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História. As Independências na América. Teoria. A América Inglesa As características das 13 Colônias

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As Independências na América

Teoria

A América Inglesa

As características das 13 Colônias

A colonização inglesa na América teves suas peculiaridades, ou seja, algumas características que a diferenciava das experiências portuguesa e espanhola no Novo Mundo. Uma questão fundamental para entendermos essa colonização é, antes de tudo, a iniciativa individual que muitos colonos tiveram de vir por vontade própria para a América e, em seguida, a liberdade que esses ingleses tiveram para se estabelecer e se desenvolver aqui.

Neste ponto, podemos destacar que a liberdade comercial obtida por tais colonos pode ser explicada pela ideia de uma negligência salutar, ou seja, uma política de pouca interferência da Inglaterra nos negócios coloniais. Tendo em vista que a Inglaterra ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII esteve envolvida e sucessivas guerras contra Espanha, Holanda e França, destacando-se principalmente a Guerra dos Trinta Anos (1618- 1648) e a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), além das próprias crises internas, como a sangrenta Guerra Civil de 1642, podemos entender as dificuldades da Coroa inglesa e do parlamento para interferirem em outro continente.

Assim, o modelo de colonização inicialmente contou com certa liberdade e isso influenciou na própria escolha das práticas econômicas, das formas de administração e das culturas que se difundiram pelas 13 colônias.

Desta forma, os colonos logo se adaptaram aos diferentes climas e condições de cada região.

Nas colônias do Norte, por exemplo, as baixas temperaturas não tornavam a agricultura em larga escala algo economicamente próspero. Logo, nessa região, a exploração de madeira das vastas florestas, o comércio de peles de animais, a manufatura e a agricultura sustentável em pequenas terras formaram a melhor forma de sobreviver ao frio do norte.

É importante também destacar que as colônias dessa região utilizaram pouquíssima mão de obra escravizada, preferindo muitas vezes o trabalho assalariado ou regimes de servidão por contrato, onde um indivíduo trabalharia por um período fixo para pagar dívidas. Normalmente, os protestantes que fugiam da Inglaterra buscando oportunidades e liberdades na América rumavam para o Norte sem nada e se submetiam a esses trabalhos como forma de se manter.

Enquanto isso, o Sul das 13 Colônias apostava muito mais em um modelo agroexportador baseado no sistema de plantation, ou seja, composto por latifúndios, voltados para a monocultura (algodão e tabaco) e com uso predominante de mão de obra escravizada.

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O fim da negligência

Visto isso, mantendo certa liberdade por alguns anos, os colonos não receberam bem as mudanças propostas pela metrópole no sécuculo XVIII, principalmente sobre os aumentos de impostos. Uma situação ainda mais agravante para a recusa às mudanças foi a construção, ao longo do século XVIII, de um sentimento maior de união e de uma autoconfiança dos próprios colonos.

Com a Guerra dos 7 anos (1756-1763), que ganhou dimensões intercontinentais e alcançou à América, o governo inglês praticamente delegou aos colonos a defesa de suas possessões. Desta forma, a luta contra os franceses despertou moradores da colônia um forte sentimento de autoconfiança, bem como a consciência de sua força militar. Pela primeira vez as 13 Colônias se uniram em torno de um ideal comum, que mais tarde culminaria na Independência dos Estados Unidos. Vários líderes militares surgiram neste conflito, destacando-se a figura de George Washington.

No entanto, apesar da Inglaterra ter saído vitoriosa do conflito contra a França, os constantes gastos militares geraram uma forte crise econômica no país. Assim, para se recuperar economicamente, os ingleses adotaram uma nova política fiscal sobre suas colônias, ou seja, no lugar da liberdade comercial foram impostas rígidas práticas de controle. Segundo os ingleses, os colonos deveriam contribuir com a arrecadação pois a Guerra teria sido motivada justamente para defender as terras coloniais.

Deste modo, com o término da Guerra dos Sete Anos, a Inglaterra criou novos impostos para a região:

Lei do Açúcar (1764) - instituiu-se uma taxa sobre todos os carregamentos de açúcar que não fossem das Antilhas inglesas. Essa medida prejudicava diretamente os colonos, pois negociavam melaço com regiões do Caribe para produzir rum.

