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Poder Judiciário da União Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

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Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Órgão Câmara Criminal

Processo N. Conflito de Competência 20090020072588CCP Suscitante(s) EDILSON PEREIRA REIS

Suscitado(s) JUÍZO DA AUDITORA MILITAR DE BRASÍLIA DF E OUTROS

Relator Desembargador SÉRGIO ROCHA

Acórdão Nº 396.085

E M E N T A

PENAL E PROCESSUAL PENAL – CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA – ABUSO DE AUTORIDADE, LESÕES CORPORAIS LEVES E INJÚRIA REAL – CRIMES AUTÔNOMOS – POLICIAL MILITAR - COMPETÊNCIA – 1º JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DE CEILÂNDIA E AUDITORIA MILITAR.

1. Os crimes de lesões corporais leves, injúria real e abuso de autoridade são autônomos, pois têm objetos jurídicos distintos, apesar de terem sido cometidos simultaneamente, em tese.

2. Os crimes de lesão corporal leve e o de injúria real estão previstos no Código Penal Militar (CPM 209 e 217) e, sendo supostamente cometidos por policial militar, em serviço, contra civil (CPM 9º II, “c”), a competência para sua apreciação é da Justiça Militar (Súmula 90/STJ).

3. O crime de abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65, arts. 3º “i” e 4º “a”, “b” e “h”) supostamente cometido por policial militar, em serviço, contra civil, deve ser julgado e processado pela Justiça Comum, ainda que praticado no mesmo contexto fático que os crimes de lesão corporal leve e injúria real (Súmula 172/STJ).

4. A existência de concurso material ou formal será apreciada pelo juiz da VEC. 5. Julgou-se improcedente o conflito positivo de competência.

(2)

A C Ó R D Ã O

Acordam os Senhores Desembargadores da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, SÉRGIO ROCHA - Relator, EDSON ALFREDO SMANIOTTO - Vogal, GEORGE LOPES LEITE - Vogal, ROBERVAL CASEMIRO BELINATI - Vogal, SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS - Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora SANDRA DE SANTIS, em proferir a seguinte decisão: IMPROCEDENTE. UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 5 de outubro de 2009

Certificado nº: 29 D7 4C 29 00 02 00 00 0A CB 30/11/2009 - 19:25

Desembargador SÉRGIO ROCHA Relator

(3)

R E L A T Ó R I O DOS FATOS (FLS. 02/08)

O Ministério Público do Distrito Federal ofereceu denúncia contra EDILSON PEREIRA REIS perante o 1º Juizado Especial Criminal de Ceilândia/DF (autos nº 2007.03.1.010943-0), atribuindo-lhe a prática do crime de abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65, arts. 3º “i” e 4º “a”, “b” e “h”)1 e perante a Auditoria Militar

de Brasília/DF (autos nº 2007.01.1.130752-2), imputando-lhe a prática dos crimes previstos nos arts. 209 e 217 do Código Penal Militar (lesões corporais leves e injúria real)2, supostamente praticados contra Bruno Campelo Vieira e Dalglis dos Santos

Antônio, em 22/04/07.

No 1º Juizado Especial Criminal, o suscitante, Edilson, requereu a aplicação do benefício da transação penal em relação ao crime de abuso de autoridade, tendo o Ministério Público se manifestado contrariamente à transação e à suspensão (fl. 42).

A denúncia pelo crime de abuso de autoridade foi recebida na 1ª audiência de instrução e julgamento realizada (fl. 42), e as vítimas e as testemunhas foram ouvidas em audiências sucessivas realizadas para tal fim (fls. 42/44).

O réu foi interrogado, consoante informação de fls. 44.

1 Lei nº 4.898/65 (Regula o Direito de Representação e o processo de Responsabilidade

Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade). Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: (...) i) à incolumidade física do indivíduo; (...).

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;

b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; (...)

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; (...)

