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Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate na formação de professores

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Academic year: 2021

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O processo de modernização da cidade

de Vitória em debate

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Educação na cidade :

O processo de modernização da cidade

de Vitória em debate

Patrícia Guimarães Pinto

Priscila de Souza Chisté Leite

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O processo de modernização da cidade

de Vitória em debate

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2 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Vitória

Observação: Material educativo público para livre reprodução. Material bibliográfico eletrônico e impresso.

Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Vitória). Comitê científico do material educativo: Profª. Drª. Almerinda da Silva Lopes, Profª. Drª Ana Cláudia Scaglione Veiga Castro, Profª. Drª. Dilza Côco e Prof. Dr. Gilton Luis Ferreira.

P659e Pinto, Patrícia Guimarães.

Educação na cidade : o processo de modernização da cidade de Vitória em debate / Patrícia Guimarães Pinto, Priscila de Souza Chisté Leite. – Vitória, ES : Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, 2018. 104 p. : il. 21 cm.

ISBN: 978-85-8263-294-9 (ebook).

1. História – Estudo e ensino. 2. Professores - Formação. 3. Vitória (E.S.) – História. 4. Urbanização. I. Leite, Priscila de Souza Chisté. II. Instituto Federal do Espírito Santo. III. Título.

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Patrícia Guimarães Pinto | Priscila de Souza Chisté Leite

INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

JADIR JOSÉ PELA Reitor

ANDRÉ ROMERO DA SILVA Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação RENATO TANNURE ROTTA DE ALMEIDA Pró-Reitor de Extensão

ADRIANA PIONTTKOVSKY BARCELLOS Pró-Reitora de Ensino

LEZI JOSÉ FERREIRA Pró-Reitor de Administração LUCIANO DE OLIVEIRA TOLEDO Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional

IFES - CAMPUS VITÓRIA

HUDSON LUIZ CÔGO Diretor Geral

MÁRCIO ALMEIDA CÓ Diretor de Ensino

CHRISTIAN MARIANI LUCAS DOS SANTOS Diretor de Extensão

ROSENI DA COSTA SILVA PRATTI Diretora de Administração

MÁRCIA REGINA PEREIRA LIMA Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação ANTONIO DONIZETTI SGARBI Coordenador do PPGEH

REALIZAÇÃO

PPGEH - Programa de Mestrado Profissional em Ensino de Humanidades Av. Vitória, 1729 – Jucutuquara

Vitória – Espírito Santo – CEP 29040-780

CAPA E EDITORAÇÃO

Patrícia Guimarães Pinto/ Thais Midori Oishi Lorencini

CRÉDITOS DAS IMAGENS DA CAPA

Arquivo Público do Espírito Santo, Biblioteca Central da Ufes, Fundação Biblioteca Nacional, Gabriela Zucoloto e Patrícia Guimarães Pinto.

PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO

Programa de Mestrado Profissional em Ensino de Humanidades (PPGEH)/ Ifes

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Sumário

17

Capítulo II

O nascimento da capital

Apresentação

Consolidação dos aterros

e expansão portuária

Roteiros históricos

Capítulo IV

61

Capítulo I

Educação na Cidade

11

07

41

Verticalização e horizon-

talização da Ilha: Nova

Perspectiva

(6)

Obra de infraestrutura

e embelezamento

Capítulo III

Modernização de Vitória :

Primeiras considerações

29

O projeto do Novo

Arrabalde

Roteiro I

64

Roteiro II

85

Considerações Finais

97

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6 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate Fig. 1 – Vila Moscoso, 1908. Fonte: Acervo da Biblioteca Central da Ufes.

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Patrícia Guimarães Pinto | Priscila de Souza Chisté Leite

Este livro é o produto da pesquisa intitulada “Educa-ção na cidade: o processo de moderniza“Educa-ção da cidade de Vitória em debate na formação de professores”. O ob-jetivo geral do trabalho foi compreender o processo de modernização da cidade de Vitória/ES para propor um material educativo que pudesse ser utilizado no auxílio às práticas pedagógicas sobre a história do desenvolvi-mento urbano local.

O livro foi validado pelos professores que participaram do curso de formação chamado: “Educação na cidade: estudos sobre o processo de modernização de Vitória”, ocorrido entre os meses de maio e julho de 2017. Ele está disponível gratuitamente aos professores e comuni-dade em geral de forma digital e podem ser encontrados fisicamente na biblioteca do Ifes – Campus Vitória e ou-tros acervos públicos da cidade.

Para que o objetivo da pesquisa fosse alcançado, per-corremos diversas etapas: investigação do processo de

Apresentação

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8 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

modernização da cidade de Vitória por meio de fontes documentais e mapeamento dos espaços com potencial educativo. O estudo contribuiu para a elaboração de um material que pudesse dialogar com os espaços da cidade de maneira crítica, questionando os diversos estereóti-pos produzidos pelos conhecimentos hegemonicamente construídos ao longo da história.

A investigação realizada entre os anos de 2016 e 2018, integra o Mestrado Profissional em Ensino de Humani-dades, pertencente ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Humanidades (PPGEH), do Instituto Fe-deral do Espírito Santo, campus Vitória sob orientação da Profª Drª. Priscila de Souza Chisté Leite. A pesquisa também faz parte do Grupo de Pesquisa em Educação na Cidade e Humanidades (Gepech), parceria que con-tribuiu teoricamente para o estudo sobre o direito à ci-dade, além do desenvolvimento e execução do curso de formação de professores - citado acima.

O material educativo como produto é uma exigência dos mestrados profissionais na área de ensino. Por essa razão, elaboramos este livro com o objetivo de gerar reflexão sobre o processo de modernização da cidade e estimular o debate acerca da apropriação dos espaços da cidade

e o impacto das intervenções ocorridas na cidade ao longo dos séculos. A proposta deste material é mediar o processo de aprendizagem de forma ampla, favore-cendo a análise crítica do processo de modernização da cidade de Vitória. Para sistematizar o livro, divi-dimos o texto em algumas partes que nos ajudarão a localizar na história as principais transformações da cidade e seus desdobramentos.

No capítulo I intitulado “Educação na cidade” abor-damos parte do referencial teórico que nos balizou no estudo da cidade e a importância da apropriação conceitual dos espaços como lugares potencialmente educativos. O capítulo II apresenta um resgate histó-rico do processo de modernização e do surgimento da capital do Espírito Santo, Vitória.

No capítulo III trouxemos algumas das principais intervenções arquitetônicas impetradas na cidade de Vitória entre o final do século XIX e meados do sécu-lo XX que representam impactos físicos, simbólicos, sociais, políticos e econômicos para a capital do Es-tado.

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No capítulo IV sugerimos dois roteiros pensados com base nas transformações relatadas no capítulo ante-rior e objetivamos abordar esses espaços de maneira crítica, olhando não somente a parte física e estética, mas também as motivações existentes na concepção e modificação dos espaços da cidade.

O roteiro de número 1 foi elaborado juntamente com os professores participantes do curso de formação de professores. O roteiro de número 2 foi pensado a par-tir da necessidade em se explorar os espaços oriundos do processo de verticalização e horizontalização da Ilha de Vitória, presentes no capítulo III.

Desse modo, os roteiros foram criados como sugestão para os professores apresentarem aos seus alunos, os espaços da cidade de Vitória, bem como as intenções decorrentes de suas transformações e as contradições existentes neste processo. Almejamos também, que o material educativo possa servir de recurso para qual-quer cidadão que queira conhecer um pouco mais da história local, ainda que fora do ambiente escolar.

Nas considerações finais, encerramos certos de que este livro não se esgota em si no que diz respeito às possibili-dades de se pensar e viver a cidade. Porém, finalizamos esperançosos de que tenhamos iniciado uma caminhada no sentido da compreensão da cidade a partir de suas contradições e suas potencialidades.

Não pretendemos ainda, apresentar um guia a ser apenas transposto em sala de aula, mas sim oferecer um material para ser utilizado como ponto de partida para a reflexão sobre a cidade enquanto espaço educativo.

