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PERCEPÇÃO DE ENFERMEIROS QUANTO AO TRABALHO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: UMA RELAÇÃO DE PRAZER E SOFRIMENTO

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130 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.4, n.1, p.130-143, jan./dez. 2011

INTENSIVA: UMA RELAÇÃO DE PRAZER E

SOFRIMENTO

Rafael Cardoso Bomfim * Daniela Arruda Soares **

RESUMO Esta pesquisa, de natureza qualitativa, descritiva e exploratória versa sobre a percepção dos enfermeiros quanto ao trabalho em uma UTI. Foi realizada em um hospital de médio porte, privado, locado em um

município do Sudoeste Baiano, tendo como

participantes seis enfermeiros que atuavam em Unidade de Terapia Intensiva. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário semi-estruturado e para a análise de conteúdo foi utilizada a categorização temática proposta por Bardin. Tal análise permitiu a emergência das categorias: Prazer relacionado a elementos estruturais da UTI, Prazer relacionado a elementos da assistência na UTI e Sofrimento no trabalho na UTI. Torna-se evidente, que a percepção dos enfermeiros em relação ao seu trabalho deve ser valorizada, devido ao fato das mesmas terem implicações tanto positivas quanto negativas no trabalho desenvolvido por estes profissionais, o que impacta diretamente na qualidade da assistência prestada na UTI.

Palavras-chave: Sofrimento. Prazer. Trabalho. Enfermagem.

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* Enfermeiro graduado pela

Faculdade de Tecnologia e Ciências. Docente da Escola Técnica de Enfermagem CAIC- Centro de Aprendizagem e

Integração de Cursos. e-mail:

rafa3lcb@hotmail.com.

** Enfermeira, docente da

Universidade Federal da Bahia,

campus de Vitória da

Conquista-Ba. Mestre em

enfermagem pela UFBA e

doutoranda em Súde Pública com Área de concentração em

Epidemiologia pela UFMG.

e-mail:dandani23@yahoo.com.br

1 INTRODUÇÃO

O trabalho em Unidade de

Tratamento Intensivo - UTI, além de intenso, visto que os profissionais que aí trabalham lidam muito mais intimamente

com a dor o sofrimento e a morte do outro, é também complexo, agressivo e desgastante para os pacientes quanto para a equipe multidisciplinar que atua neste ambiente, tanto pelos riscos biológicos quanto pelos riscos psíquicos a que estão expostos.

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Esta unidade pode ser assim definida como sendo um local destinado à prestação de assistência especializada à pacientes críticos, sendo necessário controle rigoroso de seus parâmetros vitais e assistência de enfermagem contínua e intensiva (MAIA, 1999). È também um dos setores de maior

complexidade dentro da estrutura

hospitalar e resvala em pontos críticos de organização e gerenciamento. (NOGACZ; SOUZA; 2004, p.31).

Neste contexto, o profissional de enfermagem, por uma questão até mesmo histórica e social, disponibiliza um maior tempo à assistência dos indivíduos que se encontram neste local, o que implica numa maior exposição a este ambiente,

estando mais susceptíveis as

conseqüências que este pode

desencadear na vida profissional e pessoal.

Em consonância, Pitta (1999), adverte que a natureza do objeto de trabalho hospitalar quais sejam a dor, o sofrimento, a morte do outro, podem ser capazes de produzir tanto doenças e sofrimento psíquico nos profissionais, dada a penosidade e insalubridade característica do trabalho, assim como

pode produzir prazer e satisfação quando

os trabalhadores têm suas tarefas

socialmente valorizadas.

Na dialética das relações entre o trabalhador e o seu trabalho, este pode ser percebido tanto como fonte de satisfação e prazer, assim como de sofrimento e penosidades, neste momento se quebram os limites da resistência física e psicológica, podendo desencadear agravos à saúde do trabalhador de enfermagem, sendo o estresse o principal norteador desses agravos (SILVA; MELO, 2006; SALOMÉ; MARTINS; ESPÓSITO, 2009).

