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Segurança em instalações elétricas provisórias em canteiros de obras.

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONSTRUÇÃO CIVIL

SEGURANÇA EM INSTALAÇÕES ELÉTRICAS PROVISÓRIAS EM CANTEIROS DE OBRAS

Fernando Eduardo Alonso Mantelli

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Construção Civil da Universidade Federal de São Carlos para obtenção do título de Mestre em Construção Civil.

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CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONSTRUÇÃO CIVIL

SEGURANÇA EM INSTALAÇÕES ELÉTRICAS PROVISÓRIAS EM CANTEIROS DE OBRAS

Fernando Eduardo Alonso Mantelli

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Construção Civil da Universidade Federal de São Carlos para obtenção do título de Mestre em Construção Civil.

Linha de Pesquisa:

Racionalização, Avaliação e Gestão de Processos e Sistemas Construtivos.

Orientadora:

Profa. Dra. Sheyla Mara Baptista Serra.

(3)

Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar

M292si

Mantelli, Fernando Eduardo Alonso.

Segurança em instalações elétricas provisórias em canteiros de obras / Fernando Eduardo Alonso Mantelli. -- São Carlos : UFSCar, 2007.

152 f.

Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São Carlos, 2007.

1. Construção civil – medidas de segurança. 2. Acidentes de trabalho. 3. Instalações elétricas. 4. Segurança do trabalho. 5. NR-18. I. Título.

(4)

Aos meus pais Maria Odila e Fernando Haroldo, a meus irmãos Patrícia e Caio

(5)

AGRADECIMENTOS

À Prof. Dra. Sheyla Mara Baptista Serra, pela amizade e orientação sempre solícita.

Ao Programa de Pós-Graduação em Construção Civil do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia do Departamento de Engenharia Civil pela oportunidade de aprimoramento profissional e exemplo de eficiência.

Aos Profs. Drs. Celso Carlos Novaes, José Francisco Pontes Assumpção e Mauricio Roriz pelas contribuições essenciais a esta dissertação.

A Alberto Roland Gomes, Luiz Cicolin, Luciene, Daniel Cardoso e demais amigos e colegas mestrandos pelo companheirismo, amizade e apoio.

Ao Prof. José Ulisses de Miranda e demais amigos, colegas e alunos do Centro Superior de Educação Tecnológica, Ceset-Unicamp, pelo incentivo, auxílio, convívio, paciência e apoio, de grande importância na realização desta dissertação.

Ao Centro Superior de Educação Tecnológica, Ceset e a Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, pelas condições oferecidas.

(6)

MANTELLI, F. E. A. Segurança em Instalações Elétricas Provisórias em Canteiros de Obras. 152 f. Dissertação (Mestrado em Construção Civil). Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, 2007.

RESUMO

As instalações elétricas provisórias em canteiros de obras ocorrem em pequenos, médios e grandes empreendimentos e muitas vezes, por serem de natureza temporária, são executadas de forma precária e insegura. A eletricidade, fonte de perigo potencial mesmo em baixa tensão, é responsável por parte significativa dos acidentes de trabalho, sendo que estes ocorrem diretamente por meio dos choques elétricos e queimaduras devidas a arcos voltaicos ou indiretamente, por meio de lesões causadas por máquinas, equipamentos, componentes elétricos, ou quedas, requerendo, portanto, atenção especial para que se previnam acidentes, muitas vezes, fatais. Através de estudo de caso pretende-se avaliar a segurança das instalações elétricas provisórias de um canteiro de obras verificando as condições de atendimento às prescrições da NR 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção.

(7)

MANTELLI, F. E. A. Safety in construction-sites temporary electrical installations. 152 p. Disssetation (Master Science in Construction). Universidade Federal de São Carlos. São Carlos, 2007.

ABSTRACT

Temporary electric installations occur in small, average and great construction-sites and many times for being of temporary nature are unsafe and precariously executed. The electricity, source of potential danger even in low tension, is responsible on significant part of the occupational accidents, directly by means of electrical shocks and burnings due the voltaic arcs or indirectly by means of injuries caused for machines, equipment and components, requiring therefore, special attention in order to prevent accidents. Through case study it is considered to verify the safety condition in a construction-site temporary electric installations in the NR 18 - Conditions and Environment of Work in Construction Industry regulations.

(8)

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1–Classificação dos acidentes do trabalho quanto ao afastamento (Bensoussan citado por

Costella, 1999). ...23

Figura 2.2 - Óbitos e taxas de Óbitos por indústria referentes a ferimentos ocupacionais não intencionais no ano de 2003 (NSC Injury Facts, 2004). ...30

Figura 2.3 - Convenções adotadas na representação gráfica do Método ADC. ...37

Figura 2.4 - Árvore de causa de acidente típico do trabalho com queda de portão (Binder, Monteau e Almeida, 1995). ...37

Figura 2.5 – Estimativa de distribuição das ocorrências de acidentes envolvendo três diferentes teorias (Kerr citado por Hinze, 1997)...44

Figura 2.6 - Teoria da Distração aplicada a condições de trabalho com perigos graves (Hinze, 1997). ...45

Figura 2.7 - A cadeia de eventos que culmina no acidente (Zocchio, 2002). ...48

Figura 3.1 – Hierarquia de controle de riscos (Holmes et al., 1999). ...59

Figura 4.1 - Principais causas de acidentes fatais na indústria da construção civil, referentes a estudo realizado entre os anos de 1985 a 1989 (U.S.A., 1990). ...68

Figura 4.2 - Contato elétrico direto (Fundacentro, 2004)...71

Figura 4.3 - Contato elétrico indireto (Fundacentro, 2004)...71

Figura 4.4 - Contatos e trajetos da corrente elétrica pelo corpo humano e a porcentagem de corrente que passa pelo coração (Fundacentro, 1981). ...73

Figura 4.5 – Gráfico dos efeitos da corrente elétrica no corpo humano (IEC 60479, 1994). ...74

Figura 4.6 - Condutores e contatos energizados expostos...82

Figura 4.7- Caminhão basculante em contato direto com linha aérea de energia não isolada (Elcosh, 2000)...83

Figura 4.8- Plataforma de trabalho elevatória em operação próximo a linha aérea de energia (Elcosh, 2000)...83

Figura 4.9 – Eletrocussão causada por contato direto de objeto metálico com linha aérea de energia (Elcosh, 2000)...84

Figura 4.10 – Altura mínima de linha aérea de energia (Fundacentro, 2001). ...84

Figura 4.11 - Falha de isolação em um cabo de extensão. ...85

Figura 4.12 - Condutores expostos. ...85

Figura 4.13 - Ligação de vários aparelhos em apenas uma tomada gerando possível sobrecarga...86

Figura 4.14 - Isolação de condutores deficiente e condição de exposição agravada por possibilidade de contato com a água. ...87

Figura 4.15 - Desempenho do trabalho em contato com a água...87

Figura 4.16 - Travamento e sinalização de energia (Panduit, 2003). ...89

Figura 4.17 - Dispositivo de bloqueio através dos orifícios das chaves blindadas...89

Figura 5.1 - Edificação provisória destinada a alojamento (pavimento superior) e escritórios e almoxarifados (pavimento inferior) dos trabalhadores terceirizados. ...108

Figura 5.2 - Sinalização de segurança. ...108

Figura 5.3 - Equipamento de prevenção contra incêndios. ...108

Figura 5.4 - Quadro elétrico de entrada externo em boas condições...108

Figura 5.5 - Almoxarifado da obra em boas condições de limpeza, iluminação, ventilação e organização. ...109

Figura 5.6 – Sinalização de segurança nos pavimentos tipo...110

(9)

Figura 5.8 – Sinalização de segurança contra risco específico (queda de materiais). ...110

Figura 5.9 - Utilização de indumentária na sinalização de segurança...110

Figura 5.10 - Contatos expostos de disjuntor...112

Figura 5.11 – Emenda e derivações envolvendo dois condutores com capacidades de condução de corrente diferentes...113

Figura 5.12 – Emenda com resistência mecânica não adequada...113

Figura 5.13 - Isolamentos de emendas com característica equivalente à dos condutores utilizados. ...114

Figura 5.14 - Isolamento de derivação não condizentes com ambiente com umidade. ...114