A problematização das transformações ocorridas nos espaços da cidade é objeto de nossa pesquisa, sendo os roteiros sugestões que podem e devem gerar diversos ou-tros desdobramentos em uma infinidade de combina-ções possíveis que favoreçam a reflexão e o diálogo com a cidade de Vitória.

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10 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate Fig. 2 – Vista panorâmica de Vitória, 1860. Fonte: Arquivo Público do Espírito Santo.

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Capítulo I

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Educação na cidade

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Afim de melhor compreensão no que tange a temática da cidade, utilizaremos a definição de Lefebvre (2001) sobre ‘habitar’ e ‘habitat’; enquanto este (habitat) é um conceito que trata das funções básicas necessárias como moradia e alimentação, aquele (habitar) se refere ao es-paço de vivências das pessoas.

Segundo as concepções abordadas por Lefebvre, é neces-sário habitar a cidade em um movimento de apropriação do espaço e todas as suas potencialidades, aprofundan-do-se na teia urbana; não vê-la apenas como habitat, lu-gar de simples dormitório, de relações superficiais, por exemplo. O autor define o direito à cidade como sendo o processo de inclusão de toda a sociedade aos benefícios gerados pela vida urbana e é sob essa ótica que iremos abordar o espaço ao nosso redor.

Nesse sentido, a cidade deve ser compreendida como es-paço máximo de nossas vivências. Corroborando nosso pensamento sobre o papel da cidade reiteramos as

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12 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

lavras de Gadotti (2006, p. 03) ao afirmar que para se alcançar o po-tencial educativo da cidade:

Fig. 3 – Porto de Vitória, 1909. Fonte: Acervo da Biblioteca Central da Ufes.

[...] todos os seus habitantes devem usufruir das mesmas oportunidades de formação, de-senvolvimento pessoal e de en-tretenimento que ela oferece. O objetivo proposto acima só será atingido, se o papel social e huma-no da cidade conseguir superar o interesse econômico norteador das relações existentes na cidade. A educação, por meio da escola, é importante no processo de trans-missão e apropriação do conheci-mento sistematizado ao longo da

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trajetória humana. O professor, enquanto mediador desse processo, possui papel estrutural na condução do conhecimento.

Chisté e Sgarbi (2015, p. 03) reforçam a importância do processo de apropriação do espaço da cidade atra-vés da educação que contribui com o desenvolvimen-to do ser humano:

Ao afirmar que a educação é um processo de reprodução social com função de construir direta e intencionalmen-te, em cada indivíduo, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelos homens, Saviani (2009) nos ajuda a entender a importância de intervir e de pro-por modificações na realidade do educando através da prática pedagógica.

Desse modo, esse material educativo estimula novas formas de se olhar os espaços da cidade por meio do desvelamento do processo de modernização ocorrido na cidade de Vitória ao longo dos séculos em diálogo com processo educativo.

Pretendemos que o professor, enquanto mediador deste processo, possa através deste texto, suscitar em seus alu-nos uma análise crítica e social dos espaços, suas repre-sentações e as implicações políticas, sociais e econômicas presentes nas construções e contradições da cidade. Portanto, a finalidade é promover a reflexão e a apro-priação da cidade para que ela seja não apenas nossa moradia, mas também um espaço compartilhado de vivências.

[...] para o indivíduo se constituir como ser humano, é preciso que internalize as produ-ções humanas que foram sistematizadas na trajetória da humanidade sendo a cidade um exemplo dessas produções.

Portanto, a educação assume especial contribuição para a transformação dos indivíduos através das re-lações que eles estabelecem entre si, com os outros e com o mundo.

Um de nossos aportes teóricos para discutirmos os processos de ensino e aprendizagem que podem ser utilizados no diálogo entre a escola e a cidade refere--se aos estudos de Dermeval Saviani.

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14 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

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O direito à cidade se manifesta como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e ao habitar. O direito à obra (à atividade partici-pante) e o direito à apropriação (bem distinto do direito à propriedade) estão implicados no direito à cidade.

Henri Lefebvre, 2001

Porto de Vitória,1927. Fonte: Biblioteca Central da Ufes.

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16 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate Fig. 4 – Aterro do Campinho, início do século XX. Fonte: Biblioteca Central da Ufes.

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Capítulo II

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O nascimento da capital

Para que possamos entender o conceito de moderniza-ção, precisamos saber um pouco mais sobre a dernidade. A ideia de mo-dernidade advém de uma ruptura do passado para sobreposição do presente. Esta concepção começa a tomar forma no século XVII com o Iluminismo e sua fundamentação no poder da razão humana e na ciência. Segundo essa proposta filo-sófica, por meio do raciona-lismo o homem assume o poder de seu próprio destino.

O Iluminismo foi um movimento intelectual de ca-ráter racionalista que valorizava a experimentação e materialismo, cri-ticando a supersti-ção e dogmatismo que segundo os pensadores, blo-queavam a evolução do homem. Esse pensamento defi-niu à época, a rup-tura com a Igreja.

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18 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

Discussões sobre a liberdade individual e os direitos dos cidadãos se tornaram latentes além da separação dos po-deres e quebra da submissão da política à teologia. A modernização dos espaços citadinos iniciada no mundo nesse período, diz respeito à criação de mercados con-sumidores necessários à expansão capitalista iniciada pela Revolução Industrial. Todos esses fatores se agluti-naram transformando de forma definitiva o século XX. É nesse contexto que a ideia de modernidade se materia-liza na renovação, não somente das concepções teóricas, sociais, políticas e econômicas, mas também na mo-dernização e arquitetura das cidades e suas estruturas. Segundo Berman (1986, p. 129) a modernização é um

[...] complexo de estruturas e processos materiais – políticos, econômicos, sociais – que, em princí-pio, uma vez encetados, se desenvolvem por con-ta própria, com pouca ou nenhuma intervenção.

Este processo se espalha por toda a Europa e a nova con-figuração da cidade representa as mudanças tornando--se mais funcionais e higienizadas, seguindo os padrões europeus. Os ideais de modernização e rompimento com antigas estruturas ultrapassa as fronteiras europeias chegando ao Brasil no final do século XIX, alcançando capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Vitória, entre outras.

[...] a ciência fazia revelar as luzes do progresso e da civilização com todos os seus símbolos: luz elétrica, gran-des boulevards, telégrafo, locomotiva, en-fim todas as representações do triunfo de uma modernidade que tinha pressa e não podia esperar. Um tempo onde a civiliza-ção se impunha como um caminho sem retorno, com uma força tamanha pro-pagada aos lugares mais recônditos [...]

Segundo Berman (1986), a modernidade está sempre se reinventando e pressupõe transformação constante seja no campo material ou intelectual. O movimen-to de modernização teve grande impacmovimen-to nos centros urbanos, através das reformas, aumento populacional e relações sociais.

Esse movimento refletiu no cotidiano das pessos do século XX; conflitos e rupturas surgiram em um cená-rio novo que buscava o rompimento com a tradição. Veremos no decorrer do texto como a modernização esteve presente em momentos importantes de modi-ficação da paisagem física, política e social da cidade de Vitória, assim como corrobora Ferreira (2009, p. 70) em sua obra

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É com base nessas transformações que ocorreram ao longo dos séculos que buscaremos dialogar a seguir, introduzindo o processo de modernização da cidade de Vitória e as transformações estruturais que viriam a seguir, mudanças essas que iriam impactar a cidade de forma definitiva.

A Vila de Vitória desenvolveu-se ao redor da baía em terreno bastante irregular que possibilitava defesa. Antes da mudança, a capital esteve localizada em Vila Velha e chamava-se Ilha de Santo Antônio.

A transferência deveu-se ao espaço amplo em que se localizava e que impossibilitava a defesa à beira da baía, com ataques frequentes de estrangeiros e índios. É por este motivo que surge o nome da cidade de “Vila Velha”, referente à antiga localização da capital. Vitória permaneceu por mais de 300 anos em porção reduzida da ilha e com pequena população compos-ta de comerciantes, viajantes, pescadores e religiosos. Também faziam parte da ilha muitos indígenas (con-trolados pelos jesuítas) que eram parte substancial da mão de obra existente na colônia.

