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Os desafios da produção de leite e as consequências sobre o desenvolvimento regional: o caso da normativa 51

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Departamento de Economia e Contabilidade Departamento de Estudos Agrários Departamento de Estudos da Administração

Departamento de Estudos Jurídicos

CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO

LUCAS NUNES FRIZZO

OS DESAFIOS DA PRODUÇÃO DE LEITE E AS CONSEQUÊNCIAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO REGIONAL:

O CASO DA NORMATIVA 51

Ijuí (RS) 2011

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LUCAS NUNES FRIZZO

OS DESAFIOS DA PRODUÇÃO DE LEITE E AS CONSEQUÊNCIAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO REGIONAL:

O CASO DA NORMATIVA 51

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós Graduação Stricto - Sensu em Desenvolvimento - Linha de Pesquisa: Desenvolvimento Local Sustentável, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientador: Dr. Argemiro Luiz Brum

Co-orientadora: Drª Sandra Beatriz Vicenci Fernandez

Ijuí (RS) 2011

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F921d Frizzo, Lucas Nunes.

Os desafios da produção de leite e as conseqüências sobre o

desenvolvimento regional : o caso da normativa 51 / Lucas Nunes Frizzo. – Ijuí, 2011. –

101 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Argemiro Luís Brum”.

1. Atividade leiteira. 2. Pequena propriedade. 3. Desenvolvimento regional. 4. Instrução normativa 51. I. Brum, Argemiro Luís. II. Título. III. Título: O caso da normativa 51.

CDU: 338(816.5) 631.16:637.11

Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB10 / 1879

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

OS DESAFIOS DA PRODUÇÃO DE LEITE E AS CONSEQUÊNCIAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO REGIONAL: O CASO DA NORMATIVA 51

elaborada por

LUCAS NUNES FRIZZO

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Argemiro Luis Brum (UNIJUÍ): ____________________________________ Prof. Dr. Vilmar Antonio Boff (URI): _______________________________________ Profª. Drª. Sandra Beatriz Vicenci Fernandes (UNIJUÍ): _______________________

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Dedico a meus Pais, pelo exemplo de vida, apoio e suporte para que eu pudesse percorrer meus caminhos, alcançar minhas conquistas e acreditar nos meus sonhos.

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AGRADECIMENTOS

À CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo aporte financeiro que possíbilitou a realização do curso de Mestrado.

À Unijuí, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, pelo espaço disponibilizado a realização dos estudos desta pesquisa. Também pelo comprometimento desta instituição com o desenvolvimento regional.

Ao orientador, Prof. Dr. Argemiro Luíz Brum, que acompanhou a trajetória de elaboração deste trabalho, pela amizade e compreensão e pelas considerações relevantes à contrução do conhecimento.

Um agradecimento especial à co-orientadora, Profª Drª Sandra Beatriz Vicenci Fernandes, que acompanha minha trajetória acadêmcia desde a graduação em Agronomia. Sua amizade, conselhos e orientações foram muito importantes à conclusão do mestrado.

A todos os professores do Mestrado em Desenvolvimento, que sempre estiveram à disposição para elucidar as dúvidas e preocupações que apareceram no decorrer das aulas e na escrita da dissertação.

À Secretária do Mestrado em Desenvolvimento, Janete Guterres, pela solicitude em todos os momentos.

Aos colegas do Mestrado, pelo convívio harmonioso, ensinamentos compartilhados, trocas de experiência, respeito, amizade e apoio, elementos essenciais para um aproveitamento satisfatório do curso e para o desenvolvimento pessoal de cada um de nós.

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RESUMO

Este estudo analisa a evolução e as transformações ocorridas na cadeia láctea brasileira, com atenção especial à Região Nororeste do Estado do Rio Grande do Sul, visando à compreensão da nova realidade regional, tanto no seu elo produtivo, como industrial. São estudadas as tendências de especialização, bonificação por escalas produtivas e qualidade do leite. Em consequência destas medidas, são analisados seus reflexos à exclusão de unidades produtivas e ao desenvolvimento regional. Especificamente são analisadas as possíveis implicações ocasinadas pela regulamentação da Instrução normativa 51, dentre elas a dificuldade de adaptação das pequenas propriedades familiares às novas exigências de sanidade e qualidade do leite. Metodologicamente a pesquisa se caracteriza como dedutiva quanto ao método de abordagem. Quanto à sua natureza, ela é aplicada. É classificada como exploratória e também descritiva, compondo-se de pesquisa bibliográfica e de campo. Constata-se basicamente que a nova organização produtiva por parte da indústria, a partir das exigências da IN 51, tende a ser excludente, favorecendo os produtores que alcançam os maiores volumes. No entanto, é possível que muitas propriedades alcancem os patamares de qualidade e sanidade do leite regulamentados pela Instrução, sem grandes investimentos em infraestrutura. A principal conclusão do trabalho é de que é possível, para a grande maioria dos produtores, se adequar às exigências da IN 51 e que a viabilidade destas propriedades possa estar na capacitação profissional, melhoria na higiene e manejo dos animais, o que, associado a avanços na gestão, pode permitir a permanência destes produtores na atividade e no meio rural. Finalmente, acredita-se que a promoção de sistemas de produção de leite ajustados às condições da produção familiar é imprescindível à construção de um modelo de desenvolvimento socialmente mais justo, territorialmente mais equilibrado e sustentável no tempo. Palavras-chave: Atividade leiteira. Pequena propriedade. Desenvolvimento regional. Instrução Normativa 51.

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ABSTRACT

This study analysis the evolution and transformations occurred in the Brazilian dairy production chain, giving special attention to the Northwest Region of Rio Grande do Sul State; aiming to comprehend the new regional reality in both productive and industrial aspect. Tendencies of specialization, bonus according to productive scale, and milk quality are being evaluated and reinforced. As a consequence of such implementation, the impact of production unity’s exclusion has also been analyzed according to the regional development assessment. The possible implications caused by the Normative Instruction 51 (NI 51) regulation are being specifically analyzed as well, among them the incapability of small family properties to adapt to the new health issues and milk quality requirements. The methodology applied to this research is characterized by being deductive regarding the method of approach while being applied by nature. This research is classified as exploratory as well as descriptive, being composed by bibliographical and field research. We observed that basically the industry new productive organization, from the NI 51, leads to exclusion in favor of producers that can work with higher volumes. However, it is possible that many properties reach the health and milk quality standards required by the normative without big investment on infra structure. The main conclusion from this work is that it is possible, for the majority of producers, to adequate their conditions to the NI 51 and that the alternative to their properties can be through training, better hygiene and animal management that along with other advances can allow these producers to stay in business and in their farms. Finally, we believe that the promotion of milk production systems, adjusted to the family production system are fundamental to build a development model with more justice, locally balanced and sustainable through time.