Lei do Selo (1765) - que obrigava a compra de um selo produzido pela metrópole para estampar todos os documentos que circulassem dentro da colônia. A Lei do Selo, portanto, foi revogada no ano seguinte.

Lei do Chá (1773) - que obrigava os colonos a somente consumirem chá das Companhias das Índias Orientais, sediada em Londres.

Nesse mesmo contexto, após a criação da Lei do Selo, os colonos passaram a alegar que os impostos eram ilegítimos porque as colônias não tinham representação no Parlamento em Londres. A ideia de “nenhum imposto sem representatividade” (no taxation without representation), passou a ser defendida pelos colonos.

No entanto, apesar dessas manifestações, foi a Lei do Chá que foi considerada a mais controversa e que gerou uma das principais mobilizações anti-metrópole. Assim, contra a Lei do Chá os colonos protestaram através da Boston Tea Party – A Festa do Chá de Boston, que foi um grande ataque de colonos, que se vestiram como nativos e jogaran o carregamento de chá de três navios da Companhia das Índias no mar.

A Inglaterra reagiu com a promulgação das “Leis Intoleráveis “, uma forma de punição aos colonos. Na Inglaterra, essa legislação ficou conhecida como “Atos Coercitivos" e visavam aumentar ainda mais a presença militar inglesa na colônia e o aumento das taxas. Entre as determinações da Lei, destacam-se:

Lei do porto de Boston – determinava o fechamento do porto de Boston a todos os navios até que os colonos pagassem pelo chá despejado na Boston Tea Party.

Lei de Aquartelamento - obrigava todos os colonos a fornecerem alojamento, alimentação e transporte aos soldados britânicos.

Ato de Quebec - tinha como objetivo impedir que os colonos incorporassem terras na região do Canadá.

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A luta pela independência

Para responder a rígida política de pressão adotada pela Inglaterra, as colônias realizaram o Primeiro Congresso Continental da Filadélfia, em 1774. Essa primeiram reunião teve como objetivo traçar planos de boicote à metrópole, de combate às Leis Intoleráveis e exigir o fim dos entraves ao desenvolvimento da colônia e a participação dos colonos no parlamento inglês.

A Inglaterra, no entanto, não interessada em negociar com os colonos, manteve a repressão, chegando a destruir um depósito de armas dos colonos. A permanência dessa condição de opressão, portanto, provocou uma série de rebeliões contra a Metrópole nas 13 Colônias e iniciou, em 1775, a Guerra de Independência.

Assim, nesse mesmo ano os colonos se reuniram no Segundo Congresso Continental da Filadélfia, onde se organizaram para formar o Exército Continental que resistiria aos ataques ingleses e para declarar a ruptura definitiva com a metrópole. Desta forma, durante a guerra os colonos derrotaram os ingleses em diversas batalhas, sob a liderança de George Washington e, no dia 4 de Julho de 1776 promulgaram a Declaração de Independência, redigida por Thomas Jefferson, com colaboração de Benjamin Franklin e John Adams.

Entretanto, apesar da declaração, os ingleses não aceitaram inicialmente a emancipação e mantiveram os esforços para combater os “rebeldes” até 1783. Com o prolongamento dos combates, Benjamin Franklin foi enviado para a França para conseguir apoio da velha rival dos ingleses, que aceitou entrar no conflito ao lado da Espanha,em 1777, após a vitória americana na Batalha de Saratoga. Assim, em 1783 foi selada a paz definitiva com a assinatura do Tratado de Paris, através do qual a Inglaterra reconheceu a independência e a formação dos Estados Unidos da América.

Defendendo ideais emancipatórios e republicanos, a Independência das Treze colônias teve influência das ideias Iluministas, especialmente de John Locke, como evidenciado no trecho abaixo:

“Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade. Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade.”

(Declaração de Independência das Treze Colônias)

Sendo o primeiro país da América se tornar independente, influenciou outros movimentos de emancipação na América ao longo século XIX.

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A Constituição e a formação do Estado

Após a Declaração de Independência, os antigos colonos formaram Congresso da Confederação, responsável por organizar o novo Estado de 1781 até 1789, quando a nova Constituição e o novo governo se tornaram operacionais. Durante esses anos, portanto, os vitoriosos se envolveram em um longo debate sobre a elaboração da Constituição as características políticas e econômicas do novo país.