Os grupos indígenas existiam não somente na capital,

mas em diversas vilas da colônia. Outra parcela de ín-dios manteve-se resistente às ações colonizadoras travan-do imensos conflitos ao longo travan-dos séculos, dificultantravan-do inclusive, a colonização no interior do estado.

Os jesuítas são retratados como evangelizadores, grupo que proporcionou aos índios condições melhores de vida junto aos colonizadores. Essa visão deve ser analisada com critério, pois desconsidera a consequente destrui-ção da cultura indígena e o aprisionamento dos mesmos, forçando-os a introjetar costumes diferentes dos seus. A história retratada pelos vencedores nos apresenta uma colonização arrojada, dedicada ao desenvolvimento eco-nômico, expansão de fronteiras e que buscava trazer a ci-vilidade europeia para terras brasileiras, porém, é preciso destacar a conduta violenta face aos índios e a intensa exploração econômica a que fomos submetidos durante a colonização portuguesa.

Na figura 5, vemos a Vitória do século XIX, em 1860. Observamos o braço do mar que preenchia todo o espa-ço que hoje é o atual Parque Moscoso com as casas dos colonos. Ao fundo, em destaque, observamos a Igreja de São Gonçalo à esquerda e a Igreja de São Tiago à direita. O Morro do Penedo se destaca ao fundo, no centro.

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20 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

Na figura 6 observamos umas das primeiras constru-ções da ilha de Santo Antônio, atual capital Vitória. A Capela de Santa Luzia ainda faz parte da paisagem, e data de 1537 o início de sua construção. Juntamente com outras Igrejas, ela compôs o conjunto arquite-tônico católico do início da colonização da capital. Observamos forte influência dos jesuítas nas pri-meiras construções da Capitania, com uma grande quantidade de monumentos religiosos. Diversos al-deamentos jesuíticos foram fundados por todo o Espírito Santo como citado anteriormente, alguns possuindo cerca de 5 mil índios. Esses aldeamentos eram responsáveis por abastecer economicamen-te as demandas ineconomicamen-ternas da capitania como a cria-ção de gado, cultivo de cana-de-açúcar e mandioca.

Fig. 6 – Capela de Santa Luzia. Fonte: Arquivo pessoal.

A imagem acima ilustra claramente a configuração físi-ca e populacional dos primeiros séculos de Vitória, suas grandes construções religiosas e a baía circundando-a. Casas simples se multiplicavam ao redor das grandes edificações, disputando espaço com grandes áreas verdes e maciços rochosos. A configuração da Ilha funcionou neste momento como ponto estratégico de defesa situa-da entre os maciços e o mar.

Fig. 5 – Vitória no século XIX, 1860. Fonte: Acervo da Fundação Biblioteca Nacional, Victor Frond.

Penedo Igreja de

São Gonçalo

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Os jesuítas estavam ligados a diversas funções na Capitania e participaram da im-plantação e crescimento da colônia. As construções religiosas são as que mais resis-tiram com o passar do tempo mesmo com as inúmeras reformas ocorridas no século XIX e XX. Apesar de terem sofrido mudanças, tendo algumas se descaracterizado no estilo, outras edificações foram demolidas para dar lugar a edifícios e até mesmo prédios públicos, mas muitas das construções religiosas conseguiram sobreviver. Além dos hábitos e costumes, notamos influência portuguesa na produção cul-tural e arquitetônica da colônia. As construções das igrejas e casarios do período colonial na capital possuíam estilo predominantemente barroco, ainda com al-guns traços maneiristas que eram sobrepostos aos poucos pela arquitetura barroca. Como exemplo, podemos citar a Igreja de São Gonçalo. Data de 1707 a primei-ra edificação no local, tendo sua obprimei-ra finalizada apenas em 1766 (Figuprimei-ra 7 e 8). Nota-se a simplicidade das formas, cores e composição do interior, já que havia uma escassez de mão de obra espe-cializada e materiais adequados, nas palavras de Lima (2013, p. 03)

A arquitetura barroca é ob-servada no Brasil entre os séculos XVII e XVIII. O movimento rejeitava a sime-tria e harmonia existente no Renascimento, destacando a imponência e dinamis-mo. Os elementos preten-dem dar efeito de emoção e grandeza, por isso o teto é elevado dando dimensão do infinito, formas côncavas e convexas são bastante utili-zadas, efeitos dramáticos de luz e sombra, onde as jane-las permitem a entrada da luz destacando as esculturas. O Maneirismo foi um estilo artístico que

sur-giu na Itália no século XVI no período entre a Renascença e o Barroco. Apresentava uma arte mais sofisticada com contraste de sombra e luz, figuras alongadas, combinação de cores, com-posição dramática e a ruptura com os mode-los clássicos do Renascimento, aproximando do realismo. O estilo “chão” presente refere-se às proporções áureas, métricas e linhas retas.

Os templos eram compostos por fachadas com geometria básica, com fron-tão triangular, duas ou três janelas retangulares com função de iluminação e ventilação do coro localizado na parte mais alta do templo. As laterais da edi-ficação eram marcadas pelos cunhais. Ainda sobre a fachada, a torre sinei-ra conferia verticalidade à construção, evidenciando a superioridade Divina.

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22 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate Fig. 7 – Parte interna da Igreja São Gonçalo. Fonte: Arquivo pessoal.

Fig. 8 – Altar da Igreja São Gonçalo. Fonte: Arquivo pessoal.

Nas figuras 7 e 8 observamos os elementos do barro-co na Igreja São Gonçalo, barro-construída a partir do ano de 1707. O teto da nave é elevado dando amplitu-de e sensação amplitu-de superioridaamplitu-de e granamplitu-deza, as janelas permitem a entrada de luz e sombra em um efeito harmonioso refletindo nas esculturas dos santos que estão em destaque nas laterais da igreja, dando as-pecto realista. O altar possui o teto côncavo, colunas longas e decoração em dourado reforçando a gran-diosidade da religião.

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Patrícia Guimarães Pinto | Priscila de Souza Chisté Leite

A figura 9 nos exemplifica o delineado da Ilha de Vitória nos primeiros séculos de colonização. Em destaque está a porção ocupada neste período. A capitania foi crescendo de forma lenta em torno da baía, sendo uma típica cidade colonial portuguêsa nas palavras de Derenzi (1965, p. 112) “Os arruamentos, a apresentação arquitetônica, as propor-ções de seus sobrados [...] que as ruas fossem tortas, estreitas, algumas com menos de cinco metros”.

Fig. 9 – Região da Ilha ocupada pela população em 1896. Fonte: Biblioteca Central da Ufes.

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Patrícia Guimarães Pinto | Priscila de Souza Chisté Leite O desenho urbano traz consigo preocupações pousadas bem além de meros devaneios geométricos: são as necessidades de defesa, as carências de tempo, os desejos simbó-licos, as vontades por trocas, as demandas por mão de obra, entre outros, que mol-dam a geometria em assentamentos humanos. [...] Forma-espaço enquanto socialmen-te utilizados é desfecho de precisos, ainda que nem sempre evidensocialmen-tes, desígnios da sociedade. Por isso a análise da forma-espaço neste âmbito deve trazer informações das premissas sociais subjacentes (MEDEIROS; HOLANDA; BARROS, 2011, p. 08).

Apesar da capitania sofrer críticas relativas às formas da cidade de origem portuguesa como o estreitamento e o não planejamento das vias e ruas tortuosas, aglomerados de construções e terrenos íngremes, observamos uma nova pers-pectiva a respeito dessa arquitetura:

Vimos durante esse capítulo uma breve introdução do conceito de modernidade e um pouco do início de colonização da capital, além dos aspectos predominantes do período que durou mais de três séculos. Através desse panorama, observamos como iniciou-se o processo de modernização da cidade de Vitória e como os efeitos mundiais, motivados pela modernidade, ecoaram e refletiram de forma local em nossa capital.

No próximo capítulo apresentaremos de fato, as obras de maior impacto na modernização da cidade de Vitória, des-crevendo o processo de expansão da ilha ocorridos entre o final do século XIX e início do século XX.