Ressalta-se que a alternância entre

prazer e sofrimento decorre do

desempenho psíquico do homem ante os conflitos existentes com a organização do trabalho no sentido de se adaptar, defender-se e/ou sucumbir ao sofrimento advindo do trabalho (DEJOURS,1994).

Isto não significa que se deve considerar o trabalho apenas como fonte de sofrimento e de conflitos, pois é através dele é que o indivíduo se estrutura como sujeito, afirmando sua

identidade e seu desejo de ser

reconhecido socialmente. O trabalho tem, portanto, virtualmente, um poder estrutural

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em relação ao equilíbrio psíquico dos indivíduos (OLIVEIRA; ROCHA FILHO, 2008).

Por isso, a linha que divisa entre o sofrimento e o prazer no trabalho é muito tênue, imprecisa e vaga, visto que ambas as categorias são de caráter subjetivo, pois o que se traduz sofrimento para um não é, necessariamente, para outro, mesmo se submetidos às mesmas condições ambientais (FERRER, 2007).

O que não é vago e impreciso é a proposição contraditória de que aqueles que se interessam e tomaram o cuidado à

saúde como ofício, no caso de

enfermeiros que atuam na UTI,

proporcionam com seu trabalho o cuidado e cura de várias doenças, assim como podem também adoecer por conta dele, navegando “na dependência de inflexões externas (sócio-histórico-políticas) e internas (socioculturais e intrapsiquícas)” (PITTA, 1999, p.33).

Neste contexto, o presente estudo apresenta o objetivo de identificar a percepção dos enfermeiros quanto ao trabalho na UTI.

Para Dejours (2004), Ferrer (2007), Pitta (1999), pesquisas abordando esta

temática são necessárias, a fim de se ter condições de descobrir em que consiste a defasagem entre o trabalho e a saúde do trabalhador, dando voz e vez a estes atores sociais considerando os distintos cenários que estão inseridos.

Acredita-se com isto, que a forma como os enfermeiros de uma UTI percebem seu trabalho, poderá oferecer

indícios para uma transformação

organizacional, na medida em que se concorre para a proposição de um

ambiente de trabalho saudável,

implicando em melhorias na qualidade de vida dos profissionais que aí trabalham bem como na assistência aos pacientes que dela necessitam, proporcionando ganhos em termos produtividade e um melhor serviço prestado.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo e exploratório com abordagem qualitativa.

O cenário constituiu-se de uma Unidade de Terapia Intensiva, de um hospital privado de médio porte situado em um município do Sudoeste baiano.

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Esta UTI tem capacidade para 12 leitos sendo que desses, 2 são reservados para cirurgias cardíacas e 1 para isolamento.

A amostra foi composta de 06 enfermeiros, os quais preencheram os

seguintes critérios de inclusão:

trabalhavam na Unidade de Terapia

Intensiva do referido hospital,

preencheram o termo de consentimento

livre e esclarecido. O fechamento

amostral se deu no momento em que

percebeu-se uma saturação teórica

emitida nas falas dos informantes, ou seja, no momento em que os dados apresentam certa repetição, foi cessada a

inclusão de novos participantes

(FONTANELLA; RICAS; TURATO, 2008). Os enfermeiros participantes foram identificados com as iniciais ENF seguida do numero ordinal correspondente à ordem de aplicação dos instrumentos.

Todos os procedimentos éticos

exigidos pela Resolução n. 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde do

Ministério da Saúde, foram respeitados, sendo que o projeto foi aprovado, respectivamente, por uma comissão de ética do próprio Hospital que sediou a pesquisa.

Como instrumento de coleta de dados, optou-se pelo uso do questionário semi-estruturado como forma de auxiliar na compreensão do objeto deste estudo. Para Gil (2002) tal instrumento constitui como o meio mais fácil e rápido para a obtenção de informações, além de não exigir treinamento e garantir o anonimato

do pesquisado. O instrumento foi

composto de uma questão norteadora abordando a percepção dos enfermeiros quanto ao trabalho na UTI.

