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Um estudo sobre os direitos humanos no Brasil

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO

RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO

CURSO DE HISTÓRIA

KAREN STÉFANIE GAI

UM ESTUDO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

IJUÍ (RS)

Julho/2018

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KAREN STÉFANIE GAI

UM ESTUDO SOBRE OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de História da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, como requisito parcial para obtenção do Título de Licenciada em História.

Profª Orientadora: CÉLIA CLARICE ATKINSON

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por possibilitar condições físicas e mentais de realizar esse trabalho. Agradeço a UNIJUÍ pelo serviço prestado, formando profissionais de qualidade. Em especial, agradeço a professora Célia Clarice Atkinson por sua dedicação, paciência e apoio, suas considerações e conselhos, obrigada!

Agradeço também aos tutores do curso de História, por seu trabalho constante de lembrar-nos dos prazos das atividades, sua atenção permanente nessa modalidade de estudo diferenciada.

Agradeço profundamente aos meus pais, Julio Cezar Gai e Vera Lia de Barros Gai, minha irmã Ana Julia Gai, pelo incansável suporte, paciência, dedicação e carinho prestados ao longo da vida e dessa caminhada. Sem vocês isso não seria possível!

Por último, agradeço ao meu namorado Alexandre Gonçalves, por sua companhia e auxílio incondicional, não só neste trabalho, mas na vida, encarando comigo todos os desafios e lutando pelos nossos sonhos.

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RESUMO

No Brasil e no mundo os direitos humanos, por mais que tenham sido declarados universalmente ainda no século passado (1948) pela ONU, carecem de aplicabilidade. Há uma violação dos mesmos e os cidadãos não estão protegidos em seus direitos conforme estabelece a Declaração Universal. Nessa perspectiva, o presente trabalho aborda a constituição e consolidação dos direitos humanos na dimensão universal para considerá-los no contexto da sociedade brasileira, resgatando aspectos históricos para análise da trajetória do Brasil na construção dos direitos dos cidadãos, ressaltando a importância da educação na produção de um maior conhecimento que resulte em ações concretas para sua efetiva aplicação.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AI Ato Institucional

CF/88 Constituição Federal de 1988

DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

ONU Organização das Nações Unidas

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 7

1 OS DIREITOS UNIVERSAIS ... 9

1.1 A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ... 10

1.2 OS IMPACTOS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ... 12

1.3 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS ... 15

2 OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL ... 19

2.1 A ESCRAVIDÃO E O REGIME MILITAR... 20

2.1.1 Das torturas ... 25

3 A APLICABILIDADE DA DUDH NO BRASIL ... 28

3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ... 28

3.2 OS DIREITOS HUMANOS NA EDUCAÇÃO ... 31

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 33

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 34

ANEXOS ... 37

ANEXO A – O CILINDRO DE CIRO ... 37

ANEXO B – SETE SÍMBOLOS NA LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS ... 38

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INTRODUÇÃO

Os direitos humanos são direitos inerentes aos seres humanos, considerados essenciais para a obtenção de uma vida digna, ou seja, uma vida onde o respeito, a igualdade e a humanidade prevaleçam. Na história, os direitos humanos passaram por grandes mudanças, desde o tempo onde eram considerados direitos in natura, até a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), quando foram reunidos e organizados num único documento.

A história enquanto uma ciência social, tem como função entender e estudar as características da organização e evolução humana, desde os primeiros grupos humanos até a comunidade global atual. Uma forma de entender a evolução social é através da criação e desenvolvimento dos direitos humanos, considerados intrínsecos aos indivíduos. Dessa forma, o trabalho se propôs a realizar uma pesquisa bibliográfica a respeito desses direitos no Brasil, através de livros, revistas e jornais, para entende-los e construirmos uma sociedade mais igualitária e justa.

Os direitos humanos, de acordo com ONU (Nações Unidas, 2018), são “direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição”. Entre esses direitos, estão incluídos: “o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre muitos outros; todos merecem esses direitos, sem discriminação”.

De acordo com o que foi exposto, esses direitos têm o objetivo de proteger os cidadãos do mundo de qualquer violência ou opressão, apresentando-se como garantia para uma vida digna, que pode ser entendida como, entre outros fatores, a liberdade de expressão, locomoção, segurança, integridade física e mental, igualdade de gêneros.

No Brasil, por diversas vezes esses direitos foram desrespeitados, como por exemplo no período de escravidão e mais tarde, no Regime Militar (1964-1985), onde muitos desses direitos foram suprimidos, havendo privação de liberdade, censura, torturas e mortes.

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Com base nesse passado e para que fatos assim não voltem a se repetir - pessoas desaparecidas, tortura e mortes -, primeiramente, apresentar-se-ão os direitos humanos em escala universal, uma breve análise destes perante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) para depois centralizar o estudo dos direitos humanos no Brasil, observando períodos como a escravidão (séculos XVI a XIX) e o regime militar (1964-1985), a evolução e aplicação desses direitos, inclusive no âmbito escolar.

O tema estudado tem ganhado maior enfoque mundial, tendo em vista questões de opção sexual, igualdade de gêneros, feminicídio, terrorismo, pobreza extrema... entre outros temas atuais que atingevm de forma direta a dignidade da vida humana. Acredito que esse estudo pode ser um alerta a estudantes, professores, comunidade em geral, para olhar com cuidado para os direitos humanos.

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1 OS DIREITOS UNIVERSAIS

Os direitos humanos, inicialmente, eram vistos como direitos morais, direitos naturais, direitos públicos, entre outros, a expressão Direitos Humanos ficou marcada no contexto internacional depois que a ONU publicou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.

O conceito de direitos humanos foi moldando-se ao longo da história e muitos acontecimentos foram importantes na evolução desses direitos. Um dos primeiros registros de que se tem notícia é de aproximadamente 500 anos antes de Cristo, quando o rei da Pérsia, Ciro, declarou alguns direitos de igualdade humana e a liberdade de escravos. Mais tarde, documentos como a Declaração de Direitos da Virgínia (1776), nos Estados Unidos e a Declaração do Homem e do Cidadão (1789) na França, tiveram grande influência na consolidação desses direitos.

