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Complexidade e dificuldades na reestruturação produtiva e industrial do

Neste capítulo serão desenvolvidas as dificuldades de reorganização, especialmente dos produtores quanto à gestão, manejo e capacitação/formação da mão-de-obra. Em um segundo momento será apresentado um projeto desenvolvido na região que vem ao encontro da superação dos principais problemas enfrentados pelo elo da produção leiteira. Finalmente, discutir-se-á a cadeia do leite sob a ótica do setor público.

2.1 Complexidade e dificuldades na reestruturação produtiva e industrial do leite

Como acontece em outras cadeias produtivas, na atividade leiteira é muito comum os produtores questionarem a sua viabilidade, relacionada à produção, à geração de lucro limitado ou mesmo a prejuízos. Entretanto, é fato que a produção leiteira vem crescendo no Brasil ano após ano. Em 1995, o País era responsável por um volume de produção de 16,5 bilhões de litros/ano, dez anos mais tarde esses valores já alcançavam os 25 bilhões e, em 2010, de acordo com a Associação Leite Brasil (ALB), as estimativas são de um volume (formal e informal) de aproximadamente 31 bilhões de litros/ano.

Quanto ao descrédito dos resultados econômicos da produção leiteira, este aspecto se encontra intrinsecamente relacionado à estrutura de produção nacional, uma vez que 50% do total de produtores entregam menos de 50 litros por dia de leite sendo responsáveis por apenas 10% do volume de produção do País. Esta faixa de produtores é aquela que, por mais que desacredite na atividade, ainda tem no leite a única alternativa de sobrevivência das suas propriedades. Por outro lado, os produtores com mais de 200 litros/leite/dia representam apenas 10% da classe, mas entregam 50% da produção brasileira. Assim, o que se verifica atualmente na atividade é que para um grande número de produtores, menos especializados em sua maioria, a atividade possa não ser tão interessante, mas para outros a produção leiteira consiste em um excelente negócio, representando normalmente a principal

fonte de renda das propriedades. Para tanto, tudo depende sob qual ponto de vista se analisa este elo da cadeia láctea (AGUIAR et al, 2009).

Outro fator que atinge tanto produtores quanto a indústria é a complexidade da cadeia do leite, que se inicia no elo de produção primária, para a qual o produtor necessita adquirir insumos oriundos de inúmeras outras indústrias e cadeias. Além disso, o processo de produção demanda conhecimentos de diversas outras áreas das ciências agrárias, sociais e humanas. Associada a tudo isso, a atividade ainda é reconhecidamente considerada por muitos como uma das mais penosas atividades rurais, exigindo dedicação exclusiva sete dias por semana, 365 dias por ano, independente das condições climáticas.

Do lado da indústria de envase e transformação, é possível verificar-se elevada complexidade, passando pelo processo de aquisição da matéria-prima, fabricação de inúmeros derivados, negociação com diversa gama de varejistas, distribuição e logística e por fim a necessidade constante de se desenvolverem novos produtos associados à crescente competição com as bebidas derivadas de soja (CARVALHO, 2010).

No caso dos produtores em especial, uma constante do problema da sua insatisfação é a demasiada preocupação com o preço do lácteo, não sendo capazes de analisar a conjuntura de todo o processo, desde a criação dos animais, custo das instalações, alimentação e manejo. Mas, na prática, o preço, exclusivamente, não define o sucesso ou o fracasso do empreendimento. Para se entender a lucratividade ou não da atividade, é preciso realizar a gestão dos custos, da renda e não somente do preço (AGUIAR, 2009).

Sobre esta problemática, os pesquisadores destacam que a estimativa de custos de produção consiste no detalhamento das despesas e receitas, diretas e indiretas, do total das atividades envolvidas. Trata-se de uma das principais ferramentas para uma boa gestão da propriedade. “Permite avaliar a viabilidade econômica do negócio em função do capital investido, como também compará-lo com outras atividades, sejam ou não agropecuárias” (AGUIAR, 2009, p. 1).

Assim, cabe ao produtor administrar as variáveis sobre as quais ele tem controle, já que determinar o preço do leite não está em suas mãos. O que é determinante para tornar o leite um produto competitivo e lucrativo aos produtores serão as estratégias utilizadas na redução dos seus custos de produção. O mercado, por sua vez, continuará sendo caracterizado e afetado pela concorrência. O sucesso da atividade dependerá cada vez mais da capacidade de gestão de custos associada à tendência do mercado em valorizar e bonificar os ganhos por qualidade e escala de produção. A perspectiva econômica sugere uma tendência de aumento na concorrência a médio e longo prazo, com a entrada de novas empresas na atividade. Apesar do descrédito de muitos produtores, a exploração leiteira cada vez mais se consolida como um investimento/atividade capaz de proporcionar tanto a permanência de muitas famílias no campo quanto resultados econômicos bastante positivos (AGUIAR et al, 2009).

Atualmente o Brasil já é o sexto maior produtor mundial de leite. Para aumentar a competitividade, garantir a expansão da cadeia láctea brasileira e principalmente se estabilizar e permanecer no grupo dos grandes produtores mundiais será fundamental aliar os fatores de custo de produção à qualidade da matéria-prima. Estes dois fatores devem ser observados em todos os níveis da cadeia produtiva, consistindo em ferramentas essenciais à viabilidade econômica da atividade. Os cuidados com a gestão devem permitir baixar os custos do litro produzido, bem como servir de subsídio para analisar a ociosidade do tempo, mão- de-obra, manejo, buscando aumentar a produtividade e não apenas a produção das propriedades. Um diagnóstico técnico e econômico das propriedades pode representar um importante aliado na competitividade. A tendência à valorização pela qualidade do leite também é um diferencial capaz de aumentar a lucratividade e renda das famílias envolvidas na produção.

A evolução do setor lácteo associada aos novos paradigmas de desenvolvimento e gestão sugerem que os produtores tenham uma visão sustentável de seus negócios. O foco não deve ser unicamente aumentar a produtividade e os rendimentos econômicos. Os produtores devem alcançar maior rentabilidade, ligada a uma maior estabilidade no tempo. Hoje um fator muito importante para a competitividade está na sustentabilidade, que engloba a gestão, a

qualidade do leite e mesmo de vida dos envolvidos no processo, inclusive sob o ponto de vista de uma nova tendência, a qualidade de vida dos animais, quem vem sendo tratada como um importante aliado na melhoria da qualidade do leite.

Outro aspecto a ser observado para a sustentabilidade é o respeito ao meio ambiente e as suas limitações. Sob um ponto de vista conceitual, seria garantir a máxima do conceito de sustentabilidade formulado no Relatório de Brundtland (2010, p. 2), no qual “o uso dos recursos naturais para a satisfação das necessidades presentes não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras”. Sob esta ótica, o princípio de sustentabilidade aplicado a uma pequena propriedade ou a uma gigantesca planta industrial é o mesmo. Para ser sustentável, é preciso ser ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito.

Regionalmente, o que tem se observado buscando a permanência de várias famílias e propriedades na atividade e, por outro lado, para atender tanto as exigências ambientais, quanto as de sanidade e qualidade do leite, são ações em conjunto da assistência técnica, governos, universidades e cooperativas. Um exemplo que tem alcançado importantes resultados é o Programa em Rede de Pesquisa-Desenvolvimento em Sistemas de Produção com Atividade Leiteira no Noroeste do Rio Grande do Sul, a rede leite. Esta metodologia de trabalho será o foco a ser desenvolvido no subcapítulo a seguir.

2.2 Rede leite – busca do desenvolvimento da atividade leiteira – uma