Key words: Dairy activity. Small property. Regional development. Normative Instruction 51.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Microrregiões classificadas por densidade de produção e que totalizavam 75% do volume total de leite em 1975 ...33 Figura 2: Microrregiões classificadas por densidade de produção e que totalizavam 75% do volume total de leite em 2007 ...35 Figura 3: Microrregiões classificadas pelo aumento do volume de leite em 1998 e 2007 ...36 Figura 4: Evolução da Produção de Leite entre as Regiões do RS...37

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LISTA DE ABREVIATURAS/SIGLAS

ALB: Associação Leite Brasil BPF: Boas Práticas na Fazenda

CCS - Contagem de Células Somáticas

CNA: Comissão Nacional de Pecuária de Leite

CNPQ: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CPP - Contagem Padrão de Placas

CRIA: Central Riograndense de Inseminação Artificial DPC - Depressão do Ponto de Congelamento

EMATER: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA: Empresa brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAEMG: Federação da Agricultura e Pecuária do estado de Minas Gerais FAO: Food and Agriculture Organization

FEE: Fundação de Economia e Estatística

FEPAGRO: Fundação Estadual de Pesquisa e Agropecuária FEPALE: Federação Panamericana da Indústria de Laticínios

FETAG: Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul

FUNDESA: Fundo das Cadeias de Produção e Genética da Avicultura, Suinocultura, Pecuária de Corte, Pecuária de Leite

GATT – General Agreement on Tarifs Trad6

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IRDeR: Instituto Regional de Desenvolvimento Rural

MAPA: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDA: Ministério do Desenvolvimento Agrário

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PAS - Programa Alimento Seguro

PNMQL: Programa Nacional de Melhoria na Qualidade do Leite PPD: Programa de Pesquisa Desenvolvimento

PRONAF: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar SEAP: Secretaria Especial de Abastecimento e Preços

SEAPPA: Secretaria Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio SEG - Sistema Embrapa de Gestão

SENAI: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SENAR: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural SINDILAT: Sindicato da Indústrias de Laticínios

TRAM - Redutase ou Teste de Redução do Azul de Metileno UNICRUZ: Universidade de Cruz Alta

UNIJUÍ: Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul UTH - Ultra High Temperacture

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...12

1 ASPECTOS DA EVOLUÇÃO DA CADEIA DO LEITE NO BRASIL ...18

1.1 História, evolução e modificações da cadeia do leite ...18

1.2 Tendências da cadeia leiteira...27

1.3 Panorama da cadeia do leite no Brasil...31

1.4 Cadeia do leite no Rio Grande do Sul – situação das empresas do setor lácteo...39

1.5 Produção leiteira como agente de desenvolvimento rural...42

2 A ATUAL NECESSIDADE DE REESTRUTURAÇÃO DA CADEIA REGIONAL DO LEITE ...49

2.1 Complexidade e dificuldades na reestruturação produtiva e industrial do leite...49

2.2 Rede leite – busca do desenvolvimento da atividade leiteira – uma experiência que vem dando certo...52

2.2.1 Rede leite: projetos, atividades desenvolvidas e principais resultados obtidos...59

2.3 Cadeia leiteira do RS – uma visão sob os olhos do poder público...62

3 A NORMATIVA 51, EXIGÊNCIAS LEGAIS E ALGUNS IMPACTOS NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL ...67

3.1 A posição de um representante dos produtores rurais...78

3.2 A posição de um técnico do meio rural ...82

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...89

REFERÊNCIAS...95

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INTRODUÇÃO

Embora os preços pagos aos pequenos produtores, a política de valorização de escala das indústrias e as novas exigências sanitárias e de qualidade, impostas pela implementação da Instrução Normativa 51, possam afetar negativamente a produção leiteira na Região Noroeste do Rio Grande do Sul, a mesma pode ser considerada uma atividade estratégica para o desenvolvimento em geral do país e particularmente na Região citada. De acordo com Silva Neto e Basso (2005) a produção de leite é uma atividade típica de regiões desenvolvidas, a exemplo dos Estados Unidos, Canadá, União Europeia e Oceania. Este fato, por si só, já é um indício para que os agricultores e a própria sociedade não a vejam como uma atividade econômica marginal, reservada apenas àqueles que não coseguiram se capitalizar. Por conseguinte, a produção de leite em países bem capitalizados e desenvolvidos, líderes em produtividade, ocupa lugar de destaque entre as cadeias produtivas, o que pode igualmente ocorrer em muitas regiões brasileiras.

A escolha do estudo sobre a atividade leiteira na Região Noroeste gaúcha e sua importância estratégica ao desenvolvimento regional, diante das implicações da aplicação da Instrução Normativa 51, acontece em função de que a referida atividade é imprescindível para a construção de uma sociedade economicamente mais produtiva, socialmente mais justa e territorialmente mais equilibrada, particularmente em regiões onde a estrutura fundiária é composta de pequenas e médias propriedades rurais, caso da região estudada. Além de enfatizar a atividade leiteira como determinante ao desenvolvimento regional, o estudo busca entender o processo de transformação da cadeia leiteira, especialmente o elo da produção primária, visando encontrar alternativas à estagnação produtiva e mesmo à exclusão de pequenos produtores rurais, conhecidos também como agricultores familiares.

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Oliveira (2010) destaca que estudos sobre a evolução e diferenciação da agricultura, realizados no Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, evidenciam a crise da agricultura familiar já a partir da segunda metade da década de 1980, quando se caracterizavam fortes restrições nas condiçoes de produção, especialmente pela estabilização nos preços pagos pela soja e diminuição de acesso ao crédito. Perante a vizualização da nova organização socioeconômica provocada pela crise, os produtores passam a buscar alternativas para intensificar e diversificar a produção, adotando sistemas produtivos que geram maior valor agregado por unidade de área, nos quais o leite aparece como uma importante alternativa ao desenvolvimeto da agricultura familiar.

A produção leiteira é uma importante alternativa, pois a atividade tem potencial para agregar valor à produção agropecuária, geração de renda e empregos, além da dinamização da economia rural. Pode-se observar que, desde a década de 1980, a produção tem aumentado ano a ano. No entanto, é visível a queda no número de produtores envolvidos, seguindo a lógica excludente do mercado, fato que constitui parte da problemática que este trabalho pretende responder.

Ao analisar a expressão regional que a agricultura familiar envolvida com a atividade leiteira ocupa, e sua importância ao desenvolvimento, esta pesquisa busca encontrar alternativas para suprimir as dificuldades, inclusive quanto à própria reprodução dessas unidades de produção, alocadas a uma cadeia produtiva onde as indústrias lácteas valorizam a especialização, as escalas de produção e a infraestrutura das propriedades. Atualmente, depois da implementação da Instrução Normativa 51, os aspectos ligados à sanidade e qualidade do leite também começam a ser mais valorizados. Entretanto, as adequações exigidas do processo produtivo podem tornar-se mais um fator limitante à permanência na atividade, uma vez que uma importante parcela de produtores se encontra descapitalizada e sem acesso a crédito, inviabilizando assim as adaptações exigidas para a comercialização do leite.

Nesse contexto, para as indústrias lácteas e parte da assistência técnica, a saída é intensificar a produção e a produtividade. Entretanto, mesmo assim, nem

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sempre o resultado é o aumento da renda e a melhoria da qualidade de vida das popoulações envolvidas com a atividade. Isso porque o desenvolvimento da agropecuária em particular, e o desenvolvimento rural em geral, nem sempre são vistos como processos que se apresentam positivamente correlacionados. Silva Neto e Basso (2005) afirmam que, para que os ganhos de produtividade e o aumento na produção possam refletir positivamente sobre a economia e o desenvolvimento de uma região, é imprescindível que estes sejam compatíveis com a manutenção de uma população relativamente elevada no campo. Ressalva-se, nesse sentido, a preocupação com a provável exclusão de famílias que vêm sendo inviabilizadas, tanto pela política de valorização de preços por escala, como pela incapacidade de adaptação às novas exigências do processo de produção e armazenagem de leite inseridas na Instrução Normativa 51.

Tendo como foco a realidade do cenário da pequena propriedade leiteira, associado ao papel que as empresas têm desempenhado em reforçar a tendência à intensificação dos sistemas produtivos, melhoria de potencial genético e altas escalas de produção, muitas propriedades acabam ficando à margem do processo produtivo. Entretanto, esse pode não ser o único caminho, nem mesmo o desenvolvimento, necessariamente, tem de ser um processo normativo. Pelo contrário, não pode haver “pacotes” generalistas e as individualidades têm de ser respeitadas. Para tanto, todo esse “pacote” de recomendações não é o único caminho. A adoção de sistemas de produção menos intensivos, que respeitem os limites ambientais, associados à ótica de um desenvolvimento mais sustentável e uma política de valorização real pela qualidade do leite, no preço pago, e não apenas das escalas de volume produzido, podem permitir a valorização desse importante ativo que as propriedades familiares representam ao desenvolvimento regional.