Segundo a presidente do Núcleo Acadêmico de Pesquisa da Faculdade Mineira de Direito – PUC Minas, Bárbara Thaís Pinheiro Silva (2018), ao falamos sobre direitos humanos significa o estudo integrado dos direitos individuais, sociais, econômicos e políticos fundamentais, isto é, direitos humanos vistos como sinônimo de direitos fundamentais. A pesquisadora aponta três gerações dos direitos fundamentais, ressaltando que alguns estudiosos apresentam quatro ou até cinco gerações, sendo que em relação a quinta geração não existe um reconhecimento constitucional nem mesmo uma concordância quanto ao seu real conteúdo.

Para Silva (2018), a denominação geração de direitos humanos reflete o caráter acumulativo de reconhecimento e proteção destes direitos ao longo da história, não sendo a superação de uma fase pela outra, mas sim o surgimento de novos direitos ou perspectivas sobre direitos já reconhecidos, sempre objetivando uma maior proteção à pessoa humana.

Na Grécia antiga, os direitos naturais não podiam ser desconsiderados pelos governantes, sendo inertes à pessoa humana. Entretanto, reconheciam-se os direitos humanos apenas aos cidadãos, pois os escravos não eram vistos como pessoas. Já na Roma antiga, os direitos civis eram assegurados apenas ao homem mais velho de

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cada família. Havia o reconhecimento de liberdades básicas aos cidadãos e foi aí que surgiu o ius gentium, que atribuía alguns direitos aos estrangeiros, mas de forma inferior aos romanos.

Ainda conforme o estudo de Silva (2018), durante a Idade Média prevaleceu o sistema feudal, subjugando grande parte da população a um suserano, que era os donos das terras cultiváveis e do exército. A Igreja Católica influenciava os valores a serem reconhecidos como fundamentais ao homem, estabelecendo uma abordagem canônica do direito natural. A primeira mudança sensível ocorre com a Reforma Protestante (século XVI) que foi um movimento liderado por Martinho Lutero contra os abusos do clero, evoluindo para uma proposta de reforma no catolicismo:

Com o Iluminismo a realidade social passa a ser objeto de indagação. O poder estatal, que era explicado pela vontade divina, é compreendido como força de vontade popular. O Direito Natural é revisto: considerado na Idade Média como vinculado à vontade de Deus, a partir da Escola de Direito Natural de Grotius é visto como produto da razão. Hobbes deu andamento ao pensamento de Hugo Grotius, a quem se atribui a origem do jusnaturalismo, que sustentava a imutabilidade do Direito Natural. Locke, outro jusnaturalista, sustentou a teoria jurídico-política de modo diferente à de Hobbes, uma vez que considerava o homem a partir dos princípios da razão com a capacidade de elaborar uma doutrina moral, ou seja, uma lei natural, e através desta lei ensinaria os deveres da vida. Com isso, abre-se o caminho para o positivismo. (Silva, 2018)

Assim sendo, as coisas começaram a mudar.

1.1 A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Silva (2018) apresenta três gerações de direitos humanos. Os direitos de primeira geração começam a se materializar na Inglaterra, com a Magna Carta de 1215, resultado do conflito entre o Rei João e os barões. De acordo com Silva (2018), essa Carta impôs limitações ao poder absoluto, garantindo aos indivíduos certos direitos fundamentais. Em 1629, o Petition of Rights, o Habeas corpus, que protegia a liberdade de locomoção, inspirou legislações de todo o mundo e, principalmente o Bill of Rights de 1689, que reconheceu aos indivíduos alguns direitos como liberdade, segurança e propriedade privada.

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A primeira geração consolidou-se na fase de resistência ao poder dos monarcas absolutistas e o marco documental foi a Declaração do Homem e do Cidadão, documento francês de 1789. De acordo com Silva:

Os direitos de primeira geração têm por escopo a defesa das pessoas em face ao arbítrio dos governantes, mormente quanto a preservação de sua vida, de sua liberdade de locomoção, amplo exercício profissional e da possibilidade de constituírem patrimônio, sem que este seja confiscado pela exigência de tributos excessivos. Destarte, o conteúdo dos Direitos Fundamentais nessa época seriam os Direitos Individuais relativos à liberdade e à igualdade. E a base do Estado Liberal é o direito de propriedade privada, que é absoluto e intocável. (2018)

O Estado se omitia frente os problemas sociais e econômicos da época, conduzindo os homens ao capitalismo desumano e, após a Primeira Guerra Mundial, as novas Constituições se preocupavam além das políticas de estado, com o dever de reconhecer e garantir os direitos sociais.

Os direitos de segunda geração surgem a partir das lutas sociais que buscavam melhores condições ao desenvolvimento pleno da humanidade, mas seus protagonistas foram as classes operárias, que apareceram em consequência da industrialização na Europa:

Apesar dessa classe social ter se resguardado com os direitos de primeira geração, eram explorados pelos detentores do capital, necessitavam de melhores condições de saneamento, educação, atendimento médico e proteção jurídica frente as péssimas condições de trabalho e remuneração. (Silva, 2018)

Segundo Silva (2018), com a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, a Declaração Americana dos Direitos do Homem (Costa Rica, 1969) com o objetivo de tornar os direitos humanos universais, surgem também organizações não-estatais como a Anistia Internacional, a Comissão Internacional dos Juristas, o Instituto Interamericano dos Direitos Humanos com a finalidade de divulgação de ideias e educação em Direitos Humanos. Houve a incorporação desses direitos nos mais diversos ordenamentos jurídicos, mas não significa que eles se realizaram plenamente.

