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Como já mencionado, é notório que a cadeia leiteira tem passado por diversas modificações, tanto em seu elo estrutural quanto aos volumes produzidos no Brasil e no mundo. A produção mundial, conforme Sluszz et al (2006), teve um aumento de 11,1% nos últimos dez anos, tendo nos Estados Unidos seu maior produtor, contribuindo com 15% do volume total, seguido pela Índia (7,3%), Rússia (6%), Alemanha (5,4%) e França (4,7%), o que no ano de 2004 representava no total uma produção de aproximadamente 515.837 mil litros. O Brasil, nesse mesmo ano, foi responsável por uma produção de 4,5 % do total, ocupando a sexta posição no ranking mundial com um volume de 23.320 mil litros. No período de 1995 a 2004, a produção nacional desempenhou um aumento de 37,7%. Com este resultado, em 2004, o Brasil ocupou a segunda posição no ranking dos países produtores de leite da América, atrás apenas dos Estados Unidos.

Sem dúvida, hoje o Brasil tem potencial para aumentar sua produção de leite em ritmo bem maior do que a Argentina, grande concorrente na América do Sul. De acordo com os pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, Zoccal e Carneiro (2008), esta foi uma das principais constatações da reunião realizada pela Federação Panamericana da Indústria de Laticínios (FEPALE) no final de 2007. A produção de leite nos 10 países da América do Sul somou 50,2 bilhões de litros (Brasil - 25,3 bilhões de litros; Argentina - 8,1; Colômbia - 6,7; Equador - 2,5; Chile -2,4; Uruguai - 1,8; Peru -1,3; Venezuela -1,3; Paraguai - 0,3 e Bolívia - 0,2). Somente o Brasil produz 50% deste volume, de acordo com os dados da Food and Agriculture Organization (FAO). No cenário mundial, o Brasil ocupa a 6º posição, ficando atrás somente dos EUA (82,4 bilhões de litro), Índia (39,8), China (32,2), Rússia (31,1) e Alemanha (28,5). A produção mundial, em 2006, foi de 546 bilhões de litros.

Seguramente no Brasil de hoje, a importância que atividade da cadeia leiteira ocupa é incontestável, tanto pelo seu desempenho econômico, quanto pela geração de empregos permanentes. Afirmativa esta, embasada nos dados de Zoccal e Carneiro (2008) que em seus trabalhos destacam uma produção no ano de 2007 de 26,4 bilhões de litros, gerando um valor bruto de produção ao redor de R$ 15 bilhões. Quanto ao número de pessoas envolvidas no setor primário, estima-se que mais de cinco milhões trabalhem diretamente com o leite, além de, até 2007, 1,3 milhões de produtores.

A pecuária brasileira distingue-se da praticada na maioria dos demais países por duas características: mesmo o Brasil sendo um país continental, com condições agroecológicas muito diversas, a produção leiteira ocorre em todo o território nacional. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existe a informação da presença desta atividade em 554 das 558 microrregiões consideradas pelo Instituto. A segunda característica é que não existe um padrão de produção, sendo marcante a heterogeneidade nos sistemas que se encontram presentes em todas as unidades da federação. São encontradas propriedades desde subsistência com baixíssima especialização e produção diária de menos de 10 litros, até produtores extremamente especializados, comparáveis aos mais competitivos do mundo, com tecnologias avançadas e produção diária superior a 60 mil litros (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

Atualmente, estima-se que 2,3% das propriedades leiteiras são especializadas e atuam como empresas rurais eficientes.

Esses sistemas de produção respondem por aproximadamente 44% do total de leite do País. Por outro lado, 90% dos produtores são considerados pequenos, com baixo volume de produção diário, baixa produtividade por animal e pouco uso de tecnologias. Apesar de representarem a maioria dos produtores brasileiros de leite, respondem por apenas 20% da produção total. Existe ainda um grupo intermediário, formado por 7,7% dos produtores, que respondem por 36% da produção (STOCK et al., 2007, apud ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

Outro fator determinante quanto à estrutura da produção de leite no Brasil é que esta acompanha o processo de urbanização e colonização do território nacional, determinando assim que nas regiões onde existe maior concentração populacional também se situam os maiores índices de produção. Conforme Zoccal e Carneiro

(2008), já em 1975 o País produziu em torno de 8 bilhões de litros de leite, e como demonstra a Figura 1, os locais de maior produção, correspondendo a 75% e representando 6 milhões de litros, foram também aqueles ocupados pelas maiores densidades populacionais.