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Cada época fabrica mentalmente seu universo. Ela não se fabrica somente com todos os materiais que ela dispõe, todos os fatos (verdadeiros ou falsos) por ela herdados ou que ela recente-mente adquiriu. [...] fabrica com o que ela tem de próprio, sua ingenuidade específica, suas qualidades, seus dons e suas curiosidades, tudo que a distingue das épocas precedentes.

Lucien Febvre, 1977

Fonte: Biblioteca Central da Ufes.

Concentração da população de Vitória em 1908.

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Capítulo III

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Modernização de Vitória :

Primeiros considerações

A expansão do capitalismo e as novas relações de tra-balho consolidadas no século XIX, primeiramente em países como Inglaterra e França, impulsionaram as obras relativas à estrutura física e social da nossa capital, inse-rindo Vitória nos moldes de modernização e urbaniza-ção que invadiram o mundo no século XIX e que ecoa-ram no Brasil durante o século XX:

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[...] a modernização resumiria as múltiplas transformações sociais econômicas, demo-gráficas, culturais, comportamentais, insti-tucionais e políticas que acompanha o pro-cesso de produção capitalista e as novas realidades resultantes (CAMPOS, 2002, p. 24).

Nas palavras de Lefebvre (2001, p. 80) “a urbanização e o urbano contém o sentido da industrialização”. E com-plementa dizendo que o fenômeno urbano se apresenta como uma realidade global implicando o conjunto de

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30 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

Fig. 12 – Bonde Elétrico, Praça Costa Pereira, 1930. Fonte: Insti-tuto Jones dos Santos Neves.

prática social que veio acompanhado por uma divisão social e técnica do trabalho, das práticas e dos saberes introduzidos pelo capitalismo na sociedade moderna in-dustrial.

Nesse sentido, o urbanismo moderno dissociou as fun-ções e atividades que se encontravam tecidas orgânica e espontaneamente nas cidades históricas, como Vitó-ria e outras tantas cidades no Brasil e no mundo, e as projetou isoladamente sobre o território, redesenhando a dinâmica física e social existente nas cidades (Lefebvre, 2008).

A geometria das cidades começou a se transformar. Cen-tros industriais e comerciais se formaram, separando a vida privada da vida pública e social. Com a expansão das cidades, os trabalhadores passaram a habitar as peri-ferias e a se deslocarem para suas atividades laborativas. É nesse contexto que ações como implantação da rede básica de água e esgoto, construção de pontes e estradas, aterros e aparelhamento do porto, mostraram-se grandes desafios a serem superados ao longo de décadas, refletin-do diretamente na reconfiguração da cidade e refletin-do urbano apontado por Lefebvre anteriormente.

Sinal de modernidade, vemos na figura 12 o bonde elétrico na década de 30. Essa nova ferramenta de lo-comoção é um símbolo da mudança da relação do homem com o tempo e o espaço introduzida pela so-ciedade industrial. Dentro da soso-ciedade industrial, o trabalho ocupa papel de centralidade. O próprio tem-po passa ser comercializado tendo valor econômico e o deslocamento entre os espaços de forma mais rápida é necessidade intrínseca deste processo.

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No final do século XIX, o Estado estava em um mo-mento especialmente promissor, pois o café, principal produto de exportação encontrava-se com o valor da saca nas alturas, aumentando em cinco vezes a receita estadual através da arrecadação de impostos, trazendo a tão necessária estabilidade financeira definida por Campos Júnior (1996). Ainda assim, grandes proje-tos estruturais não foram executados neste momento, porém foi dado o ponta pé inicial na idealização da nova capital.

Os primeiros projetos relativos à infraestrutura da ci-dade diziam respeito a mudanças de longo prazo e não somente pontuais e de rápida execução, um dos motivos pelos quais demoraram a se concretizar, além da própria oscilação da arrecadação financeira no passar dos anos e trocas de governo. Almejava-se que Vitória viesse a ter papel de centralidade e protagonis-mo atraindo para si o comércio de Minas Gerais bem

Fig. 13 – Avenida República em construção. Fonte: Arquivo Público do Espírito Santo.

como o comércio do próprio estado e mesmo interna-cional por meio da modernização do porto e implanta-ção de uma malha ferroviária.

No início do século XX, o estado atingiu maior autono-mia com a divisão dos poderes e rompimento do estado com a Igreja. Paralelamente a isso, as elites locais esti-mulavam o comércio e possuíam influência no âmbito legislativo, atmosfera propícia para o desenvolvimento.

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32 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

acidentado com ruas tortuosas e estreitas, havia sido um erro e continuar a expansão no mesmo espaço físico seria um erro maior ainda.

O projeto do Novo Arrabalde

Podemos destacar o Novo

Arra-balde a primeira obra idealizada e introjetada no pensamento po-lítico e social da época, exemplo da modernização que se avizinha-va. O desenho projetado para o crescimento e expansão da cida-de tinha como objetivo ampliar a área da cidade em cerca de seis vezes o tamanho atual. O espaço foi pensado com traços retilíneos, ruas largas e funcionais, possuin-do toda infraestrutura necessária.

O projeto deveria “possuir características físicas diversas da encontrada no núcleo central da Ilha” (KLUG, 2009 p. 27). O espaço ocupado pela capital por mais de três séculos era vista pelo engenheiro responsável pelo pro-jeto do Novo Arrabalde, Saturnino de Brito, como um “equívoco”. Para ele, a localização de Vitória no terreno

A r r a b a l d e : Que se encon-tra localizado na periferia de uma cidade; fora dos limi-tes; subúrbio. Local extrema-mente afasta-do afasta-do centro (cidade, bairro etc); arredor. Francisco Rodrigues Saturnino de Brito for-mou-se engenheiro civil em 1886 pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro tendo partici-pado da expansão da malha rodoviária de vários estados brasilei-ros como Minas Gerais, Pernambuco e Ceará. A partir de 1892 começa a realizar trabalhos volta-dos para a área de sane-amento básico vindo a participar de importan-tes projetos em Vitória/ ES, Campos dos Goy-tacazes/RJ, Santos/ SP, validando através deles princípios higie-nistas a fim de cons-truir um saber urbano de matriz sanitária. O projeto do Novo Arrabalde, considera-do inovaconsidera-dor em ter-mos arquitetônicos e urbanísticos, propu-nha grandes áreas pú-blicas como bosques e parques aproveitando e valorizando as paisa-gens naturais presen-tes na cidade além da utilização do espaço de forma racional. O diferencial desse empreendimento es-tava na proposta su-gerida por Saturnino de Brito onde a esté-tica, a higienização, a racionalidade e a fun-cionalidade são parte do mesmo projeto.

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O projeto do Novo Arrabalde (figura 14) é antes de tudo “uma nova organização do espaço em âmbito estadual, e tinha por finalidade motivar o desenvolvi-mento, através da atração e centralização espacial de capitais privados em Vitória, dirigidos para o comér-cio” (CAMPOS JÚNIOR, 1996, p. 138).

Há de se questionar as razões existentes na área es-colhida para a implantação do Novo Arrabalde. Al-gumas especulações dizem respeito aos ganhos finan-ceiros de empreiteiras com o novo empreendimento, porém, não há muitos estudos que contribuam para a confirmação dos interesses particulares das empresas.

Fig. 14 – Projeto do Novo Arrabalde. Fonte: Biblioteca Central da Ufes.

A Companhia Torrens, escolhida para executar diver-sos projetos de infraestrutura no Estado, tinha como algumas de suas incumbências a concessão por parte do governo federal para realizar melhorias no porto, os grandes aterros como o do Campinho, atual Parque Moscoso (figura 15). Em contrapartida nesta concessão, a empresa tinha interesse e preferência na aquisição de lotes na porção nordeste (Novo Arrabalde), objetivan-do fomentar a especulação imobiliária e valorização objetivan-do espaço.

Fig. 15 – Aterro do campinho (Atual Parque Moscoso), 1909. Fonte: Acervo da Biblioteca Central da Ufes.