Desta forma, a presente pesquisa espera responder, ou mesmo criar subsídios, à proposição de algumas alternativas que possam ser empregadas na maior valorização da agricultura familiar, especialmente as envolvidas na atividade láctea, bem como proporcionar formas de manter essas propriedades e famílias na atividade e no meio rural.

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O presente trabalho, em termos metodológicos, se concentrou na área de abrangência da Regional de Ijuí da EMATER-RS/ASCAR. Foi desenvolvido por meio de uma abordagem histórica das transformações ocorridas na cadeia láctea do Brasil, com atencão especial ao Estado gaúcho e a sua Região Noroeste. No contexto dos sistemas de produção, foi analisada a produção leiteira como importante fator para o desenvolvimento regional, assim como alguns possíveis reflexos da exclusão das famílias da atividade leiteira para esse desenvolvimento.

Assim, o trabalho está dividido em duas grandes partes. A primeira visa analisar a literatura existente em torno do tema, buscando captar os principais enfoques acerca do assunto abordado. A segunda se baseia em entrevistas e análise, em pesquisa aplicada com atores do elo da organização e produção da cadeia láctea visando compreender a realidade das pequenas propriedades situadas no Noroeste gaúcho. Nas entrevistas, são abordadas as possíveis limitações impostas pela IN 51 à permanência dos pequenos produtores na atividade láctea.

O método de abordagem deste estudo é dedutivo, e quanto a sua natureza a pesquisa caracteriza-se como aplicada, uma vez que objetiva gerar conhecimentos para a aplicação prática dirigida à solução de problemas específicos, envolvendo verdades e interesses locais (LAKATOS; MARCONI, 2003).

Quanto à maneira de abordar o problema, a pesquisa caracteriza-se como qualitativa, sendo o processo e seu significado os focos principais de abordagem. Conforme Minayo (2002), a pesquisa qualitativa busca responder a questões muito particulares, preocupando-se com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Portanto, trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que, por sua vez, vão corresponder a um espaço mais profundo nas relações, nos processos e nos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

No que concerne aos objetivos, a presente pesquisa realiza-se em nível exploratório e também descritivo, uma vez que se buscou fazer uso da observação sistêmica para a coleta de informações (GIL, 1999). Em termos técnicos, esta investigação compõe-se de pesquisa bibliográfica e de campo, porque busca

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identificar outros estudos já desenvolvidos sobre os temas relacionados à problemática exposta neste trabalho.

A opção metodológica pelo Estudo de Caso partiu do pressuposto de que o estudo de uma situação particular, como o caso da região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, pode ser representativo da realidade de outras situações (YIN, 2001). Entendemos ainda que possa existir a crítica quanto à representatividade deste estudo, no entanto partimos da suposição de que o global se expressa no particular, ou seja, é possível encontrar, no particular, elementos contextuais que nos permitem realizar uma leitura do global.

Também podemos compreender que a pesquisa Estudo de Caso expressa uma universalidade, porém ela não generaliza o fenômeno (objeto) em análise. O problema seria desconsideramos que o particular não tem relação com o global. De acordo com (YIN, 2001) e Molina e Bossle (2010), apoiado nas convicções de Morin, pensar de modo complexo a partir do particular é levar em consideração a dialógica, a recursividade e a hologramática do conhecimento sobre os fenômenos observados, isto é, vendo o todo representado na parte, sabendo que, embora representando o todo, a parte é singular e diferente do todo.

Enfim, a presente dissertação está organizada em três capítulos divididos em subcapítulos, além da Introdução e Conclusão. O primeiro capítulo expõe os aspectos da história, evolução e as transformações da cadeia do leite no Brasil, com atenção especial à Região Noroeste do RS. Traz ainda um panorama da realidade e representatividade da produção leiteira associada às tendências do setor produtivo. Realça a reorganização industrial do setor lácteo e, por fim, a importância do leite para o desenvolvimento regional.

O segundo capítulo contempla a reestruturação da cadeia regional do leite, abordando suas potencialidades e dificuldades. Dentro da perspectiva de proposição de alternativas, é apresentada a Rede Leite e o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (PPD). O capítulo contempla ainda a visão do Secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do RS, sobre a importância da atividade leiteira para o Estado.

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O terceiro e último capitulo é direcionado à apresentação da IN 51 e alguns de seus impactos na produção leiteira provocados por sua regulamentação. Nele são apresentadas as entrevistas com atores relacionados à produção, assim como apresentadas algumas proposições que podem auxiliar na permânencia das propriedades rurais, através da geração de maior renda no seu processo produtivo.

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1 ASPECTOS DA EVOLUÇÃO DA CADEIA DO LEITE NO BRASIL

1.1 História, evolução e modificações da cadeia do leite

A cadeia do leite é considerada por pesquisadores e mesmo seus atores como uma cadeia complexa, por abranger em seu contexto diversas áreas do conhecimento e formações profissionais, das ciências humanas e agrárias, como a economia, sociologia, administração, e agrônomos, veterinários, zootecnistas, técnicos agrícolas, dentre outras. Essa constatação, empírica que seja, deve-se ao fato de este sistema agroindustrial perpassar toda história brasileira e expandir-se geograficamente por todo território nacional, além de se encontrar vinculado a diferentes setores da economia. Outra ocorrência determinante para sua complexidade é o fato de a cadeia leiteira envolver as diferentes categorizações do setor produtivo, já que é exercida por produtores comerciais e de subsistência, por detentores de terras e arrendatários, por contratadores de mão-de-obra e pela agricultura familiar. Por fim, destaca-se sua íntima ligação com o setor industrial, seja nos processos de envase, como de beneficiamento do leite e seus sub-produtos.

Ademais, de acordo com Martins e Farias (2006), no mundo inteiro o setor leiteiro recebe influências diretas de políticas públicas específicas, as quais dependendo de seu desenho, distorcem positiva ou negativamente a alocação de fatores produtivos ao longo da cadeia, assim como inibem ou induzem o consumo do produto nacional em relação ao produto importado. Portanto, este sistema agroindustrial é complexo. A inúmera gama de profissionais alocados no processo produtivo estarão constantemente sendo desafiados a resolver problemas acerca do funcionamento dos mercados e das diferentes alternativas privadas e públicas, tanto de produção e industrialização, quanto das cadeias produtivas.

O presente estudo da cadeia produtiva está limitado ao Estado do Rio Grande do Sul, em especial à Região Noroeste. No entanto, essa limitação será tratada como relativa, uma vez que, por se tratar de uma cadeia, seus diferentes elos se encontram inter-relacionados e sofrem influência tanto de fatores internos quanto

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externos. Para tanto, inicialmente será realizado um pequeno recorte da visão histórica do leite no Brasil.

De acordo com Martins e Faria (2006), ao longo de mais de quatro séculos a economia brasileira situou-se e expandiu-se quase que totalmente dentro de uma faixa de 500 quilômetros a partir do litoral, de norte a sul. Para os autores, no período colonial, a escassez de mão-de-obra foi determinante para que Portugal inicialmente não atuasse de maneira decisiva no território.