Enquanto os republicanos, liderados por Jefferson, defendiam um poder central enfraquecido e maior autonomia para os estados, os federalistas, ao contrário, defendiam um poder mais centralizados para manter a união dos estados e eram liderados Alexander Hamilton e George Washington, que agora presidia o Congresso.

A decisão, portanto, foi a de equilibrar os desejos de ambas as facções e criar uma Constituição e um Estado influenciados pelas ideias iluministas e que representasse uma república federativa, agora chamada de Estados Unidos da América. Dentre as suas principais características, podemos citar:

• República presidencialista federativa;

• A tripartição dos poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário;

• Unificação do sistema monetário e de medidas;

• Garantia da liberdade de expressão e religiosa;

Esses aspectos reafirmam a influência do ideais Iluministas ao movimento. No entanto, apesar de muitos delegados estaduais reconhecerem que a escravidão era imoral, as discussões sobre a abolição não prosperaram, para não contrariar os representantes dos estados do sul a escravidão foi mantida nas colônias mesmo após a independência. Este fato aprofundaria cada vez mais as diferenças entre o Norte e o Sul, o que culminaria na Guerra de Secessão em meados do século XIX.

A América espanhola A administração colonial.

A Espanha exercia um rígido controle sobre suas colônias, assim, o exclusivo metropolitano era muito presente nas terras dominadas na América e especialmente rigoroso no combate à evasão dos metais preciosos aqui explorados. Desta forma, para melhor gerir as riquezas coloniais, a metrópole espanhola dividiu suas posses na América em quatro Vice-Reinos, que teriam representantes da Coroa responsáveis por administrar as regiões mais ricas e com maior foco em comércio, que seriam:

• Vice-Reino da Nova Espanha (México e parte dos Estados Unidos),

• Vice-Reino de Nova Granada (Colômbia e Equador),

• Vice-Reino do Peru (Peru e Bolívia);

• Vice-Reino do Rio da Prata (Paraguai, Uruguai e Argentina).

Além dos Vice-Reinos, a Coroa espanhola também criou regiões administrativas conhecidas como Capitanias-gerais para administrar regiões de importância estratégica e militar para o domínio espanhol.

Assim, tais capitanias foram:

• Capitania-geral de Cuba, (1764)

• Capitania-geral do Chile, (1541)

• Capitania-geral da Guatemala, (1560)

• Capitania-geral da Venezuela, (1777)

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Tal divisão administrativa, portanto, permitia que a metrópole enviasse importantes súditos do rei para comandar as defesas coloniais e administrar a exploração e a saída das riquezas da América. Entretanto, os principais conselhos administrativos que tomavam as decisões sobre a colônia não estavam sediados nas posses ultramarinas e nem mesmo contavam com a participação de colonos.

A chamada Casa de Contratação das Índias, por exemplo, foi uma importante empresa colonial responsável pela administração das posses americanas e pela fiscalização da cobrança de impostos. Apesar de contar com filiais na colônia, sua sede se localizava na importante cidade de Sevilha e, posteriormente, em Cádiz.

Como a Casa de Contratação era a responsável pela fiscalização de impostos e de comércio, todos os mercadores e riquezas que circulassem entre o Velho e o Novo Mundo deveriam prestar contas à instituição.

Desta forma, para evitar contrabandos e a perda de riquezas, a Casa de Contratação instituiu o chamado regime de porto único, que determinava que o comércio só poderia ser realizado com mercadorias saindo dos portos coloniais de Vera Cruz (México), Porto Belo (Panamá) e Cartagena (Colômbia) e entrando apenas por Sevilha ou Cádiz.

Por fim, a instituição mais importante para a organização de toda essa administração foi o Conselho das Índias, que era responsável por auxiliar o rei na administração de suas colônias. Assim, o conselho deveria criar e organizar os Vice-Reinos, indicar indivíduos para cargos de importância, estabelecer como seria a relação com os indígenas, orientar as defesas coloniais, criar as normas que seriam aplicadas às colônias, funcionar como tribunal e organizar a ocupação da colônia.