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34 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

Por essa razão, haveria suspostamente uma influência da empresa na escolha do local para expansão da cidade já que a empreiteira havia adquirido grandes loteamentos na região em que seria construído o Novo Arrabalde. Existia, por-tanto, a expectativa de que Vitória se tornaria uma grande praça comercial e os terrenos adquiridos sofreriam valori-zação em consequência da infraestrutura que a própria empresa iria instalar no local. Fato é que por questões diversas (econômicas e políticas), a empresa não executou todas as ações planejadas.

Um dos argumentos utilizados pelo governo para a escolha do local para expansão era que havia o esgotamento do es-paço físico da região central, porém essa justificativa pode ser questionada. Existiam grandes vazios na porção sudoeste (atual Vila Rubim, Ilha do Príncipe, Santo Antônio) que poderiam ser usados como moradia. Além dela havia a região noroeste da ilha que já estava sendo habitada naquele momento (Proximidade da atual Rodovia Serafim Derenzi).

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Ocorre que a expansão para essas áreas, incluiria contemplar a população já existente e expandir a urbanização para locais que eram habitados pelas classes menos favorecidas, como os habitantes da chamada Cidade de Palha.

(figura 16). Quando fazemos uma análise um pouco mais criteriosa da geo-grafia da ilha, parece-nos mais viável levar infraestrutura e condições básicas de urbanização para as regiões adjacentes ao território já ocupado pela popu-lação de Vitória. A proximidade faria com que os custos fossem menores e os projetos executados com mais celeridade. Mesmo assim, a região escolhida para a expansão foi o Novo Arrabalde, fato que nos leva a questionar sobre os reais objetivos da escolha e a quais interesses iriam atender.

Mesmo com todos os questionamentos citados acima, a expansão da ilha para o nordeste ocorreu, ainda que só se consolidasse nas décadas seguintes (mais precisamente na segunda metade do século XX). O projeto do Novo Arrabalde se adequava aos novos conceitos de modernidade e modernização instalados na Europa na segunda metade do século XIX e estava nos planos do governo. O objetivo de transformar a capital na principal praça comercial do estado com grande expectativa de desenvolvimento e ampliação da ativi-dade portuária, importadora e exportadora, seja por via marítima, seja pelas ferrovias permaneceu latente. A expectativa era exportar a produção de café para todo o Brasil e para o mundo além de atrair para a capital grandes indús-trias e empreendimentos comerciais. Fato é que o projeto não se concretizou nesse governo como dito acima.

Atualmente conhecida como Vila Rubim, a cidade de pa-lha concentrava grande parte dos pobres que moravam na ilha. Muitos deles eram imi-grantes do interior do estado ou de outras regiões do Bra-sil que vinham em busca de melhores condições de vida. Essa área possuía casebres e casas de palha construídas fora dos padrões das casas do centro da cidade, razão do nome. Elas eram cons-truídas pelos próprios mora-dores e deixavam ainda mais à mostra a fragilidade dos serviços públicos oferecidos.

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36 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

Crise do café: No final do século XIX, o Brasil tinha como principal produto de exportação o café. Ocorre então, uma superprodução onde a oferta acaba superando a demanda. O mercado europeu e americano não estava absorvendo na mesma velocidade a produção que chegou a ter 4 milhões de sacas excedentes, fato que fez o valor do café baixar de forma significativa. Para conter esse desalinhamento, alguns estados em 1906 agem na economia afim de promover o equilibro e diminuir as quedas estocando o excesso da pro-dução, retornando o produto ao mercado após a estabilidade dos preços. Este acordo denominado convênio de Taubaté retirou do mercado cerca de 8 milhões de sacas de café, além de aumentar impostos de novos cafezais para impedir sua criação. Tal ação estendeu-se até 1910 e conseguiu amenizar a crise, tornando-se a primeira política de valorização do café.

Obras de infraestrutura e

embelezamento

No final do século XIX, o Espírito Santo teve um momento especialmente promissor com a alta do valor da saca do café e o consequente aumento da receita do Estado, já que o produto era o principal item de exportação e fonte de arrecadação de impostos.

Após este momento de euforia entre os anos de 1892 e 1895 decorrente da exportação de café, uma crise nacional na indústria cafeeira

atingiu o Estado fazendo com que os governos do início do século XX diminuíssem ou mes-mo paralisassem os projetos mais suntuosos e portanto, onerosos para os cofres públicos. As atenções voltaram-se para necessidades básicas como abastecimento de água, esgoto, luz elé-trica, ruas melhores estruturadas, por exemplo.

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Corroborando a necessidade de melhorias básicas no núcleo central da capital no que diz respeito à infraes-trutura, Derenzi reitera que

[...] o governo, nos limites de seus recursos, deverá cuidar da construção e conservação de boas estradas de rodagem [...] deverá empenhar-se pela multiplicação e desenvol-vimentos dos núcleos colonais [...]. Dentre outros problemas que pedem a imediata aten-ção do gôverno, destacam-se naturalmente o saneamento e melhoramento da nossa capital, o da higiene pública e o da instru-ção popular (DERENZI, 1965, p. 149-150).

Para atingir os objetivos foi criado o Plano de Me-lhoramentos e de Embelezamento de Vitória, um do-cumento pensado no intuito de executar as ações de melhorias de infraestruturas e que tem início com a derrubada de casas e igrejas, desapropriações, cons-trução de ícones nacionais (bustos e estátuas) que da-riam força à República, construção de novos prédios do governo, muitos circundando o Palácio Anchieta, alargamento de ruas (figura 17), aterros de grandes áreas em diferentes localidades, instalação do bonde elétrico e de luz elétrica por todo o centro, água e esgoto, construção de parques públicos e praças,

dre-nagem, construção do matadouro municipal e do cemi-tério em área afastada do centro, entre outros projetos.

Fig. 17 – Alargamento da Rua Jerônimo Monteiro.. Fonte: Biblioteca Central da Ufes.

Essa projeção estabelece um novo significado da cidade buscando a sua reestruturação, alinhando beleza, sanea-mento, higiene e modernização através de provimentos básicos. Alinhado com a ideia de embelezamento e tra-zendo para a capital características europeias e um agir europeizado, a construção do Parque Moscoso (figura 18) trouxe para Vitória um local onde a burguesia

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es-38 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate Fig. 18 – Parque Moscoso, 1927. Fonte: Biblioteca Central da Ufes.

tabelecida recentemente encontrava espaço para lazer e relacionamen-tos sociais. O modelo do Parque Moscoso foi inspirado nos jardins e parques parisienses construídos pelo prefeito de Paris Georges-Eugène Haussmann, entre 1853 e 1870. Além do Parque Moscoso, outras inter-venções tiveram inspiração nas reformas europeias. A seguir, falaremos um pouco mais sobre os conceitos envolvidos nas transformações que ecoaram por todo o mundo.

Georges - Eugène Haussmann: Prefeito responsável pela refor-ma urbana de Paris entre 1853 e 1870, o então Barão de Haus-mann, criou um projeto de mo-dernização e embelezamento estratégico da cidade. Além de tornar a cidade mais bela e im-ponente, a reforma tinha como objetivo dirimir conflitos entre o governo e civis expulsando os antigos moradores do local (oriundos da classe trabalha-dora) para a periferia, demo-lindo ruas estreitas e casas, re-fazendo a geometria das ruas, casas e comércio. Surge então, uma Paris homogênea, limpa e elegante que influenciou ca-pitais por todo o mundo, in-clusive no Brasil. As ações de Haussmann também sofreram críticas, uma vez que a des-truição do patrimônio não era levado em consideração.

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Não contêm apenas monumentos, se-des de instituições, mas também espaços apropriados para festas, para os desfiles, passeios, diversões. O núcleo urbano tor-na-se, assim, produto de consumo de uma alta qualidade [...]. Sobrevive graças a esse duplo papel: lugar de consumo e consu-mo do lugar (LEFEBVRE, 2001, p. 20).