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No artigo Evolução histórica dos Direitos Humanos, Silva (2018) ressalta que a terceira geração de direitos humanos:

emergiu através de uma sociedade massificada, visando a preservação dos interesses coletivos ou difusos relacionados com a proteção do meio ambiente, preservação do patrimônio histórico e cultural, qualidade de vida no ambiente urbano e rural, tutela sobre a comunicação social, a bioética, ampliação dos direitos políticos, autodeterminação dos povos, o amplo acesso a informação e preservação da privacidade. (Silva, 2018)

Cabe ressaltar que, alguns novos direitos são apenas a reafirmação dos antigos adaptados às exigências do momento e que temos que buscar a efetiva garantia dos mesmos que em grande parte já se encontram positivados em ordenamentos jurídicos particulares.

Para a ONU (Nações Unidas, 2018) algumas características mais importantes dos direitos humanos são: Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa; são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma igual e sem discriminação a todas as pessoas; são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos humanos; eles podem ser limitados em situações específicas. Por exemplo, o direito à liberdade pode ser restringido se uma pessoa é considerada culpada de um crime diante de um tribunal e com o devido processo legal; são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já que é insuficiente respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a violação de um direito vai afetar o respeito por muitos outros; Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como de igual importância, sendo igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada pessoa.

1.2 OS IMPACTOS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Na obra História Contemporânea I, de Zarth, Gerhardt e Trennepohl (2009), os mesmos defendem que o nazismo teria surgido com a proposta de combater o socialismo. Na Alemanha, o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores indicava um caráter social e igualitário, porém conduziu o país para uma guerra com grandes prejuízos materiais, sociais e culturais. Algumas das faces mais dramáticas do

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nazismo foram o racismo, o uso de trabalho escravo e massacre de milhões de judeus e ciganos por simples condição étnica e religiosa.

Em seu texto “Nazismo”, para o site História do Mundo, Fernandes destaca que uma das principais preocupações de Hitler enquanto estava no poder era o controle da população alemã, e isso se deu por meio de propagandas, utilizando rádio e cinema, principalmente. O führer1 nutria um ódio em especial em relação aos judeus,

aos quais atribuía a culpa por vários problemas alemães enfrentados; esse ódio culminou no Holocausto2, com a morte de mais de 06 milhões de pessoas em campos

de concentração, sendo a maioria judeus.

Outra ideia associada ao antissemitismo3 estava a noção racista da

superioridade do homem branco germânico e da raça ariana. Para Hitler, esse povo estava destinado a criar um império mundial e ser senhor de outros povos, devido a sua superioridade.

Para ir de encontro aos ideais nazistas, era necessário invadir outras terras, toma-las para si e executar os que iam contra o regime e os considerados impuros. Para isso, foram criados os campos de concentração. De acordo com o site United States Holocaust Memorial Museum:

Entre 1933 e 1945, a Alemanha nazista construiu mais de 40.000 campos [de extermínio e aprisionamento], além de outros centros de carceragem. As construções foram levantadas com distintas finalidades, entre elas a de servirem como campos para trabalho escravo, campos para detenção de pessoas vistas como inimigas do Estado, e também como centros de extermínio em massa. O número total de instalações é baseado em pesquisas [ainda em andamento] que se baseiam em relatórios dos próprios perpetradores. (2018)

1 Führer é uma palavra alemã que tem como significado condutor, dirigente, chefe, líder, guia, manual. Foi o título adotado por Adolf Hitler quando assumiu a chefia do Estado alemão.

2 Holocausto é um termo que abrange muitos significados: na religião, é o sacrifício ou ritual religioso praticado especialmente pelos antigos hebreus, em que a vítima era totalmente queimada; na gramática, é o ato ou efeito de sacrificar-se; expiação, sacrifício; e o mais popular, na história, significa o genocídio de judeus e de outras minorias, como os ciganos e os homossexuais, ocorrido em campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

3 Antissemitismo significa hostilidade aos semitas, em particular aos judeus, ou corrente política contrária aos judeus.

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Podemos observar aí uma regressão em relação ao que acontecia ao redor do mundo. Enquanto diversos países haviam finalmente abolido a escravidão, Hitler e seu partido a estavam reinstalando. Naquele momento, os alemães não o enxergavam como o ditador que era, pelo contrário: o viam como um herói que restauraria o poder econômico da Alemanha, restaurando sua posição e prestígio diante dos demais países europeus.

O que eles não conseguiram enxergar, foram os maus tratos a milhões de pessoas inocentes, que morriam em campos de trabalho escravo, devido à exaustão, a inanição e aos maus tratos que eram submetidos. Essas instalações também serviam para fuzilar ou envenenar a gás milhares de prisioneiros de guerra soviéticos.

Uma das partes mais tristes dessa história, foram a criação dos campos de extermínio. Eis o que consta no site United States Holocaust Memorial Museum:

Para facilitar a execução da "Solução Final" (genocídio4 ou destruição em massa de judeus), os nazistas construíram campos de extermínio na Polônia, o país europeu que possuía a maior população judaica em seu território. O objetivo dos campos de extermínio era o de tornar o assassinato em massa mais rápido e eficiente. Os nazistas construíram câmaras de gás (locais onde eram colocados os prisioneiros e que, em seguida, tinham suas portas hermeticamente fechadas e seus interiores preenchidos com gases venenosos) para tornar o processo de assassinato em massa mais eficiente, rápido, e menos traumático para aqueles que o executavam. Milhões de pessoas foram aprisionadas e submetidas a todo tipo de abusos nos campos nazistas. Apenas uma ínfima parte dos prisioneiros levados para os campos conseguia sobreviver. (2018)

Diante dessa violação extrema da vida e da dignidade humana, após o final da guerra, foi elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais, um documento que foi um marco na história dos direitos humanos. Proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece pela primeira vez a proteção universal dos direitos humanos.

4 Genocídio, significa destruição total ou parcial de um grupo étnico, de uma raça ou religião através de métodos cruéis.

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1.3 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Embora não fosse um documento de obrigatoriedade para os países por se tratar de uma declaração e não de um tratado, a DUDH (1948) surgiu como orientação ao mundo para evitar massacres como o holocausto, já que a ONU percebeu que a Carta das Nações Unidas (1945) não tinha definido suficientemente os direitos que se referia.

