerteza ou não. Nas falas analisadas é inegável o significado expressivo da presença de acompanhante companheiro para a mulher, para o bebê e para a família. Apesar de ainda serem poucos os estudos sobre a temática, não se deve ignorar os resultados positivos de tal prática14.

Ressalta-se que, dentre todos os entrevistados, ape-nas uma puérpera menciona não ter observado nenhuma mudança ocorrida na família em função do acompanhante que esteve presente durante sua internação. Analisando mais atentamente seu discurso não foi possível identificar nenhum fato significativo ou explicativo para tal afirmativa. Quando se fala de humanização no parto é importante refletir que não se está falando de um tipo de parto, mas de um processo a ser compreendido. Neste contexto, pode-se ressaltar que o termo humanização do parto pode ser perce-bido como propostas de mudanças no modelo das práticas existentes o que traz ao cotidiano dos serviços novos concei-tos que tende a ser também conflitantes. Sendo assim, faz-se importante salientar que os atores sociais que utilizam as abordagens baseadas em evidências científicas e também em direitos tentam recriá-las de forma a serem utilizadas como instrumento de mudanças, o que acontece paulatinamente. Assim sendo, humanização se torna um termo estratégico usado para dialogar sobre a violência institucional, diálogo esse que acontece com os profissionais de saúde15.

Com o surgimento dos hospitais e o desenvolvimento tecnológico sob a ótica biologicista, a visão do processo de adoecer foi reduzido à perspectiva do corpo como máqui-na defeituosa16. Em relação ao parto, a mulher ao chegar

aos hospitais para dar a luz é submetida, em sua grande maioria, a procedimentos médicos invasivos, fazendo com que elas percam sua condição natural de parir, afetando o seu empoderamento enquanto mulher que gerou e está prestes a trazer seu filho ao mundo. Ao longo dos anos o lócus de nascimento foi passando do ambiente domiciliar para o ambiente hospitalar e o conhecimento científico, com toda sua hegemonia, vem tentando superar aqueles que reconheceriam as necessidades da mulher durante esse momento na vida da mesma, como exemplo as doulas ou o próprio acompanhante17.

Outro ponto fundamental, é que, um acompanhante de livre escolha da mulher sendo de seu vínculo social,

estando ao seu lado, oferece maior segurança e apoio, impedindo assim, qualquer possibilidade de violência institucional18. Considerando o trabalho de parto e parto

como momentos intensos para a mulher, seja do ponto de vista físico quanto emocional, a parturiente pode vivenciar diversos sentimentos e sensações já exemplificadas, como medo, angústia, alegria, tristeza, desde a contenção até a expressão de sensações físicas e emocionais19. Assim,

um procedimento hospitalar que pode trazer ansiedade para a parturiente e seus familiares é a não permissão do acompanhante de escolha da mulher e que, nesses casos, podem ocorrer violências físicas ou verbais que agridem a dignidade da mesma17.

Além disso, ao considerar a gravidez, parto e nasci-mento como doença, há excessiva preocupação com a segu-rança da mulher, deixando de lado aspectos fundamentais para seu bem estar e de seus familiares, que são aspectos emocionais, humanos e culturais do parto. Todos esses estudos e esforços para garantir à mulher uma condição de parir mais digna e segura, nos faz refletir sobre a atenção humanizada ao parto, sendo assim é importante pensar em políticas que tragam amparo a uma nova forma de se pensar a assistência. Em 2000, foi instituído pelo MS, através da Portaria GM n° 569, o Programa de Humanização no Pré--natal e Nascimento (PHPN) direcionado ao atendimento específico da gestante e do recém-nascido, do pré-natal ao pós-parto20. Em 2001, é lançado o Programa Nacional de

Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) visando mudanças na assistência ao usuário nos hospitais públicos do Brasil21. Em 2003, surge a Política Nacional de

Huma-nização (PNH), também conhecida como HumanizaSUS, que engloba as iniciativas já existentes, aproximando-as e potencializando-as22.

Dentre os dispositivos da PNH estão a Visita Aberta e Direito ao Acompanhante cujo objetivo é ampliar o acesso dos visitantes às unidades de internação, garantindo o elo entre o paciente, sua rede social e os diversos serviços de saúde. Além disso, a PNH reconhece o acompanhante como um representante da rede social da pessoa internada, a quem deve acompanhar durante toda sua permanência no hospital16. Nesta perspectiva, a presença do acompanhante,

representante da rede social da mulher, é fundamental e pode vir a modificar as relações de poder das instituições, uma vez que, como usuário passa a ter maior participação e a ser protagonista no sistema de saúde.

Conclusão

O momento do parto é único na vida da mulher, mesmo para aquelas que já tiveram outros filhos, pois cada experiência é particular no que diz respeito ao atendimento e acolhimento antes, durante e no pós-parto imediato.

Neste estudo, constatou-se que a presença do acom-panhante durante todo o período de internação da mulher no processo de parturição, traz benefícios significativos para a mulher, para o bebê e para o próprio acompanhante. As sensações de segurança, força, tranquilidade e de se sentir mais amada pelo companheiro foram expressões presentes na maioria dos discursos colhidos durantes as entrevistas.

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Atrelado a isso, constatou-se que os acompanhantes se sen-tem corresponsáveis por uma melhor estadia da mulher no hospital, destacando a importância como apoio emocional e da possibilidade de ajuda em atividade práticas, propor-cionados pelo acompanhamento da mulher.

Em relação ao parto humanizado verificou-se que a maioria das puérperas e acompanhantes nunca tinham ouvido falar ou não sabiam o significado do termo, mesmo tendo vivenciado técnicas não farmacológicas de alívio da dor, como recomendadas pelo MS. Do mesmo modo, a Lei do Acompanhante era desconhecida por grande parte dos entrevistados e os casais que relataram conhecê-la, informaram ter acessado a informação através de meios de comunicação, como internet e televisão.

Desta forma, acredita-se que é necessário melhorar as estratégias de orientação às gestantes e familiares acerca de seus direitos, principalmente em relação ao parto, incluindo o direito ao acompanhante da escolha da mulher antes, durante e no pós-parto, essas estratégias não devem ser somente papel do médico, mas principalmente da equipe multidisciplinar envolvida no cuidado materno- infantil.

A ampliação dessa informação e o reconhecimento desse direito por parte dos profissionais e das instituições de saúde são fundamentais para a melhoria da qualidade da assistência e para a consolidação da humanização da atenção ao parto e nascimento no País.

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Referências

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