Em dezembro de 2008 foi entregue um ofício à coordenação da UTI do Hospital lócus do estudo, requerendo a UTI como campo de pesquisa, o qual foi imediatamente concedido. O período de coleta correspondeu aos três meses subseqüentes à entrega do ofício à

coordenação da UTI supracitada.

Por meio deste, a Coordenação

possibilitou o acesso livre dos

pesquisadores aos enfermeiros da UTI, estes foram abordados nos respectivos turnos de trabalho e responderam os questionários, alguns os devolveram imediatamente, outros foram coletados posteriormente.

Para a análise do conteúdo das falas dos entrevistados foram seguidos os

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passos preconizados por Bardin (1995), a saber: pré-análise, onde fêz-se uma leitura flutuante do material, formulação de objetivos, preparação de materiais; a segunda etapa foi a de exploração do material, onde as unidades de sentido das falas foram extraídas para categorização seguindo a modalidade temática e

posteriormente, tratamento e

interpretação dos resultados obtidos,

ancorados no referencial teórico

escolhido.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na caracterização dos enfermeiros que fizeram parte da amostra, constatou-se que mais da metade eram do constatou-sexo feminino, com médias de idade variando ente 25 e 32 anos; em relação ao tempo de atuação na UTI os enfermeiros apresentaram cerca de 1,5 anos de experiência na área.

Ao serem questionados sobre como era o trabalho na UTI, os enfermeiros emitiram respostas que se afinam com os temas e categorias que se seguem.

TEMA - Prazer no Trabalho

O tema do prazer no trabalho, remontado por muitos enfermeiros que participaram deste estudo, denota o alcance de certo equilíbrio entra a

subjetividade dos enfermeiros que

trabalham na UTI com a organização do trabalho, na tentativa de afastar o sofrimento, seja por uma compensação que têm com os elementos estruturais da UTI, ou com os elementos vinculados à assistência neste espaço.

CATEGORIA 1: PRAZER RELACIONA-DO A ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA UTI

Para Fiedler; Venturoli; Minetti

(2006), as características do ambiente de trabalho refletem, de maneira significativa, nas qualidades do trabalhador. Por isso, um local de trabalho deve possuir elementos estruturais que concorram para que este seja, acima de tudo, sadio e agradável, com isso proporcionando o

máximo de proteção para fatores

materiais ou subjetivos, e devem prevenir acidentes, doenças ocupacionais, além de proporcionar um relacionamento entre a

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empresa e o empregado da melhor forma possível.

Em conformidade com o exposto, os enfermeiros abaixo se manifestaram sobre o trabalho na UTI:

“... boa estrutura, equipamentos modernos, materiais de boa qualidade...” (ENF 1).

“Material de qualidade e em quantidade adequada” (ENF 2).

“...materiais de boa qualidade, integralidade da administração da empresa, que favorece a resolutividade de problemas; oferta de exames diagnósticos na empresa...” (ENF 3).

“... suporte técnico, humano e de bens materiais disponíveis...” (ENF 5).

“... temperatura agradável...” (ENF 4). “... a proximidade dos pacientes (fisicamente - leitos próximos...” (ENF 6).

Destaca-se das falas acima que a estrutura que subsidia o trabalho na UTI possui algumas peculiaridades. Dentre elas, pode-se citar que as unidades são equipadas com tecnologia de ponta, com monitores computadorizados, ventiladores

mecânicos, aparelhos de perfusão

sanguínea, a temperatura e iluminação são controlados artificialmente; os clientes

hospitalizados são monitorados e

mantidos sobre múltiplos aparelhos ao mesmo tempo visando um controle de instabilidade e /ou manutenção do quadro clinico destes (POTTER; PERRY, 2001).