Já no preâmbulo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), considera:

Que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana, e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo; que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum; considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão; considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla [...]

E apresenta como objetivo:

o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

A DUDH apresenta um total de 30 artigos, os quais, pela sua relevância social e importância em conhece-los nos parece importante reproduzir:

Art. I: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e

direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

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Art. II:

1 - Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

2 - Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Art. III: Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança

pessoal.

Art. IV: Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o

tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Art. V: Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel,

desumano ou degradante.

Art. VI: Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares,

reconhecido como pessoa perante a lei.

Art. VII: Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção,

a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Art. VIII: Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais

competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Art. IX: Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Art. X: Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e

pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Art. XI:

1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Art. XII: Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua

família, em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Art. XIII:

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

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Art. XIV:

1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Art. XV:

1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Art. XVI:

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Art. XVII:

1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Art. XVIII: Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento,

consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular.

Art. XIX: Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão;

este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Art. XX:

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Art. XXI:

1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Art. XXII:

Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

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Art. XXIII:

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.

Art. XXIV: Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a

limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.

Art. XXV:

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.

Art. XXVI:

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será minis trada a seus filhos.

Art. XXVII:

1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.

Art. XXVIII: Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional

em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Art. XXIX:

1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

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3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Art. XXX: Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada

como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

2 OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

Em seu estudo A Evolução dos Direitos Humanos no Brasil (Souza, 2017) apud Maurício Santoro, assessor de direitos humanos da Anistia Internacional, “os direitos humanos no Brasil são uma questão marcada por contradições. O país apresenta ótimas leis sobre o assunto, mas o grande problema é que elas ainda não são cumpridas”. Conforme Souza (2017), a Anistia Internacional organizou um relatório intitulado Estado dos Direitos Humanos no Mundo, mostrando, entre outras coisas, as principais falhas do Brasil em direitos humanos, sendo as principais:

- a alta taxa de homicídios no país, sobretudo de jovens negros;

- os abusos policiais e as execuções extrajudiciais, cometidas por policiais em operações formais ou paralelas, em grupos de extermínio ou milícias; - a crítica situação do sistema prisional;

- a vulnerabilidade dos defensores de direitos humanos, principalmente em áreas rurais;

- a violência sofrida pela população indígena, sobretudo pelas falhas em políticas de demarcação de terras; e

- as várias formas de violência contra as mulheres.

Analisaremos dois importantes períodos da história brasileira, onde os direitos humanos foram violados. Na escravidão (séculos XVI e XIX), embora ainda não houvesse uma regulamentação internacional acerca dos direitos humanos, já existiam algumas ideias sobre os direitos naturais inerentes aos homens. Já durante a Ditadura Militar (1945-1985), embora já existisse uma declaração universal de direitos humanos vigente, esses direitos foram desrespeitados como se essa declaração nem existisse. Períodos complicados para o Brasil e para a sociedade brasileira, principalmente as camadas inferiores.

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2.1 A ESCRAVIDÃO E O REGIME MILITAR

Na história do Brasil, uma das primeiras violações a dignidade humana foi a escravidão. Ainda não haviam normas para nortear os Direitos Humanos, dessa forma, havia certo descaso com vidas humanas.

Durante o período de colonização, houve a tentativa de escravizar os índios; a justificativa era suprir as necessidades de mão-de-obra nos engenhos, estabelecimento onde fabricavam o açúcar. “O relacionamento entre os portugueses e os povos indígenas foi tornando-se conflituoso à medida que os índios resistiam a submeter-se aos europeus. Para obter o trabalho indígena, os colonos não hesitaram em usar a violência [...]”. (Cotrim, 2005, p. 198). É importante ressaltar que existia forte ligação entre a Igreja Católica e o governo português, o que interferiu diretamente nas relações de trabalho na colônia. Vejamos o que coloca Cáceres em relação a escravidão indígena:

A colonização portuguesa necessitava de uma justificação ideológica, de uma racionalização de procedimento. Esse suporte “ético” foi dado pela Igreja. A fé cristã e a necessidade de salvar almas para Deus passaram a ser justificativa da colonização. [...] O primeiro direito que o indígena teria, sob essa ótica, seria a salvação de sua alma. A ignorância, os costumes bárbaros, a idolatria, os deuses, a poligamia, os mitos, eram obras satânicas que precisavam ser combatidas a qualquer preço pelos propagadores da fé cristã. (1993, p. 57)

Ainda de acordo com o Cáceres, para as ordens religiosas, os índios não deveriam ser escravizados:

O direito de liberdade dos indígenas tinha de ser subordinado ao direito de salvação. A mortandade dos índios, sua destribalização e a liquidação de sua cultura eram justificadas pela salvação das almas. O índio era a eterna criança que precisava ter sua alma resgatada para Deus, por mais doloroso que fosse o processo. Não deveria ser escravizado, e os jesuítas o defendiam contra o cativeiro promovido pelos colonos (1993, p.58).

Infelizmente, a Igreja não tinha o mesmo pensamento em relação aos negros e usaram de sua posição social para “justificar” a escravidão. Nesse sentido, eis o que nos traz Cáceres:

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Deus, na sua infinita misericórdia, havia permitido a escravização do negro para salvar-lhe a alma. A África era o inferno, onde o negro era escravo de corpo e alma. O Brasil era o purgatório, porque através do batismo o negro deixava de ser escravo de alma, sendo apenas escravo de corpo. A morte tornava-o totalmente livre e merecedor do céu. O negro deveria sofrer fisicamente no Brasil para libertar-se do pecado, do paganismo e do satanismo, tornando-se, desse modo, merecedor da graça divina. (1993, p. 58)

Tendo, por conseguinte, os motivos citados acima, a escravidão negra tomou o lugar da escravidão indígena. Segundo Cotrim:

A partir do início do século XVII, ocorreu uma grande redução da população indígena em consequência das guerras dos colonos contra os índios e das sucessivas epidemias que os vitimavam. Isso, aliado a outros fatores, fez o colono português buscar formas alternativas de trabalho. Utilizando uma

experiência já havida no Portugal metropolitano e nas ilhas atlânticas, optou-se pela escravidão africana, originando um lucrativo tráfico de escravos entre as costas da África, a Bahia, Pernambuco e o Rio de Janeiro. (2005, p. 212)

Além de serem comercializados como meros objetos, os escravos tornaram-se um negócio plenamente lucrativo. Os africanos eram colocados nos navios negreiros expostos as piores condições. De acordo com Cotrim:

Segundo o historiador Charles R. Boxer, os navios negreiros saíam da África, em média, com 600 escravos, embora esse número variasse de acordo com o tipo o tamanho das embarcações. Receando possíveis revoltas durante a viagem, os traficantes acorrentavam os africanos nos porões dos navios. A viagem era muito longa e extenuante [...]. No escuro dos porões dos navios, o espaço era reduzido e o calor, quase insuportável; a água era suja e o alimento, insuficiente para todos. Assim, o ambiente era propício a doenças e epidemias que vitimavam os africanos debilitados. [...] Calcula-se que entre 5% e 25% dos africanos morriam durante a viagem. (2005, p.218)

Cabe ressaltar que na sociedade colonial brasileira, setores da Igreja e também da Coroa se opuseram a escravidão indígena, mas não lutaram contra a escravização dos africanos.

Nesse período de escravidão (séculos XVI e XIX), alguns filósofos já defendiam teses acerca dos direitos naturais, inerentes aos homens; ou seja, nesse período os direitos in natura são totalmente ignorados, pois temos, em primeiro lugar a restrição da liberdade; em segundo lugar o descaso com a vida humana, pensando nas condições de trabalho, alimentação, vestuário, etc; O tráfico negreiro perdurou por muito tempo e chegou a ser mais lucrativo do que os próprios engenhos.

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Em 1824, a condição social do restante da sociedade brasileira não era muito melhor do que os escravos. Nesse ano, uma constituição foi outorgada pelo Imperador. Esta, concentrava o poder nas mãos deste, através do Poder Moderador. O que cabe ressaltar, entre outros aspectos, é que somente os ricos poderiam votar, pois o voto era baseado na renda. Assim, o sistema excluía a maior parte da população da possibilidade de escolher seus representantes.

Esta Carta Magna também estabelecia a religião Católica como religião oficial do Brasil; o imperador tinha o direito de não responder na justiça por seus atos; e foram estabelecidos alguns direitos e garantias individuais, tendo como parâmetro a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, anunciada na França em 1789.

De acordo com Groff (2008 p. 107), o artigo 179 da Constituição de 1824 afirmava que a inviolabilidade dos direitos civis e políticos tinha por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade.

Apesar da libertação dos escravos em 1888, infelizmente muitos negros permaneceram excluídos da sociedade. Hoje o país busca condições de inclusão e igualdade social aos negros. Além da criminalização do racismo, uma das iniciativas foram as cotas em faculdades e concursos públicos.

Já no período republicano, o golpe militar estava sendo pensando há algum tempo, entre os anos 1950 e 1960 e contava com o apoio dos Estados Unidos da América, que ancoraram navios na costa brasileira, para garantir que o golpe obtivesse sucesso.

Os militares governaram através de Atos Institucionais5, justificando seus atos

como patriotas e garantindo a salvação do Brasil. No início, com os Atos Institucionais nº 1, 2, 3 e 4, houve uma mudança no cenário político: modificavam as regras para as futuras eleições, poderiam suspender direitos políticos e cassar mandatos legislativos. Além disso, o AI-3 estabelecia eleições indiretas para governadores dos estados da

5 Esses Atos Institucionais eram decretos e normas que se colocavam acima da Constituição Vigente, mesmo depois dos militares outorgarem sua própria constituição ditatorial, a de 1967.

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União e com o AI-4, foi votada a Constituição de 1967, que institucionalizou a Ditadura Militar no Brasil.

Nessa época, foram extintos os partidos políticos, restando apenas dois: A ARENA (Aliança Renovadora Nacional), partido do governo, e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), a oposição. Entidades como a UNE (União Nacional dos Estudantes) foram perseguidas, sendo que esta teve sua sede metralhada e queimada logo após o golpe.

O cenário dos direitos humanos teve expressiva mudança com a chegada ao poder do general Costa e Silva, um militar linha dura, ao mesmo tempo que cresciam os movimentos de oposição ao regime. Para perseguir e punir esses grupos, foi editado o AI-5, que suspendeu o direito ao habeas corpus e permitiu ao Presidente declarar estado de sítio e praticar intervenção nos estados sem limites constitucionais. De acordo com Côrrea: “A partir desse momento, o Brasil passou a viver os anos de chumbo, que se estenderam do final do governo de Costa e Silva e durou por todo o governo de Emílio Médici”.

Groff (2008, p. 121) apud Herkenhoff (1994, p.81) destaca que os direitos fundamentais sofreram restrições com os Atos Institucionais:

os Atos n. 1 e 2 não se compatibilizam com as franquias presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos, pelas seguintes razões:

“a) os punidos, a muitos dos quais se imputaram atos delituosos, não tiveram o direito de defesa previsto no art. 11 da Declaração;

b) o direito de receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos eventualmente violadores dos direitos reconhecidos pela Constituição e pela lei – previsto no art. 8o da Declaração – também foi desrespeitado pelo artigo que revogou o princípio da ubiquidade da Justiça e excluiu de apreciação judiciária as punições da Revolução;

c) o tribunal independente e imparcial, a que todo homem tem direito, não o é aquele em que o próprio juiz está sujeito a punições discricionárias. Assim, a total supressão das garantias da magistratura viola o art. 10;

d) a exclusão discricionária do grêmio político (suspensão de direitos de cidadão) contraria o art. 21, que confere a todo homem o direito de participar do governo de seu país.”. (p.81)

O AI-5 traz a censura, a cessação de alguns direitos e aumenta o terror em grandes proporções. Em seu artigo 5º e 6º:

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Art. 5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa, simultaneamente, em:

I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;

II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais; III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;

IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança: a) liberdade vigiada;

b) proibição de frequentar determinados lugares; c) domicílio determinado,

§ 1º - O ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar restrições ou proibições relativamente ao exercício de quaisquer outros direitos públicos ou privados

§ 2º - As medidas de segurança de que trata o item IV deste artigo serão aplicadas pelo Ministro de Estado da Justiça, defesa a apreciação de seu ato pelo Poder Judiciário.