Figura 5.15 - Condutores com isolamento não adequado para o ambiente de trabalho úmido...115

Figura 5.16 - Obstrução de circulação por parte de um eletroduto instalado em local impróprio....115

Figura 5.17 – Caixa de passagem metálica exposta ao tempo permitindo que os condutores entrem em contato com a umidade. ...116

Figura 5.18 – Proteção mecânica de circuito elétrico não adequada, em caso de exposição à umidade. ...116

Figura 5.19 – Lâmpadas em área de circulação sem proteção contra impactos mecânicos. ...117

Figura 5.20 – Lâmpadas em área de circulação sem e com proteção contra impactos mecânicos. .117 Figura 5.21 – Lâmpadas em área de circulação sem proteção contra impactos mecânicos. ...118

Figura 5.22 – Lâmpada sem proteção contra impactos mecânicos e andaime metálico em contato com umidade do piso...118

Figura 5.23 - Ocorrência de fiação de circuito provisório inoperante ou dispensável. ...118

Figura 5.24 - Ocorrência de fiação de circuito provisório inoperante ou dispensável. ...118

Figura 5.25 – Chave elétrica blindada convenientemente instalada...119

Figura 5.26 - Chave elétrica blindada convenientemente instalada em elevador de carga...119

Figura 5.27 – Comando do elevador de carga. ...120

Figura 5.28 - Chave de comando da bomba de recalque. ...120

Figura 5.29 - Disjuntores termo-magnéticos instalados em ramais destinados à ligação de equipamentos elétricos. ...122

Figura 5.30 - Entrada de energia do canteiro de obras em baixa tensão. ...123

Figura 5.31 - Obstáculo localizado na entrada de energia do canteiro de obras...125

Figura 5.32 - Isolação em emenda de condutores...125

Figura 5.33 - Quadro elétrico metálico em boas condições e fechado...126

Figura 5.34 - Quadro elétrico trancado por cadeado. ...126

Figura 5.35 - Ligação plugue-tomada, não adequada, de uma máquina policorte em operação...127

(10)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 Sumário das causas de fatalidades 1985-1989 (U.S.A. 1990)...13

Tabela 2.1 - Resultados devidos à fragmentação na ICC (Smallwood e Haupt, 2000). ...24

Tabela 2.2 - Evolução dos indicadores - Brasil, 1999 e 2000 (Brasil, 2006a)...29

Tabela 2.3 - Ferimentos ocupacionais não intencionais na Indústria (Estados Unidos da América do Norte), no ano de 2003 (NSC Injury Facts, 2004). ...30

Tabela 2.4 - Principais similaridades entre a qualidade e a segurança na ICC (Davis, 2000). ...32

Tabela 2.5 - Escala de valores dos eventos estressantes a que os trabalhadores podem estar sujeitos em seus ambientes de trabalho (Holmes e Rahe citados por Hinze, 1967). ...46

Tabela 2.6 - Custo indireto relativo a ferimentos ocupacionais apenas com atendimento médico (Hinze, 2000). ...52

Tabela 2.7 - Custo indireto referente a ferimentos ocupacionais que causam restrição ao trabalho ou perda de dia trabalhado (Hinze, 2000). ...53

Tabela 4.1 - Contatos e trajetos da corrente elétrica pelo corpo humano e a porcentagem de corrente que passa pelo coração (Fundacentro, 1981). ...72

Tabela 4.2 - Efeitos e sensações da corrente elétrica no corpo humano (U.S.A., 2006)...76

Tabela 4.3 - Normas Regulamentadoras (Brasil, 2006b)...94

(11)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ADC Árvore de Causas

ART Anotação de Responsabilidade Técnica BSI British Standart Institution

BS-8800 British Standart n. 8800

CAT Comunicação de Acidente do Trabalho

CIB International Council for Research and Innovation in Building and Construction

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT Consolidação das Leis do Trabalho

DOE Department of Energy

DOU Diário Oficial da União

DRT Delegacia Regional do Trabalho EPI Equipamento de Proteção Individual EPC Equipamento de Proteção Coletiva

FUNDACENTRO Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICC Indústria da Construção Civil

IEC International Electrotechnical Commission ILO International Labor Organization

INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial INSS Instituto Nacional do Seguro Social

ISO International Standart Organization MTE Ministério do Trabalho e Emprego MPS Ministério da Previdência Social

NB Norma Brasileira

NSC National Safety Council

NIOSH National Institute of Safety and Health

NR Norma Regulamentadora

OHSA Occupational Health and Safety Assessment OIT Organização Internacional do Trabalho

OSHA Occupational Safety and Health Administration

PCMAT Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção

SESI Serviço Social da Indústria

SESMT Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho

SIPAT Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho SSO Saúde e Segurança Ocupacionais

SST Segurança e Saúde no Trabalho

(12)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...11

1.1 Justificativa ...11

1.2 Objetivos ...16

1.3 Metodologia...17

1.4 Delimitações do trabalho ...18

1.5 Estrutura da dissertação...18

2 ACIDENTES DO TRABALHO ...20

2.1 Histórico...20

2.2 Definições de Acidentes do Trabalho ...21

2.3 A natureza da Indústria da Construção Civil...24

2.4 Os elevados índices de acidentes do trabalho na ICC...25

2.5 Conseqüências dos Acidentes do Trabalho ...31

2.6 Comunicação do Acidente do Trabalho ...33

2.7 Investigação dos Acidentes do Trabalho ...34

2.7.1 Método de Árvore de Causas (ADC) ...35

2.8 Causas dos Acidentes do Trabalho...39

2.8.1 Teoria da Propensão ao Acidente...39

2.8.2 Teoria dos Objetivos-Liberdade-Vigilância...41

2.8.3 Teoria do Ajustamento ao Estresse...43

2.8.4 Teoria da Distração ...44

2.8.5 A Teoria do Estresse Mental ...45

2.8.6 A Teoria da Cadeia de Eventos (The Chain-of-Events-Theory) ...48

2.9 Custo dos Acidentes do Trabalho...49

2.9.1 Custo Direto e Indireto dos Acidentes do Trabalho...49

2.9.2 Custo dos Acidentes do Trabalho em Termos de Perda de Produtividade ...51

3 SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO (SST) ...55

3.1 O enfoque tradicional da SST...55

3.2 Ambiente de Trabalho Seguro...57

3.2.1 Hierarquia de controle de riscos...58

3.2.2 Contramedidas passivas...59

3.3 Objetivos de SST...59

3.4 Prevenção de acidentes ...60

3.4.1 A Prevenção eficaz em SST...61

4 A GESTÃO DA SEGURANÇA NOS SERVIÇOS EM ELETRICIDADE...66

4.1 Os perigos na utilização da eletricidade...66

4.1.1 Os acidentes devidos à eletricidade em canteiros de obras ...67

4.1.2 O choque elétrico ...69

4.1.2.1 Choques elétricos decorrentes de contatos diretos e indiretos...70

4.1.2.2 Fatores determinantes na gravidade de um choque elétrico ...71

4.1.2.3 Conseqüências e efeitos da corrente elétrica no corpo humano ...75

4.1.2.4 Tetanização ...77

4.1.2.5 Paradas respiratórias ...78

4.1.3 Queimaduras...78

4.1.4 Fibrilação ventricular ...78

4.1.5 Incêndios e explosões ...79

4.2 Modelo de Gestão da Segurança em Trabalhos com Eletricidade...79

(13)

4.2.1.1 Fiação inadequada ...81

4.2.1.2 Tipo de metal ...82

4.2.1.3 Condutores e componentes elétricos ou eletrônicos expostos...82

4.2.1.4 Linhas aéreas de energia...83

4.2.1.5 Isolação deficiente ...84

4.2.1.6 Aterramento impróprio...85

4.2.1.7 Circuitos sobrecarregados ...85

4.2.1.8 Ambiente de trabalho úmido ou molhado...86

4.2.2 Avaliação e Controle dos Riscos...87

4.2.2.1 Travamento e sinalização de circuitos e equipamentos ...88

4.2.2.2 Controle dos riscos: práticas seguras de trabalho ...90

4.2.2.3 Primeiros socorros em caso de choque elétrico...91

4.3 Normalização de segurança vigente no Brasil...92

4.3.1 Normas Regulamentadoras (NR)...93

4.3.1.1 Norma Regulamentadora 10: Segurança em instalações e serviços com eletricidade 94 4.3.1.2 Norma Regulamentadora 18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção...96