Todas as intervenções físicas ocorridas após a indus-trialização foram em direção ao processo de solidifi-cação de uma nova concepção de cidade, adaptada ao consumo além de instrumento de poder. David Harvey, geógrafo estudioso do urbanismo, em seu livro: “Cidades rebeldes: do direito à cidade à revo-lução urbana”, faz uma reflexão sobre o as mudanças ocorridas em Paris na metade do século XIX:

formação das infraestruturas urbanas, mas também na criação de todo um estilo de vida urbana totalmente novo e um novo tipo de per-sona urbana. Paris tornou-se a Cidade Luz, o maior centro de consumo, turismo e prazeres – os cafés, as grandes lojas de departamento, a indústria da moda, as grandes exposições transformaram o estilo de vida urbano, per-mitindo a absorção de vastos excedentes me-diante um consumo desmedido que ao mes-mo tempo agredia os tradicionalistas e excluía os trabalhadores (HARVEY, 2014, p. 38).

A transformação da cidade descrita acima por Harvey, causa um sentimento de estranhamento e alienação do espaço, reiterando o pensamento de Lefebvre no livro “A Revolução Urbana”. Lefebvre afirma que após a Re-volução Industrial houve uma grande transformação na estrutura das cidades, não somente no que diz respeito à parte física, mas nas implicações sociais desencadeadas no processo, na simbologia presente na atmosfera dessa nova cidade:

Ações como a limpeza da cidade, demolição de vias estreitas (ainda remanescentes da época medieval) e construção de jardins e parques, foram algumas das mudanças postas em prática na Paris da segunda me-tade do século XIX. As reformas executadas nos gran-des centros urbanos durante esse período, são analisa-das por Lefebvre:

[...] estripação de Paris de acordo com uma estra-tégia, expulsão do proletariado para a periferia, invenção simultânea do subúrbio e do habitat, aburguesamento, como despovoamento e apodre-cimento dos centros (LEFEBVRE, 2008, p. 102). O sistema funcionou bem por cerca de

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trans-40 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

Analisando os preceitos deste momento histórico, onde o velho é substituído pelo novo (com demo-lições, desapropriações) e o clássico pelo moderno (alargamento de ruas, edificações imponentes), como se fosse necessário aniquilar um para o surgimento do outro, verificamos nas entrelinhas da modernidade os interesses econômicos envolvidos (ascensão política e econômica das elites cafeeiras, por exemplo).

Além dos fatos descritos acima, citamos ainda a se-paração entre o Estado e a Igreja (aumento no nú-mero de construções de prédios do governo), a nova configuração social (burguesia e proletariado), conse-quências da expansão do liberalismo econômico que continua a romper fronteiras até os dias de hoje. Com base no que foi explanado, a capital de Vitória

sofreu um reflexo das intervenções mundiais como as realizadas em Paris e reproduzidas no Rio de Janeiro: alargamento das ruas, construções de parques e praças, obras de saneamento básico (sistema de água e esgoto), instalação de luz elétrica, entre outras.

Observamos em nossa capital o afastamento das classes menos favorecidas para as periferias da cidade após as reformas do centro da cidade. No início do século XX, após as obras de revitalização e urbanização, o centro da cidade sofreu uma valorização do espaço. Parte da elite se instalou nos arredores do Parque Moscoso e a popu-lação que antes morava ali passou a habitar os subúrbios que estavam se delineando.

O aparecimento de classes sociais e a estratificação das relações de trabalho contribuiram nas palavras de Lefe-bvre (2008, p. 79) para o aparecimento da “cotidianida-de no urbano: a vida privada reclusa, contribuiu com a fragmentação do sujeito, tédio e alienação, característi-cas da modernidade capitalista industrial”.

Observamos em Vitória características dos efeitos da urbanização: a negação do passado e reformulação da cidade, ação que beneficiou a nova classe em ascensão – a burguesia – privilegiando os que estavam no poder.

Liberalismo econômico: Pressupõe a defesa da li-berdade de ação produtiva e por conseguinte eman-cipação econômica, uma economia com pouca in-tervenção do estado nas práticas econômicas. Como características principais podemos apontar ainda: o individualismo, o livre mercado, participação mí-nima do Estado e defesa da propriedade privada.

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Consolidação dos aterros e

expansão portuária

Durante a década de 1920, ocorreu um nú-mero significativo de mudanças estruturais na região central de Vitória:

Desapropriações, indenizações, escava-ções aterros, demolição de prédios, alar-gamento e calçamento de ruas e avenidas. Colocação de meios-fios, construção de novos passeios, ladrilhamento e drenagem de vias, expansão da iluminação pública com troca e implantação de novos pos-tes e luminárias, melhorias nos serviços de água e esgoto, mudanças e ampliação na linha dos bondes, entre outras, foram as ações desenvolvidas no antigo sítio

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42 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

Os aterros foram uma estratégia utilizada como ferramenta de ex-pansão territorial da capital, Vitó-ria. Grandes áreas foram aterradas visando o crescimento para a por-ção leste e nordeste da capital. Geograficamente a ilha de Vitória possuía muitos maciços rochosos, terrenos íngremes e áreas alagadas. Neste contexto, o aterro foi a me-lhor opção para ampliar o espaço habitável.

A área de Vitória cresceu conside-ravelmente, aumentando cerca de 10km² a área da ilha até a data de 1975, como podemos constatar na

figura 20. Fig. 20 – Aterros até 1975. Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves.

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Patrícia Guimarães Pinto | Priscila de Souza Chisté Leite Fig. 21 – Cartão Postal da Região do Campinho (atual Parque

Mosco-so) após aterro. Fonte: Autor ignorado, Biblioteca Central da Ufes.

O primeiro grande aterro aconteceu em 1830 na re-gião do Parque Moscoso, então chamado Campinho (figura 21). Esse aterro é anterior ao ocorrido no final do século XIX para construção do Parque Moscoso. Ali concentrava a maior parte da população da ilha nos primeiros séculos de colonização, sendo área de mangue e esgoto. O aterro foi necessário para aumen-tar minimamente a área para construção das residên-cias, edificações religiosas e condições de higiene.

Fig. 22 – Antigo Largo da Conceição, atual Praça Costa Pereira. Fonte: Arquivo Público do Espírito Santo.

O segundo aterro ocorreu em 1860 e ampliou o aces-so à Cidade Alta através do aterro do antigo Largo da Conceição, atual Praça Costa Pereira (figura 22). Antes, o mar tomava conta de toda a região, servindo como parte do porto (ainda precário) que recebia pequenas embarcações. Apesar da foto ser do início do século XX, exemplifica bem o local aterrado no passado.

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44 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate Fig. 23 – Reta da Penha, 1928. Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória.

Fig. 24 – Região do Porto antes do aterro. Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves.

O terceiro grande aterro ocorreu em 1925 em parte da região idealizada por Saturnino de Brito no projeto do Novo Arrabalde (figura 23). Possibilitou a ocupação da área central de Vitória (Av. Leitão da Silva, Av. Reta da Penha, entre outros). Esse aterro abre espaço para a ex-pansão que viria a acontecer em meados do século XX.

O quarto aterro ocorreu em 1941 e continuou a ex-pansão da área do Porto de Vitória para uma melhor circulação de grandes embarcações. Na figura 24 ve-mos o local com as obras de barragem e contenção para que a drenagem e aterramento pudessem acon-tecer.

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Patrícia Guimarães Pinto | Priscila de Souza Chisté Leite Fig. 25 – Av. Beira Mar após o aterro, 1952/1955. Fonte: Instituto

Jones do Santos Neves.

O quinto grande aterro realizado na cidade de Vitó-ria, diz respeito à região compreendida entre o Forte São João e Bento Ferreira. Esse aterro também abre espaço para a expansão crescente no sentido do nor-deste da ilha. Na figura 25 observamos a Avenida Bei-ra Mar se delineando após o aterro em 1952/1955.

Fig. 26 – Ilha do Príncipe. Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves.

A Avenida Beira Mar (figura 25) foi aterrada sobre o mar assim como a região da Vila Rubim e adjacências. A Ilha do Príncipe (figura 26) começou a ser incorporada ao continente na década de 1960, resultando no que hoje conhecemos como Ponte Seca. Na imagem é possível ver a região quando ela ainda era alagada.