Conforme os autores, o açúcar foi o primeiro produto de exportação brasileiro, produzido principalmente na região Nordeste e também nas áreas litorâneas. Em pouco tempo, a economia açucareira tornou-se uma importante fonte de exploração econômica e determinou dificuldades ao estabelecimento de uma pecuária mais intensiva, principalmente porque os animais invadiam os canaviais que, em sua maioria, não eram protegidos com cercas. Os problemas causados pelo gado foram tão sérios que o próprio governo português chegou a proibir a criação dos animais em toda a faixa litorânea. Assim, a atividade pecuária teve dificuldades para se estruturar e estender sua produção para a exportação, consolidando um sistema apenas de subsistência que acabou marcando os quatro séculos seguintes da atividade (MARTINS; FARIA, 2006).

Em um panorama mais geral, até meados do século XX, período em que aconteceu a industrialização brasileira, o país vivenciou basicamente os ciclos da cana-de-açúcar, do ouro e do café, caracterizando-se como primário-exportador. À época, apenas a uma única atividade era creditado o papel de inserir a economia brasileira no cenário internacional. Através das divisas proporcionadas pela exportação dessas monoculturas é que se obtinham no exterior todos os demais produtos de valor agregado consumidos internamente. Como uma das consequências desse modelo de desenvolvimento, baseado na exploração de apenas um produto, várias outras atividades ficaram à margem da especialização e da evolução produtiva. De tal modo, coube à pecuária, mais especificamente à produção de leite, um papel secundário, de subsistência. Assim, na visão de Martins e Faria (2006), foi nesse cenário que se encontraram as bases para a configuração da atividade como tradicional, caracterizada pela baixa busca de ganhos em

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eficiência, uma vez que a pecuária não foi afetada pela visão comercial que norteou outras atividades agrícolas, principalmente as culturas da cana-de-açúcar e do café.

A pecuária leiteira começou a ganhar maior destaque a partir de 1946, quando o Brasil iniciou um processo de regulamentação da atividade leiteira, estabelecendo critérios sanitários de processamento e distribuição do leite e seus derivados. Conforme Paulillo e Alves (2002), as medidas tomadas pelo Estado no período da regulamentação previam um preço mínimo, além da estipulação de descontos quando houvesse sazonalidade da produção. Os preços praticados eram diferenciados de acordo com o destino: leite/consumo e leite/indústria. Para Martins e Faria (2006, p. 50),

O que norteou esta ingerência do Estado na atividade láctea foi procurar assegurar que o consumidor tivesse acesso a produtos seguros, sem risco de contaminação. Além disso, o Estado passou a definir preços de comercialização, ou seja, o preço pago ao produtor de leite in natura e o preço do leite pasteurizado pago pelo consumidor. Esta medida tinha uma conotação de assegurar o abastecimento alimentar e visou garantir que o leite fluído destinado ao consumo seria de fácil acesso a população, sob a ótica do orçamento familiar.

Esse período perdurou de 1946 a 1991 e deu início à organização da cadeia do leite, ficando caracterizado como o Período da Regulamentação. Nesse momento os principais problemas identificados à atividade leiteira no Brasil eram a inadequada infraestrutura nas propriedades, práticas sanitárias, de manejo e condições de higiene insatisfatórias, além de baixo potencial genético do rebanho, o que se configurou como um cenário de baixo nível tecnológico na atividade primária, com reflexos diretos e desfavoráveis na qualidade, na quantidade e nos custos de produção. Assim, os resultados obtidos por esta política de intervenção governamental foram pouco satisfatórios ao que se buscava (MARTINS; FARIA, 2006).

Sob o ponto de vista de Oliveira (2010), a partir da década de 50 foram intensificados os investimentos no beneficiamento do leite. Esta aceleração encontrava-se associada ao Plano de Metas de Juscelino Kubitschek e sob a influência da internalização da indústria de bens de capital, período em que se exacerbou a concorrência entre as empresas beneficiadoras. Posteriormente, em

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meados da década de 60, já foi possível observar que o Estado havia criado condições para dar início à formação do complexo lácteo brasileiro.

O Estado, por sua vez, continuou atuando nos preços ao longo desse período, sendo exemplos de sua presença, segundo os estudos de Oliveira (2010), quando em 1964 parou de fixar o preço do leite que era destinado à indústria e liberou o tabelamento dos derivados de leite. No ano de 1969, instituiu para o leite-cota e o leite-excesso uma política de preços diferenciados. Nos anos 70, conteve os preços pagos aos produtores com intuito de evitar a super oferta de leite in natura, entretanto, em consequência dessa medida, causou a estagnação da produção no período de 1970/1973. Com isso, a produção tornou-se insuficiente para atender à demanda nacional, determinando ao Governo Federal a necessidade de efetuar importações já em 1974. Em contrapartida, o governo, no mesmo ano, aumentou os preços pagos aos produtores como estímulo e fomento à produção. Também, buscando recuperar o desenvolvimento do setor, aumentou os subsídios para o transporte das bacias de leite até as regiões centrais, e se viu obrigado a adotar uma política de importação de leite em pó.

Nos anos 80, estudos incorporaram análises referentes aos demais segmentos e aos reflexos das políticas públicas sobre a cadeia do leite. Nesse momento, alguns pesquisadores como Farina (1993) e Homem de Melo (1995), (apud MARTINS; FARIA, 2006) deram início à discussão da nefasta intervenção do Governo, concluindo que este, por sua vez, deveria ser o principal responsável pelo baixo dinamismo produtivo então existente. Além do fato de que os preços reais recebidos pelos produtores de leite haviam sido reduzidos anualmente, chegando em 1984 a 66% do que eram em 1977.

Esse mesmo período caracterizou-se, de acordo com Paulillo e Alves (2002 apud OLIVEIRA, 2010), por diversos impasses entre Governo Federal e agentes privados lácteos. Também nessa época surgiu a Secretaria Especial de Abastecimento e Preços (SEAP), a qual foi a responsável pelas decisões tomadas em relação ao comportamento dos preços praticados no leite, sob a justificativa de controlar os preços para proteger os produtores do oligopsônio. Em 1981, o Governo motivou a liberação dos preços do leite pagos ao consumidor, porém esses

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preços mantiveram-se os mesmos. Essa liberação aconteceu por mais um erro do governo, que, mesmo com a elevação da produção nacional, importou grande quantidade de produto, ocasionando excesso de oferta e em consequência a queda nos preços.

Diante dessa problemática, associada à crise de escassez de alimentos que se instalou nos meses seguintes à implantação do Plano Cruzado1, o Governo, visando a estimular investimentos de incremento à produção e à produtividade, instituiu um programa de reajustes ao preço do leite pago ao produtor. Essa medida acabou resultando na criação, por parte da Embrapa, de uma Planilha de Custo de Produção de Leite, entretanto, seu desígnio como norteadora da evolução dos preços do leite acabou nunca se consolidando.

A crise econômica enfrentada no final da década de 80, motivada pelo aumento da inflação, também representou consequências ao setor lácteo, à medida que ocasionou uma importante redução na demanda por lácteos, refletindo-se ainda negativamente sobre a produção. Ainda sob gerência do Estado, a manutenção das importações de leite em pó para atenuar os problemas de abastecimento da entressafra representava um desestímulo à produção nacional, uma vez que os produtos importados eram subsidiados em seus países de origem e tinham preços menores aos praticados no Brasil. Além do desestímulo à produção nacional, as importações realizadas, sobretudo na entressafra, representavam problemas para a formação de estoques nos períodos de safra (PAULILLO; ALVES, 2002).