Mapa: A imagem é um mapa da América espanhola que demonstra onde seriam os Vice-Reinos e as Capitanias-Gerais durante a colonização. Fonte: DUBY, Georges. Atlas Historique. Paris: Larousse, 1987, p.282.

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A sociedade colonial

A pirâmide social nos territórios americanos motivou muitos problemas e conflitos. Durante a colonização, a elite política da sociedade formada pelos Chapetones, que eram espanhóis nascidos na metrópole e tinham diversos privilégios, dentre eles a possibilidade de ocupar importantes cargos políticos e religiosos como administradores, fiscais, clérigos e oficiais escolhidos pela metrópole.

Abaixo dos chapetones, sem muitos privilégios e poderes políticos, mas com um crescente poder econômico estavam os chamados Criollos que eram filhos de espanhóis brancos nascidos na colônia. Por terem nascido na colônia não eram escolhidos pela metrópole para os cargos administrativos mais importantes, no entanto, graças à força econômica puderam controlar órgãos como os cabildos (equivalente às Câmaras Municipais).

Por volta de 1800, a elite colonial hispano-americana era composta por cerca de 3 milhões de criollos. Essa elite criolla não formava um bloco coeso, subdividindo-se de acordo com os interesses regionais, surgidos em decorrência da própria organização administrativa colonial. No entanto, vale destacar que a maioria desses criollos, ao longo do século XVIII, passou a ser influenciada por importantes movimentos que ocorriam no ocidente. Como muitos jovens costumavam frequentar as universidades europeias, ler livros atuais e se encontrar em lojas maçônicas, os textos iluministas logo se difundiram por esse grupo social, assim como as notícias de movimentos como as independências dos Estados Unidos e do Haiti e a Revolução Francesa.

Abaixo dos criollos, com pouquíssimos privilégios ou poderes havia os mestiços, que eram os filhos de espanhóis com indígenas ou negros que atuavam muitas vezes como trabalhadores livres, artesãos e pequenos comerciantes. E, por fim, na base dessa sociedade se encontravam os negros escravizados (sobretudo nas ilhas da América central) e os indígenas em regime de trabalhos compulsório pela Mita e Encomienda.

Vale destacar que, na sociedade colonial, a possibilidade de ascensão social ela baixíssima e, além disso, entre os séculos XVI e XVIII, a condição dos indígenas, mestiços e negros escravizados pouco havia sofrido mudanças.

Apesar de alguns mestiços e indígenas possuírem pequenos privilégios, a realidade da maior parte da população era uma condição severa de exploração, com muito trabalho, enquanto para os criollos havia também a alta carga de impostos e poucos benefícios e privilégios, quando comparados aos chapetones.

Essa situação se tornou ainda mais agressiva no século XVIII, quando o déspota esclarecido Carlos III (1759- 1788) promoveu as Reformas Bourbônicas. Ao longo do século XVIII a fraqueza espanhola frente a ascensão de potências como a Inglaterra, assim como o fracasso em conflitos como a Guerra dos Sete Anos e os gastos militares colocaram a economia espanhola em uma situação delicada. Desta forma, interessado em uma redução da dependência econômica espanhola, assim como uma modernização do reino, o rei Carlos III promoveu um conjunto de reformas de caráter liberal e outras claramente pautadas nas práticas mercantilistas.

Dentre elas podemos citar a manutenção da proibição do comércio entre as colônias e outros reinos (reforçando o exclusivo metropolitano), a continuidade na proibição de indústrias na América, aumento da força militar, criação de novas companhias de comércio e do Vice-Reino do Prata, expulsão dos jesuítas do Império espanhol e, enfim, o aumento da carga tributária entre os colonos.

De fato, as reformas bourbônicas tentaram modernizar a economia espanhola com medidas mais liberais internamente, no entanto, para as colônias, havia um reforço da prática mercantilista e uma nítida tentativa

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de revigorar a colonização. Tais medidas, portanto, foram recebidas com grande insatisfação pelos habitantes da colônia, que logo se organizaram em importantes movimentos emancipacionistas.

As independências da América espanhola

Nessa conjuntura, as reformas bourbônicas, a ascensão de Napoleão Bonaparte na França e o estabelecimento do Bloqueio Continental contra a Inglaterra foram fundamentais para o processo de independência da América Espanhola.