2 Código Penal Militar. Lesão leve

Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano.

Injúria real

Art. 217. Se a injúria consiste em violência, ou outro ato que atinja a pessoa, e, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considera aviltante:

(4)

Em alegações finais, o Ministério Público requereu a condenação do suscitante, Edilson, como incurso nas penas dos arts. 3º “i” e 4º “a”, “b” e “h” da Lei nº 4.898/653 (abuso de autoridade) - (fl. 44).

Na sentença proferida no 1º Juizado Especial Criminal de Ceilândia, Edilson Pereira Reis foi absolvido do crime de abuso de autoridade (fls. 39/67), sendo que o Ministério Público interpôs apelação para a Turma Recursal (fl. 73), a qual se encontra com vistas àquele Órgão para parecer.

Na Auditoria Militar de Brasília/DF, a denúncia pelos crimes de lesão corporal leve (CPM 209, caput, duas vezes) e de injúria real (CPM 217) foi recebida em 31/10/08 (fl. 35).

Em seguida, Edilson peticionou ao Juízo da Auditoria Militar requerendo o reconhecimento da litispendência e/ou conflito de competência, alegando a existência do outro processo em trâmite no 1º Juizado Especial Criminal de Ceilândia, instaurado em razão dos mesmos fatos (fl. 35).

Em face disso, abriu-se vista ao Ministério Público, o qual opinou pela improcedência das alegações de Edilson, sob o argumento de que o crime pelo qual ele foi denunciado perante o 1º Juizado Especial Criminal de Ceilândia (abuso de autoridade) é autônomo e não se assemelha aos crimes militares (lesão corporal leve e injúria real) que lhe foram atribuídos na denúncia ofertada perante a Auditoria Militar (fls. 35/36).

Na Auditoria Militar de Brasília/DF, o feito encontra-se aguardando audiência para interrogatório de Edilson4

DO CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA (FLS. 02/08)

Diante de tais fatos, Edilson Pereira Reis, policial militar, suscitou o presente conflito de competência, alegando que: 1) os fatos, as vítimas e as testemunhas que deram origem às duas denúncias são os mesmos; 2) não pode

3 Lei nº 4.898/65 (Regula o Direito de Representação e o processo de Responsabilidade

Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade). Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: (...) i) à incolumidade física do indivíduo; (...).

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;

b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; (...)

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; (...)

(5)

responder duas vezes pelo mesmo crime e em Juízos diferentes; 3) os fatos foram praticados por militar, em serviço, enquadrando-se a hipótese no art. 9º, II, “c” e “f” do Código Penal Militar5, razão pela qual devem ser analisados pelo Juízo da

Auditoria Militar de Brasília/DF.

À fl. 29, proferi decisão designando o Juízo da Auditoria Militar de Brasília/DF para resolver, em caráter provisório, eventual medida urgente e o sobrestamento dos feitos até final julgamento do presente conflito.

Às fls. 73/74, o Ministério Público requereu a reconsideração da decisão supracitada, em relação à determinação de sobrestamento dos feitos.

Por meio da decisão de fl. 76/76v., deferi o pedido feito pelo parquet para determinar o prosseguimento das ações.

Informações do Juízo da Auditoria Militar às fls. 34/36 e do 1º Juizado Especial Criminal de Ceilândia/DF à fl. 38 e 69/72.

DO PARECER DA PROCURADORIA DE JUSTIÇA (FLS. 80/84) A d. Procuradoria de Justiça oficiou pelo conhecimento e improcedência do presente conflito de competência.

É o relatório. Em mesa.

V O T O S

5 CPM. Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: (...)

II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: (...)

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (...)

(6)

O Senhor Desembargador SÉRGIO ROCHA - Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do presente conflito.