4.3.1.3 Norma Regulamentadora 4: Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho – SESMT...99

4.3.1.4 Norma Regulamentadora 5: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) 100 4.3.2 ABNT NBR 5410: Instalações Elétricas de Baixa Tensão...101

5 ESTUDO DE CASO...104

5.1 Estratégia da pesquisa ...104

5.1.1 Revisão bibliográfica ...104

5.1.2 Coleta de dados ...104

5.1.3 Análise dos resultados...105

5.1.4 Conclusões e considerações finais ...105

5.2 Descrição do Estudo de Caso ...106

5.2.1 Caracterização da Empresa Pesquisada no Estudo de Caso...106

5.2.2 Caracterização da Obra Pesquisada no Estudo de Caso...107

5.3 Apresentação e análise dos dados observados referentes à NR-18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção ...111

5.3.1 Análise global da obra quanto objeto da pesquisa ...128

6 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS...129

6.1 Quanto ao objetivo geral do trabalho ...129

6.2 Quanto aos objetivos específicos do trabalho...130

6.3 Quanto à segurança na ICC ...135

6.4 Quanto a trabalhos futuros ...138

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...140

ANEXO I: QUESTIONÁRIO DE INFORMAÇÕES INICIAIS...147

ANEXO II: LISTA DE VERIFICAÇÃO DOS SUBITENS DA NR-18 PARA AS INSTALAÇÕES ELÉTRICAS PROVISÓRIAS DE CANTEIROS DE OBRAS ...148

ANEXO III: COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO (Brasil, 2007). ...150

(14)

1 INTRODUÇÃO

A partir do início da década de 1990, em face a um mercado altamente competitivo e devido a um maior grau de exigência e qualificação por parte do consumidor e também ao surgimento de instrumentos legais a seu favor, entre os quais a Lei de Defesa do Consumidor, as empresas da Indústria da Construção Civil (ICC) têm procurado adaptar-se a estas novas demandas, buscando reestruturar-se competitivamente, almejando melhores níveis de qualidade. Ainda que as boas condições de segurança e saúde no trabalho paulatinamente venham sendo reconhecidas como essenciais ao cumprimento das metas de custo, prazo e qualidade dos empreendimentos as estatísticas de acidentes, tanto no Brasil quanto no exterior, demonstram que muito há que ser feito em se tratando da segurança na ICC.

1.1 Justificativa

No Brasil, a despeito dos esforços provenientes da ação fiscalizadora dos órgãos governamentais, das campanhas de prevenção de acidentes, de comissões de estudo tripartites, com representantes do governo, empregados e empregadores e dos estudos acadêmicos, a ocorrência de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais continua elevada em relação aos índices encontrados em outros países, causando inúmeros problemas sociais e econômicos (Costella, 1999).

Segundo dados referentes ao ano de 2000, do Núcleo de Planejamento do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho da Secretaria de Inspeção do Trabalho, Brasil (2000), o Grupo Indústria da Construção ocupou a segunda colocação, entre todas as atividades econômicas, em número de acidentes do trabalho. Os dados demonstram que o setor foi responsável por 25.423 ocorrências que resultaram em 325 óbitos, levando a Indústria da Construção a registrar a maior quantidade de mortes em acidentes do trabalho, ou seja, aproximadamente 12,98 % do total de todas as atividades econômicas. Os principais tipos de acidentes encontrados dizem respeito às quedas de altura e aos choques elétricos sendo que estes últimos, muitas vezes, ocorrem devido a problemas decorrentes de instalações elétricas precárias ou mal projetadas.

(15)

Nos Estados Unidos da América do Norte, de acordo com dados do National Safety Council (NSC, 2004), a indústria da construção emprega 6,7% do total de trabalhadores e é responsável por aproximadamente 11,5% do total dos acidentes incapacitantes e 23,5% dos acidentes fatais.

Segundo Dias e Coble (1999), a ICC na União Européia (UE) emprega aproximadamente 11 milhões de trabalhadores, 7,5% da força de trabalho, e é responsável por cerca de 1 milhão de acidentes do trabalho por ano, ou seja 17,5%, sendo responsável por 22,5% dos acidentes fatais, resultando em 1500 mortes por ano, sendo a queda de altura, a escavação e a eletrocussão as principais causas de acidentes fatais na ICC na UE.

Na Europa, dados do European Statistical System, Eurostat (2003), apontam que aproximadamente um terço dos acidentes do trabalho fatais envolvem trabalhadores da indústria da construção civil.

Na Espanha, país da União Européia com a maior taxa de acidentes do trabalho, embora o número total de acidentes do trabalho e mortes venha diminuindo, segundo Miguélez (2005), a indústria da construção tem seguido tendência de alta nestes índices contando com 12% dos trabalhadores e sofrendo 27,5% dos acidentes fatais.

Os acidentes do trabalho, além das conseqüências altamente negativas no que se refere ao aspecto humano, dado o sofrimento do acidentado em si, apresentam também impactos econômicos relevantes decorrentes dos prejuízos que atingem ao trabalhador, a empresa e a sociedade, podendo constituir um obstáculo ao pleno desenvolvimento da economia da nação.

(16)

A eletricidade, fonte de perigo potencial mesmo em baixa tensão, é responsável por parte significativa dos acidentes de trabalho, diretamente por meio dos choques elétricos e queimaduras devidas a arcos voltaicos ou indiretamente por meio de lesões causadas por máquinas, equipamentos e componentes elétricos, exigindo portanto, atenção especial para que se previnam acidentes muitas vezes fatais. Dados do relatório Analysis of Construction Fatalities, The Osha Data Base 1985-1989, do U.S. Department of Labor Occupational Safety and Health Administration, U.S.A. (1990), referentes a pesquisa realizada entre os anos de 1985 e 1989, investigando 3.496 acidentes ocupacionais fatais, nos Estados Unidos da América do Norte, revelaram que os choques elétricos foram responsáveis por 17% dos acidentes do trabalho ocorridos na Indústria da Construção. A Tabela 1.1 apresenta estes dados.

Tabela 1.1 Sumário das causas de fatalidades 1985-1989 (U.S.A. 1990).

Causa Total das Fatalidades Percentual do Total de Fatalidades1

Impacto (por) 781 22

Esmagamento 639 18

Mordida/Picada/Arranhão 1 *2

Queda (mesmo nível) 10 *

Queda (de altura) 1148 33

Impacto (contra) 46 1

Friccionamento/Abrasão 1 *

Inalação 62 2

Ingestão 4 *

Absorção 0 0

Movimento Repetitivo/Pressão 0 0

Cardiovascular/Respiratória 109 3

Choque Elétrico 580 17

Outras 115 3

Total 3496

1 Porcentagens podem não somar 100% em função do arredondamento. 2

(17)

A falta de planejamento racional de um canteiro de obras pode gerar uma instalação elétrica provisória que, por não obedecer às prescrições da normalização vigente, apresenta-se precária, insegura e como fonte de risco potencial à integridade física dos trabalhadores. Segundo Rousselet e Falcão (1999), “o perigo elétrico é invisível, a ameaça não é percebida e os trabalhadores não pensarão em sua segurança se não entenderem a origem do risco”.

De acordo com Elias et al. (1998) “no caso do planejamento dos canteiros de obras de edificações, observa-se uma ausência de critérios e bases teóricas para a sua realização, o que acarreta diversos problemas que interferem no processo produtivo”.

Segundo Gambatese (2000) e Hinze (1997), a eliminação de grande parte dos riscos e de práticas inseguras pode ser assegurada já na fase de projetos, pois os projetistas desempenham importante papel na segurança dos trabalhadores da ICC. Assim, o projeto racionalizado das instalações elétricas provisórias em canteiros de obras também pode contribuir significantemente na diminuição dos acidentes do trabalho.

As pesquisas no Brasil abordando temas como a gestão da segurança (Costella, 1999) ou estudos relacionados a legislações (Cruz, 1996; Araújo, 1998; Rocha, 1999) na indústria construção civil ainda são escassas e incipientes.