Art. 6º - Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo.

§ 1º - O Presidente da República poderá mediante decreto, demitir, remover, aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas neste artigo, assim como empregado de autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva ou reformar militares ou membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, os vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de serviço.

Para Groff (2008, p.123), O AI-5 previa o confisco de bens, sem direito de defesa, em contradição com o art. 18 da Declaração Universal: “ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade”. Groff (2008, p. 123) apud Herkenhoff (1994, p. 84) lembra que: “Com a supressão do habeas corpus, com a suspensão das garantias da magistratura e com a cassação da liberdade de imprensa, a tortura e os assassinatos políticos foram largamente praticados no país, sob o regime do Ato Institucional n. 5”. Para Arns (1985, p. 54), “ao contrário dos Atos Institucionais anteriores, este não vinha com vigência limitada no tempo. Era a ditadura sem disfarces”.

Nesse período, também foi cessada a liberdade de expressão, de manifestação e repressão às mídias. Só era publicado aquilo que os militares aprovassem. Todos os documentos eram analisados e caso uma matéria não estivesse de acordo com seus interesses ou exibisse um conteúdo contrário aos seus ideais, era substituído por receitas ou outros assuntos irrelevantes antes da publicação. Quem se manifestasse contra o regime estaria sujeito a prisão, tortura e morte.

Um ponto a ser levado em consideração, foi a Lei da Anistia (1979), promulgada no governo de João Figueiredo. Ao mesmo tempo que a lei garantia o retorno dos exilados ao país, o restabelecimento dos direitos políticos e a volta ao

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serviço de militares e funcionários da administração pública, essa lei revertia punições aos cidadãos brasileiros que, entre os anos de 1961 e 1979 foram considerados criminosos políticos pelo regime militar. (Brasil, 2009)

2.1.1 Das torturas

Como forma de assegurar o Regime e controlar a população, o governo militar criou alguns órgãos de controle de informações. Segundo Starling:

Entre 1964 e 1970, a ditadura militar criou um sistema reticulado que abrigou o vasto dispositivo de coleta e análise de informações e de execução da repressão no Brasil. O centro desse sistema era o Serviço Nacional de Informações (SNI), um órgão de coleta de informações e de inteligência que funcionava de duas maneiras: como um organismo de formulação de diretrizes para elaboração de estratégias no âmbito da presidência da República e como o núcleo principal de uma rede de informações atuando dentro da sociedade e em todos os níveis da administração pública. A estrutura do SNI fornecia ao sistema uma capilaridade sem precedentes ramificando-se através das agências regionais; das Divisões de Segurança e Informações (DSI), instaladas em cada ministério civil; das Assessorias de Segurança e Informação (ASI), criadas em cada órgão público e autarquia federal. (UFMG, 2018)

Starling destaca que mais tarde, por volta de 1969:

o sistema de coleta e análise de informações e de execução da repressão tornou-se maior e mais sofisticada com a criação, em São Paulo, da “Operação Bandeirantes”, (OBAN) um organismo misto formado por oficiais das três Forças e por policiais civis e militares, e programada para combinar a coleta de informações com interrogatório e operações de combate. A OBAN foi financiada por empresários paulistas que estabeleceram um sistema fixo de contribuições – cujo funcionamento é, até hoje, um dos mais bem guardados segredos da ditadura. Também serviu de modelo para a criação, em 1970, dos Centros de Operação e Defesa Interna (CODI) e os Destacamentos de Operação Interna (DOI). Os CODI-DOI estavam sob o comando do ministro de Exército, Orlando Geisel, conduziram a maior parte das operações de repressão nas cidades e atuavam sempre em conjunto: os CODI como unidades de planejamento e coordenação; os DOI subordinados aos CODI se conduziam como seus braços operacionais. (UFMG, 2018)

Arns, em sua pesquisa que resultou na publicação pela Arquidiocese de São Paulo do projeto “Brasil: Nunca Mais” (1985), conseguiu apurar que haviam presos-cobaias, que descreveram em detalhes a tortura e os métodos utilizados nos prisioneiros.

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Eis o que descreve um estudante de 25 anos, Maurício Vieira de Paiva, para a obra de Arns (2001, p.31):

[...] que o método de torturas foi institucionalizado em nosso País e, que a prova deste fato não está na aplicação das torturas pura e simplesmente, mas, no fato de se ministrarem aulas a este respeito, sendo que, em uma delas o Interrogado e alguns dos seus companheiros, serviram de cobaias, aula esta que se realizou na PE da GB, foi ministrada para cem (100) militares das Forças Armadas, sendo seu instrutor um ten. HAYTON, daquela U.M.; que, à concomitância da projeção dos “slides” sobre torturas elas eram demonstradas na prática, nos acusados, como o interrogado e seus companheiros, para toda a plateia; [...]”

Segundo Arns (2001, p. 34):

Em vinte anos de Regime Militar este princípio (art. 5º da DUDH) foi ignorado pelas autoridades brasileiras. A pesquisa revelou quase uma centena de modos diferentes de tortura, mediante agressão física, pressão psicológica e utilização dos mais variados instrumentos, aplicados aos presos políticos brasileiros.

Os métodos de tortura eram os mais diversos. Arns apurou os mais comuns, sendo:

- O pau-de-arara: consistia numa barra de ferro que é atravessada entre os punhos amarrados e a dobra do joelho, sendo o “conjunto” colocado entre duas mesas, ficando o corpo do torturado pendurado a cerca de 20 ou 30 cm do solo. Este método quase nunca é utilizado isoladamente, seus “complementos” normais são eletrochoques, a palmatória e o afogamento. - O choque elétrico: choques através de fios ligados ao corpo geralmente nas partes sexuais, além dos ouvidos, dentes, língua e dedos.