DA AUTONOMIA ENTRE OS CRIMES MILITARES DE LESÃO CORPORAL LEVE E INJÚRIA REAL E O CRIME COMUM DE ABUSO DE AUTORIDADE

Edilson Pereira Reis, policial militar, suscitou o presente conflito de competência em face dos Juízos da Auditoria Militar de Brasília/DF e o do 1º Juizado Especial Criminal de Ceilândia/DF, alegando que não pode ser processado nestes dois Juízos pelo mesmo crime.

Consoante relatado, Edilson, supostamente, teria praticado os crimes de lesões corporais leves e injúria real (CPM 209 e 217)6 e de abuso de

autoridade (Lei 4.898/65, arts. 3º “i” e 4º “a”, “b” e “h”)7 contra as vítimas Bruno

Campelo Vieira e Dalglis dos Santos Antônio, em 22/04/07, quando de uma abordagem policial, em Ceilândia/DF.

Contudo, embora o fato que deu origem à denúncias tenha sido único (fls. 11/17 e 22/23), a conduta de Edilson originou, supostamente, os três crimes que lhe foram imputados (fls. 11/17 e 22/23): lesões corporais leves e injúria real (CPM 209 e 217) e abuso de autoridade (Lei 4.898/65, arts. 3º “i” e 4º “a”, “b” e “h”).

6Código Penal Militar. Lesão leve

Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano.

Injúria real

Art. 217. Se a injúria consiste em violência, ou outro ato que atinja a pessoa, e, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considera aviltante:

Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.

7 Lei nº 4.898/65 (Regula o Direito de Representação e o processo de Responsabilidade

Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade). Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: (...) i) à incolumidade física do indivíduo; (...).

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;

b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; (...)

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; (...)

(7)

Isso porque, a suposta ação de Edilson teria se desdobrado em ofensa a três objetos jurídicos distintos, gerando crimes autônomos, apesar de cometidos no mesmo contexto fático.

No crime de abuso de autoridade, o objeto jurídico é a dignidade da função pública e a lisura do exercício da autoridade pelo Estado8; no crime de lesão

corporal o objeto jurídico é a incolumidade física da pessoa e, no de injúria real, a honra e a imagem do ser humano9.

De modo que, ao contrário do que alega o suscitante, Edilson, em tese, não existiu apenas um crime que estaria sendo apreciado em dois Juízos, mas sim, três crimes distintos.

Em decorrência disso, a responsabilização deve ser averiguada pelos Juízos competentes para apreciar cada uma das supostas infrações que ele teria cometido.

Ressalto que, caso ele seja condenado em ambos os Juízos, a questão relativa a eventual concurso de crimes formal ou material e unificação de penas será avaliada pelo Juízo da Execução Criminal, conforme prevê a Lei de Execução Penal, in verbis:

“Art. 66. Compete ao juiz da execução: (...) III – decidir sobre:

a) soma ou unificação de penas; (...).”10

Assim, não prospera a alegação do suscitante, Edilson Pereira Reis, de que está sendo processado pelo mesmo crime em Juízos diferentes.

8 Guilherme de Souza Nucci, in Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, editora RT, 3ª

edição, pg. 36.

9 Guilherme de Souza Nucci, in Código Penal Comentado, editora RT, 6ª edição, pgs. 560 e 604. 10 “(...) Soma e unificação de penas: esta é uma atividade primordial do juiz da execução penal,

embora o magistrado da condenação também possa fazê-lo. A soma das penas decorre do disposto no art. 69 do Código Penal: quando o agente comete vários delitos, decorrentes de variadas ações ou omissões, deve haver a somatória das penas aplicadas resultando num montante global a cumprir. (...). O juiz da condenação, quando julga os dois delitos, fará essa soma. Entretanto, se cada uma delas advier de um juiz diferente, cabe ao magistrado da execução penal providenciar a soma (...). A unificação diz respeito aos artigos 70, 71 e 75. Unificar significa transformar várias coisas em uma só. Em matéria de execução penal, deve o juiz transformar vários títulos executivos (várias penas) em um só. Assim procederá quando constatar ter havido concurso formal (art. 70, CP), criem continuado (art. 71) ou superação do limite de 30 anos (art. 75, CP). O concurso formal é, normalmente, constatado pelo juiz da condenaçãoi. Dificilmente, caberá ao magistrado da execução penal essa avaliação.(...).” (Guilherme de Souza Nucci, in Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, Ed. RT, 3ª edição, pgs. 465/466). - Grifei