Saurin (1997) propõe que “o planejamento de canteiro é definido como o planejamento do

layout e da logística das instalações provisórias, instalações de movimentação e armazenamento de materiais e instalações de segurança e que apesar da sua grande importância, o planejamento de canteiro geralmente não recebe muita atenção da parte dos gerentes, sendo a prática usual no setor resolver os problemas à medida em que os mesmos surgem no decorrer da execução da obra”. Apresenta um trabalho que tem como objetivo desenvolver um método para diagnóstico e estabelecer diretrizes para o planejamento, de canteiros de obra de edificações residenciais e comerciais, cujos resultados demonstraram que, no conjunto analisado, geralmente ocorre pouca conscientização acerca da importância do planejamento do canteiro.

(18)

não chegaram plenamente ao gerenciamento da segurança e saúde ocupacional. As razões apontadas seriam a dificuldade da gerência em utilizar abordagens mais modernas na concepção de ferramentas de apoio a gestão, além da inexistência de suporte teórico dirigido ao setor e a existência de uma cultura de negação do risco amplamente difundida entre o setor.

Costella (1999) apresenta um levantamento da incidência de acidentes do trabalho e doenças profissionais na indústria da construção civil no Rio Grande do Sul cujos dados foram obtidos a partir da análise das CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) referentes aos anos de 1996 e 1997. Neste trabalho são analisados o perfil do trabalhador, o tamanho e tipo de atividade da empresa, a distribuição temporal dos acidentes, as partes do corpo atingidas e a natureza e causas dos acidentes e das lesões. Após a análise dos dados, concluiu que os principais tipos de acidentes se devem à falta de atenção das empresas com relação à tecnologia empregada, à gestão e organização do trabalho e não à displicência do empregado, como geralmente se afirma.

Um levantamento do cumprimento das prescrições da NR-18, em 67 canteiros de obras distribuídos por 6 cidades brasileiras é apresentado por Rocha (1999). O estudo mostra que a NR-18 ainda é pouco cumprida nos canteiros de obras, apresentando um índice médio de cumprimento de 51%. Nesta pesquisa o tópico Instalações Elétricas, da NR-18, alcançou índice de cumprimento das prescrições de 53,1%, sendo que nesta pesquisa foram avaliados os seguintes sete (7) subitens da NR-18:

• Inexistem circuitos e equipamentos elétricos com partes vivas expostas, tais como fios desencapados.

• Os disjuntores dos quadros gerais de distribuição têm seus circuitos identificados. • Os ramais destinados à ligação de equipamentos elétricos (quadros de distribuição nos

pavimentos) possuem disjuntores ou chaves magnéticas independentes, que possam ser acionadas com facilidade e segurança.

• Os fios condutores estão em locais livres de umidade.

• Os fios condutores estão em locais livres do trânsito de pessoas e equipamentos, de modo que está preservado seu isolamento.

• Todas as máquinas e equipamentos elétricos estão por conjunto plugue e tomada. • Caso necessário, as redes de alta tensão estão isoladas de modo a evitar contatos

(19)

Além da NR-18, outras normas importantes para a segurança das instalações elétricas provisórias em canteiros de obras é a NR-10 - Segurança em Instalações e Serviços com Eletricidade, do Ministério do Trabalho e Emprego, e a NBR-5410 - Instalações Elétricas de Baixa Tensão da ABNT. Tais normas ainda são pouco conhecidas e utilizadas na construção civil. O conhecimento e aplicação das mesmas nos canteiros de obras poderiam contribuir para reduzir os acidentes do trabalho relacionados com a eletricidade e melhorar o ambiente de trabalho. Tal aplicação ainda é pouco estudada e este trabalho espera contribuir com a reflexão da importância dessas normas.

Devido aos grandes problemas encontrados, acredita-se que se o projeto das instalações elétricas definitivas fosse realizado considerando-se as especificidades dos canteiros de obras e seus equipamentos, parte das mesmas poderia ser utilizada durante a execução da obra.

Dessa forma, um novo estudo sobre as condições de segurança das instalações elétricas provisórias em canteiro de obras, relativo ao cumprimento da totalidade das prescrições da NR-18, no que se refere às instalações elétricas, pode contribuir para uma melhor compreensão dos problemas e dificuldades enfrentados pelas empresas que compõem a ICC, com relação à segurança e higiene do trabalho e também para uma mudança de postura destas empresas em face a esta questão. Espera-se também que o mais aprofundado conhecimento destas condições possa contribuir para uma diminuição dos acidentes de trabalho na ICC.

1.2 Objetivos

A qualidade das instalações elétricas provisórias em canteiros de obras deve ser vista como um fator de grande importância, na segurança dos trabalhadores da ICC, sendo o cumprimento das prescrições da normalização vigente um item essencial nesta questão. O presente trabalho tem como objetivo geral verificar se as prescrições relativas ao item 18.21, Instalações Elétricas, da norma NR-18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, estão sendo cumpridas nas instalações elétricas provisórias de um canteiro de obras.

Neste trabalho também são considerados os seguintes objetivos específicos:

(20)

• apresentar uma abordagem fundamentada no processo do acidente em contraponto com o enfoque tradicional da segurança e a saúde do trabalho baseado no modelo atos e condições inseguras;

• apontar os perigos na utilização da energia elétrica e apresentar um modelo de gestão da segurança em trabalhos com eletricidade;

• identificar as principais falhas de segurança e fontes de perigo potencial, em uma instalação elétricas provisória, quanto a choques elétricos devido a contatos diretos e indiretos em canteiro de obras.

1.3 Metodologia

A primeira etapa da pesquisa constituiu-se na revisão bibliográfica, onde buscou-se a obtenção dos conceitos necessários à compreensão do assunto estudado que teve como temas principais os acidentes do trabalho e sua prevenção, a segurança no ambiente de trabalho e suas implicações na qualidade e na produtividade das empresas, as normas vigentes e os benefícios decorrentes de um planejamento racionalizado nas operações e atividades relativas às instalações elétricas provisórias em um canteiro de obras.

Na etapa de estudo de caso, que para Yin (2001) “é uma investigação empírica, que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real”, pretendeu-se verificar se as prescrições relativas às instalações elétricas da norma NR-18 estão sendo obedecidas nas instalações elétricas provisórias em um canteiro de obra representativo do subsetor edificações da ICC.

(21)

De acordo com os procedimentos metodológicos empregados na pesquisa pode-se classificar a mesma como descritiva, pois de acordo com Cervo e Bervian (2002), “observa, descreve, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”. A pesquisa pode ser classificada também como qualitativa “por considerar o processo e seu significado como enfoques principais de abordagem sendo que o objetivo maior está na compreensão dos fatos e não na sua mensuração”. Nesta forma de pesquisa os dados identificados são avaliados analiticamente sem a aplicação de métodos estatísticos.

1.4 Delimitações do trabalho

O presente trabalho limita-se a estudar as instalações provisórias em canteiros de obras do subsetor edificações da ICC, excluindo-se portando do estudo as instalações elétricas permanentes e os canteiros de obras de outros subsetores da ICC.

A entrevista, uma das ferramentas utilizadas na coleta de dados no estudo de caso, concentrou-se apenas no engenheiro de obras que acompanhava o dia-a-dia do canteiro.

Em razão do caráter qualitativo da pesquisa e pelo estudo de caso basear-se em apenas um canteiro de obras, com características específicas que resultam em dificuldade de generalização, em virtude da não ocorrência de amostra representativa da totalidade de uma população devem ser observadas limitações quanto às conclusões obtidas. Devem as conclusões ser entendidas como referenciais a possíveis estudos futuros e não para descrever o comportamento da população estudada como um todo.

1.5 Estrutura da dissertação

Com a finalidade de atingir aos objetivos propostos a presente dissertação divide-se em seis capítulos sendo que, no primeiro a justificativa, os objetivos, a metodologia adotada, as limitações e a estrutura do trabalho são apresentados.

(22)

O terceiro capítulo trata do enfoque tradicional da Segurança e Saúde no Trabalho (SST) e da prevenção dos acidentes mediante hierarquia de controle de riscos visando um ambiente do trabalho seguro. Neste capítulo são apresentados também os principais riscos elétricos a que os trabalhadores da ICC estão submetidos e um modelo de segurança em trabalhos com eletricidade para identificação, avaliação e controle dos riscos visando a prevenção dos acidentes.