Para fins didáticos, podemos dividir as lutas coloniais contra a Espanha em três fases:

1. Movimentos precursores - 1780 a 1810

Com as reformas bourbônicas, a população colonial se demonstrou altamente insatisfeita e logo movimentos defendendo a emancipação de regiões da colônia surgiram. Essa fase é considerada a primeira etapa do processo de independência e um importante momento para demonstrar o enfraquecimento do poder da Coroa.

Rebelião de Tupac Amaru (1780) – Em novembro de 1780, no Vice-Reino do Peru, o líder indígena José Gabriel Condorqui, que se autoproclamava Tupac Amaru II (por ser descendente do antigo imperador Inca), rebelou-se contra a metrópole. Assim, a chamada Rebelião de Tupac Amaru organizou um exército formado por trabalhadores livres, mestiços, indígenas e negros que eram contrários à exploração das camadas mais pobres. Apesar do apoio inicial de alguns criollos, como o movimento se tornou extremamente popular e uma ameaça também para essa elite, os mesmos logo retiraram o suporte e Tupac Amaru foi capturado. Para servir como exemplo, o líder indígena teve sua língua cortada e o corpo arrastado por cavalos.

Movimento Comunero (1781) – Em 1781, no Vice-Reino de Nova Granada, colonos insatisfeitos com as reformas criaram uma junta de governo chamada de El Común. Mais uma vez, a camada criolla apoiou inicialmente o movimento, no entanto, com a rápida e massiva adesão dos setores populares e a radicalização promovida por líderes mestiços como José Antônio do Galan logo afastaram essa elite econômica. Desta forma, com o afastamento dos criollos e a prisão de Galan, o movimento que visava se rebelar contra a metrópole também fracassou e viu seu principal líder ser esquartejado.

2. Rebeliões fracassadas - 1810 a 1816

No início do século XIX, a Europa se tornou palco de uma série de conflitos que ficaram conhecidos como as Guerras Napoleônicas. Nesse período, os avanços de Napoleão Bonaparte na Península Ibérica, a imposição de José Bonaparte como rei da Espanha (após a prisão de Felipe VII), a difusão do pensamento iluminista (assim como a influência das independências dos Estados Unidos e do Haiti) e o enfraquecimento da administração colonial desencadeou novas lutas por independência nas colônias da América espanhola.

Visto isso, quando o rei Felipe VII foi deposto pelas tropas napoleônicas, os criollos na colônia se organizaram nos cabildos e formaram as Juntas Governativas. Através dessa nova organização, a elite econômica enfraqueceu ainda mais a autoridade metropolitana e passou a conviver com grande autonomia, controlando a administração colonial.

Essa experiência de liberdade, portanto, aguçou os interesses coloniais por uma emancipação definitiva.

Assim, esse período foi marcado por algumas declarações de independência e por alguns sucessos iniciais, como a emancipação da Venezuela, da Colômbia, do México e do Equador, por exemplo, em 1810, assim

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No entanto, vale destacar que nessa fase ficou evidente a falta de concordância entre os colonos e as dificuldades encontradas para consolidar as independências. Havia, além disso, a falta de apoio externo, pois a Inglaterra, por exemplo, embora tivesse interesse nos mercados americanos, enfrentava ainda os exércitos napoleônicos e tinha que lidar com as dificuldades causadas pelo bloqueio continental.

No entanto, apesar dessas lutas e das pequenas vitórias, a derrota de Napoleão não alterou muito a antiga condição colonial, pois, em 1814, Fernando VII voltou ao trono na Espanha e buscou ampliar a repressão aos movimentos de emancipação e reconquistar os territórios perdidos.

3. Rebeliões vitoriosas - 1817 a 1824

Com o retorno de Fernando VII ao poder, as forças realistas, que apoiavam o monarca e eram formadas por alguns criollos leais a metrópole e por chapetones, logo se mobilizaram para frear o processo de emancipação.

Desta forma, apesar das declarações de independências, apenas após 1817 que esses movimentos passaram a conquistar definitivamente suas vitórias com lutas sangrentas.