(8)

A COMPETÊNCIA DA AUDITORIA MILITAR DE BRASÍLIA PARA APRECIAR CRIME DE LESÕES CORPORAIS E INJÚRIA REAL E DO 1º JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DE CEILÂNDIA PARA APRECIAR CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE

No que tange à competência, Edilson pleiteia o reconhecimento da competência do Juízo da Auditoria Militar para analisar ambos os feitos, já que é policial militar e os supostos crimes a ele atribuídos teriam sido praticados enquanto estava em serviço, amoldando-se a hipótese ao previsto no art. 9º, II, “c” e “f” do Código Penal Militar11.

Sobre o tema, a jurisprudência é pacifica no sentido de que a competência para processar e julgar o crime de lesões corporais leves e o de injúria real (crimes militares - CPM 209 e 217)12 é da Justiça Militar e o de abuso de

autoridade (crime comum – Lei 4.898/65, arts. 3º “i” e 4º “a”, “b” e “h”)13 é da Justiça

comum, quando praticados por militar, em serviço, contra civil, ainda que cometidos no mesmo contexto fático.

Isso porque, os crimes de lesão corporal leve e o de injúria real estão previstos no Código Penal Militar (arts. 209 e 217) e, in casu, foram cometidos por policial militar, em serviço, contra civil, o que confere a competência para sua

11CPM. Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: (...)

II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: (...)

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (...)

f) revogada.

12Código Penal Militar. Lesão leve

Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano.

Injúria real

Art. 217. Se a injúria consiste em violência, ou outro ato que atinja a pessoa, e, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considera aviltante:

Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.

13 Lei nº 4.898/65 (Regula o Direito de Representação e o processo de Responsabilidade

Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade). Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: (...) i) à incolumidade física do indivíduo; (...).

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;

b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; (...)

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; (...)

(9)

apreciação à Justiça Militar, enquadrando-se a hipótese no art. 9º, II, “c” do Código Penal Militar, que dispõe:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: (...)

II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: (...)

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; (...)

Quanto ao crime de abuso de autoridade, este está previsto na legislação penal comum (Lei nº 4.898/65, arts. 3º “i” e 4º “a”, “b” e “h”)14, não se

classificando como crime militar, embora, no presente caso, tenha sido cometido, como afirmado, por policial militar, em serviço, contra civil.

De forma que se submete à análise da Justiça Comum, não se amoldando à previsão do supracitado artigo 9º, II, “c” da Lei nº 4.898/65 (Lei de abuso de autoridade).

Essa questão, inclusive, já está disciplinada nas súmulas nºs 90 e 172 do C. STJ, in verbis:

“Súmula 90. Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime militar, e a comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.”

"Súmula 172. Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço".

Neste sentido, transcrevo as ementas dos seguintes julgados:

14 Lei nº 4.898/65 (Regula o Direito de Representação e o processo de Responsabilidade

Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade). Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: (...) i) à incolumidade física do indivíduo; (...).

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;

b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; (...)

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; (...)

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“(...) 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que, por não estar inserido no Código Penal Militar, o crime de abuso de autoridade seria da competência da Justiça comum, e os crimes de lesão corporal e de violação de domicílio, por estarem estabelecidos nos arts. 209 e 226 do Código Penal Militar, seriam da competência da Justiça Castrense. (...).” (STF, HC 92912, Relª Ministra Cármen Lúcia, 1ª Turma, julgado em 20/11/07,

DJ de 19/12/07, p. 55)

“(...) I. A competência para o julgamento de possível crime de abuso de autoridade cometido por policiais militares em serviço, recai sobre a Justiça comum, já que a hipótese não se adéqua ao art. 9º, II do Código Penal Militar, que prevê as circunstâncias em que os crimes elencados no Código Penal serão considerados militares.