No ano de 1991, o Estado, não mais conseguindo sustentar a regulamentação dos preços pagos ao produtor, deixa de atuar sobre os preços praticados na cadeia do leite. O fim da definição dos preços de comercialização aconteceu sem uma prévia preparação tanto dos produtores quanto do mercado,

1O Plano Cruzado foi um conjunto de medidas econômicas, lançado pelo governo brasileiro em 28

de fevereiro de 1986, com base no decreto-lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986. Suas principais medidas foram o congelamento de preços de bens e serviços; congelamento da Taxa de Cambio por um ano; reforma monetária, com alteração da unidade do sistema monetário, que passou a denominar-se cruzado (Cz$), cujo valor correspondia a mil unidades de cruzeiro; congelamento dos salários pela média de seu valor dos últimos seis meses e do salário mínimo em Cz$ 804,00, que era igual a aproximadamente US$ 67,00 (PLANO CRUZADO, 2010).

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que, por sua vez, determinou uma instabilidade nos preços a serem praticados nos primeiros anos, justificada pela insuficiente prática em negociar dos agentes envolvidos. Para os autores, restrições como a baixa produtividade por animal e por propriedade, bem como a qualidade inferior do leite entregue aos laticínios continuavam sendo problemas a ser enfrentados, principalmente visando a tornar a atividade láctea competitiva frente aos produtos importados (MARTINS; FARIA, 2006).

Inicialmente a desregulamentação dos preços do leite por parte do Governo gerou um período de turbulência, principalmente nutrida pela diferença de interesses da indústria e dos produtores. Superado esse momento inicial, observou-se um período em que predominaram os esforços no sentido de superar as ineficiências na redução dos custos de produção, assim como melhorar a qualidade do produto e diversificar os seus derivados. Pela primeira vez a busca pela eficiência ultrapassou as porteiras da fazenda e chegou até o varejo, com mudanças e investimentos direcionados a todos os segmentos da cadeia leiteira. Esse fato recente foi o principal responsável por inserir o setor na lógica de organização industrial por meio de uma cadeia produtiva, conceito este que, de acordo com Martins e Faria (2006), foi determinante a redução dos custos em países mais desenvolvidos e especializados na produção leiteira como os Estados Unidos, Europa e Argentina.

Como resultado das profundas alterações sofridas no setor leiteiro na década de 90, após 40 anos de tabelamento nos preços permitindo que as forças de mercado determinassem o comportamento nos preços dos produtos da cadeia láctea, o que se viu foi um dinamismo na busca de soluções para os diferentes fatores limitantes ao desenvolvimento desta atividade. Outro elemento importante, além da liberalização do mercado, foi a concretização de um acordo regional de comércio com a Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile, formando o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). No próprio Brasil, o lançamento do Plano Real2, em 1994, foi

2Plano Real foi um programa brasileiro com o objetivo de estabilização econômica, iniciado

oficialmente em 27 de fevereiro de 1994 com a publicação da Medida Provisória nº 434 no Diário Oficial da União. Tal Medida Provisória instituiu a Unidade Real de Valor (URV), estabeleceu regras de conversão e uso de valores monetários, iniciou a desindexação da economia, e determinou o lançamento de uma nova moeda, o Real. O programa foi o mais amplo plano econômico já realizado no Brasil, e tinha como objetivo principal o controle da hiperinflação que assolava o país (PLANO REAL, 2010).

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fundamental, rompendo com o ciclo inflacionário na economia e permitindo um crescimento sustentado no consumo dos produtos lácteos (FONTE et al, 1998).

Esses diversos acontecimentos em conjunto, ou mesmo tratados de forma isolada, foram promotores de drásticas alterações na cadeia produtiva do leite. As indústrias, ao depararem com um cenário de economia globalizada, empenharam-se em ampliar suas escalas pela aquisição de outras empresas, ou mesmo fusões entre elas. Também fizeram parte de suas pautas os investimentos na modernização de seus parques industriais, assim como o aumento nos investimentos em pesquisa visando ao lançamento de novos produtos para atender um consumidor cada vez mais exigente e a um mercado em expansão. De acordo com Fonte et al (1998, p. 2), em um ambiente competitivo e com importações liberadas às indústrias

intensificaram suas exigências junto aos produtores de leite, quanto à qualidade da matéria-prima, continuidade de fornecimento e escala de produção. Os produtores, por sua vez, jogados nas novas regras de mercado, assistiram ao avanço da concorrência internacional, com a entrada de produtos subsidiados da União Européia e também dos países do MERCOSUL, com tarifas preferenciais.

Diante deste novo cenário, quem deparou com maiores dificuldades foram as unidades produtivas por apresentarem estruturas mais frágeis. Com sua composição predominantemente familiar e de subsistência, acabaram tornando-se praticamente incapacitadas a reagir às mudanças impostas pelas exigências do mercado. Este problema persiste até os dias atuais, e, embora uma importante gama de produtores esteja acompanhando as modificações impostas pelo setor industrial, está ocorrendo, de outro lado, a exclusão de um grande contingente de produtores incapacitados de atender às exigências de um setor que entrou na era da competitividade e numa economia globalizada (FONTE et al, 1998).

Outro fator determinante às características atuais da cadeia de produção do leite é a tendência à concentração dos mercados, processo que se iniciou por volta dos anos 70 e acentuou-se na década de 90, quando ocorreu a incorporação e a associação de empresas, em geral de nacionais com transnacionais, ao mesmo tempo em que novas plantas industriais foram e estão sendo implementadas, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sul. Para além da busca do poder de mercado, com o objetivo de melhorar o desempenho e a maximização dos lucros, os

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principais laticínios estão reduzindo o número de fornecedores de matéria-prima, sem que haja redução no volume de captação (MARTINS; FARIA, 2006).

Dentro da ótica de melhorar o desempenho, Martins e Farias (2006) ressaltam que tem se verificado, nos últimos anos, a indústria de laticínios como a principal responsável pela implementação de transformações em diferentes segmentos da cadeia produtiva. Fomentou a aquisição de tanques de resfriamento pelos produtores, induziu a adoção de tecnologias intensivas em pastagens e na melhoria administrativa das unidades de produção. Tem investido em plantas industriais de maior escala e tecnologias de processamento mais eficientes que levam a diferenciação de produtos visando à manutenção e a conquista de mercados, evidenciando um novo perfil da indústria, que tem motivado mudanças na cultura das empresas no sentido de se manterem atualizadas frente às tendências mundiais do setor.

Quanto às características das novas plantas dos grandes grupos empresariais, destacam-se os segmentos que apresentam maior índice de automação e reduzido número de produtos na linha de produção, como o leite Ultra High Temperacture – UTH, conhecido como longa vida, o leite condensado e o leite em pó. Nestes casos, o que se verifica é o menor número de postos de trabalho, com maior qualificação. Por outro lado, as empresas têm promovido profundas reformas administrativas, buscando a simplificação das estruturas hierárquicas para maior agilidade na tomada de decisão. Para os autores,

Num contexto de poucas barreiras tecnológicas, a capacidade gerencial e a flexibilidade organizacional tornam-se os aspectos mais importantes de competitividade. [...] embora intenso, o investimento tecnológico tem sido freado por instabilidades do mercado e de políticas públicas, além da concorrência em grande escala com produtos não inspecionados. (MARTINS; FARIA, 2006, p. 57).

Sob este contexto, a instabilidade do mercado impede a sólida coordenação da cadeia produtiva por parte da indústria. A conservação de plenos vínculos com outros setores da economia e, especialmente, com o agronegócio tem possibilitado estabelecer padrões de matéria-prima, insumos e equipamentos, ou seja, a montante da cadeia produtiva. Assim, dois pontos inibem o pleno exercício de

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coordenação. “O primeiro diz respeito a sua relação com os supermercados. O segundo refere-se ao fato de a demanda de lácteos ser influenciada solidamente pelo poder aquisitivo do consumidor” (MARTINS; FARIA, 2006, p. 57), que, por sua vez, tem-se comportado de maneira instável no decorrer dos anos, além da facilidade/dificuldade de o mercado importar leite.