No trabalho de Shimizu e

Ciampone (1999), resultados semelhantes foram apontados por enfermeiros como facilitadores do trabalho na UTI, tais como a organização da UTI, a área física delimitada com a centralização dos pacientes, dos recursos materiais e

equipamentos, conferindo maior

segurança às enfermeiras no cuidado de pacientes instáveis, ou seja, com risco de morte iminente.

As especificidades acima expostas, ainda refletem que o trabalho da enfermagem na UTI ocorre pautada em um modelo de prestação de assistência

individual, tendo como uma das

finalidades administrativas ”organizar a

infra-estrutura necessária para a

realização do processo de trabalho do cuidar (DAL BEN, 2000).

Portanto, além da estrutura física concorrer para que o trabalho da enfermagem na UTI aconteça, é também função destes profissionais manter e viabilizar a estrutura necessário para que o cuidar ocorra a contento.

Assim, a consideração de

elementos estruturais como fonte de prazer relacionados ao trabalho na UTI representam que, a rigidez da natureza do

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trabalho neste espaço, o qual requer muita precisão, destreza técnica, atenção, prontidão na execução das ações, encontrou espaço para que ocorresse uma adaptação entre a personalidade, os desejos e motivações dos enfermeiros e o modo operatório instituído neste espaço, gerando o não sofrimento ou o que se chama de sofrimento criativo (DEJOURS, 1996; 1997; 2000; 2004).

O encontro do prazer tendo como fundamento os elementos estruturais da UTI demonstra certa interface com os

elementos para a prestação da

assistência de enfermagem na UTI, pois estes podem conferir maior segurança às enfermeiras no cuidado dos pacientes internados na UTI (SHIMIZU; CIAMPONE, 1999), tornando-os imprescindíveis.

CATEGORIA 2: PRAZER RELACIONA-DO A ELEMENTOS DA ASSISTÊNCIA NA UTI

Para Petitat (1998), a enfermagem

exerce uma profissão-fronteira,

comprimida por um quadro institucional

pesado e coercitivo e indivíduos

singulares, encarregada de fechar um

circuito anônimo entre o cuidado dos pacientes e a padronização da instituição.

Esse misto entre coerção às normas e rotinas da esfera institucional e a necessidade de consideração das singularidades e subjetividades dos indivíduos impele à enfermagem, a busca de um certo equilíbrio na assistência prestada dentro da UTI, no sentido de se conseguir uma gratificação e prazer nesta prática de cuidado.

Complementarmente, para Dejours (2004, p. 3), o prazer no trabalho se torna maior na medida em que o trabalho real sobrepuja o trabalho prescrito, este último entendido como o modo operatório preestabelecido, realizado sob parâmetros de extremo rigor.

Sendo assim, a não observância estrita dos procedimentos, ou seja, o não seguimento estrito do trabalho prescrito dá espaço para a exeqüibilidade do trabalho real, permitindo-se que o trabalho possa ser inventado e descoberto pelo sujeito que trabalha, valorizando a subjetividade dos seus pacientes, além de permitir a emergência de um trabalho criativo, “que possibilite a satisfação pessoal e a integração do potencial

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humano do trabalhador, com vistas a superar (...) a realidade do trabalho como um espaço de deformidade” (PIRES, 1999).

Diante do exposto, depreende-se que o prazer no trabalho assistencial da enfermagem que atua na UTI pode está relacionado a diversas situações. Cada ser humano na sua individualidade tem sua idealização de prazer no trabalho,

podendo estar relacionado à

remuneração, ambiente físico, relação interpessoal, melhora do paciente e uma série de outros. Contudo existem também os fatores gerais que comportam a relação de prazer no trabalho, nesse

caso, está na execução de algo

valorizado e reconhecido socialmente.

Alguns dos elementos acima

mencionados, foram apontados nas falas que se seguem:

“Prazeroso por garantir a qualidade da assistência” (ENF 1).

“É um trabalho gratificante quando agente vê que o paciente saiu do quadro crítico...”( ENF 3).

“Meu trabalho é bastante gratificante”)( ENF 2).