II. Cabe à Justiça Militar o julgamento do delito de lesões corporais cometidas, por policiais militares, nas condições estabelecidas pela legislação penal militar, ainda que cometido no mesmo contexto do crime de abuso de autoridade. (...).” (STJ, CC 36434/SP, Rel. Min. Gilson Dipp, 3ª Seção, julgado em 26/11/02, DJ

de 10/02/03, pg. 170)

“(...) 1. Mesmo havendo a conexão entre o crime de abuso de autoridade, de competência da Justiça comum e de lesão corporal leve e violação de domicílio, previsto no Código Penal Militar, não é possível o seu julgamento por uma única das Justiças, diante de vedação expressa.

2. O crime de abuso de autoridade deve ser examinado pelo Juizado Especial e os de invasão de domicílio e lesão corporal leve pela Justiça Militar. (STJ,

HC 81.752/RS, Rel. Ministra Jane Silva (Desª Convocada do TJ/MG), 5ª Turma, julgado em 27/09/207, DJ de 15/10/07, p. 324)

“(...) 2. A competência para processar e julgar o crime de lesão corporal é da Justiça Militar, uma vez que se trata de crime previsto no Código Penal Militar (artigo 209, caput), embora também previsto na lei penal comum, mas cometido por militar em serviço contra civil (artigo 9º, inciso II, alínea "c", do Código Penal Militar).

3. O crime de abuso de autoridade não está previsto no Código Penal Militar, mas apenas na legislação penal comum, a saber, no artigo 3º, alíneas "a" e "i", da Lei n.º 4.898/65. Dessa forma, escapa da competência da Justiça Militar, devendo ser processado e julgado perante a Justiça Comum, nos termos do verbete n.º 172 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça: "Compete à Justiça Comum

(11)

processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço". (...).” (TJDFT, HBC 2008.00.2.006282-3, Rel. Des. Roberval Casemiro

Belinati, 2ª Turma Criminal, acórdão nº 313187, julgado em 12/06/08, DJ de 30/07/08, p. 373)

Dessa forma, no caso em comento, impõe-se a manutenção da competência do 1º Juizado Especial Criminal de Ceilândia/DF para analisar o crime de abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65, arts. 3º “i” e 4º “a”, “b” e “h”)15 e da Auditoria

Militar para apreciação dos crimes de lesões corporais leves e injúria real (CPM 209 e 217)16, supostamente praticados pelo suscitante Edilson Pereira Reis, policial

militar.

Assim, julgo improcedente o presente conflito positivo de competência.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, julgo improcedente o presente conflito positivo de competência.

É como voto.

O Senhor Desembargador EDSON ALFREDO SMANIOTTO - Vogal

15 Lei nº 4.898/65 (Regula o Direito de Representação e o processo de Responsabilidade

Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade). Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: (...) i) à incolumidade física do indivíduo; (...).

Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:

a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;

b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; (...)

h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; (...)

16Código Penal Militar. Lesão leve

Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano.

Injúria real

Art. 217. Se a injúria consiste em violência, ou outro ato que atinja a pessoa, e, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considera aviltante:

(12)

De qualquer modo, acompanho o eminente Relator.. O Senhor Desembargador GEORGE LOPES LEITE - Vogal

Com o Relator.

O Senhor Desembargador ROBERVAL CASEMIRO BELINATI - Vogal Com o Relator.

O Senhor Desembargador SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS - Vogal Com o Relator.

D E C I S Ã O IMPROCEDENTE. UNÂNIME.

Referências

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