Figura 1: Microrregiões classificadas por densidade de produção e que totalizavam 75% do volume total de leite em 1975.

Fonte: IBGE/PPM (apud ZOOCAL; CARNEIRO, 2008).

De acordo com o mapa, constata-se que as áreas mais importantes na atividade leiteira eram também as mais urbanizadas do País. Portanto de acordo com a figura, destacam-se regiões centro-sul de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Já na Região Sul, destacam-se as microrregiões de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Por fim, no Centro-Oeste é a região central de Goiás a que apresenta maior concentração na produção, e no Nordeste aparecem as regiões do Agreste alagoano, pernambucano e paraibano (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

De uma maneira geral, a produção de leite no Brasil vem crescendo em torno de 4% ao ano. Segundo dados da Embrapa Gado de Leite, em 2007 o País produziu

26,4 bilhões de litros. Entretanto, este volume, quando relacionado com o número de habitantes brasileiros, evidencia que esta produção é suficiente apenas para que cada cidadão tenha disponível diariamente menos de dois copos de leite (0,387 litros/habitante/dia). Para conseguirmos atender ao consumo recomendado pelo Ministério da Saúde (210 litros/pessoa/ano ou 0,575 litros/habitante/dia), o volume total de produção do país deveria alcançar os 39 bilhões de litros/ano, se considerarmos uma população de 186,9 milhões de habitantes (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

A evolução da produtividade de leite no Brasil pode ser visualizada pela comparação dos mapas correspondentes às figuras 1 e 2 que expressam, respectivamente, os locais onde se concentram 75% da produção leiteira por área nos anos de 1975 e 2007. Como contraste dos mapas, observa-se que ocorreu expansão e intensificação da atividade leiteira nos estados da região Sul. Nas regiões do Triângulo Mineiro e Centro-Sul de Goiás, verificou-se um aumento na produção, assim como houve também acréscimo na produtividade em áreas não tradicionais, como é o caso de Rondônia. Em contraponto, São Paulo, que produzia 1,8 bilhões de litros, teve reduzida sua participação no panorama nacional (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

Figura 2: Microrregiões classificadas por densidade de produção e que totalizavam 75% do volume total de leite em 2007

Fonte: IBGE/PPM (apud ZOOCAL; CARNEIRO, 2008).

Para visualizar como transcorreram as mudanças geográficas do acréscimo de produção da pecuária de leite brasileira nos últimos dez anos (1998 a 2007), é possível analisar a figura 3, onde são destacadas apenas as 72 microrregiões que apresentaram, no mínimo, ampliação de 10 mil litros de leite por dia (aproximadamente 36 milhões de litros/ano) nas suas áreas de alcance (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

De acordo com o expresso pelo mapa da figura 3, existem quatro regiões que já eram representativas por apresentarem alta densidade de produção e que obtiveram incremento de produção aos seus índices. Conforme constataram Zoccal e Carneiro (2008), a primeira delas está localizada no Sul do País, nas regiões norte do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e sudoeste do Paraná. Também se destacou pelo crescimento a região do centro-sul de Minas Gerais, a Zona da Mata e Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, Vale do Rio Doce e Vale do Mucuri nos estado de Minas Gerais. A terceira integrante das regiões que obtiveram os maiores aumentos na produção está localizada no estado de Rondônia e leste do Acre,

inclusive caracterizando-se por uma sólida vocação leiteira. Por último, mas não menos importante, aparece o Nordeste, principalmente as microrregiões do Agreste.

Figura 3: Microrregiões classificadas pelo aumento do volume de leite em 1998 e 2007

Fonte: IBGE/PPM(apud ZOOCAL; CARNEIRO, 2008).