Outro fator determinante para os pesquisadores é que o mercado nacional do leite conta com dois agentes importantes que levam em consideração variáveis diferentes na decisão de comportamento:

O consumidor é quem desencadeia o processo. A decisão de consumo lácteo relaciona-se positivamente com o poder de compra e inversamente ao preço relativo dos derivados lácteos, frente aos demais produtos. Assim, se a redução da sua renda real, motivada por inflação, ou se perspectiva de desaquecimento da economia e uma provável onda de desemprego, ou ainda, se o preço do leite e de derivados está relativamente mais elevado que de outros bens e serviços disponíveis, a tendência é de retração do consumo. (MARTINS; FARIA, 2006, p. 57).

E, por fim, do outro lado, a indústria é que irá considerar a perspectiva de comportamento da demanda, “se a mesma apresenta tendência de aumento ou retração, e também a facilidade de obtenção de produtos importados, para estabelecer os preços que irá praticar” (MARTINS; FARIA, 2006, p. 57). Nessa situação, o que se verifica é que a análise leva em consideração os preços internos e os internacionais, estes últimos, influenciados fortemente pela cotação do dólar americano frente à moeda nacional.

Além de todos esses fatores que influenciam e interferem na cadeia do leite, o Governo brasileiro implementou o Programa Nacional de Melhoria na Qualidade do Leite (PNMQL), que se encontra em vigor desde 2005. Esta ação tem por objetivo melhorar as características sanitárias da atividade leiteira a partir de mudanças na legislação. Assim, foi lançada a Instrução Normativa 51, em vigor desde setembro de 2002, prevendo diversas exigências quanto ao manejo do leite, tendo como exemplo a exigência de granelização total do leite. Entretanto, essas medidas previstas têm-se tornado alvo de polêmicas pela incapacidade de adaptação de importante parcela de produtores, podendo gerar um aumento ainda maior da exclusão e êxodo dos produtores rurais.

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A partir de todas essas mudanças ocorridas no setor leiteiro houve uma reestruturação em novas bases priorizando por parte das indústrias principalmente os ganhos em escala e qualidade, tanto na produção leiteira como nos diversos processos de transformação sofridos pelo leite na elaboração dos seus subprodutos. O subcapítulo a seguir será destinado à elucidação das tendências da cadeia láctea e suas prováveis repercussões tanto na produção primária quanto no mercado e na indústria.

1.2 Tendências da cadeia leiteira

Falar sobre as tendências das cadeias produtivas do agronegócio é sempre uma tarefa difícil. Devido às incertezas que cercam o setor, qualquer diagnóstico é sempre complicado de ser elaborado, uma vez que diversos fatores incontroláveis, como clima, demanda, renda, câmbio, juros influenciam diretamente o comportamento dos diversos elos da cadeia. Outro desafio consiste na falta de coordenação que faz com que o setor não tenha informações e organização suficientes para criar e avaliar os cenários para a cadeia.

Com as mudanças estruturais da economia ocorridas após a desregulamentação da cadeia do leite em 1991, obteve-se maior eficiência e dinamismo na cadeia produtiva, muito em função das condições competitivas adversas impostas aos agentes, destacando-se o câmbio sobrevalorizado, a alta taxa de juros e da elevada carga tributária. Assim, mesmo que a desregulamentação tenha levado à intensa busca de ganhos em escala, permitindo a redução do preço do leite recebido pelos produtores, também determinou uma série de dificuldades de permanência no mercado aos agentes que não perceberam as mudanças, ou não tiveram tempo e condições de se adaptar. Esta situação é característica tanto do setor primário quanto do setor de transformações, que vem passando por uma acelerada concentração industrial (MARTINS; FARIA, 2006).

Esse fato se explica uma vez que o setor abandonou a condição de importador líquido de leite e vem alcançando resultados positivos na balança comercial, mesmo que ainda de pouca significância, mas com tendência a crescer se o real vier a passar por um processo de desvalorização. Contudo, segundo os

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autores, precisa-se considerar uma nova realidade que vem se afirmando. A produção nacional entre 1991 e 2005 cresceu 59,5%, e o PIB per capita 19,5%, demonstrando que a produção brasileira cresceu ocupando o mercado que antes pertencia ao produto advindo das importações e que deixou de ocorrer com as medidas antidumping adotadas, que reduziram as importações a partir de 2001 (MARTINS; FARIA, 2006). Mas como a produção tem apresentado “tendência de crescimento superior à tendência de aumento de consumo per capita, é possível que o país viva uma crise estrutural de excesso de oferta” (MARTINS; FARIA, 2006, p. 65).

Para tornar essa situação ainda mais complexa, a cadeia do leite hoje começa a se dividir e a lutar por espaços por produtos substitutos lácteos, como a imensa gama de sucos e bebidas lácteas derivadas da soja, que tem sido defendida por muitos pelas suas características nutricionais e percentuais de gordura mais baixos. Nesse contexto, políticas de promoção e melhoria de qualidade dos derivados lácteos são e serão determinantes à manutenção da cadeia nesse cenário.

Seguindo por este viés, sob os olhos da pesquisa, a corrida tecnológica é um processo contínuo, e quem se estabilizar estará sujeito a ficar para trás. Conforme Martins e Faria (2006, p. 65), um novo cenário se abre a partir das novas tendências que estão surgindo e,

A pesquisa no leite se vê diante de desafios claros, como gerar uma matéria-prima para a indústria sem nenhum resíduo que afete a saúde. A produção e o processamento deverão não degradar o meio ambiente e os derivados lácteos deverão ser obtidos numa conversão que utilize cada vez menos o leite por quilo de produto final obtido.

Sob a ótica dessas novas demandas, já está se afetando por completo a lógica de manejo, tanto dos animais quanto das pastagens, do destino dos dejetos associado à nova legislação ambiental, da genética, adaptando os animais às diferentes condições encontradas no setor primário, entre outros elos da cadeia do leite, que vem sofrendo diversas alterações focadas nas propostas de um desenvolvimento sustentável. Além desses fatores, destaca-se que a pesquisa ocupará um papel cada vez mais determinante na cadeia, uma vez que a utilização

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do leite como insumo para novos produtos será cada vez mais frequente como mecanismo de agregação de valor à matéria-prima.

Outro ponto que deve ser abordado que tem interferência sobre a demanda da produção leiteira é a mudança do comportamento da população na busca de uma alimentação mais saudável, acompanhada pelo envelhecimento previsível da população, resultado do aumento da expectativa de vida e da redução gradual na taxa na natalidade.

O aspecto anterior abre espaço para duas vertentes. A primeira, direcionada a busca de uma alimentação mais saudável, tem feito com que a população tenha substituído o consumo de alimentos que posam resultar em obesidade, ou riscos à saúde, por alimentos como o leite. Nesse sentido, o consumo de leite tem aumentado, determinando um maior crescimento ao setor. Por outro lado, a questão do envelhecimento da população deve criar problemas à cadeia leiteira, uma vez que, ao analisar o consumo de leite pela população brasileira nos dias de hoje, observa-se que a maior parte no consumo está entre os mais jovens. Assim, a quantidade de volume a ser consumido, sob a ótica deste aspecto, tende a diminuir (NEVES; CAMPOS; CÔNSOLI, 2006).