No quarto capítulo a gestão da segurança nos serviços com eletricidade é abordada e a eletricidade é apresentada como uma forma de energia limpa, renovável, sustentável e presente em praticamente todos os ambientes alimentando aparelhos, máquinas e dispositivos. Neste capítulo também é apresentado o lado perigoso desta forma de energia, desconhecido por grande parte de seus usuários e responsável por parcela significativa dos acidentes do trabalho.

No quinto capítulo são caracterizadas a empresa e a obra selecionadas e são apresentados os resultados obtidos no estudo de caso.

(23)

2 ACIDENTES DO TRABALHO

Este capítulo trata dos acidentes do trabalho iniciando com um resumo histórico, da definição dos mesmos e das razões mais comumente citadas como causas dos elevados índices de acidentes do trabalho na ICC. Apresenta suas conseqüências humanas, sociais e econômicas e a melhor forma de utilização da investigação dos acidentes do trabalho, as principais teorias causais dos acidentes do trabalho e aspectos normalmente desconhecidos, por parte das empresas, relativos a seu custo.

2.1 Histórico

Os acidentes do trabalho foram vistos, no passado ao longo dos séculos, como ocorrências normais, corriqueiras e inerentes ao exercício de uma atividade, sendo os acidentados considerados somente uma conseqüência infeliz e inevitável. Apenas a recuperação dos acidentados, quando possível, despertava algum interesse social, sendo que a dimensão total do impacto econômico do problema, afetando as empresas e os países como um todo, não era levada em consideração. Na Europa pré-industrial, segundo Dwyer (1994), “o acidente parece ter sido identificado como punição pelo pecado, uma das noções de causa mais comuns”.

Com o advento da Revolução Industrial Inglesa, nas terceira e quarta décadas do século XIX, os acidentes do trabalho passaram a ser vistos como problemas sociais merecedores de atenção e de medidas saneadoras, porém, apenas no começo do século XX, em alguns países e principalmente nos Estados Unidos da América do Norte, é que conseqüências e aspectos econômicos referentes aos acidentes do trabalho começaram a ser observados.

Pesquisas realizadas na Inglaterra, berço da civilização industrial, demonstram que alguns fatores se combinaram, de acordo com Dwyer (1994), para transformar a visão tanto das causas como das conseqüências dos acidentes:

• mudanças no valor atribuído à vida; • crescimento da alfabetização; • desenvolvimento da empresa; • ação de movimentos sociais;

• conversão de movimentos sociais em forças política;

(24)

• aliança entre a ciência e a indústria; • ação do movimento sindical; • ampliação do direito de voto;

• indignação do público com o sistema industrial e com os grandes danos produzidos por ele.

Na década de 20, nos Estados Unidos da América do Norte, com a publicação do livro Industrial Accident Prevention, de H. W. Heinrich é que, pela primeira vez, apresentava-se uma base para estudos de custo de acidentes do trabalho, precursora dos posteriores programas de controle de perdas, onde era demonstrada a extensão dos problemas econômicos e as graves conseqüências dos acidentes do trabalho (Zocchio, 2002).

2.2 Definições de Acidentes do Trabalho

Conceituando-se o termo acidente como “toda ocorrência não desejada que modifica ou põe fim ao andamento normal de qualquer tipo de atividade”, verifica-se que o mesmo não deve ser entendido apenas em função de seu potencial de causar um ferimento ou um acontecimento desastroso. Exemplos de acidentes, portanto, seriam o “pneu de um carro que fura, um tropeção que se sofre na rua ou no trabalho ou a interrupção do fornecimento de energia elétrica”. Assim, um acidente pode ocorrer praticamente em qualquer lugar, ou seja, em casa, no trabalho ou na rua (Fundacentro, 1980).

O Decreto n0 611, de 21 de julho de 1992, publicado pelo Diário Oficial da União (DOU) de 22/7/92, disponível no Ministério da Previdência Social, Brasil (1992), define legalmente o acidente de trabalho e as doenças profissionais do ponto de vista social nos artigos 139, 140 e 141. O artigo 139 conceitua acidente do trabalho como sendo “o que ocorrer pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, ou ainda pelo exercício do trabalho dos segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o trabalho permanente ou temporária”.

(25)

endêmica. Excepcionalmente pode-se considerar doença profissional, uma doença não listada no Anexo II, “mas que tenha resultado de condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relacione diretamente”.

Quanto à comunicação do acidente, o Artigo 142 estabelece, segundo Brasil (1992), que a empresa “deverá comunicar o acidente do trabalho à Previdência Social até o 10 (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário-de-contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências”.

Quanto à caracterização do acidente, o Artigo 143, segundo Brasil (1992), estabelece que o acidente de trabalho deverá ser caracterizado “administrativamente, através do setor de benefícios do INSS, que estabelecerá o nexo entre o trabalho exercido e o acidente” e “tecnicamente, através da Perícia Médica do INSS, que estabelecerá o nexo de causa e efeito entre o acidente e a lesão, a doença e o trabalho e a causa mortis e o acidente”.

A NB-18, Norma Brasileira de Cadastro de Acidentes, define o acidente do trabalho como “uma ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho, que provoca lesão pessoal ou de que decorre risco próximo ou remoto dessa lesão” (ABNT, 1975).

(26)

Uma outra proposta de classificação dos acidentes do trabalho é feita por Bensoussan3 citado por

Costella (1999), em função dos possíveis afastamentos e danos sofridos pelos trabalhadores de

acordo com a Figura 2.1.

Figura 2.1–Classificação dos acidentes do trabalho quanto ao afastamento (Bensoussan citado por Costella, 1999).

Atualmente a expressão acidente do trabalho é utilizada para caracterizar ocorrências estranhas que causam algum dano à integridade física do trabalhador ou ao patrimônio da empresa. Zocchio (2002) define de forma mais ampla o termo acidente do trabalho como sendo “todas as ocorrências indesejáveis, que interrompem o trabalho e causam ferimento em alguém ou algum tipo de perda à empresa, ou ambos ao mesmo tempo”. Esta definição vincula algum dano a alguém ou a alguma coisa. Define ainda os termos incidentes ou quase-acidentes como “ocorrências que tiveram características e potencial para causar algum dano” e explica que “os incidentes não deixam marcas, já os acidentes sempre deixam sinais de lesão em alguém ou de prejuízo à empresa”.

3

(27)

2.3 A natureza da Indústria da Construção Civil

A ICC tem como característica a singularidade de seus produtos no que diz respeito à forma, tamanho e propósito. Suas operações de trabalho, ainda que repetitivas e similares, são geralmente realizadas em um ambiente de trabalho que se altera constantemente devido a diversos fatores, tais como, condições do tempo, localização, altura, exigindo uma constante adaptação e familiarização por parte de seus trabalhadores. Tradicionalmente na ICC, o projeto é dissociado do processo construtivo em si resultando em problemas de comunicação e interpretação (Smallwood e Haupt, 2000).

Outra característica importante da ICC, segundo estes autores, é que a composição das equipes participantes do empreendimento, envolvendo projetos, gestão, equipes de execução, entre outros, varia de empreendimento para empreendimento, assim como seus objetivos, resultando em falta de continuidade e consistência.

A ICC tem sido igualmente descrita como fragmentada em razão do elevado número de participantes no processo construtivo do empreendimento com papéis, objetivos, habilidades e especialidades divergentes, sendo também detentora de uma cultura de segurança deficiente, características que, segundo Smallwood e Haupt (2000), podem apresentar os resultados da Tabela 2.1.

Tabela 2.1 - Resultados devidos à fragmentação na ICC (Smallwood e Haupt, 2000).

RESULTADOS DEVIDO À FRAGMENTAÇÃO NA ICC

aumento de custos

produtividade baixa

comunicação deficiente

aumento de documentação desnecessária

gestão não efetiva e ineficiente

atrasos desnecessários

qualidade com desempenho não satisfatório

retrabalho

segurança com desempenho não satistatorio

(28)

Como conseqüência às características peculiares da ICC e seu normalmente perigoso ambiente de trabalho são comuns, embora não desejáveis, o surgimento de desvios e falhas em seus processos ou tarefas, denominados incidentes e acidentes.