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46 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

Os últimos aterros a que faremos referência ocorreram em locais diversos da cidade, originando bairros como a Praia do Suá, Enseada do Suá, parte da Praia do Canto e a Praia da Curva da Jurema. Foi no aterro desse período que a Ilha do Boi (figura 27) foi incorporada ao continente. O aterro que criou o Porto de Tubarão, em Jardim Camburi também se consolida neste momento ( entre meados e final da década de 70).

Fig. 27 – Foto aérea mostrando o aterro ligando a Ilha do Boi ao continente, 1978. Fonte: Instituto Jones do Santos Neves.

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Todos os aterros foram importantes para o cresci-mento da cidade de Vitória, no entanto, destacamos o aterro na região da Praia do Suá, Praia do Canto e Enseada do Suá, cujo processo incorporou também a ilha do Boi, pois ele diz respeito a um “planejamen-to urbano direcionado para o mercado imobiliário” (KLUG, 2009, p. 56), ampliação geográfica que fa-voreceu a expansão e verticalização da parte nordeste da cidade.

Paralelamente aos fatos descritos acima, a verticaliza-ção da Cidade Alta e do centro de Vitória como um todo chega em seu auge, motivado pelo forte mer-cado imobiliário presente também na região central. A interação entre os habitantes e a cidade sofreu um rompimento neste momento, não era mais possível resgatar elementos da composição da cidade colonial, fato que alterou a memória coletiva da cidade:

A barreira visual criada pela cortina de edifícios obstruiu a percepção de gran-de parte do antigo núcleo da cidagran-de e do Maciço Central. A paisagem natural apa-rece como pano de fundo para a paisagem construída, elemento de maior intensida-de e intensida-destaque (KLUG, 2009, p. 56-57).

O centro da cidade nesse período não comportou o au-mento da densidade populacional e houve consequente saturação do espaço, ainda que edifícios estivessem sen-do construísen-dos na região central, a população crescia em ritmo acelerado.

O processo migratório dá continuidade ao processo de expansão e verticalização. Na tabela a seguir (figura 28), observamos o aumento populacional da cidade de Vi-tória a partir da década de 1920, chegando a mais que dobrar entre 1920 e 1940.

Fig. 28 – Tabela com dados populacionais. Fonte: IBGE.

A produção da cidade moderna e a nova forma de or-ganização social de classes, excluiu uma grande parcela da população para as áreas periféricas e para as encostas dos morros. Esse processo se intensificou em meados do século XX com a chegada de grandes indústrias, expan-são da cidade e consequente migração para o Estado em busca de emprego e novas condições de vida.

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Porto de Vitória

O Porto de Vitória está na paisagem da cida-de cida-descida-de a época da capitania quando tinha apenas um cais de madeira onde chegavam pequenas embarcações (figura 29). Não pos-suía estrutura física, higiene ou organização suficiente, mas sempre serviu como porta de chegada e saída da capital.

No final do século XIX e início do século XX, o porto de Vitória assumiu um papel cada vez mais destacado no desenvolvimento econômico e político do Espírito Santo. Paralelamente, o sul do Estado (principal-mente a cidade de Cachoeiro de Itapemi-rim), se tornou competitivo político, social e economicamente frente à capital através de disputas de poder da elite recém estruturada

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A produção do café do sul era escoada diretamente pelas estradas, seguindo para o Rio de Janeiro, dei-xando de utilizar o porto de Vitória. Neste contexto, a expansão do porto de Vitória tornou-se fundamen-tal para que a economia da capifundamen-tal pudesse se forfundamen-tale- fortale-cer através da exportação e arrecadação de impostos e movimentação da economia como um todo.

Fig. 30 – Porto nos anos 20, em reforma. Fonte: Bibliote-ca Central da Ufes.

Segundo Ferreira (2016, p. 209) “[...] datam de 1881 os primeiros estudos para elevá-lo da condição de por-to natural para um equipamenpor-to urbano devidamente

aparelhado”. Com base na necessidade de expansão da Fig. 31 – Porto nos anos 20, em reforma. Fonte: Arquivo Público do Espírito Santo. cidade, houve um plano de urbanização que deu condições de expansão e desenvolvimento das atividades portuárias. No que se referia à ampliação e estruturação do Por-to de Vitória, o governo federal repassou para a Com-panhia Portuária de Vitória (CPV) a tarefa de gerir a expansão. A CPV designou a empresa C.H Walker & Co. Ltd. para construir 1130 metros de cais. No entanto, as obras foram interrompidas em decorrên-cia da crise financeira provocada pela Primeira Guerra Mundial em 1914. Em 1924 a concessão para melho-rias do porto foi transferida para o governo do Estado.

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[...] o advento da ponte, do porto, das rodovias, das ferrovias e de tantas outras intervenções urbanísticas deu mais fluidez aos negócios que gera-vam riquezas e novas expectativas, tornando Vitória uma dinâmica praça comercial muito similar ao empório de comércio e riqueza sonhado por Mu-niz Freire (FERREIRA, 2016, p. 212).

Fig. 32 – Ponte Florentino Avidos, 1930. Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves.

As obras do porto de Vitória só foram retomadas na década de 1920. Porém, havia uma questão relativa à ampliação do porto de Vitória: o continente (lado de Vila Velha) era apontado como local mais adequa-do para instalação adequa-do porto por possuir melhores condições técnicas como espaço, possibilidade de expansão e acesso. Uma forma de sanar esse entrave foi a construção de uma ponte ligando a ilha ao continente.

A ponte, construída em 1927/28, foi chamada de Ponte Florentino Avidos (figura 32), popularmente conhecida como “Cinco Pontes” (por se tratar da união de 5 arcos). Essa ação viabilizou o acesso ao con-tinente e contribuiu para a manu-tenção do porto na ilha de Vitória. O conjunto de transformações atingiu a paisagem física, econô-mica e social da capital que tenta-va progressitenta-vamente inserir-se no cenário comercial nacional através da modernização do porto, cons-trução de ferrovias, grandes ave-nidas e construções imponentes:

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Patrícia Guimarães Pinto | Priscila de Souza Chisté Leite Fig. 33 – Galpões do Porto: Bloqueio visual e físico (1927/1928).

Fonte: Biblioteca Central da Ufes

A década de 1920 foi um período de continui-dade nas mudanças ocorridas na cicontinui-dade como a construção de habitações, obras de saneamento bá-sico, aparelhamento e expansão do porto (figura 33), novos aterros, construções de prédios públicos como a Biblioteca Pública, o Mercado da Aveni-da Central, o Grupo Escolar, reforma e ampliação da Santa Casa, entre outros projetos urbanísticos. Portanto, o emparelhamento do porto aliado ao cres-cimento e melhoria da estrutura do estado eram ele-mentos fundamentais para a expansão da economia capixaba e inserção nos moldes urbanísticos mundiais.

Fig. 34 – Porto de Vitória nos dias atuais Fonte: Gabriela Zucoloto.

A conclusão da obra só aconteceu em 1940 com a cons-trução de mais dois galpões, transformando o atual Porto de Vitóra (figura 34) em um grande complexo portuário :

Em Vitória, as mudanças seguiram a lógica da reforma urbanística nacional, sobretudo em relação ao importante elo entre a cidade e o porto. As obras de urbanização e orga-nização portuária demarcaram as novas fun-ções da cidade e de seus espaços para novas demandas sociais e econômicas que emer-giam na capital [...] (SIQUEIRA 2010, p. 17).

Segundo Siqueira (2001), a economia cafeeira per-maneceu como atividade econômica dominante até a década de 1960, e o porto contribuiu em larga escala para as atividades oriundas das transações comerciais.

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52 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

Fig. 36 – Teatro Glória, 1936. Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves Fig. 35 – Teatro Glória, 1936. Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves.

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Patrícia Guimarães Pinto | Priscila de Souza Chisté Leite

Verticalização e horizontalização

da Ilha: Nova Perspectiva

Consideramos que o processo de verticalização e ex-pansão da cidade de Vitória teve início em meados do século XX. Os primeiros indícios ocorreram em 1926, com a autorização da construção (figura 36) do Teatro Glória (figura 35) com cinco pavimentos, no centro da cidade.