“... Equipe é bem treinada e ágil o que garante a qualidade da assistência e gratificação no trabalho” (ENF 5).

“Tenho prazer em ver que o meu trabalho é reconhecido...” (ENF 6).

Portanto, o prazer no trabalho de enfermagem encontrado na execução das atividades assistenciais dentro da UTI, engendra duplo sentido, se por um lado garante a sobrevivência dos que dele se utiliza, gerando valorização social e profissional, bem como gratificação, por outro tem como ofício a dor e a morte, podendo em situações de descompasso entre os interesses e sentimentos do trabalhador com o seu trabalho, gerar o desprazer, o sofrimento.

TEMA- SOFRIMENTO NO

TRABALHO

Como dito anteriormente, o

sofrimento se torna patogênico quando não é possível negociar as demandas internas do sujeito com a organização do

trabalho (DEJOURS, 2000; 2004).

Baseado no sofrimento no trabalho na UTI ocorreu à emergência das falas na categoria que se segue.

CATEGORIA 3 - Sofrimento no

Trabalho da UTI

O sofrimento, assim como o prazer, possui um componente essencialmente subjetivo, pois o que se configura como

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sofrimento para um pode ser motivo de prazer para outro. Ele comumente se

manifesta quando os trabalhadores

passam por um processo de expropriação de sua liberdade, inventividade, gerando a

necessidade de lançarem mão de

estratégias defensivas individuais e/ou

coletivas de forma a paralisar o

pensamento imaginativo, numa luta contra a manutenção do condicionamento à organização do trabalho (DEJOURS, 1997).

No âmbito da enfermagem, a expressão deste sofrimento tem ocorrido de diversas formas, a saber: subdivisão vertical e horizontal das tarefas levando a fronteiras mal delimitadas de delegação

de responsabilidades (PEDUZZI;

ANSELMI, 2002); separação entre o trabalho de concepção e a execução de tarefas, gerando uma dissociação e fragmentação dos mesmos (PITTA, 1999); prolongadas jornadas de trabalho, o ritmo acelerado de produção por excesso de

tarefas, relações interpessoais

conflitantes, a automação devido à

realização de ações repetitivas,

remuneração baixa em relação à

responsabilidade e complexidade dos serviços executados (COUTO, 2008).

Sob esta perspectiva, as falas abaixo ratificam o exposto:

“...a sobrecarga de componentes administrativos na atividade diária do enfermeiro é o principal elemento que dificulta a assistência direta” (ENF 6). “... muitos papéis burocráticos que dificultam a assistência...“ (ENF 2 ). “Morte! Agravamento de quadro” (ENF 4). “O confinamento; lidar com a proximidade morte-vida no paciente crítico; lidar com o impacto do afastamento do paciente de seu convívio familiar e social...” (ENF 5). “Falta de compromisso de alguns profissionais técnicos...” (ENF 3).

Nas falas dos Enfermeiros 6 e 2, foi possível observar que diante do elenco de atribuições do enfermeiro na UTI, a gerência da assistência prepondera entre os trabalhadores enfermeiros , gerando sofrimento por terem que deixar em

segundo plano tarefas não menos

importantes como os cuidados à saúde prestados diretamente ao paciente.

Depreende-se que, a priorização dos componentes administrativos ou

burocráticos, ocorre devido a uma

sobrecarga de trabalho concorrendo para uma relativização das demais atividades e papéis, não porque se deseja, mas

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porque não se tem tempo ou condições para isto.

A relativização de aspectos

vinculados ao quotidiano do cuidado de pacientes gravemente enfermos alocados na UTI, traz a tona os dilemas relativos à morte e ao afastamento social, os quais encontram suas raízes históricas com o surgimento do próprio hospital tal como apresentado nas falas dos Enfermeiros 4 e 5.

Conforme assevera Pitta (1999), a dificuldade dos profissionais em lidar com a morte faz com que se adie o momento de avisar a família, e mais ainda o doente da sua morte iminente, buscando ao máximo o prolongamento da vida por

meio dos recursos tecnológicos.