2.4 Os elevados índices de acidentes do trabalho na ICC

A Norma Regulamentadora Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT), NR-4, considerando a atividade de construção civil como uma das mais perigosas, atribui à mesma o grau de risco igual a 4, o máximo possível.

Segundo Sweeney et al. (2000), “a ICC continua a ser um dos setores responsáveis pelas maiores ocorrências de acidentes do trabalho, ferimentos e óbitos” e muitas são as razões apontadas como causas deste sombrio recorde de número de acidentes, em relação às demais indústrias. De acordo com a Fundacentro (1980), estas razões seriam:

• tamanho das empresas: dada a dificuldade de adoção de programas e princípios de prevenção de acidentes e a falta de técnicos especializados em segurança dentro das empresas em função de sua carência de recursos (de acordo com Costella (1999), as micro e pequenas empresas foram responsáveis por 85% dos acidentes da construção civil registrados no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, nos anos de 1996 e 1997); • curta duração das obras: um dos maiores obstáculos para um trabalho efetivo de

segurança e saúde no canteiro, ocasionando a dificuldade de inspeções aos órgãos competentes;

• número das empresas em cada empreendimento: freqüentemente, uma ou várias empresas interagem em um mesmo empreendimento o que pode acarretar a falta de coordenação efetiva, a delimitação de responsabilidades e a distribuição metódica e racional dos trabalhos;

(29)

• rotatividade da mão-de-obra: mais rápida, se comparada às demais indústrias, implica em uma maior dificuldade, por parte dos trabalhadores, em assimilar as políticas de segurança de cada empresa.

Ao analisarem as especificidades da ICC, Araújo e Meira (1999), reforçam este argumento estabelecendo que esta “difere das demais em muitos aspectos, apresentando peculiaridades que refletem uma estrutura dinâmica e complexa. Dentre essas peculiaridades, destacam-se as relativas ao tamanho das empresas, à curta duração das obras, à sua diversidade e à rotatividade da mão-de-obra”.

Outras razões, apontadas por Hinze (1997), Costella (1999) e por Coble et al. (2000), seriam:

• natureza mutável do canteiro de obras com a evolução das diversas fases do empreendimento;

• mudanças nos times de trabalho;

• condições adversas do tempo nos trabalhos externos;

• singularidade dos produtos da construção com respeito a forma, tamanho e propósito; • natureza fragmentada da indústria;

• natureza da legislação regulamentatória e de segurança; • falta de continuidade na composição das equipes de projeto; • separação dos processos de projeto e construção;

• objetivos divergentes entre os agentes participantes; • falta de integração no cronograma dos projetos; • cronogramas comprimidos;

• programas de treinamento e de educação de segurança inadequados e inapropriados;

• falta de comprometimento por parte da gerência visando à segurança no ambiente de trabalho;

• submissão a ciclos econômicos;

• mudanças nas prioridades e políticas governamentais.

• condições de trabalho variáveis para cada local de construção;

(30)

• uso intensivo da mão-de-obra, pois grande parte dos operários desenvolvem tarefas que exigem perícia e habilidade, sendo que os mesmos não são devidamente treinados para executarem estas tarefas que exigem mão-de-obra intensiva;

• baixos salários e as longas jornadas, agravadas pela institucionalização da prática da hora-extra, aliados às precárias condições de trabalho existentes: ruídos excessivos, máquinas sem proteção e andaimes perigosos;

• natureza do trabalho, o qual é perigoso devido ao manuseio de materiais nocivos como a cal e o cimento, e à existência de diversos riscos que, além de tudo, são variáveis de acordo com o andamento do projeto;

• número elevado de pequenas empresas no setor, as quais, muitas vezes, não possuem recursos para investir em programas de prevenção, fazendo com que estas empresas dificilmente atendam às normas de segurança e higiene do trabalho;

• falta de método gerencial e de domínio dos processos, o que resulta em um sistema de supervisão, treinamento e instrução inadequados e um sistema de trabalho inseguro.

No Brasil, são escassos os trabalhos relacionando o nível de escolaridade, a desnutrição e as horas-extras com os acidentes do trabalho.

Em outros paises, estudos demonstram a relação entre o aumento dos acidentes do trabalho e a desnutrição e o aumento de horas-extras, como demonstra Dwyer (1994) afirmando que “em um grupo muçulmano de trabalhadores da indústria da construção francesa, a taxa de acidentes aumentou em quase 40% durante o período de jejum do Ramadan” e na Inglaterra, “um acréscimo, na semana de trabalho, de 60 para 72 horas, foi acompanhado de uma elevação de 250% nos acidentes”.

(31)

Em estudo realizado pelo Serviço Social da Indústria (SESI), abrangendo os anos de 1980 a 1990, denominado Diagnóstico da Mão-de-Obra do Setor da Construção Civil4, citado por Araújo e Meira (1999), verificou-se que dos 11.875.334 trabalhadores que se acidentaram no país, 51.677 morreram por causa dos acidentes do trabalho e 282.257 incapacitaram-se permanentemente.

A magnitude destes números, por si só, já demonstraria a gravidade da questão dos acidentes do trabalho no Brasil, contudo, a situação real dos acidentes do trabalho pode ser ainda de maior gravidade, pois há suspeita de que estes dados subestimem o número real de mortes e acidentes no país. Os dados apresentados correspondem apenas aos acidentes do trabalho e mortes ocorridos entre trabalhadores segurados e notificados pelas empresas à Previdência Social, o que leva a crer que a realidade dos números dos acidentes de trabalho no Brasil pode ser bem mais elevada do que as estatísticas disponíveis revelam (Araújo e Meira, 1999).

A subnotificação poderia estar ocorrendo, segundo Pinto (1995), devido aos seguintes fatores: • transferência da responsabilidade, para a empresa, pelo pagamento do salário referente

aos primeiros 15 dias de afastamento;

• concessão de estabilidade no emprego para os acidentados com mais de 15 dias de incapacidade para o trabalho;

• fato dos trabalhadores com carteira assinada representarem 59% do total de trabalhadores;

Dados da Secretaria de Inspeção do Trabalho (Brasil, 2006a), relativos à evolução dos indicadores dos acidentes de trabalho na ICC indicam que a mesma permanece como sendo uma das principais causadoras de acidentes fatais. A Tabela 2.2 aponta que o Grupo Indústria da Construção foi responsável por 25.423 ocorrências que resultaram em 325 óbitos, levando a ICC a registrar a maior quantidade de mortes em acidentes do trabalho, ou seja, 12,98 % do total de todas as atividades econômicas.

4

(32)

Tabela 2.2 - Evolução dos indicadores - Brasil, 1999 e 2000 (Brasil, 2006a).

(33)

Delegacias Regionais do Trabalho (DRT) não é homogênea” e “os empresários queixam-se de não existirem critérios definidos na fiscalização”.

Em outros países também é alta a ocorrência de acidentes do trabalho. De acordo com dados do National Stafety Council, NSC (2004), as estatísticas mantêm-se aproximadamente constantes nos últimos anos e indicam que a ICC, nos Estados Unidos da América do Norte, no ano de 2003, empregou aproximadamente 6,7% da totalidade da força de trabalho industrial e foi responsável por 11,5% dos acidentes incapacitantes. Foi igualmente responsável por 23,5% do total de óbitos de todas as indústrias, de acordo a Tabela 2.3 e a Figura 2.2, resultando em um custo de US$ 156,2 bilhões.

Tabela 2.3 - Ferimentos ocupacionais não intencionais na Indústria (Estados Unidos da América do Norte), no ano de 2003 (NSC Injury Facts, 2004).