- Dobradores de tensão: alimentados à pilha, os dobradores de tensão produzem eletricidade de alta voltagem e baixa amperagem como as de cinescópios de TVs; essas máquinas produziam faíscas que queimavam a pele e provocavam choques violentos.

- Afogamento: era um dos complementos do pau-de-arara; poderia ser através de uma toalha molhada ou um jato de água nas narinas ou mesmo uma mangueira de água corrente sendo o torturado obrigado a respirar quando recebia choques elétricos.

- Cadeira do dragão: cadeira com assento de zinco por onde eram introduzidos choques e apresentava uma travessa de madeira que empurrava as pernas para trás.

- Geladeira: salas com temperatura baixíssima e dimensões reduzidas com sistema de som de onde saíam ruídos estridentes com períodos intercalados de silêncio.

- Insetos e animais: os torturados eram colocados em espaços com cobras, ou jacarés, ou colocavam baratas sobre o corpo, etc.

- Produtos químicos: existem relatos de injeções de éter, “soro da verdade”, contato com produtos químicos que faziam inchar.

- Lesões físicas: espancamento, introdução de objetos no ânus, queimaduras com cigarros, etc. (2001, p.34-42)

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Outros tipos de tortura eram a palmatória (uma espécie de raquete que usavam para agredir, principalmente os órgãos genitais), torturas psicológicas, crucificação, enforcamento, entre outras coisas inimagináveis.

Esses métodos eram usados em interrogatório dos presos, pessoas consideradas suspeitas - ou como chamavam na época “subversivas” -, pessoas que se manifestavam contra o regime ou que eram pegas sem documento; militantes; bastava uma pequena manifestação contra o regime para ser visto como “ameaça” e ser investigado/preso/torturado.

Mulheres e crianças também não escaparam desses métodos e eram tratadas da mesma forma que os homens. Mesmo representando um número menor, existem relatos de mulheres torturadas, inclusive grávidas que foram pegas; mulheres separadas de seus filhos, que foram submetidos a torturas psicológicas e até estupros.

Em sua obra, Brasil: Nunca Mais (1985), Arns, conseguiu apurar a morte de 144 pessoas, através da análise dos processos e interrogatórios e um total de 125 desaparecidos políticos.

Em relação a tortura, o número é bem mais expressivo. Existe um total de 1843 denúncias. Isto não significa que o número de torturados não foi maior; esse número significa o que foi registrado. E ainda de acordo com Arns, houveram 6016 tipos de tortura, “o que demonstra a incidência sobre a mesma vítima de diversas modalidades de suplícios”.

Por outro lado, a Comissão Nacional da Verdade – órgão temporário, instituído em 2012 para apurar graves violações de Direitos Humanos entre 1946 e 1988, aponta como 434 vítimas, entre mortos e desaparecidos. Esse órgão encerrou as atividades em 2014, com a entrega do relatório final da investigação.

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3 A APLICABILIDADE DA DUDH NO BRASIL

A Declaração Universal dos Direitos Humanos teve influência não só no Brasil, mas em diversos países, que a transcreveram em seus textos constitucionais. Cabe ressaltar que, os direitos fundamentais só foram positivados de fato no Brasil, em 1988, com a nova Constituição Federal.

Ou seja, como a DUDH era foi uma declaração e não um tratado, o Regime Militar agiu à sua maneira, sem resquício de medo de qualquer punição ao país. Talvez assim como em esfera mundial foi “necessário” viver os horrores da Segunda Guerra Mundial para a elaboração da DUDH, no Brasil foi “necessário” a instauração da Ditadura Militar para que houvesse a afirmação dos direitos humanos.

Infelizmente só vimos a necessidade de proteção e/ou prevenção depois de uma catástrofe. É claro que no campo histórico a ditadura não se trata apenas da tortura, ela teve um significado importante para a história brasileira. Mas no campo de direitos humanos, a ditadura foi um desastre. Por isso a necessidade de discutir sobre ela, para que não se repitam os erros do passado, para que não se repitam a crueldade, o descaso e o desrespeito a vida humana.

3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Promulgada em 05 de outubro de 1988, a sétima constituição do país consolidou a transação de um regime autoritário para o regime democrático. Em seu texto, trouxe grandes preceitos progressistas, como a igualdade de gêneros, criminalização do racismo, proibição da tortura, além de assegurar direitos sociais como educação, trabalho e saúde para todos.

No preâmbulo da Carta Magna, traduz-se a esperança de dias melhores, tanto para os indivíduos como para toda a sociedade:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o

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exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (Brasil, 1988)

Os primeiros quatro artigos fazem parte do título I, “Dos Princípios Fundamentais”. Já no art. 1º da CF/88, podemos observar a influência direta da DUDH. Em seu inciso III, consta a dignidade da pessoa humana, como fundamento da República Federativa no Brasil. O art. 2º, no seu inciso IV ressalva que é objetivo fundamental da República promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. No artigo 4º, inciso VIII, diz que a república brasileira repudia o terrorismo e o racismo.

O título II, “Dos direitos e garantias fundamentais”, consiste em cinco capítulos, sendo o primeiro deles “Dos direitos e deveres individuais e coletivos”, que abarca apenas o artigo 5º, que é um dos mais extensos e engloba os direitos fundamentais, trazendo outros pontos importantes da DUDH.

O art. 5º e alguns dos incisos afirmando os direitos fundamentais:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;

XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o

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terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evita-los, se omitirem;

XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; XLVII – não haverá penas:

a) De morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) De caráter perpétuo;

c) De trabalhos forçados; d) De banimento;

e) Cruéis;

XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;

LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;

§1.º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

§2.º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

§3.º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

§4.º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. (Brasil, 1988)

Essa parte é essencial para os direitos humanos individuais. Porém, outros pontos também são de extrema importância a sociedade brasileira, que vem a complementar essas garantias, como o artigo 6º, que já é parte do capítulo II, “Dos direitos sociais”: São direitos sociais a educação, a cidadania, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição; e o capítulo IV, que trata dos direitos políticos, direitos estes que também haviam sido suprimidos durante o regime militar.