Corroborando com o exposto, Ferrer (2007) afirma que a morte e a mortalidade foram exiladas da vida contemporânea não havendo luto, expectadores ou rituais. Outro aspecto mencionado diz respeito à falta de compromisso de alguns profissionais técnicos.

Sob um olhar pautado na

psicopatologia do trabalho, poderia se aventar a possibilidade da falta de compromisso encontrar respaldo em uma insatisfação entre o conteúdo do trabalho

inadaptado à estrutura da personalidade

do trabalhador, gerando este

distanciamento entre as características que o trabalho na UTI requer com as

necessidades do trabalhador.

Naturalmente que esta não é a única opção de análise para esta situação, a qual está sendo avaliada sob a égide do referencial teórico adotado.

Contudo, percebe-se que esta falta de compromisso, apontado em uma

possibilidade de análise como

inadaptação ao trabalho, aporta no conhecimento de que a divisão do

trabalho, representada aqui entre

profissionais de nível médio (técnicos) e de nível superior, está sedimentada na divisão do trabalho nos moldes da produção capitalista, trazendo à tona a

discussão sobre a hierarquia

estabelecida, as sobreposições de poder e a valorização social das ações executas institucionalizadas pelas profissões.

Portanto, para DEJOURS (1996), ao que tudo indica, o sofrimento é a fonte de exploração organizacional, à medida

que os mecanismos de defesa

decorrentes conduzem à maximização da força de trabalho, com vistas ao aumento contínuo da produtividade, suprimindo o

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livre-arbítrio do trabalhador. Não obstante, ainda acrescenta que o que é explorado em si não é o sofrimento, mas, antes de tudo as estratégias defensivas utilizadas em oposição a esse sofrimento.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As percepções de enfermeiros acerca do trabalho na UTI apresentaram correlação com as vertentes de prazer e sofrimento no trabalho, revelando uma relação dialética entre ambos resultantes da dinâmica interna da organização do trabalho e das condutas e ações dos trabalhadores.

Revelaram ainda que o prazer e o sofrimento presentes no trabalho dos enfermeiros que trabalham na UTI, não se constituem em entidades estanques, mas apresentam integração entre as vivências

pessoais e profissionais de cada

enfermeiro com o contexto organizacional, integrando uma relação de mutualidade.

Reconhecendo que os enfermeiros

do presente estudo apresentaram

percepções advindas do seu quotidiano

de trabalho, acredita-se que este

conhecimento deve ser privilegiado, pois, considera-se este o ponto de partida para a potencialização do prazer em detrimento do sofrimento nos seus locais de trabalho. Torna-se evidente, portanto, que as percepções dos enfermeiros em relação ao seu trabalho devem ser valorizadas pelas organizações e instituições de saúde onde os enfermeiros trabalham, devido ao fato das mesmas terem

implicações tanto positivas quanto

negativas no trabalho desenvolvido por estes profissionais, o que impacta diretamente na qualidade da assistência prestada na UTI.

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PERCEPTION OF NURSES FOR THE WORK IN THE ITU: A RELATIONSHIP OF PLEASURE AND PAIN

ABSTRACT This research, qualitative, descriptive and exploratory deals with the perception of nurses regarding the work in the ITU. Was performed in a medium-sized hospital, private leased in a city in southwest Bahia, and the participants six nurses who worked in the Intensive Care Unit. The instrument of data collection used was a semi-structured questionnaire and content analysis was used thematic categorization proposed by Bardin. This analysis allowed the emergence of categories: Pleasure related to structural elements of the ITU, pleasure-related elements of care of the ITU and suffering at work in the ITU. It is clear that the perception of nurses regarding their work should be valued, due to the fact that these have implications both positive and negative work of these professionals, which directly impacts the quality of care in the ICU.

Keywords: Pain. Pleasure. Work. Nursing.

Artigo recebido em 17/01/2011 e aceito para publicação em 18/04/2011

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