Sob as lideranças de figuras como Simón Bolívar, José de San Martín, Miguel Hidalgo, Manuel Belgrano e Bernardo O’Higgins, os chamados Libertadores da América conseguiram reunir grandes exércitos populares na luta contra as forças realistas. Além disso, interessados em lucrar com a abertura comercial do continente, países como a Inglaterra e os Estados Unidos – através da Doutrina Monroe (expressa na ideia de “América para os americanos”) também se posicionaram a favor dos processos de independência. Os Estados Unidos se opuseram a qualquer tentativa de intervenção militar, imperialista ou colonizadora da Santa Aliança (criada durante o Congresso de Viena) no continente americano.

Assim, em diversas partes da América os movimentos emancipacionistas foram conquistando espaço e derrotando as tropas leais à metrópole. A partir de 1820, com as revoluções liberais na Espanha, o poder da metrópole se enfraqueceu ainda mais, possibilitando enfim que os exércitos de independência saíssem vitoriosos.

Os libertadores da América José de San Martín

José de San Martín foi um criollo, ou seja, filho de espanhóis, que nasceu em 1778 em Yapeyú (atual Argentina) e teve papel importante nas lutas de libertação da Argentina, do Chile e do Peru. Como San Martín foi educado e viveu parte de sua vida na Espanha, tornou-se na juventude um militar das forças espanholas e chegou a atuar com grande importância nas Guerras Napoleônicas ao lado dos espanhóis.

Entretanto, ainda no início do século XIX a entrada de San Martín para a maçonaria o colocou em contato com as ideias iluministas e com colonos americanos que já se empenhavam nas lutas pela independência. Esse crescente contato, portanto, foi fundamental para uma transformação na mentalidade de San Martín, que renunciou em 1812 ao seu cargo no exército espanhol e se dirigiu para a América.

As expedições de San Martín o levaram da Argentina ao Peru, entretanto, antes da independência definitiva do Peru, as tropas de San Martín, que já haviam conquistado grande parte da região, encontraram-se em Guayaquil, no Equador, com as forças de um outro importante líder separatista, o venezuelano Simón Bolívar.

No encontro em Guayaquil, apesar de não divergirem quanto a importância das independências, os projetos políticos almejados por Bolívar e por San Martín eram opostos.

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O argentino, educado na Espanha, era um monarquista e acreditava que a melhor forma de consolidar as independências e garantir o reconhecimento das mesmas seria mantendo o continente fragmentado e governado por nobres europeus em um regime de monarquia constitucionalista, que poderia evitar futuras guerras. Bolívar, por sua vez, defendia um projeto de independência completamente oposto e pela falta de apoiadores, após o encontro em Guayaquil, decidiu abrir mão de seu projeto e voltar para a Argentina.

Simón Bolívar

Nascido na atual Venezuela, Bolívar fazia parte da camada criolla da sociedade e contava com grande prestígio econômico, uma educação iluminista e grande preparo militar. Graças a essa formação, aos poderes econômicos e a popularidade entre as camadas mais pobres, o criollo venezuelano teve papel de destaque na emancipação política das colônias espanholas, ficando conhecido portanto como “O Libertador”.

Enquanto San Martín realizou expedições pelo Sul e pela costa chilena, Bolívar, ao contrário, protagonizou o processo de independências das colônias ao Norte da América do Sul, sendo a grande liderança nas emancipações da Venezuela (1817), Colômbia (1819) e Equador (1821), onde formou a nação independente e republicana da Grã-Colômbia, em 1821.

A construção da Grã-Colômbia, portanto, já revelava o quanto os ideais de Bolívar e seus projetos políticos divergiam dos de San Martín. Diferente do libertador argentino, o líder venezuelano almejava unificar a América em uma grande confederação republicana, defendendo assim ideias que ficaram conhecidas como pan-americanistas. As ideais de Bolívar foram sintetizadas na Carta de Jamaica, escrita em 1815:

“É uma ideia grandiosa pretender formar de todo o mundo novo uma só nação com um só vínculo, que ligue suas partes entre si e com o todo. Já que tem uma mesma origem, uma mesma língua, mesmos costumes e uma religião, deveria, por conseguinte, ter um só governo que considerasse os diferentes Estados que haverão de formar-se […].”