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3.2 OS DIREITOS HUMANOS NA EDUCAÇÃO

A DUDH, na sua apresentação, diz que a Assembleia Geral solicitou a todos os países-membros que publicassem o texto da declaração para que fosse divulgado, mostrado, lido e explicado, principalmente nas escolas e em outras instituições educacionais, sem distinção nenhuma baseada na situação política ou econômica dos países ou estados. (DUDH, 1948, grifo nosso). Depois, no preâmbulo, aparece o objetivo, de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente a declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades [...] (DUDH, 1948, grifo nosso)

Fernandes e Paludeto lembram que, após a CF/88:

houve em 1989 a ratificação da Convenção de Haia, dos Direitos da Criança e dos Adolescentes e, em 1990, foi aprovado o Estatuto da Criança e do adolescente (ECA) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB n. 9.394/1996). O ECA (Lei n. 8.069 de julho de 1990), em suas disposições preliminares, afirma que esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. (2010, p. 236)

Assegurar o acesso à educação, para Fernandes e Paludeto, significa:

não só o acesso e permanência, mas a qualidade de ensino, estruturas escolares adequadas, condições básicas de trabalho aos profissionais da escola, enfim, sair do texto e se direcionar para o contexto. Sendo assim, o acesso e permanência se configuram como sendo uma das discussões que permeiam os direitos humanos voltados à educação. (2010, p. 238)

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) estabelecem as diretrizes a serem seguidas pelas escolas públicas, quais devem ser os temas e assuntos tratados em cada ano letivo; Os PCN, em sua introdução, ressaltam a importância da conquista da cidadania, conhecendo e exercendo direitos civis, sociais, políticos e econômicos.

Outro ponto importante, é o Plano Nacional de Educação (PNE), que determina as diretrizes, metas e estratégias para a política educacional dos próximos dez anos. Através desse projeto, surgiu o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), em 2006. Os objetivos gerais do PNEDH são os seguintes (BRASIL, 2006):

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a) destacar o papel estratégico da educação em direitos humanos para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito;

b) enfatizar o papel dos direitos humanos na construção de uma sociedade justa, equitativa e democrática;

c) encorajar o desenvolvimento de ações de educação em direitos humanos pelo poder público e a sociedade civil por meio de ações conjuntas;

d) contribuir para a efetivação dos compromissos internacionais e nacionais com a educação em direitos humanos;

e) estimular a cooperação nacional e internacional na implementação de ações de educação em direitos humanos;

f) propor a transversalidade da educação em direitos humanos nas políticas públicas, estimulando o desenvolvimento institucional e interinstitucional das ações previstas no PNEDH nos mais diversos setores (educação, saúde, comunicação, cultura, segurança e justiça, esporte e lazer, dentre outros); g) avançar nas ações e propostas do Programa Nacional de Direitos Humanos

(PNDH) no que se refere às questões da educação em direitos humanos; cultura de direitos humanos;

i) estabelecer objetivos, diretrizes e linhas de ações para a elaboração de programas e projetos na área da educação em direitos humanos;

j) estimular a reflexão, o estudo e a pesquisa voltados para a educação em direitos humanos;

k) incentivar a criação e o fortalecimento de instituições e organizações nacionais, estaduais e municipais na perspectiva da educação em direitos humanos;

l) balizar a elaboração, implementação, monitoramento, avaliação e atualização dos Planos de Educação em Direitos Humanos dos estados e municípios;

m) incentivar formas de acesso às ações de educação em direitos humanos a pessoas com deficiência.

Conforme as autoras Fernandes e Paludeto (2010) afirmaram, é preciso sair do texto e se direcionar para o contexto, ou seja, as propostas e orientações para inserir a educação em direitos humanos existem, agora basta colocá-las em prática. Tem de se levar em conta todo o contexto, talvez inserir o conhecimento sobre direitos humanos já na formação inicial do professor ou até mesmo na educação continuada. Depois, elaborar propostas para a educação em direitos humanos funcionar na prática, dentro das salas de aula.

Além disso, existem algumas medidas como a Lei nº 9.394/96 que dispõe no artigo 26-A: “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”. E a lei nº 11.645/08, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Índigena. (Brasil, Ministério da Educação, 2018)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Incialmente, buscamos entender o que são e para quem servem os direitos humanos, realizando leituras e revisando literaturas referentes a este tema, para obter um conhecimento prévio e posteriormente aprofundar-se nos aspectos desses direitos no Brasil.

Posteriormente, elencamos alguns problemas existentes no país, tendo em vista uma legislação que protege os direitos humanos, mas que apresenta certa dificuldade na prática. Relembramos períodos como a escravidão e o regime militar, que foram tempos onde os direitos humanos foram violados.

Através desse contexto podemos identificar a necessidade do conhecimento sobre os direitos humanos, a importância de entendê-los em sua totalidade para finalmente poder assegurá-los. Observando que a educação começa no ambiente familiar, daí a importância de um conhecimento básico acerca desses direitos, em todas as faixas etárias e em todas as escolas.

No âmbito escolar, tendo em vista a formação do intelecto dos educandos, observa-se extremamente importante um prévio conhecimento acerca de seu país e suas leis, para que possam tornar-se seres humanos críticos, conscientes de seus direitos e deveres, preparados para a vida adulta, capazes de uma reflexão mínima de política, preparando-se também para fazer suas escolhas de forma consciente.

Uma sugestão para essa proposta seria trabalhar os direitos humanos na disciplina de história, ressaltando esses direitos e relacionando-os com a Constituição Federal de 1988. Poderia ainda ser incluído nesse estudo o funcionamento da sociedade, suas classes sociais e relações que estabelecem, buscando formas de colocar os direitos humanos na prática e propostas para construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Referências

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