O prédio foi o primeiro a destoar da paisagem urbana do período e seria o ponto de partida de um processo intenso de verticalização, precedido por uma série de aterros que deram início ao processo de horizontali-zação que se extendeu até o final da década de 1970. Em meados do século XX, a população da capital continuou se expandindo em todas as direções: Novo Arrabalde, área central, oeste (Vila Rubim) e para o noroeste da ilha (destaque para a construção da

ro-dovia Serafim Derenzi). Foi na década de 1940 que fo-ram aprovados projetos de grandes edifícios na região do Parque Moscoso e nas imediações. Essas construções geraram grande impacto visual:

A construção desses edifícios vai desencadear o início do processo de verticalização que vi-ria a causar uma severa ruptura visual na pai-sagem da cidade através das alturas, da massa, da escala e da forma das edificações no contex-to da paisagem natural (KLUG, 2009, p. 45).

Fig. 36 – Inicio das obras do Teatro Glória (à esquerda da foto), 1927. Fonte: Biblioteca Central da Ufes.

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54 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

Em 1954, com a promulgação da Lei nº 351, cujo con-teúdo delimitava a altura máxima dos edifícios em doze andares para os edifícios construídos na região do Parque Moscoso e arredores, vemos de forma oficial e legalizada o processo de verticalização do centro de Vitória. Até mesmo na região da Cidade Alta, nos arredores do Palácio Anchieta, os grandes edifícios foram autorizados.

A altura já era equivalente a prédios de seis ou sete pavi-mentos, podendo chegar a doze.

Por ter ocorrido em sua maioria sem planejamento e atendendo interesses particulares e econômicos, des-considerando assim a estética, o patrimônio histórico e

Fig. 37 – Vista aérea do centro de Vitória, região do porto, em 1961. Fonte: Instituto Jones do Santos Neves.

Fig. 38 – Vista do Porto, 1900. Fonte: Biblioteca Central da Ufes.

fatores ambientais, por exemplo, o processo verticali-zação trouxe significativas perdas para a paisagem da capital, em especial para a área central.

Podemos observar na figura 37 o aumento na quanti-dade de prédios na área central no início da década de 60 e como essa nova paisagem rompe com o panora-ma histórico da cidade de Vitória (figura 38). Nesta época a legislação aumentou o limite de altura dos prédios de 12 para até 25 andares criando imen-sos paredões frente à baía.

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Patrícia Guimarães Pinto | Priscila de Souza Chisté Leite Fig. 39 – Bairro Jesus de Nazareth, dias atuais. Fonte: Izabella Santiago.

O processo de expansão tem continuidade na década de 70 e com a promulgação da Lei nº 1994, o limite para construção é flexibiliza-do reforçanflexibiliza-do o aspecto desordenaflexibiliza-do das edificações. Alguns anos mais tarde, em 1973, o PDI (Plano de Desenvolvimento Integrado de Vitória) identifica a necessidade de se preservar elementos naturais da paisagem como a vista da baía e limita as construções em seis pa-vimentos. No entanto, a identidade histórica do centro de Vitória já estava comprometida de forma definitiva.

Dentro do processo de crescimento populacional da capital, verifica-mos uma falta de política habitacional por parte do governo. Nesta dinâmica, os pobres foram expulsos das regiões remodeladas no cen-tro, instalando-se nas periferias como a região oeste e noroeste.

A segregação do espaço é visível na nova composição da cidade. Bairros foram se formando sem receber infraestrutura ade-quada. Os maciços e encostas foram ocu-pados por trabalhadores que chegavam à cidade em busca de melhores condições de vida.

Na figura 39 vemos o bairro Jesus de Naza-reth que começou o processo de ocupação na década de 50, se consolidando duas dé-cadas depois. Além da proximidade com a região central, possuía na pesca abundante, fonte de renda e sobrevivência das famílias. Para Harvey (1980) e para Lefebvre (2008), a diferenciação residencial deve ser inter-pretada em termos de reprodução das rela-ções sociais dentro da sociedade capitalista:

[...] a alienação urbana envolve e perpetua todas as alienações. Nela, por ela, a segregação generaliza-se: por classe, bairro, profissão, idade, et-nia, sexo (LEFEBVRE, 2008, p. 89).

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Em meados de 1970 começou a construção da Ponte Darcy Castelo de Mendonça, mais conhecida como Terceira Pon-te (figura 40), ação que impulsionou e valorizou ainda mais a expansão para a região do Novo Arrabalde e adjacências.

Fig. 40 – Início da construção da Ponte Darcy Castelo de Mendonça (Terceira Ponte), 1980. Fonte: Biblioteca Central da Ufes.

A ponte Darcy Castelo de Mendonça foi a terceira ponte interligando Vitória à Vila Velha e teve imensa importância por dar à cidade uma nova perspectiva de vê-la além de fornecer novo acesso ao continente. Passando por ela, sentido Vila Velha/Vitória vemos elementos fortes da paisagem como as Ilhas do Boi e do Frade, a Pedra dos Olhos, o porto, além dos morros, áreas que haviam sido escondidos pela nova configuração imobiliária do centro da cidade.

O processo de verticalização da cidade é resultado da população crescente, da instalação de grandes empresas e desen-volvimento da economia local, sentido intrínseco à expansão do capitalismo e processo de modernização mundial.

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Patrícia Guimarães Pinto | Priscila de Souza Chisté Leite Fig. 41 – Vista de Vitória a partir de Vila Velha – Região da Enseada do Suá e bairros vi-zinhos com grandes edificações. Ao fundo os maciços rochosos. Fonte: Arquivo pessoal.

[...] com as transformações no Centro, a eli-te – no final da década de 1960 e duraneli-te a década de 1970 – começa a deixar de for-ma for-mais intensa essa área, procurando um bairro mais aprazível, no que diz respeito à moradia. E a Praia do Canto torna-se o bair-ro onde essa classe passa a residir, não mais nas mansões de décadas anteriores, mas sim, nos apartamentos dos edifícios, que aos poucos vão subindo em altura, caracte-rizando o desenvolvimento da verticalização nessa década (1970) (GOMES, 2009, p. 96).

Esse crescimento abriu espaço para uma forte especulação imobiliária onde algu-mas áreas da cidade receberam estímulo para o crescimento. Determinados perfis de moradores eram atraídos para áreas es-pecíficas e essa prática se multiplicou por vários lugares da ilha, sempre atendendo ao perfil desejado para o local.

Assim, alguns loteamentos como a Praia do Canto tiveram a venda facilitada para funcionários públicos e pessoas com maior poder aquisitivo, enquanto outros bairros como Santo Antônio foi loteado e

vendido para a população de baixa renda. Os espaços de convivência antes utilizados pela população, trans-formaram-se em meras vias de acesso onde as pessoas apenas tran-sitavam apressadas, priorizando o convívio privado em detrimento do público, tendo como prioridade o “ter” em detrimento do “ser”, representação máxima da sociedade capitalista e vida moderna. Com base no percurso histórico contextualizado no presente capí-tulo, abordando o processo de modernização da cidade de Vitória, foram pensados dois roteiros que serão apresentados no próximo capítulo. O objetivo das propostas foi proporcionar ao leitor per-cursos que possibilitassem a prática e a discussão in loco dos espaços da cidade e os seus aspectos contraditórios envolvidos no processo de modernização abordado neste livro como um todo.

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58 Educação na cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate

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O recorte mais exato não é forçosamente o que faz uso da menor unidade de tem-po – se assim fosse, seria preciso então preferir não apenas o ano à década, mas também o segundo ao dia. A verdadeira exatidão consiste em se adequar, a cada vez, à natureza do fenômeno considera-do. [...] as transformações da estrutura social, da economia, das crenças, do comportamento mental não seriam ca-pazes, sem um desagradável artifício, de se dobrar a uma cronometragem muita rígida.

Marc Bloch, 2002

Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves. Bonde elétrico, Praça Costa Pereira, 1930.

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Referências

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