Óbitos Óbitos por 100,000 Trabalhadores

Divisão Industrial Trabalhadores

(000)

2003 Mudanças sobre 2002

2003 Mudanças sobre 2002

Ferimentos Incapacitantes

Total das Indústrias 138.988 4.500 –5% 3,2 –5% 3.400.000

Agricultura 3.340 710 –6% 20,9 –4% 110.000

Mineração, caça 539 120 +1% 22,3 –4% 20.000

Construção 9.268 1.060 –3% 11,4 –4% 390.000

Manufatura 17.708 490 –6% 2,8 –4% 460.000

Transporte, utilidades públicas 7.721 770 –9% 10,0 –5% 320.000

Comércio 29.240 380 0% 1,3 –4% 710.000

Serviços 50.310 550 –3% 1,1 –4% 890.000

Governo 20.862 420 –3% 2,0 –3% 500.000

(34)

A segurança é, ou deveria ser, de acordo com Hinze (1997), “uma preocupação de maior interesse de todo o empregador em qualquer indústria e na ICC tal interesse poderia ser maior, do que na maioria das demais, devido ao desproporcionalmente elevado número de ferimentos ocupacionais sofridos pelos trabalhadores da construção civil”.

2.5 Conseqüências dos Acidentes do Trabalho

As conseqüências dos acidentes do trabalho não se restringem apenas aos fatores altamente negativos, no que se refere ao aspecto humano da questão, causando efeitos sociais e econômicos nefastos. O aspecto humano é o mais evidente, dado o sofrimento do acidentado, em função do acidente em si, do tipo e duração do tratamento médico, do programa de reabilitação e das seqüelas decorrentes do acidente que porventura permaneçam. Se a vítima, em função do acidente, adquire incapacidade parcial, mesmo retornando ao trabalho, poderá segundo Zocchio (2002), “sentir-se inferiorizada diante dos demais ou sentir-se piedosamente aceita pela empresa e pouco útil ao trabalho” caso não receba apoio moral e uma adequada reintegração psicológica após o acidente.

As conseqüências dos acidentes do trabalho possuem também um aspecto social, em função da possível redução temporária ou permanente de vencimentos do acidentado, que muitas vezes provoca em sua família a necessidade de um redimensionamento, para baixo, de seu padrão de vida, gerando privações que podem afetar as relações e o grau de felicidade dos membros da família e levar a sérios problemas sociais, tais como desemprego, mendicância e delinqüência.

O aspecto econômico dos acidentes do trabalho é decorrente dos prejuízos econômicos que atingem o trabalhador, a empresa, a sociedade e a nação. Na empresa, além dos custos diretos e indiretos inerentes ao acidente, pode ocorrer queda do nível de qualidade tanto nos produtos finais quanto nas operações internas de seus processos produtivos.

(35)

Já Juran (1998) observa que dentre os muitos significados de qualidade dois assumem fundamental importância:

1. “A qualidade consiste nas características do produto que vão ao encontro das necessidades dos clientes e portanto, proporcionam a sua satisfação.”

2. “A qualidade significa ausência de deficiências que resultem em re-trabalho e insatisfação do cliente.”

Em ambas as definições de qualidade percebe-se que as necessidades dos clientes devem ser atendidas e dentre as principais necessidades dos trabalhadores da ICC, clientes internos do processo construtivo, está a sua segurança no trabalho. Pode-se entender, portanto, que o cliente interno possui requisitos de desempenho que condicionam a qualidade do serviço executado anteriormente.

Segundo Davis (2000), os conceitos de qualidade e de segurança na ICC apresentam uma série de similaridades, pois “tanto a qualidade quanto a segurança relacionam-se com o sucesso no desempenho do trabalho e atravessam ou pervagam todo o processo do empreendimento desde a fase de projetos até o final do processo produtivo” sendo que “ambas requerem constante vigilância e esforços para que se obtenha os níveis de excelência desejados”. A Tabela 2.4 apresenta as principais similaridades entre a qualidade e a segurança na ICC.

Tabela 2.4 - Principais similaridades entre a qualidade e a segurança na ICC (Davis, 2000).

Similaridades entre a Qualidade e a Segurança na ICC

Escopo - constante e perpassante

Essenciais ao sucesso

Objetivo - ausência de falhas (desvios ou ferimentos)

Obstáculos - universo indiferente, probabilidade, natureza humana

Causas dos problemas - humanas, meio ambiente, equipamento

Detecção - imediata ou atrasada

Efeito da falha - perdas financeiras, morais e de reputação

Resposta - programa sistemático

(36)

O número elevado de acidentes de trabalho pode comprometer também a imagem da empresa e aumentar seus custos na contratação de apólices de seguros de trabalho para seus funcionários. Os acidentes do trabalho “constituem um obstáculo ao pleno desenvolvimento da economia da nação em decorrência das horas perdidas de trabalho, os gastos com o restabelecimento do acidentado e outros encargos previdenciários” (Fundacentro, 1980).

2.6 Comunicação do Acidente do Trabalho

De acordo com o artigo 142, do Decreto n0 611, Brasil (1992), o acidente do trabalho deve ser comunicado à Previdencia Social, através de seu instrumento legal, a Comunicação do Acidente do Trabalho (CAT), reproduzida no Anexo III, “até o 10 (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de multa, variável entre o limite mínimo e o limite máximo do salário-de-contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada pela Previdência Social”.

As empresas ao comunicarem o acidente do trabalho à Previdência Social por intermédio da CAT, possibilitam que os acidentados ou seus dependentes, em caso de morte do acidentado, recebam os devidos benefícios concedidos na forma da lei.

A CAT, documento de abrangência nacional, apesar de constituir-se de importante fonte de informações sobre os acidentes do trabalho e as doenças ocupacionais, apresenta limitações e deficiências que não facilitam a investigação nem propiciam a compreensão das reais causas dos acidentes, porque segundo Carmo (1996), “as informações contidas na CAT normalmente, dificultam um entendimento claro de como o acidente ocorreu e os fatores envolvidos com sua gênese”.

(37)

2.7 Investigação dos Acidentes do Trabalho

A investigação das causas dos acidentes de trabalho é um importante instrumento preventivo no sentido de se evitar que os mesmos se repitam.

Ao longo do tempo, foram desenvolvidas diferentes formas de pesquisa das causas dos acidentes e muitas também foram as teorias desenvolvidas a partir da constatação da recorrência das causas. Em seguida, serão identificados os principais métodos e teorias sobre a investigação dos acidentes.

O processo investigativo eficaz do acidente do trabalho, que se utiliza em cada ocasião de uma forma ou método específico para a obtenção das informações desejadas, depende muito da habilidade em perguntar e da qualidade do raciocínio indutivo do investigador em questão. Segundo Zocchio (2002), o processo investigativo é constituído de três etapas:

• investigação, ou seja, o levantamento de dados e a apuração de fatos que contribuíram para a ocorrência;

• estudo dos dados e fatos com a finalidade de determinar as causas dos acidentes;

• análise das causas e as medidas a serem tomadas para eliminar ou reduzir a probabilidade de ocorrências semelhantes.

Zocchio (2002) propõe, como ferramenta efetiva na investigação dos acidentes do trabalho, a utilização do 5W1H, realizando o investigador os seguintes questionamentos, no sentido de elucidar suas causas:

• Quem? (Who?): quem se acidentou ou se envolveu direta ou indiretamente com o acidente?

• O que? (What?): utilizada para elucidação de algo, uma falha por exemplo, que tenha contribuído para a ocorrência ou para esclarecer danos ocasionados pelo acidente. • Qual? (Which?): utilizada para obtenção de respostas mais específicas. Qual sua

atividade normal? Qual foi a parte do corpo afetada? Qual norma de segurança deixou de ser cumprida?

• Quando? (When?): procurando identificar cronologicamente as circunstâncias do acidente.

(38)

• Por que? (Why?): é a pergunta, que aplicada em seqüência, ocorre com maior freqüência, até que todos os fatos sejam esclarecidos.

• Como? (How?): na tentativa de se elucidar como o acidente ocorreu ou como outros eventos contribuíram para a ocorrência do acidente.

2.7.1 Método de Árvore de Causas (ADC)

O Método de Árvore de Causas, (ADC), desenvolvido em França com o nome “la méthode arbre des causes”, no início dos anos 70, por pesquisadores do Institut National de Recherce et de Sécurité, segundo Binder et al. (1995), é “uma ferramenta que propicia análises ricas e aprofundadas muito úteis à prevenção” principalmente nos sistemas de maior complexidade. Aborda os acidentes do trabalho, segundo Binder e Almeida (1997), como um “fenômeno complexo, pluricausal e revelador de disfunção na empresa, considerada como um sistema sócio-técnico aberto”. De acordo com Binder (1997), o Método ADC pode ser definido como “um conjunto de princípios e de regras que permitem, a partir do acidente (e também do quase-acidente, do incidente, e do desgaste material), identificar progressivamente os fatores envolvidos em sua gênese, inicialmente próximos ao acidente do trabalho e sucessivamente a montante do mesmo”.