(A Carta de Jamaica)

A proposta do Pan-americanismo foi discutida no Congresso do Panamá (1826), no entanto, os esforços de Bolívar não foram suficientes para manter as regiões que ajudou a libertar unidas. Seus ideais se chocaram com os interesses das oligarquias locais e com a oposição da Inglaterra e dos Estados Unidos, que não consideravam interessante a formação de uma confederação que garantisse a união e força às regiões recém independentes. Após o fracasso no Panamá, a América Latina fragmentou-se politicamente em pequenos Estados soberanos, governados pela aristocracia criolla.

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Exercícios

1.

(UFJF-2011) Como se vê na figura abaixo, a Europa, na segunda metade do século XVIII, foi abalada por revoluções e reivindicações que envolviam também suas colônias americanas. Baseando-se na imagem e em seus conhecimentos, responda ao que se pede:

a) Qual foi o primeiro movimento vitorioso da história americana que ilustra a vitória das reivindicações das elites locais contra o sistema colonial europeu?

b) Analise uma repercussão desse episódio no restante do continente americano.

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2.

(UFU-2016) Uma verdadeira paixão pelos Estados Unidos tomara conta dos franceses nos anos que precederam a revolução, como testemunham Chateaubriand e o próprio Franklin, que escrevia de Paris a seus correspondentes americanos: “aqui é comum dizer que nossa causa é a do gênero humano”.

Além do mais, essa república fora fundada por colonos com quem a França tecera contra a Inglaterra uma aliança vitoriosa: os que tinham se engajado na aventura eram conhecidos por ter sofrido [...] de

“inoculação americana”.

OZOUF, Mona. Varennes: a morte da realeza, 21 de junho de 1791. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 175-176 (Adaptado).

A historiografia é consensual em afirmar que o movimento revolucionário francês e os ideais iluministas foram de grande importância para diversas lutas coloniais ocorridas na América. Menos estudada é a influência que os norteamericanos exerceram sobre os revolucionários franceses. Essa influência pode ser explicada, para além dos fatores mencionados na citação de Mona Ozouf,

a) pela forte tradição liberal dos colonos norte-americanos que, durante a luta pela independência, foram contrários a toda forma de exploração do trabalho.

b) pelo forte apelo simbólico que exercia o exemplo norteamericano de emancipação colonial, visto como caso modelar de luta contra a opressão dos poderes instituídos.

c) pelo desprezo que os colonos norte-americanos tinham em relação à religião, vista por eles como braço aliado do poder da metrópole inglesa, contra a qual deveriam lutar.

d) pela defesa da doutrina fisiocrata que, no plano político, se traduzia na permanência de privilégios constitucionais para as camadas senhoriais.

3.

“O véu já foi rasgado, já vimos a luz, e querem nos devolver às trevas: romperam-se os grilhões, já fomos livres, e nossos inimigos pretendem novamente nos escravizar [...] Eu desejo, mais do que qualquer outro, ver formar-se na América a maior nação do mundo, menos por sua extensão e riqueza do que por sua liberdade e glória. [...]”

O texto é parte da Carta da Jamaica, escrita por Bolívar em 1815. Assinale a alternativa que apresenta corretamente o contexto no qual foi escrita e as ideias que a inspiraram:

a) Aproveitando a conjuntura europeia transformada pelo Bloqueio Continental e pela derrota da Espanha frente aos ingleses, Bolívar e outros líderes latino-americanos reuniram-se na atual Colômbia e dirigiram exércitos inspirados pelas ideias nativistas e indigenistas contra as tropas espanholas.

b) Motivados pela expansão napoleônica, os “Libertadores da América” aproveitaram o enfraquecimento dos laços coloniais com a Espanha, governada por José Bonaparte, e o fortalecimento da Inglaterra, para realizar guerras de independência inspiradas por ideias liberais e socialistas.

c) Com a derrota de Napoleão e a volta de Fernando VII ao poder, a Espanha desenvolveu forte ofensiva militar contra as forças independentistas hispano-americanas. Movido por ideais iluministas e unitaristas, Bolívar liderou o vitorioso movimento de independência de regiões correspondentes hoje à Colômbia, Venezuela e Bolívia.

d) Reafirmando a independência da Colômbia e da Bolívia, conquistadas em 1810, e questionadas pelo Congresso de Viena depois da derrota de Napoleão, Bolívar liderou novamente exércitos compostos por criollos e indígenas para libertar a Venezuela, orientado por ideais nacionalistas e iluministas.