Verifica-se também no mapa da figura 3 o crescimento na produção de duas regiões que não eram tradicionais, o centro-leste do Pará e o centro-oeste do Maranhão. Outra região que se destacou, mas não tão significativamente quanto a anterior, está localizada na Bahia. Assim, evidencia-se que o leite tem crescido além das áreas tradicionais, ocupando áreas até então não expressivas à produção láctea. Em dados apresentados por Zoccal e Carneiro (2008) pode-se constatar o aumento da produção em Chapecó/SC, por exemplo, área já tradicional na produção leiteira que demonstrou um aumento de 122 para 455 milhões de litros/ano de 1998 a 2007, e em São Félix do Xingu, microrregião não tradicional, uma ampliação de 32 para 122 milhões no mesmo período.

Para tanto, foi necessário que muitos fatores contribuíssem na atividade leiteira brasileira. Na Região Sul, por exemplo, a possibilidade de aumento na renda por área tem-se constituído de importante elemento atrativo quando comparado com

a cultura de grãos. Nesta região, verifica-se uma expansão das áreas cultivadas com pastagens perenes associadas a melhorias no manejo dos animais e na correção do solo. Igualmente, pode ser observado aumento de conservação de forragens, sobretudo a ensilagem de forrageiras de inverno, como aveia branca, cevada e trigo. Na outra ponta da cadeia de produção estão sendo desenvolvidos projetos e instalações de novas indústrias para beneficiamento do leite e seus derivados (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

Como consequência de todo esse movimento em prol do aumento da produção na região Sul, em especial no Rio Grande do Sul, especificamente na região noroeste, objeto maior deste trabalho, foi observada uma evolução bastante significativa nos índices de produção anual. De acordo com a figura 4, é possível identificar que, principalmente nos anos de 2004 a 2006, houve um importante incremento na produção de leite na região noroeste, região esta que representa a maior parte do leite produzido no Estado.

Figura 4: Evolução da Produção de Leite entre as Regiões do RS Fonte: Silva Neto e Basso (2005, p. 58).

Já na região Norte, Zoccal e Carneiro (2008) constataram que o crescimento tem acontecido especialmente pelo ingresso de novos produtores à atividade, em sua maioria, assentados da reforma agrária ou mesmo participantes de projetos de colonização. Para essas famílias, o leite pode representar, em um primeiro momento, a garantia de alimento, posteriormente, depois de estarem estruturados, a atividade pode consistir além de uma renda mensal, a consolidação de uma poupança com os animais.

Sob o ponto de vista de um panorama mais geral, a atividade leiteira ainda tem muito a melhorar no País. Alguns problemas acompanham o setor desde seus primeiros passos. São eles, a sanidade do rebanho, a qualidade do leite produzido, a produtividade por animal e por área, a alimentação sobretudo nos meses de seca e no uso de rações concentradas, além da administração e ingerência das unidades produtivas. No entanto, os autores atestam que no Brasil, atualmente, existe tecnologia compatível à desenvolvida e utilizada nos países de primeiro mundo (ZOCCAL; CARNEIRO, 2008).

Quanto ao consumo, a demanda interna tem apresentado aumento gradual e mesmo que de forma lenta representa um atrativo aos investimentos na atividade. Já o consumo per capita encontra-se com comportamento estagnado, influenciado pela concorrência dos diversos substitutos lácteos, especialmente as bebidas à base de soja. As modificações propostas, como as implementadas pelo Plano Real, na distribuição de renda, mostraram-se positivas quanto ao aumento na demanda de produtos lácteos, principalmente quando acompanhadas de campanhas de marketing, ressaltando a importância dos aspectos nutricionais e a multifuncionalidade do leite.

Finalmente, estimular o consumo doméstico do leite junto ao mercado interno, bem como escoar os excedentes de produção ao mercado externo consistem seguramente em possibilidades positivas à expansão sustentável do setor no Brasil. Aspectos como a melhor remuneração dos produtores devem ser imperativos ao fortalecimento da cadeia produtiva do leite, bem como investimentos nos demais setores que a compõem.

Dentre as tantas modificações ocorridas na cadeia láctea, o elo industrial tem passado por grandes modificações como já discutido anteriormente nesta pesquisa. O Rio Grande do Sul, em especial a região noroeste, atualmente desempenha um importante papel tanto na produção quanto na industrialização de lácteos. Para tanto, a seguir discutiremos a importância da região para a cadeia láctea, bem como as transformações/incorporações que vêm acontecendo nos últimos anos.

1.4 Cadeia do leite no Rio Grande do Sul – situação das empresas do setor