A própria melhor distribuição de renda, mesmo que pareça ainda muito distante, parece ter começado a dar seus primeiros passos, e esta tendência futuramente pode gerar um consumo mais alto, especialmente quanto aos derivados lácteos, uma vez que o leite fluido já pode ser encontrado com preços acessíveis pelo menos à imensa maioria da população. Também no círculo de mudanças que podem interferir no consumo de produtos lácteos aparece a crescente inserção das mulheres no mercado de trabalho. Este fato desencadeou uma procura por alimentos de preparo mais rápido, pois as mulheres precisam sair para trabalhar e têm seu tempo limitado para preparar os alimentos para a família. É importante que a cadeia esteja atenta a esta mudança para adequar, posicionar-se e não perder espaço para outras cadeias que produzem produtos substitutos do leite e seus derivados (NEVES; CAMPOS; CÔNSOLI, 2006).

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Mais ligado ao aspecto econômico entre os diversos elos da cadeia leiteira, existe a discussão de que o leite se apresenta como um bom negócio. Martins (2005 apud NEVES; CAMPOS; CÔNSOLI, 2006) assevera que a cadeia do leite consiste em um negócio interessante para todos, desde o governo com a arrecadação de impostos até os demais componentes da cadeia; desde o setor de insumos até os consumidores. Para tanto, o autor apresenta estudos realizados pela Embrapa, os quais evidenciam que os produtores obtêm lucros na atividade, prova disto é o aumento da produção nos últimos anos, bem como a incorporação de novos produtores à atividade láctea.

Sob o aspecto internacional, ao qual o leite brasileiro se encontra inserido, Carvalho (2005 apud NEVES; CAMPOS; CONSOLI, 2006) ressalva que os subsídios impostos pelos países ricos devem diminuir, o que pode possibilitar uma maior abertura ao mercado para os produtos lácteos. Entretanto, conforme suas convicções, o Brasil não é visto como uma unanimidade, como outros países fornecedores de leite no mundo. Aparecem como fortes candidatos a ocuparem esse espaço, Rússia, Nova Zelândia, Estados Unidos e alguns países da União Europeia. Como explicação ao descrédito brasileiro em se tornar uma grande potência em exportação de leite, o autor defende a tese que se baseia na baixa organização e na falta de ações estratégicas que possam determinar maior consistência à cadeia do leite.

Finalmente, o novo cenário merece uma reflexão intensa de todos aqueles que, de alguma forma, se dedicam ou se inter-relacionam com a cadeia de produção da atividade láctea. Em um passado pouco distante, o Estado foi quem promoveu e custeou as pesquisas. No presente, este modelo se mostra totalmente reproduzido. Assim emerge o grande desafio ao sucesso da cadeia: como continuar avançando com a elevação crescente dos custos de pesquisa? Como continuar mantendo a trajetória vitoriosa de competitividade? Como depender somente de recursos públicos se na parte rica do mundo não é mais assim? Afinal, a máxima de Pero Vaz de Caminha é uma meia verdade. “Nessa terra, em se plantando, tudo dá [...]”, desde que por trás haja pesquisa (apud MARTINS; FARIA, 2006, p. 65).

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Buscando responder às incertezas credenciadas a todas as mudanças e à atual tendência do setor lácteo, o subcapítulo a seguir traz a caracterização atual do desenvolvimento das atividades de alguns elos da cadeira leiteira, em especial o mercado e a produção, bem como do comportamento da expansão territorial a outras zonas produtivas e, em contraponto, a concentração de outras áreas de produção e beneficiamento.

1.3 Panorama da cadeia do leite no Brasil

Como já mencionado, é notório que a cadeia leiteira tem passado por diversas modificações, tanto em seu elo estrutural quanto aos volumes produzidos no Brasil e no mundo. A produção mundial, conforme Sluszz et al (2006), teve um aumento de 11,1% nos últimos dez anos, tendo nos Estados Unidos seu maior produtor, contribuindo com 15% do volume total, seguido pela Índia (7,3%), Rússia (6%), Alemanha (5,4%) e França (4,7%), o que no ano de 2004 representava no total uma produção de aproximadamente 515.837 mil litros. O Brasil, nesse mesmo ano, foi responsável por uma produção de 4,5 % do total, ocupando a sexta posição no ranking mundial com um volume de 23.320 mil litros. No período de 1995 a 2004, a produção nacional desempenhou um aumento de 37,7%. Com este resultado, em 2004, o Brasil ocupou a segunda posição no ranking dos países produtores de leite da América, atrás apenas dos Estados Unidos.

Sem dúvida, hoje o Brasil tem potencial para aumentar sua produção de leite em ritmo bem maior do que a Argentina, grande concorrente na América do Sul. De acordo com os pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, Zoccal e Carneiro (2008), esta foi uma das principais constatações da reunião realizada pela Federação Panamericana da Indústria de Laticínios (FEPALE) no final de 2007. A produção de leite nos 10 países da América do Sul somou 50,2 bilhões de litros (Brasil - 25,3 bilhões de litros; Argentina 8,1; Colômbia 6,7; Equador 2,5; Chile 2,4; Uruguai -1,8; Peru -1,3; Venezuela -1,3; Paraguai - 0,3 e Bolívia - 0,2). Somente o Brasil produz 50% deste volume, de acordo com os dados da Food and Agriculture Organization (FAO). No cenário mundial, o Brasil ocupa a 6º posição, ficando atrás somente dos EUA (82,4 bilhões de litro), Índia (39,8), China (32,2), Rússia (31,1) e Alemanha (28,5). A produção mundial, em 2006, foi de 546 bilhões de litros.

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Seguramente no Brasil de hoje, a importância que atividade da cadeia leiteira ocupa é incontestável, tanto pelo seu desempenho econômico, quanto pela geração de empregos permanentes. Afirmativa esta, embasada nos dados de Zoccal e Carneiro (2008) que em seus trabalhos destacam uma produção no ano de 2007 de 26,4 bilhões de litros, gerando um valor bruto de produção ao redor de R$ 15 bilhões. Quanto ao número de pessoas envolvidas no setor primário, estima-se que mais de cinco milhões trabalhem diretamente com o leite, além de, até 2007, 1,3 milhões de produtores.

A pecuária brasileira distingue-se da praticada na maioria dos demais países por duas características: mesmo o Brasil sendo um país continental, com condições agroecológicas muito diversas, a produção leiteira ocorre em todo o território nacional. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existe a informação da presença desta atividade em 554 das 558 microrregiões consideradas pelo Instituto. A segunda característica é que não existe um padrão de produção, sendo marcante a heterogeneidade nos sistemas que se encontram presentes em todas as unidades da federação. São encontradas propriedades desde subsistência com baixíssima especialização e produção diária de menos de 10 litros, até produtores extremamente especializados, comparáveis aos mais competitivos do mundo, com tecnologias avançadas e produção diária superior a 60 mil litros (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

Atualmente, estima-se que 2,3% das propriedades leiteiras são especializadas e atuam como empresas rurais eficientes.

Esses sistemas de produção respondem por aproximadamente 44% do total de leite do País. Por outro lado, 90% dos produtores são considerados pequenos, com baixo volume de produção diário, baixa produtividade por animal e pouco uso de tecnologias. Apesar de representarem a maioria dos produtores brasileiros de leite, respondem por apenas 20% da produção total. Existe ainda um grupo intermediário, formado por 7,7% dos produtores, que respondem por 36% da produção (STOCK et al., 2007, apud ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

Outro fator determinante quanto à estrutura da produção de leite no Brasil é que esta acompanha o processo de urbanização e colonização do território nacional, determinando assim que nas regiões onde existe maior concentração populacional também se situam os maiores índices de produção. Conforme Zoccal e Carneiro

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(2008), já em 1975 o País produziu em torno de 8 bilhões de litros de leite, e como demonstra a Figura 1, os locais de maior produção, correspondendo a 75% e representando 6 milhões de litros, foram também aqueles ocupados pelas maiores densidades populacionais.