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4.

(PUC-RJ – 2010) Alexis de Tocqueville, nobre francês que viajou pelos Estados Unidos e relatou suas impressões em seu livro A democracia na América, de 1835, assim se referiu à sociedade norte- americana: "Os colonos americanos exerciam, desde o início, direitos de soberania. Nomeavam os seus magistrados, concluíam a paz, declaravam a guerra, promulgavam as leis, como se sua fidelidade só fosse devida a Deus. (...) Nas leis da Nova Inglaterra encontramos o germe e o desenvolvimento da independência local que é a mola da liberdade americana de nossos dias."

(Alexis de Tocqueville. A democracia na América. Leis e Costumes. Livro I. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p.73.)

a) IDENTIFIQUE uma característica da colonização inglesa na América possibilitadora do

"desenvolvimento da independência local" dos colonos.

b) EXPLIQUE uma motivação para a Declaração da Independência dos colonos americanos, na década de 1770.

5.

(UEM PR/2015) A partir do final do século XVIII, as antigas colônias americanas iniciaram um processo de lutas políticas que culminou com a independência da América. A respeito do processo de independência das colônias da América, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

(01) Na passagem do século XVIII para o século XIX o liberalismo político e econômico forneceu as bases ideológicas para os movimentos de independência americanos.

(02) Na primeira metade do século XIX, tropas lideradas por Simon Bolívar e José de San Martin percorreram grande parte da América Espanhola e, com o apoio dos Estados Unidos e da Inglaterra, obtiveram a independência de países de língua espanhola da América do Sul.

(04) Após a independência, consolidou nos Estados Unidos um desenvolvimento comercial, financeiro e industrial atraindo um grande número de imigrantes para aquele país, que viveu, no século XIX, um grande crescimento populacional.

(08) Após a independência, no início do século XIX, as disputas comerciais e a expansão dos EUA em direção ao norte do continente americano levaram à eclosão da Segunda Guerra de Independência com a Inglaterra.

(16) A união entre Simon Bolívar e José de San Martin nas lutas contra a Espanha possibilitou que a parte da América do Sul colonizada pela Espanha mantivesse, durante as primeiras décadas pós- independência, uma unidade política.

Soma: ( )

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Gabaritos

1. a) Independência das 13 colônias inglesas.

b) Esse processo de independência foi o pioneiro no movimento de emancipações, tornando-se uma referência para a possibilidade de romper com a metrópole e construir um Estado independente na América sobre bases liberais e iluministas. Visto isso, o movimento influenciou toda uma série de independências na América ao longo do século XIX.

2. B

O movimento de independência das 13 colônias foi uma forte influência para diversos outros levantes e revoluções burguesas nos anos seguintes, demonstrando a possibilidade de se romper com a metrópole e com as bases do Antigo Regime, tornando-se, portanto, um símbolo da luta iluminista e liberal.

3. C

O retorno de Fernando VII ao poder, após a derrota de Napoleão, marcou uma fase de reação da metrópole espanhola contra os movimentos separatistas na América. Nesse contexto de lutas pela independência e resistência espanhola, Bolívar lançou a Carta da Jamaica.

4. a) A negligência salutar foi uma característica que permitiu que durante anos os colonos se desenvolvessem na América com liberdade, sem interferências da metrópole em seus assuntos econômicos ou políticos. Outra característica foi a religiosidade protestante, sobretudo dos puritanos e presbiterianos, que valorizava o trabalho como uma forma de se alcançar riquezas e prosperidade.

b) A Declaração de Independência pode ser explicada por questões como o aumento dos impostos, a retomada da interferência política britânica nas questões coloniais, a falta de representação colonial no parlamento inglês e a influência iluminista que crescia na colônia.

5. 01+02+04+08 = 15

Apenas a afirmação 16 está incorreta, pois as independências foram marcadas pela fragmentação do território sulamericano, que não experimentou uma unidade política e territorial em nenhum momento.

Referências

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