O Método ADC exige a reconstrução detalhada e com a maior precisão possível da história do acidente, registrando-se apenas fatos, também denominados fatores de acidente, sem emissão de juízos de valor e sem interpretações, para, retrospectivamente, a partir da lesão sofrida pelo acidentado, identificar a rede de fatores que culminou no acidente de trabalho (Cuny e Krawsky5 ; Monteau6 ; Monteau7 citados por Binder, 1997). O Método ADC utiliza também, o conceito de atividade, constituída de quatro componentes:

• indivíduo (I), designa a pessoa física e psicológica, trabalhando em seu meio profissional e trazendo consigo o efeito de fatores extra profissionais;

• tarefa (T), designa as ações, ou a seqüência de operações, do individuo que participa da produção parcial ou total de um bem ou de um serviço, passíveis de observação;

5

CUNY, X.; KRAWSKY, G. Pratique de l´analyse d´accidents du travail dans la perspective socio-technique de l´ergonomie dês systèmes. Le Travail Humain 33: 217-228, 1970.

6

MONTEAU, M. L’utilisation et la place de l’arbre des causes dans l’analyse des accidents du travail. Principes et aplication. Séminaire European sur la Securité des Systhèmes. Nancy, France, 1980.

(39)

• material (M), compreende os meios técnicos, ou seja as matérias-primas, máquinas, instrumentos, ferramentas e insumos necessários ao desenvolvimento do trabalho; • meio de trabalho (MT), designa os aspectos físicos do ambiente de trabalho e suas

relações sociais (Binder et al., 1995).

Investigando os acidentes a posteriori, o Método ADC revela, segundo Binder e Almeida (1997), “fatores normalmente não evidenciados nas inspeções normais, por ocorrerem de forma eventual e limitada no tempo, tais como, designação improvisada de trabalhadores, para a execução da tarefa, uso de materiais por várias equipes sem designação de responsável, falta de ferramentas e materiais necessários à execução de tarefas eventuais e não rotineiras”. O método examina, entre o conjunto de antecedentes que culminaram no acidente, os chamados antecedentes-variações, pois “um acidente não pode ser explicado sem que ao menos um elemento da situação habitual tenha sido modificado” (Binder, Monteau e Almeida, 1995). A aplicação perene do Método ADC, segundo Phan e Monteau8 citados por Binder et al. (1995), “depende da capacidade da empresa de integrá-lo a uma política de prevenção planejada e concebida como um elemento entre os demais de gerenciamento da empresa”. A aplicação prática do método ADC pode ser dividida em seis etapas:

• coleta de informações ou fatos; • organização das informações ou fatos; • construção da árvore;

• leitura e interpretação da árvore; • identificação de medidas de prevenção; • escolha das medidas de prevenção.

Nas figuras 2.3 e 2.4 são demonstradas, respectivamente, as convenções e uma árvore de causa de acidente de um acidente típico.

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Figura 2.3 - Convenções adotadas na representação gráfica do Método ADC.

Figura 2.4 - Árvore de causa de acidente típico do trabalho com queda de portão (Binder, Monteau e Almeida, 1995).

A maior utilidade do Método ADC consiste em sua grande contribuição no sentido de proporcionar a compreensão, a partir do acidente, de todos os fatores envolvidos desde a sua gênese, possibilitando ações prevencionistas para que o acidente não se repita.

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ocorrência. De acordo com Dela Coleta (1989), “os diversos segmentos da sociedade, envolvidos com o problema dos acidentes do trabalho, trabalhadores, empresários, membros do governo, técnicos em segurança, por uma razão ou outra, explicam a ocorrência desses eventos como causados por características negativas dos próprios trabalhadores (descuido, desatenção, brincadeira, despreparo, incapacidade)”, ou como “decorrência do ambiente perigoso e hostil a que estão submetidos” e também como uma “decorrência natural da maneira de viver do povo brasileiro, enfim, da cultura de nosso povo que não valoriza a prevenção, o cuidado, a segurança e a pessoa humana envolvida no trabalho”.

A culpa pelo acidente, normalmente atribuída ao próprio trabalhador acidentado, isentou de responsabilidade as empresas por muitos anos, fazendo com que os ambientes e as condições inseguras de trabalho não se alterassem e os acidentes similares se repetissem sem que providências fossem tomadas.

No Brasil, segundo Binder et9 al. citados por Binder e Almeida (1997) “grande parte das investigações de acidentes, realizadas por força de normas legais pela maioria das empresas, ainda baseia-se na concepção dicotômica de atos e condições inseguras, freqüentemente desembocando na atribuição de culpa ao trabalhador”.

Como o último evento, que precede a muitos dos ferimentos dos trabalhadores, é alguma ação desenvolvida pelo próprio trabalhador, é comum que muitos destes ferimentos sejam atribuídos apenas ao comportamento do mesmo. É importante nestes casos, segundo Hinze (1997), considerar-se os demais eventos precedentes na cadeia de eventos e não apenas o ato final do trabalhador ferido, pois, “simplesmente culpar o trabalhador ferido é ignorar os papéis das outras partes envolvidas na influência do comportamento do trabalhador”.

A melhor utilização da investigação dos acidentes contempla o levantamento sistemático da causa ou das causas do acidente no sentido de estudar profundamente o acidente ocorrido, descriminando atos e condições inseguras, não apenas para se atribuir responsabilidades, mas sim de forma a evitar a repetição do acidente.

9BINDER, M. C. P.; AZEVEDO, N. D. ; ALMEIDA, I. M., 1994.

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2.8 Causas dos Acidentes do Trabalho

A análise das causas dos acidentes do trabalho é um instrumento de grande valia na tentativa de prevenir que os mesmos se repitam, pois leva ao conhecimento de como e porque determinado evento ocorreu, facilitando a escolha de medidas preventivas que impeçam o surgimento das causas e por conseqüência a ocorrência dos acidentes. Quando do estudo da gênese dos acidentes do trabalho, ocorrem geralmente duas abordagens do problema: a monocausal e a multicausal.

De acordo com Rocha (1999), a abordagem monocausal dos acidentes do trabalho é a mais antiga e parte da premissa que o acidente tem uma única causa e que se esta for eliminada, por conseqüência, o acidente também seria eliminado. Ainda que antiga, a abordagem monocausal permanece bastante arraigada em diversas empresas e estudos. A abordagem multicausal, mais recente e sistêmica, sugere que os acidentes do trabalho não têm apenas uma causa que os origine, mas sim um conjunto de causas, situações ou ocorrências inesperadas e fora dos padrões de normalidade que combinados provocam um efeito indesejado.

Algumas das principais teorias, tanto monocausais quanto multicausais, que ao longo dos anos tentam explicar a gênese dos acidentes do trabalho, são apresentadas a seguir.

2.8.1 Teoria da Propensão ao Acidente

A Teoria da Propensão ao Acidente, possivelmente a mais antiga e conhecida das teorias monocausais dos acidentes do trabalho, pressupõe que fatores pessoais estejam relacionados às causas dos acidentes. Preconiza que se diversos indivíduos forem colocados em condições similares, ou seja, expostos às mesmas condições, alguns serão mais propensos a sofrer um ferimento do que outros, como afirmam Shaw e Sichel10 citados por Hinze (1997), em função de “sua inata propensão aos acidentes”.

10

Imagem

Tabela 2.1 -  Resultados devidos à fragmentação na ICC (Smallwood e Haupt, 2000).
Tabela 2.3 - Ferimentos ocupacionais não intencionais na Indústria (Estados Unidos da  América do Norte), no ano de 2003 (NSC Injury Facts, 2004)
Figura 2.4 - Árvore de causa de acidente típico do trabalho com queda de portão (Binder,  Monteau e Almeida, 1995)
Figura 2.5 – Estimativa de distribuição das ocorrências de acidentes envolvendo três  diferentes teorias (Kerr22 citado por Hinze, 1997)
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Referências

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