Figura 1: Microrregiões classificadas por densidade de produção e que totalizavam 75% do volume total de leite em 1975.

Fonte: IBGE/PPM (apud ZOOCAL; CARNEIRO, 2008).

De acordo com o mapa, constata-se que as áreas mais importantes na atividade leiteira eram também as mais urbanizadas do País. Portanto de acordo com a figura, destacam-se regiões centro-sul de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Já na Região Sul, destacam-se as microrregiões de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Por fim, no Centro-Oeste é a região central de Goiás a que apresenta maior concentração na produção, e no Nordeste aparecem as regiões do Agreste alagoano, pernambucano e paraibano (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

De uma maneira geral, a produção de leite no Brasil vem crescendo em torno de 4% ao ano. Segundo dados da Embrapa Gado de Leite, em 2007 o País produziu

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26,4 bilhões de litros. Entretanto, este volume, quando relacionado com o número de habitantes brasileiros, evidencia que esta produção é suficiente apenas para que cada cidadão tenha disponível diariamente menos de dois copos de leite (0,387 litros/habitante/dia). Para conseguirmos atender ao consumo recomendado pelo Ministério da Saúde (210 litros/pessoa/ano ou 0,575 litros/habitante/dia), o volume total de produção do país deveria alcançar os 39 bilhões de litros/ano, se considerarmos uma população de 186,9 milhões de habitantes (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

A evolução da produtividade de leite no Brasil pode ser visualizada pela comparação dos mapas correspondentes às figuras 1 e 2 que expressam, respectivamente, os locais onde se concentram 75% da produção leiteira por área nos anos de 1975 e 2007. Como contraste dos mapas, observa-se que ocorreu expansão e intensificação da atividade leiteira nos estados da região Sul. Nas regiões do Triângulo Mineiro e Centro-Sul de Goiás, verificou-se um aumento na produção, assim como houve também acréscimo na produtividade em áreas não tradicionais, como é o caso de Rondônia. Em contraponto, São Paulo, que produzia 1,8 bilhões de litros, teve reduzida sua participação no panorama nacional (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

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Figura 2: Microrregiões classificadas por densidade de produção e que totalizavam 75% do volume total de leite em 2007

Fonte: IBGE/PPM (apud ZOOCAL; CARNEIRO, 2008).

Para visualizar como transcorreram as mudanças geográficas do acréscimo de produção da pecuária de leite brasileira nos últimos dez anos (1998 a 2007), é possível analisar a figura 3, onde são destacadas apenas as 72 microrregiões que apresentaram, no mínimo, ampliação de 10 mil litros de leite por dia (aproximadamente 36 milhões de litros/ano) nas suas áreas de alcance (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

De acordo com o expresso pelo mapa da figura 3, existem quatro regiões que já eram representativas por apresentarem alta densidade de produção e que obtiveram incremento de produção aos seus índices. Conforme constataram Zoccal e Carneiro (2008), a primeira delas está localizada no Sul do País, nas regiões norte do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e sudoeste do Paraná. Também se destacou pelo crescimento a região do centro-sul de Minas Gerais, a Zona da Mata e Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, Vale do Rio Doce e Vale do Mucuri nos estado de Minas Gerais. A terceira integrante das regiões que obtiveram os maiores aumentos na produção está localizada no estado de Rondônia e leste do Acre,

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inclusive caracterizando-se por uma sólida vocação leiteira. Por último, mas não menos importante, aparece o Nordeste, principalmente as microrregiões do Agreste.

Figura 3: Microrregiões classificadas pelo aumento do volume de leite em 1998 e 2007

Fonte: IBGE/PPM(apud ZOOCAL; CARNEIRO, 2008).

Verifica-se também no mapa da figura 3 o crescimento na produção de duas regiões que não eram tradicionais, o centro-leste do Pará e o centro-oeste do Maranhão. Outra região que se destacou, mas não tão significativamente quanto a anterior, está localizada na Bahia. Assim, evidencia-se que o leite tem crescido além das áreas tradicionais, ocupando áreas até então não expressivas à produção láctea. Em dados apresentados por Zoccal e Carneiro (2008) pode-se constatar o aumento da produção em Chapecó/SC, por exemplo, área já tradicional na produção leiteira que demonstrou um aumento de 122 para 455 milhões de litros/ano de 1998 a 2007, e em São Félix do Xingu, microrregião não tradicional, uma ampliação de 32 para 122 milhões no mesmo período.

Para tanto, foi necessário que muitos fatores contribuíssem na atividade leiteira brasileira. Na Região Sul, por exemplo, a possibilidade de aumento na renda por área tem-se constituído de importante elemento atrativo quando comparado com

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a cultura de grãos. Nesta região, verifica-se uma expansão das áreas cultivadas com pastagens perenes associadas a melhorias no manejo dos animais e na correção do solo. Igualmente, pode ser observado aumento de conservação de forragens, sobretudo a ensilagem de forrageiras de inverno, como aveia branca, cevada e trigo. Na outra ponta da cadeia de produção estão sendo desenvolvidos projetos e instalações de novas indústrias para beneficiamento do leite e seus derivados (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

Como consequência de todo esse movimento em prol do aumento da produção na região Sul, em especial no Rio Grande do Sul, especificamente na região noroeste, objeto maior deste trabalho, foi observada uma evolução bastante significativa nos índices de produção anual. De acordo com a figura 4, é possível identificar que, principalmente nos anos de 2004 a 2006, houve um importante incremento na produção de leite na região noroeste, região esta que representa a maior parte do leite produzido no Estado.

Figura 4: Evolução da Produção de Leite entre as Regiões do RS Fonte: Silva Neto e Basso (2005, p. 58).

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Já na região Norte, Zoccal e Carneiro (2008) constataram que o crescimento tem acontecido especialmente pelo ingresso de novos produtores à atividade, em sua maioria, assentados da reforma agrária ou mesmo participantes de projetos de colonização. Para essas famílias, o leite pode representar, em um primeiro momento, a garantia de alimento, posteriormente, depois de estarem estruturados, a atividade pode consistir além de uma renda mensal, a consolidação de uma poupança com os animais.

Sob o ponto de vista de um panorama mais geral, a atividade leiteira ainda tem muito a melhorar no País. Alguns problemas acompanham o setor desde seus primeiros passos. São eles, a sanidade do rebanho, a qualidade do leite produzido, a produtividade por animal e por área, a alimentação sobretudo nos meses de seca e no uso de rações concentradas, além da administração e ingerência das unidades produtivas. No entanto, os autores atestam que no Brasil, atualmente, existe tecnologia compatível à desenvolvida e utilizada nos países de primeiro mundo (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

Quanto ao consumo, a demanda interna tem apresentado aumento gradual e mesmo que de forma lenta representa um atrativo aos investimentos na atividade. Já o consumo per capita encontra-se com comportamento estagnado, influenciado pela concorrência dos diversos substitutos lácteos, especialmente as bebidas à base de soja. As modificações propostas, como as implementadas pelo Plano Real, na distribuição de renda, mostraram-se positivas quanto ao aumento na demanda de produtos lácteos, principalmente quando acompanhadas de campanhas de marketing, ressaltando a importância dos aspectos nutricionais e a multifuncionalidade do leite.

Finalmente, estimular o consumo doméstico do leite junto ao mercado interno, bem como escoar os excedentes de produção ao mercado externo consistem seguramente em possibilidades positivas à expansão sustentável do setor no Brasil. Aspectos como a melhor remuneração dos produtores devem ser imperativos ao fortalecimento da cadeia produtiva do leite, bem como investimentos nos demais setores que a compõem.

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